Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Saúde Pública
Na Família
Elaborado por:
Paulo Alexandre Lopes dos Santos
LISBOA
FEVEREIRO 2003
A Doença Crónica Incapacitante e Dependente Na Família
RESUMO
ÍNDICE
F.
0 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................................4
1 – DOENÇA CRÓNICA...........................................................................................................6
CUIDADOS DE SAÚDE....................................................................................................14
4 – CONCLUSÃO.....................................................................................................................16
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................18
ÍNDICE DE QUADRO
F.
0 - INTRODUÇÃO
Apesar de todos estarmos conscientes dos benefícios que advêm destas mudanças
estruturais, alguns factores dificultadores emergem, como o envelhecimento da população, o
aparecimento marcante de doenças crónicas, as mudanças na estrutura tradicional familiar e a
racionalização dos recursos são factores adjuvantes para uma elevada e crescente taxa de
dependência da população dos serviços de saúde.
Quando se transfere um doente para a família, está-se a transferi-lo para o meio mais
óbvio e natural, no entanto estes tendem a manter-se na comunidade e, frequentemente, no seu
domicílio levando ao aumento da dependência dos serviços de saúde.
Será que as famílias estão preparadas para receber e cuidar dos seus doentes crónicos?
Nesta minha pesquisa, incidirei sobre as doenças crónicas, limitando-as às que são
incapacitantes e dependentes, pois são essas que de alguma maneira reflectem o problema da
dependência no meio familiar.
Durante a exposição, quando me referir à doença crónica estará implícito que esta se
limita à doença crónica incapacitante e dependente.
1 – DOENÇA CRÓNICA
Vivemos numa sociedade cada vez mais consumista, virada para a competitividade e
individualismo. O desenvolvimento da ciência e técnica leva a que a esperança média de vida
seja cada vez maior, resultando isto no aumento do número de portadores de doenças
crónicas.
Começando por abordar a situação de doença crónica, Black (1996) refere que:
“As condições crónicas são problemas de saúde a longo prazo devidos a um
distúrbio irreversível, um acumulo de distúrbios ou um estado patológico latente.
Algumas condições crónicas causam alteração irreversível da estrutura ou função de
um ou mais sistemas orgânicos. Outras são condições crónicas porque ainda não foi
encontrada a cura”.
Giovannini, Bitti, Sarchielli e Speltini (cit. por Ribeiro, 1998) consideram doença
crónica:
“Todas as doenças de longa duração, que tendem a prolongar-se por toda a vida
do doente, que provocam invalidez em graus variáveis, devido a causas não reversíveis,
que exigem formas particulares de reeducação, que obrigam o doente a seguir
determinadas prescrições terapêuticas, que normalmente exigem a aprendizagem de um
novo estilo de vida, que necessitam de controlo periódico, de observação e tratamento
regulares."
Por outro lado, as necessidades do doente, que é portador deste tipo de doença, também
diferem, verificando-se uma necessidade de adaptação aos efeitos prolongados da doença
crónica. Existe hoje uma maior dificuldade de adaptação a este “Mundo Novo”, dado que este
não está pensado nem estruturado para pessoas diferentes do padrão considerado normal.
Strauss et. al. (cit. por Bolander, 1998), identificaram sete importantes problemas
típicos de doentes crónicos, que apesar de iguais aos de qualquer outro doente, para o doente
crónico estes não desaparecem:
Shontz (cit. por Ogden, 1999) realizou um estudo a partir da observação de doentes
hospitalizados, descrevendo três fases que os doentes experiênciam quando lhes é
diagnosticada uma doença crónica:
- Choque, que tem como característica a estupefacção e a desorientação do doente,
revelando igualmente sentimentos de indiferença face à situação.
- Reacção de defrontar, que se caracteriza pelo pensamento desorganizado e sentimentos
de perda, e desamparo desespero que sente o doente.
- Retraimento, caracteriza-se pela negação da doença diagnosticada e das suas
implicações.
Uma pessoa dependente é aquela que necessita de transferir para terceiros as actividades
Para contextualizar a família que lida com a doença crónica incapacitante, é crucial
compreender o entrelaçamento de 3 fios evolutivos. As alterações da estrutura familiar ao
longo dos tempos; as implicações na família que lida com a doença crónica; e a adaptação da
família à doença crónica.
Referenciando Colliérre (1989) esta diz que “Às mulheres competem todos os cuidados
que se realizam à volta de tudo o que cresce e se desenvolve (...)”. No entanto, se analisar no
contexto actual, verifica-se uma realidade distinta. As mulheres mudaram radicalmente a face
do tradicional ciclo de vida familiar. O casamento feito numa etapa mais tardia, a opção de
conceber menos filhos (ou mesmo optar por não os ter) e a carreira profissional a par com a
vida matrimonial, marcam significativamente a mudança nos padrões do ciclo de vida. A
rígida distribuição dos papéis de acordo com o sexo, em que à mulher tudo o que fosse
“interior” lhe era atribuído, sendo o homem responsabilizado pelo “exterior”, resultava numa
diferenciação de territórios e de poderes entre os conjugues, que hoje, no inicio do século XXI
se tem desvanecido, antevendo-se um dinamismo social que obrigatoriamente implicará uma
reorganização de espaços, mudanças de costumes e de poderes.
Cada família encontra o seu estilo próprio de comunicação, as suas regras, as suas
crenças, bem como a forma de manter a sua estabilidade, (Enelow et al. ,1999).
Burr e Good (cit. por Enelow et al., 1999), descreveram este processo de adaptação
como a "trajectória da doença" – Quadro 1, identificando comportamentos familiares,
positivos e problemáticos, nas diferentes fases da doença.
positivos
Início da doença Reconhecimento dos limites da saúde, Questionário aberto Negação das alterações
Impacte da doença Aceitação do diagnóstico, adaptação Discussão aberta partilha de Destabilização de um meio funcional
do tratamento restantes
Início da terapia Reorganização das responsabilidades, Partilha de responsabilidades Recusa dos filhos (especialmente se
Recuperação precoce Reintegração na família e na Flexibilidade das expectativas Reacções tardias, em particular
família traumática
Adaptação à Redefinição da auto-estima e Aceitação dos pacientes como eles Má vontade em aceitar ou adaptar-se
desfecho
Quadro 1 - "trajectória da doença", Burr e Good (cit. por Enelow et al., 1999)
Giacquinta (cit. por Marques, 1991), após analisar 100 famílias, definiu quatro etapas
que descrevem as diferentes fases de adaptação da família com doentes em risco de vida.
A primeira consiste em enfrentar a realidade, decorre durante o período em que o
paciente recebe o diagnóstico, mantendo-se activo e continuando a manter as funções
habituais no meio familiar.
A segunda etapa consiste na reorganização durante o período que antecede a morte.
Nesta etapa o paciente suspende as funções familiares habituais e vê-se na contingência de
receber cuidados médicos em casa ou no hospital.
A terceira etapa é a perda e coincide com a iminência da morte e com a própria morte.
Nesta altura, a família experimenta a perda e a solidão da separação. Os membros da família
podem ter atingido os limites da sua capacidade de suporte e inicialmente confessar o alívio
que sentem perante a morte do doente.
Finalmente, a quarta etapa tem a ver com o restabelecimento, é a etapa final de
adaptação da família, desenvolvendo-se depois de concluído o luto com sucesso.
Este modelo (proposto por Giacquinta) não pretende apresentar uma visão estereotipada
da evolução familiar, mas sim uma forma de compreensão da adaptação familiar à doença e
ao sofrimento que a mesma provoca. Considerando que o estar doente implica um esforço por
parte da família no sentido de integrar a doença na sua organização interna, é fundamental que
persista o envolvimento das diferentes pessoas que compõem o grupo familiar, sendo
considerado como objectivo prioritário o cuidar do familiar doente e simultaneamente
preservar a família enquanto tal.
É através da família que toda uma nova dinâmica de vida irá surgir. As boas ou más
perspectivas em relação à doença passam por este grupo de pessoas. Também elas necessitam
de ser cuidadas, escutadas e apoiadas. Lidar com uma situação de doença crónica torna-se
altamente dispendioso, em termos de ordem física, emocional e económica.
4 – CONCLUSÃO
As doenças crónicas têm vindo a adquirir uma importância crescente nos problemas que
se colocam ao sistema de saúde e de protecção social.
Para minimizar este problema, as famílias são hoje cada vez mais solicitadas a
desempenhar o papel de prestadora dos cuidados, por um lado para manter o doente crónico
no meio familiar e por outro com vista a uma melhor gestão de recursos existentes.
Durante o trabalho abordei a doença crónica, sendo esta uma ameaça á estabilidade e
homeostasia de qualquer indivíduo, estando associada a um processo individual de adaptação,
processo esse com repercussões no seu meio envolvente, familiar, profissional e social.
Foquei as implicações da existência da doença crónica na família, abordando a evolução
dos padrões familiares e as implicações a nível do equilíbrio familiar. Os padrões familiares
passam a ser vistos numa perspectiva mais alargada de conceito de família (laços sentimentais
entre as pessoas, a proximidade geográfica, a coabitação na mesma residência e a utilização
de redes de apoio social). A nível do equilíbrio familiar, estas famílias passam por uma fase
inicial de desequilíbrios, com manifestações de ansiedade e stress, até à fase de readaptação.
Sobre este último aspecto abordei, no terceiro capítulo, a necessidade de promover uma
abordagem centrada na família cuidadora, numa perspectiva holística, promovendo uma
prestação de cuidados dirigida às reais necessidades de cuidados de saúde, de uma forma
continuada no tempo e integrada entre as diversas áreas da saúde e do apoio social, através de
uma equipa pluridisciplinar.
Por último, pretendo deixar implícito uma sugestão que passa por um maior apoio
politico ao desenvolvimento de redes de apoio social local, às pessoas e familiares com
doença crónica, pois são estas associações de doentes e instituições de solidariedade social,
cujo trabalho assenta muitas vezes num regime de voluntariado, que fazem apelo aos direitos
dos doentes e famílias, exigem respeito pela pessoa, justiça, liberdade, autonomia e tolerância,
de forma a manterem ou atingirem um lugar social digno, Fayn (1998). A sua força
desenvolve-se no acolhimento e escuta personalizada de quem sofre e das respectivas
famílias. Actuam como defensoras dos direitos de cidadania, lutando contra a marginalização,
o abandono e o isolamento, em defesa da dignidade dos mais carenciados.
Sabe-se que não basta abrir portas; é preciso mantê-las abertas. Na verdade, o que se
passa é que a participação da pessoa doente é diminuta e apenas à pessoa saudável é permitido
participar na definição das regras de integração ou exclusão social.
BIBLIOGRAFIA
VILÃO, Oscar - "Entre a Vida e a Morte: ser doente em fase terminal". Jornadas
Entre a Vida e a Morte. Coimbra: Escola Superior de Enfermagem Bissaya Barreto.
1995.