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Estudo de obra do livro “Dom Casmurro”

Dom Casmurro é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis. Foi


publicado em 1900, e é um dos livros da literatura brasileira mais traduzidos para
outros idiomas.
É uma obra do Realismo brasileiro.
Contexto brasileiro:
• Crises sucessivas no regime monárquico.
• Revoltas generalizadas em todo o território nacional.
• Guerra do Paraguai
• Trocas sucessivas de Gabinetes.
• Agitações militares.
• Campanhas pela Abolição da escravatura. Luta de classes divididas por
interesses antagônicos.
• Campanha pela queda da monarquia e advento da República.
• Depois da publicação de sucessivas leis, o projeto definitivo da abolição é
convertido em lei - Lei Áurea, 13 de maio de 1888.
• Depois da publicação de sucessivas leis, o projeto definitivo da abolição é
convertido em lei - Lei Áurea, 13 de maio de 1888.
• A crise da monarquia atinge seu ponto crítico. Um governo militar provisório
exige a retirada da família real do Brasil - 15 de novembro de 1889.
3.1-Caracterização do romantismo na obra:
Realidade e contemporaneidade - a vida como realmente é: feia ou bela, boa ou
má, moral ou imoral.
Cabe ressaltar a diferença entre a obra realista e a naturalista.
A ficção realista apresenta um painel sem ilusões de sociedade decadente,
analisando ou denunciando suas principais causas como decorrência de falsos padrões
morais ou ausência de educação e de valores. Permanece certo pudor, respeito,
preocupação em não chocar demasiadamente, em manter a beleza estética.
Já a ficção naturalista despe-se desses pudores. O escritor assume uma postura de
cientista que vai desnudar e expor aos olhos de seus leitores as perversões sociais, as
aberrações humanas, as taras genéticas ou sexuais, limitando geralmente esse estudo a
grupos sociais marginalizados (prostitutas, negros, homossexuais, estrangeiros ambiciosos
e burgueses arrivistas).
3.2-Metalinguagem
Em Dom Casmurro, Machado de Assis enquanto narra, discute o ato e o modo
de narrar. Ele põe em prática a metalinguagem, em que a própria narrativa trata de se
auto-explicar. Logo no início, a metalinguagem ganha corpo, quando o personagemnarrador
explica o título do livro e os motivos que o impulsionaram a escrevê-lo:
“Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até
ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe
guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é
sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores, alguns nem tanto”. E mais
adiante: “Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém,
digamos os motivos que me põem a pena na mão”. Durante toda a narrativa de Dom
Casmurro, a metalinguagem tem um papel fundamental, dando um tom muitas vezes
jocoso, ou criando cumplicidade com o leitor, que ao invés de apenas ler
passivamente, participa do próprio ato de narrar, ao servir de confidente do escritor,
transcendendo o próprio texto.
Exemplo: Ao narrar tentações vividas na juventude dirige-se a uma possível
leitora: “Tudo isso é obscuro, dona leitora, mas a culpa é do vosso sexo, que perturba
assim a adolescência de um pobre seminarista”.
3.3- Resumo da Obra
O autor conta a vida de um garoto no final do Século Passado, brilhantemente
narrado em 1ª pessoa, deixando a dúvida se estes acontecimentos aconteceram ou não
na vida do autor.
No começo ele diz por que foi apelidado de Dom Casmurro, o “Casmurro”
porque o povo o achava um homem calado e metido consigo. E “Dom” veio por ironia
para atribuir-lhe o brilho da nobreza.
O pai dele estava numa antiga fazenda em Itaguaí e o Bentinho (Dom
Casmurro) onde acabava de nascer, quando o seu pai estava mal de saúde e na obra do
acaso apareceu um médico homeopata chamado José Dias e o curou e não quis receber
remuneração e então o pai de Bentinho propôs que José Dias ficasse ali vivendo com
eles, com um pequeno ordenado. Ele foi embora mais dizendo que voltava dali a
alguns meses, voltou em duas semanas e aceitou viver na casa tendo a serventia de
médico da casa. O pai dele foi eleito deputado e foram para o Rio de Janeiro com a
família, José Dias veio também tendo o seu quarto no fundo da chácara.
Seu pai voltou a ficar doente com uma febre alta, nisso José Dias confessou-se
que não era médico, mais a medicina homeopata o agradava e era uma ciência em
crescimento. Seu pai logo depois acabou morrendo. Mesmo assim a mãe de Bentinho
pediu para José Dias que ficasse. Sua mãe, Dona Glória conta a história que depois de
perder seu primeiro filho, fez uma promessa que se o nascesse um filho, ela faria um
padre em agradecimento à Deus.
Capitu, que era sua vizinha, e Bentinho, ainda novos brincavam de fazer missa
dividindo a hóstia, etc. Ele começou a gostar de Capitu sem ela saber.
Bentinho por varias razões prometia que ia rezar mil Padre-Nossos e mil Ave-Marias
como promessa.
Bentinho começou a se encontrar nas escondidas com Capitu correndo até o
perigo de serem vistos juntos se beijando.
Sua mãe já estava decidia que Bentinho iria entrar no seminário com o padre
Cabral e que ele iria ver a família aos sábados e aos feriados. Então estava decidido
que iria para o seminário no primeiro ou no segundo mês do ano que vem, que só
faltava 3 meses para ir.
Bentinho tentou junto com Capitu várias idéias mirabolantes para fugir do
seminário até pedir ao Imperador para falar para a mãe dele esquecer da idéia. Falou
com José Dias para convencer sua mãe, de pouco em pouco. Isso alegrou José Dias
que viajaria com Bentinho para a Europa para estudar nas melhores escolas do mundo.
Meses depois foi para o seminário de S. José.
Todo mundo que estava de acordo com que ele fosse para o seminário
agradeceu ao padre em ter convencido Bentinho, e que qualquer problema estava à
disposição.
Bentinho foi para o seminário, mas com ressentimento de arrependimento. Ele
só estava pensando em sair de lá. Mais se passou alguns meses e ele queria escapar de
lá antes de completar o prazo do Padre Cabral. Estava louco para ir para casa até que
arranjou um sábado que desse para ele ir.
Capitu estava mesmo apaixonada por Bentinho e seus planos era esperar ele
sair do seminário para se casar. Bentinho estava preocupado porque foram buscar ele
no seminário e ele logo pensou que seria alguma coisa de ruim e não deu outra, sua
mãe ficou doente e estava por um fio entre a vida e a morte, e para Bentinho isso era
péssimo porque era sua mãe, mas por outro lado era bom que com a morte da mãe ele
sairia do seminário, mais iria ficar cheio de remorso. Mas até ai correu tudo bem sua
mãe acabou melhorando.
Bentinho conheceu Escobar, um amigo que encontrou no seminário e era o
único que ele podia contar seus segredos, fora Capitu que estava apaixonada por ele
mais estava longe.
Bentinho não agüentava mais ficar no seminário ele teria que sair dali de
qualquer jeito e estava lhe tornando impossível ficar só pensando em Capitu e as
coisas que pudera fazer lá fora.
Bentinho foi para casa e perguntou onde que estava Capitu e sua mãe falou que
ela tinha ido dormir na casa de Sinházinha Sancha Gurgel que é sua amiga e mora na
Rua dos Inválidos. A Prima Justina insinuou que ela foi para lá namorar, deixando
Bentinho louco de ciúme. Viu que ela estava demorando então esperou dar onze horas
e correu para a Rua dos Inválidos.
Entrando, viu Capitu cuidando da febre de Sancha. O velho Gurgel até
comentou como Capitu parecia com sua falecida mulher e como ela ainda seria uma
boa mãe. Vendo que Capitu não estava flertando com outros garotos, Bentinho ficou
mais sossegado.
Assim foi passando o tempo, com intermináveis semanas no seminário e com
fins-de-semana de descanso em casa. Escobar foi até a casa de Bentinho algumas
vezes.
Teve uma hora que Bentinho não agüentou e conversou com Capitu sobre fugir
do seminário. Com idéias de mandar José Dias até o papa para cancelar a promessa.
Mas Capitu acabou com essa idéia que Escobar teve, de levar a promessa ao pé da letra
"Se Tiver um filho, farei um padre", na promessa diz que "fará um padre", não
especificando que seria seu filho.
Esse argumento serviu para Dona Glória, que pegou um órfão para ordená-lo
padre. Assim depois de um tempo ambos saíram do seminário
O livro pula a época que não houve nada de importante e vai para logo depois
quando houve o casamento de Bentinho + Capitu e Escobar + Sancha Gurgel.
O tempo passou e todos estavam relativamente felizes, Bentinho se formou em
Direito e Escobar estava no ramo do comércio. Tempo depois Escobar teve uma filha
que chamou de Capitu.
Depois de muitas tentativas falhadas, Capitu e Bentinho, não conseguiram ter
um filho. Capitu até chamou Escobar para acertar as contas para que se logo tivessem
o filho.
Meses depois conseguiram finalmente ter um filho que respectivamente o
chamaram de Ezequiel que era o primeiro nome de Escobar, como se fosse uma
homenagem trocada. Mais no dia seguinte, em uma trágica manhã, Bentinho sentou-se
na sua sala para estudar os processos que usaria no seu trabalho, notou a fotografia de
Escobar que tinha em casa e uma estranha semelhança entre Escobar e seu filho, mais
foi interrompido quando um escravo bateu na porta e deu a notícia que Escobar teria
morrido afogado na praia. Assim Bentinho esqueceu sua desconfiança e foi ver o
corpo.
Logo ocorreu o enterro, Bentinho fez até um discurso sobre o morto tão bom
que queriam publicá-lo. O tempo passou e sua desconfiança foi aumentando.
O sentimento de traição era horrível e Bentinho até tentou se suicidar, mais
notou que apesar de Ezequiel poderia se um filho bastardo lembrou que havia ainda o
sentimento amoroso entre pai e filho. Isso fez Bentinho esquecer da tentativa de
suicídio e partir para uma separação amigável com Capitu.
Viajou com sua família para a Suíça, voltando depois, deixando os lá para que
o filho tivesse boa educação. Assim depois de um bom tempo Capitu lá morreu e
Ezequiel voltou para contar as novidades para o pai.
Assim Ezequiel voltou já grande e formado em arqueologia, agora idêntico a
Escobar.
Algum tempo depois recebeu a notícia que Ezequiel morrera lá de febre tifóide
e fora enterrado em terreno sagrado.
Acabando aí, o autor enfatiza a idéia que seu conto não passou de uma História
de Subúrbio. Coisas que acontecem todo dia, que faz parte do cotidiano da
humanidade.
3.4-Inocente ou culpada?
Pela narração não há como afirmar se houve ou não adultério. Os fatos deixam
dúvidas, pois a semelhança de Ezequiel com Escobar, o fato de Escobar ser muito
amigo de Capitu e sempre rondar a família levam o leitor a pensar que houve a traição.
Por outro lado, a amizade de Capitu por Escobar não seria amor carnal, mas um amor
fraterno, o seu amor por Bentinho desde a infância e a sua luta por ele, além do fato
dele não ter visto a traição, levam o leitor a acreditar em sua fidelidade. O leitor pode
supor que Bentinho fosse ciumento e imaginasse os fatos. Não há comprovação de
nada, afinal a visão dos fatos é parcial, já que Bentinho que narra a história como a vê.
Há divergências sobre a traição de Capitu. Várias teses acadêmicas já
abordaram o assunto e nenhuma chegou a uma análise conclusiva. Em páginas mais
avançadas deste clássico da literatura brasileira, o autor deixa claro que o filho de
Bentinho com Capitu era quase idêntico ao seu amigo Escobar, só que um pouco mais
baixo e nas páginas iniciais da obra, o autor descreve Capitu como tendo muita
facilidade em disfarçar as situações, inclusive enganando seus pais que tanto amava
muitas vezes, o que fortalece a hipótese de adultério.
Ai resta-nos a dúvida: Teria Capitu traído Bentinho com Escobar?
3.5- Os olhos de Capitu
Machado nos ensinou a vê-lo e o equacionou. Esse olhar é a nossa
miscigenação, a nossa aparente submissão, são as nossas olheiras amorosamente
gulosas, quentes e erotizadas. É o olhar que denuncia a marginal vitória desse sermulher
colonizada. Olhar de quem dissimuladamente aceita o jogo surdo, silencioso,
de carrasco e vítima, jogo fascinante e cruel na aparente aceitação das diversas
manifestações do relacionamento humano. Essa luta dolorosa fascina Dom Casmurro
porque ela é jogada no campo da dúvida.
Ao descrever Capitu, Machado esclarece: "Retórica dos namorados, dá-me uma
comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me
acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e
me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca?" Nessas circunstâncias, o autor lança
mão da imagem da cigana (presença marginal), do olhar de ressaca (visão de uma
carne indomável) e do olhar oblíquo (não definido, não confiável, dissimulado).
Dom Casmurro é um tratado sobre o olhar. Capitu é emblemática. Bentinho
descreve seu próprio olhar, olhando Capitu. Ouso falar sobre Capitu como atriz. Como
se estivesse analisando um texto de dramaturgia, juntamente com um elenco, ao redor
de uma mesa. Não estou aqui me arvorando em crítica literária.
3.6-Análise dos elementos constitutivos do romance
1. Enredo:
Constrói-se a partir de uma pseudo-autobiografia de D. Casmurro - Bento
Santiago, evocada através das impressões que lhe ficaram gravadas na memória. A
trama começa pelo fim. D. Casmurro, 55 anos, tenta atar as duas pontas da vida e
reconstituir na velhice a adolescência - e desenvolve-se em flash-back, com idas e
vindas no tempo, desde os 14 anos de idade.
A reconstrução da casa constitui-se em uma metáfora de reconstituição da
própria vida, assim como a escritura do livro manifesta a necessidade de auto-analisarse,
de tentar conhecer a verdadeira Capitu, de justificar a atitude do marido que
repudia a mulher por acreditá-la adúltera e rejeita o próprio filho. Trata-se de um
mergulho profundo no eu, de uma viagem interiorizada, em busca do tempo perdido,
da vida desperdiçada.
Nesse processo, avulta a importância da função metalingüística do texto, assim
como o emprego sistemático da antítese e da ironia. Tais procedimentos advêm da
escolha do foco narrativo.
2. Foco Narrativo:
O que dá sabor especial ao livro e constitui-se em fonte inesgotável de debates
é o fato de Machado ter criado um narrador-personagem em 1ª pessoa, que recria o
mundo, a vida e as pessoas com quem conviveu ao sabor das suas emoções e
impressões gravadas na memória - um filho obediente, submisso, 1 adolescente
inseguro e fantasista, um adulto ciumento e magoado, enfim, um marido revoltado que
se considera traído e tenta justificar-se filtrando esse mundo através do pessimismo e
da ironia. É através dessa visão amargurada pelo ressentimento que conhecemos as
pessoas que compartilharam de seus dramas.
3. Personagens:
Bento e Capitolina:
São os protagonistas da obra, e sua profundidade psicológica é delineada com
grande carga dramática.
Crescem juntas, apaixonam-se, fazem planos, casam-se e separam-se, mas
trata-se de personalidades contrastantes e complementares: são personagens esféricas
(ou redondas):
Capitu (Capitolina):
Seu perfil é pincelado paulatinamente no transcorrer do livro, pois como em
um romance de tese, o narrador pretende provar ao leitor que a Capitu adulta já se
encontrava na menina, como a fruta dentro da casca.
Aos 14 anos ele a vê como uma adolescente atraente, mãos bem cuidadas, e,
apesar de pertencer à classe social inferior, detentora de vários encantos: possui olhos
claros, cabelos grossos e escuros, penteados em tranças, à maneira do tempo.
Mas é a dimensão moral de Capitu (seu comportamento) que demanda pintura
e análise minuciosas. Caracterizam-na alguns aspectos importantes:
Olhos de cigana oblíqua e dissimulada (visão de José Dias, e se pensarmos que
os olhos são os espelhos da alma...);
Olhos de ressaca (sensação de Bentinho, apaixonado e atraído pela força
irresistível desses olhos);
Fria e calculista (acusações de prima Justina, que inveja Capitu);
Inteligência viva, sagaz; extrema capacidade de reflexão e ascendência sobre o
menino (... era muito mais mulher que eu homem);
Capacidade de simular e/ou dissimular sentimentos e emoções, autocontrole
diante de situações comprometedoras ou conflituosas;
Traços físicos e morais semelhantes aos da mãe de Sancha;
O nome: Capitolina tanto lembra Capitólio.
Trata-se, pois, de personagem densa e rica, pela maneira ambígua, parcial e
freqüentemente contraditória com que D. Casmurro a retrata (através de impressões de
pessoas que a invejavam ou não gostavam dela, e de seu ressentimento de marido
traído; por outro lado, mulher fascinante e encantadora de cuja presença e amor nunca
conseguiram esquecer-se, num sentimento ambíguo nos limites do amor e do
ódio/desprezo).
Bento Santiago:
Pseudo-autor, narrador e personagem principal. Seu nome já sugere alguns
traços de personalidade (Bento + Santiago) - abençoado e predestinado pela mãe ao
sacrifício religioso. O menino cresce acreditando que vai ser padre, ingênuo e
submisso, é preciso que outras pessoas revelem a ele seu amor pela companheira de
brincadeiras.
Principais traços de seu comportamento:
Excesso de subjetividade, emocionalismo e temperamento sonhador;
Submissão total à vontade da mãe;
Demora no amadurecimento psicológico devido à superproteção familiar;
Encantamento e dependência total em relação à Capitu;
Insegurança e incapacidade de autodomínio em situações de tensão;
O relacionamento estranho com Escobar desde o seminário: a sociabilidade, a
cabeça aritmética do amigo fascina Bento e norteiam seus negócios e problemas;
Ciúme doentio e descontrolado, mola-mestra do enredo e motivo principal de
seus sofrimentos: somado à imaginação e falta de objetividade, tal sentimento faz com
que se acredite traído pela mulher e pelo amigo e destrói-lhe a vida e a felicidade,
transformando-o num velho pessimista, amargo, cético em relação a tudo e a todos.
Casmurro adota a filosofia do maestro Marcolini, e transforma sua vida em
uma ópera, em que cantou um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor...
Identificando Bento com Otelo e Capitu com Desdêmona.
No entanto, nas suas evocações, para cada prova de culpabilidade de Capitu o
próprio narrador sugere sucessivas contraprovas, deixando o leitor desnorteado e, às
vezes, perplexo.
Escobar:
Em seus primeiros contatos no seminário, Escobar aparece a Bentinho como
um garoto de modos fugitivos que cessavam quando ele queria e que, com o tempo, foi
conquistando-lhe a confiança e a alma (relações meio feminóides, que provocaram
admoestação de um dos padres).
Bem mais decidido que Bentinho, Escobar apresentava rara habilidade
intelectual, raciocínio rápido e gostava de comércio - via o seminário apenas como
etapa da vida. Longe da família, que morava no Paraná, tomava as decisões por sua
conta e risco.
Sua aproximação com a família do amigo apresenta traços de ambigüidade
(evidências de maus presságios). Conquista logo a confiança e a amizade de quase
todos, apesar da ressalva sobre seus olhos fugidios e das insinuações de prima Justina -
de que lhe interessava o dinheiro de D. Glória. Usando de um artifício, consegue saber
de Bentinho sobre o montante da fortuna dos Santiago.
O narrador apresenta-o como um protótipo de pessoa esperta e calculista
(personagem plana) que se aproveita das relações de amizade para subir na vida e,
inescrupulosa, capaz de trair friamente seu melhor amigo. Mesmo depois de morto,
influi decisivamente na dissolução da vida do casal Bento-Capitu.
José Dias:
Tipo humano com traços caricaturais de personagem de costumes, agregado à
família desde os tempos em que o pai de Bentinho vivia e a quem se apresentara como
médico homeopata. Caracterizam-se pela submissão, atitudes de bajulação para
conseguir ou manter privilégios e um traço lingüístico - o uso de superlativos.
Dna. Glória:
Viúva abastada de Pedro de Albuquerque Santiago, ao perder o 1º filho faz
uma promessa de oferecer o segundo o Deus, caso vingasse. Fiel à memória do
marido, disfarça a juventude e a beleza com roupas e costumes austeros. Mima o filho,
cumulando-o de cuidados: prefere pagar um professor particular para mantê-lo sempre
junto a si. Arrepende-se do sacrifício a que submeteria o filho, e é com alívio e
gratidão que estimula o interesse de Capitu e aceita a sugestão de Escobar para livrar o
filho do seminário. Matriarca poderosa aglutina a família ao seu redor e administra
seus bens com eficiência (e medo, segundo Escobar). Pode ser identificada como
retrato da mulher brasileira do século XIX.
Há quem veja uma relação edipiana, um complexo freudiano mal resolvido
entre ela e Bentinho, que sempre se apresenta dividido entre o amor à mãe e a Capitu e
opta finalmente por ver a mãe como uma santa e a esposa como infiel e desprezível.
As demais personagens - Tio Cosme, Prima Justina, Pádua e a mulher,
Manducam Sancha - constituem parte do universo particular que gravita em torno de
Bentinho. Ezequiel Albuquerque de Santiago, o filho tão desejado e depois rejeitado, é
visto por D. Casmurro como o bode expiatório do seu fracasso conjugal. Devido à
fantástica semelhança com Escobar, constitui-se, ironicamente, na prova científica e
definitiva do adultério de Capitu (o homem é condicionado por sua herança genética,
meio e momento histórico...). Inteligente e imitador desagregam a família: primeiro é
afastado de casa indo para o internato; depois para Europa; finalmente, morre. Idolatra
o pai e nunca conseguiu entender a rejeição e o porquê da separação do casal - vítima
inocente que purifica pelo sacrifício os pecados dos adultos.
Tempo e espaço em Dom Casmurro:
A ação do romance localiza-se no século XIX, durante o segundo Reinado, na
cidade do Rio de Janeiro. Restringe-se à Rua de Matacavalos, Engenho Novo, Bairro da
Glória, Flamengo, casa de Bentinho, casa e quintal de Capitu, seminário, residências dos
dois casais. Cronologicamente, estende-se de 1857 (descoberta do amor adolescente) a
1871 (ano da morte de Escobar). D. Casmurro registra suas memórias no final da década
de 1890, aos 55 anos de idade.
Como acontece nos romances denominados de segunda fase machadiana,
predomina neste livro de poucas ações e detalhes excessivos de introspecção e análise o
tempo psicológico ou de duração interior. O discurso evocativo-memorialista de D.
Casmurro unifica os diversos elementos da narrativa de uma forma tão intrincada e coesa,
que tudo no livro não passa de projeções do seu universo interior - os fatos, as pessoas, as
sugestões confundem-se com as memórias do narrador, aproximam seu discurso do
monólogo interior ou fluxo de consciência, superpõem o passado e o presente,
configurando um caráter impressionista à obra. Tal sensação se reforça no estilo em
ziguezague, que alterna as seqüências narrativas (história de Bento-Capitu) e as seqüências
digressivas (idéias do viúvo ressentido), inter-relacionando-as.
Costuma-se atribuir alguns rótulos a este livro de Machado de Assis: romance
psicológico, romance de introspecção, romance poético, obra aberta. Na verdade, D.
Casmurro é tudo isso e muito mais: trata-se de um clássico da literatura, e talvez o mais
bem acabado romance brasileiro.
Ao empreender sua jornada interior na dissecação da alma humana, convidando e
seduzindo seu leitor a emprestar-lhe cumplicidade e anuência, somos arrastados pela força
de seu estilo e pelo seu inequívoco poder de persuasão.
Desavisados, quase sem perceber, envolvido pela sua neurose obsessiva, acabamos
por partilhar com seu ceticismo, sua descrença, seu negativismo existencial.
Somos convertidos e tornamo-nos adeptos da filosofia do maestro Marcolini,
achando também que o homem é uma invenção de Deus, convertida à perversão por
influência das tentações do demônio.
Ao rascunhar a história de sua vida parodiando a ópera de Shakespeare, D.
Casmurro sugere-nos um Machado bruxo e mistificador que plagiou o plágio e acabou
reescrevendo, à sua maneira, a ópera original escrita por Deus e encenada por Satanás: A
vida é uma ópera, é uma grande ópera.

4.0- Conclusão
Concluímos que Machado de Assis é considerado por muitos o maior escritor
brasileiro de todos os tempos e um dos maiores do mundo literário, enquanto
romancista e contista. Suas crônicas não tem o mesmo brilho e seus poemas têm uma
diferença curiosa com o restante de sua produção: ao passo que na prosa Machado é
contido e elegante, seus poemas são algumas vezes chocantes na crueza dos termos.
Destacando-se com suas principais obras: Dom Casmurro, Quincas Borbas, Memórias
Póstumas, entre outras.
Apesar das dificuldades enfrentadas por ele desde a infância, foi um homem muito
dedicado, tanto que se tornou o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras,
estreou como crítico teatral na revista O Espelho, foi convidado para se tornar redator
do Diário do Rio de Janeiro, esses são alguns exemplos da competência desse escritor
brasileiro, que nos permite ter uma pequena noção da sua importância no estudo e na
historia da literatura.
Dom Casmurro é uma das principais obras de Machado de Assis, lançada na época do
realismo brasileiro e é considerada como a obra - prima desse escritor.

O Pagador de Promessas, de Dias Gomes


Dias Gomes escreve, em 1959, o brasileiríssimo texto de O Pagador de Promessas. É o interessante retrato da miscigenação
religiosa brasileira, tem em sua maior preocupação destacar a sincera ingenuidade e devoção do povo, em oposição a
burocratização imposta pelo próprio sistema católico em sua organização interior. Se trata de uma obra de estatura excepcional.
Décio de Almeida Prado refere-se a ela como "um instante de graça" por ter seu autor atingido um ápice, "aquela obra que
congrega numa estrutura perfeita todos os seus dons mais pessoais".

Nos moldes do "protagonismo" trágico, o herói da peça tem um único e inabalável desígnio, o de honrar uma promessa. A justiça
desse acordo firmado com um poder celeste não pode ser contestada por um poder temporal. E é assim, com um único e
irredutível argumento, que o campônio Zé do Burro justifica a sua determinação em levar uma cruz até o pé do altar para
agradecer a salvação do seu amado burrico. Enfrenta a perda amorosa, a argumentação eclesiástica e a força da lei e acaba por
vencer a todos na sua ingênua, mas sincera, imitação de Cristo.

A essa estrutura simples, em que um único motivo impulsiona a ação e se sobrepõe a todos os outros elementos de composição
do texto, corresponde uma expressão verbal verossímil e sem atavios literários. Respondendo à sugestão da mulher para que se
contente em deixar a cruz na porta da igreja, Zé do Burro responde: "Eu prometi levar a cruz até dentro da igreja, tenho que
levar. Andei sete léguas. Não vou me sujar com a santa por causa de meio metro." A habilidade de fazer com que o impulso
nobre, quase extra-humano na sua pureza, se ajuste à fala coloquial permanece uma constante nas criações posteriores do
dramaturgo.

É uma obra escrita para teatro e é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros
cada um.

Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos
do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita.

O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da
promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro.

O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.

A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões sÓcio-culturais da vida brasileira, em detrimento do
aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

a) à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado
a resolver o problema;

b) à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais,
transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;

c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado


no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;

d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe
tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro,
sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o
gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em
primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça:
ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes
camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja,
carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé
do Burro.

Enredo
Primeiro ato

Primeiro quadro - A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã (4 e meia), numa praça, em frente a uma igreja, em
Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher,
apresentada como tendo "sangue quente" e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a
Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de
exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez,
conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres.
Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva.
Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.

Segundo quadro - Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular
da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O
burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num
terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O
sincretismo Iansã - Santa Bárbara, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a
revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do burro fica
atônico.

Segundo ato
Primeiro quadro - Duas horas mais tarde, já a movimentação no lugar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu
estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas, Dedé Cospe-Rima, poeta popular,
ao estilo repentista e o Guarda. Zé do burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com "ar culpado".
Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro.
Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno
escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.

Segundo quadro - Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos
subseqüentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas
cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da igreja,
propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a
por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode
novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é
total.

Terceiro ato

Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida
grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando
os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir
embora "à noite". Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um
verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela
para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé
está perplexo: "Santa Bárbara me abandonou". Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. Tensão da cena
acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades
reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente
ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no
sobre a cruz e, ignorando padre e polícia entram na igreja, carregando a cruz.

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