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Visões teóricas sobre desenvolvimento regional e a questão das escalas (mundial,

nacional, subnacional e local) nas políticas regionais contemporâneas.


Curso Territorialidade e Políticas Públicas no Brasil. ENAP, Brasília, 2 de maio de 2011.
Mesa: O debate internacional e nacional contemporâneo sobre políticas públicas e território

Carlos Antônio Brandão (carlosantoniobrandao@gmail.com).

“o livro que não existe (...) deve sair em busca de uma teoria social global, na
qual se entronquem (...) a teoria das decisões intertemporais, a teoria da
estratificação social e a teoria do poder” Celso Furtado (1976: 11).

Introdução

Sobretudo após 1990 ocorreu marcada reemergência e proliferação das temáticas do desenvolvimento
e do território, seja enquanto campos teóricos distintos, seja enquanto tentativa de unificá-los em um
mesmo corpo analítico, constituindo a abordagem do desenvolvimento territorial.
A multiplicação de interpretações teóricas sobre o tema foi rápida e pervasiva. Também no
âmbito da ação política, suas noções gerais, de forma bastante disseminada, passaram a informar
práticas, intervenções e estratégias, além de elaborações discursivas e referentes identitários dos mais
variados atores sociais.
Ao lado da necessária e importante ampliação do debate e do conhecimento destas temáticas,
julgo que ocorreram também desvios e deturpações, como sói acontecer com os assuntos da moda.
Assim, procurando contribuir para o debate e a polêmica, procuro sistematizar abaixo algumas
visões interpretativas, inspirado pela economia política e pela geografia crítica, procurando apresentar
o que constitui o que prefiro denominar de temática da dimensão territorial do processo de
desenvolvimento.

1 - Visões teóricas sobre desenvolvimento regional


Nas últimas duas décadas o que seria “territorial” ou poderia ser “territorializado” acabou
conduzindo a análises banalizadas, por muitos autores e práticas discursivas.
Tem inteira razão o Prof. José Reis (2005) quando afirma que “O território precisa ser
interpretado – e não apenas considerado como uma variável de descrição das diferenças na repartição
econômica. A interrogação mais forte acerca do território é a que procura compreender a genealogia
dos processos socioeconómicos: por que razão se geram ali, e não noutro sítio, dinâmicas ou déficits?
Isto implica uma epistemologia do território (...) se rejeita a visão organicista que vê os territórios
como derivações, sub-produtos, de ordem imanentes e se entende que se deve olhar para as
sociedades...”.
Vamos contrapor aqui duas visões: aquela que toma o território como um mero receptáculo
(visão empirista do espaço) e aquela que entende o território como uma construção social, política e
histórica.
As análises mais tradicionais têm como ponto de partida a constatação das assimetrias iniciais
na distribuição territorial dos fatores de produção e das atividades humanas. Posta essa diferenciação
inicial na dotação de recursos, os autores procuram demonstrar que a racionalidade dos agentes, ao
tomarem decisões otimizadoras frente a essas irregularidades e assimetrias, acabará vencendo essas
“fricções espaciais”. Nesse contexto, frente à impossível eqüidade, a eficiência decisória dos agentes
quanto à localização contornariam esses obstáculos advindos das indivisibilidades, efeitos de escala e
problemas colocados pela insuficiente mobilidade dos fatores de produção e pela distância física entre
bens, pessoas e mercados (ou “fricções” de intervenção, colocados pelas “falhas de Estado”). Ou seja,
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tudo se transformaria em uma questão de distribuição locacional, em um ambiente não construído,
mas dado “naturalmente”, inerte, isto é, conformado pelas forças mercantis, sendo o território tão-
somente o receptor dessas decisões individuais. Conforme apontado mais à frente, este modelo teórico
possui nítido caráter a-histórico, a-escalar (aplicável tanto a um país, quanto a uma cidade, etc).
Também não há contexto institucional e nem ambiente construído por forças sociais e políticas.
Seguindo essa concepção estática, positivista e utilitarista, procura analisar as causas da
ineficiência (de mobilidade) alocativa de recursos escassos no espaço, com distribuição desigual em
dado território. Postas as imperfeições na movimentação dos fatores mercantis, seria necessário que o
sujeito atomizado realizasse racionalmente uma escolha locacional ótima. A ordenação dos agentes e
das atividades no espaço se daria com regularidade e racionalidade, se combatida os gargalos e
bloqueios à fluidez. Neste sentido seria importante empreender estudos que realizassem tipologias e
balanços entre forças concentradoras e forças dispersivas.
Na busca por pesquisar as racionalidades e as regularidades presentes nos processos de
localização das atividades econômicas tivemos as contribuições que conformaram o campo de estudos
denominado de Ciência Regional, destacando-se, de início a “escola alemã”: a localização agrícola em
gradientes (anéis concêntricos de produção) de Von Thünen (1826); a determinação da localização
industrial ótima, aquela que operará com menores custos de produção e incorrerá em menor custo de
transporte de Alfred Weber (1909); a análise da formação das redes hierarquizadas de localidades
centrais de Walter Christaller (1933); a conformação hexagonal do sistema econômico urbano,
estruturada a partir da busca por maximização de lucro de August Lösch (1940), etc. Estas abordagens
locacionais, objeto desta análise dos alemães foi submetida à sistematização neoclássica realizada por
Walter Isard (1956), o que deu origem ao que se poderia considerar a “escola anglo-saxônica” da
Ciência Regional.
Baseadas no individualismo metodológico e nas escolhas racionais e maximizadoras, dadas as
restrições, com a dotação de recursos inscrita em uma superfície homogênea, contínua e plana,
realizam-se os cálculos que regulariam a eficiência nos deslocamentos dos agentes, medida via custos
de transportes. A unidade decisória usuária de “uso do solo”, de assentamento, de vantagens
locacionais e de proximidade e acessibilidade a bens e infra-estruturas, segundo seus gostos e
preferências individuais, realizariam suas escolhas por espaço/localização. Produzir e consumir não
seriam atos indiferentes à sua localização e “a rigor, qualquer transação econômica envolve agora um
custo para superar a distância, ou que, para ser disponível, um recurso deve ser antes acessível”
(Smolka, 1984: 771). Ao cabo do processo afirma-se uma distribuição final racionalizada “das pessoas
e dos objetos”, otimamente dispostas no espaço geográfico.
Em um espaço-plataforma homogêneo, dotado de contigüidade, um plano geométrico,
cristalizariam-se as aglomerações humanas e agrupar-se-iam certas atividades econômicas. Cada bem
ou serviço produzido apresentaria uma escala ótima de produção, correspondente a uma demanda
repartida regularmente por esse “mercado territorial” homogêneo. Em tal ambiente não pode,
naturalmente, operar rendimentos crescentes ou externalidades, que criariam fricções e imperfeições à
livre “competição espacial” dos agentes.
Tendo por base o individualismo metodológico, o território tem um status similar ao da firma
na teoria neoclássica. Segundo essa teoria a firma (ou a região) seria uma unidade que toma decisões
autônomas, realizando a mais racional e eficiente combinação de fatores. Mas isso à primeira vista.
Uma visão mais profunda, facilmente teria que reconhecer que estas entidades nada decidem, não têm
poder, são passivas e meros instrumentos das forças de mercado, que promoveriam o ajustamento
harmonioso, superando as fricções existentes nestes planos estáticos (que seriam as regiões).
Duas grandes correntes se consolidaram: a “escola americana” (Walter Isard) e a “escola
francesa” (Perroux e Boudeville). Caberia lembrar ainda as contribuições de Albert Hirschman (1958),
sobre o processo de desenvolvimento como uma cadeia de desequilíbrios, e de Gunnar Myrdal (1957),
sobre os processos de causação circular acumulativa. Ambos combatendo a visão conservadora sobre
etapas do desenvolvimento de Rostow (1959).
Apesar da estreiteza metodológica, importantes perguntas são formuladas acerca da dimensão
espacial dos processos de desenvolvimento por aqueles e outros autores clássicos, em certo sentido de
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forma marginal, ou seja, se constituindo em uma agenda ampla, mas periférica ao mainstream das
ciências sociais, que em sua maioria é a-espacial. Analisaram variadas questões. Muitas com origem
nas questões da proximidade e da aglomeração de pessoas e atividades. O papel do agrupamento e da
concentração e sua distribuição geográfica. A distribuição espacializada das estruturas econômicas se
dá a partir de pontos ordenados de produção e zonas de mercado de consumo. A discussão do tamanho
do mercado e das distâncias se tornou parâmetros fundamentais da análise. As escolhas de lugar para
produzir e consumir são analisadas. A interdependência econômica e a articulação física e funcional
são elementos que foram pesquisados. As razões de alguns núcleos urbanos e regionais emergirem
como pontos com alta centralidade. Procurou-se avançar uma tipologia, com a classificação dos
fatores locacionais: os fatores aglomerativos e desaglometivos, os efeitos de atração e repulsão.
Analisa-se o processo de concentração/desconcentração espacial dos fatores e atividades, buscando
uma teoria da localização (sobretudo industrial). Avaliam-se as influências das economias de escala,
economias de urbanização e economias de localização. A configuração regional e urbana seria a
resultante do balanço dessas forças e efeitos. As análises centradas nas atividades terciárias e sua
capacidade de “estruturação espacial” também ganham relevo. Quanto à questão especificamente
urbana, caberia lembrar a concepção funcionalista de cidade como “organismo social” da escola da
ecologia urbana de Chicago (Gottdiener, 1993), que acabou seguindo uma via de diálogo com as
teorias mais conservadoras do debate territorial.
Somente a partir dos anos 1970 é que se estruturou um pensamento alternativo a esta corrente
hegemônica. A concepção teórica e metodológica que preside todas as formulações não
conservadoras, a partir daí, é a de que o território é uma produção social, procurando analisar os
conflitos que se estruturam e das lutas que se travam em torno deste ambiente construído socialmente.
Nenhum recorte espacial poderá ser mais visto como passivo, mero receptáculo e sem
contexto institucional e moldura histórica.
Conhecendo grande desenvolvimento a partir dos anos 70 a investigação, inspirada em Marx,
acerca da produção e reprodução social do espaço e do ambiente construído, colocou a ênfase na
relação entre Estado e capital em sua intervenção sobre o espaço. Diversas foram as contribuições
aportadas pela geografia radical, crítica e marxista, assim como da sociologia urbana e da economia
política. Cabe destacar as formulações, por vezes conflitivas entre si, nessa empreitada, dos seguintes
autores: Henri Lefebvre, David Harvey, Manuel Castells, Alain Lipietz, Doreen Massey, Jose Luiz
Coraggio, Milton Santos, Neil Smith, Edward Soja, dentre outros.
Henri Lefebvre (1970, 1974) forneceu importantes insights para o entendimento das formas de
produção do espaço e sua perspectiva engajada pela luta política pelo direito à cidade (locus da
diversidade e da potencial redenção da classe trabalhadora). O espaço é o local geográfico da ação
libertadora, posto que a configuração espacial refletiria a hierarquia de poder posta na sociedade, que
deveria ser enfrentada.
David Harvey (1973) apresenta importante contribuição teórica e abre todo um campo de
discussões sobre o ambiente construído. Partindo de uma análise das relações entre processos sociais e
forma espacial, coloca ênfase nas lutas que se travam entre as frações do capital e entre este e o
trabalho. Sua agenda avançará para a elucidação do papel do Estado, da dominância do capital
financeiro e do processo de investimento. Sua contribuição talvez mais lembrada é aquela da
elucidação do processo de desvalorização de capital, discutindo como o sistema capitalista, cria um
ambiente construído, adequada a determinada fase histórica, para depois destruí-lo.
Manuel Castells (1977), em “A Questão Urbana”, aponta também as relações complexas entre
o modo de produção e a forma espacial. Discute o papel dos meios de consumo coletivo para a
reprodução da força de trabalho, realiza a discussão do Estado e dos movimentos sociais urbanos sobre
a produção e reprodução social do espaço.
Alain Lipietz (1977), após realizar importante resgate crítico das teorias tradicionais, que
segundo ele têm uma visão empirista do espaço, irá propor um plano de pesquisa que tem por base o
que ele chama de estudo da estruturação do espaço pelos modos de produção, que, segundo ele, não
existe em estado puro, mas como um “complexo de modos de produção”, “sob a dominação de um
deles”. Assim, Lipietz confere às regiões o status de formação social especifica, tendo sido muito
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criticado por essa limitação. Entretanto, considero que sua discussão dos circuitos de ramo é seminal,
no sentido de destacar a diferenciação setorialista da produção capitalista, ponto central que precisa ser
aprofundado na agenda crítica que trata do território.
Muitas outras contribuições importantes foram trazidas ao debate, não cabendo aqui o
mapeamento minucioso das posições teórico-metodológicas de seus participantes. Apenas para
lembrar outros importantes enfoques, caberia mostrar alguns incursões nesta problemática. Jose Luiz
Coraggio (1980), procurando desvendar a espacialidade dos fenômenos de ordem social, discutiu as
relações entre as estruturas sociais e as formas espaciais, criticando as concepções conservadoras da
“questão espacial”. Ann Markusen (1980) descarta a possibilidade de uma conceituação crítica de
região, afirmando que seria mais apropriado se discutir “regionalismo”, enquanto organização de lutas
políticas referidas a determinado espaço. Milton Santos (1978), que concebe o espaço como totalidade
e como instância social. Discute como as heranças (rugosidades) podem jogar papel ativo da atual
divisão territorial do trabalho. Mais recentemente (Santos, 1994) dirigiu suas pesquisas para o papel do
meio técnico-científico informacional na estruturação do espaço. Neil Smith (1988), inspirado pelo
conceito de desenvolvimento desigual e combinado, procura discutir como esse processo é inerente à
geografia específica do capitalismo, fruto de suas inerentes contradições e de sua tendência simultânea
à diferenciação e à “igualização dos níveis e condições da produção”.
Por fim, seria interessante alertar que todas as tentativas de estabelecimento de teorias
abstratas, tendo por base princípios dotados de validez geral, procurando elaborar esquemas teóricos
com pretensão de dar conta dos processos de caráter universal, apesar de contribuírem para chamar a
atenção para a problemática das diversidades territoriais, se mostraram fracassadas em seu intento,
mesmo que tenham reconhecido a necessidade de uma abordagem interdisciplinar quando se trata
destas questões.
2- O papel das Escalas Espaciais para se formular Políticas Públicas
Este ensaio procura analisar aspectos da copiosa literatura que investiga a natureza e o papel
das escalas espaciais no capitalismo contemporâneo, procurando sugerir alguns elementos teórico-
metodológicos para a estruturação de uma problemática das decisões de sujeitos concretos histórica e
espacialmente constituídos.
Propõe-se aqui um diálogo inicial dessa literatura com a necessária teorização sobre decisões e
poder de comando dos processos sob análise, investigando hierarquias de poder de comando, ações e
as prováveis cadeias de reações das decisões tomadas por variados agentes e sujeitos sociais que
operam em variadas escalas espaciais, construindo socialmente determinado espaço. Defende-se que o
retorno das concepções que para além de pensar identidades, analisem também interesses, ou seja,
questione a dinâmica de atores, agentes e sujeitos concretos, classes sociais e suas frações na produção
de escalas e espaços.
A discussão de escalas deve ser tomada como decisivos planos analíticos e níveis de abstração
que podem lograr dar sentido à organização da reprodução social da vida, tomando escala enquanto
categoria analítica e enquanto categoria da praxis política, cultivando uma perspectiva das variadas
escalas espaciais em processo, em movimento.
Em suma, sugere-se que se deveria buscar o refinamento do arcabouço teórico-metodológico
sobre decisões e poder de comando dos sujeitos concretos, situados e envolvidos na construção social
de determinado espaço. Nesse sentido, alguns das contribuições dos principais autores da economia
política e da geografia crítica são ressaltadas, buscando refletir acerca da dimensão territorial do
desenvolvimento em suas diferentes escalas espaciais. Assevera-se que dever-se-ia discutir os centros
de decisão e seus mecanismos de legitimação, assumindo a conflitualidade e a dinâmica de ação das
distintas facções das classes sociais, que elaboram escalas e narrativas escalares de forma dinâmica,
não confinadas, mas relacionais.
Assim, a pesquisa sobre a dimensão espacial do processo de desenvolvimento não pode
negligenciar as questões centrais do poder, das hierarquias e das hegemonias. Deve também
dimensionar a potência das coalizões contra-hegemônicas e forças contestatórias ao pensamento
conservador.
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São amplas as possibilidades que se abrem de reconstrução teórica, analítica e política da
perspectiva de análise da produção social do espaço, destacando-se a questão da assunção do conflito
nas decisões estratégicas, os conflitos, coalizões e alianças de facções de classe em pugna, e a
importância das escalas espaciais, enquanto construção social, neste contexto. Escalas são elaborações
sociais conflituosos, são produções humanas coletivas, dinâmicas, multidimensionais, contando com
variados agentes e trajetórias históricas em disputa, em movimento processual e em aberto.
A agenda de investigação crítica deve assumir que não existe um modelo canônico a ser
seguido no processo de desenvolvimento, mas uma pluralidade de vias, uma variedade de trajetórias
históricas possíveis; a importância de entender o funcionamento da “máquina capitalista” em suas
expressões espaciais histórico-concretas; o desafio de pensar o Tempo-Espaço do processo de
desenvolvimento; a urgência em tratar dinamicamente o papel das escalas espaciais (locais, regionais,
nacionais, mundiais etc) nesses processos estruturais.
Não obstante, tal projeto deve vencer as inércias e as compartimentações disciplinares, que ao
focalizarem (privilegiando uma e negligenciando as outras) escalas, empreende, de forma restritiva e
demarcada, estudos urbanos, de comparações nacionais, das relações internacionais etc. (Brenner,
2009), dificultando, impedindo ou obliterando a inerente articulação das várias escalas que constroem
a realidade concreta. Tem razão Neil Brenner (2009: 7) ao afirmar que, assim os estudos estritos e seus
vocabulários escalares contidos (local, urbano, regional etc.) “obfuscate the profound mutual
imbrication of all scales and the tangled interscalar networks through which the social relations are
constituted”(…) “and tend to obstruct efforts to explore the dynamics of interscalar relations and
transformations”.
A literatura recente sobre escalas espaciais desenvolvida pelos geógrafos críticos, que
procurarei brevemente sistematizar e recolher alguns pontos para análise, em seguida, cumpre papel
fundamental para decifrar o papel das hierarquias (e das coerências construídas espacialmente) que
estruturam os processos sociais em seus vários níveis, instâncias e territórios.
As dificuldades teóricas de apreensão deste complexo processo são enormes. Se o objetivo
maior é buscar o refinamento do arcabouço teórico-metodológico sobre decisões e poder de comando
de sujeitos concretos, situados e envolvidos nas disputas (com variados instrumentos) em torno da
construção social de determinado espaço, investigando as hierarquias (divisão social do trabalho) e
hegemonias de poder de comando, as ações e as cadeias de reações das decisões tomadas (por variados
agentes e sujeitos sociais que operam em variadas escalas espaciais), propõe-se aqui a necessidade de
avaliar, após breve síntese da polêmica sobre a natureza das escalas espaciais, o papel de uma reflexão
teórica que propõe a a seguinte sequência analítica: produção social do espaço / divisão social do
trabalho / dimensionamento dos poderes / natureza das escalas espaciais, conforme discutido abaixo.
3 - O atual acúmulo científico sobre a natureza e o papel das escalas espaciais no capitalismo
Já se detém um amplo e consistente patrimônio científico, de um quarto de século, e se elaborou o que
poderia ser considerado um léxico escalar. Nos últimos dez anos as reflexões sobre as potencialidades
do tratamento escalar das questões espaciais se tornaram mais profícuas, com a grande contribuição de
autores como David Harvey, Doreen Massey, Neil Smith, Erik Swyngedouw, Alain Lipietz, Georges
Benko, Allen J. Scott, Ash Amin, Bob Jessop, Jamie Peck, Anssi Paasi, Frank Moulaert, Michael
Storper, Neil Brenner, Nigel Thrift, Nik Theodore, Sallie Marston, dentre muitos outros.
Tais debates, instigantes, polêmicos e constantes, foram travados sobretudo nas revistas
Transactions of the Institute of British Geographers, Progress in Human Geography, e em muitos
outros periódicos internacionais na área da Geografia e do Planejamento Regional e Urbano
(Antipode, Economic Geography, Environment and Planning, European Urban and Regional Studies,
Geoforum, International Journal of Urban and Regional Research, Regional Studies, Urban Studies
etc.).
Ao longo das últimas décadas, de uma noção vaga, as escalas espaciais passaram a receber
tratamentos analíticos mais precisos e sofisticados, avançando para se legitimar como categoria chave
nos estudos da dimensão espacial do desenvolvimento capitalista, embora ainda possa ser melhor

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determinada e qualificada no processo coletivo de debate e elaboração científica. O foco desse debate
é a investigação da natureza das escalas espaciais no capitalismo.
A polêmica brotou em torno da questão de que escala não deve ser vista tão-somente em sua
dimensão ordenada cartográfica-analógica-métrica, mecanicista e geometral, tomada como mera
relação de proporcionalidade, dotada de representação e comensurabilidade de medidas de tamanho e
não são enquanto entidades fixas.
“Scale is thus understood not cartographically, as the relation between distance on map and
distance on the ground, but as socially constructed. For John Agnew, scale refers to „the focal setting
at which spatial boundaries are defined for a social claim, activity or behaviour‟. This definition is
useful in highlighting the way in which space is differentiatened, carved out as spaces for particular
actions and relations” (Keil ; Mahon, 2009:8).
Escalas são inerentemente inexatas e dinâmicas. Não podem ser tomadas enquanto unidades
imutáveis ou permanentes, pois são justamente inscritas e esculpidas em determinado espaço e
erguidas ou eregidas, material e simbolicamente, em processos, por natureza, sociais. Trata-se de
pensar as escalas espaciais enquanto instâncias e entidades em que a vida social é organizada e
reproduzida e não em uma representação cartográfica, “evitando a reificação e a acrítica divisão de
escalas que reitera um fetichismo do espaço” Smith (2002, 141).
A fim de facilitar a exposição seria importante estabelecer, apenas previamente, uma
distinção, antes de tudo analítica (proposta em Moore, 2008), entre: escala, como categoria e unidade
de análise, recurso epistemológico e heurístico; e escala, enquanto categoria da prática, campo e
instrumento das lutas sociais.
Tal divisão binária, embora marcada por grande arbitrariedade, posto que o desafio da maioria
dos autores é justamente tratar da simultaneidade e articulação complexas entre as duas, pode, não
obstante, nos auxiliar em uma primeira aproximação dos termos deste debate.
Escala enquanto categoria analítica e escala enquanto categoria da praxis política não estão
apartadas. Selecionar analiticamente a escala mais conveniente dos problemas observados faculta
melhor diagnosticá-los e possibilita sugerir coalizões de poder e decisões estratégicas sobre como
enfrentá-los. O desafio (simultaneamente) científico e político é, portanto, procurar definir o que e
com que meios cada escala pode revelar, mobilizar, contestar, acionar, regular, comandar e controlar.
A escala espacial, socialmente produzida, deve ser vista como um recorte para a apreensão das
determinações e condicionantes dos fenômenos sociais referidos no território. Ao mesmo tempo
tomada como um prisma que permite desvendar processos sociais, econômicos e territoriais
singulares. Mas escala também é arena política. Lócus do exercício de hegemonia. Neste sentido,
Herod and Wright (2002: 2) afirmam que “We ask several sets of questions concerning how our world
is scaled, how we think about such scaling, and how social actors go about at attempting to scale their
own activities in ways that allow them to exercise power or that facilitate their denial of power to
others.
Como “categoria e unidade de análise”, muito se avançou na investigação teórica e empírica
da escala enquanto encarnação concreta de relações sociais, histórica e geograficamente determinadas.
Logrou-se afastar das concepções restritas e estáticas que a tomavam como um dado e avançou-se ao
tomá-la sob o prisma de sua natureza eminentemente relacional, contestável, processual e contingente,
passando a ser interpretada como lócus e veículo in situ através dos quais as relações socioespaciais se
estruturam e operam.
Embora seja decisivo retomar a abordagem das hierarquias e hegemonias, “forms of
interscalar organization represent mosaics, not pyramids. The institutional landscape of capitalism is
not characterized by single, all-encompassing scalar pyramid into which all social processes and
institutional forms are neatly enfolded” (Brenner, 2009: 10).
Na busca de modos de apreensão e elucidação de dada realidade várias e inusitadas metáforas
foram propostas neste debate, tentando caracterizar as escalas (como relacional, à semelhança das

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notas musicais; multicamadas articuladas, como nas bonecas russas; variados níveis, como nas
escadas; construção constante e modulável, como nos andaimes; etc).
Isso porque as dificuldades da análise escalar são enormes e desafiadoras, pois as escalas
devem ser tomadas em sua dinâmica em movimento e submetida a processos de mutação e relações e
vínculos de interpenetração escalar1. Uma escala só pode ser definida e determinada e qualificada
apenas em relação às outras. Em analogia aos conceitos de “capital em geral” e “pluralidade de
capitais”, que dialeticamente Marx ensina que um contem o outro, também se deveria pensar assim
quanto às escalas espaciais. Parte das dinâmicas e lógicas escalares, em geral em em particular, jaz
justamente nos nexos e coerências interescalares.
Harvey (2000: 112-114) aponta uma das grandes dificuldades desta análise, ao ponderar que
“a concepção geral de desenvolvimento geográfico desigual que tenho em mente envolve uma fusão
desses dois elementos, a mudança das escalas e a produção de diferenças geográficas (…) Mas é
conceitualmente difícil trabalhar simultaneamente com diferenciações geográficas voláteis e em
multiplicação que operam em planos escalares eles mesmos em rápida mudança”. Outro ponto é que é
preciso realizar a “distinção entre a escala da realização das ações e a escala de seu comando” Santos
(1996). As escalas espaciais, determinadas, em que os processos sociopolíticos são comandados e os
sitios em que se manifestam e concretizam. As determinações de ações em uma escala, com
repercussões e manifestações, geralmente com uma intricada cadeia de ações e reações em outra escala
é justamente uma marca decisiva do processo expansivo capitalista.
O prisma analítico com tal recorte é lócus privilegiado para relatar a estrutura e a dinâmica do
desenvolvimento capitalista no território. É espaço de elucidação de mediações, tendo potencial para
auxiliar na hierarquização de determinações do ambiente construído. A escala potencializa um plano
analítico de observação privilegiado2, passível de revelar as articulações e mediações entre os cortes
local, regional, nacional etc. Erik Swyngedouw afirma que “As escalas espaciais nunca são fixas,
sendo perpetuamente redefinidas, contestadas e reestruturadas em termos de seu alcance, de seu
conteúdo, de sua importância relativa e de suas inter-relações. Há contestação e transformação
perpétuas de escalas geográficas de regulação. Está claro que haverá variações consideráveis das
posições relativas de poder social a depender de quem controla o que em que escala” (Swyngedouw,
1997: 141).
Os desafios científicos e de ação política de natureza escalar são enormes, pois as escalas
hierárquicas em que as atividades humanas são estruturadas mudam constantemente, não obstante,
permanece a sensação que “as escalas são imutáveis ou mesmo totalmente naturais, em vez de
produtos sistêmicos de mudanças tecnológicas, formas de organização dos seres humanos e das lutas
políticas” (Harvey, 2000: 108).
Encontrar a escala adequada que defina determinado campo em que análises possam ser
realizadas, onde alianças possam ser construídas, e estratégias de resolução dos problemas detectados
possam ser implementadas. Isto é, buscar, de forma perene, a escala de observação adequada para a
elucidação e tomada na devida conta, de forma bem ponderada, dos fenômenos sobre os quais se
deseja intervir.
A escala permite um prisma, uma perspectiva em que “o caráter das coisas se afigura distinto
quando analisado nas escalas global, continental, nacional, regional, local ou do lar/pessoal. O que
parece relevante ou faz sentido dessas escalas não se manifesta automaticamente em outra (Harvey,
2000: 108).

1
A escala, segundo Egler (1991: 232), permite visualizar “as intersecções dos conjuntos espaciais, não
incorrendo no erro de reificar estes conjuntos de análise, transformando-as em „entidades reais‟, passíveis de
classificação sistemática”. Tais conjuntos são, também, “objetos do conhecimento”, abstrações.
2
A escala “confere visibilidade ao fenômeno” (...) “todo fenômeno tem uma dimensão de ocorrência, de
observação e de análise mais apropriada. A escala é também uma medida, mas não necessariamente do
fenômeno, mas aquela escolhida para melhor observá-lo, dimensioná-lo e mensurá-lo” (Castro, 1995: 120).

7
Swyngedouw (2007: 11), ao defender uma interpretação relacional e territorial de escala, nos
diz que “I start from the view that scale is not ontologically given, but socioenvironmentally mobilized
through socio-spatial power struggles. In other words, socio-spatial relations have a „scalar‟
constitution as relational networks are forged that produce spatial geometries that are more or less
long, more or less extensive. Yet, at the same time, these relational scalar networks articulate with
produced territorial or geographical configurations that also exhibit scalar dimensions”. A concepção
de escala “that can have both rhetorical and material consequences – are often contradictory and
contested and are not necessarily enduring”, por ser fruto de processos que moldam a prática social
concreta.
A discussão da escala espacial destes processos é tarefa obrigatória para a apreensão das
determinações “territorializadas” dos fenômenos sociais. Importa demonstrar como o prisma analítico
de corte escalar é lócus privilegiado para relatar a estrutura e a dinâmica do desenvolvimento
capitalista no território. É espaço de elucidação de mediações, tendo potencial para auxiliar na
hierarquização correta de determinações estruturais e conjunturais do ambiente construído.
Definir adequadamente as escalas espaciais em que se processam territorialmente as
determinações da divisão social do trabalho é dar cognoscibilidade aos fenômenos sociais. Delimitar
esse campo de averiguação das determinações dos “fatos territoriais” pode ser melhor determinado
pelo plano escalar que se elabore para realizar as aproximações progressivas da realidade. Como foi
dito, o prisma escalar de observação do real-concreto pode iluminar e atribuir valor a aspectos e
fenômenos da realidade que de outra forma não seriam visualizadas e apreendidos, sobretudo se se tem
em conta o mosaico de espacialidades esculpidas em lugares específicos, resultantes contraditórios de
processos de produção de uma miríade de ambientes construídos e permanentemente reconstruidos.
Os processos históricos de desenvolvimento desigual construíram “um extraordinário mosaico
geográfico de ambientes e modos de vida”. Harvey afirma que este mosaico é como um
“palimpsesto”, ou seja, um papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a
outro, “composto de acréscimos históricos de legados parciais sobrepostos em múltiplas camadas uns
sobre os outros” (…) Algumas camadas têm maior saliência sobre outras [Assim] Esse mosaico
geográfico é uma criação, aprofudada no tempo, de múltiplas atividades humanas”. Harvey (2000:
110). Neste sentido, é um mosaico em movimento, constantemente reconfigurados, múltipla e
interescalarmente.
Como “categoria da prática”, a construção escalar é um processo eminentemente político,
estabelecendo a diferenciação de determinado ângulo de luta social pelo controle do espaço. Como
modo particular de organizar e dispor de seus recursos políticos (incluindo a utilização de recursos
simbólicos e discursivos) a “política de escala” se manifesta na constituição de arenas e instâncias em
que se buscam estabelecer alianças, confrontos etc, possibilitando lançar mão de instrumentos,
dispositivos e recursos diversos, segundo este prisma.
No campo crítico se tomou escala enquanto uma construção social conflitiva, constestável
permanentemente por forças sociais em disputa. Sallie Marston (2000: 220) esclarece que “in these
recent social theoretical studies, the fundamental point being made is that scale is not necessarily a
preordained hierarchical framework for ordering the world – local, regional, national and global. It is
instead a contingent outcome of the tensions that exist between structural forces and the practices of
human agents”. O prisma analítico das escalas espaciais permite avançar-se em concepções que
rompam com esquemas conceituaies de estruturas carentes de sujeitos ou de sujeitos apartados de
estruturas, dado que as escalas devem ser tomadas justamente como um instrumento de apreensão da
concreticidade das práticas socioespaciais.
A escala demarca o campo das lutas sociais, dá concretude a bandeiras, clivagens e
orientações de lutas e ações políticas, delimita e cria a ancoragem identitária, a partir da qual se logra
erguer/estruturar um contencioso em relação a imposições (por vezes ameaçadoras) provenientes de
outras escalas, ou da mesma. Há um permanente embate de forças, posto que “a reprodução da vida
realiza-se na relação contraditória entre necessidade e desejo; uso e troca; identidade e não-identidade;
estranhamento e reconhecimento que permeiam a prática socioespacial” (Carlos, 2007: 56).

8
Um nível escalar possibilita captar dimensões do real concreto, que de outra perspectiva não
seriam assimilados, apreendendo algumas referências e nexos que esta instância e corte analítico
possibilita, podendo ser dessa forma ser lidos, impugnados ou referendados pelos sujeitos
sociopolíticos.
Fernández (2009) resumiu com precisão escala como representação, em que atores e sujeitos3
politicamente constituídos buscam dar determinado sentido simbólico e material a suas ações e
decisões. Esses sujeitos, ao acionarem conteúdos simbólicos e materiais que emprestam racionalidade
e buscam significar e reordenar e requalificar certo ambiente e contexto histórico-espacial e suas
específicas relaciones de poder e estrategias reproductivas, lançam mão de diversificados esquemas e
“mapas mentales socialmente consensuados”.
Por exemplo, atores em posição dominante tendem a elaborar um “corpo de metáforas”
adotando uma perspectiva de “representación escalar plana y bipolar, y la desconsideración con ello
del poder y los intereses que acompañan a las estrategias de los actores y a la dinámica espacial multi-
escalar e interpenetrada del capitalismo” (Fernández, 2009).
Construído coletiva e politicamente, esse lócus de embates e enfrentamentos não pode ser
definido em si, mas apenas em relação com o outro. Assim, a escala delimita, desenha e recorta, em
processo constante de confrontos e por interação/oposição, compromissos sociopolíticos em
movimento conflituoso e contingente. Esses movimentos se expressam recorrentemente enquanto
relações e mecanismos de empowering-disempowering (assim como em upscaling-dowscaling
processes) (Swyngedouw, 2004) que são utilizados pelos contendores. Há processos e manobras de
reescalonamento, táticos e/ou estratégicos, por exemplo do Estado, do capital e do trabalho, ações de
by passing scales.
Comprometimentos e vínculos identitários e de interesses são esbalecidos e desfeitos, pois “os
seres humanos produzem e concretizam suas próprias escalas para buscar a realização de suas metas e
organizar seus comportamentos coletivos” (Harvey, 2000: 108).
Doreen Massey (2005: 144) declara que “espaço, enquanto relacional e enquanto esfera da
multiplicidade, é tanto uma parte essencial do caráter do compromisso político quanto perpetuamente
reconfigurado por ele. E o modo pelo qual esta espacialidade é imaginada pelos participantes também
é crucial. O fechamento da identidade em um espaço territorializado de lugares delimitados fornece
pouco no rumo das possibilidades para o desenvolvimento de uma política radical”.
Os territórios tornam-se também espaço da indeterminação, da contingência (Reis, 2005) e
lócus de lutas políticas e de estratégias de re-scaling (Smith, 1984; Swyngedouw, 1997) de sujeitos
políticos insurgentes que contestam circunscrições e estruturas discursivas escalares. Isso, “exigindo a
compreensão da produção do espaço na indissociabilidade do sujeito produtor em ato [em sua]
atividade vital, realizando-se concretamente (Carlos, 2007: 49)”.
As escalas “devem ser trazidas para o terreno social, incerto e móvel, daquilo que está em
disputa. Nem as estruturas e lógicas econômicas nem as heranças históricas em si determinam e
instauram escalas (...) diferentes agentes propõem diferentes escalas e em diferentes escalas se
dispõem” (Vainer, 2006: 17).
Afirma-se neste contexto, o reino do imprevisto4, do fortuito, a não precisão, já que a práxis
escalar ancora, expressa e concretiza espacialmente as respostas e enfrentamentos dos sujeitos sociais
concretos aos desafios e conflitos postos concreta e conjunturalmente em cada momento e

3
Os processos de interação entre agentes e sujeitos “se delimitan, en un contexto histórico dado y bajo ciertas
formas, determinados campos espaciales a los que dan ciertos contenidos no sólo simbólicos sino también
materiales (…) Dichos contenidos dan sustento fáctico a las mencionadas estrategias, las que, por su parte,
otorgan una traducción espacial a los intereses contradictorios y a las relaciones de poder bajo las que se
despliegan”. (Fernández, 2009).
4
“Os embates políticos e ideológicos mobilizam e acionam, instauram e rompem escalas, num processo em que
narrativas escalares estruturam e fundamentam estratégias e táticas, configurando arenas e objetos em disputa.
Não apenas as escalas se transfiguram, como seu próprio significado e nomeação indicam redefinições de
sujeitos e relações” (Vainer, 2006: 28).
9
circunstância histórica e geográfica. Procura enunciar, anunciar e prenunciar transformações políticas
em um espaço tomado e produzido em sua diversidade e pluralidade, pois “se o espaço é a esfera da
multiplicidade, o produto das relações sociais, e essas relações são práticas materiais efetivas, e
sempre em processo, então o espaço não pode nunca ser fechado, sempre haverá resultados não
previstos, relações além, elementos potenciais de acaso” (Massey, 2005: 144).
Também na temática das escalas, assim como nas ciências sociais de forma mais geral, é
urgente retomar o “velho problema teórico-metodológico das relações entre o movimento de longa
duração das estruturas econômicas e sociais e o tempo conjuntural da luta política” [assim] elaborou-
se uma proposta de análise que procura articular estrutura e conjuntura, economia e política num
tempo comum, o tempo da valorização do capital e dos seus ciclos de acumulação” (Fiori, 2003: 26),
além das temporalidades específicas dos sujeitos em ação e processo.
É preciso avançar na análise das interações de decisão que traduzem (com complexas
mediações), mas também metamorfoseiam/renovam as estruturas. No jogo político, os movimentos
insurgentes e de resistência podem lograr habilitação de poder, ao erigirem suas próprias
interpretações e interpelações escalares, superando constrangimentos uniescalares e acionando e
mobilizando seus próprios recursos discursivos ou institucionais contestatórios. É patente hoje que os
“oppositional movements that strive to block or to roll back the contemporary neoliberal onslaught
have likewise begun to mobilize geographical scale in strategic, often highly creative ways – whether
by jumping scales to escape the hegemony of dominant institutional practices, by mobilizing support
for reregulatory projects which aim to socialize capital at particular scales or by envisioning radically
different scalar arrangements based upon principles of radical democracy, emancipation and
sociospatial justice” (Brenner, 2001: 594).
A consciência das destituições podem levar a que sejam elaboradas “a prática socioespacial
fundada na desigualdade concreta e real propõe a realização da diferença num outro plano,
contestando (…) a redução do humano e da vida ao mundo da mercadoria (…) [desse modo] a
diferenciação se estabelece e se realiza, a partir do lugar, entre escalas e em cada uma delas” (Carlos,
2007: 49).
Estes tensionamentos na correlação de forças sociais e escalares, podem criar coalizões
(inclusive em outras escalas) e constituírem bloco histórico com alguma organicidade (ou tratar-se-ia
mesmo de um bloco “geográfico”?). Táticas e estratégias espaciais “have attempted to manipulate
scale in order to strengthen their bargaining positions” (Moore, 2008).
A distinção proposta por Corrêa (2007) entre processos espaciais e práticas espaciais. pode
auxiliar no avanço das pesquisas que tomem escalas como objetos de análise. “As diferenças
sócioespaciais resultam do acúmulo de inúmeras formas e interações espaciais desenvolvidas em um
período de tempo de certa duração. Esse acúmulo é o resultado de processos e práticas espaciais.
Postos em ação pelos diversos agentes sociais da produção do espaço, os processos constituem um
movimento de massa, envolvendo uma sequência sistemática e regular de ações em um período de
tempo relativamente longo. Repetitividade e duração longa são traços definidores dos processos
espaciais, distinguindo-os das práticas espaciais. As práticas espaciais constituem ações espacialmente
localizadas, engendradas por agentes sociais concretos, visando a objetivar seus projetos específicos.
Constituem ações, não necessariamente sistemáticas e regulares” (Corrêa, 2007: 68). Segundo ele, o
categoria escala está “associada à idéia de que objetos e ações são conceitualizadas em uma dada
escala na qual processos e configurações se tornam específicos” (Corrêa, 2007: 63).
Através de determinado plano escalar pode-se revelar a natureza dos processos socioespaciais
de forma mais adequada, pois tais processos são produto e resultado da realização da sociedade
(Carlos, 2001), através de suas práticas. A conjuntura cotidiana, “o reino da experiência”, é
elucidativa, se dúvida, “o cotidiano é o lugar da ação e do conflito, da consciência e da elaboração do
projeto, da reivindicação do „direito de uso‟ (…) desloca-se o enfoque da localização das atividades,
no espaço, para a análise do conteúdo da prática socioespacial, enquanto movimento da produção,
apropriação e reprodução” (Carlos, 2007: 59).
Neste sentido, consideramos que é imprescindível buscar construir estratégias multiescalares
de desenvolvimento. Encontrar a escala adequada que defina determinado campo onde a decisão deve
10
ser tomada e as ações cidadãs emancipatórias e de enfrentamento sejam promovidas, muitas vezes
através das armas da contestabilidade escalar. A escala deve ser vista como uma delimitação de
natureza sociopolítica que permite ações contestatórias.
É bom lembrar que todas as escalas são historicamente fixadas e politicamente criadas e
legitimadas, ao resguardar, amparar e abrigar agentes “territorializados”/localizados que são
submetidos a normas, regras e parâmetros definidos neste plano escalar. Seus caracteres distintivos
definem, em determinado recorte espacial, estruturas e ambiências que moldarão e mediarão ações e
decisões de sujeitos politicamente constituídos. Fatores atinentes aos arranjos sociais, políticos e
culturais imprimirão algum grau de unicidade de propósitos a esse recorte. Assim, alguma comunhão
de destino compartilhada em relação ao futuro é necessária ao delineamento e circunscrição de
determinada escala.
Considero que o esforço do debate coletivo da temática das articulações entre
desenvolvimento e território deveria aprofundar as seguintes questões: Há alternativas de intervenção
contemporâneas que não caiam em reificação do território? Será possível e viável politicamente tomar
o território como produto de relações sociais a fim de construir políticas públicas e ações
emancipatórias e de construção de cidadania? É possível definir planos escalares distintos que
orientem reflexões sobre estratégias de desenvolvimento multi-escalares?
Penso que discutir estratégias territorializadas de desenvolvimento passa, do meu ponto de
vista, por encontrar a escala adequada para a definição de determinado campo onde os problemas são
mais bem visualizados e as decisões sobre como enfrentá-los, e em que escala, nível de governo e
instância de poder, deverão ser tomadas e quais instrumentos e medidas e ações concretas serão
acionadas sob aquele prisma particular de observação. Neste sentido, consideramos que é
imprescindível buscar construir estratégias multiescalares. Buscar a escala de observação correta para
a tomada dos fenômenos sobre os quais se deseja intervir. Cada problema tem a sua escala espacial
específica. É preciso enfrentá-lo a partir da articulação de poder pertinentes àquela problemática
específica.
É preciso habilitar os atores mais destituídos e marginalizados de determinado território.
Ativar recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e políticos buscando ampliar
o campo de ação da coletividade, aumentando sua autodeterminação e liberdade de decisão. Tomar o
território enquanto potência vigorosa de transformação. Discutir centros de decisão e seus mecanismos
de legitimação. Assumir a conflitualidade, a dinâmica de ação das facções das classes sociais, analisar
os sujeitos portadores de decisão transformadora. Analisar hegemonias, poderes e hierarquias,
construindo e hierarquizando mediações diversas (espaciais, sociais, políticas, monetárias, financeiras,
macroeconômicas, microeconômicas, inter-estatais, geoeconômicas e geopolíticas).
Assim, defendo o aprofundamento do debate sobre escala que busque dialogar com uma
teorização sobre Decisões e poder de comando dos processos sob análise: pensar a dinâmica de atores,
agentes e sujeitos concretos, classes sociais e suas frações; as hierarquias de poder de comando, as
ações e cadeias de reações das decisões tomadas (por variados agentes e sujeitos sociais que operam
em variadas escalas espaciais). É preciso melhor definir o campo de tomada de decisões e as arenas
em que as ações cidadãs emancipatórias e de enfrentamento do pacto de dominação podem ser
promovidos.
Gonzalez (2009: 2) llama “narrativas escalares, como las narrativas que justifican cambios
en los patrones espaciales de procesos socio-políticos, ofreciendo explicaciones sobre la primacía o
disolución de determinadas escalas espaciales como elementos organizativos”. “En este proceso de
toma de decisión tan difícil, las narrativas escalares ofrecen atajos cognitivos que proveen una versión
(…) convincente y simple”.
Sujeitos concretos elaboram estratégias narrativas que apresentam leitura parcial da realidade.
Segundo Chauí (1980) o papel do discurso ideológico é o de ocultamento e dissimulação do real e de
como, justamente em suas lacunas, em seus espaços em branco, a peça discursiva vai ganhando sua
coerência e seu poder. “A ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos
„ensinam‟ a conhecer e a agir (...) Universalizando o particular pelo apagamento das diferenças e
contradições, a ideologia ganha coerência e força porque é um discurso lacunar que não pode ser
11
preenchido. Em outras palavras, a coerência ideológica não é obtida malgrado as lacunas, mas, pelo
contrário, graças a elas5” (Chauí, 1980: 4).
A dissimulação que as mais variadas narrativas localistas, da cidade-competitiva, do mundo
biescalar local-global, da globalização açambarcante etc ou a perspectiva teórica e discursiva que
toma o espaço como um receptáculo inerte, mero espelho passivo da sociedade, absolutizado-o. É um
retorno, com maior sofisticação, à velha visão reificada do território, capaz de vontade e endogenia,
que oferece sua plataforma ou continente.
A força argumentativa dos sujeitos hegemônicos impõem visões de mundo com presunções de
generalidade e verdade, tornando elucidativo se questionar: “¿Cuál es, entonces, el proceso por el cual
los actores defienden y legitiman una configuración escalar concreta? La llamada „política de escalas‟
es el campo en el que tienen lugar las luchas materiales y discursivas entre diferentes actores por
establecer configuraciones escalares hegemónicas. En esta lucha los actores utilizan „narrativas
escalares‟ para justificar y „dar empaque‟ a sus argumentos” Gonzalez (2009: 4).
Atualmente, em um ambiente sociopolítico fragmentador, assistimos, muitas vezes, ao
predomínio de narrativas uniescalares e monofórmicas hegemônicas (como se existisse uma via única
ou um modelo canônico de capitalismo a seguir).
Entretanto a literatura crítica tem avançado na demonstração da variedade de trajetórias
alternativas de desenvolvimento possíveis e nas suas múltiplas escalas espaciais passíveis de
construção e observação. A ação consequente deve ser multiescalar. Deve apor e vencer resistências
do atraso estrutural e anticidadão, ativar e mobilizar instrumentos, normas e convenções que se
localizam em variados âmbitos, níveis de ação e instâncias. Deve hierarquizar opções, dar
organicidade a ações dispersas e orientar decisões ao longo de uma trajetória temporal mais larga.
O grande desafio é explicitar recorrentemente os conflitos de interesse em cada escala e
construir coletivamente alternativas políticas. Engendrar um ação coletiva, que seja pedagógica, que
densifique a consciência social cidadã e a legitimação política.
Por fim, cabe lembrar que qualquer tentativa de elaborar e avançar em uma teorização sobre
Decisões, de sujeitos políticos, em múltiplas escalas, requer depurar discriminar e hierarquizar os
fatores endógenos e exógenos determinantes, condicionantes ou coadjuvantes dos processos sociais,
econômicos, políticos etc. em cada escala e construir as mediações históricas, teóricas (e por que não
dizer institucionais, territoriais, políticas etc) devidas e pertinentes.
4 - Proposta metodológica
Defende-se aqui a necessidade de se ter uma visão crítica que entenda a produção social do espaço e a
dimensão urbano-regional do processo de desenvolvimento, procurando demonstrar que esta é um
problemática atinente à existência, conteúdo e natureza de Centro de Decisão, Comando e Direção
(versus Heteronomia) em todo e qualquer recorte espacial que se proceda à investigação
comprometida, envolvendo a análise estrutural de Hierarquias e Hegemonia.
Trata-se de investigar Estruturas, Dinâmicas, Relações e Processos. É preciso entender como
as diversas facções de classes sociais se estruturaram e como se reproduzem. Quais são seus interesses
concretos mobilizados e seus instrumentos e lógicas de ação acionados.
Tais processos, ocorrem, grosso modo, em vários planos análiticos, níveis de abstração e
escalas espaciais.
O exercício teórico-metodológico aqui proposto, coloca no centro da análise a problemática
das decisões e do poder de comando de agentes e sujeitos concretos, que operam em variadas escalas
espaciais, nas disputas em torno da produção social de determinado espaço. Conforme apontado no
início deste ensaio, propõe-se aqui a seguinte aproximação analítica: produção social do espaço /

5
“A ideologia é aquele discurso no qual os termos ausentes garantem a suposta veracidade daquilo que está
explicitamente afirmado” (...) [Ela realiza] um movimento graças ao qual possa neutralizar a história, abolir as
diferenças, ocultar as contradições e desarmar toda a tentativa de interrogação” (Chauí, 1980: 5).

12
divisão social do trabalho (intersetorialidade, interregionalidade e interurbanidade) / dimensionamento
dos quatro poderes / natureza das escalas espaciais, conforme discutido abaixo.
Produção Social do Espaço. Infelizmente, em parte ponderável das análises, o espaço, que
deveria ser visto como ambiente politizado, em conflito e em construção, é posto como reificado, ente
mercadejado e passivo, mero receptáculo, onde se inscrevem os deslocamentos/ movimentos.
Constroe-se uma narrativa espacial e escalar em o que é fruto de relações sociais aparece como relação
entre objetos.
Em contraposição a esta interpretação conservadora e hegemônica, a concepção teórica e
metodológica a ser aqui adotada é a da produção social do espaço, dos conflitos que se estruturam e
dos antagonismos que são tramados em torno deste quadro e ambiente construído. No espaço se
debatem (podendo ser compatibilizados ou não) projetos e trajetórias em reiteradas contendas.
O espaço é unidade privilegiada de reprodução social, encarnação de processos diversos e
manifestação de conflitualidades. Seu tratamento, portanto, deve se afastar dos tratamentos que
pensaram estruturas sem decisões de sujeitos ou atores sem contexto estrutural. Os espaços são
construções (sociais, discursivas e materiais), portanto sua análise deve se basear na interação entre
decisões e estruturas, nas articulações entre microprocessos, microiniciativas versus macrodecisões
nas várias escalas espaciais em que se estruturam e se enfrentam os interesses em disputa.
Grande parte das mediações teóricas e históricas devem ser tecidas tomando o objeto escala
espacial, enquanto construção social e prisma analítico.
Neste sentido, o desafio é empreender a interpretação sob a ótica da pluralidade das frações de
classes sociais em construção de um compromisso conflituoso produzido e pactuado em um espaço
vivo, procurando elucidar os processos através dos quais os sujeitos sociais em luta produzem
socialmente o espaço e o ambiente construído (Lefebvre, 1974; Harvey, 2006).
Divisão Social do Trabalho. Essa deve ser a categoria explicativa básica da investigação da
dimensão espacial do processo de desenvolvimento, posto que permeia todos os seus processos, em
todas as escalas. Expressão do estágio atingido pelo desenvolvimento das forças produtivas, essa
categoria mediadora é a adequada para se estudar as heterogeneidades, hierarquias e especializações
intra e inter qualquer escala (regional, nacional, internacional).
O referencial teórico-metodológico maior, hierarquizador das questões a serem pesquisadas, é
o da divisão social do trabalho. Seu movimento constante modifica, refuncionaliza, impõe lógicas
externas, adapta, distingue e revela estruturas e dinâmicas. Promove redistribuições e redefinições
incessantes de agentes, atividades, circuitos, funções etc. É o vetor das transformações constantes e
perenes nas intertemporalidades e interespacialidades. Realoca recorrentemente pessoas, fatores
produtivos, processos e dinâmicas de produção. Especializa, diferencia, particulariza, discerne,
separa/une. Coloca em consonância, concilia, combina, coordena, coteja, confronta. Neste sentido, os
espaços regionais e urbanos são resultantes da operação dos processos de diferenciação social e de
especialização e diversificação material e da sociedade. Os estudos devem investigar a base operativa,
ou seja, o lócus espacial em que se concretizam tais processos e analisar os centros de decisão e os
sujeitos históricos determinantes destes processos.
A divisão social do trabalho em sua expressão espacial representa a redistribuição/realocação
permanentes e as redefinições incessantes de agentes, atividades, circuitos, funções etc. Representa a
categoria analítica chave, capaz de revelar as mediações e as formas concretas em que se processam e
se manifestam a reprodução social no espaço (através dos processos de intersetorialidade,
interregionalidade e interurbanidade, como veremos em seguida). Essas são as três manifestações
socioprodutivas, regionais e urbanas da divisão social do trabalho que pretendemos destacar neste
ensaio.
A intersetorialidade expressa a constituição sócioprodutiva interna e suas possibilidades (e a
efetividade) de inserção no contexto maior, isto é, as manifestações territoriais dos processos de
produção, de consumo, de distribuição, de circulação. A interregionalidade expressa a coerência no
espaço regional de tais processos e destaca circuitos, fluxos e espaços de circulação e reprodução do
capital e suas estruturas decisórias. A interurbanidade demonstra a posição em um divisão interurbana
13
e intraurbana do trabalho social, e revelam as formas de sociabilidade urbana em dado recorte espacial
e as posições dos diversos espaços urbanos em uma relação hierárquica superior.
Intersetorialidade. É necessário analisar as estruturas produtivas localizadas em determinado
espaço urbano-regional enquanto densa e complexa trama da intersetorialidade econômica inerente à
produção capitalista. Esse sistema possui uma intersetorialidade marcante. Apresenta ramificações que
se encontram em permanentes interações dinâmicas. Neste contexto, os conceitos de aparelho
produtivo e sistema social da produção são importantes para entender as coerências e
complementaridades econômicas setorializadas, pois são muito diferenciadas as manifestações
territoriais dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de circulação, que são, por
natureza, marcadamente diversificadas também no espaço.
Com o estudo desta dimensão da intersetorialidade é possível analisar a reprodução social, a
natureza e o poder das Forças Produtivas/propulsivas e dos Sistemas Sociais de Produção estruturados
em determinado tempo-espaço e averiguar e dimensionar as interações interramificações econômicas,
o conjunto de relações e efeitos encadeados e os seccionamentos produtivos que se tecem sob
condições técnicas e de mercado totalmente distintas.
Desse modo, torna-se necessário entender que o sistema econômico tem uma intersetorialidade
marcante. Apresenta ramificações que se encontram em permanentes interações dinâmicas. A divisão
técnica e social do trabalho promove uma lógica material-produtiva seccionável, que compartimenta
subdivisões e gera permanentemente os específicos ramos econômicos, ao mesmo tempo, ela é
importante para engendrar as coerências e as complementaridades econômicosocioprodutivas que
permitem fugir das visões setoriailizadas.
Os setores são identificados e qualificados pela sua inserção específica na estrutura produtiva
e nas categorias de uso (consumo durável e não-durável, intermediários e bens de capital). Os
seccionamentos produtivos são elos constitutivos (em uma complexa divisão do trabalho) do “sistema
social de forças produtivas”, lócus específico de reprodução do capital social em seus diversos ciclos,
porém tomado em seu conjunto.
É preciso analisar os elos constitutivos do aparelho produtivo. Identificar setores líderes que
tenham capacidade de arrastar outros setores e distingui-los de setores de suporte, de outros
meramente complementares de outras atividades dinâmicas, com forte relação de dependência
intersetorial etc.
Analisar essa intersetorialidade inserida em determinado ambiente macroeconômico também é
fundamental, embora a lógica microeconômica também precise ser examinada. Neste sentido, captar
devidamente os determinantes vindos da setorialidade do funcionamento da economia capitalista
torna-se decisivo. Esta se apresenta como uma pluralidade de subdivisões, seções e ramos produtivos
com marcantes especificidades. Quem trabalha com os impactos e as expressões espaciais, urbano-
regionais, de tal dinâmica precisa construir recorrentemente mediações teóricas e históricas complexas
para que o campo da economia política possa realmente prover contribuições com substância para o
avanço da investigação sobre o funcionamento das economias e sociedades regionais e urbanas
específicas.
Interregionalidade. Para o entendimento desta dimensão da divisão social do trabalho,
importa, tendo por base as orientações metodológicas de Harvey e Braudel, afirmar que o plano
analítico inter-regional deve tratar de centrar a abordagem na articulação, coesão e integridade dos
processos que se dão em determinado espaço, explicitando seus mecanismos de coordenação e
regulação: o que eles denominaram, respectivamente, coerência estruturada e coerância imposta.
Também Braudel (1979) corretamente se perguntava sobre o “processo de coerência imposta
no âmbito de uma economia monetária”.
Averiguar estruturas decisórias e a natureza da atuação dos agentes econômicos, por exemplo,
do mundo da finança e do mundo produtivo, procurar entender como vai se redefinindo, no processo
histórico, o modo de relacionamento entre os heterogêneos espaços urbano-regionais. O andamento da
acumulação de capital promove a coerência imposta a processos, lógicas e dinâmicas muito diversas e
variadas. O processo de articulação, abertura e integração de mercados recondiciona as economias
14
aderentes, forçando-as à convergência e à reacomodação de suas estruturas, fundando uma dada inter-
regionalidade coercionada pelo processo de acirramento da concorrência inter e intra-territorial.
Multiplicam-se as interdependências e as complementaridades inter-regionais, que podem acarretar o
aumento tanto das potencialidades quanto de suas vulnerabilidades. Metamorfoseia-se a densidade
econômica de pontos seletivos no espaço: sua capacidade diferencial de multiplicação, de reprodução
e de geração de valor e riqueza; sua capacidade de articulação inter-regional; o grau e a natureza das
vinculações e a densidade dos circuitos “produtivos”. Mudam os núcleos dinâmicos de comando que
exercem diferentes espécies de atratividade e dominação e geram estratégicos ou não pontos, eixos e
nós de maior ou menor potência reprodutiva e capacidade de apropriação. Mudam e diversificam-se os
fluxos, o movimento de seus eixos de circulação e seu potencial produtivo, a estrutura sócio-
ocupacional de seus habitantes etc.
Se até aqui ressaltamos os aspectos materiais-econômicos da necessária análise das
interregionalidades de determinado espaço urbano-regional, cabe ressaltar, por fim, que não se pode
deixar de considerar, neste contexto, as lógicas territoriais do poder, os processos sociais em sua
operação no tempo e no espaço. Torna-se necessário, assim, decifrar o papel das coalizões políticas,
das hierarquias (e das coerências construídas espacialmente) e das hegemonias que estruturam os
processos sociais em seus vários níveis, instâncias e territórios.
Interurbanidade. É preciso averiguar recorrentemente as estruturas que conformam a
interurbanidade, as relações e interações entre espaços sociourbanos e sua posição no concerto de uma
divisão interurbana e intraurbana do trabalho social, conformando uma determinada sociabilidade
urbana em variados planos e dimensões espaciais. Pensar dinamicamente a natureza das formas
urbanas de organização social, a reprodução social da existência da vida material que se projeta no
espaço urbano.
A pesquisa crítica deve investigar os determinantes do crescimento urbano, as hegemonias das
coalizões armadas no espaço urbano e sua projeção desde dentro da rede urbana e do sistema de
cidades regionais. Projeção esta que se processa desde o espaço interno da cidade e de seu hinterland.
Os processos urbanos devem estar inseridos no complexo tema da reprodução social,
produzido pela constante pugna das facções de classes sociais e a consolidação de hegemonias e lutas
contra-hegemônicas, analisando as múltiplas frações de capital (mercantil, agrário, industrial,
bancário).
É preciso elaborar instrumentos analíticos de uma economia política da manifestação dos
processos sociais no espaço urbano, problematizando Estruturas e Sujeitos produtores dos espaços
intra e interurbanos. Neste contexto, os estudos urbano-regionais devem assumir a conflitualidade
inerente e a contenda perene de interesses múltiplos e seus variados loci de possibilidade de
concertação, ou não, de projetos em disputa e das coalizões e arco de alianças que vão se armando em
cada conjuntura histórica e territorial.
A rede urbana é constitutiva e constituinte, integrante e estruturadora/articuladora do
movimento e da dinâmica da região. É preciso estudar suas permanâncias, rupturas, normas e ritmos,
seu regime de expansão, questionando sua inserção e posição nos sistemas e complexos de cidades
existentes em várias escalas espaciais. A rede urbana expressa também uma hierarquia de decisões que
são tomadas e “circulam”. Ela “é um reflexo, na realidade, dos efeitos acumulados da prática de
diferentes agentes sociais” (Corrêa, 2005: 27).
Assim, é preciso conduzir reflexões que posicionem a questão urbano-regional neste contexto
analítico. Da discussão dos centros de decisão, do estudo das facções sociopolíticas, defendendo a
hipótese de que as frações do capital têm papel destacado no pacto de poder oligárquico e financeiro,
rentista e que o patrimonialismo e apropriação territorial são as principais marcas do Brasil, de seu
espaço urbano como lócus do poder e da sociabilidade.
Há processo evolucionários em que as relações interurbanas também se constituíram em
mecanismos propulsores de crescimento urbano e a criativas formas de sua transmissão do avanço
material capitalista. Desse modo, é fundamental explorar analiticamente os dinamismos intrínsecos
aos processos que se desenrolam em um ambiente de diversidade urbana. Estas imposições
15
articulativas transformam a natureza das vinculações e densifica, diversifica e complementariza
circuitos, primeiro mercantis e depois produtivos, integrando os setorialismos, inter-regionalidades e
dinâmicas interurbanas segundo uma divisão social do trabalho crescente e em outro ritmo.
Estes processos descritos acima são tensos e marcados por assimetrias e desigualdades.
Explicita-se, neste contexto, a natureza desigual e combinada do desenvolvimento capitalista,
envolvendo dominação e irreversibilidade de espaços diferenciais, próprias do processo de
polarização. Há a imposição de hierarquias, relações de força desigualmente constituídas e exercidas.
Gravitações, centralidades, isto é polaridades diversamente distribuídas no espaço. Há movimentos de
atração e repulsão de estruturas com complexidade díspar, com potência assimétrica e heterogênea,
configurando lógicas hierarquizadas. A discussão destes processos e forças desemboca na questão
terminal do poder diferencial de capacidade de decisão, fruto de uma correlação de forças que está
sintetizada no processo de hegemonia. Como processo síntese, o poder de comando, de dominação de
classe, é exercido e legitimado tendo por base determinada equação política, que se configura em um
arco de alianças, um pacto de poder, assentado em certa correlação de forças políticas, que dá direção
e domínio das condições sociais em determinado território.

Dimensionando poderes. Qualquer tentativa de elaborar e avançar em uma teorização sobre


Decisões, de sujeitos, agentes e facções sociais concretos em disputa, discutindo blocos e coalização
de poder em múltiplas escalas, requer empreender incansavelmente investigações e estudos que, em
aproximações sucessivas, lograssem:
1) Dimensionar o poder privado, seus interesses, suas decisões cruciais, sua capacidade
transformativa ou não, de promover mudanças nas relações gerenciais, tecnoprodutivas, trabalhistas
etc; investigar a teia de relações da intersetorialidade econômica existente em cada espaço ou escala;
2) Dimensionar o poder do poder público, sua capacidade de coordenação estratégica,
organicidade de ações, capacidade de sancionar decisões estruturantes através de arranjos
institucionais e padrões de financiamentos adequados etc;
3) Dimensionar a capacidade das frações de classe compartilharem valores coletivos. Verificar
se existe correlação de forças e substância política adequada para um comprometimento legitimado
com um projeto de maior competitividade sistêmica, justiça social e ambiental e de avanço das opções
estratégicas;
4) Dimensionar a capacidade das facções subalternas resistirem, reivindicarem e
empreenderem lutas contra-hegemômicas, que ampliem o exercício da cidadania, requalificando
recorrentemente sua força contestatória, organizativa, insurgente e emancipatória.

Reelaborar e fortalecer a escala nacional para construir estratégias multiescalares em um


mundo de variedades de experiências, vias e estilos de desenvolvimento
A escala nacional continua sendo decisiva. A escala nacional é um complexo constructo
histórico, sociopolítico e econômico, que apresenta variadas dimensões: o domínio sobre os
instrumentos de coordenação e regulação sobre determinada circunscrição espacial historicamente
construída; sobre o sistema de normas e instituições; sobre a manipulação dos preços fundamentais da
economia (câmbio, juros, salários), dos esquemas específicos de endividamento público; dos registros
dos direitos sobre a propriedade privada etc. É moldura de enquadramento e disciplinarização da
potência mercantil, que via macrounidades políticas possa lograr algum controle e coação das
macrodecisões sbore as microdecisões autônomas privadas.
A construção da escala nacional envolve a criação de domínio, de se exercer controle,
moderar, disciplinar a mercantilização. Essa circunscrição deve moldar os cálculos e microdecisões
empresariais favoráveis a composições de portfólios que valorizem menos a retenção de massas de
riqueza monetária do que as inversões em empreendimentos produtivos, geradores de trajetórias
sustentáveis de crescimento econômico. O poder nacional deve defender a criação de oportunidades

16
internalizadas de acesso a bens e serviço e coordenar a abertura de horizontes de enriquecimento nas
fronteiras internas.
Os cálculos para a valorização da riqueza são realizados a partir da maior de todas as
convenções nacionais, a moeda, que presidirá o conjunto de decisões sobre o enriquecimento privado.
Nos espaços do capitalismo periférico, na ausência da conversibilidade, a moeda nacional exercerá
função a depender dos graus de autonomia que o autocontrole de divisas escassas permitir. Esta é um
das principais razões para que nestes espaços se encontre disponíveis nichos privilegiados para a ação
intermediadora de elites cosmopolitas/financeirizadas que realizam a validação e o interfaceamento
das relações interna-externas monetário-financeiras da frágil moeda nacional.
O ordenamento jurídico-legal do espaço nacional, os arranjos administrativos e de gestão são
fundamentais e dependem da correlação de forças políticas estabelecidas em cada conjuntura histórica.
Caracteres distintivos em dado recorte espacial são definidos pelas peculiares estrutura de propriedade,
distribuição da renda e da riqueza e pelas estrutura de consumo de suas classes sociais montadas. Por
outro lado, configurações sociais criativas, estruturas e processos inovativos e de interação entre
produção e inovação, sistema de aprendizado (científico, tecnológico, educacional-cultural etc), aptos
a interpretar informações e conhecimentos e os reelaborar, criando competências e dinâmicas
adaptadas às suas especificidades histórico-culturais são elementos importantes do sistema social de
forças produtivas nacionais. A depender das especificidades da base produtiva montada e das
estruturas empresariais com que se pode contar, avança-se mais ou menos na construção de graus de
autonomia e soberania do arcabouço legal-institucional nacional que é legitimado na escala nacional.
Ou seja, dentre outras questões, erguer a escala nacional envolve proteção e controle sobre os
mecanismos “autoreguladores” das forças mercantis, ciente que o mundo real-concreto capitalista é
composto de rivalidades e relações hierárquicas entre os Estados Nacionais, suas moedas, sistemas
financeiros e sistemas empresariais etc, e não um campo homogêneo de relações mercantis em
ambiente de concorrência perfeita em um mundo plano e numa plataforma inerte espacial.
O espaço nacional é também uma configuração cultural, social e política. É o lócus
privilegiado do poder e arena de constituição, enfrentamento e concertação de interesses, de
alinhamento político mínimo, para além das clivagens de frações de classe e interesses. Abriga o
conjunto das forças sociais (re)produtivas e dos sistemas empresariais, e o ambiente e o arcabouço e o
ordenamento jurídico-legal, os arranjos administrativos e de gestão que a correlação de forças políticas
estabelece em dado território nacional.
Boaventura de Sousa Santos (1999: 87) define o que ele chama de “espaço-tempo estatal-
nacional, que não é apenas uma perspectiva e uma escala; é também um ritmo e uma duração, uma
temporalidade (...) é o espaço-tempo privilegiado da cultura enquanto conjunto de dispositivos
identitários que estabelecem um regime de pertença e legitimam a normatividade que serve de
referência às relações sociais confinadas no território nacional”.
Como afirma Neil Brenner (2010) a escala nacional apresenta variadas formas de organização
espacial, aparatos regulatórios e diversidade geoinstitucional.
Além de ser espaço de acumulação sob condições institucionais dadas, a escala nacional é
historicamente fixada e politicamente criada e legitimada, ao resguardar, amparar e abrigar agentes e
sujeitos históricos “territorializados”/localizados que são submetidos a normas, regras e parâmetros
que estabelecem um contraponto frente aos interesses externos, logrando projetar, via coordenação do
Estado, trajetórias de crescimento dotadas de maior ou menor soberania para engendrar horizontes de
alternativas de desenvolvimento.
A escala nacional foi duramente atingida desde o final dos anos 1980 com o processo de
neoliberalização através de um narrativa escalar que legitimava a desregulamentação dos espaços
nacionais. Neste processo nos deparamos com os variados processos e feições de neoliberalización.
Segundo Brenner et al. (2010: 2) “insofar as they necessarily collide with diverse regulatory
landscapes inherited from earlier rounds of regulatory contestation (including Fordism, national-
developmentism and state socialism), their forms of articulation and institutionalization are quite
heterogeneous”.
17
Durante cerca de duas décadas a corrente principal das ciências sociais procurou legitimar
uma narrativa que defendia uma tendência inexorável de convergência para um “modelo ótimo” de
capitalismo. Um rumo pré-estabelecido a uma composição uniforme de capitalismo, com estruturas
semelhantes. Uma imposição uniformizadora e homogeneizadora de uma narrativa escalar impositiva.
Ou seja, defendiam a existência de um sentido de unificação e convergência do sistema capitalista,
rumo a uma espécie de meta-tipo, com “monocultura institucional”.
Mais recentemente um importante conjunto de trabalhos procurou demonstrar que no mundo
concreto há uma inerente heteromorfia nas experiências históricas. Há diversidade de estruturas
institucionais e pluralidade e divergência de formas e modos de organização sistêmica e
heterogeneidade de regimes sociais de produção, apropriação e reprodução.
Estudar os processos concretos de experiências de desenvolvimento deve sempre partir da
concepção que este processo promove, em contextos históricos e institucionais singulares, modos
específicos de ativação de recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e
políticos, buscando ampliar o campo de ação da coletividade e aumentar a sua autodeterminação e os
raios de liberdade de decisão. Este processo disruptivo exige envolvimento e legitimação de ações
transformadoras, portanto envolve tensão, eleição de alternativas e construção de trajetórias históricas,
com horizontes temporais de curto, médio e longo prazos.
Seu estudo, portanto, exige ênfase em processos, estruturas e na identificação dos agentes
cruciais e das interações entre decisões e aquelas estruturas, procurando revelar os interesses concretos
em jogo.
É fundamental que esse processo transformador seja promovido simultaneamente em várias
dimensões (produtiva, social, tecnológica, etc.) e em várias escalas espaciais (local, regional, nacional,
global, etc.), robustecendo a autonomia de decisão e ampliando o raio de ação dos sujeitos concretos
produtores de determinado território.
Da discussão do destino do excedente social que determinada sociedade historicamente
brotam as indagações sobre o poder de comando, abrindo espaço ao Cálculo intertemporal, a “atos
planejadores” de preocupação com um horizonte temporal para além do momentâneo, gerando
trajetórias, possíveis vias de desenvolvimento, estruturando Opções e Alternativas (respostas diversas
e concretas a problemas concretos). Portanto deriva daí uma perspectiva que Desenvolvimento que
envolve Tempo e Espaço nas decisões de como alocar (intertemporalmente, interespacialmente,
intersetorialmente etc) recursos, ativos e capacitações. Mediações devem ser construidas sobre as
decisões estratégicas e o comportamento e a mentalidade classial, isto é, como se estruturam os
poderes e as hierarquias que determinam as decisões cruciais sobre como manter ou redistribuir os
frutos do trabalho social?. O aprendizado de discutir desenvolvimento requer a pergunta “com que
sujeitos sociopolíticos históricos contar?”. Portanto, trata-se de problemática atinente a Processos,
Dinâmicas, Estruturas, Sujeitos e Relações.
Celso Furtado desenvolveu a idéia de que “a reflexão sobre o desenvolvimento, ao conduzir a
uma progressiva aproximação da teoria da acumulação, com a teoria da estratificação social e com a
teoria do poder, constituiu-se em ponto de convergência das distintas ciências sociais” (Furtado, 1980:
26). Há decisões de diferentes naturezas: “decisões há que visam exatamente a limitar o poder de
iniciativa de certos agentes; ou a canalizar esse poder em função de objetivos de ordem mais geral (…)
É a partir da identificação dos centros de onde emanam essas decisões destinadas a compatibilizar as
iniciativas da multiplicidade de agentes, que exercem poder em graus distintos, que se define o perfil
de um sistema econômico. A necessidade de lograr um certo grau de coerência entre as atuações
desses centros coordenadores explica a presença de um centro hegemônico [Não obstante] A ação de
um centro emissor de decisões coordenadoras pode se esgotar-se em certo espaço ou pode confinar-se
setorialmente” (Furtado, 1978: 18).
Mas essa elaboração teórica sobre decisões não pode se dar em alto nível de abstração.
Certamente a complexidade e a natureza pluridimensional da realidade, e especificamente do processo
de desenvolvimento, não cabem em modelos analíticos generalizantes e com alto grau de abstração.
Tais abordagens excluem a História e acabam procurando submeter as várias dimensões da realidade
concreta ao isolamento do econômico, do ecológico, do social etc. Ou presos a uma única escala
18
No pensamento conservador Não há hierarquias nas relações internacionais ou inter-
regionais. Não importa ver a posição específica que ocupam os espaços periféricos no conjunto do
sistema.
Torna-se indispensável aprender a investigar e a realizar um balanço adequado das
recorrências, persistências e das rupturas e transformações ao longo de um processo histórico sem
linearidades, indagando sobre como se forjaram e evoluiram suas vias, padrões e estilos de
desenvolvimento.
Não existe algo como uma trajetória de Convergência rumo a um tipo-ideal e superior de
capitalismo, como se as regiões mais desenvolvidas ditasse a agenda e o caminho que as menos
desenvolvidas percorrerão.
Existe Divergência e pluralidade de trajetórias. Há cultura, instituições, geografia, estruturas
de poder e Decisões de facções de classes sociais que contam. Há História. Cabe assim, construir, em
um processo de aproximações sucessivas, uma abordagem que simultaneamente retenha as
determinações gerais e decifre, ao mesmo tempo, as “situações reais”, hierarquizando determinações e
procurando balancear devidamente fatores determinantes e condicionantes no curso do movimento
histórico concreto.
Torna-se necessário assumir a conflitualidade inerente e a contenda perene de interesses
múltiplos e seus variados loci de possibilidade de concertação, ou não, de projetos em disputa e das
coalizões e arco de alianças que vão se armando em cada conjuntura histórica e territorial a fim de se
buscar o que Neil Brenner chama de Governança Multi-nível. No contexto brasileiro a questão da
possibilidade de constituir pactos territoriais exige colocar no centro da análise a natureza peculiar do
nosso federalismo.

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