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ATIVIDADE DISSERTATIVA 2 – A CONVENÇÃO E O CÂNONE

Amo contos e é por isso que o texto que trago a vocês é deste
gênero. Acredito que muitos foram os contos que tive contato até aqui,
porém seria praticamente impossível elencar quais foram os mais
relevantes, os mais interessantes, os mais lindos, os mais marcantes, os
mais emocionantes, os , os, os... Assim, selecionei um que gostei
muitíssimo: Minha estação de mar1, de Domingos Pelegrini.

Esse conto foi escolhido por vários motivos que elencaremos ao longo
deste escrito, porém, adianto-lhes a característica principal: a simplicidade
de suas palavras. Tão simples, que podemos perfeitamente viajar para
dentro do conto – caso nos identifiquemos com alguma das personagens –
de forma a questionarmos quem teria nos invadido tão fielmente o
pensamento e nos exposto de tal forma.

Farei um breve resumo do texto, mas tentarei não entrar em muitos


detalhes para que você sinta-se curioso em querer se procurar, ou procurar
sua mãe, ou talvez seu pai, um irmão... dentro do infinito universo de
possibilidades que permeia aquelas poucas páginas. Minha estação de mar
faz um pequeno recorte da vida de um garoto e sua família. A trama gira
basicamente em torno de uma viagem para a praia, viagem essa feita no
carro novo da família. O conto é narrado pelo garoto, portanto é a sua visão
dos acontecimentos que nos é repassada. É a primeira vez que esse garoto
verá o mar.

Um ponto forte do conto é a mostra do conflito entre o universo da


criança e o universo dos adultos. O garotinho – que não é nos apresentado o
nome e talvez por isso possamos nos colocar em seu lugar com tanta
facilidade – mostra como são as estações do ano por meio de
acontecimentos importantes na sua vida: estação dos piões, estação das
rolimãs, estação das mangas, estação de papagaio, estação do bafo. Tal
descrição me fez repensar coisas como: como lidamos com o tempo? Será
que depois de adultos conseguimos associar o tempo às nossas atividades
de forma tão positiva quanto aquele garoto? Consegui enxergar-me hoje e,

1
PELLEGRINI, Domingos. Minha estação de mar. In: Tempo de menino. São Paulo:
Ática, 1993.
principalmente antes, lembrei-me da hora do leite, era assim que chamava
o final da tarde quando tinha uns seis anos de idade.

Quando seu pai compra o carro, veículo dentro do qual se passa a


maior parte do enredo, o garoto refere-se a ele com sendo a sua segunda
prisão, depois da escola. Mais uma vez podemos observar os extremos do
universo infância e do universo adulto em conflito: um carro, sonho de
muitos de nós na fase adulta da vida, visto como uma prisão para uma
criança. Durante a narrativa, vamos entendendo perfeitamente o porquê
desta visão do garoto. O narrador foi mostrando-me minha infância. Sim,
porque naquelas linhas, ele rouba a história de muitos de nós, do quanto a
empolgação de um passeio poderia tornar-se uma tormenta quando
adentrávamos o carro. São colocadas várias coisas que uma criança não
pode fazer dentro do carro (“Tira o pé do banco, não abre o vidro que vento
de madrugada dá dor de ouvido.”). E aí refletimos: será que continuamos
podando nossos filhos de tantas coisas como fizeram nossos pais? Será que
nunca compreenderemos o universo da criança enquanto dela e
continuaremos sempre querendo que ela aceite o nosso universo como o
mais perfeito e o mais absoluto?

É interessante porque embora tenha a brevidade de um conto, a


densidade do texto, em nenhum momento, é comprometida. Ele é profundo,
traz reflexões interessantes, permite que adentremos suas linhas.

A sua linguagem é simples, porém é um texto bastante metafórico. As


palavras pai e mãe, por exemplo, são sempre grafadas com inicial em letra
maiúscula ao longo de todo texto, o que pode nos levar a inferir que o texto
traz à tona a hierarquia entre pais e filhos em um sentido mais amplo: pais –
adultos x filhos – crianças.

Os conflitos constantes entre a Mãe e o Pai mostram o quanto os dois


eram diferentes em alguns pontos: o pai, por exemplo, era mais
despreocupado, enquanto a mãe era extremamente preocupada com tudo,
fixada nos detalhes. Porém, tais conflitos servem para mostrar mais uma
vez o distanciamento entre o que é ser adulto e o que é ser criança, pois as
discussões giravam basicamente em torno de escolhas – onde parar, o que
comer, quantas vezes parar, onde dormir, etc - escolhas estas que ficavam
restritas aos pais, pois em momento algum as crianças eram questionadas
sobre suas preferências.

O fato de texto conter um dos princípios do conto, espaço geográfico


restrito, fazendo com que quase tudo aconteça dentro do carro, a riqueza
de ações e detalhes é gigantesca. Em algumas páginas, em um pequeno
recorte de vida, conseguimos captar a essência das personagens, suas
formas de ser, suas visões de mundo, suas prioridades.

Acredito que a leitura de Minha Estação de Mar dê várias aberturas


para análises dada a pluralidade de elementos ali contidas, que junto à
operação do leitor e seu conhecimento de mundo traz as mais diversas
visões de aproximações ou rejeições; de sentimentos como nostalgia,
inquietude, revolta, pena, vontade de mudança etc; de visões de estruturas
familiares, valores sociais; ou ainda simplesmente do quanto pode ser difícil
ser criança, contrariando o discurso vigente de que ser criança é muito bom.

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