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Associação Nacional
dos Peritos Criminais Federais
Associação Nacional
dos Peritos Criminais Federais
Diretoria Executiva Nacional
Bruno Costa Pitanga Maia Alan de Oliveira Lopes Sérgio Luis Fava Frederico Quadros D’Almeida
Secretário-Geral Suplente de Diretor Jurídico Diretor de Comunicação Suplente de Diretor Técnico-Social
Sara L. R. Lenharo Emílio Lenine C. C. da Cruz Rogério L. de Mesquita João Dantas de Carvalho
Suplente de Secretário-Geral Diretor Financeiro Suplente de Diretor de Comunicação Diretor de Aposentados
André Luiz da Costa Morisson Leonardo Vergara Antônio Augusto Araújo João C. L. Ambrósio
Diretor Jurídico Suplente de Diretor Financeiro Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Aposentados
Paulo Roberto Fagundes Delluiz Simões de Brito Eurico Monteiro Montenegro Renato Rodrigues Barbosa Alyssandra R. de A. Augusto
Titular Titular Titular Suplente Suplente
Diretorias Regionais
2 Perícia Federal
Sumário Editorial: Antônio Carlos Mesquita, presidente da APCF
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NOVOS HORIZONTES
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Distribuição Gratuita
C mentos que precisamos acelerar para dar “aquele algo mais” du-
Associação
Nacional
dos Peritos
Criminais Federais
Perícia Federal 3
ENTREVISTA: Wil Fagel, ex-presidente do ENFHEx
A grafotecnia européia
Arquivo Pessoal
Perito grafotécnico do Netherlan-
ds Forensic Institute (NFI), um dos
institutos de Criminalística europeus
mais desenvolvidos no que se refe-
re à certificação de qualidade, Wil
Fagel é uma das grandes referên-
cias mundiais em sua área. Foi, por
dois anos, presidente do European
Network of Forensic Handwriting Ex-
perts (ENFHEx), um dos grupos de
trabalho do European Network of Fo-
rensic Science Institutes (ENFSI).
Atualmente, é membro do comitê di-
rigente e editor do site da ENFHEx.
Nesta entrevista concedida ao PCF
Carlos André Xavier Villela, Fagel
fala sobre como as atividades de
grafotecnia são desenvolvidas nos
órgãos europeus e aponta os desa-
fios contemporâneos que considera
mais importantes para a área. A ín-
tegra da conversa entre os dois pe-
ritos pode ser encontrada na página
do SETEC/RS na Intranet.
Conte-nos um pouco sobre sua for- novembro de 2005, fui o presidente do pelos demais exames nos documen-
mação acadêmica e experiência pro- ENFHEx. No último encontro do grupo, tos. Por que alguns institutos euro-
fissional. ocorrido em novembro de 2005, em Bu- peus, como o LPC-Portugal, possuem
Estudei Psicologia na Universidade dapeste, eu deixei a presidência. Atual- diferentes laboratórios: um para os
de Amsterdã, me especializei em Psico- mente, sou membro do comitê dirigente e exames grafotécnicos e outro para os
lingüística e fiz depois uma graduação editor do site do ENFHEx. demais exames documentoscópicos?
em Lingüística Geral. Após ter trabalhado Em alguns órgãos europeus, tan-
alguns anos na Universidade de Amster-
dã em um projeto de fonética para avalia-
ção das características de voz e pronún-
cia de falantes do holandês, entrei para o
“
Ocasionalmente, os peritos
grafotécnicos também
to o exame grafotécnico como o exame
técnico de documentos são realizados
por uma mesma pessoa, como no Rei-
no Unido, por exemplo. Em outros, toda-
Netherlands Forensic Institute (NFI) em procedem a alguns exames via, como no BKA alemão e no NFI (Ho-
1983, onde recebi a formação de perito landa), estes são considerados diferen-
grafotécnico. Após alguns anos de estu-
documentoscópicos muito tes campos de expertise, exercidos por
do (treinamento supervisionado por pe- simples, como utilizar o ESDA diferentes profissionais, o que não signi-
ritos mais experientes e estudo bibliográ- ou procurar diferenças nas fica que trabalhem completamente sepa-
fico), fui certificado pelo NFI como perito
grafotécnico em 1991. Fui secretário do
“
tintas por meio do VSC rados uns dos outros. No caso do NFI, pe-
ritos documentoscópicos e peritos grafo-
comitê dirigente do European Network of técnicos estiveram sempre em um mes-
Forensic Handwriting Experts (ENFHEx), mo departamento, trabalhando próximos
um dos grupos de trabalho do Europe- Muitos institutos de Criminalística, uns dos outros. Ocasionalmente, os pe-
an Network of Forensic Science Institu- como o INC, possuem um laboratório ritos grafotécnicos também procedem a
te (ENFSI), desde a criação do grupo em de Documentoscopia responsável tan- alguns exames documentoscópicos mui-
1997 até outubro de 2003. Desta data até to pelos exames grafotécnicos como to simples. Eu creio que o diferencial des-
4 Perícia Federal
tes laboratórios nos quais o exame técni- opinião”. Em alguns casos, dizemos ape- uso de conclusões bayesianas seja mais
co de documentos é procedido por outros nas que é “possível”. Neste momento, correto do ponto de vista científico, tenho
peritos que não peritos grafotécnicos, todo o NFI está gradualmente migran- medo que o problema das discussões na
como no caso do NFI, é que os examina- do para uma forma bayesiana de relatar Justiça sobre as conclusões probabilís-
dores de documentos estão mais espe- conclusões, que nos parece mais “cien- ticas não pare enquanto não pudermos
cializados em determinados tipos de exa- tificamente correta”. Em algumas áreas efetivamente quantificar as probabilida-
me, quais sejam: análises químicas das periciais os peritos já vêm utilizando essa des, como nos laudos de DNA.
tintas e dos papéis. Peritos documentos- nova maneira. Em outras, todavia, como
cópicos que se propõem a atuar nas duas na Grafotecnia, ainda está se discutindo Como vão as recentes tentativas
áreas raramente realizam eles mesmos a melhor maneira de se redigir as conclu- de se converter o exame grafotécni-
estes exames. Já que cerca de 80% do sões. O único consenso é que, segundo co em um exame verdadeiramente es-
trabalho que estes fazem são exames essa nova abordagem, teremos que re- tatístico? Como vai o projeto do BKA
grafotécnicos, não lhes sobra muito tem- latar explicitamente as hipóteses por nós intitulado “Harmonização e Definição
po para ir muito a fundo nas análises quí- consideradas e concluir em cima dos ele- de Conclusões, Implementando a Te-
micas. No NFI, a verificação da autentici- mentos encontrados sob a ótica de cada oria de Bayes”? O senhor acredita que
dade documental é, portanto, um traba- uma dessas hipóteses. a estatística bayesiana tenha realmen-
lho conjunto entre o perito grafotécnico, te a contribuir no exame grafotécnico?
que checa as assinaturas, e o perito do- Conte-nos um pouco sobre os progra-
cumentoscópico, que verifica as demais
características do documento.
Perícia Federal 5
ENTREVISTA: Wil Fagel, ex-presidente do ENFHEx
organização holandesa chamada TNO. Nos últimos 30 anos tem havido um bros do ENFHEx e outros colegas, foram
Há vários anos, o NFI pediu ao Instituto significativo aumento na mobilidade e na acrescentadas a esse banco de dados ao
NICI da Universidade de Nymegen para comunicação dentro da Europa. Os fa- longo dos anos.
comparar as performances desses dois tores que têm contribuído para esse au-
sistemas, o que foi feito em cooperação mento são o relaxamento das fronteiras É possível se fazer com que o exa-
com o BKA e a TNO. Os dois sistemas entre os países que constituem a União me grafotécnico atenda completa-
não diferiram muito, apesar do programa Européia, a queda da Cortina de Ferro, os mente às exigências da norma ISO/IEC
SCRIPT ter sido considerado mais amis- novos países que estão ingressando na 17025? Vocês já têm alguma certifica-
toso ao usuário. Usando as recomenda- comunidade européia e o crescente fluxo ção de qualidade no NFI? E os outros
ções fornecidas pelos pesquisadores do de imigrantes e refugiados oriundos de países europeus? O senhor considera
NICI, o BKA começou então um projeto fora de nosso continente. Devido ao uso que esta seja uma meta importante?
de modernização do sistema FISH. No- de diferentes cartilhas de alfabetização Os procedimentos de Grafotecnia do
vos módulos foram desenvolvidos por e métodos de ensino, as escritas podem NFI já possuem certificação junto ao nos-
um consórcio de empresas, dentre ou- apresentar-se bastante diferentes en- so órgão nacional certificador, o Nether-
tras: o Instituto NICI e o Instituto Frau- tre as populações, mesmo entre países lands Board for Accredition, baseada nas
nhofer de Berlim. Este projeto foi cha- que utilizam o mesmo alfabeto. Ao longo exigências da ISO/IEC 17025. Então, em
mado de WANDA. Infelizmente, o BKA dos anos, temos sido solicitados a, cada princípio, é possível preencher todos os
interrompeu o projeto após aproximada- vez mais, confrontar inusitados tipos de requisitos satisfatoriamente. Também
mente um ano, até onde eu sei, devido a escrita. Para entender a importância de em algumas outras nações européias o
limitações financeiras. Nesse meio tem- uma específica particularidade gráfica de exame grafotécnico já está certificado
po, o sistema SCRIPT foi muito pouco uma pessoa faz-se necessário determi- de acordo com a norma ISO/IEC 17025,
utilizado e parece ter caído em desuso. como os países do Reino Unido e alguns
“
O programa FISH ainda está sendo uti- países escandinavos. Em muitos outros
lizado pelo BKA e pelo Serviço Secreto países europeus, laboratórios de polí-
dos Estados Unidos, o qual desenvolveu Na verdade, a Grafotecnia cia ou do governo estão se empenhando
uma versão windows do sistema. Ape- sempre foi uma disciplina para conseguir a certificação de seus pro-
sar de o BKA não estar mais envolvido cedimentos de Grafotecnia, como parte
no projeto, o Instituto NICI e o Instituto
estatística. Nós é que temos de seus sistemas de garantia de qualida-
de Inteligência Artificial da Universidade sido incapazes de quantificar de. Eu acredito que essa seja uma meta
de Groningen continuaram a desenvol-
ver rotinas para melhorar os sistemas de
“
suas probabilidades importante porque, infelizmente, existe
uma quantidade muito grande de char-
classificação de manuscritos. Eles con- latões e grafologistas, sem a necessária
seguiram a subvenção para um projeto qualificação para o exame grafotécnico,
de pesquisa, com duração de três anos, nar quão rara ela é dentro dos padrões atuando nessa área e tentando se apro-
intitulado TRIGRAPH. Mais informações de escrita do país de onde provém essa veitar do fato de que a maioria das pesso-
sobre este projeto podem ser acessadas pessoa. O que parece ser um elemento as não sabe qual a diferença entre Grafo-
pelos seguintes endereços: www.ai.rug. característico muito raro em um determi- logia e Grafotecnia.
nl/~axel/projects/index.html e www.ral- nado país pode ser algo bastante comum
phniels.nl/pubs/niels-introducingtrigra- em outro. Para ficar mais a par dessas A seu ver, quais são os atuais de-
ph.pdf. O NFI também é um dos parcei- “peculiaridades nacionais de escrita” co- safios da Grafotecnia? Quais são suas
ros deste projeto. Nesse meio tempo ou- meçamos a colecionar cartilhas de alfa- expectativas para o futuro?
tros cientistas também têm atuado ati- betização e amostras de escrita de todo Eu creio que o atual desafio mais im-
vamente nesse campo. Por exemplo, o o mundo. O banco de dados internacional portante da Grafotecnia seja o de melhor
prof. Sargur Srihari, que está trabalhan- de padrões e cartilhas pode ser também validar a premissa da individualidade do
do para o Instituto CEDAR da Universi- útil para se descobrir de que país é oriun- gesto gráfico, bem como os métodos gra-
dade de Nova Iorque em Buffalo. Ele e do o autor de uma determinada carta anô- fotécnicos de identificação de autorias.
seus colaboradores desenvolveram um nima, nos casos em que não houver sus- Além disso, penso que seria importante
programa chamado CEDAR FOX. Maio- peitos. Além disso, as cartilhas mudam pesquisar-se uma forma de tornar as ob-
res informações em www.cedar.buffalo. ao longo dos anos devido aos novos tipos servações dos peritos grafotécnicos mais
edu/NIJ/index.html. de instrumentos de escrita e aos dinâmi- objetivas, com o uso de algoritmos com-
cos conceitos de qual seria o melhor mé- putacionais, que automaticamente extra-
Temos conhecimento de que o se- todo de ensino. Assim sendo, diferenças íssem medidas de relevantes caracterís-
nhor está pessoalmente envolvido entre cartilhas produzidas ao longo do ticas da escrita. Eu penso que tais medi-
com um projeto do grupo ENFHEx cha- tempo podem também ajudar na estima- ções quantitativas poderiam ser de gran-
mado “Padrões Gráficos e Cartilhas de tiva da idade de um autor desconhecido. de valia para melhor fundamentar as con-
Alfabetização”. O senhor poderia nos O banco de cartilhas começou com ima- clusões dos peritos, apesar de não acre-
explicar qual o objetivo deste projeto? gens digitalizadas a partir das coleções ditar que estas possam vir a ser suficien-
Por que colecionar padrões de escrita originalmente em papel do NFI e do BKA. temente completas e precisas a ponto de
e cartilhas de todo o mundo? Novas cartilhas, fornecidas pelos mem- ser dispensada a opinião do experto.
6 Perícia Federal
RODOVIAS: PCFS PEDRO DE SOUSA OLIVEIRA JÚNIOR (BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL) E RÉGIS SIGNOR (MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL E DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO)
Tribunal de Contas da União vos que as auditorias realizadas pelo TCU Durante a realização da perícia, os peri-
PERÍCIA REALIZADA
Ainda no ano de 2004 foi igualmente peri-
tos verificaram que a proposta vencedora da
licitação era cerca de 20% abaixo do valor de
referência oriundo do sistema SICRO, man-
tido pelo DNIT. Observou-se, no entanto, que
após a subcontratação apontada pelo TCU e
dade física e das condições de trafegabilida- ciado um trecho rodoviário na mesma região outras manobras de preços, o valor do con-
de e segurança dos usuários das rodovias do país, que agora completa o total de cinco trato já se encontrava 36% acima do SICRO,
integrantes do Sistema Nacional de Viação rodovias anunciadas (ver P.F. nº 23). depois da 50ª medição.
(SNV). Segundo divulgado em seu sítio na O trecho periciado possui extensão Não bastassem essas irregularidades
internet, o TCU afirma que o programa teve aproximada de 70 km, sem pavimentação de cunho formal, a extensão do trecho e o
algumas alterações em relação à proposta asfáltica mas com revestimento primário em fato de não haver sido executada pavimen-
original e recursos oriundos de três medidas determinada parte, estando o restante do tação asfáltica requereriam uma perícia
provisórias. Foram fiscalizados cerca de trecho sem serviços executados. Um rela- trabalhosa, com necessidade de quantifi-
40,4% dos itens do programa, sendo que em tório de auditoria do TCU apontava, den- cação do movimento de terra executado.
47,5% das fiscalizações foram detectadas tre outras possíveis irregularidades, que Entretanto, os peritos se depararam com
irregularidades gravíssimas, as quais ense- a rodovia teve suas obras paralisadas por uma situação de abandono da rodovia.
javam a paralisação das obras. indisponibilidade de recursos. Destacava a Alguns trechos estavam intrafegáveis devi-
Apenas cerca de 7,9% estavam isen- existência de vários aditivos e a retomada do à erosão, conforme mostra a foto desta
tas de quaisquer irregularidades, o que das obras anos depois, após a subcontra- página, ou ainda por problemas ambien-
leva à quase totalidade dos serviços com tação de um consórcio de empresas, tendo tais como se vê na foto 2. Também merece
algum tipo de problema. Esse elevadíssimo sido necessária a recuperação dos serviços menção o fato de que muitos segmentos
percentual de obras com irregularidades até então executados. não receberam qualquer serviço, enquan-
constatadas somente demonstra a enorme Citava também que tal subcontrata- to outros apenas foram desmatados e já
importância dos trabalhos periciais realiza- ção era vinculada a um contrato já extinto têm a vegetação regenerada.
dos atualmente em rodovias construídas por decurso de prazo e, portanto, sem vali-
com recursos da União. Os laudos dade legal. Haveria necessidade de fazer
elaborados, muitas vezes, re-trabalho em cerca de 25% dos serviços
são ainda mais conclusi- já executados e, também, fazer a pavimen-
tação – por meio de nova licitação, aumen-
tando em 48% os serviços totais a executar.
Dessa forma, considerando a peculia- Diante dos absurdos já mostrados e Depois de flagrados tantos desperdícios
ridade da situação, optaram por percorrer da impossibilidade de coleta de dados que no trecho, foi verificada ainda a existência
o trecho e realizar uma análise simplifica- viabilizassem cálculos matemáticos preci- de dois novos procedimentos licitatórios,
da em função da perda das características sos, restou aos peritos apenas a tarefa de realizados em 2000, que têm por objeto
morfológicas executadas, o que impedia o comprovar, sob a forma de percentuais, os a pavimentação dessa mesma rodovia.
levantamento correto dos serviços de terra- valores compatíveis com o trecho executa- Constatou-se que o preço global praticado
plenagem executados. do, de acordo com o projeto existente, e os pelas empresas foi superior ao do SICRO
valores efetivamente pagos. em mais de 49% para um contrato e mais
Considerando que não havia qualquer de 60% para o outro, o que caracteriza
autorização para alteração do projeto dessa perfeitamente a prática de sobrepreço em
rodovia e tendo sido executados, até a últi- ambos os casos. Até esta data, felizmente,
ma medição do contrato original, apenas tais contratos não chegaram a ser executa-
cerca de 50 km de um total de 190 km, o per- dos, para o bem do erário.
centual correto a ser atingido seria por volta
de 26%, admitida certa variação, uma vez CONCLUSÃO
que a distribuição do movimento de terra As empresas contratadas cobraram,
não é linear ao longo do trecho. No entan- durante um período de quase onze anos,
to, existiam itens em que foram cobrados e cujo contrato inicial tinha duração prevista
pagos mais de 93% do total previsto. para menos de dois anos, mais de R$ 20
Foto 2 – Trecho intrafegável em função de
babaçuzal existente no traçado da rodovia O mesmo aconteceu na sub-contrata- milhões para a execução de 70 km de uma
ção: dos cerca de 140 km a executar, apenas rodovia que nunca foi acabada.
Além dos problemas já relatados, foram 20 km foram feitos pelo consórcio de empre- Adotando-se um valor médio de R$ 600
detectadas ainda algumas situações com- sas que assumiram a obra, resultando num mil/km de rodovia, advindo de cálculos das
pletamente absurdas, tais como uma ponte percentual de cerca de 15%. Ocorre que rodovias abordadas no artigo anterior (P.F.
sem aterro nas cabeceiras, mostrada na existem itens em que foram cobrados 853% nº 23), realizadas na mesma região e época,
fotografia 3, e bueiros de drenagem sobre o do total previsto. Em um deles, cobraram estima-se que com o valor gasto neste trecho
solo natural sem a execução das camadas 3.461% a mais, o que é absurdo e onera, de 70 km poder-se-ia, grosso modo, construir
sobre os mesmos, apresentado na fotografia sobremaneira, os custos reais da obra. uma rodovia asfaltada com 33 km de exten-
4, o que impedia a utilização de tais serviços. são e passível de utilização pela população.
PROBLEMA SOCIAL Dessa forma, é inevitável concluir que
Em que pese a grande importância do o investimento teria sido muito melhor apli-
ponto de vista financeiro, tais fatos apresen- cado se, ao invés de intervenções em pon-
tam um grave problema social, já que não tos aleatórios de uma grande extensão, o
permitem a utilização dos serviços em que poder público tivesse optado por iniciar
foram empregados milhões de reais. Isso e terminar a rodovia em trechos consecu-
causa graves prejuízos à comunidade da tivos, de forma que o resultado final seria
região, que tem frustradas suas perspecti- melhor e deveria perdurar até a atualidade,
vas de desenvolvimento ante a inoperância em contraste com os pontos intrafegáveis
do sistema viário existente, ficando à mercê hoje observados.
de iniciativas da própria população, como a Além disso, neste caso específico, os
mostrada na fotografia 5. peritos puderam fugir um pouco à regra
Foto 3 – Ponte sem aterro e sem uso geral de checar os custos apenas após
a obra executada, tendo sido verificado
sobrepreço nos dois contratos para conti-
Fotos: Arquivo APCF
8 Perícia Federal
DOCUMENTOSCOPIA: PCFS MARCELO GATTELI HOLLER (QUÍMICO INDUSTRIAL E MESTRE EM QUÍMICA), DANIELE ZAGO SOUZA (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA),
KÁTIA MICHELIN (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA E ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE)
Determinação da Prioridade e a
Contemporaneidade de Lançamentos
em Lados Contrários da Mesma Folha
Neste trabalho é apresentada uma técnica simples, que em alguns casos possibilita ao perito
determinar a ordem de produção de lançamentos manuscritos feitos em lados contrários de uma
mesma folha, ao mesmo tempo em que estabelece a contemporaneidade desses lançamentos
E minação da prioridade e da
contemporaneidade de lança-
mentos sempre foi uma ques-
tão de grande interesse. Todavia, uma
determinação inequívoca da prioridade
ocasionar a transferência de
tinta do primeiro para uma folha
de papel com o qual haja contato,
caso a tinta ainda não esteja comple-
tamente seca.
de lançamentos só é possível em algu- Pela observação dessas marcas
mas situações restritas. de decalque, é possível determinar
Na literatura brasileira, já se tem fa- qual lançamento realizou-se pri-
lado sobre a determinação da priorida- meiro. Como a transferência só
de de lançamentos quando ocorre o ocorre enquanto a tinta estiver
“cruzamento de traços” (ou seja, quan- fresca, é possível determinar
do um lançamento é feito parcialmente também a contemporaneidade
sobre outro já existente). Sabe-se que dos lançamentos.
mesmo quando há cruzamento de tra- Um exemplo gráfico pode
ços, nem sempre é possível determinar ser visto nas fotos abaixo:
qual lançamento foi aposto sobre qual,
embora haja uma série de situações
em que isso é possível.
Por outro lado, a determinação da
prioridade de lançamentos (e cumula-
tivamente de sua contemporaneida- Figura 1 – primeiro lançamento efetuado
de) em lançamentos produzidos em la-
dos contrários de uma mesma folha é
um assunto, aparentemente, pouco co-
nhecido no Brasil, mesmo sendo, em
certas situações, um caso solucionável Figura 2 – segundo lançamento, efetuado
sobre o primeiro no lado contrário da folha
e encontrado com relativa freqüência.
David Ellen, em seu livro The Scienti-
fic Examination of Documents: Methods
and Techniques , faz referência ao artifí-
cio que possibilita a determinação: o fun- Figura 3 – marcas de decalque causadas pela
damento do método é que, quando um pressão do segundo lançamento sobre o primeiro
manuscrito com esferográfica é efetua-
do no lado contrário da folha onde existe
Perícia Federal 9
DOCUMENTOSCOPIA: PCFS MARCELO GATTELI HOLLER (QUÍMICO INDUSTRIAL E MESTRE EM QUÍMICA), DANIELE ZAGO SOUZA (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA),
KÁTIA MICHELIN (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA E ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE)
10 Perícia Federal
CROMATOGRAFIA: PCFS ADRIANO OTÁVIO MALDANER (BACHAREL EM QUÍMICA E DOUTOR EM CIÊNCIAS – QUÍMICA ORGÂNICA) E LUIZA NICOLAU CALDAS (BACHAREL EM QUÍMICA)
Perícia Federal 11
CROMATOGRAFIA: PCFS ADRIANO OTÁVIO MALDANER (BACHAREL EM QUÍMICA E DOUTOR EM CIÊNCIAS – QUÍMICA ORGÂNICA) E LUIZA NICOLAU CALDAS (BACHAREL EM QUÍMICA)
12 Perícia Federal
utilização de lâmpadas adequadas Para análise da Cocaína e seus Ao borrifar o revelador “B”, o apa-
(Figuras 5-a; 6-a; 7-a; 7-b; 8-a). “diluentes”, dois sistemas foram utili- recimento de uma mancha amare-
O outro sistema utilizado foi a se- zados com êxito: la aproximadamente no mesmo lugar
qüência de: 1) mergulhar a placa de “Sistema 1”– metanol(50ml)/buta- onde se encontrava a mancha da fe-
CCD em uma solução de iodo-KI (re- nol (50ml)/NaBr(1g) – sistema insatu- nacetina indica também a presença
velador “A”) (Figuras 5-b; 6-b; 7-c; rado (Figura 5); de benzocaína na mistura. Se ainda
8-b); 2) aquecê-la levemente com au- “Sistema 2” – Acetato de etila/ci- assim houver dúvidas sobre a presen-
xílio de um soprador térmico (Figuras clohexano/metanol (70/15/15) - placa ça dessas duas substâncias, basta
5-c; 6-c; 7-d; 8-c); 3) borrifar o reagen- CCD tratada com NaBr (Figura 6). correr a placa no “Sistema 2”, pois as
te de Ehrlich (revelador “B”) (Figuras O “Sistema 2” separa a cocaína de manchas correspondentes aparecem
5-d; 6-d; 7-e; 8-d). O revelador “A” re- todos os “diluentes”, mas as manchas em posições distintas, podendo ser
vela todas as manchas exceto a ben- correspondentes à lidocaína e à ca- identificas sem problemas.
zocaína (ver seta na figura 6-c), que é feína aparecem muito próximas (ver Outra alternativa é iniciar a análise
revelada pelo revelador “B” (ver seta setas na Figura 6-d), podendo levar a utilizando o “Sistema 2”, mas, como
na figura 6-d). Observou-se que ao falsas conclusões. foi citado anteriormente, as manchas
aquecer intensamente a placa depois Já no “Sistema 1”, as manchas correspondentes à cafeína e à lidoca-
de mergulhá-la no revelador “A” as correspondentes à fenacetina e ína aparecem em posições muito pró-
manchas desaparecem por comple- à benzocaína aparecem na mes- ximas. Havendo dúvidas se a mancha
to, mas, se a placa for aquecida leve- ma altura (ver setas na Figura 5-d). corresponde à cafeína, à lidocaína ou
mente, apenas o excesso de revela- Porém, são reveladas em momen- a ambas, pode-se em seguida utilizar
dor é retirado por evaporação. tos diferentes, ou seja, ao mergu- o “Sistema 1”, pois nele essas man-
O sistema de revelação “A” pode lhar a placa no revelador “A” apenas chas aparecem em posições bem dis-
ser utilizado por muitas vezes, pois a benzocaína não aparece (Figura tantes.
não é significativamente afetado pe- 5-c) e só após borrifar o revelador
las mínimas quantidades de sub- “B” é que pode-se visualizar a sua Análise de misturas
tâncias que poderiam estar se des- mancha (Figura 5-d). por Micro-CCD bidimensional
prendendo da placa de Micro-CCD Dessa forma, se, ao mergulhar Outra forma de separar as subs-
durante o processo de imersão. a placa no revelador “A”, apare- tâncias é fazer uma placa bidimensio-
A escolha/determinação do siste- cer uma mancha na posição equi- nal de 7cm x 7cm (Figura 7). Primei-
ma de solventes para eluição é uma valente à fenacetina/benzocaína ro deve-se realizar a eluição da placa
outra etapa crítica neste trabalho. De- conclui-se pela presença de fena- no “Sistema 1”, aplicando-se a amos-
zenas de sistemas de solventes fo- cetina na mistura. Depois de aque- tra no lado esquerdo (Figura 7-a). Nes-
ram testados até a escolha dos apre- cer intensamente a placa, as man- sa eluição a fenacetina e a benzocaína
sentados neste trabalho. chas desaparecem. aparecem muito próximas, o que pode
Fenacetina
Benzocaína
Perícia Federal 13
CROMATOGRAFIA: PCFS ADRIANO OTÁVIO MALDANER (BACHAREL EM QUÍMICA E DOUTOR EM CIÊNCIAS – QUÍMICA ORGÂNICA) E LUIZA NICOLAU CALDAS (BACHAREL EM QUÍMICA)
ser constatado pela observação na luz identificadas. Os sistemas revelado- Além das metodologias de revela-
UV (Figura 7-a). Depois de seca, a pla- res e o processo de revelação utiliza- ção já utilizadas, também foi borrifa-
ca deve ser virada em 90 graus no sen- dos são os mesmos na placa unidi- do o sistema revelador composto por
tido anti-horário, de forma que o lado mensional (Figuras 7-c, 7-d, 7-e). iodo-platinato acidificado (Revelador
que fora base na primeira eluição pas- “C”), por este sistema ser um dos re-
sa a ser o lado direito da placa na se- Análise de cocaína por Micro-CCD veladores clássicos e mais utilizados
gunda eluição, e aquele que fora lado Na identificação específica de co- no INC em CCD com placas de vidro
esquerdo passa a ser a base da placa caína, o melhor sistema encontrado (Figura 8-e).
na segunda eluição. A placa é, então, foi aquele composto por ciclohexano/
colocada para correr no “Sistema 2”. tolueno/dietilamina (70/15/15) (Figu- Fatores de Retenção
Na segunda etapa as manchas cor- ra 8), o “Sistema 3”. Esse sistema pro- Os fatores de retenção (Rf’s,%) de
respondentes à fenacetina e à benzo- move uma maior eluição da cocaína todas as substâncias analisadas nos
caína se separam (ver setas na Figu- do que das outras substâncias, identi- três sistemas de eluentes são mostra-
ra 7-b) e todas podem ser facilmente ficando-a facilmente. dos na Tabela 1.
Lidocaína
Cafeína
Fenacetina
e Benzocaína
Fenacetina
Benzocaína
a) Primeira corrida: sistema 1, revelador UV b) Segunda corrida: sistema 2, revelador UV c) Revelador A (borrifado) d) Revelador A depois de seco com pistola e) Revelador B
Cocaína
14 Perícia Federal
TABELA 1: TABELA COM OS RF´S (%) DAS CINCO SUBSTÂNCIAS ANALISADAS Dessa forma, este trabalho busca
mostrar que existem alternativas van-
tajosas a alguns procedimentos clássi-
SISTEMA 1 SISTEMA 2 SISTEMA 3
cos rotineiramente utilizados nas análi-
ses definitivas de drogas de abuso.
CAFEÍNA 53 40 7 Os estudos baseados na Cromatogra-
fia de Camada Delgada em escalas re-
LIDOCAÍNA 65 51 52 duzidas (Micro-CCD) permitem, através
de alterações simples, a diminuição sig-
COCAÍNA 33 17 57 nificativa no tempo de resposta à solicita-
ção, a diminuição dos custos da técnica,
a menor exposição do perito a atmosfe-
FENACETINA 82 64 9
ras orgânicas e uma significativa redu-
ção de material consumido e descartado.
BENZOCAÍNA 86 85 17 Outros sistemas têm sido testados no
SEPLAB/INC, levando a resultados pro-
Considerações finais de vapores orgânicos liberados para a missores também para a identificação de
Observa-se nas análises de Micro- atmosfera do laboratório. THC na maconha através da Micro-CCD.
CCD uma redução drástica no tempo Cabe ressaltar que toda identifica-
necessário para que o eluente percor- Vale a pena utilizar a Micro-CCD? ção cromatográfica necessita de pa-
ra toda a extensão da placa, reduzindo- Conclusões drões para comparação com a amos-
o para 1 a 3 minutos (aproximadamen- Esse trabalho mostrou que, para tra questionada. A aquisição/obtenção
te 30 minutos na CCD tradicional). Isso identificação e caracterização de coca- destes padrões é um dos mais desafia-
confere agilidade à técnica, mas exi- ína por Cromatografia de Camada Del- dores problemas a serem solucionados
ge também uma atenção maior do peri- gada, o sistema de solventes em que se dentro dos órgãos de segurança públi-
to, que deve retirar a placa no momento obtem os melhores resultados é o ciclo- ca, devido às dificuldades burocráticas
apropriado (ver seta na Figura 3), evi- hexano/tolueno/dietilamina (70/15/15) de aquisição de materiais importados
tando que haja uma superexposição (Sistema 3), separando-a inequivoca- e controlados. Os padrões disponíveis
no SEPLAB/INC e utilizados neste tra-
dos componentes aos eluentes, o que mente dos principais fármacos utiliza-
balho foram obtidos de amostras co-
levaria a distorções sérias nos resulta- dos como “diluentes” encontrados em
merciais e/ou aprendidas, identificadas
dos finais. Na prática, o “esquecimento” apreensões no Brasil.
inequivocamente por outras metodolo-
de uma placa nessas condições acarre- Para realizar tanto a separação da gias (cromatografia gasosa acoplada à
ta uma sobreposição dos componentes, cocaína como a identificação de possí- espectrometria de massas, espectros-
que são levados até a parte superior da veis “diluentes”, os sistemas de solven- copias no infravermelho e ultravioleta)
placa, impossibilitando a obtenção de tes mais eficientes foram o metanol/bu- e purificadas por recristalização ou co-
resultados confiáveis de Rf’s. tanol (50/50) (Sistema 1) e o acetato de luna cromatográfica.
A dimensão da Micro-CCD também etila/ciclohexano/metanol (70/15/15) Mais informações podem ser en-
possibilita que, após a retirada da placa (Sistema 2), sendo que um pode ser uti- contradas na vasta literatura disponível
do sistema de eluentes, haja uma me- lizado como contra-prova do outro. Foi tratando da Cromatografia de Camada
nor quantidade de solvente adsorvida mostrado que estes sistemas também Delgada. Alguns sites de educação na
na fase estacionária, diminuindo o tem- podem ser utilizados conjuntamente em Internet podem ser muito úteis na reso-
po de secagem da placa e a quantidade placas de Micro-CCD bidimensional. lução dos problemas mais práticos.
Perícia Federal 15
CANNABIS SATIVA L.: PCFS DANIELE Z. SOUZA1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS), KÁTIA MICHELIN1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS, ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE), MARCELO G. HOLLER1 (QU
Roteiro ilustrado
Para identificação morfológica da
Estufa artesanal
utilizada pelos PCFs
da SETEC-RS
16 Perícia Federal
UÍMICO INDUSTRIAL, MESTRE EM QUÍMICA); E GERALDO L. G. SOARES2 (DOUTOR EM CIÊNCIAS E QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS), MARA R. RITTER 2 (DOUTORA EM BOTÂNICA), NEUSA R. BIANCHI2 (FARMACEUTICA, MESTRE EM FISIOLOGIA VEGETAL)
Perícia Federal 17
CANNABIS SATIVA L.: PCFS DANIELE Z. SOUZA1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS), KÁTIA MICHELIN1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS, ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE), MARCELO G. HOLLER1 (QU
Fotos: SETEC/RS
Figura 1: Raiz de planta com 2,5 meses de vida
Folhas (figs. 4 a 10): simples, longo-peciola- cea; levemente ásperas, podendo deixar odor
das, palmatissectas, com segmentos ímpares característico nos dedos; discolores, com face
(3 a 11), lanceolados, com ápice acuminado e adaxial verde-escuro e face abaxial verde-
base atenuada a cuneada; bordos serreados; claro; palminérveas, com nervuras secundárias
de tamanho variável, podendo atingir mais de partindo obliquamente das nervuras principais
15 cm; consistência membranácea a papirá- e terminando nas extremidades dos “dentes”
das margens serreadas; estípulas persistentes
na base do pecíolo; filotaxia variável de oposta
cruzada à alterna helicoidal em qualquer terço
da planta, dependendo das condições de ilumi-
nação em que a planta se desenvolve.
Figura 3: Caule cortado transversalmente Figura 5: Ápice de um segmento Figura 6: Face abaxial: detalhe das nervuras
18 Perícia Federal
UÍMICO INDUSTRIAL, MESTRE EM QUÍMICA); E GERALDO L. G. SOARES2 (DOUTOR EM CIÊNCIAS E QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS), MARA R. RITTER 2 (DOUTORA EM BOTÂNICA), NEUSA R. BIANCHI2 (FARMACEUTICA, MESTRE EM FISIOLOGIA VEGETAL)
Frutos (figs. 11 a 13): aquênios; ovalados e hemisférios por uma faixa estreita, da mesma
levemente achatados; medem cerca de 3,5-6,0 cor dos veios, circundando o maior perímetro;
mm de comprimento por 2-4 mm de largura; cor envoltos por cálice persistente, gamossépalo,
variável (marrom/verde/cinza/bege/creme); epi- membranáceo, de aspecto rugoso, com forma-
carpo duro e liso, finamente reticulado/mosque- to tubular, afilado no topo e dilatado na base. Os
ado, com veios/malhas em coloração mais clara, frutos de C. sativa são geralmente referidos de
geralmente creme ou bege; divididos em dois forma equivocada como sementes. Figura 13: Frutos sem cálices
Perícia Federal 19
CANNABIS SATIVA L.: PCFS DANIELE Z. SOUZA1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS), KÁTIA MICHELIN1 (FARMACÊUTICA BIOQUÍMICA EM ANÁLISES CLÍNICAS, ESPECIALISTA EM GENÉTICA FORENSE), MARCELO G. HOLLER1 (QU
Caule (figs. 14 a 17): presença de tricomas tec- não apresentar inclusão cistolítica pequena,
tores transparentes, longos e delgados, agudos e dispostos no sentido das nervuras da folha,
no ápice e mais largos na base, a maioria encur- com ápices direcionados para a margem foliar.
vada em direção ao ápice da planta (opostos à Presença de tricomas glandulares sésseis,
gravidade). Sob maior aumento é possível obser- com cabeça globular formada por 8-16 célu-
var a parede rugosa destes tricomas, repletas las radiais e tricomas glandulares pequenos,
de papilas. Os tricomas glandulares são de dois com pedicelo curto e cabeça esférica formada
tipos: tricomas glandulares sésseis, com cabeça por 1-4 células. Tal como observado no caule,
globular formada por 8-16 células radiais, e trico- solução alcalina de Fast Blue B Salt cora os tri-
mas glandulares pequenos, com pedicelo curto comas sésseis de vermelho.
e cabeça esférica formada por 1-4 células. Em
lâminas montadas com solução alcalina de Fast Figura 17: Tricoma glandular séssil com cabeça glo-
Blue B (BB) Salt, após 30 minutos da preparação, bular, em corte transversal de caule montado em so-
as cabeças globulares dos tricomas sésseis se lução alcalina de Fast Blue B Salt (objetiva de 20 x)
coram de vermelho, demonstrando seu conteúdo
resinoso rico em canabinóides. Folhas (figs. 18 a 23):
face adaxial: presença de tricomas tectores cis-
tolíticos curtos e cônicos, transparentes, encur-
vados, agudos no ápice e bastante largos na
base, na qual está incrustada um cistólito volu-
moso. São mais curtos e bem menos abundan-
tes do que aqueles existentes na face abaxial e
estão dispostos no sentido das nervuras secun-
dárias, com ápices direcionados para os bordos
das folhas. Na margem, os tricomas possuem
ápices voltados para as pontas dos “dentes” do
contorno serreado. A adição de ácido inorgânico
diluído em lâmina montada com água destilada Figura 19: Face adaxial, sob aumento de 15 x: trico-
Figura 14: Caule visto em microscópio estereoscópico: mas tectores cistolíticos curtos e tricomas glandulares
tricomas tectores e glandulares gera bolhas de gás (CO2) sobre os cistólitos,
com conseqüente esvaziamento da base do tri-
coma, confirmando a natureza calcária das con-
creções. Os tricomas glandulares são escassos
nesta face, geralmente pequenos, com pedicelo
curto e cabeça esférica formada por 1-4 células.
face abaxial: abundantes tricomas tectores
transparentes, longos e delgados, encur-
vados, levemente rugosos (especialmente
aqueles situados sobre as nervuras), agudos
no ápice e mais largos na base, podendo ou
20 Perícia Federal
UÍMICO INDUSTRIAL, MESTRE EM QUÍMICA); E GERALDO L. G. SOARES2 (DOUTOR EM CIÊNCIAS E QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS), MARA R. RITTER 2 (DOUTORA EM BOTÂNICA), NEUSA R. BIANCHI2 (FARMACEUTICA, MESTRE EM FISIOLOGIA VEGETAL)
Figura 24: Base do cálice persistente, face abaxial (aumento de Figura 27: Tricoma glandular com pedicelo longo pluricelular e mul-
10 x): tricomas tectores e glandulares tisseriado, e cabeça globular avermelhada (objetiva de 20 x)
Figura 22: Corte transversal de folha, visto com objetiva de 40
x: tricoma tector curto e cônico da face adaxial, com cistólito
volumoso na base
Figura 23: Corte transversal de folha, visto com objetiva de 40 Figura 25: Topo do cálice, face abaxial (aumento de 10 x): trico- Figura 28: Face adaxial do cálice persistente, entre lâmina e lamínula
x: tricoma tector curto e cônico da face adaxial, após a adição mas glandulares com pedicelo longo e pardo, exibindo cabeças (objetiva de 40 x): drusas de oxalato de cálcio abundantes
de HCl 1M globulares íntegras ou destacadas
Perícia Federal 21
CANNABIS SATIVA L.: PCFS DANIELE Z. SOUZA, KÁTIA MICHELIN, MARCELO G. HOLLER E GERALDO L. G. SOARES, MARA R. RITTER E NEUSA R. BIANCHI
22 Perícia Federal
PATRIMÔNIO HISTÓRICO: PCFS ALAN DE OLIVEIRA LOPES (BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL) E ACIR DE OLIVEIRA JUNIOR ( (BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL)
Perícia Federal 23
PATRIMÔNIO HISTÓRICO: PCFS ALAN DE OLIVEIRA LOPES (BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL) E ACIR DE OLIVEIRA JUNIOR ( (BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL)
A comparação entre
Em investigações sobre obras sacras as estátuas segue o
existem algumas fases que são cruciais e, mesmo princípio da
juntas, representam a metodologia. Em grafotecnia
resumo, são:
- descrição do objeto;
- análise iconográfica e iconológica;
- análise formal;
- análise estilística;
- análise do estado de conservação;
- análise da tecnologia e dos materiais
(pigmentação e suporte);
- pesquisa documental histórica;
- entrevistas e diligências; e
- confronto com objetos já identificados
que possuam similaridade.
Descrição do objeto
A descrição deve atentar para todos os
detalhes disponíveis. As dimensões e porte Análise formal neste caso. Para obras que se querem pas-
podem dar indícios de qual era o uso original Nesta etapa são analisados os contor- sar como do período colonial, a ausência de
do objeto. Mesmo a percepção de partes do nos, simetrias, eixos principais e secundá- desgastes naturais é um indício de falsida-
objeto que estejam faltantes fornece subsí- rios. Enfim, a geometria da peça. A repetição de. Também é possível identificar serviços de
dios para sua boa identificação. É uma etapa de forma pode ser uma característica identifi- intervenção como restauro, sondagem para
que não pode ser menosprezada, podendo cadora do artista. amostragem e raspagem.
servir, também, de subsídio à alimentação de
Análise estilística
banco de dados. Análise da tecnologia e dos materiais
O estilo artístico é uma das análises mais
(pigmentação e suporte)
importantes, pois é um dos fatores determi-
Análise iconográfica e iconológica Esta etapa pode ser encarada como a
nantes da datação da peça, visto que a pro-
Nessa etapa é necessário estudar traços, mais importante. Por meio de modernas fer-
dução artística obedece a ciclos históricos já
detalhes e símbolos do objeto a fim de saber ramentas de análise de materiais, é possí-
estudados e catalogados. No Brasil colonial e
o que está se representando e com que inten- vel determinar com precisão característi-
monárquico temos as seguintes fases artísti-
ção. Isso é muito importante para a pesquisa cas essenciais do objeto questionado. Pre-
cas: manerista, barroca e rococó, com predo-
histórica. Uma fonte de dados interessante é liminarmente, pode-se submeter o objeto a
mínio do estilo barroco, onde os motivos reli-
a relação de bens culturais procurados, con- uma bateria de exames por raios-X hospita-
giosos eram a temática predominante.
tida no sítio eletrônico do IPHAN (www.iphan. lar, de forma a permitir a verificação da estru-
gov.br). Nele, podem ser feitas verificações tura interna, juntas, fissuras e inserções de
Análise do estado de conservação
iconografias semelhantes e proceder a bus- objetos metálicos. Essa análise da tecnolo-
Um antigo ditado da Criminalística, “a
cas preliminares de bens extraviados. gia construtiva também é necessária para a
ausência de um vestígio é um vestígio”, vale
boa classificação.
Muitas obras sacras podem ter dois
autores principais: o que executa o supor-
te (escultura, mesa, retábulo, etc.) e o que
faz a pintura decorativa. Por isso, divi-
de-se a análise dos materiais em dois
grupos: a dos pigmentos e a do supor-
te, que nada mais é que o material base
do objeto (madeira, barro cozido, ferro,
bronze, gesso etc.).
No estudo da pigmentação, aconselha-
se o uso do Microscópio Eletrônico de Var-
redura (MEV), por meio do qual podemos
identificar os principais componentes de
determinado pigmento, após devidamen-
te coletada uma amostra. O estudo então
Difratograma de Raio X: confronto entre amostras extraídas das bases das estátuas de
será de identificação de materiais antigos e
São Joaquim (linha preta) e de São João Batista, a peça questionada (linha vermelha)
24 Perícia Federal
modernos – elementos de autenticidade e A produção de objetos em madeira tam- siderando o universo de pessoas habilitadas a
de datação. Existem institutos de tecnolo- bém foi muito abundante e, mesmo se con- lidar com obras de arte e bens culturais. A inter-
gia habilitados a fazer esse tipo de exame, siderando a ação de insetos e outras pragas, locução com esses profissionais é fundamen-
como o ITEP de Pernambuco. Recentemen- esses elementos ainda constituem um acervo tal para qualquer investigação. Tratando-se de
te o Departamento de Polícia Federal, por considerável. Nesses casos, a análise botâni- “experts”, ninguém melhor que o perito crimi-
meio do projeto de investimento PROMO- ca ajuda a identificar a origem do material de nal para dialogar com estudiosos, restaurado-
TEC, adquiriu um MEV que também poderá suporte, pois algumas árvores são típicas de res, professores universitários e donos de anti-
ser usado com esse intuito. Um exemplo de determinadas regiões do Brasil e da Europa. quários. Nessas diligências é importante obter
análise é a identificação de películas que, informações sobre bens culturais já identifica-
supostamente, são de ouro. Pesquisa documental histórica dos e sobre eventuais furtos já ocorridos. Esse
No estudo do material base um equipa- Quando já definida a autenticidade do trabalho de campo deve ser bem planejado de
mento adequado é o difratômetro de raios- objeto pelos demais exames nos aspectos forma a agilizar as investigações. Como o estu-
X. Com ele pode-se traçar um gráfico com os de antigüidade e estilo (entre outros), exis- do da história nacional, principalmente do perí-
picos característicos dos diversos compo- te a necessidade de definir – ou pelo menos odo barroco, foi pouco desenvolvido no exterior,
nentes de uma amostra do material (ver grá- indicar – a origem e procedência da peça. encontramos as melhores referências científi-
fico da pág. 24). Considerando-se certo grau Nesse momento, o perito criminal deve pro- cas em instituições nacionais, como a UFMG.
de homogeneidade do conjunto do material curar na documentação disponível (inquéri-
de suporte, pode-se obter importante identi- to policial, denúncia etc) informações sobre Confronto com objetos já identificados
ficador físico. No primeiro caso desenvolvi- a origem do objeto questionado: região, que possuam similaridade
do pelos peritos do INC, o apoio foi consegui- época, proprietário e envolvidos. Depois de caracterizada a autenticida-
do junto ao Departamento de Física da Uni- Tudo de forma a restringir o imenso uni- de do objeto no sentido de obra de arte históri-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE). verso de bens a ser pesquisado. Essas infor- ca, passa-se à questão da origem e procedên-
Esse tipo de ensaio é perfeito para análi- mações vão direcionar a análise dos bens cia. Nisso é importante que todas as entrevis-
ses de confronto entre objeto questionado e tombados pelo IPHAN e seus inventários. tas e diligências busquem identificar possíveis
padrões de obras de arte já identificadas. A parceria com o IPHAN é muito importan- peças semelhantes (padrões). Deve ser feito
te, mas muitas vezes os inventários estão o confronto entre elas, seguindo os mesmos
incompletos, ou mesmo a peça pode ainda passos já descritos. Nesse momento deve-se
não ter sido tombada pelo simples fato de sua partir da premissa de que, nas partes menos
existência ser desconhecida. O estudo histó- importantes da obra, o artista possa repe-
rico permitirá definir se existem objetos seme- tir mecanicamente processos habituais (por
lhantes já identificados que podem ser con- exemplo, o desenho das orelhas, das mãos,
frontados com o objeto questionado e resul- dos drapeados). O grau de similaridade levará
tar em uma identificação da autoria artística. ou não a uma identificação positiva e à conse-
qüente emissão do laudo pericial.
Entrevistas e diligências
As entrevistas e diligências são atividades Futuro
desenvolvidas em paralelo com as demais, con- Este primeiro trabalho inicia as discussões
sobre essa modalidade de perícia. Existe muita
pesquisa a ser feita, como o estudo de falsifica-
ções, e a criação de um banco de dados orga-
nizado por características. Esse tipo de perícia
também pode envolver questões merceológi-
cas. É de se ressaltar que a defesa do patrimô-
nio histórico possuí uma peculiaridade: realiza-
do o dano ou o furto, o objeto não pode ser subs-
tituído, pois é único. Portanto, o ressarcimento
financeiro não remedia o prejuízo. A expectativa
agora é a de difundirmos e ampliarmos esses
conhecimentos dentro da Polícia Federal, seja
pelo treinamento multidisciplinar interno, seja
pela incorporação de novos profissionais.
Estátua de São João Batista:
Fotos: Arquivo APCF
Perícia Federal 25
SUSP: PCF PAULO ROBERTO FAGUNDES (BACHAREL EM GEOLOGIA E MESTRE EM GEOLOGIA ECONÔMICA), COORDENADOR GERAL DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA E PROJETOS ES
A perícia
no no Sistema Único
de Segurança Pública
A interação entre a SENASP/MJ e os órgãos periciais
oficiais vem propiciando a execução de projetos que visam
à estruturação de algumas áreas da Criminalística. Com
isso já estão sendo implantadas soluções técnico-científicas
que melhorarão as condições de trabalho dos peritos
criminais e a qualidade da prova material
A
Possibilitar o intercâmbio entre os profis-
Pública do Ministério da Justiça mento, formação, gestão do conhecimento e sionais dos institutos de perícias com o corpo
(SENASP/MJ) vem desenvolven- valorização profissional envolvendo os órgãos docente universitário, trazendo o implemento
do ações conjuntas com órgãos de de perícias estaduais e federais. Talvez o tra- de novas tecnologias na área de DNA Forense.
segurança pública nos níveis federal, estadu- balho mais importante seja a união dos peritos Desenvolver atividades de pesquisas
al e municipal nas áreas de formação, valo- das diversas áreas do conhecimento discutin- conjuntas entre os órgãos periciais e as uni-
rização profissional, prevenção, repressão do as soluções técnico-científicas para cada versidades, nos campos de genética humana,
qualificada, produção da prova, padroniza- setor. Por meio dessas reuniões de grupo genética forense e biologia molecular.
ção de procedimentos e gestão do conheci- de trabalho temos conseguido avançar nas Desenvolver projeto para um banco de
mento, entre outras. Para fomentar as ações, ações propostas de maneira satisfatória. dados de DNA nacional.
a SENASP administra o Fundo Nacional de Como há uma heterogeneidade muito gran- Para difundir a tecnologia do DNA como
Segurança Pública na aplicação de recursos de em termos de infra-estrutura, tecnologia e instrumento de investigação e prova conside-
nas seguintes instituições e áreas de atuação: recursos humanos para cada área da perícia ofi- rou-se importante investimentos em recursos
I – reequipamento, treinamento e qualifi- cial em cada estado da Federação e na Polícia humanos, infra-estrutura laboratorial e equi-
cação das polícias civis e militares, corpos de Federal, os grupos em geral reúnem peritos de pamentos modernos. O objetivo é colocar os
bombeiros militares e guardas municipais; instituições com estágio avançado de conhe- laboratórios nacionais em níveis compatíveis
II - implantação de sistemas de informa- cimento nas áreas específicas. Dessa forma, com os internacionais.
ções, de inteligência e investigação, bem pretende-se elevar o nível da perícia dos esta- Dessa forma foram feitos até o momento
como de estatísticas policiais; dos mais carentes, diminuindo as diferenças. investimentos de R$ 6,5 milhões em aquisição de
III – estruturação e modernização da Podem ser destacados os seguintes projetos: equipamentos e consumíveis em laboratórios de
polícia técnica e científica; DNA dos institutos de perícia e R$ 2 milhões em
IV - apoio a programas de polícia comu- DNA Forense laboratórios de DNA de universidades.
nitária; e O Projeto de DNA teve seu início em 2004 Estão sendo realizados cursos de espe-
V – desenvolvimento de programas de com a implantação de laboratórios regionais cialização em genética forense com 400
prevenção ao delito e à violência. de DNA com a seguinte concepção básica: horas-aula na Universidade Federal do Pará
Para o alcance desses objetivos, as ações Realizar atividades de formação, capaci- e na Universidade Federal de Alagoas. Até o
e projetos podem ser feitos mediante celebra- tação e pesquisa aplicada com peritos estadu- presente foram formados 53 peritos criminais
ção de convênios ou por meio da intervenção ais e federais, visando seu aprimoramento na estaduais e federais nesse tipo de curso. Os
direta da SENASP na sua execução. área de análise de DNA em casos criminais. peritos que saem dos cursos possuem condi-
Na área de Perícia ou Produção da Prova, Auxiliar na padronização em procedi- ções de fazer análise de DNA sob a orientação
algumas ações vêm sendo desenvolvidas mentos e técnicas de genotipagem e seqüen- de profissional mais experiente nos laborató-
dentro da concepção do Sistema Único de ciamento de DNA. rios de DNA considerados como referência.
26 Perícia Federal
SPECIAIS – SENASP/MJ
Nesses laboratórios são dados cursos práti- Forense. Trata-se de uma proposta ousada tas de aquisição de sistemas automatizados
cos avançados em DNA, com a resolução de que deverá evidenciar a vontade do governo de identificação balística por parte de entes
casos reais do estado de origem dos peritos. de combater a impunidade por meio do sistema federados mais adiantados. Existem duas
Até o presente foram formados 63 peritos cri- de investigação criminal. Existe uma estimati- unidades federativas que possuem esses
minais nesse tipo de curso. va de aplicação de recursos da ordem de R$ 40 sistemas e os mesmos não funcionam ou
Desse modo está havendo a difusão do milhões para a extensão desse banco de dados funcionam inadequadamente.
potencial do DNA na resolução de casos crimi- a todos os estados e à Polícia Federal. Assim, a SENASP decidiu, com base em
nais. Quando o projeto teve inicio, havia seis reuniões com peritos especializados, investir
laboratórios de DNA em órgãos periciais fun- Balística Forense em capacitação para aumentar a quantida-
cionando. Atualmente, existem dez laborató- Com base em diagnóstico feito em 2005, de de peritos especializados em microcom-
rios em operação, com possibilidade de mais verificou-se a grande heterogeneidade de paração balística. Existem aproximadamen-
quatro entrarem em operação ainda em 2006. condições de trabalho das seções de balís- te 60 peritos no país aptos a realizarem tais
O projeto de DNA caminha para uma pro- tica dos institutos de criminalística estaduais exames. A utilização de sistemas automati-
posta de implantação de um banco de dados e federais. Esta é refletida na existência de zados, do tipo IBIS, sigla em inglês que signi-
de DNA criminal, que se encontra praticamen- poucos peritos especialistas em microcom- fica sistema integrado de identificação balís-
te pronta e foi feita com a colaboração de peritos paração balística, na inexistência desses tica, aumenta em seis vezes a necessidade
estaduais e federais especialistas na área, além peritos em alguns institutos e na ausência de confrontos por parte do perito criminal.
de professores universitários – grupo de traba- de microscópios comparadores em alguns A SENASP adquiriu sete microscópios de
lho denominado Rede Nacional de Genética estados. Paralelamente, surgem propos- comparação balística, marca Leica, para a
montagem de um centro de treinamento pre-
visto para funcionar no Instituto Nacional de
Criminalística da Polícia Federal. Serão ofer-
tados cursos de capacitação de 80 horas-
aula, por meio dos quais pretende-se dimi-
nuir o déficit de peritos especialistas em
microconfronto balístico, estimular o uso de
microscópios por parte dos estados que não
os possuem e dotar a perícia oficial de capa-
cidade de resposta em caso de implantação
de sistemas automatizados, como está pre-
visto no Estatuto do Desarmamento.
Toxicologia Forense
Assim como na área de balística, na área
de toxicologia os laboratórios estaduais avalia-
dos apresentam grandes diferenças em seus
níveis de desenvolvimento técnico. Pode-se
considerar que nenhum laboratório forense
brasileiro apresenta organização, estrutura e
métodos que possam ser considerados mode-
lares. É especialmente preocupante a existên-
cia de diversos equipamentos analíticos inope-
rantes devido a problemas de infra-estrutura e
de desenvolvimento de recursos humanos.
Dessa forma, as principais dificuldades
encontradas são: inexistência de programas
de treinamento específicos à atividade peri-
cial em toxicologia forense; problemas de
adequação de infra-estrutura; dificuldades no
fornecimento de consumíveis; dificuldades
no estabelecimento de uma rede de comuni-
cação entre os laboratórios; dificuldades no
acesso a fontes de informação técnica e cien-
tífica; dificuldades no acesso a substâncias
de referência; inexistência de programas de
controle de qualidade facilmente acessíveis;
e inexistência de normatização da atividade
pericial em toxicologia no Brasil.
A estruturação e a modernização da polícia técnica e científica é uma das prioridades do SUSP
Além das dificuldades acima menciona-
das, ainda foram encontrados problemas
Perícia Federal 27
SUSP: PAULO ROBERTO FAGUNDES* (BACHAREL EM GEOLOGIA E MESTRE EM GEOLOGIA ECONÔMICA)
28 Perícia Federal
INTERCÂMBIO: PEDRO PEDUZZI
Intercâmbio Pericial
Visita de peritos criminais chilenos ao INC possibilitou a troca de informações e experiências
entre os dois países. Para a Criminalística brasileira, esse intercâmbio aperfeiçoará as
metodologias de cadeia de custódia e de avaliação econômica das perícias
Perícia Federal 29
CONGRESSO NACIONAL: PEDRO PEDUZZI
O PL de combate ao superfaturamento
elaborado pela APCF e em tramitação
na Câmara dos Deputados, inspirou
membros da Diretoria Executiva da APCF a pre-
parar mais um projeto de lei, dessa vez visando
Barbosa (esq.) busca, na APCF e no INC, ajuda para que o DNIT identifique problemas em obras emergenciais
30 Perícia Federal
co. Assim, colocamo-nos à disposição para servir nismos, ou de melhor conhecê-los, de forma a Livro da APCF
de ponte com o Instituto Nacional de Criminalística impedir que as fragilidades da máquina pública Cobrar de quem administra as verbas públi-
(INC) e para organizar palestras onde abordarí- levem o gestor ou o agente público a cometer cas e estimular servidores que fiscalizam contra-
amos as formas de atuação dos fraudadores”, alguma irregularidade. Assim, contribuirá para tos administrativos. Estas são duas das muitas
sugeriu o PCF Charles Rodrigues Valente. a formação de uma sociedade mais justa e de sugestões que a APCF está elaborando para o
“Um cuidado que vocês precisam ter é com uma administração pública mais transparente Legislativo brasileiro, visando produzir leis mais
os projetos viciados que certas empreiteiras cos- e eficiente, fornecendo subsídios que evitem modernas e eficazes de combate aos diversos
tumam apresentar já prontos. Neles, costuma a má administração ou má aplicação de recur- tipos de crimes já investigados. “Estamos pre-
haver brechas que, colocadas propositadamen- sos públicos. Seja em benefício do DNIT ou parando um livro onde descreveremos, na forma
te, servirão para favorecer o prestador dos servi- de qualquer entidade que administre um orça- de artigos autorais, práticas criminosas, ações
ços”, adiantou o PCF Alan Lopes. mento de grande vulto. Transformar a experi- periciais e, por fim, sugestões para que a socie-
Mauro Barbosa apresentou suas impres- ência dos PCFs em um PL norteará os gestores dade se previna de crimes semelhantes aos que
sões acerca do PL 6.735/06: “Ele dará condi- públicos quanto a uma boa e eficaz aplicação dos já foram investigados pela PF”, informa o presi-
ções às organizações públicas de criar meca- recursos”, declarou. dente da APCF, Antônio Carlos Mesquita.
Divulgação
de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC), o deputado Sérgio
Miranda (PDT-MG) apresentou um
elogiado substitutivo que certamente
aperfeiçoará ainda mais o documento.
O deputado, que vê na iniciativa da
APCF e dos peritos uma “demonstração
de cidadania e compromisso com o
país”, acredita que o momento político
brasileiro é bastante favorável ao
debate da questão. Nesta entrevista,
Miranda explica – e justifica – as
mudanças que foram apresentadas no
substitutivo e fala sobre a repercussão
da matéria nos bastidores do
Congresso Nacional.
Perícia Federal 31
NOTAS E CURTAS: PEDRO PEDUZZI
Arquivo pessoal
Impressões digitais
O II Seminário Brasileiro de Perícias sões digitais de baixa qualidade. “Essa
de Revelação de Impressões Papilares, técnica permite ao perito criminal deter-
realizado em João Pessoa/PB entre os minar o autor de uma impressão digital
dias 22 e 25 de agosto, contou com a par- mesmo quando não é possível marcar
ticipação de dois peritos criminais fede- um número suficiente de pontos carac-
rais, Frederico Quadros D´Almeida e terísticos. É muito útil para auxiliar na PCFs Bruno Dantas
e Geraldo Bertoldo
Clayton Tadeu Mota Damasceno. localização desses pontos em situações
“A experiência foi bastante recom- de pouca nitidez”, assegurou.
pensadora, pois nos possibilitou obser- Lotado na Academia Nacional de O primeiro colocado
var que, em diversos estados, a perícia Polícia (ANP), onde é responsável por dis-
criminal de revelação e análise biomé- ciplinas e atividades relacionadas a local na Academia
trica de impressões digitais está muito de crime nos cursos de formação da Polícia Depois de um concurso público extremamente
bem estruturada”, afirmou o PCF Fre - Federal, o PCF Clayton Damasceno falou concorrido, os 125 peritos criminais federais que
derico D´Almeida, que ministrou a pales- sobre a revolução pela qual passa o curso entraram recentemente para o quadro da Polícia
tra “Revelação de Impressões Di gitais dirigido aos peritos criminais federais. Federal passaram pelo rigoroso curso de forma-
ção da Academia Nacional de Polícia (ANP). Se
– Casos Reais da Perícia Criminal Durante a palestra intitulada “O Ensino
já é difícil ser aprovado, o que dizer de quem foi o
Federal”. Nela, foram apresentados da Criminalística”, Damasceno infor- primeiro da turma. É o caso do PCF Bruno Teixeira
alguns casos de perícias criminais envol- mou que o número de horas-aula destina- Dantas, 33, mestre e doutor em Engenharia Civil
vendo a revelação e a análise biométrica das a disciplinas de local de crime, como pela UFRJ. Nascido em Vitória, no Espírito Santo,
de impressões digitais, e exposta uma a de coleta de impressões papilares, foi é fã dos livros de Michael Crichton e gosta de soltar
técnica de sobreposição de imagens ampliado, mas sem deixar de contemplar pipa na praia na companhia da filha.
para análise de fragmentos de impres- todas as áreas periciais. Como foi a preparação para o concurso?
Me dediquei bastante. Durante dois meses fiz
curso preparatório e sacrifiquei momentos de lazer.
Não esperava passar e fiquei muito feliz quando
32 Perícia Federal
Polícia Federal e dos elementos de segurança empregados
Banco Central unem na moeda brasileira e, assim, melhorá-
forças para combater a los ou substituí-los, durante o desen-
falsificação da moeda brasileira volvimento de novas cédulas.
de perícia em obras realizadas numa rodovia ra de aplicação do asfalto, não estavam sendo
Peritos cidadãos suspeita por gastar demais com restauração,
os peritos avistaram uma equipe de operários
seguidos, e isso não poderia ser comprovado
em exames posteriores”, explica o PCF Régis.
Os PCFs Régis Signor e Alexandre fazendo uma operação tapa-buracos. Apesar “Julgamos que, como agentes públicos e, prin-
Bacellar Raupp não são escoteiros, mas estão de não terem sido escalados para investi- cipalmente, como cidadãos, não podíamos dei-
sempre alertas e fazem bom uso do olhar clíni- gar os serviços em execução, resolveram – xar de tomar providências para evitar o desper-
co que só os anos de exercício pericial possi- enquanto cidadãos – verificar os procedimen- dício de mais dinheiro público. Comunicamos
bilitam. Durante uma viagem ao Rio Grande tos que estavam sendo adotados pelos operá- o fato à Delegacia de Polícia Federal mais pró-
do Sul, em abril deste ano, para a realização rios. Acabaram descobrindo o motivo de tan- xima e obtivemos, no ato, um pedido formal de
tos gastos com a estrada. exames, como meio de perpetuar as provas”,
“Procedimentos executivos completa. Com isso, os peritos puderam retor-
básicos, como a cor- naram ao local e realizar exames mais detalha-
reta temperatu- dos para subsidiar a elaboração de novo laudo.
Fotos: Arquivo pessoal
Perícia Federal 33
NOTAS E CURTAS: PEDRO PEDUZZI
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participou da audiência.
Internet
As versões digitali-
Encontro Nacional zadas das edições mais
Foi escolhida a cidade-sede do III Encon- recentes da revista Perícia
tro Nacional dos peritos Criminais Fede-
Federal podem ser baixa-
rais, fórum onde são discutidos os proble-
mas, as soluções e as perspectivasda Pe- das pela internet. Basta
acessar o site da APCF
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da APCF e o III Encontro dos Peritos Fede- car na seção “Revista”, Distribuição Gratuita Ano VI – Número 22 – setembro a dezembro de 2005
Distribuição Gratuita Ano VII – Número 24 – maio a agosto de 2006
34 Perícia Federal