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4. A perfeita descolecção.
- Antepassados lambuzáveis.?
Por vezes cedemos ao eflúvio selvagem que faz
desaparecer a vista onanistica da totalidade. Ou o
seu tigre. Compreendemos o carácter convencional
e egoísta de sermos reféns da unidade e de uma
suposta ordem. Por isso achamos que Hegel é um
masturbador. Então vamos para a casa-de-banho
e reparamos na assimetria da face: um lado é
mais velho do que o outro, como se cada lado do
corpo tivesse um tempo distinto para morrer. Há
um lado do corpo que nos assassinará e outro que
ficará inocente? Perdemos praticamente todo o
controle. Mesmo o controle budista que pacifica e
torna aceitável o que mais tememos (a morte, a
velhice, a doença). No entanto há um novo
equilíbrio nesse descontrole que nos torna mais
fortes.
GONE GORGONA
P.S.
Lili Antigona
Eleonora, essa prima comum a Mário e Maria,
assoprava com suas tubas turvas a partir das turbinas
interiores, uma espécie de orgão genital em prótese
muito plástica. Era um sopro ao rubro e fazia arder e
atiçar as tristes águas onde ruminavam as vozes
descascadas dos mortos e as vozes por descascar dos
vivos. Água ardendo sem alcoól à mistura. Harpa de
água com forma de Orfeu punheteiro. Lira de água
com as cordas muito pitagóricas fazendo ressoar a
violência ondulante dos mundos. Sonho de água com
cocktails de inconsciente à mistura e psicanalista a
aspirar o sofá no intervalo. Destina, assina, assassina
e depois desculpa-se mais uma vez com o “s”
solitário da sina. Num breve mesmo breve espaço de
tempo Eleonora mudou-se para os lados da ponte
Mirabeau, onde as gélidas águas do Sena emudecem
a Casa dos Mortos. Abdul e Bedum eram agora os
seus vizinhos e tinham bigodes de quem é senhor de
uma machesa anacrónica. Passados anos Eleonora
fartou-se de ser uma porteira porreira em Paris e foi
para missionária em Harar armar-se em parteira.
Releu Rimbaud e fez broches a adolescentes etíopes.
Veio a reformar-se depressa, mas manteve a fé
intacta. Morreu septuagenária em Bruxelas depois da
missa, no meio da rua, com um saco cheio de
hortaliças.
E eu, a escriba, que entre tantas promessas narro
com afiada navalha a interconexão rogante e
arrogante dos espaços plurais e dos tempos
recorrentes em que o “eterno retorno” é o retorno das
sequências por abrir e reabrir para novas sequências,
sei que não há repetição rigorosa mas antes
encaminhamento da novidade ornamentante do que
vem ao mundo. É certo que há uma fulgurante elipse,
como uma espécie de sofá (bom para levar ou dar
sovas) onde cultivamos a sonolência e o aparente
esquecimento. Sei que o esquecimento é desaguisada
mística, com o dom de não haver nada mais do que
um ponto onde se concentram em uníssono as
vulnerabilidades e as invulnerabilidades (as
habilidades babélicas de ambas).
A Medida sem Medida era a forma comedida da
angústia de Antigona. Gostava das palavras
aromatizadas que lhe enviavam amigas das
sinagogas longínquas de Hespanha com caligrafias
um tanto ou quanto arabizadas. Para os Umbrais da
Loucura me empurram, responde-lhes Antigona com
a sua secura grega anterior a tanto estoicismo. A
desmesura seca-me o gosto de gostar de tudo –
repetia a filha de Édipo. “E uma vida sem geometria
faz chegar às minhas margens os desgostos da
espécie. A morte de meus irmãos um no outro é a
consequência da epidemia revolucionária. A
revolução fratricida depois da de depostas as tiranias
e as profecias. A metáfora fraternal feita poder
impartilhável e responsabilidade cínica. Gémeos de
um outrora aurora no Corpo dos Nomes, filhos de
uma esperança sem atenção aos preceitos e da
vontade de um generoso despotismo ao serviço de
todos.
Vertentemente se foi. Foi-se pelos baços caminhos de
uma noite amarelada a ficar devagarinho da cor
iluminada das escuridões citadinas. Desceu do cavalo
a baixo, sentou-se na beira da estrada e lembrou-se
de seu pai e senhor, e de como lhe lia em grego
muito antigo o romance do meu Cid e depois o
repetia em velho castelhano. E lhe falava da tristeza
da lealdade traída pelos suseranos. Paisagens
poeirentas de Burgos. Lanças mouras e estandartes,
como alcatifas penduradas em paus. As mulas cheias
de mantimentos e haveres. Um demónio paciente
seguia-a como uma sombra que brilhava na noite
perfumada. E o vento foi abanando as figueiras, e
sacudindo os deliciosos figos maduros para o chão. E
no roseiral reapareceram as folhas mortas para os
poetas delas se assenhorarem com acédia. E
Antigona não percebia se se podia conjugar a Fénix,
o perpétuo renascer, com o coração que bate intacto
quando tristemente surge o Crisântemo, e os
esteticismos chineses e a vontade de com ele fazer
um cházinho. Mas ainda era Setembro...
E a espécie viu o firmamento ser o espelho
anamorfoseante de antigos firmamentos, e as Águas
de agora serem quase as mesmas Águas separadas
de águas como as águas de outrora. E vieram à tona
monstruosidades tais que Ismeno foi para as
bibliotecas enamorar-se do monstruoso do antes,
bastante encadernado e com as folhas deveras
manchadas. E achou vistosos os monstros para uma
monstruosa compilação.