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ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO
Fraturas expostas*
CLÉBER A.J. PACCOLA1
RESUMO ABSTRACT
Fraturas expostas são verdadeiros desafios para o or-Open fractures: a revision
topedista. A lesão das partes moles é, na maioria dos
Open fractures are a real challenge to the orthopedic
casos, o fator determinante do prognóstico. Classifica-
surgeon. In most cases, lesions in the soft tissues are
ção adequada e documentação no momento do trauma
deter-
são passos essenciais para estabelecer condutas, espe-
minant for the outcome. Appropriate classification and
cialmente nos casos mais graves, em que amputação
documentation at admission are essential steps,
pode ser necessária. O tratamento inicia-se pelo des-
especially
bridamento o mais completo possível, na sala cirúrgi-
in cases where an amputation is to be indicated.
ca, seguido pela irrigação abundante. A fixação da fra-
Treatment
tura é o passo seguinte e é feita muitas vezes com o fixa-
begins with a thorough debridement inside the OR
dor externo para as fraturas mais graves e com haste
followed
intramedular para as mais leves. O fechamento primá-
by copious irrigation. The fracture is then stabilized using
rio da pele é excepcional nos casos mais graves, mas
external fixators for the most severe cases and
cobertura provisória pode evitar lesões secundárias pela
intramedul-
exposição de estruturas profundas. O fechamento defi-
lary nails for the less severe ones. Primary closure of the
nitivo deve ser feito tão logo as partes moles permitam
skin is performed exceptionally in severe cases where a
e, muitas vezes, a ajuda de cirurgião plástico é impor-
provisional covering can avoid lesion of the deep tissues
tante na confecção de retalhos. A desvitalização e o uso
provoked by prolonged exposure. Definitive closure is car-
do fixador externo levam a retarde de consolidação na
ried out as soon as allowed by the soft tissues. In this re-
maioria dos casos, de forma que a mudança precoce
spect, assistance of a plastic surgeon can be important,
(dentro de duas semanas) para fixação interna (prefe-
especially when a free flap is needed. Tissue devitalizing
rencialmente haste) ou a flexibilização do fixador a par-
together with the use of external fixation lead to delayed
tir da terceira semana e/ou enxertia de esponjosa autó-
union in most cases, so it is advisable to perform early
loga entre o terceiro e o quarto mês de evolução podem
switch (up to two weeks) of the external fixator to an
acelerar a consolidação.
inter-
nal fixation (preferably nailing), or to progressively ren-
der flexibility to the assembly as from the third week and/
or perform cancellous autologous bone graft at three/four
Key words – Open fracture; evaluation; classification; treatment
months to enhance bone healing.
Unitermos – Fratura exposta; avaliação; classificação; tratamento
DEFINIÇÃO
Fratura exposta é toda aquela em que ocorre comunica-
ção do seu foco com o meio externo contaminado com
ger-
mes. Não é necessariamente exposição para o exterior
mas,
* Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Uni-
versidade de São Paulo (FMRP-USP). também, para cavidades contaminadas, como a boca, o
tubo
1. Professor Titular de Ortopedia e Traumatologia – Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. digestivo, vias aéreas, vagina e ânus. Assim, uma fratura
Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3.900 – 14048-900 – Ri-da pélvis que sofre exposição através da parede vaginal é
beirão Preto, SP. Tel./fax: (16) 633-0336/633-7559. considerada fratura exposta e tem especial gravidade
Copyright RBO2001
pela
riqueza da flora bacteriana local.
Rev Bras Ortop _ Vol. 36, Nº 8 – Agosto, 2001 As fraturas expostas envolvem, em geral, elevada
283 ener-
gia para sua ocorrência, com concomitante lesão das par-
C.A.J. PACCOLA
tes moles, o que favorece a infecção pelos germes, alémsonalidade da fratura”. A completa avaliação só pode ser
de feita, em muitos casos, apenas após o desbridamento.
dificultar sua consolidação. A classificação mais consagrada mundialmente e que,
Dessa forma, a fratura exposta, de forma especial, está
até certo ponto, está referendada pela prática clínica e
sujeita a infecção e a retarde de consolidação, que sãopela
os
grandes problemas relacionados com ela. literatura é a proposta por Gustilo e Anderson(4), em 1976.
Três tipos de fraturas eram identificados: o daquelas se-
HISTÓRICO cundárias à exposição através do fragmento que perfura
a
Muito se evoluiu desde os tempos de Hipócrates, quan-
pele, ou seja, de baixa energia (tipo I); o daquelas secun-
do o tratamento das fraturas expostas era dirigido apenas
dárias a trauma externo de baixa energia que expõe o
à
osso
conseqüência quase inevitável, a infecção.
no local da violência, produz ferimento limitado (tipo II);
O desbridamento e a ênfase na precocidade do seu pro-
e o daquelas mais graves, em que há extensa exposição,
cessamento, os quimioterápicos (sulfa) e os antibióticos,
contaminação e/ou desvitalização (tipo III).
especialmente a penicilina, foram marcos que consegui-
Em 1984, Gustilo et al(5) propuseram uma subdivisão do
ram melhorar o prognóstico das fraturas expostas. No en-
tipo III em três subtipos, com base na possibilidade de fe-
tanto, a elevação da energia envolvida nos traumatismos
chamento da ferida pelo tegumento cutâneo e a presença
devido à maior velocidade dos automóveis e à maior po-
de lesão vascular (quadro 1).
tência lesiva dos armamentos continua a desafiar a
Apesar de ser ainda a mais adotada mundialmente, a
capaci-
clas-
dade do médico em restaurar a função em níveis
sificação de Gustilo e Anderson mostra baixa reprodutivi-
satisfató-
dade entre diferentes observadores(6).
rios. Continua em mais de 50% a percentagem de
Tscherne e Südkamp (1990)(7) descreveram classifica-
amputa-
ção para fraturas com lesão concomitante das partes mo-
ção após fratura que compromete a perfusão distal do
les, com e sem exposição da fratura. Chamaram a
mem-
EPIDEMIOLOGIA atenção
bro(1).
para que, a despeito da não exposição, algumas fraturas
A incidência de fraturas expostas varia, evidentemente,
se
de região para região, dependendo da atividade das pes-comportavam como expostas, pelo comprometimento da
soas, do tamanho das cidades, entre outras variantes. barreira de partes moles que as separam do meio externo
Court- (quadro 2). As fraturas fechadas foram divididas em qua-
Brown et al (1996)(2) relatam incidência de 21,3% de fra-
tro tipos (graus 0 a 3) e as abertas em quatro tipos (graus
turas expostas de ossos longos. Nesse estudo, o osso 1 QUADRO 1
mais Classificação de Gustilo-Anderson modificada*
afetado foi a tíbia, com 21,6%, seguida do fêmur, com Modified Gustilo-Anderson’s classification
21,1% das fraturas expostas.
CLASSIFICAÇÃO Tipo I Fratura exposta, limpa, exposição < 1cm
a 4). Esse sistema é o mais usado na Europa. Seu aspectozado por Tscherne e Gotzen(8), se comportam como
forte é que considera cada componente do envelope deexpos-
par- tas (quadro 3).
tes moles e valoriza a lesão das partes moles nas fraturasEmbora detalhada, a classificação AO é prática apenas
sem exposição. para aqueles muito habituados a ela. A grande vantagem
O grupo AO propõe uma classificação mais detalhada,dela é permitir caracterização precisa das lesões,
diferenciando entre a lesão óssea e a das partes moles.facilitan-
Para do com isso a comparação de casuística de forma mais fi-
a lesão óssea propõe uma classificação alfanumérica bas-dedigna.
tante minuciosa, que é a mesma adotada para fraturas fe- Um grande problema que aparece em casos muito gra-
chadas(9). Para as lesões das partes moles subdividem emves de lesão de partes moles é a decisão, ainda na fase
aguda, de amputar ou tentar manter o membro. Classica-
três itens: lesão da pele, lesão neurovascular e lesão dos
músculos e tendões. Também incluem as lesões de pele mente, se diz que a condição mínima é a manutenção da
que não redundam em exposição inicial, mas, como perfusão. Também se dizia que de nada adianta manter
enfati- uma
QUADRO 2 QUADRO 3
Classificação de Tscherne* Classificação AO das lesões de partes
moles associadas a fraturas*
Tscherne’s classification
OA classification of soft tissue
lesions associated with fractures
Fratura fechada
Fratura exposta
Grau 1 Laceração cutânea por fragmento ósseo perfuran- III. MT – Lesão musculotendinosa
te; nenhuma ou pouca contusão da pele; fratura § MT1 – Nenhuma lesão
usualmente simples § MT2 – Lesão muscular circunscrita, um compartimento
apenas
Grau 2 Qualquer tipo de laceração cutânea com contu- § MT3 – Lesão muscular considerável, dois compartimen-
são simultânea circunscrita ou contusão de par- tos
tes moles e moderada contaminação; qualquer § MT4 – Defeito muscular, laceração de tendão, extensa
tipo de fratura contusão muscular
§ MT5 – Síndrome de compartimento, síndrome de es-
magamento, com ampla zona de lesão
Grau 3 Grave dano às partes moles, freqüentemente com
lesão vasculonervosa concomitante, fraturas
acompanhadas de isquemia e grave cominuição;
acidentes em ambientes rurais e contaminados III. NV – Lesão neurovascular
com material orgânico; síndrome de comparti- § NV1 – Nenhuma lesão
mento § NV2 – Lesão nervosa isolada
§ NV3 – Lesão vascular localizada
§ NV4 – Extensa lesão vascular segmentar
Grau 4 Amputação traumática total ou subtotal, necessi- § NV5 – Lesão combinada neurovascular, amputação sub-
tando reparo arterial para manter vitalidade do total ou total
membro distalmente
perna que teve seu nervo tibial posterior lesado, o que te (8). Para isso, o ideal seria aplicar gazes ou compressas
re-
sulta em pé insensível e não funcional. Também aqueles estéreis, mas, na falta destas, roupas limpas, não usadas,
casos de síndrome de esmagamento são de indicação in- ou mesmo um jornal novo pode servir (a tinta é anti-sépti-
questionável de amputação. Atualmente, o julgamentoca). é Imobilização improvisada pode ajudar a evitar mais
mais baseado em parâmetros como o resultado funcional trauma às partes moles, mas tentativas de redução
final que se pode, provavelmente, alcançar, a duração devem eo
custo desse tratamento, o impacto social (e familiar!) que ser evitadas, pois, além de não se saber a exata natureza
a opção por não amputar acarreta, etc. da
Na tentativa de criar maneira objetiva de tomar tal deci-lesão, existe o risco de levar detritos para a profundidade.
são, diferentes índices foram propostos: o MESI (Mangled No primeiro atendimento, no hospital, ou na sala de ur-
Extremity Severity Index), o PSI (Predictive Salvage Index),gência, é imperioso isolar a ferida, caso isso já não tenha
MESS (Mangled Extremity Severity Score), o LSI (Limb Sal- sido feito. Esse ambiente é altamente contaminado com
vage Index) e o NISSSA (Nerve injury, Ischemia, Soft-tissue germes hospitalares. Se houver necessidade de examinar
contamination, Skeletal injury, Shock and Age). Cada um a
deles estabelece um escore que tenta refletir a gravidade ferida, isso deve ser feito em ambiente favorável, onde
do trauma. cura-
Bonnani et al (1993)(10) e Roessler et al (1991)(11), ana-tivos contaminados não tenham sido feitos recentemente.
lisando a literatura em que esses índices foram emprega-Quando possível, deve-se indagar sobre o agente causa-
dos, mostram que eles não são totalmente confiáveis edor e o mecanismo do trauma. É importante fazer exame
que da extremidade distal à fratura, pesquisando pulsos,
o julgamento clínico pelo médico que faz o desbridamento motri-
é talvez mais importante. Há anos, estudos publicados cidade re- e sensibilidade; os achados devem ser anotados
latam certo percentual de casos que deveriam ser no
amputa- prontuário.
dos pelo uso desses índices e que tiveram resultado fun-Existe tendência, em casos de politrauma grave, de não
cional aceitável, e outros que, apesar de índice favorável, pedir radiografias nesse momento, para evitar perda de
não evoluíram para resultado funcional adequado. Segun- tem-
do Dirschl e Dahners (1996)(12), a recomendação ao orto- po, enviando o paciente para o centro cirúrgico. Isso acar-
pedista que se vê frente a essa decisão é de que, alémreta, de muitas vezes, dificuldade em obter radiografias ade-
Antibióticos sistêmicos
eventualmente empregar esses índices, faça no quadas, de forma que essa conduta deve ser reservada
Considerando-se a obrigatória contaminação, a desvita-
prontuário para
lização e o estado das defesas imunológicas muitas vezes
anotação detalhada das lesões encontradas, tirando inclu- casos que realmente a necessitem.
diminuído pela gravidade do trauma, é importante o uso
sive fotografias. Também a solicitação de segunda opinião
de antibiótico profilático.
de colega experimentado ou de cirurgião vascular pode
A maioria dos ortopedistas inicia a profilaxia com anti-
ser
biótico de amplo espectro que cubra germes gram-positi-
de valia na decisão e nos aspectos médico-legais.
vos e negativos: em geral a cefalosporina de primeira
gera-
ção. Em casos selecionados de contaminação com
TRATAMENTO detritos
orgânicos ou de contaminação intensa, o acréscimo de
Objetivos
um
Os objetivos do tratamento das fraturas expostas são:
aminoglicosídeo visando os gram-negativos é recomenda-
evitar a infecção, consolidar a fratura e preservar ou res-
do(13).
taurar a função dentro do limite possível.
A profilaxia do tétano (soro ou vacina) associada à peni-
Alcançar esses objetivos pode tornar-se tarefa complexa
cilina não deve ser esquecida em casos de feridas sujeitas
que envolve combate aos múltiplos fatores que
a
favorecem
infecção por clostrídeos.
a infecção, especialmente a instabilidade do foco de fratu-
A duração da antibioticoterapia é assunto controverso.
ra e a falta de cobertura adequada pelas partes moles.
Estudos mais recentes recomendam que ela não
ultrapasse
Abordagem inicial 24Desbridamento
a 48 horas, para evitar a seleção de germes
A assistência ao paciente portador de fratura expostaresistentes.
O ambiente próprio para fazer o desbridamento é a sala
deve cirúrgica. O objetivo é conseguir ferida limpa e sem teci-
começar no local do trauma. A ferida deve ser isolada odos desvitalizados.
quanto antes do meio externo contaminado e
contaminan-
286 Rev Bras Ortop _ Vol. 36, Nº 8 – Agosto, 2001
FRATURAS EXPOSTAS
A base do desbridamento é a retirada de todos os partes moles podem ser mantidos. Fragmentos articulares
tecidos devem ser mantidos para a reconstituição da superfície
que tenham perdido a perfusão. ar-
O uso de torniquete é excepcional, para aqueles casos ticular. Detritos incrustados no osso podem ser removidos
que apresentem sangramento de difícil controle. Um boa cuidadosamente com escova, sem aumentar a
tática é aplicar o torniquete, mas não inflá-lo, deixando-o
desperiosti-
apenas para quando necessário. zação. Somente após a completa retirada de todo o tecido
A pele é preparada lavando-a de forma centrífuga emdesvitalizado a irrigação deve ser feita(14).
torno da ferida, que não deve ser explorada ainda. Por mais meticuloso que seja o desbridamento, pode
Tricoto- permanecer tecido desvitalizado. Quando houver a menor
mia pode ser feita, se isto for necessário. A pele é então
dúvida, a ferida deve ser novamente explorada, sob anes-
pintada de forma também centrífuga, evitando a penetra- tesia e na sala cirúrgica, 48 a 72 horas após (second
ção da solução anti-séptica nos tecidos expostos. Os cam-look).
pos estéreis são então colocados. Embora não existam es- Irrigação
tudos prospectivos que indiquem que cirurgia em dois
Existe concordância geral que a irrigação abundante
tem-
aju-
pos seja vantajosa, é recomendável que, após o desbrida-
da a evitar a infecção, embora o volume a ser empregado
mento, a pele seja novamente pintada e novos campos
e
co-
o método a ser aplicado não estejam ainda estabelecidos.
locados. O material cirúrgico utilizado no desbridamento
A ação da irrigação é essencialmente mecânica,
é descartado e a equipe troca de luvas. Só então começa
carrean-
a
do os detritos. Nesse sentido, quanto mais volume, me-
fase de estabilização da fratura e cobertura da ferida.
lhor. Vale o ditado: “a solução para a poluição é a dilui-
A ferida original muitas vezes é suficiente para o desbri-
ção”.
damento. Caso necessário, pode-se ampliar a ferida, evi-
O uso de lavagem pulsátil mostrou resultado iniciais fa-
tando, contudo, desperiostizações e desinserções muscu-
voráveis(15,16), mas estudos mais recentes apontam
lares extensas. Ao final da cirurgia as extensões provoca-
possível
das podem ser suturadas.
desvitalização mecânica causada pelo sistema, além de
Atenção especial deve ser dada à musculatura. O mús-
poder levar material estranho particulado para a profundi-
culo desvitalizado é excelente meio de cultura, principal-
dade da ferida. O velho método gravitacional ou o uso de
mente para anaeróbios(8). Os clássicos sinais
seringa (pera de borracha) ainda é aceito e eficaz, além
desfavoráveis
de
em caso de dúvida quanto à vitalidade do músculo são:
pouco dispendioso.
coloração escura (cianose), ausência de contratilidade
Com relação à solução a ser empregada, os trabalhos
após
mostram que a melhor é a de Ringer. No entanto,
estímulo mecânico (pinça) ou elétrico (eletrocautério) e
soluções
ausência de sangramento ao corte. Se a dúvida persiste e
menos dispendiosas, como a salina fisiológica, podem ser
a
empregadas. Na FMRP-USP empregamos água destilada ar-
remoção é por demais radical, pode-se aguardar a revisão
mazenada em garrafões, à qual é acrescentada,
após 24 a 48 horas, quando então as características do
momentos
músculo necrótico não deixarão dúvida.
antes do uso, quantidade adequada de cloreto de sódio
A pele, quando desvitalizada, pode ainda ser utilizada
pre-
como enxerto ou curativo biológico provisório. A gordura
viamente pesada, embalada e esterilizada. Esses
é retirada e a pele pode ser recolocada, ou guardada em
garrafões
geladeira à temperatura ao redor de zero grau por vários
são colocados em plataforma elevada 1 a 1,5m acima do
dias, podendo ser usada como enxerto livre ou como co-
local cirúrgico e drenados por cifonagem com uma man-
bertura provisória.
gueira de látex para o campo cirúrgico. Bandeja estéril
Em lesão arterial ou venosa que requeira ligadura, esta
gran-
deve ser feita com fio monofilamentado não absorvível,
de para coletar o fluido que extravasa é colocada sob a
que resiste melhor à infecção. Nervo lesado e que
extremidade, com aspirador aplicado em seu fundo. O flu-
requeira
xo abundante e o dedo enluvado são eficazes na remoção
reparo pode ter seus cotos aproximados com fio monofila-
de detritos particulados.
mento longo para facilitar a ulterior localização no mo-
Com relação ao uso de antibióticos e anti-sépticos tópi-
mento do reparo definitivo.
cos no líquido de irrigação, embora existam evidências de
O osso desvitalizado deve ser removido, mesmo que
que possam ser eficazes(17), existem outros trabalhos(18,19),
disso
Rev Bras Ortop _ Vol. 36, Nº 8 – Agosto, 2001 287 (in-
que indicam efeitos nocivos tóxicos sobre as células
resulte perda óssea extensa. Fragmentos ainda aderidos
clusive osteoblastos). Mais evidências precisam dar supor-
às
te a essa técnica para que seja recomendável.
C.A.J. PACCOLA
Estabilização
Existe considerável evidência indicando que a fixação As fraturas expostas de graus II e III são inerentemente
estável da fratura exposta diminui a probabilidade de elainstáveis, requerendo estabilização adequada. A escolha
tornar-se infectada(20,21). A antiga conduta de aguardar do
al-
guns dias após o desbridamento para ver se a infecçãoimplante vai depender do osso comprometido, do grau de
ocor- desperiostização, da qualidade do envoltório de partes
re ou não e, a partir daí, fazer a estabilização, não temmoles e da necessidade de procedimentos de cobertura
sus- ul-
tentação. Perde-se com essa conduta a vantagem da teriores. Aqui é importante lembrar que nem sempre se
estabi- es-
lização no combate à infecção. tará fazendo a fixação definitiva da fratura; por exemplo,
A estabilização, com a reconstituição do comprimento ume fixador externo pode ser usado temporariamente até
do alinhamento, restabelece a tensão das partes moles, que as partes moles se encontrem em melhor estado (em
re- geral, uma a três semanas) e então outro tipo de fixação
duzindo assim os espaços mortos e a formação de (definitiva) substituirá o primeiro. Nesse sentido o fixador
hemato- pinless é de especial utilidade, por não penetrar o canal
mas, além de abolir a mobilidade anormal e ulterior trau-medular, evitando assim sua contaminação, tornando a
ma adicional, que ocorreria com a fratura não apli-
estabilizada. cação
Placade haste menos propensa à infecção.
Isso proporciona melhores condições às partes moles para A placa tem espaço claro na fixação das fraturas expos-
lutarem contra a infecção. Adicionalmente, a estabilização
tas que acometem a região metafisária. Nessa
possibilita movimentação precoce e indolor, o que ajuda a
eventualida-
diminuir o edema e a estimular a formação de calo ósseo. de, o seu posicionamento deve ser cuidadosamente esco-
Muitos princípios usados para outras fraturas são váli-
lhido, evitando que ela fique coberta com partes moles
dos também para as expostas. Assim, as fraturas articula-trau-
res e epifisárias devem ser tratadas com osteossíntesematizadas.
rígi- Nas fraturas diafisárias simples do “tipo A” em ossos
da, em geral com uso mínimo de implantes (parafusos com e boa cobertura (úmero, fêmur), a placa de
fios), ao passo que as da região diafisária são tratadas compressão
de
forma elástica, com princípio de estabilidade relativa (fi-
pode ser empregada, garantindo excelente estabilidade e
xador externo, placa ponte, haste intramedular). Na pouca desvitalização.
região Haste intramedular
metafisária o uso de placas pode ser adequado, ou entãoÉ a forma mais comumente usada de fixação definitiva
o na fratura exposta. No passado a haste já foi contra-
uso de fixador externo do tipo híbrido pode ser alternativa
indica-
para casos de má cobertura de partes moles. da nas fraturas expostas pelo risco de disseminação de
Fatores da maior importância são o respeito às partes even-
moles, evitando a desvitalização adicional e o cuidado tual
de infecção através do canal medular(9).
evitar implantes cobertos com partes moles Com a possibilidade de travamento, o potencial da
traumatizadas, haste
que possam vir a sofrer exposição secundária. As técnicasaumentou. O aparecimento das hastes maciças permitiu a
minimamente invasivas que empregam parafusos canula- redução de seu calibre, abolindo o espaço morto no seu
dos e a colocação de implantes com o auxílio de intensifi-
interior, possibilitando sua introdução sem o uso de fresa-
cador de imagem podem ser de muita valia. mento, o que, experimentalmente, preserva
A escolha do método de fixação deve resultar de um substancialmen-
ba-
lanço entre o benefício da estabilização no combate à in-te a circulação endostal, diminuindo, em caso de infecção,
fecção e a desvitalização que ela requer; o balanço deve a formação de seqüestro tubular(23). A sua confecção em
ser claramente positivo no sentido de mínima desvitaliza-titânio garante mais resistência à infecção(24).
ção. A supressão do fresamento trouxe, contudo, índice
Descolamentos musculares extensos e maior
desperiostizações de retarde de consolidação, de desvios secundários e de
devem ser evitados. quebra de implantes, pois o fresamento representa
Na fratura exposta de grau I a indicação de estímu-
estabilização lo importante para a formação de calo ósseo(25).
deve ser a mesma, como se ela não fosse exposta. Por Estudos mais recentes indicam não haver diferença,
exem- com
plo, se o tipo de fratura é indicativo de tratamento conser-
288 relação à infecção, entre fresar
Rev Brase não
Ortop fresar
_ Vol. 36, Nº 8 nas fraturas
– Agosto, 2001
vador, o mesmo pode ser feito no caso de exposição grau expostas(26,27), de forma que existe tendência mais recente
I(22). Da mesma forma a escolha do implante pode seguir deausar haste fresada nas fraturas expostas, o que
mesma orientação, conforme ditado pelo tipo da fratura. acarreta-
FRATURAS EXPOSTAS
os- dispen-
teossíntese interna. Embora a presença de infecção dediosos(30). Sobre as falhas de cobertura, um ou dois drenos
Cobertura de partes moles
bai- são colocados por debaixo de camada de Gelfoam®, que é
xoÉgrau
clássico
não que contra-indique
fraturas expostastotalmente
não devem
o emprego recortado segundo os contornos da ferida. Sobre o Gel-
ser da pla-
ca, é grande o risco quando a síntese empregada é a foam® e aderida às bordas de pele previamente
fechadas
haste
primariamente pelo risco de retenção de tecidos desvitali- preparadas
zados. Essa deve
intramedular, queser podea conduta
ativar e em praticamente
disseminar todascom éter ou benzina para aumentar a sua adesividade,
a infecção.
aque- uma
las em que exista trauma extenso às partes moles comfolha ou de Steri-Drape®, fechando a ferida hermeticamente.
sem grande contaminação. Entretanto, existem algumas vácuo é então aplicado, o que aumenta a aderência do
O
fra- curativo. Essa cobertura pode permanecer por três a
turas expostas com pouco trauma de partes moles e cinco
prati- dias, podendo ser inspecionada por transparência, para
camente limpas, que podem ser consideradas para fecha- ver
mento primário. se o Gelfoam® não está excessivamente embebido, o que
Segundo Tscherne e Gotzen (1983)(8), o fechamento pri- indica necessidade de troca. Ela é trocada
mário só deve ser feito se as seguintes condições sucessivamente
Rev Bras Ortop _ Vol. 36, Nº 8 – Agosto, 2001
estiverem até que o momento de cobertura definitiva seja 289
satisfeitas: 1) fechamento absolutamente sem tensão; alcançado. 2)
O fechamento definitivo não deve ser excessivamente
diferido. Godina (1986)(31) e Cierny e Byrd (1983)(32) mos-
C.A.J. PACCOLA
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