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DIREITO EMPRESARIAL

INTRODUÇÃO

- Código Comercial de 1.850: adotava a teoria dos atos de comércio (com origem
francesa);
- o Código Comercial era dividido em três partes:
- Parte 1: Comércio em Geral
- tratava do comércio em geral, cuidava do comerciante, que era a pessoa
física, e da sociedade comercial, que era a pessoa jurídica; foi revogada (a
parte 1) pelo atual artigo 2.045 do CC/02.
- Parte 2: Do Comércio Marítimo (em vigor).
- Parte 3: Das Quebras
- essa parte também foi revogada pelo decreto-lei 7.661/45, que logo foi
revogado pela lei 11.101/05;

- Segundo o Código Comercial de 1.850, comerciante era: pessoa física;


- Segundo o Código Comercial de 1.850, sociedade comercial era: pessoa jurídica que
com habitualidade, visando lucros, praticasse atos de comércio. Quem regulava esse
tema era o regulamento 737/1.850, assim se não estivesse regulado no regulamento,
não havia ato de comércio, não sendo a atividade qualificada como comércio. Era
regulado no regulamento, por exemplo: compra e venda de bens móveis; câmbio;
atividade bancária; transporte de mercadores; etc. Assim, segundo o regulamento,
uma imobiliária (compra e venda de bens imóveis) não era qualificada como
sociedade comercial, uma vez que só havia disciplina legal em relação à compra e
vende de bens móveis; O atual código civil, em seu artigo 2.045 revogou a parte
primeira do Código Comercial de 1.850;
- Arribada forçada, na parte do comércio marítimo, era a parada, mudando de rota o
navio. É permitida somente em casa de iminência de ataque inimigo ou de pirata.

- Quadro Atual:
- o sistema atual passou a adotar a teoria da empresa (vinda da Itália) e é um
sistema subjetivo;
- tal sistema trouxe:
- empresário individual: pessoa física que individualmente, sozinho, realiza
uma atividade empresarial. O empresário individual tem o CNPJ só para ter o
mesmo tratamento do que a da pessoa jurídica. Não há desconsideração da
personalidade jurídica no caso de empresário individual, uma vez que não há
personalidade jurídica. Quem exerce a atividade é a pessoa do empresário.
- CONCEITO: empresário é aquele que profissionalmente exerce uma
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens
ou de serviços

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.

- profissionalmente  busca trazer a idéia de habitualidade, de


continuidade;

- atividade econômica  traz a idéia de finalidade lucrativa;


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- organizada  segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho
organização é a reunião dos quatro fatores de produção: a) mão de
obra contratada; b) matéria prima; c) capital; d) tecnologia;
Obs.: segundo o Professor Fábio Ulhoa, na ausência de um desses
fatores, não se fala mais em organização; esse contexto também
se aplica à sociedade empresária. O posicionamento desse
professor é o que a maioria dos concursos tem adotado. No
entanto, há concursos que dizem que a organização ocorre quando
“a atividade fim não depender exclusivamente da pessoa física
empreendedora ou do sócio da sociedade”.

- segundo o parágrafo único do artigo 966 do CC/02 “Não se


considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constitui elemento de empresa”.

Art. 966. - Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.

- no Brasil, quem exerce esse tipo de atividade são os profissionais


liberais, que não são empresários:

Científica médico; contador; advogado;


Literária escritor; jornalista;
Artística  desenhista; artista plástico; cantor;
dançarino;

Questão de concurso: dois ortopedistas fazem uma


sociedade e montam uma clínica, essa clínica é uma
sociedade empresária?
Resposta: Não, uma vez que a atividade que exercem está
definida no código civil como não formadora de sociedade
empresária. Ainda que tenha na clínica faxineira e enfermeira, a
sociedade continuará não sendo empresária, uma vez que mesmo
com o concurso de auxiliares e colaboradores não se configura a
sociedade empresária, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

CONCEITO DE EMPRESA (perfil funcional de Asquini): empresa é a


atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens
ou de serviços; empresa significa atividade:

Empresa  atividade

- o que é empresário é a sociedade, e não o sócio. Empresário só é


aquele que sozinho organiza uma atividade empresarial;

- sociedade empresária: pessoa jurídica, segue basicamente as mesmas


regras do empresário individual, será mais estudado posteriormente;

Direito Empresarial 2
- Requisitos para ser empresário individual:
- empresário individual está disciplinado no artigo 972 do CC/02;

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não
forem legalmente impedidos.

- o empresário individual deve:


- estar em pleno gozo da capacidade civil;
- não ter impedimento legal;

? – O menor poderá ser empresário individual?


Resposta: Depende. Caso ele esteja emancipado, ele está em pleno
gozo da capacidade civil, podendo ser empresário individual. Caso ele
não esteja emancipado, ele não pode iniciar uma empresa, mas pode
continuar uma empresa (empresa aqui usada tecnicamente, no sentido
de atividade) antes exercida por seus pais ou por seu autor de herança.
Essa não é uma regra de proteção ao menor, mas sim uma regra de
continuação da empresa. Em caso de incapacidade superveniente, pode
o incapaz continuar a empresa. Tanto no caso da incapacidade
superveniente quando no caso do menor, são necessários dois
requisitos: ele deve ser representado ou assistido + autorização
judicial.

? - O empresário individual tem seus bens pessoais e seus bens


empresariais, seria possível a separação desses bens?
Resposta: Não, uma vez que o direito brasileiro adotou o princípio da
unidade patrimonial, sendo o patrimônio único, não havendo como
separá-lo. As dívidas pessoais recairão sobre os bens empresariais, e as
dívidas empresariais recairão sobre os bens pessoais. O artigo 974, §2º,
diz que não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o
incapaz possuía ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que
estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que
conceder a autorização para o exercício da empresa. Essa regra do §2º
protege os bens do incapaz, tratando-se de um patrimônio de afetação.

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes
exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da
empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os
pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da
interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a
autorização.

- o STJ recentemente entendeu que quem é médico não pode ser sócio
de farmácia, sendo que para ter uma, deveria pedir desligamento do
Conselho de Medicina;

- Empresário casado:
- o empresário individual casado que compra um imóvel destinado à sua
atividade empresarial, daí, passando por uma crise, resolve vender o imóvel. Ele
precisa de autorização do cônjuge ou não? Nesse caso, prevalece a regra do
artigo 978 do CC/02, que diz que “o empresário casado, pode, sem necessidade
de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que
integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”.
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Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de
bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

- Obrigações do empresário:
- registro: prevista no artigo 967 do CC/02, considera obrigatória a inscrição do
empresário no Registro Público de Empresas Mercantis na respectiva sede, antes
do início de sua atividade. O Registro Público de Empresas Mercantis está
definido na lei 8.934/94, dividindo-se em dois órgãos: DNRC (Departamento
Nacional de Registro de Comércio) e Junta Comercial. O DNRC é um órgão federal
normatizador e fiscalizador. Já a Junta Comercial é estadual, uma vez que cada
Estado possui uma junta comercial, sendo ela um órgão executor. A Junta
Comercial é um órgão subordinado, tanto no âmbito da técnica (subordinada à
DNRC), quanto no âmbito administrativo (subordinada ao Estado). O STF, no RE
199.793/RS, firmou competência da Justiça Federal para julgar mandado de
segurança contra Presidente da Junta Comercial. O artigo 971 traz uma exceção
à essa regra do registro, tratando-se daquele que tem atividade rural. Segundo
tal artigo, “o empresário cuja atividade rural constitua a sua principal profissão,
pode, observada as formalidades [...]” e ainda complemente “[...] caso em que,
depois de inscrito, ficará equiparado para todos os efeitos, ao empresário sujeito
á registro.” Ou seja, só se aplica as regras do direito empresarial para aqueles
que têm registro na Junta Comercial. Quanto à natureza jurídica do registro, para
o empresário comum, é mera condição de regularidade1. Para o empresário
rural, o registro tem natureza constitutiva.

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, antes do início de sua atividade.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as
formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao
empresário sujeito a registro.

- conseqüências da ausência do registro:


- não poderá pedir falência de um terceiro;
- tratando-se de sociedade, a responsabilidade do sócio será ilimitada;
- não poderá pedir recuperação judicial;
- não poderá participar de licitação;

- escrituração dos livros comerciais: os livros comerciais se classificam em


obrigatórios (exigido por lei) ou facultativos (a lei não exige, mas permite). Os
livros obrigatórios se dividem em comum (exigido para todo empresário) e
especial (é obrigatório, mas somente exigido em casos excepcionais, como no
caso do livro de registros de duplicatas). Livro obrigatório comum, segundo o
artigo 1.180 do CC/02 é o livro diário, podendo este livro ser substituído por
fichas em caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por
fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do de resultado econômico.

1 Os enunciados 198 e 199 do Conselho da Justiça Federal na 3ª Jornada de Direito Civil tratam do
tema. Afirmam ainda que o registro não é requisito para caracterização do empresário ou da sociedade
empresária, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O registro é apenas requisito da
regularidade.

Direito Empresarial 4
- qual é o princípio que rege a escrituração dos livros? O artigo 1.190 do
CC/02 responde essa pergunta, tratando-se do princípio da sigilosidade.
Livros são sigilosos, ressalvados os casos previstos em lei.

Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer
pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam,
ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.

- exceções ao sigilo:

a) exibição parcial  em qualquer ação judicial pode-se pedir a


exibição parcial (súmula 260 do STF);

Súmula 260 - ../jurisprudencia/l O EXAME DE LIVROS COMERCIAIS, EM AÇÃO JUDICIAL,

FICA LIMITADO ÀS TRANSAÇÕES ENTRE OS LITIGANTES.

b) exibição total  cai na regra do artigo 1.191 do CC/02, que diz


que o juiz só poderá autorizar a exibição integral quando
necessário para resolver questões relativas a sucessão, comunhão
ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em
caso de falência. Portanto, os casos são: sucessão; sociedade;
administração ou gestão à conta de outrem; falência;

Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando
necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta
de outrem, ou em caso de falência.
§ 1o O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar
que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade
empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à
questão.
§ 2o Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz.

c) o artigo 1.193 do CC/02 diz que essa sigilosidade não se aplica


às autoridades fazendárias, quando do exercício da fiscalização
de impostos;

Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não
se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos
das respectivas leis especiais.

- a escrituração é obrigatória, mas há dispensa no caso do artigo 1.179, §2º,


que é o caso do “pequeno empresário” (pequeno empresário é o da Lei
Complementar 123/06, mais precisamente no artigo 68 da lei)

Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta
Lei Complementar que aufira receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais).

- no caso de ausência de escrituração, o artigo 178 da lei 11.101/05 (Lei de


Falências) prevê como crime falimentar o fato de deixar de escriturar.
Lembrando que esse fato só constituirá crime se a empresa vier à falência.
- caso o empresário falsifique esse livro, ele terá cometido crime de
falsificação de documento público (art. 297, §2º do CP);

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- realização de demonstrativos contábeis periódicos: o empresário tem a
obrigatoriedade de fazer dois tipos de balanço: o balanço patrimonial2 (art. 1.188)
e o balanço de resultado econômico3 (art. 1.189)

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

- de acordo com a doutrina majoritária, também é chamado de Fundo de Comércio,


Azienda, Fundo Empresarial;
- tal assunto está previsto nos artigos 1.142 ao 1.149 do CC/02 (artigos de leitura
obrigatória);

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por
empresário, ou por sociedade empresária.

Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou
constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só
produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade
empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do
estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência,
desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de
um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência
ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência.
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo
persistirá durante o prazo do contrato.

Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos
estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o
contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso,
a responsabilidade do alienante.

Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos
respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de
boa-fé pagar ao cedente.
- Conceito:
- está no artigo 1.142 do CC/02, diz que “estabelecimento é todo complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária.” Os bens são bens corpóreos (materiais) e incorpóreos (imateriais).
São exemplos de bens corpóreos ou materiais: móveis; maquinários; mercadoria;
equipamentos; imóvel; veículos; etc. São exemplos de bens incorpóreos: ponto
comercial; nome empresarial; marca; patente; etc. Vale lembrar que o
estabelecimento não é só um conjunto de bens, mas sim um conjunto de bens
organizados (cada um na sua função ou finalidade).
- universalidade de direito ocorre quando os bens são reunidos em decorrência
da vontade da lei (ex.: massa falida; herança). Universalidade de fato ocorre
quando a universalidade se dá em razão da vontade do empresário ou da

2Apura o ativo e o passivo.

3 Apuro as perdas e lucros.

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sociedade empresária. Portanto, o estabelecimento trata-se de uma
universalidade de fato.
- o estabelecimento não é sujeito de direitos, porque quem exerce a atividade
empresária é a sociedade empresária ou o empresário. O estabelecimento é
objeto unitário de direitos (conforme lição do artigo 1.143 do CC/02). Sendo
objeto, pode-se vendê-lo, arrendá-lo, dá-lo em usufruto, etc.
- a compra e venda do estabelecimento empresarial deve ser dar por um
contrato, contrato esse que recebe o nome de trespasse.
- como exemplo, a padaria KI PÃO LTDA possui dois estabelecimentos:
Estabelecimento I e Estabelecimento II. Se o estabelecimento II for vendido,
deve-se fazer um trespasse. Porém, se na verdade, o estabelecimento II não for
estabelecimento, e sim um simples imóvel, deverá ser vendido por contrato de
compra e venda normal. Para ser estabelecimento, os bens devam estar
diretamente destinados à atividade. Portanto, fica claro que o estabelecimento é
diferente de patrimônio. O estabelecimento até integra o patrimônio, mas não
significa que o patrimônio é o estabelecimento.
- em caso de alienação, segundo o artigo 1.146 do CC/02, o adquirente responde
pelas dívidas anteriores desde que a dívida esteja regularmente contabilizada.
Porém, tal regra não se aplica às dívidas trabalhistas (art. 10 e art. 448 da CLT) e
dívidas tributárias (art. 133 do CTN). O alienante responde de forma solidária
pelo prazo de um ano: se a dívida for vencida, conta-se um ano da data da
publicação do registro contrato de trespasse; se a dívida ainda não for vencida,
conta-se um ano da data do vencimento. Quando não há venda do
estabelecimento, e sim transferências de quotas, o alienante responde nos
termos do artigo 1.103, parágrafo único do CC/02 pelo prazo de 2 anos (esse é o
caso da sociedade, onde há cessão de quotas).

- a eficácia do contrato de trespasse depende de uma das duas coisas:


- autorização de todos os credores;
- quitação do débito com todos os credores;
- sem cumprir essas exigências, o art. 94, III, alínea “c” da nova lei de
falências (Lei 11.101/05) diz que o credor pode inclusive pedir a falência
se o estabelecimento foi transferido sem cumprir os requisitos de
eficácia do contrato de trespasse, isso se o patrimônio restante não for
composto de bens suficientes para arcar com a dívida. O credor
também pode optar por pedir a ineficácia desse contrato de trespasse
celebrado;
- o art. 1.147 do CC/02 diz que se o alienante vende um estabelecimento e o
contrato é silente a respeito de concorrência, o alienante não pode fazer
concorrência ao adquirente pelo prazo de 5 anos subseqüente à
transferência;
- segundo o art. 1.148 do CC/02, quando alienado o estabelecimento, haverá
uma sub-rogação dos contratos, assim, o adquirente vai subrogar-se nos
contratos celebrados anteriormente pelo alienante, visando a continuidade;
- no caso de aluguel, onde compra-se o estabelecimento e o imóvel
onde situa-se a empresa não é do alienante, e sim alugado, não há sub-
rogação automática do contrato de aluguel, uma vez que pela Lei da
Locação, o locador precisa autorizar a transferência dessa locação;

- Aviamento/Goodwill:
- segundo doutrina majoritária (Oscar Barreto Filho) aviamento é o potencial de
lucratividade do estabelecimento;
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- assim, o aviamento é o atributo do estabelecimento, assim ele não pode ser
vendido separadamente, porque é impossível, uma vez que ele não é elemento
integrante, e sim atributo do estabelecimento;
- o autor Oscar Barreto Filho faz algumas comparações: segundo ele, o
aviamento está para o estabelecimento assim como a saúde está para o corpo;
- o aviamento está relacionado à clientela, mas o conceito de aviamento não
deve ser entendido como clientela; clientela também não é elemento do
estabelecimento, uma vez que a clientela é uma situação de fato;

- Ponto Comercial:
- ponto comercial é a localização do estabelecimento empresarial;
- a lei protege o ponto comercial por meio da chamada ação renovatória (prevista
na lei 8.245/91 nos arts. 51 e seguintes); tal ação tem por objetivo a renovação
compulsória do contrato de locação empresarial, dependendo dos seguintes
requisitos cumulativos:
- contrato escrito e com prazo determinado;
- o contrato ou a soma ininterrupta dos contratos tem que totalizar prazo
contratual mínimo de 5 anos;
- é necessário que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de atividade
econômica nos últimos 3 anos;

- Propriedade Industrial4:
- regido pela lei 9.279/96;
- o objetivo dessa lei é o de garantir a exclusividade de uso;
- a exclusividade serve para: produzir sozinho ou licenciar o uso a terceiros
interessados (royalties – remuneração decorrente dessa licença de uso);
- bens da propriedade industrial5 (que são classificados como bens móveis):
- invenção;
- modelo de utilidade;
- desenho industrial;
-marca;
- repressão à falsa indicação geográfica;
- repressão à concorrência desleal;
- a exclusividade de uma invenção ou de um modelo de utilidade se dá
por meio da patente;
- a patente tem finalidade de proteção e incentivo ao desenvolvimento
tecnológico;
- o desenho industrial e a marca têm registro;
- tanto a patente quanto o registro é feito no INPI (Instituto Nacional de
Propriedade Industrial) que é uma autarquia federal com sede no Rio de
Janeiro;
- prazos:
- invenção  20 anos do depósito no INPI
- modelo de utilidade  15 anos do depósito no INPI
- desenho industrial  10 anos do depósito no INPI
- marca  10 anos da concessão

4 A propriedade intelectual é um gênero que tem como espécie o direito autoral e a propriedade
industrial.

5 A frase “I MI DEI MAL” serve para decorar esses 4 bens da propriedade industrial. Vale lembrar que o
programa de computador não se encaixa na propriedade industrial, e sim no direito autoral.

Direito Empresarial 8
- invenção e modelo são improrrogáveis, ou seja, a patente
não admite prorrogação, caindo ela em domínio público.
- o registro, ao contrário, admite prorrogação: o desenho
industrial pode ser prorrogado por até 3 vezes, sendo cada
prorrogação de 5 anos, caindo em domínio público depois da
terceira prorrogação; a marca não tem limite de prorrogação,
e a prorrogação é sempre por igual período (de dez em dez
anos).

- a lei não conceitua o que é invenção, mas traz um rol do que não se
considera invenção (art. 10 da lei):
- programa de computador;
- método cirúrgico;
- regras de jogo;
- planejamento tributário;
- obras científicas, literárias ou artísticas;
- métodos matemáticos;

- Requisitos da Invenção:
- novidade (art. 11 da lei): aquilo que não está compreendido no estágio
atual da técnica;
- atividade inventiva (art. 13 da lei): sempre que, para um técnico no
assunto, não decorra de maneira óbvia ou evidente do estado da técnica
(estágio atual da técnica) – deve ser algo engenhoso;
- aplicação industrial: o invento deve ser industrializável;
- não impedimento (art. 18 da lei): no artigo 18, a lei prevê a não
possibilidade de ser objeto de patente:
- não podem ser patenteadas invenções contrárias à moral, à ordem e à
saúde pública;
- tudo que for resultado ou resultante de transformação do núcleo
atômico não poderá ser patenteado;
- não pode ser patenteado o todo ou parte dos seres vivos, exceto os
microorganismos transgênicos;

- Artigo 71 da Lei 9.279/96 – Licença Compulsória:


- em caso de interesse público ou de emergência nacional é possível a
licença compulsória (é o que os leigos chamam de quebra de patente);
- a licença compulsória deve ser dada pelo Poder Executivo Federal;
- tal licença tem caráter temporário e não tem exclusividade;
- não haverá prejuízo para o titular da patente, que vai receber um
percentual relativo à produção;
- a licença compulsória foi trazida pelo decreto 6.108 de 4 de maio de 2007;

- Modelo de Utilidade:
- a definição de modelo de utilidade está no artigo 9º da lei de propriedade
industrial;
- é o objeto de uso prático ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que
apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.
- o modelo de utilidade traz uma utilidade maior para uma invenção já realizada;
- exemplo de modelos de utilidade:
- cabo anatômico em vassoura;
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- churrasqueira sem fumaça (segundo o STJ);
- guarda sol para ser colocado em área cimentada;
- camisinha com sabor;

- Desenho Industrial:
- o artigo 95 da lei de propriedade industrial traz o conceito de desenho
industrial;
- é a forma plástica de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que
possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original
na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial;
- visual novo; estética bonita; design arrojado; visual arrojado  são expressões
caracterizadoras do desenho visual;
- a doutrina chama o desenho industrial de visual fútil, pois não traz nenhum tipo
de utilidade, se restringindo à estética;
- exemplos de desenho industrial: aspirador de pó com design moderno;
garrafa de água mineral com design moderno; garrafa térmica com desenho
diferenciado e bonito; camisinha colorida;

- Marca:
- o artigo 122 da lei de propriedade industrial (Lei 9.279/96) traz o conceito de
marca;
- marca é o sinal distintivo, não compreendido nas proibições legais. A marca
busca identificar um produto ou um serviço;
- no Brasil, sinal sonoro (som) não pode ser registrado como marca, sendo
passível de registro somente aquilo que é visualmente perceptível;

- Espécies de Marca (art. 123, Lei 9.279/96):


- marca de produto ou serviço: é aquela utilizada para distinguir produto
ou serviço de um outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa;
- marca de certificação: é aquela usada para atestar a conformidade de
um produto ou de um serviço com determinadas especificações técnicas,
notadamente quanto à qualidade, natureza e material utilizado (ex.:
INMETRO; ISO);
- marca coletiva: é aquela usada para identificar produtos ou serviços
provindos de membros de uma determinada entidade (ex.: Associação
Brasileira dos Produtores de Café);

- Requisitos da Marca:
- novidade: essa novidade não é absoluta, e sim relativa, uma vez que ela
está relacionada à determinada classificação no INPI;
- não-colidência com marca notória: a marca não pode conflitar,
confrontar com uma marca notória; marca notória é aquela ostensivamente
pública e conhecida, de popularidade internacional (ex.: Nike; Visa;
Motorola; Sony; Honda; Toyota); marca notória não depende de registro no
INPI para ter proteção legal (isso porque o Brasil é signatário da Convenção
da União de Paris); não se deve confundir marca notória de marca de alto
renome: Casas Bahia não tem reconhecimento internacional, não sendo uma
marca notória, e sim uma marca de alto renome (o INPI ao reconhecer uma
marca de alto renome protege a marca em todos os ramos de atividade, não
apenas no ramo da atividade da marca, assim, não pode haver uma água
mineral chamada Casas Bahia por exemplo);

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MARCA NOTÓRIA MARCA DE ALTO RENOME

- não precisa de registro; - precisa de registro;

- protege apenas no ramo de - protege em todos os itens de


atividade; classificação;

- tem proteção internacional - alcança somente o Brasil;

- não impedimento legal: os casos de não-impedimento estão no artigo


124 da lei de propriedade industrial, sendo os mais importantes deles:
- símbolo oficial e monumentos nacionais ou internacionais não podem
ser registrados como marca;
- a marca não pode representar falsa indicação geográfica (ex.: um
perfume feito em campinas não pode ser chamado de Francês; um
charuto feito em São José dos Campos não pode se chamar de charuto
cubano);
- designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não
requerido o registro pela própria entidade ou órgão público não podem
ser registrados como marca (ex.: não se pode abrir um cursinho jurídico
e chamá-lo de MP, STF);

- Formas de Extinção da Propriedade Industrial:


- expiração do prazo de vigência;
- renúncia;
- caducidade (ex.: artigo 143 da lei de propriedade industrial – caducará o
registro a requerimento de qualquer pessoa com o legítimo interesse, se
decorrido 5 anos da sua concessão, na data do requerimento: o uso da marca
não tiver sido iniciado no Brasil; o uso da marca tiver sido interrompido por mais
de 5 anos);
- falta de pagamento da retribuição anual;
- inobservância do artigo 217 da Lei de Propriedade Industrial: “Art. 217: a
pessoa domiciliado no exterior deverá constituir e manter procurador
devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes para representá-la
administrativa e judicialmente inclusive para receber citações.”

- Aspectos Processuais:
- Patente:
- pode ser ajuizada uma ação de nulidade de patente tanto no âmbito
judicial quanto no âmbito administrativo. O prazo no âmbito administrativo é
de seis meses contados da concessão da patente. No âmbito judicial, pode-
se entrar com a ação enquanto a patente for vigente.

- Desenho Industrial:
- no âmbito administrativo, o prazo é de cinco anos contados da concessão;
no âmbito judicial, o prazo se dá enquanto for vigente o registro;

- Marca:
- no âmbito administrativo, o prazo é de 180 dias contados da expedição do
certificado de registro; no âmbito judicial, o prazo é de 5 anos contados da
expedição do certificado.

Direito Empresarial 11
- a ação judicial de nulidade de marca ou de patente deve ser ajuizada na justiça
federal, e se o INPI não for o autor da ação, ele deverá intervir no processo.
- o prazo de contestação dessas ações no âmbito judicial é de 60 dias (o prazo
comum da lei de propriedade industrial é de 60 dias, salvo quando definido em
contrário);

- Nome Empresarial:
- é o elemento de identificação do empresário ou da sociedade empresária;
- Modalidades:
- Firma:
- Firma Individual;
- somente o empresário individual pode ter firma individual;
- Firma Social (Razão Social é a firma individual);
- só a sociedade pode ter;

- Denominação:
- somente a sociedade pode ter;

- Composição:
- Firma Individual:
- segundo o artigo 1.156 do CC/02, coloca-se o nome do empresário
individual, que pode estar completo ou abreviado;
- exemplo: Rogério Sanches  R. Sanches ou Rogério Sanches
- na firma individual basta ter o nome, não precisando acrescentar nada
obrigatoriamente, podendo acrescentar algo no nome se quiser. O que
se “pode” acrescentar é uma designação mais precisa de sua pessoa ou
de sua atividade:
- Ex.: Rogério Sanches, o Galetinho; Rogério Sanches , Comércio de
Laquês.

- Firma Social:
- a regra geral é o nome(s) do(s) sócio(s); o nome do sócio, igualmente
à firma individual pode ser completo ou abreviado;
- exemplo: Pedro Taques e André Barros; P. Taques e A. Barros; P.
Taques e Companhia6;
- assim como na firma individual, o acréscimo de uma designação mais
precisa do objeto social é facultativa;
Ex.: Pedro Taques e André Barros Comércio de Miniaturas;

- Denominação:
- a regra geral é colocar na composição do nome social um elemento
fantasia (ex.: Globex; Pingo de Ouro; Pena Branca; Alta Tensão;
Primavera);
- nome de sócio é possível na denominação, mas como medida
excepcional:
- homenagear o sócio (ex.: acionista fundador, sócio que contribuiu
para o sucesso da sociedade);

6 O termo “ e companhia” significa que tem outros sócios na companhia. Porém, se a expressão
“companhia” estiver no início do nome ou no meio do nome comercial, não tem nada a ver com sócios,
mas sim significa que aquela sociedade é uma sociedade anônima. Ex.: Companhia Vale do Rio Doce.

Direito Empresarial 12
- a designação do objeto social é obrigatória na denominação, ou seja,
deve ser colocado o ramo de atividade, ex.: Pena Branca Transportes;
Globex Comércio de Celulares – art. 1.158, §2º do CC/02.

- Quadro Comparativo:
FIRMA SOCIAL DENOMINAÇÃO

- nome dos sócios; - elemento fantasia sem o nome


dos sócios (excepcionalmente
admite-se o nome do(s) sócio(s));

- sociedade com sócio com - sociedade tem sócio com


responsabilidade ilimitada (ex.: responsabilidade limitada (ex.:
Sociedade em Nome Coletivo; Sociedade Anônima; Sociedade
Sociedade em Comandita Limitada);
Simples);

- exceção: Sociedade Limitada


(art. 1.158)¹;
- é facultativa a designação do - é obrigatória a designação do
objeto social; objeto social;

- a assinatura será a reprodução - a assinatura será a assinatura


do nome empresarial; pessoal do representante legal;

¹Art. 1.158 - Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação,


integradas pela palavra final “limitada” ou a sua abreviatura.

- Observações típicas de concurso:


- se o examinador perguntar sobre o que seja “Secos e Molhados LTDA” a
resposta é que é uma denominação;
- Sociedade Anônima pode ter firma social? Não, ela só pode ter
denominação;
- Sociedade Limitada foge à regra, e pode ter firma ou denominação.
- Pedro Taques e André Barros LTDA é firma social porque não tem
designação do objeto social (atividade);

- Proteção do nome empresarial:


- a lei 8.934/94, em seu artigo 33, diz que a “proteção ao nome empresarial
decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma
individual, de sociedades ou de suas alterações”.
- portanto, a proteção do nome empresarial decorre automaticamente do
registro do empresário ou da sociedade empresária na junta comercial;
- o âmbito de proteção geográfica dessa proteção é estadual, uma vez que a
junta comercial é órgão estadual (art. 1.166 do CC/02);
- deve ficar claro que nome empresarial é diferente de marca: o nome
empresarial está identificando o empresário individual ou a sociedade
empresária, já a marca está, em regra, identificando um produto ou um
serviço. A título de exemplo, podemos ir à Loja Reunidas de Calçados LTDA e
compra uma chuteira de marca GOL; pode ser que a Companhia Cacique de
Café Solúvel (denominação de Sociedade Anônima) seja dona da marca Café
Direito Empresarial 13
Pelé; Vulcabrás S/A (sociedade anônima) pode possuir várias marcas:
Olympikus, Reebok, Azaléia;
- o registro da marca deve ser feio no INPI (órgão federal), já o nome
empresarial deve ser registrado na junta comercial (órgão estadual);
- nome empresarial também é diferente de título de estabelecimento: o
nome empresarial identifica o empresário ou a sociedade empresária, já o
título de estabelecimento é um apelido comercial dado a um
estabelecimento empresarial, exemplo:
- Companhia Brasileira de Distribuição (nome empresarial)  Pão
de Açúcar (título do estabelecimento7);
- Globex Utilidades S/A (nome empresarial - denominação)  Ponto
Frio (título de estabelecimento);
- Pedro Franco e Renata Braga Produtos Alimentícios LTDA
(nome empresarial – sorveteria)  Beijo Gelado (título de
estabelecimento)  Panegel (nome do panetone com sorvete
distribuído pela empresa);

- há casos em que usam o mesmo nome para nome empresarial, marca e


título do estabelecimento, para facilitar a vida do consumidor (ex.: Itaú);
- título de estabelecimento não é registrado, não tendo proteção legal em
regra. A lei só diz que o uso indevido do título de estabelecimento pode
gerar crime de concorrência desleal;

- Princípios:
- o nome empresarial obedecerá aos princípios da novidade e veracidade
(art. 34 da lei 8.934/94);
- Princípio da Novidade  não poderão coexistir, na mesma unidade
federativa, dois nomes empresariais idênticos ou
semelhantes, prevalecendo aquele já protegido pelo
prévio arquivamento (art. 1.163 do CC/02). O nome
empresarial, ao contrário do nome civil, não admite
homonímia nem semelhança que possa causar
confusão;

- Princípio da Veracidade  também chamado de princípio da


autenticidade, impõe que a firma individual ou a
firma social seja composta a partir do nome do
empresário ou dos sócios respectivamente. O
nome deve ser verdadeiro, deve corresponder
com a realidade, com a atualidade; segundo o
artigo 1.165 “[...] o nome do sócio que vier a
falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser
conservado na firma social.”
- Observações:
- o nome empresarial é um direito da personalidade? O artigo 52 do CC/02
estendeu os direitos de personalidade à pessoa jurídica, portanto, o nome
empresarial é um direito de personalidade, segundo a doutrina majoritária;
- o nome empresarial é alienável? Quando essa pergunta é feita na primeira
fase, devemos responder que a regra do artigo 1.164 do CC/02 que diz que
“o nome empresarial não pode ser objeto de alienação”. Caso essa pergunta

7 O uso de nome fantasia para representar o título de estabelecimento não é indicado.

Direito Empresarial 14
seja feita em uma segunda fase ou em um exame oral, deve ser feito um
comentário: para alguns doutrinadores (embora não seja posição majoritária
ainda) haverá a possibilidade de alienação da denominação e não da firma
social;
- título de estabelecimento pode ser alienado, por isso na prática a discussão
acima fica meio vazia, uma vez que o interesse maior sempre é pelo título
do estabelecimento;
- a ação que busca anulação do nome empresarial registrado posteriormente
na mesma unidade federativa e com o mesmo nome tem prazo
imprescritível, assim, pode a ação de anulação de nome empresarial
indevido ser ajuizada a qualquer tempo (art. 1.167 do CC/02);

DIREITO SOCIETÁRIO

- Quadro Geral das Sociedades:


- Sociedade Não-personificada: não possui personalidade jurídica;
- Sociedade em comum:
- encontrada no artigo 986 do CC/02;
- se a sociedade não tem registro ela se chama de sociedade em
comum, ou seja, ela é uma sociedade que não foi levada a registro;
- para que não se incentive esse tipo de sociedade, deve-se criar um
regramento que incentive o registro, portanto, nessa sociedade, a
responsabilidade do sócio será ilimitada;
- a responsabilidade que o sócio tem perante a sociedade sempre será
subsidiária (não importando o tipo de sociedade); assim, o sócio tem o
famoso benefício de ordem (art. 1.024 do CC/02):
- 1º  devem ser perseguidos os bens da sociedade;
- 2º  insuficientes os bens da sociedade, deve-se perseguir os
bens pessoais;
- a responsabilidade que os sócios tem perante os demais sócios será
uma responsabilidade solidária;
- aquele que contratou pela sociedade não pode alegar o benefício de
ordem (por exemplo, aquele que fez um contrato, um leasing, uma
alienação fiduciária, etc);
- o artigo 988 chama o patrimônio da sociedade comum de patrimônio
especial e diz que quem vai ser o titular desse patrimônio são os sócios
da sociedade, portanto, os sócios serão co-titulares do patrimônio
especial;

- Sociedade em conta de participação8:


- encontrada no artigo 991 do CC/02;
- nesse tipo de sociedade temos duas categorias de sócios:
- sócio ostensivo: é ele quem vai exercer o objeto social
(administra, explora a atividade, etc.); ele tem responsabilidade
exclusiva (ele quem responde perante terceiros); age em seu nome
individual (sociedade em conta de participação, como não tem
personalidade jurídica, também não terá nome empresarial,
portanto, tudo que o sócio ostensivo faz, faz em favor da sociedade
em nome próprio);

8 Esse é disparado o tema do Direito Societário que mais cai em prova.

Direito Empresarial 15
- sócio participante: só participa dos resultados; também é
chamado de “sócio-oculto9”;
- o artigo 993 do CC/02 diz que “[...] o contrato social produz efeito
somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em
qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade.10”

- Sociedade Personificada: possui personalidade jurídica;


- Quanto ao objeto:
- Sociedade Empresária;
- definida no artigo 982 do CC/02;
- é aquela que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro;
- organização empresarial + produção/circulação de bens/serviços;
- Sociedade Simples;
- definida por exclusão pelo artigo 982 do CC/02;
- sociedade simples é a sociedade tida por não-empresária;
- sociedade simples é aquela que exerce uma atividade não
classificada como de empresária;
- exercendo profissão intelectual de natureza: científica, literária ou
artística  sociedade simples;
- além dessas sociedades acima citadas, outras podem ser
sociedades simples. Assim são sociedades simples todas aquelas
que não possuem organização empresarial;

- Quanto à forma:
- o artigo 983 do CC/02 diz que “[...] a sociedade empresária deve
constituir-se segundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092;
a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses
tipos, e não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias”:
- o artigo 982, parágrafo único do CC/02 diz que “[...]
independentemente de seu objeto, considera-se empresária a
sociedade por ações; e simples, a cooperativa”;
- Portanto, segue o resumo das sociedades que podem ser empresárias
e das sociedades que podem ser simples:
- Sociedades Empresárias:
- Sociedade em nome coletivo;
- Sociedade em comandita simples;
- Sociedade em comandita por ações;
- Sociedade Anônima (S/A);
- Sociedade Limitada (LTDA);

- Sociedades Simples:
- Sociedade em nome coletivo;
- Sociedade em comandita simples;
- Sociedade Limitada (LTDA);
- Cooperativa;
- Sociedade Simples Simples11 ou Sociedade Simples Pura;

9 Normalmente o contrato não é registrado, então, não se conhece o sócio participante.

10 A sociedade em conta de participação é a única que com o registro não adquire personalidade
jurídica.

Direito Empresarial 16
- a sociedade só ganha personalidade jurídica depois do registro:
- sociedade empresária  junta comercial;
- sociedade simples  registro civil de pessoa jurídica (cartório);
- exceções a essa regra:
- a sociedade de advogados, apesar de ser uma
sociedade simples, ele deve ser feito na OAB;
- em que pese a cooperativa ser uma sociedade simples,
ela deve ser registrada na junta comercial12;

- Classificação das sociedades personificadas empresariais:


- Sociedade de pessoa VS Sociedade de capital:
- Critério: leva em conta o grau de dependência da sociedade em relação às
qualidades subjetivas dos sócios;
- Sociedade de Pessoas: as características subjetivas dos sócios são
indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade;
- Sociedade de Capitais: o mais relevante é o capital investido pelo
sócio na sociedade;

- Sociedade Contratual VS Sociedade Institucional:


- Critério: regime de constituição e dissolução do vínculo societário;
- Sociedade Contratual: o ato constitutivo da pessoa jurídica é o
contrato social; nessa sociedade, sobre esse contrato incidirá os
princípios contratuais;
- Sociedade Institucional: o ato constitutivo é um estatuto social; sobre
o estatuto social, não incidirá princípios contratuais, devendo observar a
lei 6.404/76 (lei de S/A);

- Responsabilidade Ilimitada VS Responsabilidade Limitada VS


Responsabilidade Mista:
- Critério: responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais;
- Responsabilidade Ilimitada: o sócio responderá com seu patrimônio
pessoal pelas dívidas da sociedade;
- Responsabilidade Limitada: o patrimônio pessoal do sócio não
responde pelas dívidas da sociedade;
- Responsabilidade Mista: quando na mesma pessoa jurídica há sócios
com a responsabilidade limitada e sócios com a responsabilidade
ilimitada (ex.: sociedade em comandita simples);

- Sociedade Nacional VS Sociedade Estrangeira:


- Critério: para ser nacional, deve a sociedade atender a dois requisitos do
artigo 1.126 do Código Civil: tem de ser organizada de acordo com a lei
brasileira + a sede da administração tem de ser no país;
- Sociedade Nacional: quando presente os dois requisitos do artigo
1.126 do CC/02;
- Sociedade Estrangeira: quando faltar um dos requisitos do artigo
1.126 do CC/02;

11 Simples Simples porque ela é simples quanto ao objeto e quanto à forma.

12 O artigo 32 da lei 8.934/94 diz que a cooperativa deve ter o registro na junta comercial;

Direito Empresarial 17
- não importa o tipo de atividade que a sociedade estrangeira
exerça, ela sempre precisará para se constituir no Brasil de
autorização do Poder Executivo Federal (art. 1.134 do CC/02);

- Sociedade em nome coletivo:


- prevista no artigo 1.039 do CC/02;
- a responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada (sendo também
subsidiária);
- pessoa física (não permite-se sociedade em nome coletivo de pessoa jurídica);
- nome da sociedade  firma social;
- aplica-se a ele subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 1.040 do
CC/02);
- é muito raro no Brasil sociedade em nome coletivo;

- Sociedade em comandita simples:


- prevista no artigo 1.045 do CC/02;
- há duas categorias de sócios: sócio comanditado + sócio comanditário;
- sócio comanditado --> responsabilidade solidária e ilimitada; tem de ser pessoa
física;
- sócio comanditário --> responsabilidade limitada; pode ser pessoa física ou
jurídica;

- Sociedade limitada (LTDA):


- Legislação Aplicável:
- capítulo próprio no Código Civil (começa no art. 1.052); na omissão do
capítulo, aplica-se as regras da sociedade simples de forma subsidiária.
Quanto à regência supletiva da lei de sociedade anônima, pode-se aplicar a
lei de S/A de forma supletiva desde que o contrato social permita
expressamente tal aplicação;
- Características:
- pode ser uma sociedade empresária ou uma sociedade simples;
- é uma sociedade contratual  o ato constitutivo é um contrato social;
- nome empresarial  firma social ou denominação;
- Constituição:
- é feita por meio de um contrato social, que possui alguns requisitos de
validade:
- agente capaz13;
- objeto lícito14;
- forma legal15;
- requisitos específicos:
a) contribuição dos sócios com a formação do capital social (todos os
sócios devem contribuir com a formação do capital social). O ato de

13 O RE 82.433/SP chegou ao STF para se discutir se o menor pode ser sócio de uma sociedade
limitada. Segundo o STF, menor pode sim ser sócio, desde que preencha os seguintes requisitos: tem
de estar devidamente assistido ou representado + não pode exercer a administração + o
capital social deve estar totalmente integralizado.

14 Deve-se observar as peculiaridades de cada região, uma vez que o poder público pode proibir
determinadas atividades.

15 É possível por instrumento particular ou instrumento público, necessitando em ambos os casos de


“visto do advogado”, sob pena de nulidade. Micro-empresa e empresa de pequeno porte não
necessitam de visto de advogado.

Direito Empresarial 18
comprometimento de integralizar o capital na sociedade na proporção
do contrato chama-se subscrição. Capital social é o valor destinado
para exploração da atividade provindo da contribuição dos sócios. O ato
de integrar o valor à sociedade chama-se integralização.
- formas de integralização:
- com dinheiro;
- com bens (carro, imóvel16, computador, etc)17;
- com créditos;
- art. 1055, §2º, CC/02  é vedada a contribuição
que consista em prestação de serviços.
- obs.: o sócio que não integralizou (total/parcialmente) o capital
(as quotas sociais) será chamado de “sócio remisso”. O sócio
remisso pode ser (art. 1.004, parágrafo único do CC/02):
- excluído da sociedade;
- indenização (cobrar a sociedade o que ele deve);
- redução da quota;

b) distribuição dos resultados: todos os sócios devem participar dos


lucros e das perdas da sociedade. O art. 1.008 diz que “é nula a
estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos
lucros e das perdas”.

- pressupostos de existências:
a) pluralidade de sócios: são necessários dois ou mais sócios, portanto,
na constituição da sociedade não é possível sociedade unipessoal, mas
depois de constituída é possível que haja a unipessoalidade temporária.
Assim, quando a sociedade tiver dois sócios e um sair (exemplo: marido
que separa da mulher e quer sair da sociedade limitada que têm juntos)
pode haver a sociedade unipessoal no prazo de 180 dias no máximo,
sob pena de desconstituição da sociedade (ver artigo 1.033, IV). Quanto
à possibilidade de sociedade entre cônjuges, o artigo 977 do Código
Civil nos responde, dizendo que “[...] facultam aos cônjuges contratar
sociedade entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no
regime da comunhão universal de bens ou no regime de separação
obrigatória.”
- art. 1.639, §2º – é admissível a alteração do regime de bens,
mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os
cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros.
- casamentos em comunhão universal de bens em sociedades
constituídas antes do CC/02  o DNRC (Departamento Nacional de
Registro de Comércio) é um órgão normatizador e emitiu um
parecer (parecer 125/03) no sentido de que as sociedades já
constituídas devem ser mantidas em razão do ato jurídico perfeito
e do direito adquirido.

16 Quem integraliza com bens imóveis o ITBI (art. 156, II da CRFB/88) não é cobrado, portanto, sobre a
operação não incide ITBI, é um caso de imunidade especial (art. 156, §2º, da CRFB/88).

17 Quem integraliza com bens responde pela evicção, ou seja, tem a mesma responsabilidade do que
um vendedor. O valor não integralizado (ex.: sócio deixa de integralizar; sócio integraliza bem mas
com valor estipulado acima do que realmente vale) fará com todos os sócios se responsabilizem por
essa não-integralização pelo prazo de cinco anos contados do registro da sociedade (art. 1.055, §1º).

Direito Empresarial 19
b) Affectio Societatis: é a disposição dos sócios em formar e manter a
sociedade uns com os outros. Quanto não existe ou desaparece esse
ânimo, a sociedade não se constitui, ou deve ser dissolvida.

- cláusulas contratuais essenciais18:


a) art. 997 do CC traz o rol das cláusulas:
- qualificação dos sócios;
- nome empresarial;
- objeto;
- sede da sociedade;
- se o prazo é determinado ou indeterminado;
- valor do capital social;
- administrador;

- cláusulas contratuais acidentais19:


a) pro labore: existe diferença entre lucro e pro labore. Lucro é
decorrente do o investimento inicial. Pro labore é a remuneração
decorrente do trabalho em favor da sociedade. Assim, todos os
sócios têm direito ao lucro, mas somente os que trabalham têm
direito ao pro labore.

- Responsabilidade dos sócios:


- segundo o artigo 1.052 do CC/02, na sociedade limitada, a
responsabilidade do sócio está restrita ao valor de suas quotas, mas todos
os sócios respondem de forma solidária pelo que falta para a integralização
do capital social;
- como exemplo, uma padaria em que o capital social seja R$100.000,00,
onde um pontepretano tem 40%, um flamenguista tem 30%, um são-paulino
tem 24% e um corinthiano tem 6%. Cada um desses sócios é obrigado a
integralizar o valor de suas quotas, assim, integralizada a quota parte de
cada um, acabou-se a responsabilidade dos sócios. Essa é a grande
diferença da sociedade limitada e da sociedade em comandita simples. Na
sociedade limitada o sócio não responde com o seu patrimônio, respondendo
apenas com o patrimônio da sociedade, sendo o seu dever apenas
integralizar as quotas a que se comprometeu. No caso em que m dos sócios
deixe de integralizar (ex.: Flamenguista), faltará R$30.000,00 assim, todos
os sócios respondem por esse valor que faltou, ou seja, quem vai ter de
pagar serão todos os sócios, visto que eles respondem de forma solidária
pelo que falta para a integralização.
- exceções a regra (serão citadas dívidas que recaem sobre o
patrimônio dos sócios, exceções à regra da limitação das sociedades
limitadas):
- dívidas trabalhistas;
- dívidas com o INSS;
- casos de desconsideração da personalidade jurídica;
- quando a sociedade não for levada à registro;

18 Cláusulas essenciais não podem deixar de existir no contrato.

19 A presença dessas cláusulas são dispensáveis, mas podem constar no contrato.

Direito Empresarial 20
- quando a sociedade violar a regra do artigo 977 (sociedade entre
cônjuges);
- Obs1.: nesses casos acima todos os sócios vão se
responsabilizar com o patrimônio pessoal e de forma
solidária.
- Obs2.: as deliberações infringentes do contrato ou da
lei torna ilimitada a responsabilidade somente dos
sócios que expressamente a aprovaram (art. 1.080 do
CC/02).
- Obs3.: o CTN, em seu artigo 135, diz que “[...] são
pessoalmente responsáveis pelos créditos
correspondentes a obrigações tributárias resultantes
de atos praticados com excesso de poderes ou infração
de lei, contrato social ou estatutos.” O inciso III do
mesmo artigo diz que quem responde nesse caso é o
administrador.
- entendimento do STJ  quando a sociedade deixa de
pagar o imposto porque não possui recurso suficiente
para o pagamento, isso vai se chamar inadimplência. Na
inadimplência, o administrador não responde pela dívida
tributária. Agora, caso a sociedade deixe de pagar o
imposto por qualquer outro motivo, isso vai se chamar
sonegação. Na sonegação o administrador responde com
o seu patrimônio pessoal.

- Quotas sociais:
- Natureza Jurídica:
- segundo Rubens Requião as quotas sociais tem duplo aspecto: é de
direito patrimonial e de direito pessoal. Direito patrimonial:
identificado com um crédito consistente em percepção dos lucros
durante a existência da sociedade e participação no acervo da
sociedade em caso de liquidação final. Direito pessoal: está revelado
como aquele que decorre do status de sócio (ex.: direito de participar
das decisões, direito de fiscalização, direito de preferência).

- art. 1.055 do CC/02 --> “O capital social divide-se em quotas iguais ou


desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.”
- as quotas podem ser iguais (exemplo: R$10.000,00 divididas em 10
quotas de R$1.000,00);
- as quotas também podem ser desiguais (exemplo: R$ 10.000,00,
dividido em 2 quotas, uma de R$ 6.000,00 e uma de R$ 4.000,00);

- Transferências das quotas sociais:


- o contrato social que disciplina a transferência de quotas;
- acontece, que o contrato social pode ser omisso, seguindo o seguinte
regramento (art. 1.057 do CC/02):
- o sócio da sociedade, para transmitir as quotas para outro sócio,
não há necessidade de autorização;
- o sócio da sociedade, para transmitir as quotas para um terceiro
estranho, só é possível ser não houver a oposição de mais de ¼ do
capital social;

Direito Empresarial 21
- Penhora de quotas sociais:
- a doutrina diz que a sociedade limitada pode ser uma sociedade de
capital ou uma sociedade de pessoa. No caso de sociedade de capital, a
quota seria penhorada, uma vez que depois de arrematada a quota na
execução, qualquer um pode ingressar na sociedade, uma vez que ela é
de capital. Porém, se a sociedade limitada for de pessoa, a doutrina diz
que ela é impenhorável, uma vez que em processo de execução, a
substituição do proprietário poderia causar a desconfiguração da
sociedade, uma vez que a pessoa do proprietário é importante para a
existência da sociedade;
- o STJ diz que não importa se a sociedade é de pessoas ou de capital,
as quotas sociais sempre são penhoráveis. Segundo o Egrégio Tribunal,
deve ser observado o princípio da ordem pública, conforme o artigo 591
do CPC, onde o devedor deve responder para o cumprimento de suas
obrigações com todos os seus bens, presentes e futuros. Ademais, o
artigo 649 do CPC enumera os bens absolutamente impenhoráveis, e
não estão nesse rol as quotas sociais. Porém, segundo o STJ, no
processo executivo, deve ser dada preferência para os sócios na
arrematação (em analogia ao art. 1.116 à1.119 do CPC);

- Deveres dos sócios:


- a) integralização do capital social:

- b) dever de lealdade: segundo Fábio Ulhôa Coelho é o dever do sócio de


colaborar com o desenvolvimento da sociedade, abstendo-se de praticar
atos que possam prejudicar a sociedade (ex.: o sócio não pode fazer
concorrência com a sociedade);

- Direitos dos sócios:


a) participação dos lucros e perdas:

b) participação nas deliberações sociais: segundo o artigo 1.072 do Código


Civil as decisões da LTDA são tomadas em reunião ou são tomadas em
assembléia. O CC/02 traz todas as formalidades da assembléia, mas é
permitido que se crie regras mais simples para que se possa realizar as
reuniões. Quando o contrato social é omisso em relação à reunião (artigo
1.079), aplica-se as normas da assembléia20. O §1º do artigo 1.072 diz que se
a sociedade limitada possui mais de 10 sócios21, é obrigatória a realização de
assembléia.
- deliberações (art. 1.010) --> tal artigo diz que deve-se respeitar a
maioria de votos, e que esses votos devem levar em conta o capital
social, portanto, prevalece a opinião da maioria do capital social. Em
caso de empate, o primeiro critério de desempate é (§2º) o de número
de sócios; o segundo critério de desempate é decisão judicial;

c) direito de fiscalização: o sócio pode a qualquer tempo exigir uma


prestação de contas por parte do administrador. Essa fiscalização é feita
pelo conselho fiscal, sendo um órgão facultativo na sociedade LTDA (art.

20 Na prática, raramente um contrato social vai estabelecer as regras da reunião.

21 Para decorar, deve-se lembrar que se a sociedade limitada for um time de futebol (11 pessoas) ou
mais, a assembléia é obrigatória.

Direito Empresarial 22
1.066 do CC/02). Esse conselho tem que seguir uma composição delimitada
no artigo 1.066 do código civil, onde deverá ter três membros, sócio ou não
sócio, mas deve ser residente no país (ter domicílio no Brasil);

d) direito de retirada ou direito de recesso: é a possibilidade que o sócio tem


de sair, de retirar-se da sociedade. Esse direito tem que observar a regra
prevista no artigo 1.029 do CC/02: tem que analisar o contrato (se for o por
prazo determinado só pode sair por justa causa, devendo provar
judicialmente; se for pro prazo indeterminado, não há necessidade de justa
causa, mas a lei exige que o sócio que for sair notifique o demais sócios
mediante uma notificação com antecedência de 60 dias, ou seja, ter o
mínimo de respeito com os demais sócios):
- o sócio tem direito a sair da sociedade e receber valores de acordo
com o balanço realizado especialmente para esse fim22 (ver artigo 1.031
do CC/02). A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de
noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação
contratual em contrário. Na prática, há empresas que possuem grandes
patrimônios mas não possuem capital, assim, para que a saída do sócio
não cause a “quebra” da empresa, deve haver contrato social prevendo
o pagamento do sócio em muitas prestações;
e) direito de preferência: aumento do capital social gera novas quotas
sociais que devem ser oferecidas preferencialmente aos sócios (art. 1.081
do CC/02), valendo lembrar que os sócios têm direito de preferência na
proporção de suas quotas;

- Administrador:
- na sociedade limitada podem ser administrador o sócio ou o não-sócio.
Para que o não sócio seja administrador, são necessários dois requisitos
cumulativos (art. 1.061 do CC/02):
- previsão no contrato social23;
- aprovação dos sócios, com o seguinte quórum:
- capital social integralizado -> 2/3 da quotas sociais;
- capital social não está totalmente integralizado -> unanimidade;
Obs.: pessoa jurídica não pode ser administradora da
sociedade LTDA, podendo ser somente a pessoa
natural, conforme o artigo 997, inciso VI.

- nomeação:
- contrato social -> a nomeação se dá no próprio contrato social;
- ato separado -> reunião específica para tal (ex.: nomeação dada
em reunião e feita a ata de assembléia);
- segundo o artigo 1.013 do Código Civil, na omissão do contrato, todos os
sócios vão exercer a administração. Os administradores respondem
solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados por culpa no
desempenho de suas funções24 (art. 1.016);

22 Para o fim de excluir o sócio.

23 Não havendo previsão no contrato social, somente o sócio pode ser administrador.

24 Somente em caso de culpa no desempenho de suas funções que o administrador tem


responsabilidade perante a sociedade e perante terceiros.

Direito Empresarial 23
- a “teoria ultra vires” -> ato ultra vires é aquele praticado pelo
administrador além das forças a ele atribuídas pelo contrato social, com
extrapolação dos limites de seus poderes contratuais. Segundo essa teoria,
não é imputável à sociedade o ato ultra vires, mas sim ao administrador. No
nosso atual código civil, a teoria está prevista no artigo 1.015, parágrafo
único, que prevê as hipóteses em que a sociedade pode adotar a teoria:
- se a limitação de poderes estiver escrita ou averbada no registro
próprio da sociedade;
- provando-se que era conhecida do terceiro25;
- tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade26;
Obs.: a teoria ultra vires é uma teoria inglesa e nem mesmo
na Inglaterra se usa mais essa teoria, além dela ainda estar
contra a orientação do STJ. Para este Tribunal Superior,
deve ser aplicada a teoria da aparência.
- Sérgio Campinho traz um conceito muito interessante: segundo
ele, a teoria ultra vires deve ser aplicada para os fornecedores e
instituições financeiras de crédito, mas em se tratando de relação
de consumo e de trabalho deve prevalecer a teoria da aparência.

- Dissolução:
- dissolução parcial -> ocorre quando um ou mais sócios saem da sociedade,
porém a sociedade é mantida, é preservada, continua em atividade;
- dissolução total -> há extinção da sociedade, uma vez que esta fecha as
portas, encerra suas atividades;

- causas de dissolução parcial:


- falecimento do sócio;
- falência do sócio;
- direito de retirada (possibilidade que o sócio tem de sair da
sociedade);
- exclusão de sócio;
- o sócio que deixa de integralizar o capital, chama-se sócio
remisso. Segundo o artigo 1.004 do CC/02 o sócio remisso pode ser
excluído;
- sócio que cometeu falta grave ou teve incapacidade
superveniente (devendo nesse caso, necessariamente, que a
exclusão seja judicial). Mesmo que prevista no CC/02, a doutrina
diz que essa exclusão por incapacidade superveniente não se
aplica à sociedade de capital, mas somente à sociedade de
pessoas;
- o art. 1.085 trata da exclusão do sócio minoritário quando
cumprido os seguintes requisitos:
- praticar ato de inegável gravidade colocando em risco a
atividade da sociedade;
- previsão no contrato social de exclusão por justa causa;
Obs.: essa exclusão é extrajudicial, se dando por uma
simples alteração do contrato social. Embora seja

25 Caso prove que o terceiro sabia que o administrador não tinha poderes para isso, a sociedade não
será responsabilizada.

26 Exemplo: padaria vendendo televisores de plasma.

Direito Empresarial 24
extrajudicial, o sócio excluído deve ter direito à ampla
defesa e ao contraditório: deve a exclusão se dar em
reunião ou assembléia especialmente convocada para
esse fim, cientificando o acusado em tempo hábil para
permitir seu comparecimento e exercício de defesa (art.
1.085, parágrafo único);
- liquidação da quota a pedido do credor;

- causas de dissolução total:


- vontade dos sócios;
- decurso do prazo;
- após o término do prazo, se os sócios não providenciarem a
liquidação da sociedade, haverá sua prorrogação por prazo
indeterminado;
- falência da sociedade (art. 1.044 do CC/02);
- unipessoalidade por mais de 180 dias;
- extinção de autorização para funcionamento (art. 1.033, V do CC/02);
- passado o prazo de 30 dias, quem deve fazer o pedido da
liquidação da sociedade (se a sociedade ou os sócios não ao
fizeram), a partir desse prazo o Ministério Público tem o prazo de
15 dias para pedir a dissolução dessa sociedade;
- anulação do ato constitutivo;
- exaurimento do objeto social27;

- Sociedade Anônima (S/A):


- Legislação Aplicável:
- lei 6.404/76;

- Características:
- a sociedade anônima sempre será uma sociedade empresária, não
podendo ser uma sociedade simples;
- é uma sociedade institucional, não possuindo contrato social, mas sim,
estatuto social;

- Conceito:
- é a sociedade cujo capital social está dividido em ações;

- Espécies (previstas no artigo 4º da lei de S/A):


- companhia aberta -> é aquela em que os valores mobiliários são admitidos
à negociação no mercado de valores mobiliários;
- companhia fechada -> é aquela em que seus valores mobiliários não são
admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários;
Obs.: não existe companhia mista, sendo a companhia ou aberta, ou
fechada.
- o mercado de valores mobiliários se subdivide em:
- bolsa de valores -> entidades privadas constituídas sobre a forma
de associações civis ou sociedades anônimas, tendo por membros
corretoras de valores mobiliários. Conquanto sejam privadas, atuam
sobre a supervisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), pois
atuam na prestação de serviços públicos, devendo fiscalizar seus

27 Ou seja, fim do objeto social.

Direito Empresarial 25
membros e as operações realizadas pelos mesmos. Objetiva aumentar
o fluxo de negociação de valores mobiliários, sempre com a supervisão
de uma entidade autárquica em regime especial vinculada ao Ministério
da Fazenda (que é a C.V.M.);
- mercado de balcão -> toda operação realizada fora da bolsa de
valores é chamada de mercado de balcão. Normalmente se dá quando
se adquire os valores mobiliários de uma instituição financeira;

- mercado primário -> ocorre quando se adquire os valores mobiliários


diretamente da companhia, portanto, ocorre entre a companhia
emissora e o investidor. O mercado de balcão opera no mercado
primário, também operando no mercado secundário.
- mercado secundário -> adquire-se os valores mobiliários de um
acionista, ou seja, de alguém que já é titular dos valores mobiliários,
não diretamente da instituição. A bolsa de valores só opera no
mercado secundário.

- Constituição da S/A:
- requisitos preliminares:
a) subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que
se divide o capital social fixado no estatuto (pluralidade de sócio)28;
b) realização, como entrada, de 10 %, no mínimo, do preço de emissão
das ações subscritas em dinheiro;
Exceção -> tratando-se de instituição financeira, esse percentual
de 10% passar para 50%;
c) depósito no Banco do Brasil ou em outro estabelecimento bancário
autorizado pela CVM;

- constituição propriamente dita:


a) na companhia aberta há subscrição pública e sucessiva:
- registro de emissão na CVM;
- contratação de uma instituição financeira (se aprovado o registro
na fase anterior) para intermediar a venda das ações;
- assembléia de fundação;
b) na companhia fechada há subscrição particular ou simultânea29:
- escritura pública ou assembléia de fundação (ficando a escolha a
critério dos acionistas);
Obs.: resta ficar clara que não necessita de autorização da
CVM no caso de companhia fechada;

- Órgãos de uma S/A30:

28 Isso significa que a S/A tem de ter pelo menos dois ou mais sócios no momento de sua constituição.
A princípio a S/A não poderia ser unipessoal no momento de sua constituição, mas essa regra comporta
duas exceções: quando se tratar de empresa pública; subsidiária integral (sociedade do artigo 251 da
lei de S/A -> é um tipo de sociedade anônima que admite um único acionista que necessariamente
será uma sociedade nacional, como por exemplo, a TRANSPETRO, onde a única acionista é a
Petrobrás). Porém, depois que a sociedade anônima já foi constituída, é possível que ela tenha apenas
um sócio, na forma do art. 206, I, “d” da lei de S/A, sendo o prazo para se ter um só sócio entre uma
assembléia geral ordinária e outra (prazo esse que normalmente é de um ano).

29 Não há sucessão de etapas, sendo uma única etapa.

30 Usa-se a regra A+C+D+C (antes de Cristo, depois de Cristo) para decorar.

Direito Empresarial 26
*Assembléia Geral:
- é órgão deliberativo, não sendo órgão de administração. Subdivide-se
em:
- Assembléia Geral Ordinária: deve ser realizada anualmente. O
artigo 132 da lei de S/A define qual é a competência privativa da
Assembléia Geral Ordinária: tomar as contas dos administradores
+ destinação dos lucros + eleição de administradores e membros
do Conselho Fiscal + aprovação da correção da expressão
monetária do capital social (qualquer competência que não seja
alguma dessas 4 serão objetos de assembléia geral extraordinária
– ex.: destituição de administrador; alteração do estatuto). A
convocação se dará por meio de um edital de convocação, onde
serão colocadas as principais informações em relação à
assembléia. Esse edital de convocação deve ser publicado três
vezes na imprensa oficial e em jornal de grande circulação31(entre
a data da primeira publicação e a data da realização da assembléia
deve haver um prazo mínimo de 15 dias, sob pena de nulidade da
assembléia). A assembléia só se iniciará se presente o quórum de
instalação da assembléia, que corresponde a ¼ do capital social
com direito de voto. Não havendo o quórum, deve se fazer uma
segunda convocação, repetindo o procedimento, porém com prazo
diferente, sendo que entre a data da primeira publicação e da
assembléia deve obedecer o prazo mínimo de 8 dias, instalando-se
a assembléia na segunda convocação com qualquer número de
presentes. Esse regra é da companhia aberta. Na companhia
fechada, os prazos mudam: na primeira vez, o prazo mínimo deve
ser de 8 dias, e na segunda convocação o prazo mínimo será de 5
dias;
- Assembléia Geral Extraordinária:
*Conselho de Administração:
- todos os órgãos da S/A são obrigatórios, com exceção do conselho de
administração, que é facultativo. Mas há a exceção da exceção, ou seja,
três situações em que o Conselho de Administração é obrigatório:
- quando se tratar de companhia aberta (art. 138 da lei);
- quando se tratar de sociedade de capital autorizado (art. 168 da
lei);
- sociedade de economia mista (art. 239 da lei);
- competência (prevista no artigo 142 da lei):
a) fixar as diretrizes gerais da sociedade anônima;
b) eleger e destitui os diretores;
c) supervisionar os atos da diretoria;
- composição:
a) mínimo de três membros (que obrigatoriamente devem ser
acionistas, conforme orientação do artigo 140 da lei de S/A);
b) devem ser pessoas naturais (não podem ser pessoas jurídicas);
*Diretoria:
- composição:
a) mínimo de dois membros (acionistas ou não, porém, residentes
no país);
- competência (compete a qualquer dos diretores):

31 Vale lembrar que deve ser publicado no jornal de grande circulação E na imprensa oficial.

Direito Empresarial 27
a) representação da companhia;
b) prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular;
*Conselho Fiscal:
- é órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento facultativo,
conforme o artigo 161 da lei de S/A;
- composição:
a) mínimo de três membros e máximo de 5, com igual número de
suplentes (acionistas ou não, porém residentes no país);

- Mercado mobiliário:
- ações:
- são frações do capital social que confere ao seu titular a função de
sócio da sociedade anônima;
- o acionista só responde pelo preço da emissão de suas ações;
- as ações, além de ser pagas por dinheiro, também podem ser pagas
com bens ou com créditos;
- tal como na sociedade limitada, não se admite integralização por meio
de prestação de serviços;
- valor das ações:
- o valor nominal das ações é o valor do capital social divido pelo
número de ações;
- o valor patrimonial é o patrimônio líquido (ativo menos o passivo)
dividido pelo número de ações;
- o preço de emissão é o valor cobrado pela subscrição da ação,
isto é, é o valor que tem que ser pago pelo acionista em troca das
ações (esse preço é pago quando se compra as ações diretamente
da sociedade anônima);
- o valor de mercado é o valor pelo qual as ações são negociadas
no mercado de valores mobiliários32;
- o valor econômico leva em conta perspectiva da futura
rentabilidade da sociedade (é necessário a realização de uma
perícia técnica para se apurar a rentabilidade de uma sociedade
anônima);
- a diluição acionária se dá quando há emissão posterior de
ações por preço inferior ao seu valor nominal (vedando essa
prática, artigo 13 da lei 6.404);
- classificação das ações quanto à espécie:
a) ações ordinárias: são aquelas que conferem direitos comuns
aos sócios (ex.: direito de participar dos lucros e direito de
fiscalização). O artigo 110 da lei de S/A diz que toda ação ordinária
concede direito de voto. Ações ordinárias são de emissão
obrigatória;
b) ações preferenciais: são aquelas que trazem certas
preferências, principalmente no sentido de vantagens econômicas
(situações expressamente previstas no artigo 17 da lei de S/A).
Como exemplo de ações preferenciais: prioridade de recebimento –
primeiro paga as ações preferenciais e depois paga-se as ações
ordinárias; recebimento de, no mínimo, 10% mais do que aquele
que possui uma ação ordinária. A ação preferencial não tem voto

32 As ações de sociedade anônima fechada não tem valor mobiliário, uma vez que elas não podem ser
vendidas no mercado.

Direito Empresarial 28
ou o voto é limitado a determinados assuntos. O mecanismo de
proteção para o sócio com ações preferenciais é o artigo 111 da lei
de S/A, onde há a regra de que caso a sociedade deixe de pagar os
lucros para o acionista por prazo não superior a 3 exercícios
consecutivos (exercício é de 1º de janeiro a 31 de dezembro), o
sócio passa a ter direito de voto. As ações preferenciais também
possuem vantagens políticas. Golden share (ação de ouro) é
instrumento de defesa dos interesses nacionais efetivamente
relevantes, possibilitando, desta forma, a retirada do estado da
atuação direta na atividade econômica: essa ação pode dar o poder
de veto às deliberações da assembléia geral. O número máximo de
ações preferenciais sem voto que uma companhia pode emitir é de
50% do total de ações. A emissão de ações preferenciais não é
obrigatória;
- acionista controlador é aquela figura do artigo 116 da lei de S/A:
aquele que tem a maioria de votos33 da sociedade e o poder de
eleger a maioria dos administradores. O acionista controlador deve
usar efetivamente desse poder que ele possui para ser
caracterizado acionista controlador. Os acionistas podem ser reunir
por meio de um contrato entre eles para que haja um vínculo
obrigacional entre eles (o chamado acordo de acionistas34), assim
eles unem em um único bloco para fazerem o papel de acionista
controlador. Exemplo: João (21% das ações com voto), Alfredo (9%
das ações com voto) e Ana (31% das ações com voto), onde
Alfredo e Ana fazem um acordo para votar em “A” como presidente
(esse acordo deve ser arquivado na sede da companhia). Se
Alfredo, contrariando o acordo, vota em “B”, o voto em contrário ao
acordo não vai ser computado (quem computa o voto é o
Presidente da companhia), sendo possível, segundo o §3º do artigo
118, que nas condições previstas no acordo, os acionistas podem
promover a execução específica das obrigações assumidas. Caso
quem deveria votar (era parte do acordo de acionistas), não
compareça, se abstendo de votar, deve-se aplicar o §9º do artigo
118, ocasião na qual autoriza-se aos integrantes do acordo que
estão presentes a votar em nome do acionista que faltou ou deixou
de votar;
c) ações de gozo ou fruição: prevista no artigo 44, §5º. Trata-se
de amortizamento. No caso de dissolução total da sociedade, os
bens são liquidados, com o dinheiro paga-se os credores: o valor
que sobrar chama-se acervo. O acervo portanto, é repartido pelos
acionistas de acordo com a proporção de ações de cada um. Nas
ações de gozo ou fruição, faz-se as contas se acaso a sociedade
feche, venda-se tudo, o dinheiro que sobra é convertido em ações
de gozo ou fruição. Amortização é a antecipação do acervo;

- debêntures:
- trata-se de contrato de mútuo (de empréstimo) onde o mutuante é o
debenturista e o mutuário é a S/A;

33 Tem o maior número de ações com direito de voto.

34 É um contrato celebrado pelos acionistas para decidir sobre os temas do artigo 118.

Direito Empresarial 29
- a debênture dá um direito de crédito, assim, se no dia do vencimento
a companhia não pagar o valor devido, pode ser ajuizada ação de
execução, uma vez que o artigo 585, I do CPC diz que a debênture é um
título executivo extrajudicial;
- a companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus
titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da
escritura de emissão e, se houver, do certificado. A lei não diz, mas a
debênture é de médio a longo prazo;

- comercial paper:
- a instrução normativa 134 da CVM estabelece que em caso de
companhia aberta, o comercial paper deve ter prazo de reembolso no
prazo de 30 a 360 dias, e tratando-se de companhia fechada, o prazo
seria de 30 a 180 dias. Mas a função do comercial paper35 é a mesma
da debênture;

- bônus de subscrição:
- os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares direito de
subscrever ações do capital social, que será exercido mediante
apresentação do título à companhia e pagamento do preço de emissão
das ações (é um direito de preferência);
- são títulos negociáveis que conferem ao titular o direito de comprar
ações desta mesma empresa dentro de um prazo estabelecido, por um
preço predeterminado. Ou seja, garante ao acionista o direito de
subscrever ações. Caso o acionista não efetue a compra da ação no
período estipulado, perderá seu direito e não terá restituição do valor
pago pelo bônus. O bônus, portanto, é um direito, com prazo de
expiração, como uma opção.

- partes beneficiárias:
- são títulos negociáveis, estranhos ao capital social, que conferirão aos
seus titulares direito de crédito eventual contra a companhia,
consistente na participação dos lucros anuais durante determinado
tempo;
- esse de crédito é eventual, uma vez que na eventualidade da
companhia receber lucros, você recebe;
- para que ocorra esse fenômeno, o sujeito não pode ser acionista,
devendo ele participar dos lucros sem que seja acionista (esse é a
conclusão retirada da expressão “estranhos ao capital social”);
- somente companhia fechada pode ter partes beneficiárias, não sendo
mais admitidas para companhias abertas;

- Ligações Societárias (ou Sociedades Coligadas):


- previstas no artigo 1.097 e seguintes do Código Civil de 2002;
- na linha de pensamento da lei, admite-se que as sociedades conjugadas podem
ser de três tipos:
a) sociedade filiada (art. 1.099):
- é a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com 10% ou
mais, do capital da outra, sem controlá-la;
b) sociedade de simples participação (art. 1.100):

35 Também chamada de nota promissória da sociedade anônima.

Direito Empresarial 30
- é a sociedade de cujo capital outra sociedade possua menos de 10%
com direito de voto;
c) sociedade controladora (art. 1.098):
- tem maioria de votos da outra sociedade e tem poder de eleger a
maioria dos administradores da outra sociedade, devendo usar
efetivamente do poder (esse último requisito também é essencial para
a caracterização da sociedade controladora);
Fazendo uma analogia para poder decorar os termos acima, pensa-
se em um casamento. A sociedade filiada, nos remete ao conselho
de filhos, que muito gasta e nada controla. A simples por
participação lembra a mulher, que pouco participa financeiramente
e muito poder de voto exerce. A sociedade controladora lembra a
sogra, que manda em tudo e efetivamente usa esse poder;

- Reorganização Societária:
a) transformação:
- é a modificação do tipo societário (ex.: sociedade limitada se torna
anônima). Muda apenas a roupagem;
b) fusão:
-A+B=C
- é a união de duas ou mais sociedades para formar sociedade nova,
extinguindo-se as sociedades que se uniram. A nova sociedade sucederá as
demais em todos os direitos e obrigações;
c) incorporação:
- A + B = AB
- uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em
todos os direitos e obrigações;
d) cisão:
- pode ser parcial ou total;
- cisão é venda de patrimônio;
- quando se vende uma parcela do patrimônio, realiza-se uma cisão parcial,
não havendo extinção. Caso vende-se toda a sociedade (uma parte para
uma sociedade e outra parte para outra) há cisão total, havendo extinção da
sociedade;
- a cisão é operação pela qual a sociedade transfere parcela do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todos o
seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital se parcial a versão;

TÍTULOS DE CRÉDITO
- Legislação aplicável:
- letra de câmbio + nota promissória = decreto 57.663/66 (Lei Uniforme de
Genebra);
- duplicata = lei 5.474/68;
- cheque = lei 73.57/85;
- o artigo 903 do CC/02 traz o preceito de que “[...] salvo disposição diversa em
lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto nesse código [...]”,
portanto, a aplicação do código civil é subsidiária;

- Conceito:

Direito Empresarial 31
- título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e
autônomo, nele mencionado (conceito de Vivante);
- título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e
autônomo, nele contido (conceito do Código Civil);
- o código civil, no artigo 887, adotou o mesmo conceito de Vivante, apenas
trocando a palavra “mencionado”, pela palavra “contido”, o que já foi objeto de
questão;

- Princípios:
a) Cartularidade:
- vem do latim chartula, que significa “pequeno papel”;
- o crédito deve estar representado (materializado) em um documento
(título). Para transferência do crédito, é necessário a transferência do
documento. Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem a
apresentação do documento;
- a título de exemplo, para a transferência de um crédito não basta o
endosso, sendo necessária também a tradição do cheque;
- atualmente, o artigo 889, §3º, do CC/02 admite a possibilidade de título de
crédito eletrônico, mitigando de certa forma esse princípio. Exemplo claro é
a duplicata virtual;

b) Literalidade:
- só tem eficácia para o direito cambiário aquilo que está literalmente escrito
no título;
- finalidade: assegurar certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade de
prestação prometida ou ordenada;

c) Autonomia:
- o vício entre uma das relações não compromete as demais. Deste modo, o
endosso ou o aval dado por pessoa incapaz não atinge as demais obrigações
assumidas no título de crédito;
- as relações jurídicos cambiais são autônomas e independentes entre si;
- há dois sub-princípios da autonomia:
- princípio da abstração: o título se desprende (desvincula) da causa
que lhe deu origem;
- princípio da inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa
fé: o devedor somente pode apresentar exceção pessoal para o credor
primitivo, não podendo apresentar exceção pessoal para o credor
terceiro de boa fé;

- Classificação dos títulos de crédito:


- quanto à forma:
- de forma vinculada: tem uma padronização definida em lei, devendo seguir
essa formatação (ex.: duplicata; cheque). É o Conselho Monetário Nacional
que define os requisitos;
- de forma livre: não tem uma padronização definida em lei, não devendo
seguir uma padronização (ex.: nota promissória);

- quanto às hipóteses de emissão:

Direito Empresarial 32
- causal: somente pode ser emitido nas hipóteses (causas) autorizadas por
lei. Ex.: duplicata (precisa de uma causa específica para ser emitida –
compra e venda mercantil ou prestação de serviço);
- não-causal: a emissão não depende de causa específica, razão pela qual
servem para documentar diversos tipos de negócios (ex.: cheque);

- quanto à sua circulação36:


- classificação tradicional:
- ao portador: não há a identificação do beneficiário37. O título ao
portador transfere-se por mera tradição.
- nominativo: há identificação do beneficiário no título. A transferência
do título nominativo depende se ele é à ordem ou não à ordem: o
título nominativo à ordem circula por meio de endosso38; o nominativo
não à ordem circula por cessão civil39). Há uma presunção de que os
títulos são nominativos à ordem, portanto, o título somente vai ser
não à ordem se houver cláusula expressa nesse sentido;
- classificação mais moderna:
- ao portador: segue a mesma regra da doutrina tradicional;
- nominativo: é título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo
nome conste no registro do emitente (art. 921 do CC/02). Esse título
circula mediante termo em registro do emitente, assinado pelo
proprietário e pelo adquirente (art. 922 do CC/02);
- nominal: segue a mesma regra da doutrina tradicional;

- quanto à estrutura:
- ordem de pagamento: há três intervenientes (quem dá a ordem + quem
recebe a ordem + tomador beneficiário). Exemplos: cheque; duplicata; letra
de câmbio;
- promessa de pagamento: há apenas dois intervenientes (promessa feita
pelo promitente + tomador beneficiário). Exemplos: nota promissória;

- Letra de câmbio:

36 A maioria das provas utilizam a classificação tradicional, embora o CESPE tenha adotado a
classificação moderna.

37 Desde a edição da lei 8.021/90, não se admite mais o título ao portador, exceto se com previsão
expressa em lei especial. Um exemplo dessa previsão expressa é a lei 9.069/95, que em seu artigo 69
diz que o cheque obrigatoriamente deve ser nominativo se superior a R$ 100,00.

38 Quem transfere via endosso responde pela existência do título e também pela solvência do título.

39 Quem transfere por cessão civil somente responde pela existência do título, não respondendo pela
solvência. Para o código civil, o endosso tem a mesma natureza da cessão civil, uma vez que não há
responsabilidade do endossante (art. 914 do CC/02). Embora o CC/02 traga essa previsão, ela não se
aplica, uma vez que as leis especiais dos títulos de crédito conferem responsabilidade ao endossante.

Direito Empresarial 33
- decreto 57.663/66 (conhecido como Lei Uniforme de Genebra);
- letra de câmbio é uma ordem de pagamento, não é promessa de pagamento;
- conceito: é um título de crédito decorrente de relações de crédito, entre duas
ou mais pessoas, pelo qual a designada sacador dá a ordem de pagamento pura
e simples a outrem, denominado sacado, a seu favor ou de terceira pessoa
(tomador beneficiário), no valor e nas condições dela constantes;
- sacador: é quem cria o título através do saque (ato de criação e emissão de um
título de crédito), ou seja, quem dá a ordem;
- sacado: quem recebe a ordem;
- tomador: o beneficiário da ordem;
- aceite: é o ato de concordância realizado pelo sacado com a ordem de
pagamento dada, devendo ser feito no anverso (frente) do título. O aceite é ato
privativo do sacado. Quando o sacado dá o aceite ele se torna o devedor
principal do título, mas antes do aceite, o sacado não tem obrigação cambiária.
Com o aceite do sacado, o sacador passa a ser co-devedor da letra. O co-devedor
terá direito de regresso contra o devedor principal. O aceite é facultativo, uma
vez que é lícito ao sacado recusar o aceite;
- efeitos da recusa do aceite: recusando o aceite, o sacado não tem
obrigação cambiária, sendo o sacador o devedor principal. A recusa do
aceite provoca o vencimento antecipado do título40;
- cláusula não aceitável: impede a apresentação do título para aceite,
devendo o título ser apresentado ao sacado na data do vencimento
(logicamente, para pagamento). Essa cláusula é muito útil para evitar o
vencimento antecipado do título;
- endosso: é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula
à ordem transmite o direito ao valor constante no título a outra
pessoa,sendo acompanhado da tradição da cártula, que transfere a posse
desta;
- endossante: transfere o título;
- endossatário: recebe o título;
- efeitos do endosso: transferência da titularidade do crédito do endossante
para o endossatário; tornar o endossante co-devedor do título de crédito
40 Caiu na prova da magistratura as espécies de vencimento extraordinário, que são apenas duas:
recusa do aceite; caso de falência (a sentença declaratória da falência tem o efeito de antecipar toda a
dívida do devedor).

Direito Empresarial 34
(respondendo pela existência e solvência do título) – o tomador beneficiário
sempre é o primeiro endossante do título de crédito;
- o endosso pode ser dado no verso do título com uma simples assinatura.
Porém, pode também o endosso ser dado no anverso do título, desde que
tenha uma assinatura e uma expressão identificadora do endosso (pague-se
a; endosso a; transfiro a; etc.);
- endosso em preto: o endossatário está identificado;
- endosso em branco: não está identificado o endossatário;
- endosso parcial: não é permitido, uma vez que é impossível entregar
somente uma parte do título, sendo o endosso parcial nulo;
- limite de endosso: não há limite de endosso nos títulos de crédito,
podendo o título ter quantos endossos forem necessários;
- endosso de título vencido: pode haver endosso de título vencido. Se
além do vencimento, houver protesto do título ou estiver expirado o
prazo do protesto, o endosso terá efeito de cessão civil e será
chamado de endosso póstumo ou endosso tardio;
- endosso impróprio: o endosso próprio transfere a titularidade do
crédito. No endosso impróprio não há troca de titularidade do crédito,
sendo usado apenas para legitimar a posse do endossatário. Nós temos
duas modalidades de endosso impróprio:
- endosso mandato: é utilizado para transferir poderes e autorizar
um terceiro a exercer os direitos inerentes ao título.Surge a figura
do endossante mandante e do endossatário mandatário. É como se
estivesse dando uma procuração para alguém cobrar o título por
você;
- endosso caução ou pignoratício: é instrumento adequado para a
instituição de penhor sobre o título de crédito. Normalmente
coloca-se no título a expressão “em penhor”;
- aval: é garantia. É a declaração cambiária decorrente de uma manifestação
unilateral de vontade pela qual a pessoa, física ou jurídica, assume a obrigação
cambiária autônoma e incondicional de garantir no vencimento, o pagamento do
título nas condições nele estabelecidas. O avalista garante o pagamento do
avalizado;
- o aval no anverso se dá por simples assinatura, e no verso deve haver a
assinatura e uma expressão inequívoca no sentido de dizer que trata-se de
aval (avalizo à; dou aval à; etc.);
- assim como o endosso, o aval pode ser em preto ou em branco;
- aval em preto: identifica-se o avalizado;
- aval em branco: não identifica o avalizado. No aval em branco, avalizado é
o sacador emitente do título;
- aval parcial: a lei especial admite o aval parcial, porém, o Código Civil, no
seu artigo 897, parágrafo único, não admite o aval parcial. O Decreto
57.663/66, e seu artigo 30, admite o aval parcial expressamente. Assim,
deve-se utilizar, de acordo com o critério da especialidade, a orientação de
que é possível o aval parcial;
- aval VS fiança: o aval somente pode ser dado em título de crédito e a
fiança somente pode ser dada em contrato. O aval é autônomo, já a fiança é
acessória (em caso de morte, incapacidade ou falência do avalizado, o
avalista continua responsável). Aval não tem benefício de ordem, já a fiança
possui benefício de ordem. Segundo o artigo 1.647 do CC/02, nenhum dos
cônjuges pode, sem a autorização do outro (salvo quando o regime for de
separação absoluta), prestar fiança ou aval;
Direito Empresarial 35
- caso o avalista seja acionado ele terá direito de regresso contra o avalizado
e todos os devedores anteriores a ele;
- o aval dado após o vencimento, mesmo após o protesto, continua tendo o
mesmo efeito de aval;

- tipos de vencimento:
- à vista: exigível de imediato, podendo apresentar para pagamento a
qualquer tempo;
- data certa/data fixada/data marcada: há data fixada no título em relação
ao vencimento;
- a certo termo de vista: estipula-se um determinado número de dias
contados de um marco temporal (nesse caso, a vista do sacado – aceite).
Fica claro que conta-se o vencimento depois da data do aceite;
- a certo termo de data: estipula-se um número determinado de dias
contados de um marco inicial (nesse caso, o saque). Fica claro que conta-se
o vencimento depois da data do saque, ou seja, da emissão;

- Nota promissória:
- o decreto 57.663/66, no artigo 77 diz que as mesmas regras que foram vistas
em relação à letra de câmbio aplicam-se no que for possível à nota promissória;
- a nota promissória é uma promessa de pagamento (portanto, há o
promitente/subscritor/emitente que é o devedor e o tomador/beneficiário que é o
credor);
- por não se tratar de ordem, e sim de promessa de pagamento, não há sacado
na nota promissória. O aceite portanto, é inexistente na nota promissória;
- a Lei Uniforme de Genebra, em seu artigo 78, diz que a nota promissória pode
ter os mesmos 4 tipos de vencimento, assim, o vencimento a certo termo de
vista conta-se do visto do subscritor, já que a nota promissória não tem aceite;
- é muito comum a vinculação de nota promissória a determinado contrato.
Segundo o princípio da autonomia dos títulos de crédito, caso o título seja
transferido a terceiro de boa fé, ocorre a abstração, onde o título se desprende
da causa. Agora, se na nota promissória constar que ela foi emitida em razão de
determinado negócio jurídico, esse título não goza de autonomia, uma vez que
poderá ser alegada exceção pessoal em desfavor de terceiro de boa fé. Nota-se
portanto, que nota promissória vinculada a contrato não goza de autonomia;
- segundo a súmula 258 do STJ “a nota promissória vinculada a contrato de
abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a
originou.” Nessa súmula, apesar da causa ser distinta, o título também não goza
de autonomia;
- portanto, é de extrema importância lembrar que nota promissória vinculada a
contrato não goza de autonomia;

- Duplicata:
- duplicata é regida pela 5.474/68;
- conceito: duplicata é um título de crédito à ordem, extraído pelo vendedor ou
prestador de serviços, que visa a documentar o saque fundado sobre crédito
decorrente de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços, tem como
pressuposto a extração de uma fatura;
- a duplicata é um título causal, uma vez que ela somente pode ser emitida no
caso de compra e venda mercantil ou no caso de prestação de serviços;
- a emissão de fatura é obrigatória, mas a emissão de duplicata é facultativa. Do
crédito (correspondente à fatura), pode ser emitida uma duplicata;
Direito Empresarial 36
- na duplicata, quem dá a ordem é o vendedor, que dá uma ordem para o
comprador pagar para ele (o vendedor);
- a duplicata somente pode representar uma única fatura (art. 2º, §2º da lei
5.474/68). Porém, pode haver uma única fatura com mais de uma duplicata (ex.:
exemplo claro é o comum parcelamento em prestações, onde para cada
prestação é feita uma duplicata);
- na letra de câmbio, se o sacado concordar com o pagamento, ele vai dar o
“aceite”, sendo facultativo o aceite. Na duplicata, o aceite é obrigatório;
- hipóteses legais de recusa do aceite41:
* avaria/não recebimento da mercadoria/não prestação dos serviços;
* vício/defeito de quantidade ou qualidade do produto ou serviço;
* divergências quanto à prazo/preço/condições de pagamento;
Obs.: a recusa do aceite deve ser motivada.
- após a emissão da duplicata, o sacador terá prazo de 30 dias para sua remessa
ao sacado;
- o sacado, ao receber a duplicata, terá prazo de 10 dias para dar o aceite ou
recusá-lo de forma motivada e devolver a duplicata ao sacador;

- o endosso da duplicata segue a regra do endosso da letra de câmbio. No que se


refere ao aval, também se aplica as disposições referentes à letra de câmbio.
Porém, há algumas pequenas diferenças:
- a duplicata ou é à vista ou é com data certa, não se admitindo duplicata a
certo termo de vista ou a certo termo de data;

- a triplicata é a segunda via da duplicata, só podendo ser emitida nas hipóteses


previstas na lei:
- a perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor à extrair triplicata,
portanto, só pode haver a triplicata em caso de perda ou extravio;
- modalidades de protesto da duplicata:
- protesto pro falta de aceite  surge em razão da devolução da
duplicata sem aceite e sem justificativa para recusa do aceite;
- protesto por falta de devolução  caso o comprador não devolva a
duplicata no prazo de 10 dias que ele tem para dar o aceite, cabe o protesto
por falta de devolução;
- protesto por falta de pagamento  quando a duplicata é aceita, é
devolvida mas não é honrado o pagamento, cabendo esse protesto;

PERGUNTA: É possível a execução de duplicata sem aceite?


RESPOSTA: É sim possível, desde que preenchido alguns requisitos da lei. Esses
requisitos são: protesto + comprovante da entrega da mercadoria ou da
prestação de serviços. Não precisa-se do contrato, mas precisa-se do
comprovante da entrega da mercadoria.

- Cheque:
- a lei do cheque é a lei 7.357/85;
- conceito: cheque é uma ordem de pagamento à vista, incondicional, contra um
banco, em razão de provisão que o emitente possui junto ao sacado, proveniente
esta de contrato de depósito bancário ou de abertura de crédito;
- a relação jurídica do cheque é composta de: sacador + sacado (banco) +
tomador;

41 Trata-se de rol taxativo. Esse rol encontra-se no artigo 8º e artigo 21 da lei.

Direito Empresarial 37
- súmula 387 do STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões ou em branco,
pode ser completada pelo credor de boa fé, antes da cobrança ou do protesto.”
- o cheque não admite aceite;
- com relação ao vencimento, o cheque somente pode ser à vista, não existindo
cheque a data certa, a certo termo de vista ou a certo termo de data;
- daí surge o problema do cheque pós-datado (ou pré-datado, com querem
alguns): segundo o artigo 32 da lei do cheque, ele é pagamento à vista,
considerando-se não escrita qualquer menção em contrário (portanto, o “bom
para” é considerado não escrito), podendo portanto, haver execução, protesto,
de cheque pré-datado antes da data estipulada no título (esse procedimento por
parte do credor pode gerar dano moral para o devedor – segundo a súmula 370
do STJ caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-
datado42);
- no caso de devolução indevida do cheque (cheque perfeito, apresentado para
pagamento, com fundos no banco, e devolvido): assim, o STJ editou a súmula
388, no sentido de que “a simples devolução indevida de cheque caracteriza
dano moral”;
- no que se refere ao endosso, tudo visto na letra de câmbio também se aplica ao
cheque.
Obs.: quando ainda vigorava a CPMF, existia o motivo 36 para devolução do
cheque, para o caso de cheque com mais de um endosso (a regra proibitiva
de dava pelo fato do endosso fazer o cheque circular sem a incidência de
CPMF). Atualmente, não há mais limite de endosso para o cheque.
- no que se refere ao aval, tudo visto na letra de câmbio se aplica ao cheque. O
aval no cheque pode ser parcial ou total. O aval somente continua enquanto o
título ainda é cambial, uma vez que, caso o título deixe de ser obrigação cambial,
o aval não mais vale (ex.: o título prescrito faz com que o título deixe de ser
cambial, gerando a perda de efeito do aval). A súmula 299 do STJ diz que “[...]é
admissível ação monitória fundada em cheque prescrito.” A ação monitória
contra o avalista de um cheque não pode ser proposta contra o avalista (nesse
sentido a jurisprudência do STJ, como o REsp. 200.492/MG);
- prazo de apresentação: é de 30 dias se emitido na praça do sacado ou de 60
dias se for emitido em praça diferente da do sacado. Esse prazo é contato à
partir da data de emissão do cheque. Há duas finalidades principais do prazo de
apresentação:
- dar início ao prazo prescricional;
- só é possível executar endossante de cheque se o cheque for apresentado
dentro do prazo legal (art. 47, II, da lei de cheque) – perdido o prazo de
apresentação, não se pode mais executar o endossante. Segundo a súmula
600 do STF, cabe “[...] ação executiva contra o emitente e seus avalistas,
ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que
não prescrita a ação cambiária.” Portanto, somente o endossante não pode
ser executado;

- sustação:
- a sustação pode ser de dois tipos:
- contra ordem/revogação (art. 35 da lei)  somente pode ser realizada
pelo emitente, só produzindo efeito depois do prazo de apresentação;

42 Segundo a súmula, o dano é presumido, não precisar ser comprovado.

Direito Empresarial 38
- oposição/sustação (art. 36 da lei)  pode ser realizado pelo emitente e
o portador legitimado, ocorrendo esta mesmo durante o prazo de
apresentação;
- pagamento:
- pagamento parcial: segundo o artigo 38, parágrafo único da lei, diz que o
portador não pode recusar pagamento parcial;
- conta conjunta: segundo o STJ, na conta conjunta há solidariedade ativa, no
sentido de que ambos podem movimentar a conta, mas não há
solidariedade passiva. A responsabilidade passiva é do emitente do cheque;
- Prescrição:
DEVEDOR CO-DEVEDOR E DIREITO
PRINCIPA AVALISTA DE
LE REGRESS
AVALISTA O

LETRA DE 3 anos 1 ano contado do 6 meses


CÂMBIO E contados protesto; contados
NOTA do do
PROMISSÓRI venciment pagament
A o; o ou de
quando
demandad
o;

DUPLICATA 3 anos 1 ano contado do 1 ano


contados protesto; contado
do do
venciment pagament
o; o ou de
quando
demandad
o;

CHEQUE 6 meses – 6 meses – contados do 6 meses –


contados protesto (o processo do
do fim do poderá ser substituído pagament
prazo para – nos termos do artigo o ou de
apresentaç – por uma declaração quando
ão; do banco sacado ou demandad
por uma declaração da o;
câmara de
compensação) ;
43

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

43 Na verdade, o grande objetivo de protestar o cheque é a interrupção do prazo prescricional.

Direito Empresarial 39
- aqui será estudado a alienação fiduciária de bens móveis, no mercado de capitais,
aplicando o decreto-lei 911, devendo o credor nesse caso ser uma instituição
financeira em sentido amplo ou um consórcio;
- portanto, se a alienação fiduciária de bens móveis for entre particulares, aplica-se o
Código Civil. Porém, mesmo no caso da alienação fiduciária em mercado de capitais,
aplica-se o código civil de forma subsidiária;
- o contrato de alienação fiduciária é chamado de contrato de caráter instrumental,
pois ele é utilizado para instrumentalizar, viabilizar um outro contrato (que na maioria
das vezes será um contrato de compra e venda com financiamento);
- o devedor fiduciante é quem aliena em fidúcia para o credor, quem recebe a
confiança é o credor, chamado de credor fiduciário (portanto, devedor fiduciante e
credor fiduciário, não existe: credor fiduciante e devedor fiduciário);
- quando se aliena por meio de alienação fiduciária, o credor fiduciário tem a posse
indireta e a propriedade resolúvel, assim, com o pagamento da dívida, o devedor fica
com a propriedade plena. Antes do pagamento, o credor tem propriedade resolúvel e
posse indireta;
- só será constituída a propriedade fiduciária com o registro do contrato de alienação
fiduciária. O art. 129, V da lei 6.515, diz que o contrato de alienação fiduciária deve
ser levado à registro no cartório de Registro de Títulos e Documentos (RTD). O artigo
1.361, §1º do CC, diz que no caso de veículo o registro deve ser feito no órgão
competente (DETRAN), sendo, segundo o STJ, dispensado o registro no cartório de
Registro de Títulos e Documentos, argumentando que o simples registro no DETRAN é
suficiente para dar publicidade ao ato;
- segundo súmula 28 do STJ diz que “o contrato de alienação fiduciária em garantia
pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor.”
- no caso de inadimplemento do devedor, o decreto-lei 911 prevê a possibilidade de
ajuização de ação de busca e apreensão (que não é a ação de busca e apreensão do
CPC), ainda há a possibilidade de propositura da ação de execução;

- Ação de busca e apreensão:


- para se ajuizar a ação de busca e apreensão, deve-se provar a mora (a mora se
dá com o vencimento, mas não se comprova só com o vencimento), devendo ser
a mora provada por meio de protesto ou notificação. Somente depois da mora
comprovada é que o juiz concede a liminar de busca e apreensão (súmula 245 do
STJ);
- cinco dias após executada a liminar de busca e apreensão, segundo a lei, o
credor passa a ter propriedade plena e posse plena do bem, podendo vender o
bem já;
- o prazo para contestação é de 15 dias contados da execução da liminar,
segundo o artigo 3º do diploma normativo;
- caso a venda do carro seja realizada e a ação de busca e apreensão seja
julgada improcedente, além da devolução do valor pago, haverá uma multa de
50% do valor originariamente financiado, devidamente atualizado;
- quando mesmo abatendo o saldo remanescente, ainda sobra uma dívida por
parte do devedor, assim, no caso de alienação judicial, pode-se executar o valor
restante. No caso de venda extrajudicial, o restante da dívida não comporta
execução (sob pena de gerar-se muitas fraudes), uma vez que falta a liquidez. A
súmula 384 do STJ diz “que cabe ação monitória para haver saldo remanescente
oriundo de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em garantia”
(portanto, apesar de não caber execução, cabe monitória);

Direito Empresarial 40
CONTRATO DE LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL
- Introdução:
- está previsto na resolução 2.309/96 do BACEN;
- é um contrato de locação com opção de compra no fim do contrato;
- arrendador: é a empresa de leasing, tem de ser uma pessoa jurídica e
necessariamente uma sociedade anônima;
- arrendatário: pessoa física ou pessoa jurídica;
- o leasing serve tanto para bem móvel quanto para bem imóvel;
- ao final do contrato de leasing, surgem três opções para o arrendatário:
a) devolver o bem;
b) renovar o contrato;
c) comprar o bem (pagando o VRG);
Obs.: quanto da prática de pagamento do VRG (Valor Residual
Garantido) desde o início do contrato (diluídos nas prestações), o STJ
editou a súmula 263, no sentido de que a cobrança antecipada co VRG
descaracterizava o contrato de arrendamento mercantil transformando-
a em compra e venda à prestação. Porém, julgando alguns Recursos
Especiais, o STJ muda a orientação, cancela a súmula 263 e edita a
súmula 293 do STJ, no sentido de que “a cobrança antecipada do VRG
não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil” – o STJ, para
chegar a essa orientação, adotou o principio da liberdade de escolha e o
princípio da livre convenção das partes.
- modalidades de leasing:
a) leasing financeiro:
- esse leasing possui três intervenientes, tendo a figura do arrendador, do
arrendatário e do “fornecedor – exemplo: alguém vai a concessionária,
escolhe um carro, indica aquele bem para a empresa de leasing, a empresa
compra o carro e depois faz um contrato de leasing (arrendamento
mercantil) com o arrendatário;
- de acordo com a resolução do Banco Central, o valor total das prestações
do leasing vai ter de ser igual ao valor do bem acrescido do lucro para o
arrendador;
b) leasing operacional:
- nesse leasing, há a figura do arrendador e a do arrendatário. Nesse caso, a
mesma pessoa que fornece o produto já realiza o leasing (coincide a pessoa
do fornecedor com a pessoa do arrendador);
- a resolução do BACEN que regula a matéria sofreu recente alteração (que
exerceu muita influência sobre o leasing operacional). Atualmente, o valor
total do das prestações não pode ser superior a 90% do valor total do bem;
- a vantagem do leasing operacional se refere à assistência técnica, uma vez
que de acordo com o contrato a fornecedora sempre deve ser a prestadora
de assistência técnica (seja para o fornecimento de peças ou suprimentos);
c) lease back (leasing de retorno):
- o arrendatário deve ser necessariamente pessoa jurídica (pessoa física não
pode ter leasing de retorno);
- a grande finalidade do “lease back” é o capital de giro;
- o “lease back” cabe em duas operações: compra e venda + dação em
pagamento (saindo o bem da esfera de propriedade por meio dessas
operações, passando a ser titular do bem a sociedade de arrendamento
mercantil);

Direito Empresarial 41
- assim, o bem que foi transferido para a empresa de arrendamento (seja
por compra e venda, seja por dação em pagamento), e o arrendatário pode
fazer um contrato de leasing com a sociedade de arrendamento mercantil,
uma vez que vai precisar do bem para exercício das suas atividades
comerciais (no final desse contrato de leasing, surge para o arrendatário as
três opções típicas do leasing);

- ação de reintegração de posse:


- esse é o mecanismo de defesa da sociedade de arrendamento mercantil no
caso de não pagamento por parte do arrendatário;
- a súmula 369 do STJ prevê como necessária a notificação prévia do arrendatário
para constituí-lo em mora (mesmo que haja cláusula expressa em contrário);

CONTRATO DE FRANQUIA
- previsão legal:
- a lei 8.955/94 trata do contrato de franquia, nos seus 11 artigos (leitura
obrigatória);

- noções gerais da franquia:


- na franquia, há a figura do franqueador e do franqueado;
- franqueador: é o titular da franquia, que deve ser um empresário individual ou
uma sociedade empresária
- franqueado: também vai ser um empresário individual ou uma sociedade
empresária;
- entre franqueador e franqueado é celebrado um contrato empresarial;
- contrato de franquia:
- se refere à licença de uso de marca ou patente;
- há a distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços;
- transferência de “know-how”, ou seja, de conhecimento técnico;
- Obs.: a doutrina chama a distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos
e serviços e a transferência de “know-how” de organização empresarial;
- o contrato de franquia deve ser necessariamente escrito e na presença de duas
testemunhas;
- o contrato de franquia é plenamente válido entre as partes, e para isso ele não
precisa do registro, porém, para produzir efeitos perante terceiros, a história é
diferente, devendo aplicar a regra da lei 9.279/96 (lei de propriedade imaterial),
que em seu artigo 211, diz que para que o contrato de franquia produza efeito
perante terceiros, ele deve ser registrado no INPI;

- Circular de Oferta de Franquia (COF):


- esse documento é tão importante que está previsto expressamente na lei de
franquia;
- tudo que é importante em relação à franquia está previsto nesse documento;
- recebendo a Circular de Oferta de Franquia, o franqueado tem 10 dias para
poder definir se vai aderir à franquia ou não;
- só se pode assinar o contrato de franquia 10 dias depois de ter recebido a
Circular de Oferta de Franquia;
- o art. 4º, parágrafo único, diz que o franqueado pode invocar a anulabilidade do
contrato com a devolução de todas as parcelas até então pagas, caso não seja
Direito Empresarial 42
observado esse prazo de 10 dias (só o franqueado que pode pedir essa
anulabilidade, não cabendo o mesmo para o franqueador) – nota-se que tal
direito pode ser exercido pelo franqueado sem prejuízo de eventuais perdas e
danos;

CONTRATO DE FACTORING – FOMENTO MERCANTIL


- introdução:
- não há legislação específica tratando do contrato de “factoring”, devendo ser
aplicadas as regras de cessão de crédito contida nos artigos 286 e seguintes do
código civil;
- a LC 123/06, em seu artigo 17, traz um conceito de “factoring”, sendo tal
contrato aquele que “explora atividade de prestação cumulativa e contínua de
serviços de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos,
administração de contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos, compras
de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis à prazo ou de prestação
de serviços”.
- no “factoring” há a figura do faturizador e do faturizado:
- faturizador: empresa de leasing, que é uma pessoa jurídica que não é uma
instituição financeira e não precisa de autorização do Banco Central para
funcionamento. A “factoring” compra direitos creditórios (não se deve
pensar que trata-se de uma agiotagem legalizada);
- a “factoring” compra um faturamento que tem um valor, daí a “factoring” aplica
o chamado valor de compra (também chamado de deságio) e paga nesse
faturamento um valor inferior ao seu valor nominal;
- o art. 296 do CC/02 diz que salvo estipulação em contrário, o cedente não
responde pela solvência do devedor. A “factoring” faz negócios jurídicos com
seus clientes que são vistos como cessão de crédito. Em razão disso, a
“factoring” só vai comprar os títulos que possui grandes chances de vender (é
uma espécie de “seleção e riscos”);
- desconto bancário VS “factoring”:
FACTORING DESCONTO BANCÁRIO
- não é realizado por instituição - será realizado por instituição
financeira; financeira;

- quem transfere o título não - quem transfere o título responde


responde pela solvência deste; pelo pagamento;

- modalidades de “factoring”:
- “factoring” tradicional -> o pagamento é antecipado;
- “factoring” de vencimento -> o pagamento se dá no vencimento;

CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL


- Previsão legal:
- a lei 4.886/65 que regula a matéria;
- alguns autores, como Maria Helena Diniz entendem que o contrato de
representação é a mesma coisa que o “contrato de agência”, e o CC/02, nos
artigos 710 e seguintes, trata do contrato de agência;
- a posição majoritária é a de que o contrato de representação comercial é
distinto do contrato de agência;
Direito Empresarial 43
- Introdução:
- pode ser representante pessoa física ou pessoa jurídica, devendo ter caráter
não eventual e exercer a mediação para negócio mercantis, agenciando
propostas ou pedidos para transmiti-los aos representados (ver art. 1º da lei);
- portanto, representante pode ser pessoa física ou pessoa jurídica;
- o representado vai ser sempre um empresário individual ou uma sociedade
empresária;
- não há vínculo empregatício entre o representante e o representado;
- atividade do representante: consiste na mediação de negócios mercantis, na
agenciação de pedidos;
- caracteriza-se a distribuição quando o agente tiver a coisa em sua posse para
ser entregue (nesse caso, não se caracteriza representação);

- Exclusividade:
- de zona geográfica: o artigo 31 da lei trata da matéria. Mesmo se o contrato for
omisso, haverá presunção de exclusividade de zona geográfica, em outras
palavras, a exclusividade da zona geográfica é presumida.
- de representação: às vezes, o representado não quer que o representante
represente outra marca, não podendo representar outras empresas no mesmo
ramo de atividade, podendo tal cláusula constar no contrato. O problema é que
essa regra não cai na prova, mas o que cai é se essa exclusividade é presumida
ou não. O parágrafo único do artigo 31 da lei é claro em estabelecer a regra de
que a exclusividade de representação não é presumida;
Obs.: na agência (art. 711 do CPC), a exclusividade ocorrerá sempre sem
relação à zona geográfica e em relação à representação (salvo disposição
em contrário);

- Rescisão imotivada do contrato de representação:


- essa rescisão pode gerar indenização, devendo olhar se o prazo do contrato era
determinado ou se o prazo era indeterminado;
- em caso de contrato com prazo determinado, deve ser paga a título de
indenização a média mensal e multiplicar pela metade dos meses que faltam
para terminar o contrato;
- em caso de contrato com prazo indeterminado, o valor a ser indenizado é de
1/12 do valor total recebido em razão da representação;
Obs.: no caso do contrato de agência, não há previsão expressa do CC/02,
devendo aplicar subsidiariamente a própria regra do contrato de
representação, conforme estabelece o próprio CC/02, que prevê a aplicação
subsidiária de lei especial;

NOVA LEI DE FALÊNCIA – LEI 11.101/05


- Introdução:
- a nova lei de falência trouxe três institutos: falência + recuperação judicial +
recuperação extrajudicial;
- deve-se, primeiramente, estudar as disposições gerais da lei de falência, ou
seja, os dispositivos que se aplicam para todos os três institutos acima
elencados;

- Disposições gerais:
Direito Empresarial 44
- a nova lei de falência somente se aplica para o empresário individual ou
sociedade empresária (portanto, a título de exemplo, a sociedade simples está
sujeita a uma “insolvência civil”, estando fora da abrangência da lei de falência);
- a própria lei (art. 2º44) prevê casos onde há exclusão de sua abrangência, ainda
que se trata de empresário individual ou sociedade empresária:
I -> empresa pública + sociedade de economia mista;
- portanto, tanto a empresa pública quanto a sociedade de economia
mista, não podem, em hipótese alguma, sofrer falência;
II -> instituição financeira pública ou privada + consórcio + cooperativa de
crédito + operadora de plano de saúde + entidade de previdência
complementar + seguradora + sociedade de capitalização + outras
entidades legalmente equiparadas a estas45;
- estes são parcialmente excluídos pelo fato de, a princípio, nenhum dos
casos do inciso “II” podem sofrer pedido de falência, mas todos os casos
do inciso “II” podem passar por liquidação extrajudicial. Na liquidação
extrajudicial vai ser nomeado um liquidante, e este, por sua vez, poderá
pedir a falência nos casos do inciso “II” 46;

- Competência:
- a competência é da justiça comum estadual (não da justiça federal, que por
sinal, também é justiça comum) – o próprio artigo 109, I, da CRFB/88 exclui a
competência dos juízes federais para julgar a ação de falência;
- o juízo competente é o do local do principal estabelecimento. Sendo a sede fora
do Brasil, é o do local da filial;

- Falência:
- a falência é uma execução coletiva, também chamada de “execução
concursal”;
- legitimidade ativa: aqui vai se estudar os possíveis autores da ação de falência;
a) o próprio empresário ou a própria sociedade empresária -> trata
de caso típico de “autofalência”, conforme a doutrina denomina. Esse
instituto está disciplinado no artigo 105 da lei 11.101/05. Para que se venha
a pedir a autofalência a emprese deve preencher alguns requisitos: estar em
crise econômico-financeira + julgar não atender aos requisitos da
recuperação judicial47. Resta saber se quem encontra nessas condições
poderá pedir a própria falência ou se deverá fazê-lo: nos termos do artigo
105, é obrigação da empresa que se encontra nessas condições pedir a
falência, portanto, a empresa deverá pedir a falência quando preenchido tais
requisitos48;
b) sócio ou acionista da sociedade -> estes também podem pedir
falência;

44 O artigo 2º está dividido em dois incisos, e de acordo com o Professor Fábio Ulhoa Coelho, tal
divisão é proposital, uma vez que os casos do inciso “I” refere-se aos totalmente excluídos, e o inciso
“II” refere-se aos parcialmente excluídos.

45 Exemplos de entidades equiparadas: empresa de leasing + empresas administradoras de cartão de


crédito (nos termos da súmula 283 do STJ).

46 Por isso é que o Banco Santos, que é uma instituição financeira, teve sua falência decretada.

47 Isso se dá pela “teoria da preservação da empresa”.

48 Apesar da obrigação existir, a lei não trouxe nenhuma sanção para o descumprimento desse dever.

Direito Empresarial 45
c) qualquer credor -> legitimidade ampla, abrangendo qualquer tipo de
credor. Porém, a lei faz duas ressalvas: a primeira, prevista no artigo 97,
§1º, define que se o credor que vai ajuizar a ação for um empresário, ele
deverá ser um empresário regular (sendo necessário o registro na Junta
Comercial). Surge uma dúvida em relação à sociedade em comum
(sociedade não levada a registro, “irregular” – é a sociedade do artigo 986
do CC/02), mas deve-se entender que essa sociedade não pode pedir
falência de terceiro, mas não há vedação para que ela peça a “autofalência”,
uma vez que a regra prevista no artigo 105, IV da lei, traz a necessidade de
prova da condição de empresário (contrato social, estatuto ou se não
houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus
bens pessoais), assim, conclui-se pela possibilidade de pedido de
autofalência da sociedade não levada a registro; a segunda ressalva se
refere ao credor que não tem domicílio no país, exigindo a lei que ele preste
caução, uma vez que o artigo 101 da lei falimentar prevê que é possível a
condenação do autor em perdas e danos no processo falimentar (quando
provado a má-fé e o dolo), já que a execução no exterior seria muito lenta e
onerosa (contrariando os princípios da celeridade e da economia, próprios da
lei falimentar);
d) cônjuge sobrevivente, herdeiro e inventariante49 -> é possível pedir
a falência do espólio do empresário individual, nesse caso, cabendo ao
cônjuge sobrevivente, ao herdeiro ou a inventariante pedir falência ao
espólio do empresário individual: o prazo é de 1 ano contado da data do
óbito;
- legitimidade passiva:
a) empresário individual;
b) sociedade empresária;
- fundamentos de pedido de falência:
a) impontualidade injustificada (art. 94, I) -> deixar de pagar no
vencimento sem razão de direito. Nesse caso, o título pode ser executivo ou
não, mas deve estar protestado, além de que o valor da obrigação tem de
ser acima de 40 salários mínimos (deve ser maior que 40 salários mínimos,
não autorizando o pedido da falência no caso de dívida de exatos 40 salários
mínimos) – nos termos do artigo 94, §1º, é admitido o litisconsórcio entre os
credores;
b) execução frustrada (art. 94, II) -> será decretada a falência do
devedor que é executado por qualquer quantia e não paga, não deposita e
não nomeia bens suficientes a penhora dentro do prazo legal – nesse caso, o
credor já ajuizou uma execução individual da empresa, mas a execução
restou frustrada. Deve ficar claro que não é a execução que converte em
falência, mas sim autoriza o pedido de falência (que gerará outro processo).
Qualquer quantia autoriza o pedido de falência com base na execução
frustrada;
b) atos de falência (art. 94, III) -> são comportamentos expressamente
previstos na lei de falência (da letra “a” até a letra “g”) que geram uma
presunção de estado de insolvência, e com base nesse ato, o juiz vai
declarar a falência;
EXEMPLOS DE ATOS DE FALÊNCIA
a) liquidação antecipada: venda de bens sem a devida reposição;

49 Essa hipótese é apenas aplicável ao empresário individual, não sendo aplicável à sociedade
empresária.

Direito Empresarial 46
g) descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação
judicial: quando se há um plano de recuperação, o juiz deve
acompanhar a recuperação pelo prazo de 2 anos, mas o plano pode ter
prazo superior, desde que os credores concordem com isso. Se o
descumprimento da obrigação se der no prazo de 2 anos, em que o juiz
está acompanhando direto a recuperação judicial, basta pedir ao juiz da
recuperação judicial pelo fato dele ter descumprido a obrigação
assumida no plano de recuperação (art. 73, IV da lei). Passado os dois
anos, o pedido de falência vai ser ajuizado com base no artigo 94, III (é
o objeto de estudo no momento);
- hipóteses do devedor após a sua citação:
a) apresentar contestação: a contestação na ação de falência é de 10
dias (art. 98 da lei);
b) depósito elisivo: esse depósito busca impedir a falência, assim, após o
depósito elisivo, o juiz estará impedido de decretar a falência do empresário
ou da sociedade empresária. O depósito elisivo deve ser efetuado dentro do
prazo de contestação, compreendendo o valor principal, juros, correção e
honorários advocatícios – por isso, na citação da falência, o juiz já deve
arbitrar valor de honorários. Pode-se depositar e contestar ao mesmo tempo.
c) recuperação judicial: dentro do prazo de contestação, o devedor pode
pedir a recuperação judicial, sendo que essa recuperação vai suspender o
processo de falência. Alguns doutrinadores tem chamado essa recuperação
judicial de suspensiva, mas questiona-se se essa recuperação judicial
suspensiva é a mesma coisa da concordata suspensiva50: há diferença entre
os dois institutos, uma vez que na recuperação judicial suspensiva ainda não
houve decretação de falência, sendo suspenso o processo de falência, não
os efeitos da decretação de falência;
- sentença:
- a sentença de falência pode ser procedente ou improcedente. A sentença
procedente vai ser chamar declaratória. Porém, caso a sentença seja
improcedente, ela vai se chamar denegatória.
- recursos cabíveis:
a) sentença declaratória: comporta agravo de instrumento;
b) sentença denegatória: comporta apelação;
Obs.: nesse caso, aplicam-se os mesmos prazos recursais que o CPC,
uma vez que o artigo 189 da lei falimentar diz que o CPC deve ser
aplicado no que couber em relação aos procedimentos previstos na lei
especial. Quanto aos recursos, quando observamos que a sentença
declaratória da falência é ataca por agravo, se dá em razão de que a
sentença não extingue o processo, mas sim, abre uma nova fase do
processo (portanto, tal sentença tem mais força de decisão
interlocutória do que de sentença propriamente dita);
- ainda pode haver a sentença de extinção das obrigações do falido.
- legitimidade recursal em caso de decretação de falência:
- o devedor;
- o Ministério Público, como fiscal da lei;
- o credor;
- legitimidade recursal em caso de denegação de falência:
- o credor;
- o Ministério Público como fiscal da lei;

50 Caso em que a falência já tinha sido decretada, e essa concordata suspendia os efeitos da falência.

Direito Empresarial 47
- o próprio devedor51;
- sentença declaratória:
- requisitos (art. 99 da lei): o mais importante de todos os requisitos é o
inciso IX do artigo 99 da lei de falências, que se traduz na nomeação do
administrador judicial. Administrador judicial é aquele que veio para
substituir a figura do síndico (prevista na lei anterior);
- administrador judicial (art. 21 da lei): o administrador judicial será
profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista,
administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica
especializada – deve ficar claro que trata-se de preferência, não de
obrigatoriedade. Outra importante é a observar que há ordem de
preferência entre as pessoas previstas no artigo;
- entre as faculdades conferidas ao administrador judicial, doutrina
e jurisprudência dizem ser inconstitucional a prerrogativa de
receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor (art. 22, III,
“d”) – embora o CESPE tem considerado certo a letra fria da lei;
- fixar o termo legal da falência: na sentença declaratória da
falência, o juiz deve fixar o termo legal da falência (art. 99, II) –
termo legal é o lapso temporal, ou seja, o espaço de tempo que
antecede a falência. Nesse caso, se o devedor praticar os fatos
expressamente previstos no artigo 129 dentro desse prazo, o juiz
vai declarar a ineficácia dos atos (ex. de atos do artigo 129:
pagamento de dívidas não vencidas). Esse período (termo legal) é
chamado pela doutrina de “período suspeito” ou “período
cinzento”. Agora, resta saber o prazo do termo legal: o termo
legal não pode retrotrair por mais de 90 dias, contados das três
seguintes datas:
a) data do 1º protesto -> quando o pedido se dá com base
no artigo 94, I;
b) data do pedido de falência -> quando o pedido se dá
com base no artigo 94, II ou III;
c) data do pedido de recuperação judicial -> quando o
houve a convolação de falência;
- efeitos da sentença declaratória:
- quanto ao falido:
a) art. 102 -> o empresário ou sociedade empresária fica
inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial.
Quando se decreta a falência, quem está impedido de exercer
a atividade empresarial não são os sócios, mas sim, a
sociedade. O problema surge quando a saciedade falida
conter sócio de responsabilidade ilimitada, sendo que nesse
caso, conforme o artigo 81 da lei, ocorrerá a falência dos
sócios também, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos
sofridos pela sociedade empresária falida. O STJ já tem
decidido por diversas vezes que, quando a sociedade não faz a
sua baixa regular na junta comercial, ela torna-se irregular, e
nesse caso, a responsabilidade do sócio passa a ser ilimitada
(nesse caso, aplicar-se-á o artigo 81 para a sociedade que não

51 O devedor é legitimado para recorrer da sentença que denega a falência no caso de


“autofalência”.

Direito Empresarial 48
fez a baixa regular na junta comercial, decretando a falência
tanto para a sociedade quanto para os sócios nesse caso);
b) art. 195 -> a decretação da falência das concessionárias de
serviço público implica em automática extinção da concessão;
- quanto aos credores:
a) juízo universal -> o juízo da falência vai atrair todas as
demais ações e execuções envolvendo interesses do falido
(“vis attractiva”). A consequência é a suspensão de todas as
ações e execuções contra o falido (uma vez que todas devem
vir para o juízo da falência). Porém, há exceções ao juízo
universal:
- ações trabalhistas -> é o juiz trabalhista que vai julgar, e
somente vai executar no juízo falimentar;
- execuções fiscais -> ocorre o mesmo que se dá no caso
de ações trabalhistas;
- ações ilíquidas -> ex.: dano moral;
- ações em que o falido for autor ou litisconsorte ativo;
b) suspensão da fluência do juros -> quando o juiz decreta a
falência, há a suspensão da fluência de juros;
c) vencimento antecipado de toda a dívida do falido;
d) suspensão do curso da prescrição das obrigações do falido;
Obs.: os contratos bilaterais não se resolvem pela falência,
devendo se cumpridos pelo administrador judicial se o
cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da
massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos – não há rescisão contratual automática;
- arrecadação dos bens do falido:
- cabe ao administrador judicial providenciar a arrecadação de todos os bens
do falido, uma vez que todos os bens devem ser arrecadados;
- o terceiro credor pode fazer o pedido da restituição do equipamento
arrecadado pelo administrador judicial quando o bem não pertencer à
pessoa jurídica falida (ex.: bem de terceiro em comodato) – esse processo é
feito através da ação de restituição;
- depois deve ser feita a avaliação dos bens;
- posterior à avaliação, deve ser feita a venda judicial dos bens (chamada
pela doutrina de realização do ativo);
- há três modalidades de venda na falência:
a) leilão -> que na falência, serve tanto para bem móvel quanto para
bem imóvel;
b) proposta fechada -> o juiz estabelece a data de quando vai ser
feita a audiência pública para venda, e os interessados vão apresentar
propostas em cartas fechadas nos cartórios da vara de falência e
recebe um recibo, aí, com esse recibo, pode-se entrar em audiência, na
qual o juiz vai abrir as propostas escolher qual a melhor para a massa
falida;
c) pregão -> é uma modalidade híbrida, pois mistura a modalidade de
leilão com a modalidade de proposta fechada;
Obs.: em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público será
intimado pessoalmente, sob pena de nulidade (art. 142, §7º da lei);
- o artigo 140 traz a regra de que a alienação dos bens devem observar
uma ordem de preferência:

Direito Empresarial 49
Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das
seguintes formas, observada a seguinte ordem de preferência:
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos
em bloco;
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades
produtivas isoladamente;
III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos
estabelecimentos do devedor;
IV – alienação dos bens individualmente considerados.
§ 1o Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade,
podem ser adotadas mais de uma forma de alienação.
§ 2o A realização do ativo terá início independentemente da
formação do quadro-geral de credores.
§ 3o A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de
determinados bens necessários à operação rentável da unidade de
produção, que poderá compreender a transferência de contratos
específicos.
§ 4o Nas transmissões de bens alienados na forma deste artigo que
dependam de registro público, a este servirá como título aquisitivo
suficiente o mandado judicial respectivo.
- percebe-se, pela leitura do artigo 140, que a intenção primária é a
vende em bloco, uma vez que se assim for feito, a chance de haver uma
proposta melhor é maior;
- o inciso II do artigo 141 traz a regra de que não haverá sucessão do
arrematante na arrematação, inclusive as de natureza tributária e as
derivadas da legislação trabalhista ou de acidente do trabalho;
- pagamento dos credores:
- o artigo 150 da lei trata das dívidas decorrentes da administração da
massa falida, que deverão ser pagas tão logo que haja dinheiro em caixa;
- nos termos do artigo 151, os créditos trabalhistas de natureza estritamente
salarial vencidos nos três meses anteriores à decretação da falência, serão
pagos tão logo que haja disponibilidade no caixa (no limite de 5 salários
mínimos por trabalhador);
- o artigo 84 da lei traz os créditos extraconcursais – tais créditos serão
pagos com antecedência aos créditos do artigo 83. Deve-se saber quais são
os créditos extraconcursais, sendo dois os mais importantes: crédito
tributário cujo fato gerador ocorreu depois da decretação da falência +
remuneração do administrador judicial52;
- art. 83 da lei -> ordem de classificação dos créditos na falência:
1º -> créditos trabalhistas até 150 salários mínios por credor e acidente
de trabalho53 - o que exceder a 150 salários mínimos, será considerado
crédito quirografário;
2º-> crédito com garantia real – os créditos de banco costumam ter
garantia real, e os créditos com garantia real foram favorecidos com a nova
lei;
3º-> crédito tributário – excetuadas as multas tributárias;

52 Não se aplica mais a súmula 213 do STJ.

53 Percebe-se que a limitação de 150 salários mínimos é somente para o credor trabalhista, não se
aplica ao crédito resultante de acidente de trabalho. É possível a cessão de crédito trabalhista, desde
que observado o §4º do artigo 83 da lei, que diz que o crédito trabalhista transferido a terceiro será
considerado crédito quirografário.

Direito Empresarial 50
4º-> crédito com privilégios especial – são os casos do artigo 964 do
CC/02;
5º-> créditos com privilégio geral54 – são os casos do artigo 965 do
CC/02;
6º-> crédito quirografário;
7º-> multas – é aqui que entra as multas tributárias;
8º-> créditos subordinados;

- hipóteses de extinção das obrigações do falido:


- ocorrendo o preenchimento de alguma das hipóteses previstas no artigo
158, o juiz dará a sentença de extinção das obrigações do falido;
a) pagamento de todos os credores;
b) pagamento de mais da metade dos créditos quirografários;
c) decurso do prazo de 5 anos contados do encerramento da
falência se não for condenado por crime falimentar;
d) decurso do prazo de 10 anos contados do encerramento da
falência se for condenado por crime falimentar;

- Recuperação Judicial:
- introdução:
- antes da lei 11.101/05 tal o decreto-lei 7.661/45 regulava o instituto da
concordata. A concordata conduzia para a falência por alguns motivos: a
concordata somente abrangia créditos quirografários + a concordata era
chamada de favor legal (pedia-se a concordata e o juiz somente tinha de
analisar se quem pediu preenchia os requisitos, não precisando saber se o
credor concordava com ela) + era carente de outras formas de pagamento
(só era permitido o parcelamento ou pedir a remissão parcial da dívida);
- a recuperação envolve vários créditos (e não só o crédito quirografário). O
credor atua de forma ativa no processo de recuperação judicial (ex.: aprovar
o plano de recuperação). A nova lei ainda conta com mais modernos na
superação de crises (não havendo somente a remissão parcial e o
parcelamento), como por exemplo a cisão, incorporação, fusão ou
transformação de sociedade;
- finalidade:
- o artigo 47 da lei traz as finalidades da recuperação, devendo ficar claro
que o que a recuperação judicial mais busca é a preservação da empresa,
que traz benefícios como: manutenção de emprego + manutenção da fonte
produtora + preservação dos interesses dos credores + manutenção do
desenvolvimento na região;
- requisitos:
- o artigo 48 da lei trata dos requisitos da recuperação judicial;
a) o pedido de recuperação judicial é privativo do devedor empresário ou
sociedade empresária que estão em atividade regular a mais de dois anos.
sociedade em comum (não foi devidamente registrada) não pode pedir
recuperação judicial;
b) não ser falido, e se já o foi, deve ter suas obrigações declaradas extintas
por sentença transitada em julgado;
c) não ter, a menos de 5 anos, obtido55 concessão de recuperação judicial;

54 Exemplo clássico é o caso de honorários advocatícios.

55 Conta-se os 5 anos da datada da obtenção, e não da data do pedido.

Direito Empresarial 51
d) não ter a menos de 8 anos obtido concessão de recuperação judicial
especial;
e) não ter sido condenado por crime falimentar;

- créditos sujeitos aos efeitos da recuperação:


- o artigo 49 da lei diz que são todos os créditos até a data do pedido de
recuperação judicial, ainda que não vencidos – portanto, entra no plano re
recuperação os créditos vincendos;
- os créditos tributários não fazem parte do plano de recuperação (art. 6º,
§7º combinado com o artigo 57 da lei), até mesmo em obediência ao
princípio da isonomia;
- o art. 49, §3º da lei ainda traz outras exceções, sendo os créditos
decorrentes de:
a) propriedade fiduciária;
b) arrendamento mercantil;
c) compra e venda com reserva de domínio;
d) compra e venda de bem imóvel com cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade;
- os créditos posteriores aos pedidos também não fazem parte do plano;
- outra exceção é o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC);
- petição inicial:
- na petição inicial, deve o requerente (devedor):
a) expor as causas da crise;
b) provar a crise por demonstrativos contábeis dos últimos três
exercícios sociais;
c) relação de credores;
- nesse caso, dirige-se a petição para o juiz, que irá verificar se os requisitos
do artigo 51 foram preenchidos, e em caso positivo, o juiz vai deferir o
processamento da recuperação judicial (é o famoso despacho de
processamento). É no despacho de processamento que se nomeia o
administrador judicial, além de que o despacho vai suspender todas as
ações de execução contra o devedor (pelo prazo de 180 dias) – os créditos
que não fazem parte do plano de recuperação não tem as ações executivas
suspensas (ex.: execução fiscal);
- o despacho de processamento deverá ser publicado em um edital (art.
52, §3º da lei), que deverá conter: pedido do autor + termos da decisão que
deferiu o processamento + relação de credores;
- o edital publicado vai gerar duas situações:
a) habilitação de crédito -> essa habilitação de crédito deverá ser
feita no prazo de 15 dias contados do edital. Deverá ainda ser feita uma
nova relação de credores – encerrado o prazo de 15 dias para
habilitação, começa um novo prazo, de 45 dias, para uma nova relação
de credores (art. 7º,§2º da lei);
b) plano de recuperação judicial -> o devedor terá o prazo de 60
dias contado das publicação da decisão que deferir o processamento da
recuperação judicial para apresentar o plano de recuperação judicial
(art. 53 da lei), sob pena do juiz converter a recuperação judicial em
falência;
- após a apresentação do plano, haverá um comunicado para os credores de
que o plano foi apresentado. O credor vai ter acesso ao plano de
recuperação e, caso não concorde com o plano, poderá apresentar um
Direito Empresarial 52
instrumento chamado objeção ao plano (art. 55 da lei) no prazo de 30 dias
contados da publicação da relação do artigo 7º, §2º;
- não apresentada nenhuma objeção do plano, significa que o plano está
aprovado. Apresentada a objeção, o juiz convocará a Assembléia Geral de
Credores para decidir em relação ao plano. Na assembléia o plano pode ser
aprovado ou então o plano pode ser reprovado. Rejeitado o plano de
recuperação pela assembléia geral de credores, o juiz decretará a falência
do devedor;
- após a aprovação do plano pelos credores, o juiz dará uma decisão
concessiva, (se preenchido os requisitos do artigo 57 da lei – por exemplo,
apresentar certidões negativas de débitos tributários). Os TJ´s de MG, SP e
RJ consideram que pode haver uma decisão concessiva (em razão do
princípio da conservação da empresa) mesmo quando não haja uma
Certidão Negativa de Débito;
- decisão concessiva:
a) art. 59, “caput” -> a decisão concessiva implica em novação, ou seja,
criação de uma nova dívida;
b) art. 59, §1º -> a decisão concessiva é um título executivo judicial;
c) art. 59, §2º -> da decisão concessiva, cabe agravo de instrumento,
que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo membro do
Ministério Público;

- Recuperação Judicial Especial (art. 70 e seguintes da lei):


- introdução:
- é especial por ser voltada para a micro-empresa e empresa de pequeno
porte;
- fica a critério de quem vai pedir, pedir a recuperação judicial comum ou a
especial;
- peculiaridades:
- a recuperação judicial especial só vai envolver o crédito quirografário;
- também há edital com a relação de credores, mas constarão apenas os
credores quirografários;
- a habilitação de crédito também é privativa do credor quirografário;
- o plano de recuperação está pré-pronto. Portanto, o plano é:
a) pagamento em até 36 parcelas mensais iguais e sucessivas com
correção e juros de 12% ao ano – o pagamento da primeira parcela
deverá ser feito em até 180 dias;
b) o juiz aprovará o plano mesmo tendo objeção ao plano. O artigo 72,
parágrafo único, diz que o juiz também julgará improcedente o pedido
de recuperação judicial e decretará a falência do devedor se houver
objeções de credores titulares de mais da metade dos créditos;

- Recuperação Extrajudicial:
- é um acordo privado feito diretamente pelo devedor;
- créditos excluídos da recuperação extrajudicial: todos os créditos excluídos da
recuperação judicial comum não podem fazer parte da recuperação extrajudicial.
Porém, o crédito trabalhista não integra o plano de recuperação extrajudicial;

Direito Empresarial 53
-

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Direito Empresarial 54

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