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INTRODUÇÃO

ROMANOS
Autoria
Desde os primórdios da Igreja, a epístola aos Romanos é aceita unanimemente como sendo de
autoria do apóstolo Paulo (Rm 1.1,5). Esta carta contém várias referências históricas que coincidem
com fatos conhecidos da vida do grande apóstolo de Cristo, e é considerada, por muitos teólogos,
a mais importante obra da Bíblia. O seu conteúdo é bem característico ao estilo de Paulo, o que é
notório ao compará-lo com outros de suas cartas sagradas.

Propósitos
Logo depois de cumprimentar os irmãos da Igreja em Roma, destinatários diretos das orientações
da missiva, o apóstolo Paulo, com sua típica saudação acompanhada de ação de graças, fazendo
uso da autoridade do Antigo Testamento (Hc 2.4), e apresenta o tema central de sua carta: a
justificação vem pela fé em Jesus Cristo, o Messias.
Assim, mais formal que as demais epístolas de Paulo, a carta aos Romanos apresenta de maneira
profunda e sistemática a doutrina da justificação pela fé (e seus desdobramentos). Paulo escreve
para uma igreja a qual não havia fundado, nem nunca estivera antes, embora lá tivesse alguns ami-
gos chegados. Além disso, a igreja, que era predominantemente gentílica, estava agindo de forma
intolerante contra os judeus cristãos que se sentiam constrangidos a obedecer às regras alimentares
e datas cerimoniais da tradição religiosa judaica (14.1-6).
A base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus (1.16-17). A
partir dessa constatação, seguem-se várias abordagens doutrinais fundamentais: a revelação natural
(1.19-20); a universalidade do pecado (3.9-20); a plenitude da graça divina na justificação de todo ser
humano (3.24), mediante o sacrifício expiatório de Jesus (3.25), por meio da fé (cap. 4); a questão
do pecado original (5.12-20); a união com Cristo (cap. 6); a eleição e rejeição de Israel (caps. 9-11);
o uso dos dons espirituais
p ((12.3-9);
); e o respeito
p às autoridades ((13.1-7).)
É importante notar que Paulo escreveu aos Romanos também com a visão de preparar o caminho
para sua iminente viagem a Roma e para a missão que ainda pretendia realizar na Espanha (1.10-15;
15.22-29).

Data da primeira publicação


Foi durante a primavera do ano 57 d.C., que o apóstolo Paulo concluiu seu tratado doutrinário
aos Romanos (15.25-27; 16.1,2). Nesta ocasião, ele estava em Corinto, preparando-se para viajar,
transportando
p o dinheiro ofertado ppor algumas
g igrejas
g j e vários cristãos aos irmãos empobrecidos
p e
necessitados, membros da Igreja em Jerusalém. É provável que Paulo estivesse mais precisamente
em Cencréia, cidade retirada cerca de 9 km de Corinto.
Gaio (seu anfitrião) e seus amigos Erasto (tesoureiro da cidade) e Quarto eram naturais de Corinto,
e Febe (fiel discípula e cooperadora) vivia e ministrava em Cencréia (16.1,23; 1Co 1.14; 2Tm 4.20).

Esboço geral de Romanos


1. Saudação ministerial com ações de graças (1.1-15)
2. Tema central: “Justificação por meio da fé em Cristo, o Messias” (1.16,17)
3. A raça humana é naturalmente ímpia, e precisa de Cristo (1.18 – 3.20)
A. Gentios, todos os que não nasceram judeus (1.18-32)
B. Judeus, todos os nascidos de famílias judaicas (2.1 – 3.8)
C. Conclusão: todas as pessoas da Terra pecaram (3.9-20)
4. Resumo do plano de Deus para a salvação de cada pessoa da Terra (3.21-31)
5. A história da vida de Abraão confirma a justificação (4.1-25)
6. Os grandes resultados da justificação (5.1-21)
7. Justiça outorgada: livres do pecado para a santificação (6.1 – 8.39)
A. Livres do domínio do pecado (cap. 6)
B. Livres da condenação universal do pecado (cap. 7)
C. Livres para viver no poder do Espírito de Cristo (cap. 8)

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8. A rejeição de Israel como juízo de Deus (caps. 9-11)
A. Deus é soberano e longânimo ao aplicar a justiça (9.1-29)
B. Os motivos que levaram à rejeição de Israel (9.30 – 10.21)
C. A rejeição é um castigo específico e temporário (cap. 11)
9. Os justificados devem praticar a justiça (12.1 – 15.13)
A. Entre si – na Igreja – que é o Corpo de Cristo (cap. 12)
B. Para com os de fora – no mundo – testemunhando (cap. 13)
C. Convivendo com cristãos maduros e imaturos (14.1 – 15.13)
10. Conclusão desta carta doutrinária (15.14-33)
11. Saudações pessoais do apóstolo Paulo (16.1-16)
12. Exortação final e bênção apostólica (16.17-27)

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ROMANOS
Apresentação e saudação de Paulo Paulo quer ir à Igreja em Roma

1 Paulo, servo do Senhor Jesus Cristo,


chamado para ser apóstolo, separado
para o Evangelho de Deus,1
8 Em primeiro lugar, sou grato a meu
Deus, mediante Jesus Cristo por todos
vós, porquanto em todo o mundo é pro-
2 o qual Ele havia prometido anterior- clamada a fé que demonstrais.5
mente por meio dos seus profetas nas 9 Deus, a quem sirvo de todo o coração
Escrituras Sagradas,2 pregando o Evangelho de seu Filho, é
3 acerca de seu Filho, que, humanamente, minha testemunha de como sempre me
nasceu da descendência de Davi, recordo de vós
4 e com poder foi declarado Filho de 10 em minhas orações; e rogo que agora
Deus segundo o Espírito de santidade, pela vontade de Deus, seja-me aberto o
pela ressurreição dentre os mortos: Jesus caminho para que, enfim, eu vos possa
Cristo, nosso Senhor. visitar.
5 Por intermédio dele e por causa do seu 11 Pois grande é o desejo do meu coração
Nome, recebemos graça e apostolado para em ver-vos, para compartilhar convosco
chamar dentre todas as nações um povo algum dom espiritual, a fim de que sejais
para a obediência que deriva da fé.3 fortalecidos,
6 E vós, igualmente, estais entre os cha- 12 quero dizer, para que eu e vós sejamos
mados para pertencerdes a Jesus Cristo. mutuamente encorajados pela fé.
7 A todos os que estais em Roma, amados 13 E não desejo, irmãos, que desco-
de Deus, convocados para serdes santos: nheçais, que por muitas vezes planejei
Graça e Paz a vós, da parte de Deus nosso visitar-vos, contudo, tenho sido impe-
Pai e do Senhor Jesus Cristo!4 dido até esse momento. Meu objetivo é

1 Na antigüidade, toda carta grega seguia uma metodologia padrão de construção. A primeira parte (abertura) deveria identificar
o remetente e sua saudação. Paulo se vale desta formalidade para apresentar-se da forma mais clara e ampla possível a uma comu-
nidade de irmãos que ama, porém – até aquele momento – ainda não o havia conhecido pessoalmente, mas esperava fazê-lo em
breve (At 9.1; Fp 3.4-14). A palavra grega original doulos, derivada do verbo deo (algemar, aprisionar), significa também: “escravo”.
Para um grego dessa época, essa era uma expressão de vergonha e rebaixamento, para os judeus, entretanto, desde Moisés, era
a mais expressiva forma de se posicionar em adoração ao Rei dos reis, e um título de honra. Para Paulo, todo cristão é um servo do
Senhor Jesus (1Co 7.22; 6.15-23). O termo exprime pertença total e definitiva a Cristo (desde o início Paulo faz questão de usar o
vocábulo “Cristo” não apenas como nome próprio, mas especialmente como título do Filho de Deus: o Messias prometido, o Ungi-
do). A expressão “apóstolo” tem a ver com o comissionamento dado a Paulo, pessoalmente, por Cristo (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1).
2 Esta é a primeira vez que a expressão “Escrituras Sagradas” aparece no original grego da Bíblia. Todo o AT profetiza a vinda
de Jesus, o Messias; cuja vida e ministério são perfeitamente descritos no Novo Testamento (Lc 24.27-44).
3 Foi devido à desobediência deliberada de Adão, que o homem foi apartado da glória de Deus (Rm 3.23). Entretanto, é pela
obediência voluntária e firmada na fé em Jesus Cristo que ganhamos a reconciliação com Deus. A palavra “fé” neste contexto, não
significa “fé em doutrinas”, mas sim fé no Evangelho, ou seja, na pessoa do Cristo (o próprio Evangelho).
4 O sentido mais amplo da expressão original grega, aqui traduzida por “santidade”, é “separado para contínua adoração a
Deus”. Neste aspecto, todos os cristãos são “santos”, pois foram sobrenaturalmente “separados” por Deus para servi-lo por meio
do seu serviço espiritual diário e contínuo. A expressão tem igualmente o sentido prático de “um aperfeiçoamento espiritual”
que ocorre todos os dias na vida dos crentes pela ministração do Espírito Santo que neles habita (1Co 1.2). A “Graça” é o favor
imerecido de Deus; o Senhor nos concedendo a bênção do seu chamado e proteção, ainda que não sejamos dignos. Enquanto
“misericórdia” é a paciência longânime do Senhor, que retarda a punição que nossas más intenções, erros e pecados merecem,
na esperança de nossa conversão (Jn 4.2; Gl 1.3; Ef 1.2). A “Paz” é a bênção da plena segurança e certeza dos cuidados paternos
do Senhor, mesmo em meio às mais graves tribulações e perdas (Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2).
5 Paulo, apesar de todo o sofrimento, privações e humilhações pelas quais passou, sempre demonstrava um coração
agradecido a Deus. Os cristãos têm toda a liberdade de chegar-se a Deus – como Pai – por meio do sacrifício vicário de Jesus
Cristo. Entretanto, não apenas para pedir, mas, sobretudo, para agradecer (Jo 15.16). Paulo costumava iniciar suas cartas com
ações de graças (1Co 1.4; Ef 1.16; Fp 1.3; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; 2Tm 1.3; Fm 4).

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5 ROMANOS 1

colher algum fruto espiritual entre vós, 19 pois o que de Deus se pode conhecer
assim como tenho alcançado entre os é evidente entre eles, porque o próprio
gentios.6 Deus lhes manifestou.9
14 Eu sou devedor, tanto a gregos quanto 20 Pois desde a criação do mundo os
a bárbaros, tanto a sábios como a igno- atributos invisíveis de Deus, seu eterno
rantes. poder e sua natureza divina, têm sido
15 De modo que, em tudo o que de- observados claramente, podendo ser
pender de mim, estou preparado para compreendidos por intermédio de tudo
anunciar o Evangelho também a vós que o que foi criado, de maneira que tais pes-
estais em Roma. soas são indesculpáveis;10
21 porquanto, mesmo havendo conhe-
O tema da carta: a justiça pela fé cido a Deus, não o glorificaram como
16 Porquanto não me envergonho do Deus, nem lhe renderam graças; ao
Evangelho, porque é o poder de Deus contrário, seus pensamentos passaram
para a salvação de todo aquele que nele a ser levianos, imprudentes, e o coração
crê; primeiro do judeu, assim como do insensato deles tornou-se em trevas.
grego;7 22 E, proclamando-se a si mesmos como
17 visto que a justiça de Deus se revela no sábios, perderam completamente o bom
Evangelho, uma justiça que do princípio senso
ao fim é pela fé, como está escrito: “O 23 e trocaram a glória do Deus imortal
justo viverá pela fé”.8 por imagens confeccionadas conforme a
semelhança do ser humano mortal, bem
A ira de Deus contra os sem fé como de pássaros, quadrúpedes e répteis.
18 Portanto, a ira de Deus é revelada dos 24 Por esse motivo, Deus entregou tais
céus contra toda impiedade e injustiça pessoas à impureza sexual, segundo as von-
dos homens que suprimem a verdade tades pecaminosas do seu coração, para de-
pela injustiça humana, gradação de seus próprios corpos entre si.

6 Os gregos costumavam referir-se a todos os povos não-gregos, ou que não falassem seu idioma, como “bárbaros” (At 28.4).
Paulo desejava conhecer a Igreja em Roma (predominantemente gentílica), ver como viviam na fé os novos convertidos, bem
como compartilhar suas experiências e motivar os mais maduros para a evangelização e o avanço missionário.
7 Jesus Cristo é também chamado de “o poder de Deus”, indicando uma vez mais que o Evangelho é o próprio Cristo oferecido
e recebido pelos crentes (1Co 1.24).
8 A expressão “de fé em fé”, como aparece em algumas versões antigas, tem o sentido de “fundamentar-se na fé e apelar para a
fé”, na qual é enfatizada o aspecto de que a salvação não vem somente por intermédio da fé como também está à disposição de to-
dos os que crêem. No original grego, os vocábulos “fé” e “crer” possuem a mesma raiz. “Justo” refere-se à qualidade da pessoa justa,
que não deve nada à lei. É um termo forense, ligado aos tribunais, e não diretamente relacionado à moral e à ética (2,13; 3.21-24).
9 Paulo começa a expor um dos principais pontos de seu ensino: a culpabilidade humana fundada na sua sistemática e pertinaz
rejeição declarada a Deus. Falta amor e fé em Deus e esta postura produz uma espécie de desobediência que não decorre da
ignorância, mas de um forte desejo de rebeldia contra o Criador e da vontade de se tornar o próprio deus dos seus atos. Ao
expor a doutrina da justiça divina (1.17; 3.21 – 5.21), Paulo arma sua argumentação teológica que demonstra que todos os seres
humanos têm pecados e, portanto, carecem da justiça misericordiosa que somente Deus pode outorgar. Demonstra a culpa e a
vocação para o pecado, nos gentios (1.18-32) e nos judeus (2.1 – 3.8). Ou seja, todos nós pecamos e precisamos da purificação
outorgada por meio do eterno sacrifício expiatório do Filho de Deus (3.9-20).
10 Nenhuma pessoa sobre a face da terra, mesmo que ainda não tenha ouvido falar uma só palavra sobre a Bíblia, em relação a
Yahweh (o nome de Deus em hebraico) ou quanto a Seu Filho, Jesus Cristo, pode usar como desculpa o fato de não conhecer o
essencial de Deus, nosso Criador, e portanto, dever-lhe completa adoração e respeito às suas leis escritas na alma humana. Pois
todo o Universo, dos elementos microscópicos às maiores dimensões cósmicas, revelam o poder e a sensibilidade de um Deus
único, absoluto e perfeito (Sl 19). A “ira de Deus” não se compara às explosões de raiva demonstradas, muitas vezes, pelos seres
humanos em todo mundo. A “ira de Deus” é santa e justa, em repulsa ao menosprezo e rejeição dos seres humanos em relação
à natureza e vontade de Deus. Do ponto de vista pragmático, a “ira de Deus” não se limita à condenação dos ímpios no Juízo
final (1Ts 1.10; Ap 19.15; 20.11-15). Deus, observando a decisão humana de se afastar da sua presença e conselhos, entrega os
pecadores à sua própria volúpia pecaminosa e à liberdade ansiada. Entretanto, esses se tornam escravos de si mesmos e dos
que pensam de igual modo. Deus remove as restrições divinas que protegem a humanidade dos piores sofrimentos decorrentes
da libertinagem e das coisas mais horríveis (26,28; At 7.42).

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ROMANOS 1, 2 6

25 Porquanto trocaram a verdade de criando maneiras de praticar o mal;


Deus pela mentira, e adoraram objetos e desobedecem a seus pais;
seres criados, em lugar do Criador, que é 31 são insensatos, desleais, sem amor e
bendito para sempre. Amém! respeito à família, sem qualquer miseri-
26 E, por essa razão, Deus os entregou a córdia para com o próximo.
paixões vergonhosas. Até suas mulheres 32 E, apesar de conhecerem a justa Lei
trocaram suas relações sexuais naturais de Deus, que declara dignos de morte
por outras, contrárias à natureza. todas as pessoas que praticam tais atos,
27 De igual modo, os homens também não somente os continuam fazendo, mas
abandonaram as relações sexuais naturais ainda aprovam e defendem aqueles que
com suas mulheres e se inflamaram de também assim procedem.12
desejo sensual uns pelos outros. Deram,
então, início a sucessão de atos indecen- Deus julga toda a humanidade
tes, homens com homens, e, por isso,
receberam em si mesmos o castigo que a
sua perversão requereu.11
2 Portanto, és indesculpável, ó homem,
sejas quem for, quando julgas, porque
a ti mesmo te condenas em tudo aquilo
28 Além do mais, considerando que que julgas no teu semelhante; pois tu,
desprezaram o conhecimento de Deus, que julgas, praticas exatamente as mes-
Ele mesmo os entregou aos ardis de mas atitudes.
suas próprias mentes depravadas, que 2 Mas nós sabemos que o julgamento de
os conduz a praticar tudo o que é re- Deus é de acordo com a verdade contra
provável. os que praticam tais ações.1
29 Então, tornaram-se cheios de toda 3 Deste modo, quando tu, um simples
espécie de injustiça, maldade, ganância ser humano, os julga e, todavia, praticas
e depravação. Estão empanturrados de os mesmos atos, pensas que de alguma
inveja, homicídio, rivalidades, engano e forma escaparás ao juízo de Deus?2
malícia. São bisbilhoteiros, 4 Ou, porventura, desprezas a imensa
30 caluniadores, inimigos de Deus, inso- riqueza da bondade, tolerância e paci-
lentes, arrogantes e presunçosos; vivem ência, não percebendo que é a própria

11 As antigas sociedades gregas e romanas não apenas aceitavam o homossexualismo e a pederastia, mas exaltavam essas
práticas como uma expressão de afeição superior ao amor heterossexual. As práticas homossexuais eram comuns também em
todo mundo semítico; entretanto, para os judeus sempre foi uma abominação (Lv 18.22). A prática homossexual não é uma
doença (podendo originar várias: mentais e físicas). É o resultado do pecado do afastamento de Deus (muitas vezes influenciado
– como todos os pecados – pelos ardis do Diabo e seus demônios). E isso, ocorre por vários motivos, entre eles, está o fato
de tirarmos Deus do seu trono de comando em nossas vidas e entronizarmos o nosso próprio “Eu” com a mais elevada carga
de arrogância, egoísmo, mágoas e vaidades. Assim como o alcoólico, fumante, pornógrafo, drogado, mentiroso, fofoqueiro,
desonesto, e tantos outros tipos de viciados, a Igreja deve atrair e tratar com carinho especial toda pessoa desejosa de libertar-se
de uma vida mundana, vazia e desregrada. “Tudo é possível ao que crê!” (Mc 9.23; Mt 19.26; Lc 18.27).
12 O afastamento de Deus produz um tipo de “disposição mental reprovável”, ou seja, um favorecimento ao surgimento de
idéias e pensamentos cada vez mais avessos à vontade de Deus e ao bom senso. Um grande pecado sempre tem início com uma
singela idéia ou pensamento que, depois de algum tempo de sórdido agasalhamento, da origem a práticas maléficas, ainda que
pareçam prazerosas a princípio. Paulo nos adverte para um tipo ainda mais ímpio de pecador: aquele que aplaude o erro e o mal
cometido pelo seu semelhante. Hoje em dia, é comum vermos difundidos, especialmente pelos meios de comunicação, elogios
de todo tipo a atitudes claramente contrárias à vontade de Deus reveladas nas Sagradas Escrituras.
Capítulo 2
1 Paulo apresenta os princípios básicos do julgamento que Deus submete a todo ser humano em todos os tempos: 1) Conforme
a verdade; 2) De acordo com as atitudes; 3) Segundo a compreensão de cada indivíduo sobre o que é certo e o que é errado.
Os ensinos de Paulo sobre a crítica fácil concordam com os de Jesus (Mt 7.1). Ambos condenam o julgamento hipócrita, numa
clara e direta advertência aos líderes judeus que tendiam a desprezar e julgar inferiores todos os gentios, enquanto suas próprias
vidas eram dominadas pela ganância e imoralidades de todo tipo. Negavam assim, na prática, todos os ensinos e revelações
da Torá (o AT).
2 É uma referência à maneira como Jesus Cristo falou sobre a Lei. O ser humano não é aceito, aos olhos do Senhor, simples-
mente por guardar uma série de doutrinas e rituais religiosos (leis exteriores), mas pela completa renovação do interior (novo
nascimento – Jo 3), por meio da habitação do Espírito Santo (Mt 5.22,28,48 em concordância com Rm 2.29).

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7 ROMANOS 2

misericórdia de Deus que te conduz ao simplesmente ouvem a Lei considerados


arrependimento?3 justos; mas sim, os que obedecem à Lei,
5 Entretanto, por causa da tua teimosia estes serão declarados justos.6
e do teu coração insensível e que não se 14 De fato, quando os gentios que não
arrepende, acumulas ira sobre ti no dia têm Lei, praticam naturalmente o que ela
da ira de Deus, quando se revelará plena- ordena, tornam-se lei para si mesmos,
mente o seu justo julgamento. muito embora não possuam a Lei;
6 Deus retribuirá a cada um segundo o 15 pois demonstram claramente que os
seu procedimento. mandamentos da Lei estão gravados em
7 Ele concederá vida eterna aos que seu coração. E disso dão testemunho a
perseverando em fazer o bem, buscam sua própria consciência e seus pensa-
glória, honra e imortalidade. mentos, algumas vezes os acusando,
8 Por outro lado, reservará ira e indigna- em outros momentos lhe servindo por
ção para todos os que se conservam ego- defesa.
ístas, que rejeitam a verdade e preferem 16 Todos esses fatos serão observados na
seguir a injustiça.4 humanidade, no dia em que Deus julgar
9 Ele trará tribulação e angústia sobre os segredos dos homens, por intermédio
todo ser humano que persiste em pra- de Jesus Cristo, de acordo com as decla-
ticar o mal, em primeiro lugar para o rações do meu Evangelho.
judeu, e, em seguida, para o grego;
10 porém, glória, honra e paz para todo O crente deve ser fiel à Palavra
aquele que perseverar na prática do bem; 17 Ora, tu que levas o nome de judeu, e te
primeiro para o judeu, depois para o grego. fundamentas na Lei, e te glorias em Deus.7
11 Porquanto em Deus não existe parcia- 18 Tu que conheces a vontade de Deus
lidade alguma. e aprovas as obras excelentes, porque és
12 Pois todos os que sem a Lei pecaram, instruído pela Lei.
sem a Lei também perecerão; e todos os 19 Tu que estás certo de que foi chamado
que pecarem sob a Lei, pela Lei serão para ser guia de cegos, luz para os que
julgados.5 estão na escuridão,
13 Pois, diante de Deus, não são os que 20 mestre dos ignorantes, professor de

3 A bondade, graça e misericórdia de Deus têm como objetivo principal o arrependimento do ser humano. Os líderes religiosos
judeus há muito tempo vinham interpretando a longaminidade e paciência do Senhor de forma errada, como se Deus – ao longo
do tempo – deixasse de promover juízo e condenação sobre os pecadores contumazes (2Pe 3.9).
4 É importante ter sempre em mente que Paulo, em nenhum de seus escritos, jamais defendeu a necessidade de perfeição
ética, vida monástica ou observância absoluta da Lei. Como fariseu, Paulo sabia muito bem da impossibilidade de um ser humano
cumprir toda a Lei. Entretanto, se alguém julga ser capaz de obedecer a Lei ou algum padrão ético-religioso que o conduza a
Deus, então o próprio Senhor o julgará mediante esse padrão estabelecido. Paulo está enfatizando que a única maneira de um
pecador (como todos os seres humanos o são em menor ou maior grau) encontrar absolvição plena diante do juízo de Deus é
morrendo com Cristo e ressuscitando com Ele (o Espírito Santo) para uma nova vida. Paulo refere-se às obras exigidas como
confirmação da fé verdadeira, não como um meio para conquistar a salvação eterna. Com os privilégios espirituais vêm as
responsabilidades espirituais (Am 3.2; Lc 12.38).
5 Os gentios (todos os não-judeus), são aqueles que “pecam sem a Lei”, pelo fato de a desconhecerem total ou parcialmente.
Eles não serão julgados por uma Lei que desconhecem, mas certamente serão condenados por outros critérios, e especialmente
pelo código de ética universal gravado por Deus na alma de todo homem (1.18-20; 2.15; Am 1.3 – 2.3).
6 Os que “obedecem à Lei” serão considerados justos. Entretanto, ninguém consegue cumprir toda a Lei (a Torá, Lei de
Moisés). O argumento lógico desenvolvido por Paulo demonstra que um homem seria justificado se pudesse praticar a Lei, mas
porque nenhum ser humano é capaz de guardá-la perfeitamente, então não pode haver justificação por esse meio (Tg 1.22-25).
7 Paulo usa em seu discurso o “diálogo com um interlocutor imaginário” (2.17-24), demonstrando o quanto conhecia seu povo
e o pensamento teológico dos líderes judeus, a fim de dar mais ênfase às suas constatações. Citou um após outro os grandes
orgulhos da religiosidade judaica para afirmar de que nada valiam diante de Deus, pois eram apenas conceitos teóricos e palavras
pregadas sem a necessária demonstração da fé na vida prática diária. A expressão grega original diapheronta, aqui traduzida por
“excelentes”, tem o sentido de “distinguir, discernir”. Pode significar a capacidade de “avaliar distinções morais” ou “reconhecer
qualidades que se sobressaem devido ao seu valor eterno” (Fp 1.10).

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ROMANOS 2, 3 8

crianças, porquanto têm na Lei a ex- Deus é fiel e justo


pressão maior do conhecimento e da
verdade.
21 Pois então, tu que tanto ensinas a ou-
3 Que vantagem pode haver, então, em
ser judeu, ou que utilidade existe na
circuncisão?1
tros, por que não educas a ti mesmo? Tu, 2 Muita, em todos os sentidos! Primeira-
que pregas que não se deve furtar, furtas? mente, porque ao judeu foram confiadas
22 Tu, que ensinas que não se deve come- as palavras de Deus.
ter adultério, adulteras? Tu, que abominas 3 Sendo assim, que importa se alguns
os ídolos, mas lhes roubas os templos? desses judeus foram infiéis? A infidelida-
23 Tu, que te orgulhas da Lei, desonra a de deles conseguiria anular a fidelidade
Deus, desobedecendo à própria Lei? de Deus?
24 Pois, como está escrito: “Por vossa cau- 4 Absolutamente não! Seja Deus verda-
sa, o nome de Deus é blasfemado entre deiro, e todo homem mentiroso. Como
todos os povos!”. está escrito: “Para que sejas justificado
25 Porquanto, a circuncisão tem valor se em tuas palavras, e sejas vitorioso quan-
obedecerdes a Lei, mas, se tu não obser- do fores julgado”.
vares a Lei, a tua circuncisão já se tornou 5 Mas, se a nossa injustiça ressalta de for-
em incircuncisão.8 ma ainda mais nítida a justiça de Deus,
26 Se aqueles que não são circuncidados que concluiremos? Acaso Deus é injusto
praticam os preceitos da Lei, não serão por aplicar a sua ira? Estou apenas refle-
eles considerados circuncisos? tindo com a lógica
g humana.
27 E aquele que é, por natureza incircun- 6 É evidente que não! Se fosse assim,
ciso, mas cumpre a Lei, ele condenará como Deus julgará o mundo?
a ti, que, mesmo tendo a Lei escrita e a 7 Mas, alguém pode alegar: “Se a minha
circuncisão, és transgressor da Lei. mentira ressalta a veracidade de Deus,
28 Portanto, não é legítimo judeu quem engrandecendo ainda mais sua glória,
simplesmente o é exteriormente, nem por que sou condenado como pecador?”
é verdadeira, circuncisão a que é feita 8 Ora, por que não dizer como alguns
apenas fora do coração, no corpo físico. caluniosamente afirmam que dizemos:
29 Absolutamente não! Judeu é quem o “Pratiquemos o mal para que nos sobre-
é interiormente, e circuncisão é realizada venha o bem?” Por certo, a condenação
na alma do crente, pelo Espírito, e não dos tais é merecida!
apenas pela letra da Lei. Para todos estes,
o louvor não provém dos homens, mas O ser humano é infiel e injusto
de Deus!9 9 Qual a conclusão? Estamos nós em

8 A circuncisão (corte do prepúcio do órgão genital masculino) era um sinal da aliança que Deus estabeleceu com Israel e seu
povo (Lv 12.3), e penhor de bênção decorrente dessa aliança (Gn 17.10,11). Contudo, na época de Jesus e Paulo, muitos líderes
judeus já estavam considerando que um judeu circuncidado não podia ser condenado ao inferno. Ou seja, haviam transformado um
ritual evocativo (um memorial) em uma cerimônia de garantia da salvação eterna e favor divino, independente da atitude de fé diária
e seriedade com Deus, implícitas no próprio simbolismo do ato. A posição do NT se baseia em textos como Jr 9.25 e Dt 10.16.
9 A expressão original “Judeu” vem do hebraico antigo e deriva da palavra “Judá”, que significa “louvado” ou “objeto de elogio,
que só tem valor quando vem de Deus”. Paulo faz aqui uma solene advertência (não somente aos judeus) contra os perigos da
arrogância, presunção, confiança na justiça própria, e contra todo tipo de formalismo que confia em memoriais e rituais (como a
Ceia e o batismo), que tem garantia em si mesmos da salvação eterna e das bênçãos de Deus àqueles que o recebem. O verda-
deiro sinal de pertencer a Deus não é uma marca externa no corpo físico ou uma cerimônia especial de iniciação, mas o poder
regenerador do Espírito Santo vindo habitar a alma do cristão sincero. Paulo denomina como “circuncisão operada no coração” o
ato de arrependimento do pecador e a entrega incondicional de sua vida a Jesus para um novo nascimento (Dt 30.6).
Capítulo 3
1 Paulo considera algumas das grandes realidades divinas: 1) Os oráculos de Deus são privilégios valiosíssimos entregues à hu-
manidade. No entanto, a vantagem de possuir a Palavra de Deus (como no caso dos judeus e dos cristãos) implica necessariamente
em responsabilidades e obrigações. 2) Deus é fiel. 3) Deus é justo. 4) Deus julgará e castigará todos os injustificados e pecadores,
provando sua fidelidade e caráter justo (2Tm 2.13). 5) Deus é verdadeiro. Ele é a Verdade. 6) A glória de Deus.

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9 ROMANOS 3

posição de vantagem? Não! Já demons- 20 Portanto, ninguém será declarado jus-


tramos que tanto judeus quanto gentios to diante dele confiando na obediência à
estão todos subjugados pelo pecado. Lei, pois é precisamente por meio da Lei
10 Como está escrito: “Não há nenhum que chegamos à irrefutável conclusão de
justo, nem ao menos um; que somos todos pecadores.4
11 não há uma só pessoa que entenda,
ninguém que de fato busque a Deus.2 Justificados pela fé em Jesus
12 Todos se desviaram, tornaram-se 21 Entretanto, nesses últimos tempos, se
juntamente inúteis; não há ninguém manifestou uma justiça proveniente de
que pratique o bem, não existe uma só Deus, independente da Lei, mas da qual
pessoa. testemunham a Lei e os Profetas;
13 Suas gargantas são como um túmulo 22 isto é, a justiça de Deus, por intermé-
aberto; usam suas línguas para ludibriar, dio da fé em Jesus Cristo para todas as
enquanto, debaixo dos seus lábios está o pessoas que crêem. Porquanto não há
veneno da serpente. distinção.5
14 Suas bocas estão cheias de maldição e 23 Porque todos pecaram e destituídos
amargura. estão da glória de Deus,6
15 Seus pés são rápidos para derramar 24 sendo justificados gratuitamente por
sangue; sua graça, mediante a redenção que há
16 Os seus passos são marcados por des- em Cristo Jesus.7
truição e miséria; 25 Deus o ofereceu como sacrifício para
17 e não conhecem o caminho da paz. propiciação por meio da fé, pelo seu
18 Consideram que é inútil temer a sangue, proclamando a evidência da sua
Deus”. justiça. Por sua misericórdia, havia dei-
19 Ora, sabemos que tudo o que a Lei diz, xado impunes os pecados anteriormente
o diz aos que estão sob o domínio da Lei, cometidos;
para que toda a boca se cale e todo mun- 26 mas, no presente, demonstrou a sua
do fique sujeito ao juízo de Deus.3 justiça, a fim de ser justo e justificador

2 Paulo apresenta uma seqüência de citações do AT com o objetivo de confirmar sua teologia quanto à universalidade do
pecado (vv.9-12). Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do poder e da condenação do pecado. As citações não são literais,
pois a preocupação de Paulo (bem como de outros autores do NT) tinha um sentido geral e didático, não literal. Além disso, os
gregos não usavam aspas para identificar as citações, na maioria das vezes extraídas da Septuaginta (a tradução grega do AT,
originalmente escrito em hebraico). Em alguns casos, inspirados pelo Espírito Santo, os autores canônicos do NT fizeram uso das
citações do AT, adaptando e aplicando-as de várias formas ao contexto que estavam abordando.
3 A Lei aqui tem a ver com os Salmos, Profetas e Provérbios. É uma referência clara quanto à igual autoridade de todo o AT.
Assim como em Jo 10.34; 15.25; 1Co 14.21.
4 A finalidade principal dessa passagem não é apenas demonstrar a culpabilidade dos judeus e de todos os demais povos
sobre a face da terra (os gentios), como também demonstrar que nenhum sistema religioso, nenhuma crença primitiva e restrita
ou altamente aculturada, é capaz de salvar o ser humano da condenação ao afastamento eterno da presença de Deus.
5 Bendito “entretanto”! Havendo revelado que todos os seres humanos (tanto judeus como gentios) são naturalmente ímpios
(tendem espontaneamente à pratica do mal – 1.18 – 3.20), Paulo apresenta a “boa notícia” de que Deus – presente – está
oferecendo gratuitamente um (e único) meio de justificação para cada indivíduo da raça humana que, de forma voluntária, pessoal
e sincera, nele crer de todo o seu coração: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias prometido.
6 Ao pecar (palavra que em hebraico tem o sentido de “errar o alvo”), o ser humano se encontra em falta perante o ideal para
o qual Deus o criou (Is 43.7). A glória que o homem possuía e desfrutava antes da Queda (Gn 1.26-28; Sl 8.5,6; Ef 4.24; Cl 3.10),
o cristão sincero voltará a ter por intermédio de Jesus Cristo (Hb 2.5-9).
7 Paulo emprega o verbo “justificar” em 22 citações (especialmente de 2.13 a 5.1, e em Gl 2 e 3). Esse termo é fundamental
na teologia paulina: 1) Negativamente, quando Deus declara o crente “não-culpado”; 2) Positivamente, quando Deus declara
o crente “justo”, cancelando a sua culpa do pecado e creditando-lhe justiça. A palavra “redenção” (no original em grego
apolutrõsis) era usada comumente, na época, no sentido de “comprar um escravo para dar-lhe a carta de plena liberdade”. Um
paralelo significativo se observa na redenção de Israel da escravidão no Egito (Êx 15.13), do exílio na Babilônia (Is 41.14; 43.1),
e em relação ao livramento eterno do crente da escravidão do pecado, porquanto Cristo, por meio de sua morte e ressurreição,
pagou o resgate exigido para nossa libertação.

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ROMANOS 3, 4 10

daquele que deposita toda a sua fé em 3 Entretanto, o que diz a Escritura?


Jesus.8 “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi cre-
27 Onde está, pois, a razão para tanto or- ditado como justiça”.
gulho? Foi completamente excluído! Por 4 Ora, o salário daquele que trabalha não
qual lei? Das obras? Não, ao contrário, é considerado como favor, mas como
pela lei da fé. dívida.
28 Concluímos, portanto, que o ser hu- 5 Todavia, ao que não trabalha, mas crê
mano é justificado pela fé, independen- em Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe
temente da obediência à Lei!9 é creditada como justiça.
29 Deus é Deus apenas dos judeus? Ora, 6 Assim, também, Davi fala da bem-aven-
não é Ele igualmente Deus de todos os turança do homem a quem Deus leva em
povos? Evidente que sim, dos gentios conta a justiça independente de obras:
também, 7 “Como são felizes as pessoas que têm
30 visto que há um só Deus, que pela fé suas transgressões perdoadas, cujos pe-
justificará os circuncisos e os incircun- cados são cancelados!
cisos. 8 Bem-aventurado aquele a quem o Senhor
31 Anulamos, pois, a Lei por causa da fé? jamais cobrará o preço do pecado!”2
De modo algum! Ao contrário, confir- 9 Essa imensa felicidade é destinada ape-
mamos a Lei.10 nas aos que fizeram a circuncisão, ou é
também oferecida aos incircuncisos? Pois
Abraão creu e foi justificado já afirmamos que, no caso de Abraão, a fé

4 Portanto, que diremos sobre nosso


pai humano Abraão?1
2 Se de fato Abraão foi justificado pelas
lhe foi creditada como justiça.
10 Em que momento lhe foi creditada?
Antes ou depois de ter sido circuncida-
obras, ele tem do que se orgulhar, mas do? De fato, não o foi depois, mas antes
não diante de Deus. da circuncisão!3

8 A expressão “propiciação” vem do antigo hebraico, que traduzido para o termo grego na Septuaginta hilasterion, significa o lugar
específico onde os pecados deviam ser expiados ou pagos (removidos), e que em grego era chamado de kapporeth (propiciatório).
Através do sacrifício redentor de Jesus, o Filho; Deus, o Pai, remove o pecado do seu povo, não virtualmente ou simbolicamente
como se dava nos rituais do passado (Lv 16), mas agora, em plena realidade físico-espiritual, eliminando definitivamente toda a
culpabilidade humana perante Deus – o Supremo Juiz – e limpando completamente a consciência de cada indivíduo que aceita o
sacrifício do Senhor como salvação para sua vida e, a partir dessa constatação, nasce de novo (Jo 3; 1Jo 2.2).
9 Quando Lutero estava traduzindo a Bíblia para a língua alemã, ao escrever esse versículo, fez questão de acrescentar a
expressão restritiva “somente pela fé”. Ainda que o vocábulo “somente” não esteja nos originais gregos, reflete com exatidão o
sentido geral da passagem (Tg 2.14-26).
10 Paulo faz uma bela e profunda analogia entre a importância e a exatidão da Lei; reconhecendo o primeiro artigo da Lei
judaica, amado e defendido radicalmente por todos os judeus ao longo dos séculos: “O Senhor é um só Deus” (Dt 6.4), e a
exaltação de Cristo – o Unigênito Filho de Deus – como único meio de Salvação para judeus e todos os gentios sobre a face da
terra. Paulo percebe que será acusado de antinomismo (pregar ou agir contra a Lei). Contudo, apesar de mostrar que a Lei é
impotente para salvar, e que esse poder opera somente em Jesus Cristo (capítulos 6 e 7), voltará a confirmar a validade da Lei
na passagem do capítulo 13.18-10.
Capítulo 4
1 Alguns traduções trazem a expressão “antepassado” quando se referem à ascendência paterna. Entretanto a KJ, neste
caso, preservou a forma clássica “pai”. Paulo, sabiamente, exalta a memória do grande patriarca da nação israelita e verdadeiro
exemplo de pessoa justificada (Tg 2.21-23) em sua carta aos judeus em Roma. Era comum, na época de Jesus, os mestres judeus
citarem a vida de Abraão como exemplo de conquista do favor divino pelas obras. Entretanto, Paulo revela exatamente no pai dos
judeus seu melhor exemplo de justificação pela fé (Gl 3.6-9).
2 Deus continua considerando e se entristecendo com os pecados cometidos pelo pecador arrependido (convertido). Contudo,
o Espírito de Deus move esse pecador a reconhecer os erros praticados e confessar seus pecados ao Senhor, que o perdoa e lhe
restitui a alegria espiritual do salvo (Sl 32.1-5; Ez 18.23,27,28,32; 33.14-16).
3 Abraão foi declarado justo cerca de quatorze anos antes de ser circuncidado (Gn 15; 17; Gl 3.17). Dessa forma, Abraão é
também o pai (antepassado) de todos os crentes gentios (aqueles que não passaram pela circuncisão), porquanto Abraão creu e
foi plenamente justificado antes mesmo que o ritual da circuncisão (o sinal dos judeus) fosse instituído.

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11 ROMANOS 4

11 Sendo assim, ele recebeu a marca da aos olhos de Deus, em quem Abraão
circuncisão, como um selo da justiça que depositou sua fé, o Deus que dá vida aos
ele tinha pela fé, quando ainda não era mortos e convoca à existência elementos
circuncidado, para que fosse pai de todos inexistentes, como se existissem.
os que crêem, ainda que não tenham sido 18 Abraão, crendo, esperou contra todos
circuncidados, a fim de que a justiça fos- os prognósticos desfavoráveis, tornando-
se creditada também a favor deles; se, assim, pai de muitas nações, como
12 ele é igualmente pai dos circuncisos ficou registrado a seu respeito: “Assim
que não apenas passaram pela circun- será a sua descendência”.
cisão, mas que também caminham 19 Sem desfalecer na fé, reconheceu que
sobre as marcas dos passos da fé que seu corpo físico perdera a vitalidade de
demonstrou nosso pai Abraão antes de outrora, pois já contava cerca de cem anos
ser circuncidado. de idade, e que também o ventre de Sara
13 Porquanto, não foi pela Lei que não tinha o vigor do passado.5
Abraão, ou sua descendência, recebeu a 20 Mesmo considerando tudo isso, não
promessa de que ele havia de ser o her- duvidou nem foi incrédulo quanto ao
deiro do mundo; ao contrário, foi pela que Deus lhe prometera; mas, pela fé, se
justiça da fé.4 fortaleceu, oferecendo glória a Deus,6
14 Pois se os que vivem pela Lei são her- 21 estando absolutamente convicto de
deiros, a fé não tem valor e a promessa que Ele era poderoso para realizar o que
é nula. havia prometido.
15 Porque a Lei produz a ira; mas onde 22 Por essa razão, “isso lhe foi atribuído
não há Lei também não pode haver como justiça”.
transgressão. 23 Todavia, não é somente para ele que
16 Por esse motivo, a promessa procede as palavras “isso lhe foi atribuído como
da fé, para que seja de acordo com a gra- justiça” foram registradas,
ça, a fim de que a promessa seja garanti- 24 mas igualmente para todos nós, a
da a toda a descendência de Abraão, não quem Deus concederá justificação, a nós
somente a que é da Lei, mas igualmente a que cremos naquele que ressuscitou dos
que é da fé que Abraão teve. Ele, portan- mortos, a Jesus, nosso Senhor.
to, é o pai de todos nós! 25 Ele foi entregue à morte para pagar
17 Como está escrito: “Eu o constituí todos os nossos pecados e ressuscitado
pai de muitas nações”. Ele é o nosso pai para nossa completa justificação.7

4 Abraão é o pai de todos os crentes fiéis (judeus ou gentios – Gn 12.3). O domínio completo do mundo pertence à descendên-
cia espiritual de Abraão (1Co 3.21, 6.2). Porém, a plena realização dessas promessas aguarda a consumação do Reino messiâni-
co com o glorioso retorno de Jesus Cristo (Gn 12.7; 13.14,15; 15.7, 18.21; 17.8; Sl 37.9, 11, 22, 29, 34; Mt 5.5).
5 Abraão passou por momentos de preocupação e ansiedade (Gn 17.17,18), no entanto, o Senhor não viu nessas manifesta-
ções nada que pudesse comprometer a sinceridade da fé de Abraão. A fé madura e firme não se recusa a reconhecer a realidade
das dificuldades, mas as enfrenta com a segurança de quem tem plena certeza de que o Senhor dos exércitos, que está à sua
frente, é também seu Pai amoroso. Sara era dez anos mais nova que Abraão, todavia há muito passara da idade de gerar filhos.
Paulo afirma que Deus é capaz de criar do nada (como fez com o próprio Universo) e dar vida aos mortos, uma alusão ao nasci-
mento de Isaque, quando Abraão e Sara há muitos anos estavam estéreis (Gn 18.11). Paulo segue em seu raciocínio até comparar
a ressurreição de Cristo à promessa da nossa ressurreição, pois Ele é o doador da vida e da eternidade (v.24,25).
6 As obras são a tentativa desesperada da humanidade para conquistar algum direito de reivindicar o favor de Deus. Abraão
demonstrou que a fé é a simples e sincera disposição do coração do crente em dar glória a Deus: Primeiro, pelo que já recebeu.
Segundo, pela resposta amorosa que virá do seu Pai. Um pai sábio e amoroso não dá tudo o que seu filho pede, mas procura
proporcionar-lhe sempre o melhor.
7 A expressão grega paradidõmi, “entregar”, aparece duas vezes na Septuaginta e tem a ver com as passagens de Is 53.6 e
12. Cristo foi entregue para ser sacrificado, e, assim, expiar definitivamente os pecados de todos os que nele crêem. Da mesma
maneira, ressuscitou para garantir a plena justificação do seu povo que herdará as promessas do Seu Reino. Essas palavras de
Paulo se tornaram uma espécie de credo confessional da igreja cristã primitiva.

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ROMANOS 5 12

O justificado tem Paz com Deus 8 Porém, Deus comprova seu amor para

5 Portanto, havendo sido justificados


pela fé, temos paz com Deus, por
meio do nosso Senhor Jesus Cristo,1
conosco pelo fato de ter Cristo morrido
em nosso benefício quando ainda andá-
vamos no pecado.
2 por intermédio de quem obtivemos 9 Agora, como fomos justificados por seu
pleno acesso pela fé a esta graça na qual sangue, muito mais ainda, por intermé-
agora estamos firmados, e nos gloriamos dio dele, seremos salvos da ira de Deus!4
na confiança plena da glória de Deus.2 10 Ora, se quando éramos inimigos de
3 Mas não somente isso, como também Deus fomos reconciliados com Ele me-
nos gloriamos nas tribulações, porque diante a morte de seu Filho, quanto mais
aprendemos que a tribulação produz no presente, havendo sido feitos amigos
perseverança; de Deus, seremos salvos por sua vida.5
4 a perseverança produz um caráter 11 E, ainda mais, se nos gloriamos também
aprovado; e o caráter aprovado produz em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
confiança. por intermédio de quem recebemos,
5 E a confiança não nos decepciona, por- agora, completa reconciliação.
que Deus derramou seu amor em nossos
corações, por meio do Espírito Santo que Morte em Adão, Vida em Cristo
Ele mesmo nos outorgou.3 12 Concluindo, da mesma forma como o
6 Em verdade, no devido tempo, quando pecado ingressou no mundo por meio de
ainda éramos fracos, Cristo morreu por um homem, e pelo pecado a morte, assim
todos os ímpios. também a morte foi legada a todos os seres
7 Sabemos que é muito difícil que humanos, porquanto todos pecaram.6
alguém se disponha a morrer por um 13 Porque antes de ser promulgada a Lei,
justo; embora por uma pessoa que se o pecado já estava no mundo; todavia, o
dedique ao bem, talvez, alguém tenha a pecado não é levado em conta quando
coragem de dispor sua vida. não existe a lei.

1 Paulo fala de um novo statuss diante de Deus, não apenas de um sentimento de tranqüilidade e leveza de alma. Antes de
aceitarmos o sacrifício vicário de Jesus como a nossa única e completa justificação perante a Lei divina, estávamos condenados
a viver como inimigos de Deus, separados de sua paternidade. Agora, porém, fomos elevados à posição de “amigos de Deus” e
seus filhos (v.10; Ef 2.16; Cl 1.21,22; Hb 12.6-8 de acordo com Mt 5.10-12 e Sl 43.4).
2 Foi Jesus quem nos elevou à presença do Pai, ao rasgar a robusta e resistente cortina da Lei (que ficava no templo) e que
fazia separação entre o homem e Deus (Mt 27.51). O cristão recebe em seu coração, pelo Espírito Santo, a “esperança revestida
de certeza absoluta”, de que o propósito para qual o Senhor o criou será perfeitamente realizado (3.23).
3 A confiança (esperança com certeza) em Deus não confunde e jamais nos decepcionará, como é comum ocorrer na confiança
que colocamos em nossos semelhantes. Paulo faz uma citação que está na Septuaginta (Is 28.16) e a repete em Rm 9.33 e 10.11.
A expressão no original tem o sentido de não se envergonhar pela frustração, pois o Senhor jamais faltará com Sua Palavra e
cumprirá todas as Suas promessas (Rm 4.20,21).
4 O cristão sincero está livre da condenação final e do Dia da Ira do Senhor sobre os incrédulos e ímpios (1Ts 1.10 e 5.9).
Quando Cristo morreu sacrificialmente, a nossa dívida de pecado contra Deus e a Lei foi totalmente liquidada. Quando aceitamos
a Cristo, pela fé, nos apropriamos da Salvação. Por isso, no futuro, receberemos todo o complemento da indescritível e infalível
Graça de Deus. Estes são os três aspectos da nossa redenção.
5 É importante notar que o homem escolheu ser inimigo de Deus ao desobedecer sua ordem explícita (Gn 3). Entretanto,
Ele nunca se considerou inimigo do homem. Ao contrário, durante toda a história da humanidade, Deus vem disponibilizando
formas de o ser humano reconhecer seus erros e voltar-se ao Pai (a Lei, os Profetas e, por fim, Jesus, o próprio Deus encarnado.
Veja o v.11 e Cl 1.21,22). Somos salvos perpetuamente (de uma vez por todas) porquanto Cristo vive eternamente (Hb 7.25). A
expressão “reconciliados” vem do termo grego original katallassein que significa “mudar radicalmente” ou “trocar a essência”.
Assim, nossa relação com Deus “mudou” por meio da morte vicária do Seu Filho Jesus, e passamos da posição de inimigos para
filhos amados (2Co 5.18-20).
6 Adão representa a tendência do ser humano para o pecado, a indiferença do homem em relação ao amor do Criador e
a condenação de toda a raça humana à eterna separação de Deus (1.18 – 3.20). Jesus Cristo representa a plena e eterna
justifica-ção do crente (3.21 – 5.11). Portanto, a nova raça unida a Cristo (os nascidos de novo, conforme Jo 3) tem um novo
e esplêndido princípio de vida (natureza de Deus) habitando e trabalhando diariamente em sua alma: o Espírito Santo. Isso
significa que há uma relação inseparável entre justificação e santificação (desenvolvimento de um caráter mais parecido com
o de Jesus Cristo – capítulos 6 a 8).

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13 ROMANOS 5, 6

14 No entanto, a morte reinou desde a tornaram pecadores, assim também, por


época de Adão até os dias de Moisés, intermédio da obediência de um único
mesmo sobre aqueles que não comete- homem, muitos serão feitos justos.
ram pecado semelhante à desobediência 20 A Lei foi instituída para que a trans-
de Adão, o qual era uma prefiguração gressão fosse ressaltada. Mas onde abun-
daquele que haveria de vir. dou o pecado, superabundou a graça,7
15 Contudo, não há comparação entre o 21 para que, assim como o pecado reinou
dom gratuito e a transgressão. Pois, se na morte, assim também reine a graça
muitos morreram por causa da desobe- pela justiça para outorgar vida eterna,
diência de um só, muito mais a graça de por intermédio de Jesus Cristo, nosso
Deus e o dom pela graça de um só Senhor.
homem, Jesus Cristo, transbordou para
multidões! Libertos do poder do pecado
16 Por isso, não se pode comparar a
graça de Deus com a conseqüência do
pecado de um só homem; porquanto,
6 Então, qual seria a conclusão? Deve-
mos continuar pecando a fim de que
a graça seja ainda mais ressaltada?
o julgamento derivou de uma só ofensa 2 De forma alguma! Nós que morremos
que resultou em condenação, mas o dom para o pecado, como seria possível dese-
gratuito veio de muitas transgressões e jar viver sob seu jugo?1
trouxe a justificação. 3 Ou ignoreis que todos nós, que fomos
17 Pois, se pela transgressão de um só batizados em Cristo Jesus, fomos igual-
homem, a morte reinou por meio desse, mente batizados na sua morte?
muito mais os que recebem da transbor- 4 Portanto, fomos sepultados com Ele
dante provisão da graça, e do dom da na morte por meio do batismo, com o
justiça, reinarão em vida por intermédio propósito de que, assim como Cristo
de um único homem: Jesus Cristo! foi ressuscitado dos mortos mediante a
18 Portanto, assim como uma só trans- glória do Pai, também nós vivamos uma
gressão determinou na condenação de nova vida.2
todos os seres humanos, assim igual- 5 Se desse modo fomos unidos a Ele na
mente um só ato de justiça resultou semelhança da sua morte, com toda a
na justificação que traz vida a todos os certeza o seremos também na semelhan-
homens. ça da sua ressurreição.
19 Sendo assim, como por meio da de- 6 Pois temos conhecimento de que a
sobediência de um só homem muitos se nossa velha humanidade em Adão foi

7 A Lei foi introduzida não para proporcionar a redenção, mas para enfatizar o quanto essa redenção plena e total se fazia neces-
sária. Com a Lei o pecado, ficou ainda mais evidente, marcando claramente seu contraste em relação à santidade de Deus
Capítulo 6
1 Essa é uma pergunta reflexiva, fruto da afirmação que Paulo acabara de fazer em 5.20, a fim de responder a alguns líderes
judeus que o estavam acusando de pregar uma doutrina antinômica (contrária à Lei). Eles estavam confundindo a teologia da
justificação somente por meio da fé em Cristo, com a pregação de um estilo de vida libertino e moralmente irresponsável. Paulo
enfatiza, em seus ensinos, que há dois resultados inequívocos da nossa maravilhosa união com Cristo: 1) A remoção completa
de nossas culpas pela morte sacrificial de Jesus Cristo; 2) A eficácia da ressurreição do Senhor, originando uma nova vida de
santidade que envolve toda a alma, consciência e corpo físico do cristão sincero, e que dia a dia transforma-lhe o caráter à
imagem de Cristo (Imago Dei). Os principais indícios do novo nascimento são justamente a vontade imensa de adorar a Deus,
comunhão com os irmãos, fome pela Palavra, disposição para evangelizar o mundo e a busca perseverante por uma vida santa,
contudo, sem legalismo ou fanatismo.
2 Na época em que o NT estava sendo escrito, o batismo se seguia tão rapidamente ao arrependimento e à conversão, que os
dois atos eram considerados parte de um só grande acontecimento: o novo nascimento (At 2.38). Portanto, embora a cerimônia
do batismo, especialmente em nossos dias, não seja o meio para estabelecermos um relacionamento vital com Cristo por meio da
fé, esse símbolo está estreitamente relacionado à disposição de crer. Mediante a fé estamos unidos a Jesus Cristo, assim como,
por meio do nosso nascimento natural, ficamos unidos a Adão (o primeiro ser humano). O batismo simboliza nossa morte para
o pecado que herdamos do pai da raça humana (Adão), e nossa ressurreição com Cristo para uma vida eterna de adoração e
santidade diante de Deus.

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ROMANOS 6 14

crucificada com Ele, a fim de que o cer domínio sobre vós, pois não estais
corpo sujeito ao pecado fosse destruído, debaixo da Lei, mas debaixo da Graça!4
para que nunca mais venhamos a servir
ao pecado. Súditos da Justiça pela Graça
7 Porquanto, todo aquele que morreu já 15 Que resposta dar? Vamos nos atirar ao
foi justificado do pecado. pecado porque não estamos sob o jugo
8 E mais, se morremos com Cristo, cre- da Lei mas sob o poder da lei da Graça?
mos que também com Ele viveremos! Não! De forma alguma.
9 Pois sabemos que, havendo sido res- 16 Não estais informados de que ao vos
suscitado dos mortos, Cristo não pode entregardes a alguém como escravos
morrer novamente; ou seja, a morte não para lhe obedecer, sois escravos deste
tem mais qualquer poder sobre Ele. a quem obedeceis, seja do pecado para
10 Porque ao morrer para o pecado, mor- a morte, seja da obediência que leva à
reu de uma vez por todas para o pecado, justiça?5
todavia, quanto ao viver, vive para Deus. 17 Todavia, graças a Deus, porquanto,
11 Assim, desta mesma maneira, conside- embora havendo sido escravos do pe-
rai-vos mortos para o pecado, mas vivos cado, obedecestes de coração à forma do
para Deus, em Cristo Jesus. ensino a que fostes submetidos.
12 Portanto, não permitais que o pecado 18 Vós fostes libertos do pecado e vos
domine vosso corpo mortal, forçando- tornaram escravos da justiça.
vos a obedecerdes às suas vontades. 19 Expresso-me, assim, nos termos do
13 Tampouco, entregais os membros do homem comum, por causa da fraqueza
vosso corpo ao pecado, como instru- da vossa carne. Pois, assim, como apre-
mentos de iniqüidade; antes consagrai- sentastes os membros do vosso corpo
vos a Deus com quem fostes levantados como escravos da impureza e da maldade
da morte para a vida; e ofereçais os que conduz a iniqüidades ainda maiores;
vossos membros do corpo a Ele, como apresentai, a partir de agora, todos os
instrumentos de justiça.3 membros do vosso corpo como escravos
14 Porquanto o pecado não poderá exer- da justiça para a santificação.6

3 Esse é um chamado eloqüente para que o cristão sincero torne-se, na vida diária e em seus relacionamentos, aquilo que
ele já é por posição: morto para esse sistema mundial pecaminoso e para o seu pecado que, mesmo agonizante, luta por fazer
prevalecer suas vontades na alma do crente (vv. 5-7); e vivo para adorar e servir a Deus (vv. 8-10). Após essa tomada de posição,
o próximo passo em direção à vitória do cristão sobre o pecado é a decisiva e perseverante recusa de permitir que o pecado volte
a dominar sua vida, decisões éticas e morais (v.12). Finalmente, o último passo tem a ver com a entrega absoluta da vida (todos
os aspectos e recônditos da alma) do crente aos cuidados paternos e poderosos de Deus, que agora habita em seu corpo na
pessoa do Espírito Santo (v.13).
4 Paulo compreendia o pecado como uma espécie de poder escravizador, e por isso o personificou. O crente em Cristo não
está livre das suas responsabilidades em relação à verdade e à justiça, nem tampouco da autoridade moral dos mandamentos
de Deus. O que Paulo está ensinando é que não estamos sujeitos à Lei mosaica da mesma forma que os judeus do AT estavam,
e que ela não oferece nenhuma capacitação para vencermos o poder do pecado introduzido na terra desde Adão. A Lei, em
termos práticos, é o código penal diante do qual estamos todos condenados. A graça, entretanto, oferece ao cristão sincero
plena capacitação (Tt 2.11,12).
5 Os versículos de 15 a 23 apresentam uma analogia entre a teologia da redenção e o procedimento ético do mercado de
escravos, prática muito comum nos tempos do NT. O escravo está sob a obrigação moral de servir o seu mestre (de onde
vem a nossa forma de tratamento, em português: sinhá, dona; sinhô, dono) até a morte. Uma vez morto, o dono não tem mais
autoridade ou poder algum sobre a alma dele. Desse mesmo modo, acontece com o crente em Cristo. O seu “velho dono”, o
pecado, não tem mais direito sobre sua vida ou vontades, uma vez que já morreu com Cristo.
6 Paulo pede desculpas por usar uma analogia ligada à escravidão, assunto bastante popular em sua época, mas sobre o qual
os judeus tinham ojeriza. O povo judeu sempre acreditou na liberdade que Deus outorgou aos homens. No entanto, os judeus
foram feitos escravos por muitos povos durante longos períodos da história da humanidade. A comparação de Paulo, porém, é
ideal para ilustrar uma grande verdade universal: ou se é escravo (servo) de Deus ou do Diabo. Essa forma de doutrina refere-se
a um sumário de ética cristã, baseado nos ensinos de Jesus Cristo, que normalmente era ministrado aos convertidos na igreja
primitiva, a fim de discipular os novos crentes nos primeiros passos da vida cristã.

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15 ROMANOS 6, 7

20 Porque, quando éreis escravos do pe- restes quanto à Lei mediante o corpo de
cado, estáveis livres em relação à justiça. Cristo, para pertencerdes a outro, àquele
21 E que fruto colhestes, então, das atitudes que ressuscitou dentre os mortos, a fim
das quais agora vos envergonhais? Pois o de que frutifiquemos para Deus.
resultado final delas é a morte! 5 Pois quando éramos dominados pela
22 Contudo, agora libertos do pecado, e natureza pecaminosa, as paixões dos pe-
tendo sido transformados em escravos cados, instigadas pela própria Lei, agiam
de Deus, tendes o vosso fruto para a san- livremente em nosso corpo, de maneira
tificação, e por fim a vida eterna.7 que dávamos frutos para a morte.
23 Porque o salário do pecado é a morte, 6 Mas, agora, fomos libertos da Lei, haven-
mas o dom gratuito de Deus é a vida do morrido para aquilo que nos aprisio-
eterna por intermédio de Cristo Jesus, nava, para servimos de acordo com a nova
nosso Senhor! ministração do Espírito, e não conforme a
velha forma da Lei escrita.3
A relação entre Lei e Graça

7 Caros irmãos, falo convosco como


conhecedores da Lei. Acaso não sa-
beis que a Lei tem autoridade sobre uma
A Lei condena, Jesus liberta
7 Portanto, que concluiremos? A Lei é pe-
cado? De forma alguma! De fato, eu não
pessoa apenas enquanto ela vive?1 teria como saber o que é pecado, a não
2 Por exemplo, pela Lei a mulher casada ser por intermédio da Lei. Porquanto,
está ligada ao marido enquanto ele vive; na realidade, eu não haveria conhecido a
mas, se ele morrer, ela está livre da lei do cobiça, se primeiro a Lei não tivesse dito:
casamento. “Não cobiçarás”.
3 Por isso, se ela se casar com outro ho- 8 Mas o pecado, aproveitando-se da oca-
mem, enquanto seu marido ainda estiver sião dada pelo mandamento, provocou
vivo, será considerada adúltera. Mas se em mim todo o tipo de cobiça; porque,
o marido morrer, ela estará livre daquela onde não há lei, o pecado está morto.
lei, e mesmo que venha a se casar com 9 Antes eu vivia sem a Lei; mas quando
outro homem, não estará adulterando.2 veio o mandamento, o pecado reviveu, e
4 Assim também, vós, meus irmãos, mor- eu fui ferido de morte;4

7 Ser sinceramente devotado a Deus produzirá, inevitavelmente, santidade. E o final desse processo é a vida eterna. Não
existe vida eterna sem santidade (Hb 12.14). Todo aquele que já passou pela justificação (o primeiro ato da salvação que
é composta de justificação, santificação e glorificação), com toda certeza, demonstrará, por meio de suas atitudes diárias,
evidências desse fato. Uma pessoa que não está sendo santificada (purificada pelo Espírito Santo) em seus pensamentos e
atitudes deve avaliar se realmente houve, em algum momento, um arrependimento sincero do seu coração na presença do
Espírito de Cristo e, portanto, a justificação.
Capítulo 7
1 Paulo tem em mente tanto a Lei mosaica quanto a lei divina, no seu sentido mais universal e implicações gerais. Assim
também quanto ao homem, Paulo não se limita a uma análise simplista do crente e do não convertido, mas vai além e investiga a
complexidade do ser humano quanto à sua tendência natural para o mal (o ser humano sempre se sentiu atraído pelo proibido),
enquanto sua consciência íntima aponta para o bem e a verdade; como se a alma humana, embora nesse mundo, tivesse
saudades da casa paterna, mas vontade de ceder à cobiça da carne (todas as ambições de prazer e glória).
2 No cap. 6, Paulo faz uma analogia do compromisso que há entre o escravo e seu senhor (dono). Em 7.1-6, a ilustração utilizada é
a do compromisso (aliança, contrato) celebrado no casamento. Paulo demonstra que a liberdade da Lei é a mesma que uma esposa
tem em relação ao seu marido. A relação é de simples entendimento: assim como a morte do marido dissolve o vínculo formal entre
o marido e a esposa, a morte do crente com Cristo quebra o jugo da Lei. O cristão está, portanto, livre do domínio do pecado para
unir-se a Cristo, que jamais morrerá novamente, o que significa, que essa nova união não terá fim (6.9; 7.4).
3 A antítese entre o espírito e a simples letra escrita aponta para um novo tempo, aquele em que a “nova aliança” de Jeremias
se realiza (Jr 31.31). A “letra” transmite o sentido de guardar tudo o que a Lei determina no seu aspecto exterior (cumprir o que
está escrito sem maiores reflexões ou interpretações subjetivas), à base da força de vontade e na capacidade moral dos homens.
O “espírito” refere-se às novas relações e forças produzidas em Cristo pelo Espírito Santo.
4 Paulo faz uma análise da sua própria experiência de vida, ao mesmo tempo em que considera a existência de todos os
homens, a partir do seu conhecimento atual da graça divina em Cristo Jesus. Antes de se dar conta de que a Lei existia com
tamanho vigor, poder e rigidez, e de que estava condenado à morte, o menino Paulo vivia alegre e em paz. Com a chegada do seu

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ROMANOS 7 16

10 e descobri que o mandamento que era determina o meu agir, mas sim o pecado
para vida, transformou-se em morte para que habita em mim.
mim.5 18 Porque sei que na minha pessoa, isto é,
11 Porquanto o pecado, valendo-se do na minha carne, não reside bem algum;
mandamento, iludiu-me, e por meio porquanto, o desejar o bem está presente
dele me matou. em meu coração, contudo, não consigo
12 De maneira que a Lei é santa, e o man- realizá-lo.8
damento, santo, justo e bom. 19 Pois o que pratico não é o bem que al-
13 Portanto, isso significa que o que era mejo, mas o mal que não quero realizar,
bom tornou-se morte para mim? De esse eu sigo praticando.
forma alguma! Mas o pecado para que 20 Ora, se faço o que não quero, já não
se revelasse como pecado, produziu em sou eu quem o realiza, mas o pecado que
mim a morte por intermédio do que reside em mim.
era bom; a fim de que, por meio do 21 Assim, descubro essa Lei em minha
mandamento, o pecado se demonstrasse própria carne: quando quero fazer o
extremamente maligno.6 bem, o mal está presente em mim.
14 Porquanto é do nosso pleno conheci- 22 Pois no íntimo da minha alma tenho
mento de que a Lei é espiritual; eu, en- prazer na Lei de Deus;
tretanto, sou limitado pela carne, pois fui 23 contudo, vejo uma outra lei agindo
vendido como escravo ao pecado. nos membros do meu corpo, guerreando
15 Pois não compreendo meu próprio contra a lei da minha razão, tornando-
modo de agir; porquanto o que quero, me prisioneiro da lei do pecado que atua
isso não pratico; entretanto, o que detes- em todos os meus membros.
to, isso me entrego a fazer.7 24 Miserável ser humano que sou! Quem
16 Ora, e se faço o que não desejo, tenho me libertará deste corpo de morte?9
que admitir que a Lei é boa. 25 Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso
17 Nesse sentido, não sou mais eu quem Senhor! De modo que, eu mesmo com

bar mitzvah (importante cerimônia judaica na qual o jovem, aos 13 anos, passa a ser responsável pelo cumprimento da Lei), bem
como na vida adulta, quando as demandas do seu vínculo com os fariseus amadureceram suas convicções legais e institucionais,
e, por fim, quando do seu encontro com Cristo, fato que determinou sua conversão, Paulo chegou à conclusão que estava morto,
“porque o salário do pecado é a morte” (6.23; Lc 18.20,21; Fp 3.6).
5 O que aconteceu na prática foi que a Lei veio a ser a via de acesso do pecado, tanto na experiência de Paulo quanto para toda
a humanidade. Em vez de conceder vida, a Lei produziu condenação; em lugar de promover a santidade, provocou o pecado.
Todavia, a responsabilidade pelo pecado não está na Lei, uma vez que ela foi criada por Deus para ajudar os seres humanos a
ordenar, suas prioridades, identificarem o certo do errado, o bem do mal, e a viverem em paz e fraternidade uns com os outros.
Portanto, a Lei é santa, justa e boa (v.12).
6 O pecado e seu pai (o Diabo) usaram a santa Lei de Deus para uma finalidade ímpia (a morte). Esse fato revela quão despre-
zíveis são o nosso Inimigo e suas artimanhas.
7 Paulo fala da própria intimidade da sua alma e de suas lutas como homem e como cristão, ao mesmo tempo em que se refere
a um conflito comum a todos os seres humanos. Até mesmo o crente mais santificado tem dentro de si a semente da rebelião que
herdou de Adão, a qual vem sendo explorada pelo Diabo de geração em geração desde a Queda (Gn 3). Paulo é eloqüente quando
usa a expressão “fui vendido como escravo ao pecado”, para retratar como todos nós passamos pela experiência de ser subjugados
pelo poder deste mundo e do pecado. E, mesmo após a conversão, o pecado agonizante procura nos ferroar persistentemente.
Paulo, ainda, revela que nossas lutas interiores provocam todo tipo de tensão, ambivalência, confusão e frustrações.
8 Paulo faz uma humilde e honesta declaração em relação à tenacidade do pecado em tentar controlar a vida dos crentes (v.17).
No v.18 ele se refere ao estado caído do ser humano, como denota a parte inicial da frase. Evidentemente, ele não está dizendo
que não pode haver a mínima bondade prática nos cristãos.
9 Paulo usa o corpo como metáfora de um cadáver que pesava sobre suas costas, mas que era de sua responsabilidade
equilibrá-lo para que não caísse ou alterasse o curso do seu trajeto ao carregá-lo (6.6). O cristão vive em dois mundos ao mesmo
tempo e isso causa muitas aflições. Este é o motivo pelo qual a carne batalha contra o Espírito e o Espírito batalha contra a carne,
porquanto são opostos entre si (Gl 5.17). A vitória contra esse inimigo (a disposição para o pecado que persiste em nós) não vem
sem muita luta, mas ao longo do nosso tempo de caminhada cristã e amadurecimento espiritual. Graças a Deus a vitória virá por
Cristo, e isso está maravilhosamente descrito no capítulo seguinte.

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17 ROMANOS 7, 8

a razão sirvo à Lei de Deus, mas com a ga de Deus, pois não se submete à Lei de
carne à lei do pecado. Deus, nem consegue fazê-lo.
8 Os que vivem na carne não podem
O Espírito guia os filhos de Deus agradar a Deus.3

8 Portanto, agora não há nenhuma


condenação para os que estão em
Cristo Jesus.1
9 Vós, contudo, não estais debaixo do do-
mínio da carne, mas do Espírito, se é que
de fato o Espírito de Deus habita em vós.
2 Porque a lei do Espírito da vida, em Todavia, se alguém não tem o Espírito de
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado Cristo, não pertence a Cristo.
e da morte. 10 Porém, se Cristo está em vós, o corpo
3 Porquanto, aquilo que a Lei fora in- está morto por causa do pecado, mas o
capaz de realizar por estar enfraquecida espírito vive por causa da justiça.
pela natureza pecaminosa, Deus o fez, 11 E, se o Espírito daquele que ressuscitou
enviando seu próprio Filho, à semelhan- dos mortos a Jesus habita em vós, aquele
ça do ser humano pecador, como oferta que ressuscitou dos mortos a Cristo Jesus
pelo pecado. E, assim, condenou o igualmente vos dará vida a seus corpos
pecado na carne,2 mortais, por intermédio do seu Espírito
4 para que a justa exigência da Lei se que habita em vós.4
cumprisse em nós, que não andamos 12 Portanto, irmãos, estamos em dívida,
segundo a natureza carnal, mas segundo não para com a natureza carnal, para
o Espírito. andarmos submissos a ela.
5 Os que vivem segundo a carne têm a 13 Porque, se viverdes de acordo com a
mente voltada para as vontades da na- carne, certamente morrereis; no entanto,
tureza carnal, entretanto, os que vivem se pelo Espírito fizerdes morrer os atos
de acordo com o Espírito, têm a mente do corpo, vivereis.
orientada para satisfazer o que o Espírito 14 Porquanto, todos os que são guiados
deseja. pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
6 A mentalidade da carne é morta, mas a 15 Pois vós não recebestes um espírito
mentalidade do Espírito é vida e paz. que vos escravize para andardes, uma
7 Porque a mentalidade da carne é inimi- vez mais, atemorizados, mas recebestes

1 Essas são as “boas novas” (o Evangelho): 1) A Lei incita, ressalta e condena o pecado. Todavia, o cristão não está “debaixo da
Lei” (6.4); 2) O crente “em Cristo” é incorporado plenamente ao Corpo de Cristo, mediante o Espírito (1Co 12.13); 3) O Corpo, que
teve início na morte e ressurreição, tem Jesus Cristo como cabeça e inclui todos os remidos como Seus membros (Ef 1.22,23); 4)
A autoridade que governa o Corpo não é mais a Lei, tampouco a natureza carnal, muito menos o pecado, mas a Lei do Espírito,
que significa: liberdade (v.2). Pelo Espírito, o cristão é liberto do cativeiro do pecado.
2 Deus se identificou perfeitamente com o ser humano na pessoa de Jesus Cristo, porém sem ter cometido pecado algum
(2Co 5.21). Constituindo-se no único e verdadeiro Homem sem pecado, cumpriu integralmente o plano original de Deus para o
ser humano. A expressão “oferta pelo pecado” (que não foi traduzida por algumas versões) consta da Septuaginta como peri
hamartias, expressão grega derivada do antigo termo hebraico hatta´th, que significa literalmente “oferta para o pecado”.
3 Paulo não se refere à carne como substância física, mas sim ao caráter moral e ético da expressão. É o campo (área de
nossa vida) ao qual o poder do pecado e do Diabo tem acesso e controle, e no qual as obras próprias da natureza carnal são
concebidas e praticadas (Gl 5.19-21). Após a morte e ressurreição de Jesus, existem apenas dois grandes campos: “a carne” e “o
Espírito”. É impossível viver nos dois lugares simultaneamente (v.9). A Lei não perdeu sua relevância na vida do cristão. Contudo,
ela não tem em si o poder da salvação do pecador condenado. Sua autoridade, no entanto, se aplica à orientação moral e ética
do crente, que a interpreta e obedece, por amor a Cristo, mediante o esclarecimento e poder do Espírito Santo que agora habita
seu espírito, alma e corpo (1Ts 5.23).
4 Todos os corpos (cristãos ou não) estão sujeitos à morte e decomposição física, conseqüência do pecado original (Gn
3). A ressurreição da alma e do corpo dos crentes para a vida eterna está garantida mediante a presença do Espírito Santo
que neles habita. Presença esta evidenciada por uma vida controlada pelo próprio Senhor Jesus. Uma vida sob o domínio do
Espírito é o selo de garantia total de que desde aqui e agora nossa ressurreição está certa (1Co 6.14; 15.20,23; 2Co 4.14; Fp
3.21; 1Ts 4.14).

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ROMANOS 8 18

o Espírito que os adota como filhos, por 23 E não somente ela, mas igualmente
intermédio do qual podemos clamar: nós, que temos os primeiros frutos do
“Abba, Pai!”.5 Espírito, também gememos em nosso
16 O próprio Espírito testemunha ao íntimo, esperando com ansiosa expecta-
nosso espírito que somos filhos de Deus. tiva, por nossa adoção como filhos, a
17 Se somos filhos, então, também so- redenção do nosso corpo.
mos herdeiros; herdeiros de Deus e 24 Porquanto, precisamente nessa espe-
co-herdeiros com Cristo, se realmente rança fomos salvos. Contudo, esperança
participamos dos seus sofrimentos para que se vê não é esperança; pois como
que, da mesma maneira, participemos pode alguém anelar por aquilo que está
da sua glória. vendo?8
25 Porém, se esperamos por algo que
O sofrimento e a glória futura ainda não podemos ver, com paciência
18 Estou absolutamente convencido de o aguardamos.
que os nossos sofrimentos do presente 26 Do mesmo modo, o Espírito nos au-
não podem ser comparados com a glória xilia em nossa fraqueza; porque não sa-
que em nós será revelada. bemos como orar, no entanto, o próprio
19 A própria natureza criada aguarda, Espírito intercede por nós com gemidos
com vívido anseio, que os filhos de Deus impossíveis de serem expressos por meio
sejam revelados.6 de palavras.9
20 Porquanto a criação foi submetida à 27 E aquele que sonda os corações
inutilidade, não por sua livre escolha, conhece perfeitamente qual é a intenção
mas por causa da vontade daquele que do Espírito; porquanto, o Espírito supli-
a sujeitou, ca pelos santos em conformidade com a
21 na esperança de que também a própria vontade de Deus.
natureza criada será libertada do cativei-
ro da degeneração em que se encontra, Somos mais que vencedores
recebendo a gloriosa liberdade outorga- 28 Estamos certos de que Deus age em
da aos filhos de Deus.7 todas as coisas com o fim de beneficiar
22 Sabemos que até hoje toda a criação todos os que o amam, dos que foram
geme e padece, como em dores de parto. chamados conforme seu plano.10

5 No primeiro século, a adoção era a forma jurídica e legal (especialmente entre os romanos e gregos) por meio da qual o
pai adotivo recebia um filho e a ele destinava todos os direitos para perpetuar o nome da família e administrar sua herança. A
expressão em aramaico abba era a maneira carinhosa como as famílias judias na palestina, na época de Cristo, se referiam a
pessoa do pai. Cristo usou esse termo em suas orações e ensinou seus discípulos a considerarem o Deus Altíssimo e Todo-
Poderoso como nosso “pai querido” ou “papai”, numa clara alusão à forma amorosa e sincera com que Deus convive com
Seus filhos. Os judeus, entretanto, tinham receio de usar uma forma de tratamento tão informal e pessoal (v.23; 9.4; Mc 14.36;
Lc 11.2; Gl 4.5; Ef 1.5).
6 Todos aqueles que sinceramente crêem em Cristo já foram promovidos à posição de filhos de Deus, todavia, a plena mani-
festação de tudo o que esse privilégio implica está reservada para os últimos dias (1Jo 3.1,2).
7 Paulo se refere à queda cósmica (em algumas versões traduzida impropriamente como “vaidade”), a qual se encontra
detalhada nas Escrituras de Gn 3 até Ap 22.3 (“nunca mais haverá maldição”). Toda a natureza criada por Deus, que Ele próprio
julgou “boa”, ficou sujeita à degeneração e à inutilidade (vaidade) com o ingresso do pecado na terra por meio da desobediência
voluntária dos primeiros seres humanos, representados por Adão. O novo corpo que receberemos, por ocasião da ressurreição,
suplantará nosso atual corpo mortal que nos liga à natureza, que a essa altura também será renovada. O termo grego original
mataiotes, além de transmitir o sentido de futilidade, frustração (vaidade), remete à adoração a deuses falsos, indicando que a
criação foi sujeita às forças do Inimigo (1Co 12.2). O universo não se destina ao aniquilamento (destruição total), mas à renovação
(2Pe 3.13; Ap 21.1).
8 É importante notar que fomos salvos “na” esperança, não “por” esperança. Paulo repetirá várias vezes que a salvação é um
dom de Deus e recebida unicamente por meio da fé do pecador arrependido. A esperança acompanha a salvação (Ef 2.8).
9 Assim como a esperança sustenta o cristão em seus sofrimentos, da mesma forma, o Espírito Santo o ajuda na comunicação
com Deus, quando palavras humanas parecem não fazer sentido. Neste trecho, não é o crente quem geme, mas sim o Espírito.
10 A expressão “todas as coisas”, segundo os melhores manuscritos, é objeto do verbo grego sunergei, indicando que o sujeito

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19 ROMANOS 8, 9

29 Porquanto, aqueles que antecipada- 35 Quem nos separará do amor de


mente conheceu, também os predestinou Cristo? Será a tribulação, ou ansiedade,
para serem semelhantes à imagem do seu ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou
Filho, a fim de que Ele seja o primogêni- perigo, ou espada?
to entre muitos irmãos.11 36 Como está escrito: “Por amor de ti
30 E aos que predestinou, a estes também somos entregues à morte todos os dias;
chamou; e aos que chamou, a estes igual- fomos considerados como ovelhas para
mente justificou; e aos que justificou, a o matadouro”.
estes também glorificou.12 37 Contudo, em todas as coisas somos
mais que vencedores, por meio daquele
Hino de vitória: Deus é por nós que nos amou.15
31 A que conclusão, pois, chegamos dian- 38 Portanto, estou seguro de que nem
te desses fatos? Se Deus é por nós, quem morte nem vida, nem anjos nem demô-
será contra nós? nios, nem o presente nem o futuro, nem
32 Aquele que não poupou seu próprio quaisquer poderes,
Filho, mas o entregou por todos nós, 39 nem altura nem profundidade, nem
como não nos concederá juntamente qualquer outra criatura poderá nos afas-
com Ele, gratuitamente, todas as demais tar do amor de Deus, que está em Cristo
coisas?13 Jesus, nosso Senhor.16
33 Quem p poderá trazer alguma
g acusação
ç
sobre os escolhidos de Deus? É Deus O lamento de Paulo por Israel
quem os justifica!
34 Quem os condenará? Foi Cristo Jesus
que morreu; e mais, Ele ressuscitou den-
9 Digo a verdade em Cristo, não falo
inverdades, minha consciência o con-
firma no Espírito Santo,1
tre os mortos e está à direita de Deus, e 2 que tenho grande tristeza e incessante
também intercede a nosso favor.14 dor no meu coração.

da ação é Deus. Algumas correntes filosóficas, espiritualistas e esotéricas usam esse trecho da Bíblia para sugerir uma espécie de
pensamento positivo inconsistente, visto que as leis físicas provam que “as coisas” no universo não estão se organizando ou fi-
cando melhores, mas se desestruturando e falindo. Portanto, “as coisas” não podem produzir qualquer progresso por si mesmas.
É Deus quem põe ordem no caos e convoca o ser humano para ser seu companheiro nessa empreitada.
11 Embora esse trecho como várias posições teológicas de Paulo continuam sendo grandes temas de estudo por parte de
teólogos e lingüistas, nessa passagem, há certo consenso de que o conhecimento aqui mencionado não é abstrato, mas é fruto
da essência de Deus. O amor e seus atributos: fidelidade e justiça. Deus não apenas nos conhecia antes mesmo de termos a
mínima informação sobre Ele, mas também nos conhecia no sentido de nos haver escolhido desde a fundação do universo
(Ef 1.4; 2Tm 1.9). Assim como, desde a eternidade passada, Deus conhecia os que, pela fé, se tornariam o seu povo. Esse
conhecimento prévio de Deus em relação a cada ser humano aponta para a graça da eleição, freqüentemente embutida no verbo
“conhecer” no AT (Am 3.2; Os 13.5). No NT, ela aparece em passagens como 1Co 8.3 e Gl 4.9.
12 O fato de alguém vir a amar a Deus não é mérito humano, mas resultado direto da ação divina. O homem é chamado não
no sentido de um simples e casual convite, mas por “uma convocação solene” e justificado por conseqüência da “convocação”
(chamada), e o grande clímax: glorificado, no sentido de ser como Cristo é (1Jo 3.2).
13 A expressão grega original pheidomai, aqui traduzida por “não poupou”, nos remete a Gn 22.16 em que a Septuaginta utiliza
exatamente a mesma palavra. No modo de pensar judaico, a “amarração de Isaque” é considerada um exemplo clássico do valor
transcendente e redentor do martírio do justo.
14 Paulo nos leva metaforicamente a um tribunal universal de justiça e afirma que nenhuma acusação formal pode ser
apresentada contra o cristão, porquanto, Deus – o Supremo Juiz – já proclamou seu veredicto final de “inocência”. O valor da
pena (fiança) foi pago por nosso Advogado na cruz do Calvário: Jesus Cristo.
15 Somos realmente mais que vencedores. O termo grego original hupernikõmen significa literalmente “super-vencedores”. O
Sl 44.22 é citado no v.36 para demonstrar que o sofrimento sempre fez parte da experiência de vida do povo de Israel não para
separar o povo de Deus, mas justamente para conduzi-los à Salvação em Cristo.
16 É, portanto, impossível fugir do amor de Deus. Nada e nenhum ser do universo poderá nos separar do alcance do Espírito
de Cristo. A única pessoa que não consta da lista, e que poderia fazer isso, seria o próprio Deus; no entanto, é Ele mesmo quem
nos justificou (v.33).
Capítulo 9
1 A consciência é verdadeiramente limpa, pura e apta para nos orientar, somente quando julgada e aprovada pelo Espírito Santo.

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ROMANOS 9 20

3 Porquanto eu mesmo desejaria ser 10 Esse não foi o único evento; também
amaldiçoado e separado de Cristo por os filhos de Rebeca tiveram um mesmo
amor de meus irmãos, que são meus progenitor, nosso pai Isaque.
parentes segundo a carne;2 11 Contudo, antes mesmo que os gêmeos
4 os quais são israelitas, de quem são a nascessem ou realizassem qualquer obra
adoção, a glória, as alianças, a promulga- boa ou má, para que o plano de Deus
ção da Lei, o culto e as promessas;3 segundo a eleição permanecesse inalte-
5 de quem são os patriarcas, e a partir rado, não por causa das obras, mas sim
deles é traçada a linhagem humana de por aquele que chama,
Cristo, que é Deus acima de tudo e de 12 foi-lhe dito: “O mais velho servirá ao
todos. Seja Ele louvado para sempre! mais novo!”6
Amém.4 13 Como está escrito: “Amei a Jacó, mas
rejeitei a Esaú”.
Deus cumpre suas promessas 14 Que conclusão podemos tirar? Acaso
6 Não imaginemos que a Palavra de Deus não é justo? De modo algum!
Deus possa ter falhado. Porquanto, nem 15 Porquanto Ele declara a Moisés: “Terei
todos os descendentes de Israel são isra- misericórdia de quem Eu quiser ter mi-
elitas fiéis. sericórdia e terei compaixão de quem Eu
7 Nem por serem descendência de Abraão desejar ter compaixão.
se tornaram todos filhos de Abraão. Ao 16 Assim, claro está que isso não depende
contrário: “Por intermédio de Isaque, a da vontade, tampouco do esforço do ser
tua descendência será considerada”.5 humano, mas da maneira como Deus
8 Em outras palavras, não são os filhos focaliza sua misericórdia.7
naturais que são filhos de Deus, mas os 17 Pois diz a Escritura ao faraó: “Eu o
filhos da promessa é que são considera- levantei exatamente com esse propó-
dos como descendentes de Abraão. sito: revelar em ti o meu poder, e para
9 Pois foi assim que a promessa foi decla- que o meu Nome seja proclamado por
rada: “No tempo certo virei novamente, toda a terra.
e Sara dará à luz um filho”. 18 Portanto, Ele tem misericórdia de

2 Paulo faz um paralelo com a súplica de Moisés logo após o terrível pecado cometido pelos judeus ao fazerem de um bezerro
de ouro um deus e o adorarem (Êx 32.32). Esse grande amor de Paulo pelas almas dos seus semelhantes também deve nortear
as ações missionárias e evangelizadoras da Igreja em todo o mundo.
3 A expressão hebraica, traduzida para o grego na Septuaginta, shekiná refere-se à glória soberana e majestosa da presença
maravilhosa de Deus no templo e no tabernáculo. Quanto às “alianças”, embora alguns manuscritos tragam a expressão no
singular numa alusão à aliança celebrada no monte Sinai (Êx 34.38), os melhores originais se referem a todas as alianças firmadas
por Deus com o seu povo: com Abraão (Gn 15.17-21; 17.1-8); com Moisés (Êx 19.5; 24.1-4), renovada nas planícies de Moabe (Dt
29.1-15), nos montes de Ebal, Gerizim e em Siquém (Js 8.30-35; 24); com os levitas (Nm 25.12,13; Jr 33.21; Ml 2.4,5); com Davi
(2Sm 7; 23.5; Sl 89.3,4,28,29; 132.11,12) e, especialmente, a Nova Aliança, profetizada em Jr 31.31-40).
4 Nesse trecho, encontramos uma das declarações mais claras e exatas sobre a absoluta divindade e humanidade de Cristo.
Outras passagens corroboram com essa afirmação de Paulo (Mt 1.23; 28.19; Lc 1.35; 5.20-21; Jo 1.1,3,10,14,18; 5.18; 20.28; 2Co
13.14; Fp 2.6; Cl 1.15-20; 2.9; Tt 2.13; Hb 1.3,8; 2Pe 1.1; Ap 1.13-18; 22.13).
5 Paulo faz uma clara distinção entre os judeus, segundo a descendência sangüínea (a carne) e os verdadeiros israelitas que
através da fé são os legítimos filhos de Abraão. Paulo vê em Isaque uma prefigura de Jesus Cristo, que é, portanto, filho de
Abraão. Por meio de Cristo, somos igualmente os filhos da promessa feita a Abraão (Gn 21.12; 18.10,14).
6 Paulo deixa evidente que Deus escolheu Jacó não pelo cumprimento de quaisquer condições prévias, obras ou leis, mas por
causa da sua vontade livre e soberana. Esta profecia não se refere somente a Esaú e Jacó (Gn 25.23), mas também às nações
que surgiram a partir deles. Os filhos de Esaú – os edomitas – estiveram, por longos períodos, sujeitos a Israel (2Sm 8.14; 1Rs
22.47). O propósito divino é concretizado na eleição que Ele faz (Ef 1.4).
7 Ao citar as contundentes declarações de Moisés (Êx 33.19), Paulo demonstra que a compaixão e a misericórdia de Deus
não estão sujeitas a qualquer força do universo, muito menos ao controle humano, apenas à Sua absoluta e livre graça, justiça
e vontade. Deus tratou a Isaque e Ismael, bem como, a Jacó e Esaú, por meio de sua soberania e onisciência, usando do direito
que Ele tem de oferecer sua misericórdia a quem desejar.

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21 ROMANOS 9

quem deseja, e endurece o coração de povo; e chamarei ‘minha amada’ a quem


quem quer.8 não é minha amada”.
26 E mais: “Acontecerá que no mesmo
A absoluta soberania de Deus lugar em que lhes foi declarado: ‘Vós não
19 Certamente me perguntarás: “Por que sois meu povo; aí serão chamados filhos
Deus ainda nos culpa? Pois, quem pode do Deus vivo!’”10
se opor à sua vontade?” 27 Também Isaías proclama em relação
20 Todavia, quem és tu, ó homem, para a Israel: “Ainda que o número dos isra-
questionares a Deus? “Acaso aquilo que é elitas seja como a areia do mar, apenas o
criado pode interpelar seu criador dizen- remanescente é que será salvo!
do: ‘Por que me fizeste assim?’ 28 Porquanto o Senhor executará sobre a
21 Ou o oleiro não tem todo direito de terra a sua sentença, rápida e de uma vez
produzir do mesmo barro um vaso para por todas”.
fins nobres e outro para usos menos 29 E como dissera Isaías anteriormente:
honrosos? “Se o Senhor dos Exércitos não nos tives-
22 Mas o que tens a dizer se Deus supor- se deixado descendentes, já estaríamos
tou com muita longanimidade os vasos como Sodoma e Gomorra”.11
da ira, preparados para a destruição, por-
que desejava manifestar a sua ira e tornar Israel tropeçou na fé
conhecido seu poder,9 30 A que conclusão chegamos? Os gen-
23 a fim de que fossem conhecidas as tios, que não procuravam justiça, a rece-
riquezas da sua glória para com os vasos beram, uma justiça que vem pela fé;12
de sua misericórdia, que preparou com 31 entretanto, Israel, que buscava uma lei
grande antecedência para glória, que trouxesse justiça, não a alcançou.
24 quero dizer, a nós próprios, a quem 32 E porque não? Porque não a buscava
convocou, não apenas dentre os ju- pela fé, mas como que por meio das
deus, mas igualmente dentre todos os obras. Eles tropeçaram na “pedra de
gentios? tropeço”.13
25 Como diz Ele também em Oséias: 33 Como está escrito: “Eis que ponho em
“Chamarei ‘meu povo’ a quem não é meu Sião uma pedra de tropeço e uma rocha

8 Deus, em geral, não impede ninguém de fazer o mal. Isso não quer dizer que o Faraó (de Êxodo) foi criado para ser um
homem cruel e insensível, mas, diante das circunstâncias que o deveriam ter levado ao arrependimento, ele, por sua livre decisão,
permaneceu incrédulo e duro de coração (Êx 9.16; 8.15; 7.3; 15.13; Js 2.10,11; 9.9; 1Sm 4.8). Deus não é arbitrário em sua
misericórdia. Paulo revela que o grande motivo da rejeição de Israel por Deus é sua renitente incredulidade (vv. 30-32).
9 Não cabe ao homem murmurar contra o direito soberano que o Criador tem de realizar o que bem entende com Sua criação
e filhos. Entretanto, a tônica desta passagem está na misericórdia de Deus que suporta com infinita paciência a persistente e
crescente maldade humana (fortemente influenciada pelo Diabo), retardando Sua ira por séculos e séculos (2Pe 3.7-9).
10 Embora as palavras de Oséias, em seu contexto original no AT, se refiram à restauração espiritual de Israel, Paulo as
interpreta como um princípio: Deus é salvador, perdoador e restaurador; cujo prazer está em buscar “os que não-são-meu-povo”
e fazer deles “povo-meu”. Deus transforma os nomes dos filhos ilegítimos e rejeitados de Oséias (em hebraico: Lo-ruhamah
– não-objeto-da-minha-afeição, e Lo-ammii – não-meu-parente) em “povo-meu” (Os 1.10). Paulo aplica esse princípio à inclusão
dos gentios, de modo soberano, no relacionamento pactual com o Senhor (conforme cap.11).
11 Essas passagens de Isaías revelam que apenas um pequeno remanescente sobreviverá em comparação à grande maioria
dos judeus que não reconhecerão a Salvação do Senhor em Cristo. O chamado de Deus inclui tanto judeus quanto gentios (v.24),
contudo, a imensa multidão dos salvos será formada de gentios de todas as nações (v.30; Is 10.22,23; 1.9).
12 As doutrinas da eleição divina e da responsabilidade humana quanto ao dom da Salvação, concedido por Deus em Cristo,
devem ser, ambas, cridas e vividas firmemente por todo cristão sincero.
13 O fracasso de Israel não foi ter buscado desesperadamente uma vida justa diante de Deus. O grande pecado foi a arrogância
e a prepotência ao acreditar que suas muitas obras externas, regras e rituais poderiam constranger Deus a lhes tratar com
deferimento, sem prestar atenção à falta da fé pura e sincera em seus corações. Por isso Jesus se tornou a “Pedra de tropeço” de
Israel e de todos os incrédulos, porquanto, o povo de Deus não aceitou o modo que Ele determinara para que a nação viesse a
alcançar a fé, e, com a fé, a justificação. Confiando em seus próprios métodos e obras, Israel rejeitou o Filho de Deus, o Messias
prometido (1Pe 2.4-8; Sl 118.22; Lc 20.17,18).

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ROMANOS 9, 10 22

de escândalo; mas aquele que nela confia subirá aos céus? Isto é, para trazer do
jamais será envergonhado!”14 alto a Cristo.
7 Ou, ainda: ‘Quem descerá ao abismo?’,
Paulo suplica a Israel que creia isto é, para fazer Cristo subir dentre os

10 Caros irmãos, o desejo do meu


coração e a minha oração
a Deus em favor dos filhos dos israelitas é
mortos.
8 Mas o que ela diz? “A palavra está bem
próxima de ti, na tua boca e no teu cora-
que eles sejam salvos.1 ção”, ou seja, a palavra da fé que estamos
2 Porquanto sou testemunha quanto ao pregando:
zelo que eles devotam a Deus, contudo; 9 Se, com tua boca, confessares que Jesus
o seu zelo não tem como base o real é Senhor, e creres em teu coração que
conhecimento.2 Deus o ressuscitou dentre os mortos,
3 Pois, não reconhecendo a justiça que serás salvo!4
vem de Deus e buscando estabelecer a 10 Porque com o coração se crê para a
sua própria, não se submeteram à justiça justiça, e com a boca se faz confissão
de Deus. para a salvação.
4 Porque o fim da Lei é Cristo, para justi- 11 Conforme diz a Escritura: “Todo o que
ficação de todo o que crê.3 nele crê jamais será decepcionado”.
5 Ora, Moisés ensina desta maneira sobre 12 Portanto, não há distinção entre ju-
a justiça que vem da Lei: “O homem que deus e gentios, pois o mesmo Senhor é
pratica a justiça proveniente da Lei vive- Senhor de todos e abençoa ricamente
rá por meio dela”. todos os que o invocam.
6 Todavia, a justiça que vem da fé declara: 13 Porque: “Todo aquele que invocar o
“Não digas em teu coração: ‘Quem Nome do Senhor será salvo!”5

14 Paulo combina alguns textos do profeta Isaías, extremamente respeitado pelos líderes religiosos dos judeus, para apelar ao
coração e ao entendimento de Israel. Originalmente, o profeta falava do “remanescente fiel”, a esperança do futuro, incorporado
pessoalmente no Messias da Casa de Davi. Essa passagem constituiu-se num testimonium, que era o uso apologético de
passagens do AT, pelos discípulos do Senhor na igreja primitiva, a fim de defenderem o messianato de Cristo e ensinar que só a
fé em Jesus leva à salvação (Is 28.16 com Is 8.14).
Capítulo 10
1 Paulo volta ao principal tema da sua carta: revelar os dois caminhos da justiça. Um por meio das obras da Lei, numa busca
incansável e insuficiente pela justiça como fruto do esforço próprio. Ou outro, defendido e ensinado pelo apóstolo: o caminho da
justificação pela fé no Cristo ressurreto, o Messias prometido. Paulo tinha o hábito de orar muito pelas igrejas (Ef 1.15-23; Cl 1.3;
1Ts 1.2,3; 2Ts 1.3). Entretanto, nesse momento, está suplicando pela salvação de seus compatriotas judeus.
2 Não basta ser extremamente zeloso quanto ao cumprimento das leis divinas, nem realizar todo tipo de sacrifício em nome
de Deus. O mais importante é saber qual é o único e verdadeiro Caminho (Jesus) preparado por Deus para a salvação da
humanidade, qual a vontade de Deus (especialmente a revelada nas Escrituras), e como o próprio Deus deseja ser adorado e
servido (em sinceridade de coração). Paulo, antes de ter sido convertido por Jesus, era apenas um judeu zeloso e fanático (At
21.20; 22.3; Gl 1.14).
3 O vocábulo grego original telos, aqui traduzido por “fim”, tem um duplo sentido: por um lado, refere-se à “finalidade” ou ao
“objetivo a ser conquistado”; e por outro, “término” ou “ponto final”. Jesus Cristo corresponde a ambos, porquanto Ele é o alvo da
Lei (Gl 4.1-7), como também, o encerramento da Lei como maneira de conquistar a salvação e as bênçãos de Deus.
4 Essa é a mais antiga confissão de fé cristã (1Co 12.3), usada na igreja primitiva durante os batismos. A expressão “Jesus
é o Senhor” leva em consideração a tradução do nome sagrado de Deus (e, portanto, impronunciável, segundo a lei judaica):
Yahweh, do hebraico antigo, para o grego Kyrios, ou seja, “Senhor”. Forma usada mais de seis mil vezes na Septuaginta (a
tradução grega do AT hebraico). Ao conferir a Jesus este título, Paulo deixa muito claro que está atribuindo a Jesus toda a
divindade de Deus. Sempre que as Escrituras se referem ao “coração” não se restringem ao centro das emoções e sentimentos,
mas igualmente ao centro da razão e da vontade. Paulo, ainda, salienta uma outra doutrina de ouro do cristianismo: Jesus
ressuscitou dentre os mortos e permanece absolutamente vivo hoje e eternamente (Lv 18.5; Dt 30.12-14; 1Co 15.4,14,17; At
2.31,32; 3.15; 4.10; 10.40).
5 É certo que Paulo, embora culto e abençoado com uma inteligência fora do comum, muito aprendeu com Pedro, um
homem simples do povo, mas que caminhou com Deus. Paulo repete a citação de Pedro no Dia do Pentecostes (Jl 2.32, At
2.21, Is 28.16).

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23 ROMANOS 10, 11

14 No entanto, como invocarão aquele procuravam; revelei-me àqueles que não


em quem não creram? E como crerão perguntavam por mim”.
naquele de quem nada ouviram falar? E 21 Quanto a Israel, no entanto, afirmou:
como ouvirão, se não há quem pregue? “O tempo todo estendi as mãos a um
15 E como pregarão, se não forem en- povo desobediente e rebelde”.9
viados? Como está escrito: “Como são
maravilhosos os pés dos que anunciam Deus reservou os seus em Israel
boas novas!”6

Israel não tem como se escusar


11 Indago, portanto: Acaso Deus
rejeitou o seu povo? De forma
nenhuma! Ora, eu mesmo sou israelita,
16 Mesmo assim, nem todos os israelitas descendente de Abraão, da tribo de Ben-
aceitaram o Evangelho; porquanto, decla- jamim.1
rou Isaías: “Senhor, quem acreditou em 2 Deus não desprezou o seu povo, o qual
nossa mensagem?” de antemão conheceu. Ou não sabeis o
17 Como conseqüência, a fé vem pelo que a Escritura diz sobre Elias? Como
ouvir as boas novas, e as boas novas vêm ele clamou a Deus contra Israel, segundo
pela Palavra de Cristo. afirma a Escritura:
18 Mas, então, indago: Será que não 3 “Senhor! Assassinaram os teus profetas
ouviram? Evidente que sim: “Por toda a e destruíram os teus altares; e somente eu
terra a sua voz ecoou, e as suas palavras permaneci, e agora procuram matar-me
até os confins do mundo”.7 também”.
19 Ora, questiono outra vez: Será que 4 Entretanto, que lhe declarou a respos-
Israel não compreendeu a mensagem? ta divina? “Reservei para mim sete mil
Em primeiro lugar, Moisés proclamou: homens que não dobraram os joelhos
“Farei que tenham ciúmes de quem não diante de Baal!”
é meu povo; Eu os provocarei à ira por 5 Assim, pois, em nossos dias, há igual-
meio de um povo sem entendimento”.8 mente um remanescente separado pela
20 E Isaías declarou com toda a ousadia: eleição da graça.2
“Fui achado por aqueles que não me 6 Porquanto, se é pela graça, já não o é

6 Paulo, usando uma seqüência de perguntas retóricas, demonstra que os judeus jamais poderão alegar que não tiveram
uma chance justa, particular e clara de ouvir o Evangelho e aceitá-lo. Paulo usa uma linda e marcante analogia para revelar a
importância vital dos pregadores na transmissão da Mensagem de Cristo (as boas novas). A citação é extraída de Is 52.7, e se
refere aos mensageiros quando trouxeram aos exilados as boas notícias da sua iminente soltura do cativeiro babilônico. Dessa
mesma forma, os pregadores do Evangelho são aqueles que trazem a maravilhosa mensagem de libertação e nova vida aos
prisioneiros do império do pecado.
7 Paulo relembra um conhecido trecho das Escrituras, cantado em verso e prosa por todos os judeus, referente ao testemunho
dos céus a respeito da glória e da soberania de Deus (Sl 19.2). Há um grande perigo em amar mais os mandamentos de Deus
do que o Deus dos mandamentos.
8 A citação que acompanha o raciocínio de Paulo (Dt 32.21) responde claramente a mais uma pergunta retórica de Paulo.
Os gentios, considerados por todos os judeus como pessoas mal-educadas e sem sensibilidade espiritual, compreenderam
a Mensagem da Salvação e se regozijaram nela. Portanto, a conclusão paulina é: “se os gentios entenderam, vocês tinham a
obrigação de ter entendido ainda melhor”.
9 A responsabilidade total pelo afastamento de Israel, como nação, de Deus é do próprio povo israelita (e por conseqüência
de todos os incrédulos). Pois não cumpriram a condição sine quae non de Deus: a fé pura e sincera. É um perigo ter fé na fé, em
vez de fé no doador da fé: o Senhor (Is 65.1-2).
Capítulo 11
1 Deus jamais permitiu que todo Israel se afastasse dele. Sempre houve um remanescente fiel entre o povo judeu. Paulo e
algumas outras pessoas de fé, como ele, são a prova disto. Paulo era originário da tribo de Benjamim (Fp 3.5), tinha o mesmo
nome do primeiro rei de Israel que também fora benjamita: Saulo (Saull em aramaico – At 8.1-3; 9.1-17 e 13.21).
2 Assim como nos antigos dias de Elias, em meio à apostasia generalizada, havia um remanescente de judeus crentes
(piedosos). Entretanto, a base da existência desse grupo de fiéis não eram as boas obras que, sem dúvida, eles realizavam, mas
a graça de Deus. O amor ativo de Deus que planejou e ofereceu a Salvação à humanidade é a Graça revelada na eleição de Israel.
O princípio da Graça livre, que parte do coração de Deus, corresponde à fé pela qual é apropriada (1Rs 19.10-18).

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ROMANOS 11 24

mais pelas obras; caso fosse, a graça dei- 14 na expectativa de que, de alguma
xaria de ser graça. forma, possa instigar ciúme entre meus
7 A que conclusão chegar? Israel não con- compatriotas a fim de que alguns deles
seguiu a bênção pela qual tanto buscava, sejam salvos.
mas os eleitos a receberam. Os demais 15 Porque, se a rejeição deles significa a
foram endurecidos,3 reconciliação do mundo, o que será a sua
8 como está escrito: “Deus lhes deu um aceitação, senão vida dentre os mortos?6
espírito de entorpecimento, olhos para 16 Se é santa uma parte da massa que é
não enxergar e ouvidos para não escutar, oferecida como as primícias dos frutos,
até o presente dia”. a massa toda igualmente o é; se a raiz é
9 E Davi afirma: “Que a mesa deles se santa, todos os ramos também o serão.7
transforme em laço e armadilha, pedra 17 E se alguns dos ramos foram po-
de tropeço e em retribuição para eles. dados, e, tu, sendo oliveira brava, foste
10 Escureçam-se os seus olhos, para que enxertado entre outros, e agora partici-
não consigam ver, e suas costas fiquem pas da mesma seiva que flui da oliveira
encurvadas para sempre”.4 cultivada,8
18 não te vanglories contra esses ramos.
Os gentios: ramos enxertados Porém, se o fizeres, recorda-te, pois, que
11 Uma vez mais pergunto: Acaso trope- não és tu que sustentas a raiz, mas, sim,
çaram para que ficassem prostrados so- a raiz a ti.9
bre a terra? De forma alguma! Antes, pela 19 Então, vós direis: “Os ramos foram
sua transgressão veio a salvação para os cortados, p para que
q eu fosse enxertado”.
gentios, para provocar ciúme em Israel. 20 É verdade. Entretanto, eles foram po-
12 Contudo, se a transgressão deles cons- dados por causa da incredulidade deles.
titui-se em riqueza para o mundo, e o seu Porém, tu, que permaneces firme pela fé,
insucesso, fortuna para os gentios, quan- não te envaideças, mas teme.
to mais significará a sua plenitude!5 21 Porque, se Deus não poupou os pró-
13 Agora estou falando a vós, gentios. prios ramos naturais, de igual maneira
Considerando que sou apóstolo dos gen- não poupará a ti.
tios, exalto o meu ministério, 22 Considera, portanto, a bondade e a

3 O maravilhoso princípio divino da eleição não foi anulado mesmo considerando que a maioria dos judeus rejeitou a pessoa
e a obra do Messias: Jesus Cristo (Is 6.8-10). O pequeno remanescente de fiéis continua vivo e representando o povo da
aliança (v.25).
4 A expressão “entorpecimento” vem do grego katanuxis, e significava literalmente “picada venenosa” que resultava num
adormecimento parcial ou total do corpo. Existe uma lei de causa e efeito no universo. Deus criou nossa mão e o fogo. Se
colocarmos a mão no fogo, a lei de causa e efeito diz que ela se queimará. Se tentarmos colocá-la, Deus permitirá que ela seja
queimada, ainda que possamos alegar que Deus a queimou (Dt 29.4; Is 29.10; Sl 69.22,23).
5 A “riqueza” refere-se à oferta da Salvação aos gentios, ainda que no plano divino ela venha dos judeus e para eles
primeiramente (Jo 4.22 com Rm 1.16). Os maravilhosos benefícios da Salvação já podem ser experimentados pelos gentios
crentes, os quais ficaram disponíveis devido à rejeição explícita dos judeus em relação ao Evangelho. Foi essa rejeição contumaz
que levou os apóstolos a oferecerem a bênção aos gentios (At 13.46-48; 18.6).
6 A “vida dentre os mortos” significa a ressurreição que coincidirá com a gloriosa segunda vinda de Jesus, o Messias.
7 A primeira parte do versículo é uma alusão ao texto do AT (Nm 15.17-21). Parte da massa feita com os primeiros frutos da
colheita (as primícias) era oferecida ao Senhor e, desse modo, ficava consagrada a massa toda. A santa raiz é uma referência à
solidariedade do povo israelita para com os patriarcas e homens de fé (Hb 11), ou com os judeus como Paulo que havia aceitado
Jesus como o verdadeiro Messias prometido, o Unigênito Filho de Deus.
8 O procedimento usual de cultivo das oliveiras era enxertar um broto de oliveira cultivada em uma árvore silvestre ou comum
(brava). Paulo, entretanto, constrói sua metáfora de maneira antinatural (vv.17-24), em referência ao enxerto de um ramo de
oliveira brava (os gentios cristãos) na oliveira cultivada. Esse procedimento não é natural, nem lógico, mas é exatamente esse o
ponto básico do ensino de Paulo: Deus agiu, sobrenaturalmente, segundo sua sabedoria e soberania (Ef 2.12). Jamais devemos
desprezar os judeus, pois é mais fácil Deus os recolocar na oliveira do que incluir um gentio numa primeira oportunidade (v.24).
9 A salvação dos cristãos gentios depende dos judeus, especialmente dos patriarcas. Por exemplo, a aliança com Abraão
(Jo 4.22).

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25 ROMANOS 11, 12

severidade de Deus: severidade para com 29 Porque os dons e o chamado de Deus


aqueles que caíram, mas bondade para são irrevogáveis.
contigo, desde que permaneças firme na 30 Pois, assim como vós antigamente
bondade dele; do contrário, também tu fostes desobedientes a Deus, mas agora
serás excluído.10 alcançastes misericórdia em virtude da
23 E quanto a eles, caso não permaneçam desobediência deles,
na incredulidade, serão reconduzidos, 31 assim também estes, agora, torna-
porquanto Deus é poderoso para enxer- ram-se desobedientes, para também
tá-los novamente. alcançarem misericórdia em virtude da
24 Afinal de contas, se tu foste cortado misericórdia a vós demonstrada.
de uma oliveira brava por natureza e, 32 Porquanto Deus colocou todos de-
de forma sobrenatural, foste enxertado baixo da desobediência, a fim de usar de
na oliveira cultivada, quanto mais serão misericórdia para com todos.13
enxertados os ramos naturais em sua
própria oliveira? Hino de adoraçãoç a Deus
33 Ó profundidade da riqueza, da sabe-
O amor de Deus salvará Israel doria e do conhecimento de Deus! Quão
25 Irmãos, não quero que ignoreis este insondáveis são os seus juízos, e quão
mistério para que não sejais presunçosos: inescrutáveis os seus caminhos!
Israel experimentou um endurecimento 34 Pois, quem conheceu a mente do Se-
em parte, até que chegue a plenitude dos nhor? Quem se tornou seu conselheiro?
gentios.11 35 Quem primeiro lhe deu alguma coisa,
26 E assim todo o Israel será salvo, como para que Ele lhe recompense?”
está escrito: “Virá de Sião o redentor que 36 Portanto dele, por Ele e para Ele são
desviará de Jacó a impiedade.12 todas as coisas. A Ele seja a glória perpe-
27 E esta é a minha aliança com eles tuamente! Amém.14
quando Eu remover os seus pecados”.
28 Quanto ao Evangelho, eles são, na verda- A vida como culto espiritual
de, inimigos por causa de vós; mas quanto
à eleição, amados por causa dos patriarcas. 12 Portanto, caros irmãos, rogo-vos
pelas misericórdias de Deus, que

10 A teologia bíblica deve levar em consideração a “bondade” e a “severidade” do Senhor. Uma doutrina que não aceita a
“absoluta bondade divina” faz de Deus um tirano cruel e insensível. Se não levarmos em conta sua “justiça severa” o comparamos
a um pai incapaz de educar seus filhos e lhes mostrar o Caminho (Jesus).
11 A palavra grega mysterion era usada pelas seitas e crenças que havia na época de Paulo. A expressão significa “revelação”
ou “trazer à luz um conhecimento oculto”. Paulo faz uso dessa mesma expressão para comunicar claramente aos seus leitores
que o Espírito Santo estava “revelando” algo especial, da parte de Deus, que estivera obscurecido de todos, mas que agora
deveria ficar claro como o dia: a encarnação, morte vicária, ressurreição de Jesus Cristo, o Messias (16.25; 1Co 2.7; 4.1; 13.2;
14.2; 15.51; Ef 1.9; 3.3-9; 5.32; 16.19; Cl 1.26,27; 2.2; 4.3; 2Ts 2.7; 1Tm 3.9,16). No NT, a perseverança é a prova da verdadeira
conversão (Mt 24.13).
12 Paulo deixa claro que a salvação do judeu – seja quantos forem e quando for – ocorrerá com base na mesma exigência
requerida a qualquer indivíduo humano: fé sincera em Jesus Cristo crucificado e ressurreto dentre os mortos. Paulo cita Is 59.20
acompanhando a antiga interpretação do Talmude, entendendo que o texto se refere ao Messias, e portanto, a Jesus (Gl 4.26; Is
59.20,21; 27.9; Jr 31.33,34).
13 Deus revela toda a sua misericórdia sobre judeus e gentios indistintamente. Deus levou a humanidade a uma situação na
qual não pode negar sua total culpa perante a lei divina estabelecida em todo o universo (Gl 3.22). O plano de Deus é convencer
o ser humano de sua absoluta culpa, condenação, incapacidade pessoal de salvação, necessidade premente de arrependimento
e fé em Cristo para obter a Salvação eterna, o grande propósito de Deus desde a Queda da humanidade (Gn 3). O universalismo
que vemos aqui, na expressão “...misericórdia para com todos”, é escatológico, representativo e não absoluto. Tem o sentido de
“sem distinção”, mas não de “sem exceção”.
14 O termo “profundidade” (v. 33) é usado no sentido de sua inexaurível plenitude. A sabedoria de Deus é inesgotável e não
pode ser compreendida completamente pelo ser humano, mas podemos sentir as bênçãos do seu amor prático e igualmente
interminável. Paulo descreve os atributos de Deus em sua doxologia apostólica (verso ou hino de louvor a Deus que encerrava

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ROMANOS 12 26

apresenteis o vosso corpo como um somos um só corpo em Cristo, e cada


sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, membro está ligado a todos os outros.
que é o vosso culto espiritual.1 6 Temos diferentes dons, de acordo com
2 E não vos amoldeis ao sistema deste a graça que nos foi dada. Se alguém tem
mundo, mas sede transformados pela o dom de profetizar, use-o na proporção
renovação das vossas mentes, para que da sua fé.3
experimenteis qual seja a boa, agradável 7 Se o teu dom é servir, sirva; se é ensinar,
e perfeita vontade de Deus.2 ensina;
8 se é encorajar, aja como encorajador; o
Como servir por meio dos dons que contribui, coopere com generosida-
3 Porquanto, pela graça que me foi de; se é exercer liderança, que a ministre
concedida, exorto a cada um dentre vós com zelo; se é demonstrar misericórdia,
que não considere a si mesmos além do que a realize com alegria.4
que convém; mas, ao contrário, tenha
uma auto-imagem equilibrada, de O amor é a base dos dons
acordo com a medida da fé que Deus lhe 9 O amor seja sem qualquer fingimento.
proporcionou. Odiai, sim, o mal e apegai-vos ao bem.5
4 Pois assim como em um corpo temos 10 Amai-vos dedicadamente uns aos ou-
muitos membros, e todos os membros tros com amor fraternal. Preferindo dar
não têm a mesma função, honra a outras pessoas, mais do que a si
5 assim também nós, embora muitos, próprios.

sermões e obras de literatura cristã): 1) Na riqueza de sua sabedoria, Ele concebeu o plano da justificação pela fé em Cristo, a
sua própria pessoa encarnada em Jesus de Nazaré, incluindo todos os povos do mundo e não apenas os judeus da aliança;
2) Judeus e gentios estão condenados, mas podem receber a graça da Salvação pela fé em Cristo; 3) Deus é a fonte (dEle),
o veículo, a mídia (por meio dEle) e o fim, tanto em relação ao propósito quanto ao encerramento da história (para Ele), de
absolutamente tudo o que há no universo.
Capítulo 12
1 A partir desse momento, até o final desta epístola apostólica, Paulo vai apresentar uma série de aplicações práticas à teologia ex-
planada de 1 a 11. Segundo Paulo, a fé sincera e verdadeira em Jesus Cristo manifesta-se na obediência amorosa e dedicada à Sua
Palavra. Jesus foi o último e suficiente sacrifício, e pagou todo o pecado humano diante da Lei de Deus, concedendo ao crente livre
acesso à presença do Pai. De Cristo em diante, os sacrifícios passaram a ser prestados no templo do corpo humano, no santo dos
santos do coração, onde habita o Espírito Santo. Como toda doutrina tem seu lado prático, o ensino de Paulo vem acompanhado
de exortações éticas muito semelhantes ao ensino de Cristo nos quatro evangelhos, principalmente no conhecido Sermão do Monte
(Jo 13.17; Mt 5 a 7). Paulo usa a palavra grega parastesai,
e a qual já havia usado em 6.13-19, com o sentido de “apresentação”, “de-
dicação”, “oferta”. Temos aqui uma descrição mais abrangente das virtudes proporcionadas pela ação do Espírito Santo à vida dos
cristãos sinceros. Paulo ainda esclarece que o culto prestado pelos cristãos é diferente do culto meramente cerimonial prestado no
templo em Jerusalém. Ao usar o termo grego logikos, Paulo caracteriza o culto cristão como sendo uma atitude pessoal e diária de
devoção, adoração e serviço a Deus e aos semelhantes. A expressão logikos confere ao culto a qualidade de “espiritual e autêntico”,
algo um tanto diferente da expressão “racional” publicada por algumas versões (1Pe 2.2).
2 Paulo adverte que o cristão não deve “tomar a forma” deste sistema mundial com suas concepções de sucesso e glória;
maldades e corrupções (Gl 1.4) mas, permitirmos que uma “transformação” se processe em nossa vida. Essa expressão,
nos originais, só aparece nas narrativas sobre a “transfiguração” de Cristo (Mt 17.2; Mc 9.2) e em 2Co 3.18, que é um ótimo
comentário desta passagem. Os cristãos devem viver no presente século (em grego aiõn) com a perspectiva da “era de Cristo”,
época em que estaremos com Cristo por ocasião de seu glorioso retorno. Assim, devemos viver aqui e agora como cidadãos do
céu e herdeiros do Reino, no mundo vindouro (1Co 1.20; 2.6; 3.18; 2Co 4.4).
3 Com o novo nascimento, Deus presenteia a cada um de seus filhos com, pelo menos, uma capacidade espiritual com a qual o
cristão passará a abençoar seus irmãos na fé e todas as demais pessoas à sua volta. A palavra grega usada nos manuscritos gregos
originais para descrever os dons especiais da graça é charismata (1Co 1.7; 12.4-28; Ef 4.11; At 20.17; 1Ts 5.12; 1Tm 5.17).
4 Paulo faz uma analogia entre os membros do corpo humano e os membros do Corpo de Cristo (a Igreja), para mostrar a
importância de todos no funcionamento saudável e feliz do corpo. Cada membro tem uma função vital e a deve exercer a favor da
unidade e bem-estar do grupo. A ênfase recai sobre a unanimidade em meio à diversidade (1Co 12.12-31). Como o poder provém
de Deus, não é admissível que um cristão, membro do Corpo, tome atitudes de superioridade, orgulho pessoal ou de justiça aos
seus próprios olhos. A humildade sincera deve nortear todos os relacionamentos. Ouvir e refletir antes de falar e agir.
5 O amor é um dom de Deus, que por meio do Espírito Santo, capacita o cristão a expressá-lo de forma prática e adequada,
funcionando como suporte para o exercício de todos os demais dons e manifestações do próprio Espírito. Só uma mente re-

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27 ROMANOS 12, 13

11 Não sejais descuidados do zelo; sede 20 Ao contrário: “Se o teu inimigo tiver
fervorosos no espírito. Servi ao Senhor. fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe
12 Alegrai-vos na esperança, sede pacien- de beber; porquanto agindo assim amon-
tes na tribulação, perseverai na oração.6 toarás brasas vivas sobre a cabeça dele.
13 Cooperai com os santos nas suas ne- 21 Jamais te entregues ao mal como ven-
cessidades. Praticai a hospitalidade. cido, mas vence o mal com o bem!9
14 Abençoai os que vos perseguem; aben-
çoai, e não amaldiçoeis.7 Respeito à lei e às autoridades
15 Alegrai-vos com os que se alegram;
chorai com os que pranteiam.
16 Vivei em concórdia entre vós. Não se-
13 Todos devem sujeitar-se às autori-
dades superiores; porquanto, não,
há autoridade que não venha de Deus;
jais arrogantes, mas adotai um compor- e as que existem foram ordenadas por
tamento humilde para com todos. Não Ele.1
sejais sábios aos vossos próprios olhos. 2 Portanto, quem se recusa a submeter-se
17 A ninguém devolvei mal por mal. à autoridade está se colocando contra o
Procurai proceder corretamente diante que Deus instituiu, e aqueles que assim
de todas as pessoas.8 procedem trazem condenação sobre si
18 Empreendei todos os esforços para mesmos.
viver em paz com todos. 3 Porque os governantes não podem ser
19 Amados, jamais procurai vingar-vos a motivo de temor para os que praticam o
vós mesmos, mas entregai a ira a Deus, bem, mas para os que fazem o mal. Não
pois está escrito: “Minha é a vingança! queres sentir-se ameaçado pela autorida-
Eu retribuirei”, declarou o Senhor. de? Faze o bem, e ela o honrará.

novada por Cristo consegue amar dessa forma. Por ser esse o maior e mais lindo cartão de visitas que um cristão e uma igreja
possam apresentar ao mundo perdido, Satanás não se cansará de atacar essa área na vida pessoal de cada crente e de sua
comunidade (Fp 2.3).
6 O cristão tem em seu coração um tipo de esperança totalmente diferente de todas as demais esperanças. É a “esperança com
certeza” da companhia e redenção de Cristo em sua vida, fato que produz a alegria do salvo (5.5; 8.16-25; 1Pe 1.3-9). Devemos
perseverar com coragem e certeza da vitória, porquanto a aflição (especialmente para o cristão nesse mundo) é uma experiência
inevitável (Jo 16.33). Por isso, o crente deve “viver em oração”, ou seja, “viver conversando com Deus em seu íntimo”, sem a
necessidade de rezas ou mantras repetitivos. Não somente em tempos difíceis, mas diariamente a fim de manter comunhão com
Deus mediante a oração (Lc 18.1; 1Ts 5.17).
7 Paulo está ecoando os ensinos de Jesus Cristo nos evangelhos (Mt 5.39-45; Lc 6.28; 1Ts 5.15; 1Pe 3.9). O cristão tem respon-
sabilidades sociais para com todo o mundo, especialmente com os irmãos de fé (Gl 6.10).
8 Paulo reflete sobre um antigo conceito citado em Pv 3.3-4 na Septuaginta (o AT em grego). O caráter e o comportamento
do cristão nunca deve estar abaixo dos altos padrões morais e éticos dos evangelhos; de outra forma, provocará o desdém e a
zombaria dos incrédulos, prejudicando a boa reputação do Evangelho (2Co 8.21; 1Tm 3.7).
9 É tão difícil viver em paz com nossos semelhantes, que Jesus impetrou uma bênção especial sobre esses heróis (Mt 5.9). Por
isso, no que depender do cristão – ainda que com certos prejuízos – ele deve buscar a paz com todos. Fazer um bem a um inimigo
tem o efeito sobrenatural de depositar brasas incandescentes sobre sua mente e coração, além de aplacar o natural desejo de
vingança e – em muitos casos – poder comunicar de maneira prática e eficaz o Caminho da Salvação (Pv 25.22). Sem dúvida,
a melhor maneira de demonstrar nosso amor por um inimigo é torná-lo num amigo (Mt 5.44). Foi assim que Deus agiu com a
humanidade ao enviar seu Filho para nos salvar (Jo 3.16-17).
Capítulo 13
1 O Império Romano reconheceu o cristianismo como uma seita do judaísmo cerca de uma geração após a morte de Cristo. O ju-
daísmo gozava de certos privilégios éticos e jurídicos por haver sido considerada religio licita pelo dominador romano (At 18.12-17).
Paulo, observando que grande parte das autoridades era, ainda, pagã, preocupou-se em deixar uma instrução escrita para nortear
as relações entre os crentes e as autoridades governamentais. Paulo é claro em declarar que os cristãos devem obedecer às leis do
Estado e viver de maneira respeitável e honesta, inclusive como forma de testemunhar seu amor fraterno a Cristo e ao próximo. Ainda
que as autoridades não sejam cristãs, o crente lhes deve respeito e submissão, pois não pode existir qualquer autoridade que Deus
não lhe tenha permitido tal poder (Jo 19.10-11). Todo governo humano é estabelecido por ordenança divina, e os cristãos, mais do
que todos, devem obedecer às leis, pagar seus impostos e respeitar todas as pessoas em posição de autoridade (v.7 com Mc 12.17).
A única exceção é quando uma autoridade for francamente contrária à consciência cristã. Embora esse assunto não seja tratado
aqui, quando a decisão for obedecer a Deus ou ao Estado, a Palavra é clara em nos orientar a optar sempre pela obediência ao Es-
pírito Santo (At 4.19 e 5.29 com Mc 12.17). Qualquer Estado só pode exigir obediência dentro dos limites pelos quais foi instituído.

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ROMANOS 13, 14 28

4 Pois ela serve a Deus para o teu bem. outro preceito, todos se resumem neste
Mas, se fizerdes o mal, teme, pois
p não é mandamento: “Amarás o teu próximo
sem razão que traz a espada. É serva de como a ti mesmo”.4
Deus, agente da justiça para punir quem 10 O amor não faz o mal contra o próxi-
pratica o mal.2 mo. Portanto, o amor é o cumprimento
5 Portanto, é imprescindível que se- da Lei.
jamos submissos às autoridades, não 11 Fazei desta maneira, discernindo o
apenas devido à possibilidade de uma tempo em que vivemos. Pois que já é
punição, mas também por causa da hora de despertardes do sono; porque
consciência. agora a nossa salvação está mais próxima
6 Por esta razão, igualmente pagais impos- do que quando cremos.5
tos; porque as autoridades estão a serviço 12 A noite vai passando e chegando ao
de Deus, e seu trabalho é zelar continua- seu final; o dia logo alvorecerá. Portanto,
mente pela sociedade. abandonemos as obras das trevas, e re-
7 Dai a cada um o que lhe é devido: se vistamo-nos da armadura da luz.
imposto, imposto; se tributo, tributo; se 13 Vivamos de modo decente, como em
temor, temor; se honra, honra. plena luz do dia, não em orgias e bebe-
deiras, não em imoralidade sexual e de-
O amor no mundo agonizante pravação, não em desavenças e invejas.
8 A ninguém fiqueis devendo coisa al- 14 Ao contrário, revesti-vos do Senhor
guma, a não ser o amor fraterno, com Jesus Cristo; e não fiqueis idealizando
que deveis vos amar uns aos outros, pois como satisfazer os desejos da carne.6
aquele que ama seu próximo tem cum-
prido a Lei.3 Convicção e tolerância cristãs
9 Porquanto os mandamentos: “Não
adulterarás”, “Não matarás”, “Não furta-
rás”, “Não cobiçaras”, bem como qualquer
14 Aceitai o que é fraco na fé, sem a
preocupação de debater assuntos
controvertidos.1

2 Na ordem da providência e soberania divinas, a autoridade é serva de Deus, ainda que não se aperceba dessa verdade (Is
45.1). Os governos e as autoridades foram instituídos por Deus para proteger o povo em geral, especialmente os mais fracos e
pobres, mantendo a ordem. A espada sempre foi um símbolo da autoridade romana nos âmbitos nacional e internacional. Essa
é uma passagem que nos ensina o princípio de empregar a força, quando for necessária, a fim de manter a ordem e proteger
os cidadãos de bem.
3 Paulo não está ensinando que os cristãos não possam pedir algo emprestado. Ele está enfatizando que não devolver o
que se pediu emprestado, não cumprir corretamente com a palavra empenhada ou com um contrato firmado é expressamente
contra a vontade de Deus. Entretanto, devemos sempre nos sentir devedores de amor fraterno para com nossos semelhantes e,
especialmente, em relação aos irmãos de fé, isto é, devemos amar sempre, sob todas as circunstâncias, e estarmos prontos a
transformar esse sentimento em ajuda prática e eficaz (12.10).
4 Jesus nos ensinou que o nosso próximo é qualquer pessoa necessitada, independentemente de raça, cor, sexo, educação,
religião
g ou classe social (Lc ( 10.25-37).) Devemos buscar o maior e o melhor dos dons: o amor fraterno (1Co 13.13) – o mais
importante dos mandamentos (Êx 20.13-17; Dt 5.17-21; Lv 19.18).
5 Nessa parte das Escrituras, bem como em outros trechos do NT, a chegada garantida do final dos tempos (da presente era)
deve ser compreendida, sobretudo, como uma “profecia motivadora”, no sentido de nos deixarmos aperfeiçoar pelo Espírito
Santo e testemunharmos ao mundo tudo o que Jesus Cristo é capaz de realizar no interior do ser humano (Mt 25.31-46; Mc 13.33-
37; Tg 5.7-11; 2Pe 3.11-14). Vivemos numa época sui generis, pois estamos no “tempo da Salvação” ou “época da Graça”. Um
tempo que antecede a consumação do Reino com a volta gloriosa de Cristo, quando haverá a plena realização da nossa salvação
(8.23; Hb 9.28; 1Pe 1.5). E, a cada dia que passa, chegamos mais perto da volta triunfante de Cristo. A noite passando, simboliza
a atual era de perversidade que à medida que se intensifica, mais se aproxima do “dia claro”. Uma citação clássica do ensino
neotestamentário sobre o iminente final dos tempos (Mt 24.33; 1Co 7.29; Fp 4.5; Tg 5.8,9; 1Pe 4.7; 1Jo 2.18).
6 Paulo exorta os crentes a demonstrar ao mundo o milagre que já se realizou no seu íntimo, incluindo a prática de todas as
virtudes associadas à presença atuante do Espírito de Cristo em seus corações. A Igreja de Cristo é a mais poderosa força sobre
a face da terra, e seus membros deveriam se portar como embaixadores do Rei: com humildade, honestidade, sinceridade e amor
fraterno em profusão. Esse é o verdadeiro poder do Espírito em ação.
Capítulo 14
1 Paulo era um cristão espiritualmente emancipado, tanto da tradicional observância da Lei quanto do legalismo judaico-cristão
de sua época. Muitos cristãos judeus que viviam em Roma ainda não estavam dispostos a abrir mão de certas doutrinas da

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29 ROMANOS 14

2 Um crê que pode comer de tudo, e ou- se morremos, é para o Senhor que mor-
tro, cuja fé é fraca, come somente alimen- remos. Sendo assim, quer vivamos ou
tos vegetais.2 morramos, pertencemos ao Senhor.
3 Aquele que come de tudo não deve me- 9 Porquanto foi por este motivo que
nosprezar o que não come, e quem não Cristo morreu e voltou a viver, para
come de tudo não deve condenar quem ser Senhor tanto de vivos quanto de
come; pois Deus o aceitou. mortos.
4 Quem és tu, q que jjulgas
g o servo alheio? 10 Mas, tu, por que julgas teu irmão?
É para o seu senhor que ele está em pé ou Ou tu, igualmente, por que desprezas
cai. E permanecerá em pé, porquanto o teu irmão? Pois todos compareceremos
Senhor é capaz de o sustentar. diante do tribunal de Deus.4
5 Há quem considere um dia mais sagra- 11 Porquanto está escrito: “Por mim mes-
do do que outro; outra pessoa pode en- mo jurei, diz o Senhor, diante de mim
tender que todos os dias são iguais. Cada todo o joelho se dobrará e toda língua
um deve estar absolutamente convicto confessará que Eu Sou Deus”.
em sua própria mente. 12 Deste modo, cada um de nós prestará
6 Aquele que guarda um dia especial, contas de si mesmo a Deus.
para o Senhor assim o considera. Aquele
que se alimenta de carne, o faz para o Motivo de louvor, não de tropeço
Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele 13 Portanto, abandonemos o costume
que se abstém, para o Senhor se priva, e de julgar uns aos outros. Em vez disso,
também dá graças a Deus.3 apliquemos nosso coração em não co-
7 Porque nenhum de nós vive exclusiva- locarmos qualquer pedra de tropeço ou
mente para si, e nenhum de nós morre obstáculo no caminho do irmão.
apenas para si mesmo. 14 Como uma pessoa que está no Senhor
8 Se vivemos, para o Senhor vivemos; e, Jesus, tenho plena convicção de que ne-

tradição e exigências do judaísmo: as restrições alimentares, a guarda do sábado com todos os rituais envolvidos e a celebração
de dias especiais com jejuns e oráculos. Esses cristãos judeus e romanos não eram heréticos, como os judaizantes da Galácia,
mas tinham dificuldade em compreender os mandamentos do AT à luz do Evangelho e o início na Nova Aliança, inaugurada
com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A esses cristãos, intransigentes e críticos em relação aos cristãos que estavam
desfrutando abundantemente da Graça, Paulo os chamou de “fracos na fé”, e ensinou a todos nós que o cristão maduro tem uma
fé robusta e um coração amoroso para com todos os seus irmãos. Os cristãos não são exortados à plena unanimidade teológica,
mas à pratica da tolerância e do respeito, orando para que o Espírito Santo ilumine a todos.
2 O cristão “forte” é aquele cuja maturidade espiritual lhe permite a convicção de que a dieta alimentar é um assunto secundário
em relação ao verdadeiro e profundo compromisso de fé com o Espírito de Deus e à proclamação do Evangelho. Entretanto,
um cristão jamais deve rejeitar qualquer outra pessoa que se identifica como cristão. Detalhes doutrinários e aspectos culturais,
raciais e lingüísticos devem contribuir para o crescimento espiritual dos crentes e a evangelização do mundo, e não para a difusão
de questiúnculas, batalhas teológicas inócuas, divisões e tropeços fatais no caminho da fé. O cristão “fraco” não é senhor do
seu irmão “forte”, nem vice-versa. Todos os cristãos são servos do mesmo Senhor e somente a Deus cada crente deve prestar
contas. A palavra grega original usada nessa passagem para descrever o “servo” é oiketes, “doméstico”, e não doulos, “escravo”
(Mt 7.1; Lc 6.37; 1Co 4.3).
3 Paulo faz referência a todos os dias especiais da chamada “lei cerimonial” dos judeus. Para o cristão, todos os dias devem
ser consagrados ao Senhor por meio de um viver santo e serviço piedoso. A motivação das atitudes tanto de “fortes” quanto de
“fracos” deve ser exatamente a mesma: profundo desejo de adorar e servir a Deus com um coração agradecido por tudo o que
o Pai supre e nos permite passar.
4 A expressão grega bema era usada na época de Paulo para designar o palco onde os juízes se posicionavam para
julgar e premiar os atletas olímpicos. Assim será na volta de Cristo, os cristãos (os atletas espirituais) receberão suas coroas
(recompensas) em função das obras que realizaram na terra por amor a Cristo e a seus próximos. Não confundir com o Juízo
dos incrédulos, esses serão julgados para a condenação eterna, pois não aceitaram a justificação em Cristo. Assim como os
competidores olímpicos não tinham o direito de julgar a si mesmos nem a seus colegas, os cristãos não têm o direito de julgar
uns aos outros quanto à forma de expressar a fé. Paulo pergunta aos “fracos”: “Por que julgas teu irmão?” Mas também indaga
aos “fortes”: “Por que desprezas teu irmão?” Ora, todos nós, compareceremos perante o trono de Cristo e daremos conta de
nossas boas obras (2Co 5.10; 1Co 3.10-15).

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ROMANOS 14, 15 30

nhum alimento é por si mesmo ritual- 22 Assim, seja qual for tua doutrina a
mente impuro, a não ser para aquele que respeito destes assuntos, guarda-a com
assim o considera; para esse é impuro.5 convicção entre ti mesmo e Deus. Bem-
15 Se o teu irmão se entristece por causa aventurado aquele que não se condena
do que tu comes, já não estás agindo por naquilo que aprova.
amor fraterno. Não destruas teu irmão 23 Todavia, aquele que tem dúvida é con-
por conta da tua comida, pois Cristo denado se comer, pois não come com fé;
morreu também por ele.6 e tudo o que não provém da fé é pecado!
16 Aquilo que é bom para vós não se tor-
ne motivo de maledicência. Devemos viver em concórdia
17 Porquanto o Reino de Deus não é
comida nem bebida, mas justiça, paz e
alegria no Espírito Santo;7
15 Nós, que somos fortes, temos o
dever de suportar as fraquezas
dos fracos, em vez de agradar a nós
18 Pois quem serve a Cristo desta forma mesmos.1
é agradável a Deus e estimado por todas 2 Portanto, cada um de nós deve agradar
as pessoas. ao próximo, visando o que é bom para o
19 Por isso, esforcemo-nos em promover aperfeiçoamento dele.
tudo quanto conduz à paz e ao aperfei- 3 Pois também Cristo não agradou a si
çoamento mútuo. próprio, mas, como está escrito: “Os in-
20 Não destruas a obra de Deus por causa sultos daqueles que te ofenderam caíram
de comida. Na verdade, todo alimento é sobre mim”.2
puro, mas se torna um mal se alguém vir 4 Porquanto tudo o que foi escrito no pas-
nisso um motivo de escândalo. sado, foi escrito para nos ensinar, de forma
21 É melhor não comer carne, nem beber que, por meio da perseverança e do bom
vinho, nem fazer qualquer outra coisa ânimo provenientes das Escrituras, man-
que leve teu irmão a tropeçar. tenhamos firme a nossa esperança.3

5 Paulo, agora crente, e ecoando as palavras de Jesus (Mc 7.14-23), demonstra que entende o que se passa no coração de
um judeu tradicional e religioso. Mas afirma, com toda segurança, que os antigos tabus sobre alimentação, cerimônias e dias
especiais já não se aplicam à Nova Aliança em Cristo, o Messias (Mt 15.10-20; 1Tm 4.4; Tt 1.15). Paulo não está dizendo que o
pecado é uma questão de opinião pessoal ou consciência subjetiva. As Escrituras e o Espírito Santo são claros ao nos apontar
o que é pecado. Paulo está se referindo ao procedimento mediante o qual os cristãos podem divergir legitimamente, como por
exemplo, se o crente fiel deve seguir alguma espécie de dieta alimentar específica ou não. Esse é o tipo de assunto decidido
livremente por cada cristão, em seu coração, mediante sua fé, em oração diante do Senhor.
6 A maneira mais sábia de se resolver os conflitos (grandes ou pequenos) quanto à expressão da fé e a liberdade cristã é agir
com amor. Cristo deu tanto valor ao “fraco” que decidiu morrer por ele. Certamente, o cristão “forte espiritualmente” poderá
fazer o sacrifício de aceitar pacientemente seu irmão como ele é, na expectativa de que o Espírito Santo, ao seu tempo, faça
a Sua obra.
7 Paulo novamente evoca as palavras de Jesus no Sermão do Monte (Mt 5.6-12) para enfatizar que a proposta do Reino de Deus
não é comida, nem bebida, ou qualquer outro assunto trivial. Entretanto, o interesse de Paulo pela dimensão moral e ética da vida
cristã se destaca em todas as suas cartas. O cristão que aprende a viver de forma consagrada a Deus, dedicado a cooperar com
seus próximos e sem legalismo, experimenta grande paz e alegria produzidas pelo Espírito Santo em seu interior.
Capítulo 15
1 Paulo se identifica com os cristãos “fortes”, aqueles cujas convicções bíblicas em Cristo lhes permite mais liberdade que os
“fracos”. A expressão “suportar” não significa apenas “tolerar”, mas sustentar com amor fraterno e compreensivo. Neste sentido,
“as fraquezas” não se referem a pecados, mas a procedimentos e expressões de fé para as quais não há uma orientação clara e
objetiva nas Escrituras. Antes de o crente pensar em agradar a si mesmo, deve prestar atenção e cooperação às necessidades
dos mais fracos ao seu redor.
2 Jesus Cristo veio para cumprir a vontade do Pai, não a sua. Ele assumiu de tal forma a vontade do Pai que, algumas
vezes, somos levados a pensar que tudo o que ele fez, o fez por sua própria disposição. Sua missão incluiu muito sofrimento,
condenação indevida e até a própria morte sob tortura (Mt 20.28; Mc 10.45; 1Co 10.33 – 11.1; 2Co 8.9; Fp 2.5-8). Ao citar o Sl
69.9, Paulo refere-se a Deus (“te”) e identifica o “sofredor justo” com Cristo (“mim”), pois, voluntariamente, tomou sobre si os
impropérios lançados contra Deus.
3 Ao explicar a aplicação que faz do Sl 69.9, Paulo nos alerta para o fato de que as Escrituras (AT e NT) foram oferecidas à hu-

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31 ROMANOS 15

5 Que Deus, que nos concede perseve- 13 Portanto, que o Deus da esperança vos
rança e encorajamento, dê-lhes também abençoe plenamente com toda a alegria e
a disposição de pensar unanimemente de paz, à medida da vossa fé nele, para que
acordo com Cristo Jesus.4 transbordeis de esperança, pelo poder do
6 Para que com uma mesma convicção e Espírito Santo.
a uma só voz glorifiqueis ao Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo, apóstolo para os gentios
7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, 14 Caros irmãos, eu estou pessoalmente
como também Cristo nos aceitou, para convencido de que já estais cheios de
a glória de Deus. bondade e plenamente supridos de toda
8 Afirmo, pois, que Cristo se tornou ser- a sabedoria, sendo, vós mesmos, capazes
vo dos que são da circuncisão, por amor de orientar-vos uns aos outros.
à verdade de Deus, a fim de confirmar as 15 Contudo, a respeito de alguns assun-
promessas feitas aos patriarcas;5 tos, vos escrevi com toda a franqueza,
9 e para que também os gentios glorifi- especialmente com a intenção de tra-
quem a Deus por sua misericórdia, como zê-los uma vez mais à vossa memória,
está escrito: “Por isso, eu te glorificarei e isso, por causa da graça que Deus me
entre os gentios e cantarei louvores ao concedeu,
teu Nome”.6 16 de ser um ministro de Cristo Jesus
10 E diz ainda: “Alegrai-vos, gentios, jun- para os gentios, com o dever sacerdotal
tamente com o seu povo”. de proclamar o Evangelho de Deus, para
11 E mais: “Louvai ao Senhor, todos os que os gentios se tornem uma oferta
gentios, e louvem-no todos os povos”. aceitável a Deus, santificados pelo Espí-
12 E Isaías, enfatizando, declara: “Bro- rito Santo.8
tará da raiz de Jessé, aquele que se 17 Tenho, portanto, razão para me or-
levantará para reinar sobre os gentios; gulhar no Messias Jesus, no serviço que
nele os gentios depositarão toda a sua presto a Deus;
esperança”.7 18 Porque não ousaria falar de assunto

manidade, e, especialmente aos crentes, para nossa instrução e esclarecimento na fé. Ao perseverarmos com paciência, somos
encorajados a mantermos nossa plena confiança (fé) em Jesus Cristo, o Messias (1Co 10.6-11).
4 A disposição de pensar concordemente significa buscar “um mesmo sentir” (a unidade). Não há possibilidade de todos os
crentes pensarem de igual modo, mas é possível – em Cristo – que concordemos em tratar com fraternidade, tolerância e respeito
todas as nossas diferenças. Devemos pensar e tratar os outros, especialmente aos irmãos, indiscriminadamente, da mesma
maneira como Cristo fez conosco (Fp 2.5-8).
5 Jesus Cristo foi enviado por Deus à Terra para salvar prioritariamente aos judeus, conforme as promessas feitas aos patriarcas
Abraão, Isaque, Jacó (Gn 12.1-3; 17.7; 18.19; 22.18; 26.3,4; 28.13-15; 46.2-4). E Jesus limitou o quanto possível seu ministério
ao povo de Deus (Mt 15.24). Entretanto, após a violenta rejeição dos judeus à pessoa de Deus em Jesus, o Messias, as portas
da Salvação, mediante a Graça do Senhor, abriram-se para todos os povos em todo o mundo. A morte e a ressurreição do Filho
de Deus resultou em bênção a todo gentio que crer no sacrifício vicário do Senhor, o que também confirmou as profecias das
Escrituras sobre a oportunidade de salvação de todos os povos da terra.
6 A obra remidora de Deus, em Israel e a favor dos seus descendentes, sempre vislumbrou a salvação dos gentios (Gn 12.3).
Todos os povos do mundo, ao observarem as realizações poderosas e misericordiosas do Deus de Israel em benefício do seu
povo, buscariam adorar e servir a esse Deus único e maravilhoso. Os louvores de Israel a Deus seriam ouvidos por toda a terra
(Sl 9.1; 18.49; 46.10; 47.9).
7 Jessé foi o pai de Davi (1Sm 16.5-13; Mt 1.6), e o Messias profetizado era chamado de “Filho de Davi” (Mt 21.9 com Is 11.1-10
e Ap 5.5). A busca dos gentios por Cristo, realizada pela igreja primitiva – notadamente por Paulo, é o cumprimento dessa profe-
cia, cuja obra se perpetua por meio das contínuas ações evangelizadoras e missionárias da Igreja até os dias de hoje.
8 Paulo usa aqui a mesma linguagem dos antigos sacerdotes judeus para comunicar uma vez mais a perfeita aceitação dos
gentios crentes como filhos de Deus. A palavra “ministro” (em grego leitourgos). No NT, essa expressão sempre denota “serviço
religioso” (liturgia) e, algumas vezes, “serviço sacerdotal” (Em Hb 8.2, por exemplo, Cristo é o valoroso leitourgos do santuário).
A proclamação do Evangelho é “serviço sacerdotal” (nos manuscritos gregos hierourgeo). Os cristãos gentios são a oferta
aceitável a Deus, santificada (quer dizer “limpa”, e não “imunda”, como alegavam os judaizantes) pelo próprio Espírito de Deus
(At 15.8-11).

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ROMANOS 15, 16 32

algum senão expressamente daquilo que cia, e de fato são devedores aos santos de
Cristo tem realizado por meu intermé- Jerusalém. Pois, se os gentios participa-
dio em palavras e ações, com o objetivo ram das bênçãos espirituais dos judeus,
de conduzir os gentios a obedecerem a devem igualmente servir aos judeus com
Deus, seus bens materiais.
19 pelo poder de sinais e maravilhas e 28 Assim, havendo concluído essa missão,
por meio do poder do Espírito Santo; de e me certificado de que receberam esse
modo que desde Jerusalém e arredores, fruto, partirei para a Espanha, passando
até Ilírico, tenho proclamado plenamen- para visitá-los.
te o Evangelho de Cristo.9 29 E bem sei que, quando for visitar-
20 Sempre fiz questão de pregar o vos, irei sob a plenitude da bênção de
Evangelho onde Cristo ainda não era Cristo.
conhecido, de forma que não estivesse 30 Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor
edificando sobre um alicerce elaborado Jesus e pelo amor do Espírito, que luteis
por outra pessoa. juntamente comigo por meio das vossas
21 Entretanto, como está escrito: “Aqueles orações a meu favor diante de Deus,
a quem não foi proclamado, o verão; e os 31 para que eu me livre dos descrentes
que ainda não haviam ouvido, compre- da Judéia e que a ministração que desejo
enderão”. realizar em Jerusalém seja bem recebida
22 É por esse motivo que muitas vezes fui pelos santos,
impedido de chegar até vós. 32 de maneira que, pela vontade de Deus,
eu vos possa visitar com alegria e em
Paulo quer ver os irmãos em Roma vossa companhia desfrute de um perío-
23 Contudo, agora não tenho mais o que do para recuperar as forças.
me detenha nessas regiões, e tenho já 33 Que o Deus de paz seja com todos vós.
há muitos anos grande desejo de visi- Amém.
tar-vos,
24 planejo fazê-lo quando for à Espanha. Saudações e recomendações
Espero visitá-los de passagem e por vós
ser encaminhado à Espanha, logo após
haver desfrutado um pouco da vossa
16 Recomendo-vos a nossa irmã
Febe, que é diaconisa na igreja de
Cencréia.1
comunhão. 2 Peço que a recebais no Senhor, de
25 Nesse momento, todavia, estou ru- modo digno como os santos devem ser
mando para Jerusalém, a serviço dos recebidos e a ajudeis em tudo o que ve-
santos. nha a necessitar, porquanto ela tem pres-
26 Porquanto pareceu bem às igrejas tado grande auxílio para muitas pessoas,
da Macedônia e da Acaia levantar uma inclusive p
para mim.2
oferta fraternal para os pobres dentre os 3 Saudai Priscila e Áquila, meus colabo-
santos de Jerusalém. radores em Cristo Jesus.
27 Tiveram grande alegria nessa assistên- 4 Arriscaram a vida por minha causa,

9 Jerusalém era a cidade da igreja-mãe, onde os discípulos foram revestidos do poder do Espírito Santo para proclamar o
Evangelho, e o ministério da Igreja teve início (At 1.8). Ilírico era uma província romana que ficava ao norte da Macedônia (2Co
2.12,13), região distante onde se localiza a Albânia (antiga Iugoslávia), atualmente.
Capítulo 16
1 Paulo usa a expressão grega diakonon (servo ou ministro), para informar que a irmã Febe realizava seu serviço cristão como
ministério oficial aos membros da igreja em Cencréia (1Tm 3.11). Tudo indica que Febe foi destacada para a missão de levar essa
carta à igreja em Roma.
2 A igreja primitiva tinha o costume de receber com alegria e hospitalidade todo cristão em viagem missionária ou a serviço das
diversas comunidades cristãs. Com o passar do tempo, e o agravamento da delinqüência em todo mundo, as famílias e as igrejas
tiveram que tomar mais cuidado em manter esse hábito de generosidade cristã.

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33 ROMANOS 16

e por isto lhes sou muito grato, e não igualmente empenhou-se com devoção
somente eu, mas todas as igrejas dos à obra no Senhor.
gentios. 13 Saudai Rufo, eleito no Senhor, e sua
5 Saudai igualmente a igreja que se reúne mãe, que tem sido mãe para mim tam-
na casa deles. Saudai meu amado irmão bém.6
Epêneto,
p que
q foi o primeiro
p convertido a 14 Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes,
Cristo na província da Ásia.3 Pátrobas, Hermas e os irmãos que estão
6 Saudai Maria, que trabalhou com todo com eles.
empenho por vós. 15 Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua
7 Saudai Andrônico e Júnias, meus pa- irmã, assim como Olimpas e todos os
rentes e companheiros de padecimento santos que com eles estão.
na prisão, os quais são dignos de louvor 16 Saudai uns aos outros com um beijo
entre os apóstolos, e estavam em Cristo santo. Todas as igrejas de Cristo vos en-
antes mesmo de mim.4 viam fraternas saudações.7
8 Saudai Amplíato, meu dileto irmão no
Senhor. Cuidado com os falsos servos
9 Saudai Urbano, que é nosso coopera- 17 Rogo-vos, queridos irmãos, que tomem
dor em Cristo, assim como meu amado muito cuidado com aqueles que causam
Estáquis. divisões e levantam obstáculos à doutrina
10 Saudai Apeles, aprovado em Cristo. que aprendestes. Afastai-vos deles!
Saudai os que pertencem à casa de Aris- 18 Porquanto essas pessoas não estão ser-
tóbulo.5 vindo a Cristo, nosso Senhor, mas sim a
11 Saudai Herodião, meu parente. Sau- seus próprios desejos. Mediante palavras
dai os da casa de Narciso, que estão no suaves e bajulação, enganam o coração
Senhor. dos incautos.
12 Saudai Trifena e Trifosa, mulheres que 19 Contudo, todos têm conhecimento da
se dedicam arduamente ao trabalho no vossa obediência, por isso alegro-me sobre-
Senhor. Saudai a estimada Pérside, que maneira; entretanto, quero que sejais sábios

3 Durante o primeiro século, especialmente, a Igreja reunia-se nas casas de seus membros. Priscila e Áquila eram amigos
íntimos de Paulo e durante um tempo trabalharam juntos confeccionando tendas (At 18.2,3). Priscila era uma romana de classe
nobre, casada com Áquila, um judeu da região do Ponto, ambos cristãos cheios do Espírito. Acolhiam uma igreja (grupo de
crentes em Cristo) em sua casa, como anteriormente tinham feito em Éfeso (1Co 16.19) e Corinto (At 18.26). A igreja atual tem
muito a aprender com essa antiga e saudável estratégia missionária.
4 Andrônico e Júnias eram judeus, amigos de Paulo, com quem estiveram presos em Éfeso, por causa da pregação do
Evangelho de Cristo (2Co 11.23). O nome “Júnias”, cuja acentuação no original grego indica nome próprio feminino, tem gerado
algumas dificuldades para aceitá-la como parte do grupo apostólico. Entretanto, Paulo, que a exemplo de Jesus, também
emancipou as mulheres para o serviço cristão, afirma que Andrônico e sua esposa eram crentes exemplares e gozavam de
grande admiração por parte “dos apóstolos”. Estiveram entre os “quinhentos irmãos” que viram o Senhor ressuscitado (1Co
15.6). Portanto, exerciam o “ministério apostólico” como missionários itinerantes, ainda que não fizessem parte oficial do seleto
grupo dos Doze (At 14.4-14; 1Co 12.28; Ef 4.11; 1Ts 2.6,7).
5 Os irmãos Amplíato, Urbano, Estáquis e Apeles tinham nomes de escravos comuns da época, e serviam ao palácio imperial.
No entanto, fazia parte da mesma igreja Aristóbulo, um neto de Herodes, o Grande, irmão de Herodes Agripa.
6 Narciso foi um liberto do imperador Tibério que fez fortuna. Trifena e Trifosa eram irmãs gêmeas que se dedicaram à obra do
Senhor de forma exemplar. Pérside, cujo nome significa “mulher persa” foi uma gentia cristã igualmente notável. Rufo é o mesmo
que fora designado como filho de Simão, o Cireneu (Mc 15.21). Marcos ao escrever para Roma, no ano 60 d.C., usaria Alexandre
e Rufo (membros da igreja em Roma) para identificar Simão, o homem que ajudou a Jesus a carregar a cruz. A expressão “eleito”
tem o sentido de “distinguido” ou “apreciado”. O Simão Niger de At 13.1 seria o mesmo de Mc 15.21 e, portanto, pai de Rufo. O
que faz da mãe de Rufo, mãe sentimental de Paulo. Quando Barnabé procurou Paulo para cooperar no ministério em Antioquia,
ele estava hospedado na casa dos pais de Rufo (At 11.25,26).
7 O beijo santo (1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; 1Pe 5.14) ou ósculo santo corresponde ao “ósculo da paz” que ainda faz parte
da liturgia da Igreja Ortodoxa. Era parte integrante do culto cristão no tempo de Justino, o Mártir (150 d.C.).

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ROMANOS 16 34

em relação a tudo que é bom, mas puros 24 Que a graça de nosso Senhor Jesus
quanto ao que tem aparência maligna. Cristo seja com todos vós. Amém!
20 E, sem demora, o Deus da paz, esmagará
Satanás debaixo dos vossos pés. A graça do Doxologia
nosso Senhor Jesus seja convosco!8 25 Ora, àquele que tem o poder para vos
confirmar, pelo meu Evangelho, segundo
Saudações da equipe de Paulo a proclamação de Jesus Cristo, em con-
21 Timóteo, meu colaborador, envia-vos formidade com a revelação do mistério
saudações, bem como Lúcio, Jasom e oculto nos tempos passados,11
Sosípatro, meus parentes.9 26 porém, agora revelado e trazido ao
22 Eu, Tércio, que redigi esta carta, tam- conhecimento pelas Escrituras proféticas
bém vos saúdo no Senhor. por ordem do Deus eterno, para que to-
23 Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a das as nações crendo, venham a obedecer
igreja desfrutamos, vos envia saudações. a Ele pela fé;
Erasto, administrador da cidade, e nos- 27 sim, ao único e sábio Deus seja dada
so querido irmão Quarto também vos Glória, por intermédio de Jesus Cristo,
cumprimenta.10 para todo o sempre. Amém!12

8 Paulo exorta os cristãos a serem mestres do bem e péssimos praticantes do mal. O texto lembra as palavras de Jesus, que
têm a mesma relação de significado entre si (“sábios...puros” com “astutos como as serpentes e inofensivos como as pombas” de
Mt 10.16). Curiosamente, em ambas as passagens, os adjetivos no original grego são os mesmos: sophos e akeraios (1Co 14.20).
O “Deus da paz” é o mesmo título usado na bênção de Rm 15.33. Paulo o utiliza para contrastar com o trabalho de Satanás que é
a dissensão. Todavia, conforme a profecia de Gn 3.15, a semente da mulher – os que pertencem a Cristo – esmagarão a cabeça
do Inimigo de nossas almas para sempre.
9 O nome Lúcio é equivalente a Lucas no manuscrito grego antigo (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11). Portanto, a expressão “meus
parentes”, que significa “judeus como eu”, só se aplicaria a Jasom e a Sópatros (forma abreviada do nome Sosípatro, conforme
At 17.6-9; 20.4,5).
10 Paulo, como a maioria dos mestres judeus, preferia contar com o auxílio de um especialista na arte de escrever (amanuense)
a fim de dar mais velocidade e clareza à exposição do seu discurso em forma escrita. E Tércio, nesse momento, foi o redator da
epístola de Paulo à Igreja em Roma. O nome completo de Gaio era Gaio Tício Justo, homem temente a Deus, que hospedou Paulo
em sua casa em Corinto (At 18.7; 1Co 1.14). Erasto, é o mesmo que no século primeiro pavimentou as ruas da cidade de Corinto.
Arqueólogos descobriram uma pedra dessa época com a seguinte inscrição em latim: “Erasto, comissário de obras públicas,
custeou as despesas dessa pavimentação”. O nome próprio “Quarto” era normalmente dado ao quarto filho de uma família.
11 Paulo não se refere a um evangelho diferente do que foi pregado pelos demais apóstolos, mas sim ao Evangelho conforme
ele o recebeu por meio das revelações diretas do próprio Senhor Jesus (Gl 1.12). Os “tempos passados” se referem à “eternidade
passada” (1Co 2.6-10).
12 O propósito fundamental de Deus é levar o ser humano a render-lhe “Glória”, como seu Pai e Senhor eterno, por meio do
Seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Salvador.

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