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Políticas curriculares

Políticas curriculares: continuidade ou


mudança de rumos?*

Alice Casimiro Lopes


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação

Não só é impossível desvincular a pedagogia de última eleição, mas desde 1982, isso para não falar do
suas relações com a política, mas também é teoricamente apoio, de diferentes formas, ao longo desses anos.
desonesto. Compreendo as dificuldades enfrentadas no atual go-
verno, especialmente no que concerne ao desmonte
Peter McLaren, 1997
de todos os dispositivos de regulação das práticas cur-
riculares estabelecidos em oito anos de Governo
Primeiras palavras Fernando Henrique Cardoso. Tenho a clareza de que
não se faz revolução pelo voto – permanecemos es-
Na medida em que focalizo um objeto de pesqui- truturalmente em um modo de produção capitalista
sa fortemente associado a um contexto político e a capaz de definir muitas restrições à prática política de
práticas de governo, considero ser importante locali- governo. Igualmente tenho a clareza de que essa prá-
zar algumas premissas deste trabalho. Em primeiro tica exige ações que não seguem, necessariamente,
lugar, solidarizo-me com o Partido dos Trabalhado- conclusões de pesquisas, pois têm de dar respostas
res (PT), que contou com meu voto não apenas na em outros tempos e espaços e em uma dinâmica pró-
pria de relações de poder. A despeito disso, julgo ser
necessário manter uma posição intelectual crítica e
* Versão revista do texto A recontextualização nas políticas investigativa das políticas curriculares direcionadas
curriculares, elaborado em agosto de 2003. Este texto foi apresen- pelo Governo Lula, posição de forma alguma neutra e
tado na mesa-redonda Diretrizes e parâmetros curriculares: e ago- distanciada, mas que busca estar atenta às contradi-
ra?, realizada na 26a Reunião Anual da ANPEd, e publicado em ções, às ambigüidades, aos impasses e aos recuos. Pen-
seus anais. Esse debate foi desenvolvido com o professor Ibañez so ser essa a minha contribuição neste momento.
Ruiz, secretário de Educação Média e Tecnológica do MEC no Em segundo lugar, procuro me distanciar de uma
Governo Lula. postura economicista na interpretação das questões

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curriculares. Assim, não apenas critico, como faz Ball É com base nessas perspectivas que este texto
(2001), a colonização das políticas educativas pelos foi construído.
imperativos das políticas econômicas. Busco focali-
zar algumas possibilidades de mudança de rumos nas
Políticas curriculares: localizando questões
políticas curriculares que não dependem, obrigatori-
amente, de mais verbas para a educação. Estou con-
siderando, assim, que mais verbas são necessárias, Diferentes autores defendem o quanto o currícu-
mas que os problemas não se restringem à questão lo vem assumindo centralidade nas políticas educa-
de verbas, como por vezes o ministro Cristovam cionais no mundo globalizado. Ou seja, as reformas
Buarque e/ou os jornalistas que o entrevistam pare- educacionais são constituídas pelas mais diversas
cem pensar.1 Neste texto, então, privilegio o que con- ações, compreendendo mudanças nas legislações, nas
cerne às concepções norteadoras das políticas curri- formas de financiamento, na relação entre as diferen-
culares em vigor. tes instâncias do poder oficial (poder central, estados
Por fim, ao criticar enfaticamente as políticas e municípios), na gestão das escolas, nos dispositivos
curriculares estabelecidas no Brasil nos últimos oito de controle da formação profissional, especialmente
anos, não quero me aproximar de uma vã tentativa de na formação de professores, na instituição de proces-
retorno ao que se fazia antes do primeiro Governo sos de avaliação centralizada nos resultados. As mu-
Fernando Henrique Cardoso ou em décadas atrás, ou danças nas políticas curriculares, entretanto, têm maior
ainda ao que poderia ter sido feito se o PT tivesse destaque, a ponto de serem analisadas como se fos-
ganhado a eleição em 1989. Não se trata de assumir sem em si a reforma educacional.
uma postura nostálgica, a pretensão desesperada de Já tive a oportunidade de salientar essa questão
se apropriar de um passado do qual se tem saudade em outro texto (Lopes, 2002c), inclusive me repor-
(Jameson apud Ball, 1994). Tal postura, além de con- tando à afirmação de uma das publicações do Banco
servadora, é contraproducente. Idealizamos o passa- Interamericano de Desenvolvimento (BID): o currí-
do porque, freqüentemente, não identificamos nossa culo é o coração de um empreendimento educacional
memória como uma construção e, muitas vezes, ex- e nenhuma política ou reforma educacional pode ter
traímos o que é supostamente bom de um passado sucesso se não colocar o currículo no seu centro
idealizado, ou o que tornamos bom, visando legiti- (Jallade, 2000). Pelas mudanças curriculares, o poder
mar nossas ações no presente.2 Defendo que criticar central de um país constrói a positividade de uma re-
as atuais políticas curriculares implica entender as forma muito mais ampla que a dos currículos, visan-
modificações sociais, políticas, econômicas e cultu- do sua legitimação. As práticas curriculares anterio-
rais pelas quais passamos e ser capaz de dar respostas res à reforma são negadas e/ou criticadas como
a essas modificações, empreender novas interpreta- desatualizadas, de forma a instituir o discurso favorá-
ções sobre as questões de nosso tempo. vel ao que será implantado: mudanças nas políticas
educacionais visando à constituição de distintas iden-
1
Ver, por exemplo, matéria assinada por Lisandra Paraguassú tidades pedagógicas (Lopes, 2002c) consideradas ne-
no jornal O Globo de 3/8/2003, intitulada Cristovam fala, mas, cessárias ao projeto político-social escolhido.
sem dinheiro, pouco faz. Se por um lado o currículo assume o foco central
2
É interessante confrontar essa perspectiva com o que Milan da reforma, por outro as escolas são limitadas à sua
Kundera afirma em O livro do riso e do esquecimento: “Só quere- capacidade, ou não, de implementar adequadamente
mos ser mestres do futuro para podermos mudar o passado. Luta- as orientações curriculares oficiais. O currículo ofi-
mos para ter acesso aos laboratórios onde se pode retocar as fotos cial, com isso, assume um enfoque sobretudo prescri-
e reescrever as biografias e a história” (1987, p. 30). tivo. Por vezes o meio educacional se mostra refém

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dessa armadilha e se envolve no seguinte debate: os políticas curriculares – aspectos interdependentes por
dirigentes questionam as escolas por não seguirem mediações complexas. Neste artigo me detenho espe-
devidamente as políticas oficiais, e os educadores cri- cialmente em questionar algumas das concepções do-
ticam o governo por produzir políticas que as escolas minantes sobre políticas curriculares que, a meu ver,
não conseguem implantar. Em ambos os casos, pare- dificultam o desenvolvimento de uma mudança de
ce-me, tem-se o entendimento da prática como o es- rumos no atual governo. Com base nessas concepções,
paço de implantação das propostas oficiais, sendo as procuro analisar porque (ainda) se identifica uma con-
políticas curriculares interpretadas como produções tinuidade entre as políticas curriculares do Governo
do poder central – no caso, o governo federal. Lula e do Governo Fernando Henrique Cardoso. Des-
Tal centralidade do currículo é também interpre- sa forma, inicio uma interlocução com a esfera oficial
tada muitas vezes como decorrente de determinantes que, espero, continuará a ser desenvolvida com toda a
situados na esfera internacional. No mundo globali- comunidade educacional.
zado haveria poucas possibilidades de se escapar de
um discurso homogêneo das diferentes agências de Políticas curriculares:
fomento e de uma convergência nas ações políticas recontextualização e hibridismo
impostas aos países periféricos. Esse enfoque tanto é
utilizado para questionar a dependência dos países Toda política curricular é constituída de propos-
periféricos em relação aos países centrais (globaliza- tas e práticas curriculares e como também as consti-
dos perante os globalizantes), quanto para justificar tui, não é possível de forma absoluta separá-las e des-
que políticas de partidos tão distintos se mostrem tão considerar suas inter-relações. Trata-se de um processo
iguais. de seleção e de produção de saberes, de visões de mun-
Em minhas pesquisas,3 tenho procurado me afas- do, de habilidades, de valores, de símbolos e signifi-
tar dessas concepções, questionando a interpretação cados, portanto, de culturas capaz de instituir formas
das políticas curriculares em diferentes países no mun- de organizar o que é selecionado, tornando-o apto a
do globalizado, incluindo-se aí o Brasil, como exclu- ser ensinado (Lopes, 1999). Ao mesmo tempo, são
sivamente produtoras de homogeneidade, bem como estabelecidos princípios de distribuição aos alunos e
questionando as dicotomias entre poder central (go- às alunas do que foi selecionado, uma distribuição
verno) e prática, produção da política e implantação freqüentemente desigual.
da política. Diferentemente, defendo que há espaços Toda política curricular é, assim, uma política
de reinterpretação capazes de permitir a um governo, de constituição do conhecimento escolar: um conhe-
com um projeto político-social diverso dos marcos cimento construído simultaneamente para a escola (em
estabelecidos pelo neoliberalismo, modificar os rumos ações externas à escola) e pela escola (em suas práti-
das políticas curriculares e instituir outras relações cas institucionais cotidianas). Ao mesmo tempo, toda
com a prática nas escolas. Para isso, há necessidade política curricular é uma política cultural, pois o cur-
de mudanças nos marcos de organização da econo- rículo é fruto de uma seleção da cultura e é um campo
mia, mas também nos marcos de compreensão das conflituoso de produção de cultura, de embate entre
sujeitos, concepções de conhecimento, formas de en-
tender e construir o mundo.
3
Refiro-me aos projetos de pesquisa: A organização do co- As políticas curriculares não se resumem apenas
nhecimento escolar no “Novo Ensino Médio” (agosto de 2000 a aos documentos escritos, mas incluem os processos
julho de 2002) e A integração curricular em textos de ciências de planejamento, vivenciados e reconstruídos em
para o ensino médio (em curso desde agosto de 2002), ambos co- múltiplos espaços e por múltiplos sujeitos no corpo
ordenados por mim, contando com apoio do CNPq. social da educação. São produções para além das ins-

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tâncias governamentais. Isso não significa, contudo, A transferência de sentidos de um contexto a


desconsiderar o poder privilegiado que a esfera de outro é sujeita a deslizamentos interpretativos e pro-
governo possui na produção de sentidos nas políti- cessos de contestação (Ball & Bowe, 1992). A partir
cas, mas considerar que as práticas e propostas de- da relação entre o contexto de influência e o contexto
senvolvidas nas escolas também são produtoras de de produção dos textos das definições políticas no
sentidos para as políticas curriculares. mundo globalizado, é possível identificar a produção
Com base nas conclusões de Ball (1992, 1994, de uma convergência de políticas (Dolowitz et al.
1998, 2001) sobre as políticas para a educação se- apud Ball, 2001). Discursos como os de valorização
cundária no Reino Unido, nos anos de 1990, é pos- das competências, do currículo integrado, da gestão
sível compreender que as políticas curriculares são escolar descentralizada, da avaliação como garantia
processos de negociação complexos, nos quais “mo- de qualidade podem ser encontrados em diferentes
mentos” como a produção dos dispositivos legais, a políticas no mundo e sua presença é justificada pela
produção dos documentos curriculares e o trabalho ação do contexto de influência. Além de uma ação
dos professores devem ser entendidos como associa- direta via exigências para o financiamento das políti-
dos. Os textos produzidos nesses “momentos”, sejam cas em países periféricos, tal contexto é capaz de
eles registrados na forma escrita ou não, não são fe- produzir comunidades epistêmicas (Ball, 1998) – inte-
chados nem têm sentidos fixos e claros. lectuais e técnicos em congressos, não necessaria-
Ball (1992) defende a existência de três contex- mente pesquisadores em educação, produzindo li-
tos políticos primários, cada um deles com diversas vros e dando consultorias, com o apoio ou não das
arenas de ação, públicas e privadas. Esses contextos agências multilaterais – que garantem a circulação
situam-se em um ciclo contínuo de políticas e podem de idéias e/ou de supostas soluções para os proble-
ser genericamente definidos como: a) contexto de in- mas educacionais.
fluência, onde normalmente as definições políticas são Tal convergência, porém, não implica conside-
iniciadas e os discursos políticos são construídos; onde rar as políticas curriculares no mundo globalizado
acontecem as disputas entre quem influencia a defi- como homogêneas. Como discutem Rizvi e Lingard
nição das finalidades sociais da educação e do que (2000), a globalização refere-se tanto à intensidade
significa ser educado. Atuam nesse contexto as redes quanto à extensão das interações internacionais, mas
sociais dentro e em torno dos partidos políticos, do não estabelece os meios pelos quais essas interações
governo, do processo legislativo, das agências multi- ocorrem, ou mesmo como uma interação adquire sig-
laterais, dos governos de outros países cujas políticas nificado em alguns contextos e não em outros. Os efei-
são referência para o país em questão;4 b) contexto de tos da globalização sobre as políticas educacionais
produção dos textos das definições políticas, o poder são sempre mediados pelos Estados-nação (Dale,
central propriamente dito, que mantém uma associa- 1999, 2000; Dale & Robertson, 2002; Taylor & Henry,
ção estreita com o primeiro contexto; e c) contexto 2000), reinterpretados no contexto de produção dos
da prática, onde as definições curriculares são recria- textos das políticas e no contexto da prática, nos quais
das e reinterpretadas. conceitos globais precisam ser localizados. Por ve-
zes, em um mesmo país, as políticas para certas mo-
dalidades da educação, como por exemplo a educa-
ção profissional, são mais suscetíveis aos efeitos da
4
Esse uso de políticas estrangeiras como forma de legitimar globalização do que outras, em virtude de sua relação
políticas educacionais em um Estado-nação foi examinado em tra- mais próxima com a economia (Dale, 1999). Mais
balhos como os de Ball e Maguire (1994) e Whitty e Edwards especificamente, no caso brasileiro, é possível iden-
(1998). tificar grandes diferenças entre princípios curricula-

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res apresentados para o ensino fundamental e para o zação são, sobretudo, produtores de discursos híbri-
ensino médio.5 dos. No passado, as trocas culturais por intermédio dos
Os efeitos das políticas curriculares no contexto movimentos das pessoas e dos textos já existiam, ge-
da prática são, igualmente, condicionados por ques- rando igualmente recontextualizações, inclusive nas
tões institucionais e disciplinares (Ball & Bowe, políticas curriculares. Na atualidade, porém, há distin-
1992). As instituições e seus grupos disciplinares têm ções nesses processos. Os deslocamentos de territórios
diferentes histórias, concepções pedagógicas e for- são acentuados e a aceleração das trocas é ampliada,
mas de organização, que produzem diferentes expe- complexificando os processos de recontextualização,
riências e habilidades em responder, favoravelmente tornando-os mais explícitos. Mais fortemente se evi-
ou não, às mudanças curriculares, reinterpretando- dencia a necessidade de tratarmos as relações de po-
as. Em síntese, as políticas estão sempre em proces- der como não verticais. Rizvi e Lingard (2000) nos
so de vir a ser, sendo múltiplas as leituras possíveis ajudam a entender como o outro está completamente
de serem realizadas por múltiplos leitores, em um em torno de nós, gerando novas práticas culturais hi-
constante processo de interpretação das interpreta- bridizadas que podem ser consumidas por quem esti-
ções (Ball, 1994). ver conectado à sociedade em rede. Nessa rede, há
Entendo ser possível aprofundar o entendimento uma crescente bricolagem de discursos e textos, acen-
desse processo por intermédio do conceito de recon- tuando o caráter híbrido das políticas culturais, den-
textualização (Bernstein, 1996, 1998). Ao circularem tre elas as políticas curriculares. Concepções as mais
no corpo social da educação, os textos, oficiais e não distintas são associadas nas políticas, perdendo sua
oficiais, são fragmentados, alguns fragmentos são relação com os discursos originais.
mais valorizados em detrimento de outros e são asso- Esse processo de recontextualização por hibri-
ciados a outros fragmentos de textos capazes de dismo não implica, contudo, a possibilidade de que
ressignificá-los e refocalizá-los. A recontextualização qualquer sentido possa ser atribuído aos textos das
desenvolve-se tanto na transferência de políticas en- políticas curriculares. Em função do contexto, discu-
tre os diferentes países, na apropriação de políticas te Ball, um texto pode ser mais ou menos aberto a
de agências multilaterais por governos nacionais, múltiplas possibilidades de interpretação. Textos tra-
quanto na transferência de políticas do poder central zem em si possibilidades e constrangimentos, contra-
de um país para os governos estaduais e municipais, dições e espaços; contudo, a maior ou menor possibi-
e destes para as escolas e para os múltiplos textos de lidade de ressignificação de um texto em direção não
apoio ao trabalho de ensino. prevista inicialmente depende das condições históri-
Na medida em que as políticas curriculares são cas do contexto de leitura (Ball, 1992, 1994). Nem
entendidas como políticas culturais – políticas que vi- sempre existem condições históricas para que se cons-
sam orientar determinados desenvolvimentos simbóli- trua uma autonomia em relação aos textos do poder
cos, obter consenso para uma dada ordem e/ou para central e, como decorrência, para que seja possível
uma transformação social almejada (García Canclini, realizar leituras em perspectivas diversas daquelas que
2001) –, é possível associar o conceito de hibridismo os textos procuram direcionar. Assim como não é pos-
aos processos de recontextualização dessas políticas. sível hibridizar qualquer texto, estrutura ou objeto
No mundo globalizado, os processos de recontextuali- cultural, não é qualquer texto, estrutura ou objeto cul-
tural que se deixa hibridizar (García Canclini, s.d.),
não é possível ler qualquer coisa em qualquer texto,
5
Confrontar, por exemplo, a abordagem conferida à integra- sem limites.
ção curricular no ensino fundamental (Macedo, 1999) com a abor- Ball (1994) salienta também que os autores das
dagem conferida ao mesmo tema no ensino médio (Lopes, 2002a). políticas não podem controlar todos os sentidos que

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serão lidos, ainda que estejam sempre buscando limi- ções do BID, um dos principais financiadores da re-
tar essas possíveis leituras. As ações que visam res- forma, e com princípios de outras reformas curricu-
tringir os sentidos possíveis de serem lidos incluem lares no mundo, há orientações híbridas que associ-
os dispositivos legais, os sistemas de financiamento e am discursos da perspectiva crítica, do construtivismo,
os sistemas de avaliação. Mas a cada uma dessas ações de princípios gerais da escola nova, e discursos que
há necessidade de associar mecanismos simbólicos remetem à base do eficientismo social. A formação
de legitimação de seus discursos. Um dos mecanis- de um sujeito autônomo, crítico e criativo é colocada
mos freqüentemente utilizado é a apropriação de dis- a serviço da inserção desse sujeito no mundo globa-
cursos legitimados socialmente junto a diferentes gru- lizado, mantendo, com isso, a submissão da educa-
pos sociais.6 Nessa apropriação é feita uma bricolagem ção ao mundo produtivo.
de discursos legitimados, que geram, por sua vez, hí- Esse hibridismo também se expressa no discur-
bridos culturais, com novos conceitos ou novos sen- so de formação das competências. O currículo por
tidos para velhos conceitos. Com tal bricolagem é competências é concebido nos parâmetros curricula-
constituída a legitimidade do discurso oficial. Dentre res para o ensino médio como associado a tendências
as múltiplas influências sobre os textos, apenas algu- construtivistas, visando à superação do currículo en-
mas influências são reconhecidas como legítimas. No ciclopédico, centrado nos conteúdos, em nome de um
dizer de Bernstein, apenas algumas vozes7 são ouvi- ensino mais ativo, interdisciplinar e contextualizado.
das, enquanto outras são silenciadas. Os sentidos, Mas igualmente é associado à fragmentação das ati-
porém, são produtos tanto do que se ouve quanto do vidades em supostos elementos componentes (as ha-
que é silenciado. bilidades), de forma que possam servir de medida às
atividades individuais (Lopes, 2001). É constituído
Continuidade de políticas ou um modelo de regulação da especialização e de ge-
mudança de rumos? renciamento do processo educacional. Igualmente, é
sustentada a idéia de que é possível controlar a ativi-
Em outros trabalhos (Lopes, 2001, 2002a, 2002b, dade de professores e de alunos, de maneira a garan-
2002d, 2003 e 2004), analiso as definições curricu- tir a eficiência educacional, a partir do controle de
lares para o ensino médio do governo passado. Con- metas e de resultados (controle da entrada de “insu-
cluo que, a despeito de uma sintonia com orienta- mos” e da “saída” de produtos).
Na formação de professores, o currículo por com-
petências também vem se apresentando como recon-
6
No caso da produção dos parâmetros curriculares nacio- textualização dos princípios da formação por compe-
nais para o ensino médio, por exemplo, a participação de pesqui- tências presentes na literatura que embasou programas
sadores de ensino de disciplinas específicas exigiu acordos e in- norte-americanos e brasileiros para a formação de
corporação de outros discursos ao corpo teórico da proposta (Lopes, professores nos anos de 1960 e 1970 (Dias & Lopes,
2004). 2003). Os sistemas de avaliação centralizada nos re-
7
Para Bernstein (1996, 1998), a voz é adquirida por inter- sultados articulam-se ao currículo por competências
médio do posicionamento do indivíduo numa série de relações e configuram uma cultura de julgamento e de cons-
sociais, apoiadas ou reguladas por um discurso. As relações de tantes comparações dos desempenhos, visando con-
poder criam a especificidade das vozes das diferentes catego- trolar uma suposta qualidade. Como discute Ball
rias ao classificarem as categorias (disciplinas, gêneros, etnias, (2001) com base em Lyotard, é instaurada a perfor-
classes sociais), isolando-as umas das outras. Nesse processo matividade: a incerteza de quando haverá uma ava-
constituem-se tanto a identidade de cada categoria como a dife- liação e, conseqüentemente, a possibilidade da vigi-
rença entre elas. lância constante garantindo o funcionamento

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automático do poder. Mais uma vez revela-se a ten- exame a que o aluno se submeta antes de entrar no
dência de tratar a educação não como formação cul- ensino médio; e) a instituição do sistema de avalia-
tural, mas como atividade econômica a ser submetida ção de conhecimentos e competências dos professo-
aos interesses de mercado, para o qual esses proces- res a cada cinco anos de trabalho, mais uma vez utili-
sos de avaliação são desejáveis. zando a avaliação de competências como mecanismo
Como discuti anteriormente, esse quadro tanto regulador da atividade profissional e como pretensa
é fruto da convergência de políticas gerada pelo con- garantia de qualidade, inclusive associada a possíveis
texto de influência, quanto é uma produção recon- ganhos salariais.9
textualizada de orientações do Governo Fernando É possível encontrar respostas para algumas des-
Henrique Cardoso, em resposta a esse contexto. Tais sas questões nas dificuldades que mencionei no iní-
políticas curriculares foram produzidas com base em cio, relativas a todo o aparato montado pelo Governo
interpretações locais das definições globais, de ma- Fernando Henrique Cardoso, que teve dois mandatos
neira que os produtos híbridos formados atenderam presidenciais para introduzir seus mecanismos de re-
aos princípios do projeto social previsto, ao mesmo gulação e formar no país uma comunidade epistêmi-
tempo que fizeram acordos com diferentes grupos ca favorável a esses mecanismos. Insisto, porém, em
sociais, visando sua legitimação. levantar uma hipótese a ser investigada: a de que muito
Nesses nove meses de Governo Lula, é possível do que foi construído nas políticas curriculares nes-
colocar a questão: por que as políticas curriculares ses oito anos não é modificado porque o MEC se
se mostram, até o momento, sem rupturas com as mantém influenciado, do ponto de vista curricular, pela
políticas curriculares no Governo Fernando Henrique mesma comunidade epistêmica. Em outras palavras,
Cardoso? A despeito de admitir que muitas ações já os processos de recontextualização realizados no atual
se fazem diferentes e que as possibilidades de deba- governo não estão sendo efetivamente diversos da-
te se ampliaram, como a própria programação da 26ª queles realizados no governo anterior ainda (e grifo
Reunião Anual da ANPEd expressa, afirmo a exis- o “ainda” como expressão de minha esperança de que
tência dessa continuidade nas políticas curriculares. isso não persistirá), em virtude de muitas das concep-
Para sustentar tal afirmação, baseio-me nos seguin- ções sobre educação, dominantes na equipe do atual
tes fatos: a) não houve mudanças nas diretrizes cur- governo, pertencerem à mesma comunidade epistê-
riculares nacionais; b) os parâmetros para o ensino mica do governo anterior.
fundamental e para o ensino médio permanecem sen- Por sua vez podemos compreender que a ação
do as referências curriculares para muitas das ações do contexto de influência, especialmente pela manu-
do Ministério da Educação; c) está em processo a tenção de contratos com as agências de fomento, es-
avaliação dos livros didáticos de nível médio, vi- tabelece constrangimentos para a produção de políti-
sando sua distribuição aos alunos, ainda em uma pers- cas diversas. Mas insisto, como discuti anteriormente,
pectiva que tenta dirigir professores em suas aulas, na valorização do espaço de reinterpretação no con-
via livros didáticos; d) a afirmação da Secretaria de texto de produção dos textos das definições políticas.
Educação Média e Tecnológica (SEMTEC) 8 de que Na medida em que os Estados-nação não perderam o
visa introduzir o Exame Nacional do Ensino Médio controle total sobre a transposição da agenda educa-
(ENEM) como exame obrigatório ao final da educa- cional global (Ball, 2001), para se utilizar o espaço
ção básica, apontando ainda a possibilidade de outro de recontextualização existente é preciso construir

8 9
Declaração do professor Ibañez Ruiz em entrevista à Re- Portaria nº 1.403, de 9/6/2003, que instituiu o Sistema Na-
vista do Ensino Médio, publicada em junho/julho de 2003. cional de Certificação e Formação Continuada de Professores.

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outras concepções que se afastem da interpretação educacional foram muitas, especialmente em virtu-
economicista da educação e aproveitem os híbridos de de constituírem uma tentativa de currículo nacio-
culturais para uma tentativa de desconstruir hierar- nal (Moreira, 1996; Silva, 1995; Silva & Gentili,
quias estabelecidas. Determinados marcos globais e 1996). A despeito disso, eles foram produzidos e dis-
locais precisam ser intelectual e politicamente enfren- tribuídos. Além disso, foram elaborados os PCNs em
tados, inserindo-se neles outros sentidos sintonizados Ação, para o ensino fundamental, e os PCN+, para o
com um projeto político-social que vise, ao menos, a ensino médio. Os PCNs assumiram um papel emble-
diminuição das diferentes formas de exclusão no mático na reforma do governo passado, sendo os
mundo capitalista. definidores de seus princípios gerais, junto às dire-
Dentre essas concepções a serem desconstruídas trizes curriculares. Assim, no atual governo, conce-
ou construídas em novas bases, focalizo especialmente ber os parâmetros como apenas uma proposta curri-
três, intimamente inter-relacionadas: a relação entre cular dentre outras, retirar desses textos a marca de
as definições políticas e a prática, os processos de referência padrão, é crucial para a construção de no-
avaliação e o currículo nacional. vos sentidos para as políticas curriculares. Isso per-
No que concerne às relações com a prática, jul- mitirá que outras propostas curriculares com princí-
go ser importante superar a concepção prescritiva das pios diversos, nos estados e municípios, e mesmo nas
políticas curriculares, que tenta limitar a produção de escolas, tenham maior espaço para produzir novos
sentidos dos saberes docentes gestados na prática co- sentidos para as políticas curriculares, valorizando o
tidiana das salas de aula.10 É com esses currículos currículo como espaço da pluralidade de saberes, de
existentes, efetivamente praticados nas escolas, fruto valores e de racionalidades.
da reinterpretação de orientações do contexto de in-
fluência e do contexto de produção das políticas, que Conclusões
as definições oficiais dialogam. Mas esse diálogo deve
ter em vista a produção de múltiplos sentidos para as Para concluir, retorno a dois pontos recorrentes
políticas curriculares, e não simplesmente limitar ou neste texto. O primeiro deles é o entendimento teóri-
constranger as possibilidades de reinterpretação pelo co de que existe uma complexidade nas políticas cur-
contexto da prática. riculares que não pode ser analisada com base em
Esse diálogo não pode se desenvolver por inter- categorias binárias absolutas, tais como: produção e
médio dos processos de avaliação especialmente implementação, global e local. A recontextualização
centrados no modelo de formação de competências, por processos híbridos de textos e definições curricu-
pois tais processos apenas visam ao controle do que é lares, ao mesmo tempo que se desenvolve por princí-
executado em sala de aula. Ao estabelecerem uma pios que estabelecem constrangimentos e limitam as
vinculação restrita entre resultados de avaliação e leituras a serem realizadas, engendram espaços de
medida de qualidade da educação, a avaliação limita- conflitos e de resistência que podem ser ampliados,
se à dimensão de medida de habilidades, perdendo caso as definições políticas assumam esse propósito.
sua dimensão social de diagnóstico do processo e de Nas propostas expressas em documentos oficiais, os
orientadora de políticas públicas. sentidos da prática também estão expressos; nas prá-
Vinculados a esse modelo de avaliação, foram ticas no cotidiano das escolas, as marcas do discurso
constituídos os Parâmetros Curriculares Nacionais oficial também estão inscritas.
(PCNs). As críticas aos parâmetros pela comunidade O segundo ponto refere-se à importância de não
submeter a educação aos critérios econômicos e ao
mercado produtivo, seja considerando-a como a pro-
10
Sobre esses saberes, ver Alves e Oliveira (2001). dutora de recursos humanos para o bom desempenho

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da economia, seja analisando-a segundo princípios da BALL, Stephen J., BOWE, Richard, (1992). Subject departments
economia, seja ainda considerando-a como a redento- and the “implementation” of National Curriculum policy: an
ra de todos os males da sociedade, inclusive da econo- overview of the issues. Journal of Curriculum Studies, v. 24,
mia. Em qualquer uma dessas perspectivas prevalece nº 2, p. 97-115.
apenas o valor de troca da educação: a educação e o BALL, Stephen J., MAGUIRE, Meg, (1994). Discourse of
conhecimento importam apenas quando podem gerar educational reform in the United Kingdom and the USA and
vantagens econômicas. Se o projeto político-social the work of teachers. British Journal of In-service Education,
efetivamente mudou, como quero acreditar, é funda- v. 20, nº 1, p. 5-16.
mental reverter esse processo e passar a considerar a BERNSTEIN, Basil, (1996). A estruturação do discurso pedagó-
educação pelo seu valor de uso, como produção cultu- gico: classe, códigos e controle. Petrópolis: Vozes.
ral de pessoas concretas, singularidades humanas ca- , (1998). Pedagogía, control simbólico e identidad.
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a “common world educational culture” or locating a “globally

ALICE CASIMIRO LOPES, doutora em educação pela structured educational agenda”? Educational Theory, v. 50,
nº 4, p. 427-448.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, é professora adjunta da
Faculdade de Educação dessa mesma universidade e da Faculda- , (1999). Specifying globalization effects on national
policy: a focus on the mechanisms. Journal of Education
de de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Publicou vários artigos sobre currículo e sobre ensino de ciências, Policy, v. 14, nº 1, p. 1-17.
DALE, Roger, ROBERTSON, Susan, (2002). The varying effects
bem como o livro Conhecimento escolar: ciência e cotidiano (Rio
de Janeiro: EdUERJ, 1999). Organizou, em parceria com Elizabeth of regional organizations as subjects of globalization of

Macedo: Disciplinas e integração curricular: história e políticas education. Comparative Education Review, v. 46, nº 11,

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Revista Brasileira de Educação 117


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118 Maio /Jun /Jul /Ago 2004 No 26


Resumos/Abstracts

time-space for the production of new pais marcos de mudança que poderiam knowledge as anchored exclusively in
knowledge. In this study, we analyse ser desenvolvidos. reason. Based on research developed
the processes of didactical/ Palavras-chave: hibridismo; políticas with the school population and on
museographical transposition and of de currículo; recontextualização listening to speeches produced by these
recontextualization in spaces at Curriculum policy: continuity or people situated in subjective places
science museums, in order to change? with relation to knowledge, we
understand those mechanisms, which Analyses the curriculum policies question the possibility of pedagogical
constitute the discourse expressed in developed by the Lula Government. It practice constituting experience, which
expositions dealing with biological concludes by stating that they belong produces subjective effects.
themes. Studies carried out in the to the same epistemological community Key-words: subjectivity; education;
educational and museological fields as those developed by the previous school; modernity
were used to understand the specificity, Fernando Henrique Cardoso
which museums impose on this process Government. It also mentions the main Maria Alice Nogueira
of production. In this paper, we give possible turning points, as far as Ball’s Favorecimento econômico e
special attention to the construction of analysis of curriculum policy, excelência escolar: um mito em
the theoretical framework used in the Bernstein’s recontextualization and questão
research process. The theoretical Canclini’s hybridism are concerned. Na pesquisa educacional brasileira ain-
premises that were initially used were Key-words: curriculum policy; da carecemos de estudos sobre os pro-
those of the concept of didactical/ hybridism; recontextualization cessos de escolarização dos jovens ori-
museographic transposition. Based on ginários de famílias privilegiadas do
a critique of the limits of this concept, Mériti de Souza ponto de vista econômico. O presente
new theoretical principles were utilised trabalho propõe-se a incursionar, por-
Fios e furos: a trama da subjetividade
taking as their principal support the tanto, em terreno altamente lacunar,
e a educação
concept of recontextualization. Finally, apresentando alguns resultados parciais
Discute a constituição da subjetividade
we seek to discuss the possibilities and de um estudo realizado, em 2000-2001,
atravessada pelo pathos e pelo logos e
limits of the use of the concept of com 25 famílias de grandes e médios
remetida ao singular e ao coletivo.
didactical/museographic transposition empresários(as) de Minas Gerais, cujo
Essa concepção demanda a análise do
and analyse the challenges of working objetivo principal era conhecer as his-
excluído da identidade individualizada
with the concept of recontextualization tórias escolares dos jovens e as estraté-
do homem moderno e do conhecimento
in order to understand those gias educativas postas em prática por
como ancorado exclusivamente na ra-
educational processes, which take esses pais ao longo desses itinerários.
zão. Considerando o trabalho desen-
place in spaces offered by science Um corpus de 50 entrevistas, feitas com
volvido com a população escolar e a
museums. os jovens e suas mães, foi reunido. Suas
escuta dos discursos produzidos pela
Key-words: didactical transposition; conclusões permitem questionar a idéia
alocação dessas pessoas em lugares
recontextualization; museographic corrente de que o padrão de excelência
subjetivos perante o saber, indaga-se a
transposition; museum education escolar é apanágio dos “ricos” ou, em
possibilidade da prática pedagógica
constituir-se em experiência produzin- outros termos, de que as elites escola-
Alice Casimiro Lopes res se compõem de alunos “ricos”.
do efeitos de subjetivação.
Políticas curriculares: continuidade Palavras-chave: subjetividade; educa- Palavras-chave: trajetórias escolares;
ou mudança de rumos? ção; escola; modernidade estratégias educativas familiares; rela-
Com base nas análises de Stephen Ball ção família–escola
Threads and holes: the plot of
e nos conceitos de recontextualização Economic privilege and school
subjectivity and education
(Basil Bernstein) e de hibridismo excellence
Discusses the constitution of
(García Canclini), analisa as políticas In Brazilian educational research we
subjectivity cut through with pathos
curriculares no Governo Lula. Defende still lack studies which focus on the
and logos and addressed to the singu-
que tais políticas ainda se desenvolvem schooling process of youngsters from
lar and the collective. This conception
sob influência da mesma comunidade families privileged from the economic
requires the analysis of that which is
epistêmica do Governo Fernando point of view. This paper aims, therefore,
excluded from the individualised
Henrique Cardoso e aponta os princi-
identity of modern man and of

Revista Brasileira de Educação 183

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