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1. Introdução
O modelo de desenvolvimento brasileiro, pautado fortemente no viés econômico
vinculado aos interesses políticos e às estratégias de avanço e reprodução do capital
internacional, fundamentou grande parte do setor industrial, segundo relações externas
mais fortes que internas. Assim, a sociedade urbana originada sob esse contexto
político-econômico, manteve a tendência incisiva em assimilar valores efêmeros no
tocante ao consumo, aliado tanto a necessidade quanto ao desejo.
A informatização tornou o território e a sociedade articulada e funcional, mas
desarticulado quanto ao comando local das ações que nele se exercem. Essa adequação,
estreita a distância e o tempo para que a reprodução do capital nacional e internacional
aconteça. E, por meio da reincidente concentração de renda, infra-estrutura e poder
político-econômico, apenas algumas parcelas do espaço e da sociedade usufruem dessas
inovações. Temos então, a formação de uma sociedade urbana que cria e fortalece a
rede urbana sob diferentes níveis de intensidade, provocando diferentes transformações
em sua forma e em seu conteúdo.
A fim de estudar e compreender a formação dessa rede urbana, especificamente
no recorte regional, propomos discutir caminhos teóricos e metodológicos, alguns
clássicos como a questão da hierarquia e centralidade urbana, ,entretanto sob novas
leituras e agregando novos elementos ao debate, buscando assim, propiciar o avanço em
pesquisas dessa natureza.
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UNESP/Presidente Prudente . Programa de Pós Graduação em Geografia (Doutorado).
pequeno porte, sendo 43% até 5 mil habitantes e as demais até 100 mil2. Esta categoria
de cidades, entretanto, abriga apenas 2,4% da população. As cidades entre 100 e 500 mil
habitantes que em 1970, eram 56 cidades, chegando a 173 cidades em 2000 (IBGE,
2000 ), apontando uma nova realidade para a rede urbana brasileira, a emergência de
cidades de porte médio como centros que representam importantes nós na rede urbana
brasileira (CORRÊA, 2007), sendo as grandes cidades, número menos significativo,
embora com alto índice populacional.
A compreensão das vicissitudes na condução da produção sócioespacial, exige
novos exercícios intelectuais, convidando a repensar os pressupostos epistemológicos
vigentes, assim como as questões metodológicas e conceituais no âmbito da Geografia
em suas diferentes vertentes. No que tange a rede urbana e a urbanização brasileira e o
movimento que permeia tais processos, requer desviar a preocupação demasiada com as
coerências e atentar para as imprecisões, as rupturas, continuidades e períodos de
transição com suas dissimetrias, ampliando o caminho para a perspectiva dialética. Uma
compreensão fragmentada-articulada, direcionada para a aproximação com o real,
desprovido de perfeições e de resultados evidentes, definitivos ou estanques.
Tais esforços são válidos frente a intensificação do fluxo produtivo entre as
cidades, ao percebermos que “as especializações do território são a raiz da
complementaridade regional: há uma nova geografia regional que se desenha, na base
da nova divisão territorial do trabalho que se impõe”. SANTOS (1993, p. 64),
estabelecendo assim, novos arranjos na rede urbana. As proposições de Milton Santos,
se confirmaram e, atualmente tais arranjos apresentam-se consolidados e com grande
poder de mutabilidade e expansão.
Assim como a industrialização no país é incompleta e concentrada, também a
urbanização, as relações em rede e configuração dos arranjos produtivos não acontecem
na mesma intensidade entre as mesorregiões brasileiras. Contudo, “a concentração de
pessoas e atividades econômicas em poucas cidades não deve ser vista como um algo
permanente, e a complexidade do padrão de urbanização atrela-se ao fato da cambiante
concentração e desconcentração industrial” (SOUZA, 2001, p.392). E diga-se ainda, da
concentração agroindustrial e dos agronegócios, entre outras atividades econômicas
voláteis, próprias do capital no momento atual, onde predomina a capacidade de
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Adotamos o critério para definição do tamanho das cidades proposto pelo IBGE segundo o número de
habitantes, no qual, até 100 mil considera-se pequeno porte, e 100 à 500 médio e mais de 500, grande
porte.
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Tais ações são viabilizadas por meio das condições tecnológicas e científicas existentes na cidade e em
seu contexto regional, de maneira que possa atrair e manter inovações que ampliem a produção, o
consumo e intensifique as infra-estruturas responsáveis pela elevação da qualidade de vida. No entanto,
cabe lembrar, que tais mudanças são seguidas geralmente de um processo excludente e segregador de
pessoas e espaços intra-urbanos e inter-urbanos, que ao nosso ver, podem ser tratados por meio de
políticas públicas locais articuladas com a sociedade e outras escalas do poder administrativo.
Sendo a rede uma produção social, ela expressa o movimento da sociedade que
a produz. A condição e o padrão da rede, contudo, pode sofrer alterações através do
tempo, no qual as redes sociais constituem fonte geradora de transformações tanto no
sentido do acolhimento e geração das condições gerais de produção, como na criação
voluntária ou involuntária de barreiras político, ideológicas e institucionais que limitam
a geração de tais condições, assim como o desenvolvimento do capital humano.
A análise dos fluxos é as vezes difícil, pela ausência de dados. Mas o estudo
dos fixos permite uma abordagem mais cômoda, através dos objetos
localizados: agencias de correio, sucursais bancárias, escolas, fábricas. Cada
tipo de fixo surge com suas características que são técnicas e
organizacionais. E desse modo cada tipo de fixo corresponde a uma
tipologia de fluxo. Um objeto geográfico, um fixo, é um objeto técnico mas
também um objeto social, graças aos fluxos. Fixos e fluxos interagem e se
alteram mutuamente.
A rede elimina a linearidade temporal e espacial estabelecendo uma
superposição de movimentos ao espaço e à sociedade. Diante da complexidade que as
inovações tecnológicas e informacionais apresentam, Santos (2004, p.62) lembra que
atualmente “os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixados ao solo; os fluxos são
cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos e mais rápidos.”
Ao falar em conexão entre os fixos alimentada pelos fluxos, paira a impressão de
que a fluidez permeia todo o espaço e interliga todas as urbes igualmente em velocidade
e intensidade. Tal impressão não é verdadeira pois a noção de rede não condiz a uma
homogeneidade, pelo contrário, a fluidez exclui e como afirma Santos (2004, p.268),
“as redes não são uniformes e num mesmo subespaço há uma superposição de redes que
inclui redes principais e redes afluentes ou tributárias, constelações de pontos traçados
de linhas.”
Para Fresca (2004, p.38), a rede urbana com seu conjunto de cidades, de infra-
estruturas de transporte, comunicação, informação, dentre outros, “envolve inúmeras
relações de integração interna e externa, e ao mesmo tempo manifesta novos padrões de
desigualdades vinculados aos processos sociais.”
Tais diferenciações estabelecem padrões de redes, e nos países com urbanização
milenar e economia desenvolvida, a rede é mais complexa e tende a ter um padrão mais
difuso com distribuição de núcleos urbanos mais equilibrada. Nos países em
desenvolvimento e urbanização mais recente como o Brasil, a rede apresenta de modo
geral um padrão dendrítico, caracterizado, dentre outros aspectos, pela presença de uma
cidade primaz excentricamente localizada, essa rede constitui-se em um meio através
do qual a hinterlãndia da cidade primaz é drenada em seus diversos recursos
(CORRÊA, 2006).
Embora esse padrão seja menos equilibrado quanto a distribuição, tamanho e
funções das cidades, a complexidade se revela pela formação segmentada no tempo e no
espaço, cujo componente social deriva de diferentes segmentos culturais atribuindo
especificidades ao modelo de formação da rede.
O sentido fragmentado-articulado evidencia-se ao aproximar lugares diferentes,
entretanto, com alguma potencialidade, que também pode ser diferente, mas com valor
atrativo ao universo de relações da sociedade capitalista. Cada lugar é único, e com
especializações produtivas diferentes ou semelhantes, participam da redes por meio da
fluidez simultânea. Percebe-se que “ao tornar livres a população e as coisas para o
movimento territorial, a relação em rede elimina as barreiras, abre para que as trocas
sociais e econômicas se desloquem de um canto para outro” (MOREIRA, 2006, p.162).
Essa construção mental de flexibilidade, liberdade e necessidade de participação da
sociedade em rede, instaura uma outra dimensão do controle do capital sobre a
sociedade e o espaço, um controle ao nosso entender, bem mais impermeável e de difícil
transposição.
As contradições da sociedade em rede são aprofundadas com a soma das
diferenças aparentes, que no cerne do processo produtivo tem o mesmo significado: a
acumulação e a reprodução do capital realizada sob moldes pretéritos, revestida de
técnicas e mecanismos modernos de produção e gestão.
As cidades são nesse processo, os centros gestores e conectores dessa cadeia
produtiva de sonhos e realidade. Por meio de ações desigualmente combinadas entre
Percebe-se assim que, mesmo distante uns dos outros, os lugares podem estar
conectados até mais profundamente na rede, por meio da verticalidade que rompe as
barreiras geográficas e a distância. Portanto, independe da localização. Não há
necessidade de contigüidade, e tudo depende de como se estabelecem as correlações de
forças entre seus componentes sociais dentro da conexão em rede (MOREIRA, 2006).
Reforçamos que, nessa correlação de forças, o capital se faz presente como um
elemento fundamental para o fluir dos fluxos, para a intensificação e renovação dos
fixos, assim como, para que pessoas e coisas possam exercer sua “liberdade no
território”. Outro agente que influencia nessa correlação de forças, refere-se a figura do
Estado. A impressão de um Estado neutro e apenas regulador, disseminada pelo
discurso neoliberal, torna-se incoerente frente a sua atuação sistemática em políticas
públicas e decisões que legitimam ações de grupos hegemônicos sobre o território
brasileiro. Seja pela conivência ou negligencia, ele está presente, tanto em comandos
quanto em realizações que abrem passagem para o capital financeiro-empresarial. Este
então, assume em sua trajetória, a forma que lhe é conveniente.
Mesmo diante das amarrações estruturais e superestruturais que comandam
decisões em diferentes escalas, a resistência se manifesta por meio das ações de grupos
sociais que criam e recriam meios de sobrevivência e fogem ao controle imposto,
geralmente, pelo motivo de não ter muito o que perder. Esse movimento contraria a
força do capital e do Estado, e cria outras possibilidades de sobrevivência na rede de
cidades e da produção de bens e serviços. São amálgamas sociais que participam da
construção da rede, não pela participação ativa, mas pela informalidade de suas ações.
Como o processo excludente e segregador é intenso, tais classes somam-se num
volume representativo em quantidade, revelando a construção de uma outra rede que se
distancia dos benefícios provenientes do modelo que está posto, mas também de seu
controle e inscreve sua história e sua geografia, por meio da não participação,
geralmente involuntária. A avaliação do IDH-M pode revelar o nível de disparidade
socioeconômica de um dado recorte. Dado este, importante na condução de estudos
sobre o papel de cidades de diferentes portes na rede urbana.
O modelo de desenvolvimento atual, parece desprezar, mas se alimenta dessa
desigualdade e estabelece a inter-relação entre os elementos sociais-materiais e
imateriais que lhes são convenientes. Esse jogo de forças, constitui um movimento
dialético que oferece mutabilidade e vitalidade a rede em diferentes proporções segundo
a capacidade de organização dos grupos sociais em torno do processo produtivo.
Conforme Santos (2004, p. 267) “[...] não existe homogeneidade do espaço,
como, também, não existe homogeneidade das redes.” Com tamanhas desigualdades
sociais, como poderia se pensar em espaços homogêneos, se o espaço é expressão das
ações do homem? A heterogeneidade entretanto, não se manifesta como algo
desagregado, desorganizado com realidades isoladas, mas, estabelecendo pontos de
contato que fortalecem as relações desiguais em proveito do capital.
Essa condição desigual e combinada, abre um espaço significativo para o
emprego da hierarquia urbana, não como uma armadura, mas como pressuposto teórico
e metodológico para a análise e entendimento da rede urbana, sobretudo, no contexto
regional. Procurando pensar essa relação, além de uma simples classificação
sócioespacial, mas com outras inter-ligações entre cidades de uma mesma hierarquia
urbana, entre cidades fora do raio de alcance regional com características físicas, sociais
diferentes, inclusive culturalmente.
A busca pela apreensão da rede urbana a partir do recorte regional, exige a
participação de uma complexa gama de sujeitos a serem considerados, pois quanto
menor a escala, maior a quantidade de detalhes a serem apreendidos na investigação
para elucidação das hipóteses e compreensão do objeto de estudo. Todavia, deve-se ter
em mente a hierarquia articulada por vias que permitem a fluidez e a conectividade no
sentido vertical e horizontal promovendo a noção de totalidade.
Embora o conceito de rede urbana remeta a uma idéia geral, passível de ser
apreendida em escala mundial, é importante também ter clareza de que existem vários
tipos de redes frente a conformação da rede mundial de cidades. Isso se relacioana á
posição e ao papel que cada cidade apresenta na rede, segundo o contexto de formação e
o conteúdo sócio-produtivo por ela manifesto.
4. Referencias Bibliográficas