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Matemática Aplicada
2 Curvas e caminhos 2
7 Fórmula de Riemann-Green 31
8 Campos conservativos 38
1 1 / A g o sto / 2 0 0 5
1 Introdução
b
O integral de linha é uma generalização natural do integral definido a f (x)dx
em que o intervalo [a, b] é substituido por uma curva e a função integranda
é um campo escalar ou um campo vectorial definido e limitado nessa curva.
Os integrais de linha são de uma importância fundamental em inúmeras
aplicações, nomeadamente, em ligação com energia potencial, fluxo do calor,
circulação de fluídos, etc.
No que se segue começaremos por apresentar os conceitos de curva e de
comprimento de uma curva após o que daremos a definição de integral de
linha. Depois de enunciarmos as propriedades fundamentais do integral de
linha veremos a aplicação deste ao cálculo do trabalho realizado por uma
força.
2 Curvas e caminhos
Seja g uma função vectorial1 que toma valores em IRn e cujo domínio é um
intervalo I ⊂ IR. À medida que a variável independente t percorre I, os
correspondentes valores da função g(t) percorrem um conjunto de pontos de
IRn que constitui o contradomínio da função. Se a função tomar valores em
IR2 ou em IR3 é possível visualizar geometricamente esse contradomínio.
2 1 / A g o sto / 2 0 0 5
4
-4 -2 0 2 4
-1
0
10 5 1 2
25 20 15 3 4
30
3 1 / A g o sto / 2 0 0 5
g(t)
g(a)
g(b)
g
a t b
(g1 , g2 , . . . , gn ) está relacionada com o conceito de tangência, tal como no
caso das funções reais de variável real. Veja-se qual o comportamento do
quociente g(t+h)−g(t) h
quando h → 0. Este quociente é o produto do vector
g(t + h) − g(t) pelo escalar 1/h. Como tal, o numerador, g(t + h) − g(t),
ilustrado na figura 4, é paralelo ao vector g(t+h)−g(t) h
. Como já foi visto no
Cálculo Diferencial em IR , no caso de existir o limite de g(t+h)−g(t)
n
h
quando
h → 0, tem-se
g(t + h) − g(t)
lim = g (t),
h→0 h
e, se g (t) = 0,o vector g (t) pode ser visto geometricamente como o vector
tangente à curva g no ponto g(t).
T
g(t+h)-g(t)
g(t)
g(t+h)
4 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Definição 3 Diz-se que um caminho g : I → IRn é de classe C 1 se a função
g é de classe C 1 em I 2 . Um conjunto C ⊂ IRn é uma curva de classe C 1
se existe um caminho de classe C 1 que representa parametricamente C.
Exemplo 3 O caminho g : [−1, 1] → IR2 tal que g(t) = (t, t3 ) , define uma
curva de classe C 1 pois g (t) = (1, 3t2 ) é uma função contínua em t ∈ [−1, 1].
(Ver figura 5).
0.5
-1 -0.5 0 0.5 1
-0.5
-1
5 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Com efeito, trata-se de uma curva que não é de classe C 1 (não existe recta
tangente no ponto (1, 1)) mas é a união de duas curvas de classe C 1 (ver
figura 6).
1.5
0.5
Exemplo 5 A função g : [0, 8π] → IR3 definida por g(t) = (cos t, sen t, t) é
um caminho simples que representa um arco de hélice cilíndrica. (Ver figura
7).
O exemplo seguinte mostra que uma curva pode admitir diferentes repre-
sentações paramétricas.
6 1 / A g o sto / 2 0 0 5
25
20
15
10
-2 5 -2
-1 -1
0
1 1
2 2
-3 -2 -1 0 1 2 x 3
-1
-2
-3
7 1 / A g o sto / 2 0 0 5
2
1.5
0.5
0 0.5 1 1.5 2
2t + 4 2t + 4
β (φ (t)) = β (2t + 4) = − 2, −2 = t, t3 = α (t) .
2 2
1. y = x2 , x ∈ [−1, 1].
3. x2 + y2 = 2.
4. 4x2 + y2 = 1.
8 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Exercício 2 Determine as representações paramétricas das seguintes curvas
de IR3 :
9 1 / A g o sto / 2 0 0 5
P P
2 3
P
4
P
1
P5
P
0
a b
10 1 / A g o sto / 2 0 0 5
é uma função3 integrável em [a, b]. Neste caso, o comprimento de g entre
g(a) e g(t) (a ≤ t ≤ b) é dado por
t
s(t) =
g (u)
du.
a
b
Em particular, o comprimento de g é s = s(b) = a
g (t)
dt.
g(tk+1)- g(tk)
g(tk+1)
g(tk)
tk tk+1
Figura 11:
g (ti ) − g (ti−1 )
é o comprimento do segmento da linha poligonal
entre os pontos g (ti−1 ) e g (ti ).
3
g (t) representa a norma euclidiana de g (t) (t ∈ [a, b]). Ter-se-á portanto
A função
g (t) = [g1 (t)]2 + · · · + [gn (t)]2 .
11 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Se o caminho for de classe C 1 , pode escrever-se, qualquer que seja a decom-
posição ∆,
n ti
n
L∆ =
g(ti ) − g(ti−1 )
= g
(t)dt
i=1 i=1 ti−1
n ti b
≤
g (t)
dt =
g (t)
dt. (1)
i=1 ti−1 a
g(t0)
a=t0 τ0 τ b=tn
12 1 / A g o sto / 2 0 0 5
τ , τ 0 ∈ [a, b] (ver figura 12). Supondo τ > τ 0 , tem-se
τ
g(τ ) − g(τ 0 )
≤ s(τ ) − s(τ 0 ) ≤
g (t)
dt,
τ0
donde τ
g(τ ) − g(τ 0 ) s(τ ) − s(τ 0 )
g (t)
dt
≤ ≤ τ0
. (2)
τ − τ0 τ − τ0 τ − τ0
Caso τ < τ 0 , tem-se
τ0
g(τ 0 ) − g(τ )
≤ s(τ 0 ) − s(τ ) ≤
g (t)
dt
τ
τ →τ 0 τ − τ0
e, como τ 0 é qualquer valor do intervalo [a, b], conclui-se que s é uma função
derivável do parâmetro t que verifica
s (t) =
g (t)
, ∀t ∈ [a, b]. (5)
Assim, para a ≤ t ≤ b, t
s(t) =
g (u)
du
a
e, em particular, o comprimento de toda a curva é dado por
b
s = s(b) =
g (t)
dt.
a
13 1 / A g o sto / 2 0 0 5
De referir que o comprimento de uma curva de classe C 1 é independente
da respectiva parametrização. Com efeito sejam α : I = [a, b] → IRn e
β : J = [c, d] → IRn duas parametrizações equivalentes de uma mesma curva.
Seja φ : I → J, uma função bijectiva e continuamente diferenciável tal que
φ (t) = 0 em todos com excepção dum número finito de pontos t ∈ I e
α (t) = β [φ (t)], em todos os pontos de I. Note-se que se φ é bijectiva
então, ou φ (t) ≥ 0 ou φ (t) ≤ 0 ∀t ∈ I. Suponha-se, por exemplo, que
φ (t) ≥ 0. Então, tendo em conta o teorema da mudança de variável no
integral definido (veja-se, por exemplo, Wade [7], Teorema 3.15, pp. 121),
deduz-se sucessivamente,
b
s =
α (t)
dt
a
b
=
β (φ (t))φ (t)
dt
a
b
=
β (φ (t))
|φ (t)| dt
a
b
=
β (φ (t))
φ (t) dt
a
φ(b)
=
β (u)
du
φ(a)
d
=
β (u)
du.
c
Note-se que
β (u)
é uma função contínua e φ é continuamente diferenciável
tal que φ (a) ≤ φ (b).
14 1 / A g o sto / 2 0 0 5
e 2 2
dx dy
g (t)
= + .
dt dt
Então, o comprimento s do caminho g é dado por
b 2 2
dx dy
s= + dt.
a dt dt
Neste caso, admitindo
que f tem derivada contínua em [a, b] , tem-se g (t) =
(1, f (t)) e
g (t)
= 1 + [f (t)]2 , donde o comprimento s da curva é dado
por b b
s=
g (t)
dt = 1 + [f (t)]2 dt,
a a
que é precisamente o resultado apresentado no início desta secção.
15 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Exemplo 9 Calcular o comprimento do arco da catenária definido parame-
tricamente pela função g : [0, 1] → IR2 com g(t) = (t, cosh t) (ver figura
13).
Como g (t) = (1, senh t), o comprimento do arco da catenária será
1
1
2
1 + (senh t) dt = cosh2 tdt. = [senh t]10 = senh 1 = 1, 1752 . . . .
0 0
1.5
0.5
16 1 / A g o sto / 2 0 0 5
z
40
30
20
10
x
y
6 4 2 0 -10 -20
8 -30 -40
14 12 10
17 1 / A g o sto / 2 0 0 5
n
i=1 ϕ(Qi )∆si constitui uma aproximação da área da superfície cilíndrica
S de directriz C e geratriz paralela ao eixo OZ situada entre o plano XOY
e o gráfico de ϕ (ver figura 15). Intuitivamente
n é fácil aceitar que, no caso
de existir e ser finito o limite de i=1 ϕ(Qi )∆si quando n → ∞ e δ =
maxi |ti − ti−1 | → 0, esse limite deverá coincidir com a área de S. Ora, caso
não dependa da decomposição de [a, b] nem da escolha dos Qi , esse limite
é precisamente o integral de linha de ϕ sobre a curva C relativamente ao
comprimento de arco s. Este integral é designado
habitualmente por integral
a
de linha de 1 espécie e representa-se por C ϕds, isto é,
n
ϕds = n→∞
lim ϕ(Qi )∆si .
C δ→0 i=1
Z
z =ϕ(x,y)
B=Pn Y
Pi
Pi-1
A=P0 Qi
X
n
n
ϕ [g (ξ i )] ∆si = ϕ [g (ξ i )] s (ξ i ) (ti − ti−1 ) , (7)
i=1 i=1
18 1 / A g o sto / 2 0 0 5
sendo de notar que o 2o membro desta igualdade é uma soma de Riemann
da função ϕ.s no intervalo [a, b] relativamente à decomposição considerada.
Como esta função é contínua4 pode garantir-se a existência do seu integral
de Riemann no intervalo [a, b], tendo-se portanto
n b
lim ϕ [g (ξ i )] s (ξ i ) (ti − ti−1 ) = ϕ [g (t)] s (t)dt
n→∞ a
δ→0 i=1
b
= ϕ [g (t)]
g (t)
dt,
a
n b
lim ϕ [g (ξ i )] ∆si = ϕ [g (t)]
g (t)
dt.
n→∞ a
δ→0 i=1
Como o limite do 1o membro não pode deixar de ser C ϕds (porquê?)
conclui-se que para calcular este último integral bastará calcular o integral
b
definido a ϕ [g (t)]
g (t)
dt.
Vimos atrás que, sendo ϕ uma função positiva definida em IR2 e C uma
curva do plano XOY, o integral de linha C ϕds pode ser interpretado geo-
metricamente como a área de uma superfície. Mais geralmente, supondo que
ϕ é um qualquer campo escalar definido em IRn e C uma qualquer linha do
mesmo espaço, o integral de linha de 1a espécie define-se como segue:
19 1 / A g o sto / 2 0 0 5
A curva que no plano XOY limita a superfície é a circunferência x2 + y 2 = 14 .
Designando esta curva por C e representando-a parametricamente pelas e-
quações
x = 12 cos t
, t ∈ [0, 2π],
y = 12 sen t
tem-se que a área pedida é igual a
2π
1 1 1
(1 − x − y) ds = 1 − (cos t + sin t) cos2 t + sin2 tdt = π.
C 0 2 4 4
20 1 / A g o sto / 2 0 0 5
r
(0,2r/π)
-r 0 r
sempre que o integral da direita exista. (Na igualdade anterior “.” representa
a operação de produto interno.)
Observação 5 Se A = g(a) e B = g(b) o integral C f.dg pode ser expresso
B
por A f.dg; quando esta notação é usada há que ter em conta que o integral
depende não só dos seus extremos, mas tambem do caminho que os liga! Se
A = B, isto é, se C é fechado,
é costume representar o integral de linha de f
ao longo de g pelo símbolo C f.dg.
21 1 / A g o sto / 2 0 0 5
a igualdade (8) escreve-se na forma
n b
f.dg = f1 dg1 + · · · + fn dgn = fk [g(t)] gk (t)dt.
C C k=1 a
22 1 / A g o sto / 2 0 0 5
1.5
0.5
-0.5
-1
Este exemplo mostra que o integral desde um ponto até outro pode de-
pender do caminho que liga os dois pontos. Repare-se no entanto, que se se
efectuar o cálculo do segundo integral, utilizando a mesma curva mas com
uma outra representação paramétrica, por exemplo, β(t) = (t, t3/2 ), com
0 ≤ t ≤ 1, tem-se f [β (t)] .β (t) = t3/4 + 32 t7/2 + 32 t2 , e o integral é igual a
59/42 como anteriormente. Este facto ilustra a independência do valor do
integral de linha relativamente à representação paramétrica utilizada para
23 1 / A g o sto / 2 0 0 5
descrever a curva. Recordemos que tal propriedade já tinha sido observada
quando se definiu a noção de comprimento de arco. Esta propriedade dos
integrais de linha será demonstrada numa das próximas secções.
Seja C uma curva de classe C 1 parametrizada por g : [a, b] → IRn tal
que g (t) = 0, para qualquer t ∈ [a, b] (uma curva nestas condições diz-se
regular). Mostra-se seguidamente que o integral de linha de um campo
vectorial ao longo de uma curva regular não é mais do que o integral de linha
de um certo campo escalar relativo ao comprimento de arco. Seja então f
um campo vectorial e ϕ o campo escalar definido por ϕ [g (t)] = f [g (t)] .T(t),
isto é, pelo produto interno de um campo vectorial f definido em C com o
5
vector unitário tangente T(t) = dg
ds
. Então,
b b
ϕds = ϕ [g(t)]
g (t)
dt = ϕ [g(t)] s (t)dt =
C a a
b b
dg ds
= f [g (t)] .T(t)s (t)dt = f [g (t)] . dt =
a a ds dt
b
= f.dg.
a
b
Interpretemos fisicamente a f.dg: se f caracterizar o escoamento de um
fluido (ou seja, se f for um campo de velocidades6 ), f.T traduzirá a com-
ponente tangencial desse escoamento em cada ponto da linha C, consti-
tuindo uma medida do escoamento do fluído na direcção de T, em cada
pontoda referida
linha; assim, se C fôr uma curva fechada o integral de
linha C f.dg = C f.Tds representará uma medida do escoamento do fluido
ao longo da linha C, medida esta que se designa por circulação.
Exercício 7 Calcule C f (x, y)ds, C f (x, y)dx e C f (x, y)dy em que
1
1. f (x, y) = x−y e C é a curva parametrizada por x = t, y = t
− 2, com
√ 2
t ∈ [0, 4]. R : 5 ln 2; ln 4; ln 2 .
5
O vector g (t) é tangente à curva C no ponto g(t). Designando o versor de g (t) por
T(t), tem-se que este vector é um vector unitário tangente a C no referido ponto. Como
C é regular T(t) existe para qualquer valor de t e tem-se
g (t)
dg
dg
T(t) = = dt
= .
g (t) ds
dt
ds
6
A velocidade pode interpretar-se fisicamente como o caudal volúmico por unidade de
área.
24 1 / A g o sto / 2 0 0 5
√
2. f (x, y) = x3 +y e C é a curva y = x3 , com 0 < x < 1. R : (10 10 − 1)/27; 1/2; 1 .
Exercício 11 Calcule:
1. C 4xy 2 dx − 3x4 dy em que C é a linha poligonal que une os pontos
(0, 1), (−2, 1) e (−2, 0). [R : 56] .
2 2
2 dx− x2 +y 2 dy, em que C é a circunferência x +y = 4 orientada
y x
2. C x2 +y
no sentido positivo. [R : 2π] .
3. C −3ydx+2xdy+4zdz, em que C é a reunião do arco de circunferência
x2 + y2 = 1, z = 0, x > 0 e y > 0 com o segmento de recta x + z = 1,
y = 0, x > 0 e z > 0. [R : −5/4)] .
25 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Proposição 2 Sejam ϕ e ψ campos escalares com valores em IRn e f e h
campos vectoriais definidos em IRn e com valores em IRn . Supõe-se que C é
uma curva de classe C 1 . Então:
e
(af + bh).dg = a f.dg + b h.dg;
C C C
e
f.dg = f.dg1 + f.dg2 + · · · + f.dgn ,
C C1 C2 Cn
26 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Dem. Demonstremos a última afirmação. A demonstração da asserção
1 é semelhante. Os caminhos α e β estão relacionados por uma equação da
forma β(t) = α [φ (t)] onde φ está definida no intervalo [c, d] e α está definida
no intervalo [a, b]. Utilizando a regra da derivação da função composta, tem-se
F.l =
F
l
cos θ = F (b − a) = W.
27 1 / A g o sto / 2 0 0 5
De referir ainda que, nas condições da figura 18, caso a força F varie de
grandeza ao longo do segmento [a, b], ter-se-á
b
W= F (x) dx,
a
F F
a b
b- a
F2 F
a F1 b
b- a
28 1 / A g o sto / 2 0 0 5
realizado por uma força F quando o seu ponto de aplicação percorre
a curva C é dado por
W= F.dg
C
Exemplo 16 A força que actua num ponto (x, y, z) ∈ IR3 é dada por
Sendo g(t) = (t, t2 , t3 ) tem-se g(0) = (0, 0, 0) e g(2) = (2, 4, 8). Visto que
F [g(t)] = (t2 , t3 , t) e g (t) = (1, 2t, 3t2 ) vem
(2,4,8) 2
F.dg = F [g(t)] .g (t)dt
(0,0,0) 0
2 2
2 3 2 412
= (t , t , t).(1, 2t, 3t )dt = (t2 + 2t4 + 3t3 )dt = .
0 0 15
Exemplo 17 Trabalho realizado por uma força constante. Se f é uma
força constante, isto é, f = c ∈ IRn , o trabalho realizado por f quando actua
sobre uma partícula que se desloca ao longo de uma curva C seccionalmente
de classe C 1 que liga os pontos A e B é dado por c.(B − A). Com efeito,
seja g = (g1 , g2 , ..., gn ) um caminho que define a curva C com g(a) = A e
g(b) = B. Escrevendo c = (c1 , c2 , ..., cn ) tem-se
n b
n
W = f.dg = ck gk (t)dt = ck [gk (b) − gk (a)] =
C k=1 a k=1
= c. [g(b) − g(a)] = c. (B − A) .
Para este campo de forças o trabalho depende apenas dos pontos extremos
da curva e não da curva que os une, o que nem sempre acontece. Estes
são os chamados campos conservativos, que se referirão com mais detalhe
adiante.
29 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Seja então r(t) o vector de posição da partícula no instante t. O trabalho
r(b)
realizado por f durante o intervalo de tempo [a, b] é r(a) f.dr. Pretende-se
demonstrar que
r(b)
1 1
f.dr = mv 2 (b) − mv2 (a).
r(a) 2 2
Com efeito, a segunda lei de Newton do movimento estabelece uma relação
entre a força, a massa e a aceleração:
Exercício 13 Seja
Exercício 14 A força que actua num ponto (x, y) do plano é dada por
F(x, y) = r42 r̂, onde r̂ é o versor do vector posição r = xe1 + ye2 e r =
r
.
Determine o trabalho realizado por F quando o seu ponto de aplicação se
move ao longo do semicírculo superior de x2 + y2 = 4 de (−2, 0) a (2, 0).
[R : 0] .
30 1 / A g o sto / 2 0 0 5
7 Fórmula de Riemann-Green
O teorema que se apresenta a seguir estabelece uma relação entre um integral
duplo numa região R do plano e o integral de linha ao longo da curva fechada
que constitui a fronteira de R.
d
C
a b
31 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Dem. Esta igualdade é equivalente às fórmulas
∂Q
dxdy = Qdy (10)
R ∂x C
e
∂P
− dxdy = P dx (11)
R ∂y C
De facto, se ambas são verdadeiras, (9) obtem-se por adição; reciproca-
mente, (10) e (11) podem obter-se de (9) como casos especiais fazendo P = 0
e Q = 0, respectivamente.
A demonstração de (11) será feita caracterizando a região R pelas con-
dições
a ≤ x ≤ b e f (x) ≤ y ≤ g(x),
onde f e g são funções contínuas em [a, b] com f ≤ g. (ver figura 21) A
fronteira de R é composta por duas partes, um arco inferior C1 (o gráfico de
f ) e um arco superior C2 (o gráfico de g).
y=g(x)
C2
C1
y=f(x)
a b
∂P ∂P ∂P
− dxdy = − dy dx = dy dx =
R ∂y a f (x) ∂y a g(x) ∂y
b b
= P [x, f (x)] dx − P [x, g(x)] dx.
a a
32 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Por outro lado,
P dx = P dx + P dx.
C C1 C2
x=t
Representando parametricamente C1 pelas equações e C2 por
y = f (t)
x=t
com a ≤ t ≤ b, obtem-se
y = g(t)
b a b
P dx = P [t, f (t)] dt e P dx = P [t, g(t)] dt = − P [t, g(t)] dt,
C1 a C2 b a
e portanto,
b b
P dx = P [t, f (t)] dt − P [t, g(t)] dt,
C a a
c ≤ y ≤ d e t(y) ≤ x ≤ h(y),
x=t(y) C3 x=h(y)
C4
33 1 / A g o sto / 2 0 0 5
∂Q
R ∂x
dxdy por integrações sucessivas, tem-se
d h(x)
∂Q ∂Q
dxdy = dx dy =
R ∂x c t(x) ∂x
d d
= P [h(x), y)] dy − P [t(x), y] dy.
c c
portanto,
d d
Qdy = P [h(t), t] dt − P [t(t), t] dt,
C c c
o que demonstra (10).
O teorema 4 tem um alcance limitado pois as condições exigidas para o
conjunto R, representante de uma classe particular de conjuntos conve-
xos8 , são bastante fortes.
No entanto, é possível demonstrar um resultado semelhante enfraque-
cendo essas condições. Basicamente, é possível mostrar que a fórmula de
Riemann-Green, desde que se mantenham salvaguardadas as condições de
regularidade da fronteira, ainda é válido quando a região R é um conjunto
simplesmente conexo (vejam-se, por exemplo, as figuras 23 e 24).
Recordemos que um conjunto R diz-se conexo se for possível unir quais-
quer dois pontos que lhe pertençam por um caminho contido em R. Tipica-
mente um conjunto conexo não pode ser constituído por “ilhas”. Um con-
junto R, conexo, diz-se simplesmente conexo se qualquer caminho fechado
contido em R puder transformado um ponto de R através duma deformação
contínua em R. Um conjunto conexo que não seja simplesmente conexo diz-se
multiplamente conexo (veja-se a figura 25).
8
Um conjunto diz-se convexo se contiver o segmento de recta que una quaisquer dois
pontos que lhe pertençam.
34 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Figura 23: Exemplo de um conjunto que não é conexo.
35 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Figura 25: Exemplo de conjunto multiplamente conexo.
1.5
0.5
-2 -1 0 1 2
36 1 / A g o sto / 2 0 0 5
é numericamente igual à área da região R do plano limitada por C.
De facto,
1 1
xdy − ydx = (1 − (−1)) dxdy = dxdy = Área de R.
2 C 2 R R
C
2
C
3
C
4
C
1
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8 Campos conservativos
Os campos vectoriais F que são o gradiente dum campo escalar φ apropriado,
isto é, tais que
F = φ
têm muito interesse na Engenharia e Física, pois o respectivo integral de
linha é independente do caminho. Tais campos vectoriais são denominados
campos conservativos.
F = φ, ∀x ∈R.
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Assim, numa região conexa R, um campo vectorial contínuo F é con-
servativo se e só se alguma das seguintes afirmações se verificar:
F = φ, ∀x ∈R;
× F = 0, ∀x ∈R.
então, F é conservativo se e só se
∂N ∂M
= , ∀ (x, y) ∈ R.
∂x ∂y
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Este último resultado é consequência imediata do enunciado anterior fazendo,
F (x, y) = (M (x, t) , N (x, y) , 0). Poderia igualmente ser deduzido com base
na aplicação directa da Fórmula de Riemann-Green.
Para terminar este capítulo refiram-se as seguintes informações suplemen-
tares:
1. Se F (x, y) = M (x, y) i + N (x, y) j é um campo vectorial conservativo
de classe C 1 num aberto R então
∂N ∂M
= , ∀ (x, y) ∈ R.
∂x ∂y
O recíproco só é verdade em abertos simplesmente conexos.
2. Se F :R ⊆ IR3 → IR3 é um campo vectorial conservativo de classe C 1
num aberto R, então
× F = 0, ∀x ∈R.
O recíproco só é verdade em abertos simplesmente conexos.
Exemplo 20 Mostre que F (x, y) = 2xi + yj é um campo vectorial conser-
vativo em IR2 .
Comecemos por notar que F é contínuo no conexo IR2 . Claramente,
2
φ (x, y) = x2 + y2 é um campo escalar de classe definido em IR2 tal que
2 y2
φ = x +
2
= 2xi + yj.
Este facto mostra que existe em IR2 um campo potencial cujo gradiente é F.
40 1 / A g o sto / 2 0 0 5
Então o integral de linha é independente do caminho de classe C 1 que
une os pontos referidos. Calculemos o referido integral utilizando C1 :
1
F.dr = 4xx, 2x2 . (1, 1) dx
C1 0
1
1
2 x3
= 6x dx = 6 = 2.
0 3 0
Verifiquemos que C2
F.dr = 2:
1
F.dr = 4xx2 , 2x2 . (1, 2x) dx
C2 0
1
1 3 3
x4
= 4x + 4x dx = 8 = 2.
0 4 0
Exercício 16 Seja
Q (x, y, z) = 3x2 (y + z) + y3 + z 3 , 3y2 (z + x) + z 3 + x3 , 3z 2 (x + y) + x3 + y 3 .
sabendo que C é uma curva de classe C 1 que une os pontos (1, −1, 1) e
(2, 1, 2).
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Referências
[1] AGUDO,F.R.D., Lições de Análise Infinitesimal, vols. I e II, Escolar Edi-
tora, Lisboa, 1977 e 1973.
[2] APOSTOL, T., Calculus I, II, Jonh Wiley & Sons, Inc., New York, 1967
e 1969.
[5] SWOKOWSKI, E. W., Cálculo com geometria analítica, vol. II, McGraw-
Hill do Brasil, São Paulo, 1983.
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Exercícios propostos
1. Determine representações paramétricas das seguintes curvas de IR2 e
indique quais são simples, fechadas ou seccionalmente de classe C 1 :
(a) Segmento de recta que vai desde (0, 0, 0) até (2, 2, 2).
(b) Segmento de recta que vai desde (0, 1, 2) até (1, 2, 4).
(c) Arco de parábola definido pela intersecção das superfícies z =
x2 + y2 e x = y, para 0 ≤ x ≤ 1.
(d) A curva definida pela intersecção das superfícies x2 + y2 + z 2 = 4
e z = 1.
(e) A curva definida pela intersecção das superfícies x2 + y 2 + z 2 =
2(x + y) e x + y = 2.
4. Mostre que
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x = cos t x = cos 2t
(a) , t ∈ [0, 2π] e , t ∈ [0, π]
y = sin t y = sin 2t
x=t x = sin θ
(b) 2 , t ∈ [−1, 1] e 2 , θ ∈ − π2 , π2
y=t y = sin θ
x = 2 cos θ x√= −t
(c) , θ ∈ [0, π] e , t ∈ [−2, 2]
y = 2 sin θ y = 4 − t2
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(a) um fio em forma de circunferência x2 +y2 = 4 e densidade ρ(x, y) =
|x| + |y| .
x = a cos t
(b) um fio com a forma de hélice definida por y = a sin t , t ∈
z = bt
[0, 2π] e densidade linear ρ(x, y, z) = x2 +y2 .
z
10. Determine o centro de massa da hélice definida por g(t) = (cos t, sin t, t),
t ∈ [0, 2π] e densidade linear ρ(x, y, z) = x2 + y2 + z 2 .
11. Calcule
(a) C xdy − ydx
i. sobre o arco de ciclóide x = t − sin t, y = 1 − cos t, t ∈ [0, 2π] .
ii. sobre a hipociclóide de quatro cúspides x = cos3 t, y = sen3 t,
t ∈ [0, 2π] .
iii. sobre a curva C, simples, fechada, definida paramétricamente
por x = ρ cos t e y = ρ sin t percorrida no sentido directo.
(b) C 4xy2 dx − 3x4 dy, em que C é a linha poligonal que une os pon-
tos (0, 1), (−2, 1) e (−2, 0), orientada no sentido sugerido pela
sequência dos pontos.
− → → →
−
(c) C F .d− r em que F = (2x + y)− →u x + (3x − 2y)−→
u y e a curva C é:
i. a parábola y = x2 de (0, 0) a (1, 1).
ii. y = sin( π2 x) de (0, 0) a (1, 1).
iii. x = yn (n > 0) de (0, 0) a (1, 1).
2 2
2 dx − x2 +y 2 dy, em que C é a circunferência x + y = 4,
y x
(d) C x2 +y
orientada no sentido directo.
2 2
2 dx + x2 +y 2 dy, em que C é a circunferência x + y = 4,
x y
(e) C x2 +y
orientada no sentido directo.
→
−
12. Determine o trabalho realizado pela força F (x, y) = −zy− →e x + zx−→e y+
yx−
→e z sobre uma partícula que se desloca ao longo da hélice circular
parametrizada por −
→r (t) = cos t−
→
e x + sin t−
→
e y + t−
→
e z , t ∈ [0, 2π] .
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→
−
13. Calcule o trabalho realizado pela força F (x, y) = xy −→
e x +yz −
→
e y +xz −
→
ez
sobre uma partícula que percorre o segmento de recta que une (0, 0, 0)
a (1, 1, 1) no sentido sugerido pela sequência dos pontos.
→
−
14. Considere a força F (x, y) = r42 −→
r , em que −→r é o versor posição −→
r =
→
− →
− →
− →
−
x e 1 + y e 2 e r =
r
. Determine o trabalho realizado por F quando
o seu ponto de aplicação se desloca ao longo do semicírculo superior
x2 + y2 = 4 de (−2, 0) a (2, 0).
exercício 11d.
→
− x − → y − →
(c) F (x, y) = x2 +y 2 e x + x2 +y 2 e y .Comente o resultado obtido no
exercício 11e.
→
−
18. Seja o campo vectorial F (x, y) = (y sin(xy), x sin(xy)
→
−
(a) verifique que o campo F é conservativo.
−→ →
(b) calcule F .d− r ao longo de um qualquer caminho entre (0, 0) e
(1, π)
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i. utilizando o facto de o campo ser conservativo.
ii. integrando sobre um caminho conveniente.
→
−
19. Verifique o teorema de Green para o campo vectorial f (x, y) = (−y, x)
sendo o caminho:
Soluções
√
3a) y√ = 1; 3b) x = 1 ∧ y = z; 3c) y = −x + 2/2 √ ∧ z = 0; 5a) 2πr;
5b) 2(e2 − 1); 5c) 28; 5d) 6; 5e)√1 + 12 ln 32 ; 6a) 5 ln 2; 2 ln 2; ln 2; 6b)
√ √
(10 10 − 1)/27; 1/2; 1; 7) 2π − 4 + 163 2 ; 8a) 17 17 − 1 /4; 8b) 256/15; 9a)
2 √
16; 9b) 2πa2 b a2 + b2 ; 9c) 13 [(1+e2 )3/2 −23/2 ]; 10) xcm = 3+4π
6 6π
2 ; ycm = − 3+4π 2 ;
2)
zcm = 3π(1+2π
3+4π2
; 11(a)i) −6π; 11(a)ii) 34 π; 11(a)iii) 2πρ2 ; 11b) 56; 11(c)i) 7/3;
11(c)ii) 3π−4
π
; 11(c)iii) n+3
n+1
; 11d) −2π; 11e) 0; 12) 2π 2 ; 13) 1; 14) 0; 17) 0;
6
18(b)ii) 2; 19a) 2πr; 19b) ab; 20b) 2π; 21) 23 .
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