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O Primeiro Livro
Donde que, sendo o nosso Sujeito o ouro, teremos que procurar o agente
adequado para o abrir, o qual, se souberes procurar a variedade mais
adequada, pouco trabalho terás a preparar; este será vil à vista e
grandemente desprezado pelo seu aspecto exterior. Deste assunto poucos
autores tratam e os que o fazem obscurecem esta chave o mais que
podem, mas eu, querido leitor, serei de uma sinceridade como nunca
viste; garanto-te no entanto que este não é trabalho para mentes opacas
nem para aquele que desdenha trabalhar, pois a ociosidade é um
verdadeiro obstáculo para esta Arte; mas se possuis uma mente tranquila
e és trabalhador presta bem atenção ao que irei declarar, e que trata
primeiramente daquilo que jaz escondido no nosso Agente ígneo.
Este é o nosso Dragão, que o Deus da guerra assaltou com uma armadura
do aço mais robusto, mas em vão, pois logo uma Estrela nunca vista
apareceu, de modo que quando Cadmus primeiramente sentiu esta força
não conseguiu aguentar um tal poder, mas do seu corpo a sua Alma se
separou. Oh força poderosa! Pois quando os Sábios a avistaram
grandemente se surpreenderam e assim a chamaram o seu Leão Verde,
cuja fúria com encantos esperaram com o tempo domar. Pelo que,
deixando-o presa dos sócios de Cadmus, verificaram que pelo seu poder
os derrotou e tendo a luta terminado, olhai, uma Estrela matutina foi vista
a sair da Terra e após as carcaças terem sido removidas logo apareceu
uma fonte corrente, onde se disse que a Besta saciou a sede até que o seu
ventre estoirou. Mas pareceu-lhes deveras estranho que logo que este
Dragão se tivesse aproximado da Fonte, as Águas se retirassem como
que assustadas, pese embora o esforço de Vulcano em reconciliá-las.
Então apareceram as Pombas de Diana com adornos ofuscantes, com
cujas asas prateadas o ar se acalmou, no qual o Dragão dobrado para
dentro perdeu a sua picadura. Então as Águas como uma inundação logo
voltaram e engoliram a Besta, cuja cor se tornou negra como o carvão, e
nisto o nosso Dragão fez com que a fonte exalasse um cheiro fétido onde
ele morreu e que lhe serviu de sepultura. Mas com a ajuda de Vulcano
este Dragão voltou à vida e recebeu dos Céus uma Alma, pelo que ambos
se reconciliaram, aqueles que antes eram inimigos, sendo as suas almas
agora unidas, deixaram os seus corpos e transformaram-se no verdadeiro
banho das ninfas, e no nosso Leão Verde, pelo que nunca nada assim
tinha sido visto antes.
Pelo que agora observa que o nosso Filho de Saturno deve ser unido a
uma forma metálica e mercurial, pois é apenas azougue o agente que a
nossa obra requer, mas o azougue comum não serve para a nossa Pedra;
estando morto, presta-se no entanto a ser animado pelo sal da Natureza e
verdadeiro enxofre que é o seu único cônjugue. Este sal, que se encontra
no rebento de Saturno e é puro interiormente, tem o poder de penetrar o
centro dos metais, e tem em abundância as qualidades necessárias para
entrar no corpo do Sol, o qual divide em elementos e no qual reside após
a dissolução. O Enxofre deves procurá-lo na casa de Aries, é este o fogo
mágico dos sábios para aquecer o banho do Rei (que deves preparar
numa semana). Este fogo está estreitamente escondido, mas podes
revelá-lo numa hora e depois lavá-lo em chuva prateada.
Assim parece que os antigos Sábios escolheram antes instruir o olho por
imagens do que o ouvido por palavras. No entanto alguns dos seus
discursos são tão simples que qualquer palerma poderá perceber o
sentido que eles contêm, e para o mesmo propósito, sendo eu um filho da
Arte, tenho na Cabala Sapientum a mesma explicação, para a qual remeto
o leitor aplicado. Prosseguirei agora com o objectivo deste curso
mostrando como obter esta Água, que tão poucos encontram, de onde
retiramos a mais secreta semente do Sol, pelo que aplica-te
diligentemente em aprender a obter esta Água, pois ela é o fundamento
da nossa Quintessência.
Sabe então que todos os metais têm apenas uma matéria, que não é senão
o Mercúrio; que como fundamento possibilitou primeiro a transmutação
e por isto nós concluímos que a nossa muito secreta Água tem a mesma
matéria que o vulgar Mercúrio. E se o Mercúrio bruto e todos os cinco
metais imperfeitos se podem transformar em ouro, (sendo neste processo,
e devido à sua crueza consumidos pelo fogo), a razão é então como todos
os Sábios ensinam que todos os metais contêm em si o Mercúrio e todos
são por conseguinte igualmente transmutáveis. Se o nosso Mercúrio, ao
qual chamamos a nossa Água viva, for outro que não o ouro imaturo,
então qualquer metal que seja pela Arte convertível em ouro deverá
conter em si essa natureza, da mesma forma que pela Arte é feita o nosso
Azougue.
Este Enxofre deverá ter uma força, ou virtude, magnética, pelo que
deverá ser ouro verdadeiro, embora imaturo, como também da mesma
origem tanto a matéria como a forma, apenas com esta diferença, que é
que enquanto o outro é fixo este deve ser volátil e alado, tendo o poder
de abrir e soltar o primeiro. E só há um corpo na Terra suficientemente
próximo do Mercúrio para o poder preparar para a nossa pedra secreta e
para poder esconder o corpo sólido no seu ventre e este, como disse
anteriormente, é o rebento de Saturno sobejamente conhecido por todos
os magos, e que eu aqui te mostrei.
E embora alguns metais possam ser fixados com Azougue não penetram
uns nos outros mais que à vista, e pelo calor podem facilmente ser
separados, pois verás que eles nunca penetram o centro, nem são por isso
melhorados. A razão é que o Enxofre que se encontra nos metais
perfeitos encontra-se selado, ou nos outros partilha das fezes terrestres e
impurezas que o Mercúrio abomina e com as quais nunca se unirá
embora pareça à vista com eles se misturar. Se separares estas fezes
encontrarás Mercúrio fluídico e um Enxofre cru que endureceram a
humidade pela congelação bem como um Sal aluminoso mas todos eles
são de natureza demasiado distante do ouro.
Mas o mineral que tanto estimamos, excepto as suas escórias (que são
totalmente separáveis) contém um Mercúrio mais puro, que fará reviver
os Corpos mortos de forma a que estes possam como todas as outras
coisas gerar a sua espécie. Mas em si não contém nenhum Enxofre,
embora, sendo quebradiço e negro com veios brilhantes esteja congelado
num Enxofre ardente. Este Enxofre não tem nada de metálico, mas se
correctamente separado segundo a Arte, as escórias sendo removidas,
aparece uma noz de aspecto metálico (que poderás moer em pó) na qual
se encontra fechada uma alma terna que se mostra como fumo sob um
fogo suave, semelhante ao Azougue, levemente congelado, e que o fogo
de facto evapora.
Primeiramente então faz com que Marte abrace este mineral, de forma
que ambos se libertem das suas características terrenas, e em pouco
tempo a substância metálica deverá brilhar como os céus, e como prova
do teu sucesso deverás seguramente nela encontrar a impressão do selo
de um rei estrelado. Este é o selo real, a marca que o Todo-Poderoso
afixa neste estranho corpo. Este é o fogo celestial, no qual ao fazer
despertar uma centelha, grandes mudanças ocorrerão nos corpos, de tal
modo que a negritude é feita brilhar como uma gema cintilante, com a
qual como um diadema o nosso jovem rei é coroado. A isto adiciona
Vénus na proporção adequada, cuja beleza é admirada por Marte e que é
conhecida por lhe ter grande amor e desejo de com ele se unir, assim que
logo é inclinada ao movimento, sendo ela afim do ouro, Marte e da
brilhante Diana, com quem ele concilia o amor e a verdadeira união.
Mas Vulcano ficará cada vez mais ciumento e é com desgosto que o
coxo cornudo sente os cornos adornarem-lhe a cabeça, e na esperança de
os destruir atira a sua rede sobre os amantes apanhando a esposa e Marte
durante o acto, exibindo-os desta forma aprisionados.
No entanto, que isto não seja tomado como mera Fábula. Primeiro
observa como Cadmus é devorado pela nossa besta feroz a quem
Cadmus depois de a ter intrepidamente perfurado fez merecer nome de
campeão, pois esta Serpente (de poder inquestionável) ele com a sua
lança mortal trespassou contra um carvalho, perante o qual todos
sentiram temor. Observa também a Estrela, que na realidade é Solar,
como se pode provar, pois o ouro unido intimamente com o filho de
Saturno cujas fezes foram purgadas quando tudo o que era perfeito se
abateu no fundo, depois de fundido e vertido, ao arrefecer nos mostra
uma Estrela, assim como faz Marte. Mas Vénus fornece uma substância
metálica que só por si é desprezível, mas que ao ser unida com Marte,
como que dobrados numa rede, aparece como agradável à vista, como
descreveram os poetas misteriosos de vista apurada, de forma velada mas
no entanto suficientemente clara para o Sábio.
Assim tira do Filho do velho Saturno duas partes, de Cadmus uma parte e
estas purifica com a ajuda de Vulcano até que (sendo liberta das suas
fezes) a parte Metálica seja a mais pura; o que deves fazer em quatro
reiterações, cujas operações perfeitas te serão ensinadas pela Estrela.
Faz com que AEneis seja igual ao seu amado, purgando-os com arte até
que a rede de Vulcano os envolva a ambos, pelo que deves então molhá-
los bem com a água e mantê-los em calor e humidade até se tornem
perfurados e a suas Almas sejam ambas glorificadas. Este é o Orvalho
celeste, que deve ser alimentado durante tanto tempo quanto seja
requerido pela natureza, pelo menos três vezes, ou até sete, assim os
guiando através das ondas e chamas como a razão ordenará, mas atenta
para que a terna natureza não fuja pela força de um fogo demasiado forte.
Sabe também com certeza que o Mercúrio, com o qual a obra deve ser
iniciada, deve ser líquido e branco, mas toma cuidado para que não
seques a humidade em pó devido a um fogo muito forte, de modo que se
mostre vermelho, pois nesse caso o teu esperma feminino estaria
corrompido e falharias o teu desejado objectivo. Nem faças com que o
Azougue se torne numa clara e transparente goma, óleo ou unguento,
pois caso tenhas perdido a proporção certa nunca chegarás a uma
verdadeira dissolução mas serás obrigado a suspender o teu trabalho já
sem esperança, e a adiá-lo para outra altura, pois procedeste de forma
contrária às regras da Arte.
Esta substância ao ser coobada cinco ou seis vezes com a dita Água (com
digestão prévia) aparecerá como que um Óleo, e pouco tempo depois
destila como um Espírito, que pela adição de um pequeno sujeito pouco a
pouco se separa em duas substâncias distintas, que estando prontas serão
guardadas separadamente, sendo a primeira um Óleo ou Tintura solúvel
em Licor; a outra (se a fazes ferver) é através da Arte redutível em
Mercúrio, cujo Azougue é uma substância tão maravilhosa que não se
encontra igual debaixo dos céus.
Esta nem com sais ou água forte poderá ser corroída em precipitado, ou
por circulação frequente pelo fogo ser combinada, ou sublimada, ou seca
em pó, nem tão pouco ser fixada mas para sempre se manterá volátil. O
grande Elixir não conseguirá transmutar mas de facto dissolve e destrói;
é de tal forma estranha que todos os artistas surpreende, pois nenhum
tem poder ou mestria para a alterar: e através da forma mencionada,
poderá ser produzida de todos os corpos Metálicos.
No entanto na nossa Arte isto não serve de nada, pois nós procuramos
multiplicar o Enxofre que é uma Hematina Solar e cuja cauda é lunar;
são estes os únicos planetas que consideramos no nosso céu terrestre,
rejeitando todos os outros e todas as outras artes. Pois se Ouro, que pela
natureza é feito puro e perfeito puder através deste nosso fogo secreto ou
Água ser retrogradado em Mercúrio e Enxofre, sendo completo em
substância, e que antes não podia ser separado pela força do fogo mas
firmemente nele residia. Quem não vê que tal Mercúrio está distante da
nossa obra? Pois nós procuramos aumentar uma Tintura e apenas o
Enxofre, que como uma capa envolve o Mercúrio e é agradável à
natureza Metálica e sem o qual a Água não poderá reclamar o nome de
um metal.
E assim parece que tanto mais uma substância Metálica seja dissolvida
nesta humidade tanto mais é transformada de uma natureza Metálica cujo
Enxofre, pela força deste Licor poderá (embora contra-vontade) ser pelo
menos trazido até uma Água elementar; tal é o poder que este Licor tem
sobre qualquer matéria.