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História da Arte.

Mestrado em Performance Artística/ Dança. 2010- 11.


Lucía del Pilar Lancheros Munévar.
pilarikka@gmail.com

Das máquinas à metafísica através das linhas.

OSKAR SCHLEMMER.
Das figural Kabinett.
1922.
The Museum of modern art, New York.
The Joan and Lester Avnet Collection.
Sobre um espaço negro encontram-se estampadas sete figuras humanas. No centro de

tudo, no ponto de foco, encontra-se pendurada num fino traço a mais pequena das

figuras.

Nos extremos, situadas em estrita simetria, observam-se duas largas figuras. À direita,

um homem incrustado numa maquinaria: um colorido sistema de polias que, ao ser

accionado, leva-nos ao extremo esquerdo da pintura onde as cores são finalmente

vertidas. A seu lado está uma figura curvilínea assente sobre um único ponto de apoio.

A cada lado da figura central, de novo em simetria, encontram-se mais duas figuras:

uma, preta, com o seu corpo dissolvido entre a cor escura do fundo do quadro; a outra,

cúbica, sem cabeça.

Por último, um desconcertante e expandido rosto humano que nos observa de frente

enquanto, debaixo do abrigo do seu nariz, o resto da peça estende-se. O título da peça

informa-nos que a cena decorre num gabinete, um espaço fechado, limitado pelos

muros que o constroem.

Trata-se do “Gabinete figurativo” pintado por Oskar Schlemmer em 1922; há dois anos

que se encontra na Bauhaus onde mais tarde, em 1923 será director do atelier de

teatro. Nesse mesmo ano, é representado pela primeira vez o “Ballet Tríadico”, uma das

suas obras mais importantes1.

Oskar Schlemmer foi um artista “poliédrico” (San Martín, 1954) pintor, escultor,

bailarino, cenógrafo, coreógrafo, teórico de arte. Durante toda a sua vida explorou

todos os campos da arte, numa atitude globalizante, na procura de uma linguagem

comum entre estes mesmos campos.

Além duma extensa obra pictórica, escultórica e performativa, Schlemmer deixou2


1 O Ballet Tríadico começou em 1912, foi parcialmente executado em 1915, paralisado pela guerra e representado na
sua totalidade em 1922. (Diserens 1999)
variados escritos sobre a sua obra e a função da arte na sociedade. No presente

escrito, tendo como referência essencial os textos do próprio Schlemmer, vou procurar

compreender as relações entre os conceitos explorados pelo mesmo na sua obra

teórica e o quadro Kabinett Figurative.

Dentro da concepção de Schlemmer, o mundo é um espaço no qual confluem

numerosas forças em contínua oposição: corporal-espiritual, inocência - reflexão,

natural – artificial, etc. Assim, de um lado encontramos o indivíduo orgânico, instintivo,

regido pelas leis de funcionamento do seu corpo e, do outro, o indivíduo pensante,

intelectualizado, criador de objectos.

Para encontrar a harmonia, o homem precisa que estas forças se encontrem unidas

num todo, em equilíbrio. Sem embargo, na sociedade mecanizada habitada por

Schlemmer o equilíbrio e a unidade destes elementos encontra-se quebrado.

Schlemmer não hesitou em afirmar o poder total da mecanização sobre a vida da sua

época2. Preocupação que se reflectirá em toda a sua obra pois Schlemmer considera

que a arte tem a obrigação de ser imagem do seu tempo e não pode ignorar as

características da sua época (Schlemmer 1999).

Assim, no Kabinett, à direita na pintura, encontramos o “homem máquina”; o homem

em estreita relação com a máquina; indivisível e incorporado a esta: o homem

trabalhador dos tempos modernos que, ao ser mecanizado perdeu o equilíbrio com a

sua natureza orgânica; equilíbrio que precisa de ser reestabelecido na procura da

harmonia.

A união dos elementos enfrentados no mundo, a recuperação do equilíbrio, é,

precisamente, o labor do artista. O qual, a partir da abstracção vai conseguir a3

2 “Marque de notre temps ensuite, la mécanisation, processus inexorable qui s´ empare de tous les domaines de la vie
de l´ art. Tout ce qui peut être mécanisé est mécanisé” (Schlemmer, 1978, 29)
conjunção do natural com o artificial, do sentimento com a razão.

Para Schlemmer, a abstracção é aquele processo através do qual se decompõem os

componentes duma estrutura naturalmente dada (homem orgânico), se reorganizam (o

que pode implicar a duplicação ou abolição de alguma das suas partes) e, finalmente,

se elabora uma estrutura nova; é transformar o que é originalmente dionisiaco em

apolliniano, através do símbolo. Assim, deste processo que parte do natural e chega ao
artificial, que representa o natural mediante o artificial, Schlemmer consegue a união

dos elementos enfrentados. As ferramentas do artista plástico para esta tarefa são as

formas e as cores.

Em consequência, para o pintor, o espaço de desenvolvimento destas forças

enfrentadas é o quadro, o espaço em branco no qual pode introduzir formas as quais

se podem apresentar na sua forma intangível (luz) ou tangível (linha). Em qualquer uma

destas duas formas de representação, como apoio, o artista anexa-lhes cor.

Assim, para obter uma melhor aproximação aos seus objectivos Schlemmer utiliza em

Kabinett a técnica da aguarela sobre papel de calco pois esta permite “colorir a luz,

com tons luminosos e transparentes”,3 característica que se vê acentuada no Kabinett

pelo uso do papel semi-transparente de calco.

Com o mesmo intuito, Schlemmer propugna o uso de formas e cores simples e básicos:

“Partir de l´élémentaire! Partir du pont, de la ligne, de la surface simple, a partir de


la simple oposition de surfaces partir du corps. Partir des coleurs simples,
rouges, bleu, jaune et noir, blanc, gris. Partir des metières, éprouver les
différentes textures du verre, du métal, du bois, etc. et bien les assimiler”
(Schlemmer em Blistene 1999: 262).

3«Il est devenu clair que l´aquarelle, poussée a l´extême, empiete sur le royaunne de la peintura a l´huile qui parait
lourde et épaisse quand par nature elle devrait coller a la lumiere, des tons lumineux et transparents. Venir! ce but qui
reste si loin de moi » (Schlemmer em Diserens 1999: 6)
Nesta procura do elementar, no Kabinett, Schlemmer vai fazer um uso contínuo das

figuras geométricas planas básicas: o triângulo, o quadrado e o círculo para compor a

maior parte das figuras. Igualmente, o seu uso da cor, restringe-se à escala cromática

mais básica.

Neste ponto, é notável a influência da

Escola da Bauhaus na obra de

Schlemmer, pois aquela ordena “d´atribuer

aux formes elementaires du triangle

equilateral, du carre et du cercle, une des

trois coleurs primaires, jaune, rouge et

bleu” (Flocon 1989). Assim mesmo, a Bauhaus atribui a cada uma destas formas um

valor simbólico. Sem embargo, Schlemmer, se bem aceita o poder metafísico destas

figuras e cores, não vai conseguir atribuir-lhes um valor simbólico unívoco como

expressa numa carta dirigida ao seu amigo Otto Meyer:

“Sur le triangle jaune tous les savants sont d´accord; mais sur le reste, non.
Inconsciemment, en tout cas, je fais le cercle toujours rouge, le carré bleu. Je ne
connais pas dans le detail les explications de KANDINSKY; mais
approximativement, le cercle: la chose cosmique, l´absorption, la feminité , la
mollese, le carré: l´actif, la virilité. Mes contre- raisons: le cercle ou la sphere
rouge se manifestent activement dans la nature: le soleil rouge, la pomme (l
´orange) rouge, le cercle rouge dans le verre de vin. Le carre n´est pas dans la
nature (elle travaille a la destruction de la ligne droite, Delacroix), mais aussi un
objet metaphysique dont la couleur est bleue. KANDISNKY batit sur son dogme
tout un edifice pedagogique: toute ligne incurvée, comme partie du cercle est
donc a faire en bleu, tout drit en rouge, toute forme pointue en jaune; variée a l
´infini. Pendant, l´exposé, s´éleve timidement la question: pourquoi? (Schlemmer
1926)” (Flocon 1989).

Então, armado de cores e figuras, Schlemmer vai à tarefa de procurar a estabilidade

dos inumeráveis eventos que se sucedem no mundo e, destes, vai escolher o homem

como o seu protagonista pois considera que o homem é o evento natural mais5
importante que sucede no mundo, o homem é “la mesure de toute chose” (Schlemmer

1978: 32)

Assim, o ser humano transfigurado ocupa um papel quase omnipresente na obra de

Schlemmer, o qual se recusa a enfocar-se na natureza orgânica “I have to keep a tight

rein on my self to prevent impressions of nature from exciting me to painted them –


because I know something better, and feel an inner duty to live for The New ”
(Schlemmer em Eberle, 1944); homem esse que toma posse do Kabinett com a suas

sete figuras de estrutura humana.

Sendo assim, Schlemmer, tendo como ponto de partida as formas básicas vai

transfigurar o homem orgânico, vai desconstruir a sua estrutura dada (cabeça, tronco,

pernas, pés, etc.), criar um novo conjunto e propor novas relações entre os membros.

Schlemmer denomina estas figuras abstractas “formas de expressão metafísicas”; na

construção dum novo conjunto, Schlemmer duplica, elimina, traslada, mistura,

desproporciona, etc. os membros do corpo. Desta maneira, Schlemer no Kabinett

incrusta corpos sem cabeça, corpos com a cabeça na metade do tronco, uma figura

com duas cabeças reflectidas num espelho; e, de perfil, um sujeito de mãos gigantes e

outro com um nariz desproporcionado.

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E, é assim como, ao expressar o natural duma forma artificial, Schlemmer consegue re-

equilibrar as forças contrapostas do mundo. Este processo de abstracção pode levar,

incluso, à desmaterialização do homem, acto que é o máximo contrapeso ao evento

mais orgânico do ser humano: o seu próprio corpo (situação que, talvez aconteceu à

figura no centro-direita, cujo corpo se encontra esfumado, confundido no fundo escuro

da pintura e subsiste, quase, só cabeça, só pensamento, só racionalidade).

Mas Schlemmer não se vai deter nesta conquista, ainda falta um elemento essencial: o

espaço, ao qual Schlemmer lhe vai aplicar linhas geométricas imaginárias e, neste

espaço abstracto vai colocar o seu homem transfigurado. Neste cenário, em

dependência da relação das figuras com as leis do espaço, Schlemmer vai estabelecer

categorias de homens. No Kabinett encontramos o homem-“marioneta,” de figuras

esféricas, regido pelas leis do corpo humano e o homem-cúbico regido pelas leis do

espaço cúbico que o circunda, cujos membros foram substituídos por construções

cúbicas (efeito que, nas suas criações performativas vai lograr pelo intermédio do uso

de figurinos-esculturas que cumprem com as leis do espaço e da figura abstracta).

Sem embargo, apesar do uso de figuras artificiais em espaços abstractos, o homem

Schlemmeriano ainda se encontra atado à força mais omnipresente de todas: a

gravidade que o submete ao chão:

“Mais tous les costumes (de scène) ne sont pas en mesure d´abolir la servitude de
la figure humaine: la loi de la pesanteur à laquelle elle est soumise. (…) Le centre
de gravité ne peut etrê abandonné que pour un instant” (Schlemmer 1978: 36)
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Este momento é então quando voltamos de novo a nossa mirada ao Kabinett: um

espaço negro com sete figuras humanas estampadas. No centro de tudo, no ponto de

foco, pendurada num fino traço, a mais pequena das figuras. Sem embargo,

conscientes do processo Schlemmeriano, vemos à figura com renovados olhos. Agora

resulta evidente que a sua posição tem que ser o foco de atenção da pintura, pois, é

essa pequena figura a única que logra desfazer -se do domínio da gravidade, o poder

mais forte de todos e percebemos então porque foi esse preciso instante e não outro, o

instante ao qual Schlemmer aferrou-se, porque é esse o instante único de equilíbrio e

harmonia que vai ser congelado na pintura pela mão do artista.

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Referencias

Blistene, B. (1999). Du théâtre a la danse ou la quête de soi. . Oskar Schlemmer

C. D.-C. R. Schlemmer. Marseille, Musées de Marseille. Réunion de musées nationaux:

262.

Diserens, C. (1999). L´homme dans l´espace. Une petite introduction a l´artiste et

son ouvre. Oskar Schlemmer. C. D.-C. R. Schlemmer. Marseille., Musées de Marseille.

Réunion de musées nationaux.

Eberle, M. (1944). World War II and the Weimar artists : Dix, Grosz, Beckmann,

Schlemmer. New Heaven, Yale University Press.

Flocon, A. (1989). "Correspondances" des choses aux mots et des mots aux

maux : sept notes d'un peintre-graveur. Inharmoniques. París. 5: 15.

San Martín, F. J. (1954). Un artista poliédrico. Lápiz. Madrid. 130: 9.

Schelemmer, O. (1978) Programme de la première représentation du ballet

triadique. Theatre et Abstraction (l'espace du Bauhaus). Lausanne: L'Age d'Homme.

Schlemmer, O. (1978). L´homme et la figure d´art. Oskar Schlemmer. C. D.-C. R.

Theatre et Abstraction (l'espace du Bauhaus). Lausanne: L'Age d'Homme.


Bibliografia constultada

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Schlemmer, U. J. "Biography." Retrieved Enero, 2011, from

http://www.schlemmer.org/.

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