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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Literatura Portuguesa IV

Prof. Dr. Helder Garmes

Formas de Criação do Eu-Lírico Na Poesia de


Antônio Nobre e Camilo Pessanha.

Marcela Oliveira Machado – 5673949


Dezembro / 2009
“Mas, tende cautela, não vos faça mal.../Que é o livro mais triste que há em
Portugal”. Com estes dois versos, Antônio Nobre oferece aos seus leitores a concepção que
tem sobre o seu livro Só: um livro não apenas triste, mas sim o mais triste de todo Portugal.
De fato, este livro simbolista, no qual os diferentes aspectos de sua constituição, como até
mesmo os espaços em branco deixados propositalmente pelo poeta, foram pensados “em
conjunto para criar uma obra integral, composta de materiais, palavras e idéias” (Fernandes
e Garmes), é formado de diversos poemas que representam um sujeito triste, exilado e
angustiado, que deseja retornar a um passado feliz.
Logo no início do livro, no poema Memória, há o afastamento da mãe, que vai “ali
adiante, à Cova, em berlinda, Antônio, e já volto... E não voltou ainda!” e também do pai;
na parte do livro introduzida pelo nome Antônio, no poema Lusitânia no Bairro Latino, há a
representação de um Lusíada de nome Antônio, que vem de longe, não ama e nem é amado,
que tinha tudo o que precisava e a companhia de pessoas que amava e que, depois, perde
tudo:
“Oliveiras que davam azeite,
Searas que seravam linho de fiar,
Moinhos de vela, como latinhas,
Que São Lourenço fazia andar (...)
Passava a noite, passava o dia
N’aquella doce companhia.
Eram minhas Irmãs e todas puras
E só lhes mingoava a falla
Para serem perfeitas criaturas... (...)
As oliveiras secaram,
Morreram as vaccas, perdi as ovelhas,
Saíram-me os Ladrões, só me deixaram
As velas do moinho... mas rôtas e velhas!”
Vê-se nesta passagem que havia um passado bom do qual o sujeito sente saudades e
há também um presente triste. Há um eu-lírico saudoso daqueles tempos bons e que procura
em vão todos os aqueles elementos que representavam a sua felicidade: “Que é feito de
vocês? Onde estaes, onde estaes?”.
Também nesta primeira parte do livro há o sentimento de solidão mesmo em face à
imensidão do mundo e de angústia diante desta mesma solidão: “Que grande é o Mundo! E
eu só! Que tortura tamanha!” (Á Toa); “Novembro. Só! Meu Deus, que insuportável
Mundo! Ninguém, viv’alma...(...)Que longas horas estas horas!(...) Que hei-de eu fazer?
Dormir, não tenho sono, leva-me a carne a Dor, desgasta-me o perfil. Nada há pior que este
sonâmbulo abandono!” (Ao Canto do Lume).
A partir desta parte, surge uma nova perspectiva do eu-lírico. Agora, há uma
atmosfera mais mórbida e a representação dos aspectos mais íntimos do sujeito, sempre
fechado, “recolhido cada vez mais em espaços de intimidade: a torre, o quarto, a cova”
(Fernandes e Garmes).
Em Males de Anto, na parte 1 denominada A Ares Numa Aldeia, o sujeito conta
como se sentia mal quando chegara aqui (Paris?), sempre atormentado, angustiado, mas que
depois “sentia renascer minha antiga bondade nesta alma que a perdera. Achava-me
melhor”. Entretanto, depois destas primeiras declarações, passa a transmitir novamente sua
angústia, numa espécie de delírio febril, marcada pelos constantes pontos de exclamação:
“(Sossega! Faze por dormir, meu coração! Vai alta a noite...) E o sangue arde-me nestas
veias! Febre a cem graus! (...) Antes não ter nascido. Ó Morte, vem buscar-me... Um lenço
branco Adeus! Nos longes, a acenar-me: Adeus, meu lar! Adeus, minha taça de leite!”.
Nota-se, nesta passagem, a morbidez já mencionada, a vontade de ir-se e dar adeus ao lar
que já está distante.
Na parte 2, denominada Meses Depois, Num Cemitério, Anto hospeda-se no Hotel
da Cova, que lembra o local para onde sua mãe havia ido quando o abandonou. Anto
demonstra a sua ansiedade: “que eu tenho sono, quero-me deitar! Ó velha Morte, minha
outra ama! Para eu dormir, vem dar-me de mamar...”. O coveiro oferece não um quarto,
mas uma vala, onde dormem apenas os desgraçados e Anto aceita hospedar-se ali. Quase no
fim do poema, quando a porta é fechada para que Anto pudesse, enfim, descansar, a mãe de
Anto diz: “Aqui, espero-te, há que tempo enorme! Tens o lugar quentinho...” Observa-se,
finalmente, a relação feita entre o local da morte e o local onde se encontra a mãe, o desejo
de morrer para encontrar um objeto perdido, causa de toda a angústia e tristeza do sujeito e
também a identificação da morte como o retorno aos braços maternos.
Annie Fernandes e Helder Garmes, em seu texto Antônio Nobre, dizem que há um
percurso de um eu-lírico coletivo a um eu-lírico mais intimista no livro Só. O eu-poético “é
definido nos primeiros dois poemas do livro como um exilado e, portanto, predominando o
sentido social e político dessa figura, Antônio caminhará no decorrer do livro para uma
perspectiva mais intimista e existencial de Anto, sem abandonar o sujeito socialmente
definido”. De fato, como já foi dito anteriormente, Antônio foi denominado Lusíada em
Lusitânia no Bairro-Latino, representando toda uma nação em vez de apenas um único
indivíduo; além disso, nas descrições que faz dos elementos passados que lhe
proporcionavam felicidade, há uma enumeração de lembranças e pessoas que representam o
popular de Portugal:
“Terra encantada, cheia de Sol,
Ó campanários, ó Luas-Cheias,
Lavadeira que lavas o lençol(...)
Ó padeirinhas a amassar o pão,
Velhinhas na roca a fiar,
Cabelo todo em corações!
Pescadores a pescar
Com a linha cheia de anzóis!”
Portanto, vê-se que há, de fato, um percurso de um eu-poético coletivo a um eu-
poético mais subjetivo, sem que este último livre-se completamente do primeiro. No livro
Só, de Antônio Nobre, vimos como a concepção simbolista de seu livro ajudou o poeta a
formar um eu-lírico que, embora represente a coletividade e o popular de Portugal,
representa também um sujeito triste, exilado, abandonado pelo pai e pela mãe e desejoso de
poder retornar a sua pátria ou simplesmente a um passado que fora melhor. Vimos também
como o poeta conseguiu fazer com que o seu livro representasse todo um ciclo, partindo de
sua terra natal e do abandono (exílio) e chegando à morte que, embora tenha ocorrido
distante de sua terra natal, permitiu que o sujeito retornasse a ela, a pátria, representada
simbolicamente por sua mãe.
Tomando-se o livro Clepsydra, de Camilo Pessanha, como o livro representante de
sua obra, observa-se um eu-lírico que é, ao mesmo tempo, diferente e semelhante ao eu-
lírico de Antônio Nobre.
No poema Inscrição, Pessanha não demonstra a intenção de dizer que seu livro é o
mais triste de Portugal; entretanto, diz: “Eu vi a luz em um país perdido. A minha alma é
lânguida e inerme. Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído! No chão sumir-se, como faz um
verme...”. Nesta passagem, de modo similar à poesia de Antônio Nobre, pode-se encontrar
também uma relação com o exílio. De fato, Camilo Pessanha, após formar-se em Direito,
foi para Macau, na China, onde exerceu a profissão de professor e sentia imensas saudades
de Portugal. Nos versos mencionados acima, observa-se o sentimento de exílio e perda de
seu país de origem, o que lhe causa falta de energia e languidez e a vontade de sumir-se na
superfície, de ser absorvido pela terra, como um verme.
De fato, estão presentes em todo o livro Clepsydra o sentimento de exílio da pátria e
de saudade, ou nostalgia, como melhor determina Paulo Franchetti em Nostalgia, Exílio e
Melancolia. Tal sentimento está sempre associado à terra, em uma espécie de “metáfora
vegetal”, segundo a qual estar longe da pátria é desenraizar-se, sendo também a pátria a
seiva que oferece aos poetas a inspiração poética.
Em virtude de seu sentimento de exilado, o eu-lírico de Pessanha é um sujeito
esgotado, com perda das referências pessoais, conforme diz Franchetti. Tal sentimento
confere à poesia de Pessanha uma atmosfera fragmentada, a busca pelo enraizamento, “o
desejo de estar morto, guardado no seio da terra recalcada(...); em outro momento, passadas
as tensões, quando chega a ocasião do olvido, o poeta antecipa o prazer ambíguo da
integração com a terra pela morte, quando o corpo finalmente parece poder descansar,
metido num caixão”. (Franchetti, 2001).
O desejo de estar morto já foi demonstrado no poema Inscrição, primeiro poema do
livro. No poema Estátua, tentando decifrar a alma de seu objeto de desejo e curar sua
obsessão por ele, o eu-lírico busca os lábios de sua amada, que era um “entreaberto lábio
gelado...Desse lábio de mármore, discreto, severo como um túmulo fechado, sereno como
um pélago quieto” e, portanto, a pura representação da morte. Em San Gabriel, fazendo
referência aos navegantes portugueses, faz também referência a um presente inglório e
triste e a um passado ao qual se deseja retornar; no entanto, tal passado é representado,
primeiramente, como um passado bom, onde se navegava como sobre estrelas, dulcificados
e envolvidos pelo luar, mas onde fulgem “quietas, as velhas almas namoradas... –Almas
tristes, severas, resignadas, de guerreiros, de santos, de poetas”. Observa-se aqui que,
mesmo retornando ao passado (mesmo retornado à sua terra de origem tão desejada), não se
encontra mais a felicidade e, portanto, há aí o triunfo da melancolia, termo empregado por
Franchetti. Em Ao Longe os Barcos de Flores, há um som de flauta que “só, incessante,
chora(...) –perdida voz que de entre as mais se exila”, que não é ouvido (nem
compreendido) por ninguém: “quem sabe a dor que sem razão deplora?” e que, portanto,
permanece só, incessantemente chorando, o que representa mais uma vez o sentimento de
exílio e solidão do eu-lírico.
Em Olvido, não há apenas o sentimento de esgotamento, mas também o prazer de
ver-se finalmente capaz de morrer e retornar à terra pela morte: “Desce por fim sobre o meu
coração o olvido. (...) Podes, corpo, ir dormir no teu caixão.(...) Dorme enfim sem desejo e
sem saudade das coisas não logradas ou perdidas. O barro que em quimera modelaste
quebrou-se-te nas mãos. Viça uma flor...pôs-lhe o dedo, ei-la murcha sobre a haste... Ias
andar, sempre fugia o chão...”. Observa-se que o poeta já não mostra mais a melancolia
pela não realização de seu desejo de retorno; há, agora, um sentimento de conformismo
perante tudo o que tentou e não conseguiu, tudo o que foi destruído por seu toque e perante
a iminência do que há, enfim, de ocorrer: a morte.
Camilo Pessanha, em Clepsydra, criou um eu-lírico também exilado, também
despedaçado e angustiado, desejoso da morte. Se para Antônio Nobre o exílio se transforma
no sentimento de perda de tudo aquilo que amava (seus pais, seu país) e no desejo de enfim
poder reencontrar tudo isso na morte, para Camilo Pessanha o exílio se transforma em
desenraizamento, no afastamento completo e sem retorno de sua terra natal e, portanto, no
desejo de poder reintegrar-se novamente a esta terra através da morte. Tanto para Antônio
Nobre quanto para Pessanha, o eu-lírico, ao reencontrar sua terra, retorna aos braços de sua
mãe, configurando, portanto, a mãe e a terra materna como uma mesma coisa, equivalendo-
se “no plano simbólico, ocupando a mesma posição paradigmática” (Franchetti, 2001).
Assim, mesmo que os dois poetas tenham passado por diferentes experiências em
suas vidas, pode-se observar que a experiência comum de exílio entre os dois possibilita
uma análise das semelhanças e diferenças que podem ser encontradas na formação de seu
eu-poético.
BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, Annie, GARMES, Helder. “Antônio Nobre” (texto digitado).


FRANCHETTI, Paulo. “Uma poética da nostalgia” e “O triunfo da melancolia”. In:
Nostalgia, exílio e melancolia. São Paulo: Edusp, 2001, p.15-37, p. 97-116.
NOBRE, Antônio. Só. Porto: Edição Caixotim, 2000 (fac-símile 1898, pref. Paula
Mourão).
PESSANHA, Camilo. Clepsydra. [1920] Campinas: Unicamp, 1994 (ed. Crítica de Paulo
Franchetti).
www.mundocultural.com.br/index.asp?
url=http://www.mundocultural.com.br/literatura1/simbolismo/pessanha.htm
pt.wikipedia.org/wiki/António_Pereira_Nobre

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