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HISTÓRIA
Curso / Turma: Educação Básica / 1.º Ano (PL)
Docente: José Carlos Valente
Sumário
A sociedade portuguesa do séc. XIX:
• Antecedentes e conjuntura em Portugal e na Europa;
• Liberalismo e Democracia;
• O Estado e as instituições; os movimentos sociais e o associativismo;
• O Estado Providência;
• Ideologia burguesa, cultura popular e identidade nacional.
Desenvolvimento do sumário
As revoluções liberais e a institucionalização do Liberalismo
Antecedentes gerais
Séc. XVI: Expansão europeia – Encontro com o “outro civilizacional”
Reforma protestante – Pluralismo, individualismo, .............
Da Teologia para a Filosofia; poder divino / Razão / Luzes / Despotismo iluminado
Primórdios da Revolução Industrial (sec. XVIII):
Waterframe / maquinismos em ferro / Máquina a vapor (1781).
Antecedentes (sécs. XVII-XVIII) da institucionalização política do Liberalismo:
• Inglaterra: ideias sistematizadas por Locke; primeira reacção moderna ao
absolutismo; guerra civil 1640-1688; Revolução 1688; Bill of Rights, 1689;
• França: c. 1680: “crise da consciência europeia”; Montesquieu; J. J. Rousseau
(Contrato Social / democracia igualitária); materialistas e enciclopedistas (Diderot; Voltaire,
etc.);
• América do Norte (ex-colónias inglesas): Revolução 1774-1776; Independência e
Declaração de Direitos da Virgínia (1776);
• Tumultos operários em Inglaterra e revolta na Irlanda (1780);
• Revoltas em Genebra (1782), Países Baixos e Províncias Unidas (1786-1789) :
sublevações sociopolíticas inspiradas na ideologia do Iluminismo, mas também por
aspirações nacionais, factores religiosos e clivagens socioeconómicas.
Revolução Francesa (1789) e grandes conceitos do Liberalismo
• Conceitos de Cidadão e de Estado nacional (em vez de súbdito do monarca);
• Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) (depois integrada na
Constituição republicana de 1793): direitos naturais e imprescindíveis; Liberdade, Igualdade
/ Propriedade / Segurança pessoal / resistência à opressão;
• A Nação / Povo, fonte do Poder; soberania da Lei, sob os auspícios do Estado
supremo; ilegitimidade dos corpos intermédios (proibição das corporações);
O Liberalismo pode manifestar-se em áreas distintas: económico; político; intelectual.
EVOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA E DA CONJUNTURA
do Liberalismo (ideologia anti-absolutista, progressista e revolucionária)
(séc. XVIII),
até à luta pela Democracia social, sob o Liberalismo como regime político
institucional (séc. XIX).
ou seja,
• do Liberalismo (séc. XVIII), vontade de libertação dos constrangimentos do poder
incondicionado dos monarcas; libertação do Homem / indivíduo; oposição da liberdade ao
poder ;
passa-se à
• Democracia social / demoliberalismo / social democracia (séc. XIX): apropriação
do próprio poder político pelo povo / classes sociais emergentes (pequena burguesia,
proletariado); reivindicada a crescente participação popular nas instituições (direito de voto,
etc.) e a intervenção social do Estado (Estado Providência).
O Liberalismo e a “questão social” (fase inicial – 1.ª metade do séc. XIX): “Por regra
não compete ao Estado nem ao patronato melhorar a sorte dos operários”;
Perante este conceito, há várias linhas de evolução ao longo do séc. XIX:
• Benemerência / filantropia (iniciativas privadas de inspiração religiosa e também de
alguns patrões;
• Iniciativas do próprio movimento social e operário:
- Mutualismo / associativismo;
- Utopias / autogestão / falanstérios;
- Projectos de reforma do sistema e/ou revolucionários: socialismo / social
democracia; anarquismo; marxismo;
• Intervenção do Estado (forçada pelos movimentos sociais ou antecipando-se...):
legislação social, “seguros sociais obrigatórios”, formas de Estado Previdência;
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A Revolução Industrial
Primórdios (desde meados do séc. XVIII, a convergência de factores no caso
inglês): waterframe (força motriz da água); múltiplas novas máquinas (ferro);
“1.ª Revolução Industrial” (1ª. fase do séc. XIX): carvão + máquina a vapor 1;
concentrações industriais (fiação textil) a partir de Manchester; ao textil e ao carvão,
juntam-se o caminho de ferro 2 e o telégrafo eléctrico (“sectores motores” desta 1ª.
Revolução Industrial);
“2.ª Revolução Industrial” (a partir de 1870): tem como “sectores motores” a
electricidade e o petróleo (motores eléctricos; motor de explosão) bem como a grande
metalurgia e a indústria química.
o Fase liderada pelos EUA que, c. 1880-1890, ultrapassam a Inglaterra.
o Na Europa, a Alemanha, na esteira dos EUA, domina os “sectores motores”
da 2.ª Revolução Industrial).
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P. ex., em 1851, a Sociedade Promotora da Indústria Nacional defende o seu reforço; nos últimos 10 anos, após
a promulgação da Pauta, tinham sido estabelecidas, só em Lisboa, 95 máquinas a vapor, com 509 cv de potência.
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Panorama que só tenderá a modificar-se em a partir de 1913 (obrigatoriedade dos patrões participarem a
ocorrência de acidentes de trabalho) e de 1919 (Lei das 8 horas de trabalho).
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Antecedentes: telegrafia óptica semafórica (1803-1855).
1870-1871: Comuna de Paris; unificações nacionais da Alemanha e da Itália;
1883 (15 Jun.): 1.ª legislação Bismark (Alemanha) de política social;
1889: 2.ª Internacional; dia 1.º de Maio como jornada de luta; reivindicação das 8
horas.
1891 (15 Maio): encíclica Rerum Novarum (Leão XIII), "doutrina social" católica.
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O cortejo cívico de 10 de Junho terá sido o primeiro grande acontecimento apoteótico apostado em cimentar uma
religiosidade cívica centrada à volta de uma nova nostalgia nacional e consensualizadora, ou "a primeira
procissão, que se fazia em Lisboa, sem a cruz alçada nas mãos de um devoto, grosso de carnes e de consciência,
e sem o latim duns reverendos e de coroa luzidia".
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P. ex., a fundação da Associação de Jornalistas e Escritores, do Ateneu Comercial de Lisboa, etc.
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Normas que, no entanto, não tiveram aplicação prática (idade legal para trabalhar: rapazes, 16 anos; raparigas, 21
anos; proibição de trabalhar nas 4 semanas subsequentes ao parto; infantários obrigatórios a menos de 300 m das
fábricas c/mais de 50 mulheres; período diário de amamentação); em 1890 tinha-se reunido em Berlim uma
conferência internacional que formulara sugestões de legislação nestas temáticas.
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Obrigatoriedade de informar as autoridades (gov. civil ou adm. conc.) com antecedência de 24 ou 48 horas.
11
Para o distrito de Santarém, o levantamento de Goodolphim abrange apenas as associações mutualistas. Outras
associações já estariam fundadas, p. ex., a dos Bombeiros Voluntários, desde 29 Outubro 1871 (a segunda mais
antiga desse tipo no País, logo depois dos Voluntários de Lisboa, fundada em 18 Outubro 1868).
Problemática colonial e suas repercussões em Portugal:
• Início da conquista e ocupação francesa da Argélia (1834);
• Início da colonização alemã em África (Namíbia, Golfo da Guiné, costa do Zanzibar);
Conferência de Berlim: “ocupação efectiva”, base da soberania colonial (1884-1885);
• Proclamação da República do Brasil (1889); repercussões em Portugal;
• Ultimatum da Inglaterra a Portugal relativo às pretensões em África (1890);
• Revolta republicana no Porto (31 Janeiro 1891).
O ESTADO PROVIDÊNCIA
Estado Providência [État Providence (Fr., c. 1860 12 ) ≠ Prévoyance]
Estado do Bem Estar [Wohlfahrstaat (Alem., c.1870) = Welfare State (Ingl., 1911-1942)]
Os componentes do conceito geral de Estado Providência formulam-se e desenvolvem-se
ao longo do séc. XIX (até meados do séc. XX) e não se podem confundir com duas
outras áreas:
a Assistência Social 13: obras de caridade, Misericórdias, etc., prolongando instituições
privadas anteriores aos regimes liberais; depois, também alguns serviços oficiais de
coordenação da Beneficência, e de extinção / repressão da mendicidade14;
o "Estado higienista" 15: trata-se, essencialmente, de saúde preventiva e de "polícia
sanitária", uma protecção social da saúde de carácter geral e reflexo16, visando, p. ex.: a
educação sanitária da população; o saneamento do meio ambiente; a higiene materno-
infantil; a higiene mental; a profilaxia das doenças contagiosas; a defesa sanitária das
fronteiras; a hidrologia médica e as estações balneares, etc.17.
12
Cf. Émille Ollivier, in Commentaire de la loi du 25 mai 1864 sur les coalitions, Paris, 1864; Émile Laurent, Le
pauperisme et les Associations de prévoyance, Paris, 1865; e também, na acepção de Providencialismo, P.-J.
Proudhon, in De la capacité politique des classes ouvrières, obra terminada em 1865.
13
Área em cuja organização estatal sistemática a Inglaterra é pioneira: o estatuto de 1601 (old poor law); o
sistema Speenhamland de 1795; o Poor Law Amendment Act de 1834. A par destas medidas governamentais,
multiplicam-se as friendly societies e variadas formas mutualismo operário.
14
Em Portugal: Conselho Geral de Beneficência (1835); Repart. Benficência / Cons. Sup. Benefic. Públ. (1901).
15
Para além dos serviços públicos de saúde de acção curativa que, em Portugal e no séc. XIX, se reduzem ao
Hospital de S. José, em Lisboa (separado da Misericórdia em 1851), e os Hospitais [da Faculdade de Medicina] da
Universidade de Coimbra.
16
Das medidas tomadas resultam vantagens para a colectividade, beneficiando apenas indirectamente o cidadão
individualmente considerado, pois a este não é reconhecido o direito de exigir prestações concretas de saúde.
17
A criação efectiva de serviços públicos adequados a tais objectivos teve lugar ao longo de todo o séc. XIX e,
pelo menos, até às três primeiras décadas do séc. XX. Os conceitos de "higienismo" e de "profilaxia social"
também se relacionam com a questão da defesa e apuramento da "raça nacional" perante os perigos de
"decadência" resultantes das condições de vida industrial e urbana da época, e repercutem, ainda, os avanços
científicos com aplicação na saúde pública, de que é expoente, p. ex., no séc. XIX, a pasteurização de bebidas e
alimentos (Louis Pasteur, c.1860) e, no início do séc. XX, a descoberta da penicilina (Alexander Fleming, 1922).
ou seja, um sistema completo de garantias – asseguradas sob tutela do Estado -
destinadas a prevenir os trabalhadores contra um certo número de riscos sociais e,
em geral, todas as formas de miséria.
29
Acidentes de trabalho / "reformas operárias e camponesas" / segurança social geral; 1958: seguro-desemprego.
30
Seguros de desemprego.
31
Assistência aos idosos / seguros de doença, desemprego, e invalidez / pensões a viúvas e órfãos.
32
Na Europa ocidental, constituirá o modelo mais elaborado de Estado Providência até à crise de 1973.
33
P. ex.: Georg Heinrich Pertz (ed.), Monumenta Germaniæ Historica. 1826-1876. 20 v. (mais de 100 vols. publ. até 1925).
• Grandes músicos, como Béla Bartók e Franz Liszt, viriam a inspirar-se nas tradições
musicais camponesas para criar músicas nacionais, rapsódias, etc.
• Exibições identitárias: exposição / exibição de trajes durante as exposições universais /
internacionais; museus etnográficos nacionais, forma de "museus patrióticos".
• Surge o conceito de "arte popular" (contraponto do maquinismo; criação versus
repetição). O artesanato é considerado elemento importante da arte nacional.
• A criação dos novos Estados obriga-os a dotarem-se de uma arte decorativa nacional,
nomeadamente nas moedas e notas de banco, nos selos de correio.
• A transmissão da mensagem nacionalista à população passa pela Escola, através de
programas de Língua, História, Geografia, etc. Mas, outras formas de integração são
desenvolvidas: associações de ginástica e desportivas, de cicloturismo, etc.; no final do séc.
XIX, os Jogos Olímpicos ...
• Turismo e "consumo identitário": inventam-se festas para atracção turística, fabricação de
artesanato, "souvenirs"...
Cf. sintetisa, A. M. Thiesse 34, no início do séc. XX, os elementos principais da check-
list identitária estão claramente estabelecidos, o que permite que nações recém formadas
depressa recuperem o seu "atraso".
Para a maioria das nações europeias,
• os antepassados estão identificados,
• a língua nacional fixada,
• a História nacional escrita e ilustrada,
• a paisagem descrita e pintada,
• o folclore representado em museus,
• as músicas nacionais compostas.
O resto é sobretudo uma questão de densificação e vulgarização:
a construção da identidade entra, então, na era da cultura de massas.
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34
A criação das identidades nacionais (...). Lx.: Temas e Debates, 2000; p. 222.
• Leite de Vasconcelos:
• Revista Lusitana (1889);
• fundução do Museu Etnológico Português (1893);
• Religiões da Lusitânia (1897-1913);
• J. Vianna da Motta,
• sinfonia À Pátria (1894);
• obra coral sinfónica Invocação dos Lusíadas (1897).
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Bibliografia
Para estudos mais detalhados do séc. XIX em Portugal, pode também utilizar-se: