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ESES - 2010 / 2011 - 1.º sem.

HISTÓRIA
Curso / Turma: Educação Básica / 1.º Ano (PL)
Docente: José Carlos Valente

Aula n.º 03  14 de Outubro de 2010

Sumário
A sociedade portuguesa do séc. XIX:
• Antecedentes e conjuntura em Portugal e na Europa;
• Liberalismo e Democracia;
• O Estado e as instituições; os movimentos sociais e o associativismo;
• O Estado Providência;
• Ideologia burguesa, cultura popular e identidade nacional.

Desenvolvimento do sumário
As revoluções liberais e a institucionalização do Liberalismo

Antecedentes gerais
 Séc. XVI: Expansão europeia – Encontro com o “outro civilizacional”
Reforma protestante – Pluralismo, individualismo, .............
 Da Teologia para a Filosofia; poder divino / Razão / Luzes / Despotismo iluminado
 Primórdios da Revolução Industrial (sec. XVIII):
 Waterframe / maquinismos em ferro / Máquina a vapor (1781).
Antecedentes (sécs. XVII-XVIII) da institucionalização política do Liberalismo:
• Inglaterra: ideias sistematizadas por Locke; primeira reacção moderna ao
absolutismo; guerra civil 1640-1688; Revolução 1688; Bill of Rights, 1689;
• França: c. 1680: “crise da consciência europeia”; Montesquieu; J. J. Rousseau
(Contrato Social / democracia igualitária); materialistas e enciclopedistas (Diderot; Voltaire,
etc.);
• América do Norte (ex-colónias inglesas): Revolução 1774-1776; Independência e
Declaração de Direitos da Virgínia (1776);
• Tumultos operários em Inglaterra e revolta na Irlanda (1780);
• Revoltas em Genebra (1782), Países Baixos e Províncias Unidas (1786-1789) :
sublevações sociopolíticas inspiradas na ideologia do Iluminismo, mas também por
aspirações nacionais, factores religiosos e clivagens socioeconómicas.
Revolução Francesa (1789) e grandes conceitos do Liberalismo
• Conceitos de Cidadão e de Estado nacional (em vez de súbdito do monarca);
• Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) (depois integrada na
Constituição republicana de 1793): direitos naturais e imprescindíveis; Liberdade, Igualdade
/ Propriedade / Segurança pessoal / resistência à opressão;
• A Nação / Povo, fonte do Poder; soberania da Lei, sob os auspícios do Estado
supremo; ilegitimidade dos corpos intermédios (proibição das corporações);
O Liberalismo pode manifestar-se em áreas distintas: económico; político; intelectual.
EVOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA E DA CONJUNTURA
 do Liberalismo (ideologia anti-absolutista, progressista e revolucionária)
(séc. XVIII),
 até à luta pela Democracia social, sob o Liberalismo como regime político
institucional (séc. XIX).
ou seja,
• do Liberalismo (séc. XVIII), vontade de libertação dos constrangimentos do poder
incondicionado dos monarcas; libertação do Homem / indivíduo; oposição da liberdade ao
poder ;
passa-se à
• Democracia social / demoliberalismo / social democracia (séc. XIX): apropriação
do próprio poder político pelo povo / classes sociais emergentes (pequena burguesia,
proletariado); reivindicada a crescente participação popular nas instituições (direito de voto,
etc.) e a intervenção social do Estado (Estado Providência).

 O Liberalismo e a “questão social” (fase inicial – 1.ª metade do séc. XIX): “Por regra
não compete ao Estado nem ao patronato melhorar a sorte dos operários”;
Perante este conceito, há várias linhas de evolução ao longo do séc. XIX:
• Benemerência / filantropia (iniciativas privadas de inspiração religiosa e também de
alguns patrões;
• Iniciativas do próprio movimento social e operário:
- Mutualismo / associativismo;
- Utopias / autogestão / falanstérios;
- Projectos de reforma do sistema e/ou revolucionários: socialismo / social
democracia; anarquismo; marxismo;
• Intervenção do Estado (forçada pelos movimentos sociais ou antecipando-se...):
legislação social, “seguros sociais obrigatórios”, formas de Estado Previdência;
_________________________________

Antecedentes do Liberalismo específicos do caso de Portugal:


Últimos compromissos e acontecimentos sob a monarquia absoluta:
 1793: Portugal participa na 1.ª Coligação europeia contra a República francesa;
 1795-1801: conflito luso-espanhol derivado das alianças europeias perante a
França;
 1807 / 1809 / 1810: invasões francesas; família real portuguesa no Brasil;
 1815: fim do Império napoleónico; Congresso de Viena; regresso a Portugal de
Gomes Freire; controlo de Portugal pela Inglaterra (Beresford); execução de Gomes Freire
(1817); conspiração do Sinédrio (Porto);
 1820 (24 de Agosto): Revolução Liberal (iniciada no Porto).
A obra das Cortes de 1821: Ensino, Liberdade de Imprensa, cerceamento dos privilégios
senhoriais e eclesiásticos, etc.
 Não há jacobinos nem sans coulottes em escala comparável à da Revolução
Francesa.
 Não faltam teóricos: contactos entre a burguesia esclarecida portuguesa e ss
enciclopedistas franceses ou os economistas e teóricos ingleses.
 Mas faltam condições objectivas nas contradições sociais; por isso, a pequena
burguesia não chega a aliar-se às camadas mais populares.

 A República (1910-1926) será o prolongamento histórico do liberalismo,


em crise desde o final do século XIX (c.1890); a tentativa de viabilizar / regenerar o
sistema demoliberal, sob forma de regime republicano.

A Revolução Industrial
 Primórdios (desde meados do séc. XVIII, a convergência de factores no caso
inglês): waterframe (força motriz da água); múltiplas novas máquinas (ferro);
 “1.ª Revolução Industrial” (1ª. fase do séc. XIX): carvão + máquina a vapor 1;
concentrações industriais (fiação textil) a partir de Manchester; ao textil e ao carvão,
juntam-se o caminho de ferro 2 e o telégrafo eléctrico (“sectores motores” desta 1ª.
Revolução Industrial);
 “2.ª Revolução Industrial” (a partir de 1870): tem como “sectores motores” a
electricidade e o petróleo (motores eléctricos; motor de explosão) bem como a grande
metalurgia e a indústria química.
o Fase liderada pelos EUA que, c. 1880-1890, ultrapassam a Inglaterra.
o Na Europa, a Alemanha, na esteira dos EUA, domina os “sectores motores”
da 2.ª Revolução Industrial).

Consequências sociais do desenvolvimento das unidades fabris nos sécs. XVIII-XIX:


 Características das instalações mecânicas: grande dimensão relativa, proximidade
das fontes de força motriz (água; máquina a vapor);
 Mão-de-obra intensiva; grande carência de regulamentação de condições de
trabalho e de higiene e segurança;
 Crescimento desordenado das concentrações urbanas (s/condições de sanidade);
 As grandes transformações sociais e mentais:
o do artesão, ou mesmo do camponês (ex-servo senhorial),
o para o proletário (a quem só resta vender a sua força de trabalho).

A sociedade do séc. XIX e os conceitos de liberdade e direitos individuais


 O modelo político liberal (concebido para regular as relações entre indivíduos
livres, independentes e iguais) difundido na Europa pela Revolução Francesa e
pelo posterior expansionismo militar napoleónico, vai confrontar-se (no
contexto da Revolução Industrial) com uma realidade bem diversa: a
emergência, pauperização e subalternização de uma nova categoria social: o
proletariado ou a classe operária.
 O surto de revoluções europeias de 1848 – a Primavera dos Povos – constitui o
primeiro grande acontecimento político e social gerado pelos malefícios da revolução
industrial, e procura introduzir na democracia liberal a preocupação pela questão social.
 Apesar da implantação de algumas medidas precursoras, nomeadamente as
reformas sociais de Bismark (1883-1889), o único texto constitucional do séc. XIX que toma
em consideração os efeitos económicos e sociais da industrialização será a Constituição da
Confederação Helvética (1874) 3.

Alguns tópicos político institucionais do caso português

 1822: independência do Brasil;


 Guerra civil: liberais versus absolutistas (D. Pedro v. D. Miguel);
 1834 (28 Mai.): supressão das ordens religiosas;
 1836 (8 Set.): Revolução; setembristas versus cartistas; extinção das corporações;
1
Invenção de 1781 (James Watt)
2
1825: Inglaterra; 1835: Bélgica e Alemanha; 1837: França; 1838: Rússia.
3
Só depois da Grande Guerra (1914-1918), são introduzidas disposições de ordem económica e social nas
constituições de vários países, com destaque para a República de Weimar (Alemanha)(1919).
 1846-1847: revoltas populares Maria da Fonte e Patuleia;
 1849-1851: Sá da Bandeira / Duque de Saldanha / Regeneração;
 c. 1852: início do fontismo (modernização liderada por Fontes Pereira de Melo.

A indústria moderna em Portugal


 A indústria moderna só se estabelece e progride regularmente em Portugal, a partir
de 1836, depois de terminada a guerra civil.
 O proteccionismo das pautas aduaneiras 4.
 Desde meados do séc. XIX é esmagado um conjunto de actividades artesanais; a
industrialização começa a concentrar-se em Lisboa / Barreiro / Setúbal e Porto /
Guimarães.
 Dentro da modéstia das condições portuguesas, a indústria nacional conheceu
condições d trabalho tão terríveis como nos países europeus mais desenvolvidos 5.

Indústria e sociedade no Portugal oitocentista


A máquina a vapor (para fins industriais):
• 1.ª tentativa (frustrada) de instalação em 1817; 1ª. instalação efectiva em 1835.
• Utilizada na navegação: do Tejo (1821); na cabotagem entre Lisboa e Porto (1823).
Uniformização do sistema de medidas (1852).
Serviço público de Correios (com regularidade e utilizando selos) (1853)
O caminho de ferro
• Iniciada a rede em 1856 (Lisboa-Carregado) (governo de Fontes Pereira de Melo);
ligação com Espanha e Linha do Norte (1863-1864);
• Repercussões sociais: novas localidades (p. ex., Entroncamento, Pinhal Novo, etc.);
• Repercussões culturais: reacções de Almeida Garrett e Alexandre Herculano; a
penetração da febre moderna em Portugal; circulação de informação, política, filosofia,
notícias, livros, literatura, modas, etc.;
• Repercussões na noção mental de velocidade.
A telegrafia eléctrica 6 (e o telefone)
• 1856-1857: inauguração da rede do Estado e da rede pública; ligação à Espanha;
• 1870: ligação com Inglaterra e Gibraltar;
• 1871: início do cabo submarino (para a Madeira, Cabo Verde e Brasil);
• 1878: completa-se a cobertura do País;
• Na década de 1880, inaugura-se o telefone em Lisboa e no Porto e, em 1903-1904,
a rede para o resto do País.

Conjuntura na Europa da segunda metade do séc. XIX


Alguns tópicos mais significativos de uma evolução politico social
 1846 (9 Nov.): encíclica Qui Pluribus (Pio IX) contra o liberalismo e o racionalismo;
 1848: Marx / Engels: Manifesto do Partido Comunista;
 1848: vaga de revoluções na Europa (França, Alemanha, Itália, Austria, Polónia ...);
 1864: Associação Internacional de Trabalhadores (1.ª Internacional)
 1868: Revolução espanhola;

4
P. ex., em 1851, a Sociedade Promotora da Indústria Nacional defende o seu reforço; nos últimos 10 anos, após
a promulgação da Pauta, tinham sido estabelecidas, só em Lisboa, 95 máquinas a vapor, com 509 cv de potência.
5
Panorama que só tenderá a modificar-se em a partir de 1913 (obrigatoriedade dos patrões participarem a
ocorrência de acidentes de trabalho) e de 1919 (Lei das 8 horas de trabalho).
6
Antecedentes: telegrafia óptica semafórica (1803-1855).
 1870-1871: Comuna de Paris; unificações nacionais da Alemanha e da Itália;
 1883 (15 Jun.): 1.ª legislação Bismark (Alemanha) de política social;
 1889: 2.ª Internacional; dia 1.º de Maio como jornada de luta; reivindicação das 8
horas.
 1891 (15 Maio): encíclica Rerum Novarum (Leão XIII), "doutrina social" católica.

Associativismo e movimento operário e popular em Portugal (1834-1899)


• Sociedade das Casas da Infância Desvalida (1834);
• Jornal O Eco dos Operários (1850);
• Primeira greve em Portugal (1852);
• Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Trabalhadoras (1853);
• 1.ª Conferência Vicentina portuguesa [Sociedade de S. Vicente de Paulo](1859);
• Partido Republicano Português (1873);
• Partido dos Operários Socialistas Portugueses (Partido Socialista Português)(1875);
• III Centenário de Camões: oportunidade de propaganda republicana, e de grande
dinamização cívica 7 e associativa 8 (1880);
• Congresso das Associações de Socorros Mútuos (Lisboa, 1890);
• Legislação sobre associações de socorros mútuos (ASM) (1890-1891);
• Lei das Associações de Classe (9 Maio 1891);
• Congressos de associações de classe (em Lisboa e no Porto) (1892);
• Alguma regulamentação sobre condições de trabalho (16 Mar. 1893) 9;
• Limitações da liberdade de reunião (Julho 1893) 10;
• Congresso Cooperativista (Lisboa, Janeiro 1894);
• Congresso Nacional das Associações de Classe (Lisboa / Porto, Abril-Maio 1894);
• Fundação do primeiro Círculo Católico de Operários (Porto, 1898);
• Nova legislação sobre ASM (1896-1899).
Associações no distrito de Santarém 11
(cf. Costa Goodolphim, A Associação, 1876)
Local Fund. Sóc.
Abrantes Sociedade Filantrópica Abrantina 1856 690
Alpiarça Montepio de Nossa Senhora do Rosário 1872 50
Chamusca Montepio Artístico de São Brás 1873 60
Salvaterra Montepio do Senhor Jesus das Almas 1872 100
Santarém Montepio Artístico 1854 200
Montepio de Santarém (Bairro Alto) 1859 150
Montepio Geral de Nossa Senhora do Carmo 1870 160
Montepio de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira 1863 100
Tomar Montepio de Nossa Senhora da Piedade 1858 180
Montepio de Nossa Senhora da Conceição 1862 100
Torres Novas Montepio de Nossa Senhora da Nazaré 1862 130

7
O cortejo cívico de 10 de Junho terá sido o primeiro grande acontecimento apoteótico apostado em cimentar uma
religiosidade cívica centrada à volta de uma nova nostalgia nacional e consensualizadora, ou "a primeira
procissão, que se fazia em Lisboa, sem a cruz alçada nas mãos de um devoto, grosso de carnes e de consciência,
e sem o latim duns reverendos e de coroa luzidia".
8
P. ex., a fundação da Associação de Jornalistas e Escritores, do Ateneu Comercial de Lisboa, etc.
9
Normas que, no entanto, não tiveram aplicação prática (idade legal para trabalhar: rapazes, 16 anos; raparigas, 21
anos; proibição de trabalhar nas 4 semanas subsequentes ao parto; infantários obrigatórios a menos de 300 m das
fábricas c/mais de 50 mulheres; período diário de amamentação); em 1890 tinha-se reunido em Berlim uma
conferência internacional que formulara sugestões de legislação nestas temáticas.
10
Obrigatoriedade de informar as autoridades (gov. civil ou adm. conc.) com antecedência de 24 ou 48 horas.
11
Para o distrito de Santarém, o levantamento de Goodolphim abrange apenas as associações mutualistas. Outras
associações já estariam fundadas, p. ex., a dos Bombeiros Voluntários, desde 29 Outubro 1871 (a segunda mais
antiga desse tipo no País, logo depois dos Voluntários de Lisboa, fundada em 18 Outubro 1868).
Problemática colonial e suas repercussões em Portugal:
• Início da conquista e ocupação francesa da Argélia (1834);
• Início da colonização alemã em África (Namíbia, Golfo da Guiné, costa do Zanzibar);
Conferência de Berlim: “ocupação efectiva”, base da soberania colonial (1884-1885);
• Proclamação da República do Brasil (1889); repercussões em Portugal;
• Ultimatum da Inglaterra a Portugal relativo às pretensões em África (1890);
• Revolta republicana no Porto (31 Janeiro 1891).

O ESTADO PROVIDÊNCIA
Estado Providência [État Providence (Fr., c. 1860 12 ) ≠ Prévoyance]
Estado do Bem Estar [Wohlfahrstaat (Alem., c.1870) = Welfare State (Ingl., 1911-1942)]
Os componentes do conceito geral de Estado Providência formulam-se e desenvolvem-se
ao longo do séc. XIX (até meados do séc. XX) e não se podem confundir com duas
outras áreas:
a Assistência Social 13: obras de caridade, Misericórdias, etc., prolongando instituições
privadas anteriores aos regimes liberais; depois, também alguns serviços oficiais de
coordenação da Beneficência, e de extinção / repressão da mendicidade14;
o "Estado higienista" 15: trata-se, essencialmente, de saúde preventiva e de "polícia
sanitária", uma protecção social da saúde de carácter geral e reflexo16, visando, p. ex.: a
educação sanitária da população; o saneamento do meio ambiente; a higiene materno-
infantil; a higiene mental; a profilaxia das doenças contagiosas; a defesa sanitária das
fronteiras; a hidrologia médica e as estações balneares, etc.17.

Os campos de materialização do Estado Providência, no contexto da Revolução Industrial,


correspondem :
• aos objectivos de variadas iniciativas
o tanto de mutualismo operário
o como de paternalismo patronal,
• aos direitos reivindicados por movimentos sociais e políticos, reformistas ou
revolucionários, nomeadamente,
o garantias de apoio em caso de acidente de trabalho ou doença;
o subsistência na reforma por velhice ou invalidez;

12
Cf. Émille Ollivier, in Commentaire de la loi du 25 mai 1864 sur les coalitions, Paris, 1864; Émile Laurent, Le
pauperisme et les Associations de prévoyance, Paris, 1865; e também, na acepção de Providencialismo, P.-J.
Proudhon, in De la capacité politique des classes ouvrières, obra terminada em 1865.
13
Área em cuja organização estatal sistemática a Inglaterra é pioneira: o estatuto de 1601 (old poor law); o
sistema Speenhamland de 1795; o Poor Law Amendment Act de 1834. A par destas medidas governamentais,
multiplicam-se as friendly societies e variadas formas mutualismo operário.
14
Em Portugal: Conselho Geral de Beneficência (1835); Repart. Benficência / Cons. Sup. Benefic. Públ. (1901).
15
Para além dos serviços públicos de saúde de acção curativa que, em Portugal e no séc. XIX, se reduzem ao
Hospital de S. José, em Lisboa (separado da Misericórdia em 1851), e os Hospitais [da Faculdade de Medicina] da
Universidade de Coimbra.
16
Das medidas tomadas resultam vantagens para a colectividade, beneficiando apenas indirectamente o cidadão
individualmente considerado, pois a este não é reconhecido o direito de exigir prestações concretas de saúde.
17
A criação efectiva de serviços públicos adequados a tais objectivos teve lugar ao longo de todo o séc. XIX e,
pelo menos, até às três primeiras décadas do séc. XX. Os conceitos de "higienismo" e de "profilaxia social"
também se relacionam com a questão da defesa e apuramento da "raça nacional" perante os perigos de
"decadência" resultantes das condições de vida industrial e urbana da época, e repercutem, ainda, os avanços
científicos com aplicação na saúde pública, de que é expoente, p. ex., no séc. XIX, a pasteurização de bebidas e
alimentos (Louis Pasteur, c.1860) e, no início do séc. XX, a descoberta da penicilina (Alexander Fleming, 1922).
ou seja, um sistema completo de garantias – asseguradas sob tutela do Estado -
destinadas a prevenir os trabalhadores contra um certo número de riscos sociais e,
em geral, todas as formas de miséria.

As "leis sociais de Bismarck" (o contexto de uma iniciativa pioneira):


 a grande força do movimento operário e do partido social democrata alemão;
 o objectivo de neutralizar essa ameaça, com medidas sociais, em conformidade com
as reivindicações de sectores moderados / reformistas da sociedade alemã.
Assim, devem entender-se os antecedentes das célebres leis de 1883-1889:
• 1871: logo no início da unificação alemã 18, é formulado o princípio legal da
responsabilização do patronato nos acidentes de trabalho industriais 19;
• 1872: o manifesto de Eisenach, num congresso de profissões intelectuais 20
declara guerra ao liberalismo da “escola inglesa de Manchester” e funda a Associação para
a Política Social (Verein fűr Sozialpolitik) 21;
• 1878: o partido social democrata é proibido, apreendidos os seus jornais e
presos os principais dirigentes;
• 1881: o Parlamento aprova o princípio do sistema de seguro obrigatório.
É neste contexto que, ao longo dos anos oitenta, são aprovadas três leis 22:
 1883: seguro de doença 23;
 1884: acidentes de trabalho; desenvolvendo o princípio aprovado em 1881 24;
 1889: seguro de velhice / invalidez 25.
Os objectivos políticos de Bismarck 26, porém, não foram plenamente atingidos: as
correntes radicais do movimento operário criticaram bastante aquelas reformas sociais,
consideradas como forma de desviar o proletariado dos objectivos revolucionários.
No início do séc. XX, as tragédias humanas e a crise económica resultantes da I Guerra
Mundial serão factores decisivos da extensão e aperfeiçoamento do Estado Providência.
Outros marcos históricos do Estado Providência nos séculos XIX-XX
 Áustria / Hungria (1881 / 1907) 27;
 Noruega (1894 / 1909 / 1936 28);
18
Consumada (sob hegemonia da Prússia), durante a guerra franco-prussiana (e a Comuna de Paris) de 1870-71.
19
Medida que só teve equivalente na Inglaterra e na França, respectivamente em 1897 e 1898.
20
Professores, economistas, juristas e funcionários - apelidados, por isso, de "socialistas de cátedra" pelos
adversários das suas propostas.
21
No manifesto de Eisenach, considera-se que o Estado deve ser um "grande mestre moral da humanidade" e
aponta-se-lhe que "obtenha a participação de uma fracção cada vez mais numerosa do nosso povo em todos os
bens elevados da civilização".
22
Leis que virão a ser codificadas e generalizadas pelo Código dos Seguros Sociais de 1911.
23
Inicialmente só para os operários industriais de rendimento anual inferior a 2000 marcos, estende-se, em 1885-
86, à maior parte dos assalariados, incluíndo os agrícolas; as quotizações são em 2/3 suportadas pelos
trabalhadores e em 1/3 pelos empregadores; estes seguros são geridos por instituições autónomas, onde os
trabalhadores, segundo a mesma proporção, têm a maioria: Caixas de empresa, Caixas profissionais e Caixas
comunais. A classe operária passa a gerir um importante património colectivo, experiência histórica fundamental
para a social democracia alemã.
24
Os patrões são obrigados a quotizar-se em caixas corporativas para cobrir as formas de invalidez permanente
resultantes de acidente de trabalho. Em caso de incapacidade total, é pago ao operário 66,6% do salário; em caso
de morte, a viúva recebe uma renda de 20% acrescida de 15% por cada filho com menos de 15 anos (até ao
máximo de 60%).
25
Institui um primeiro sistema obrigatório de reformas, através de Caixas sustentadas em partes iguais por
trabalhadores e patrões.
26
"Os senhores democratas bem podem desaparecer quando o povo se aperceber de que os príncipes se
preocupam com o seu bem estar" (Otto von Bismarck, Memórias).
27
Seguros de doença, seguindo o sistema alemão.
28
Acidentes de trabalho / doença / seguros de velhice.
 França (1898 / 1910 / 1946) 29;
 Alemanha (República de Weimar) (1927 30); Portugal e Espanha (1919);
 Estados Unidos, 1935: Roosevelt, Social Security Act (velhice e desemprego).
 Grã Bretanha (1908 / 1911 / 1925 31);
 Grã Bretanha, 1942 (no contexto da II Guerra Mundial): Plano Beveridge 32.

AS IDENTIDADES NACIONAIS (NA EUROPA E EM PORTUGAL)


As identidades nacionais não são dados espontâneos, mas autênticas "construções" tendo
como elementos de base os antepassados fundadores, uma História, uma língua,
monumentos, paisagens, folclore, etc.
A sua edificação foi uma grande obra comum empreendida na Europa nos últimos dois
séculos, tendo o militantismo patriótico e as trocas transnacionais de ideias e de experiências,
criado identidades muito específicas mas similares na sua diferença.
Forma de organização política estreitamente ligada ao desenvolvimento do capitalismo
industrial, o conceito de Nação legitimou-se no culto da tradição e na fidelidade a uma
herança colectiva, fazendo com que a entrada na modernidade fosse acompanhada pela
exaltação do arcaísmo.
A fabricação cultural das nações europeias passou pela invenção das epopeias bárbaras,
pela elaboração das línguas nacionais, de paisagens emblemáticas e de costumes típicos,
pelas recolhas de elementos etnográficos e concepção de museus de etnografia.
O estudo desta problemática tem interesse acrescido pelas actuais circunstâncias de crise do
conceito de estado nação e, portanto de cultura nacional, em proveito de uma tendencial
globalização de conteúdos culturais.
Tópicos de desenvolvimento destes conteúdos:
• A Europa das Nações e a identificação dos antepassados.
• Transição da "cultura única", aristocrática, do séc. XVIII, de hegemonia francesa, para as
várias "autenticidades" nacionais e de raiz popular.
• A descoberta de populações exóticas no decurso das explorações do séc. XVIII, forneceu
modelo aplicável à observação de populações rurais europeias.
• Também algumas autoridades imperiais (p. ex., da França napoleónica no Norte da Itália)
lançaram inquéritos para melhor conhecer as populações sob o seu controlo (dialectos,
descrição de habitações, etc.). Na Índia, os colonialistas britânicos apoiam estudos que vão
descobrir o sanscrito fundamentando a caracterização de uma família comum indo-europeia.
• Tomada de consciência da unidade cultural de cada Nação, concebida como meio de
defesa e de resistência da Pátria, nomeadamente contra as campanhas militares
napoleónicas.
• Uma Nação, uma língua: a fabricação das línguas nacionais.
• Histórias nacionais (33) / romance histórico.
• Teatro também foi objecto de nacionalismo, através da instituição de Teatros Nacionais.
• Monumentos históricos / conceito de património.
• Folclore: no início do processo de criação das identidades nacionais, o povo camponês é
concebido como guardião dos vestígios da tradição antiga. Depois, acaba por simbolizar a
perenidade da Nação, o seu carácter imutável. Os folcloristas descrevem os camponeses -
por oposição ao proletariado urbano - como homens livres e felizes, repletos de sabedoria. Da
recolha de canções populares, passa-se a das tradições, sem deixar de recorrer à invenção.

29
Acidentes de trabalho / "reformas operárias e camponesas" / segurança social geral; 1958: seguro-desemprego.
30
Seguros de desemprego.
31
Assistência aos idosos / seguros de doença, desemprego, e invalidez / pensões a viúvas e órfãos.
32
Na Europa ocidental, constituirá o modelo mais elaborado de Estado Providência até à crise de 1973.
33
P. ex.: Georg Heinrich Pertz (ed.), Monumenta Germaniæ Historica. 1826-1876. 20 v. (mais de 100 vols. publ. até 1925).
• Grandes músicos, como Béla Bartók e Franz Liszt, viriam a inspirar-se nas tradições
musicais camponesas para criar músicas nacionais, rapsódias, etc.
• Exibições identitárias: exposição / exibição de trajes durante as exposições universais /
internacionais; museus etnográficos nacionais, forma de "museus patrióticos".
• Surge o conceito de "arte popular" (contraponto do maquinismo; criação versus
repetição). O artesanato é considerado elemento importante da arte nacional.
• A criação dos novos Estados obriga-os a dotarem-se de uma arte decorativa nacional,
nomeadamente nas moedas e notas de banco, nos selos de correio.
• A transmissão da mensagem nacionalista à população passa pela Escola, através de
programas de Língua, História, Geografia, etc. Mas, outras formas de integração são
desenvolvidas: associações de ginástica e desportivas, de cicloturismo, etc.; no final do séc.
XIX, os Jogos Olímpicos ...
• Turismo e "consumo identitário": inventam-se festas para atracção turística, fabricação de
artesanato, "souvenirs"...

Cf. sintetisa, A. M. Thiesse 34, no início do séc. XX, os elementos principais da check-
list identitária estão claramente estabelecidos, o que permite que nações recém formadas
depressa recuperem o seu "atraso".
Para a maioria das nações europeias,
• os antepassados estão identificados,
• a língua nacional fixada,
• a História nacional escrita e ilustrada,
• a paisagem descrita e pintada,
• o folclore representado em museus,
• as músicas nacionais compostas.
O resto é sobretudo uma questão de densificação e vulgarização:
a construção da identidade entra, então, na era da cultura de massas.
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Alguns exemplos em Portugal, do processo de criação da "identidade nacional"

• Almeida Garrett: fundação do Conservatório Nacional e do Teatro Nacional (actual D.


Maria II) (1836-1846);
• Alexandre Herculano:
• Monumentos Pátrios (1838),
• História de Portugal (1846-1853),
• Portugaliæ Monumenta Historica (1856-1897), etc.
• Inocêncio Francisco da Silva, Diccionario Bibliographico Portuguez (1858-1923);
• Teófilo Braga:
• História da Poesia Popular Portuguesa (1867);
• O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições (1885);
• João António Ribas, Album de Musicas nacionaes portuguezas constando de Cantigas e
Tocatas usadas nos differentes Districtos e Comarcas das províncias da Beira, Traz-os-
Montes e Minho (1857);
• A. A. Neves e Mello, Música e Cantigas Populares colligidas da tradição (1872).
• Fundação da Sociedade de Geografia de Lisboa (1875);
• Comemorações do tricentenário de Camões (1880);
• Alfredo Keil / H. Lopes de Mendonça:
• hino A Portuguesa (1890);
• ópera Serrana (1899);

34
A criação das identidades nacionais (...). Lx.: Temas e Debates, 2000; p. 222.
• Leite de Vasconcelos:
• Revista Lusitana (1889);
• fundução do Museu Etnológico Português (1893);
• Religiões da Lusitânia (1897-1913);
• J. Vianna da Motta,
• sinfonia À Pátria (1894);
• obra coral sinfónica Invocação dos Lusíadas (1897).
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Bibliografia

Enquadramento geral da temática social (Portugal, séc. XIX)

• VAQUINHAS, Irene; CASCÃO, Rui, “Evolução da sociedade em Portugal: a


lenta e complexa afirmação de uma civilização burguesa”, in O Liberalismo (1807-1890).
Lisboa: Ed. Estampa, 1993 (História de Portugal / dir.: José Mattoso; vol. V); pp. 441-457.
• FONSECA, Fernando Taveira da, “Elites e classes médias”, in Idem, pp. 459-
477.
• VAQUINHAS, Irene, “O campesinato”, Idem, pp. 479-491.
• MENDES, José Maria Amado, “As camadas populares urbanas e a emergência
do proletariado industrial”, Idem, pp. 493-499.
• LOPES, Maria Antónia, “Os pobres e a assistência pública”, Idem, pp. 501-515.
• CASCÃO, Rui, “Vida quotidiana e sociabilidade”, Idem, pp. 517-541.

Para estudos mais detalhados do séc. XIX em Portugal, pode também utilizar-se:

• MARQUES, A. H. Oliveira, (coord.), Portugal e a instauração do Liberalismo. Lisboa:


Ed. Presença, 2002. (Nova História de Portugal / dir.: Joel Serrão / A. H. Oliveira Marques;
vol. IX).
• SOUSA, Fernando de; MARQUES, A. H. Oliveira, (coord.), Portugal e a
Regeneração (1851-1900). Lisboa: Ed. Presença, 2004. (Idem; vol. X).

Outras especificidades da temática sociocultural

• CARREIRA, Henrique Medina, As políticas sociais em Portugal.


Lisboa: Gradiva, 1996.
• HOBSBAWM, Eric J., A questão do nacionalismo: nações e nacionalismo desde 1780:
programa, mito, realidade. Lisboa: Terramar, 1998.
(Orig.: Cambridge: Cambridge University Press, 1990).
• ROSANVALLON, Pierre, A Crise do Estado Providência. Lisboa: Inquérito, s/d.
(Orig.: 1984).
• THIESSE, Anne-Marie, A criação das identidades nacionais. Europa - Séculos XVIII-
XX. Lisboa: Temas e Debates, 2000. Orig.: Paris: Ed. du Seuil, 1999.

História da Educação e do Ensino em Portugal (séc. XIX)

TORGAL, Luís Reis,


“A instrução pública”, in O Liberalismo (1807-1890). Lisboa: Ed. Estampa, 1993
(História de Portugal / dir.: José Mattoso; vol. V); pp. 609-651.

CARVALHO, Rómulo de,


“O advento do liberalismo” e “Da criação do Ministério da Instrução Pública até
ao fim da Monarquia”, in História do Ensino em Portugal. 2.ª ed.
Lisboa: Gulbenkian, 1996; pp. 521-650.

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