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RECIFE
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RECIFE
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RECIFE
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AGRADECIMENTO
A Deus por ter me dado saúde e a possibilidade de obter um título de graduação, em um país
onde um terço da população vive abaixo da linha da pobreza. Aos meus pais, Carlos Marcio e
Maria Lúcia, pelo amor e atenção inesgotáveis e por terem sido, ao longo de toda a minha
vida, o meu porto-seguro. A minha irmã Caroline, pelo carinho e apoio. À Fabiana Cristina
pelo amor, incentivo e compreensão, tendo abdicado de vários momentos de lazer em
consideração à confecção deste trabalho. Ao professor e amigo José Maurício Pereira, pelos
enormes ensinamentos, inúmeros incentivos e, através de sua intelectualidade, ter me
proporcionado o despertar para o campo da pesquisa. À professora Maria do Socorro
Anselmo, pela importante orientação em Técnicas de Pesquisa. A Vantuil Barroso Filho, um
grande ativista político, e com certeza, uma das pessoas mais inteligentes e convictas que já
conheci, pela orientação da primeira parte desta monografia. A Luís Henrique Romani de
Campos, pela brilhante orientação da segunda parte deste trabalho, sempre promovendo
comentários precisos e profundos, clareando para mim várias passagens que se mostravam
obscuras e até certo ponto intransponíveis. E, por fim, meus sinceros agradecimentos a todas
as pessoas cuja amizade conquistei na Católica, local que foi durante quatro anos e meio uma
extensão da minha casa.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................................................... 8
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
CONCLUSÕES............................................................................................................... 79
RESUMO
O presente trabalho busca revelar as visões de algumas das principais escolas do pensamento
econômico, no tocante aos benefícios e desvantagens das intervenções do Estado na
economia. Respaldada por uma contextualização histórica, a pesquisa traça uma análise dos
principais acontecimentos que vieram a motivar a instalação de políticas neoliberais no
sistema mundo, focalizando-se em especial as reformas conduzidas na América Latina.
Remetendo-se a realidade brasileira, foram checados os principais argumentos utilizados em
defesa da privatização, bem como a nova postura adotada pelo Estado, enquanto agente
regulador. A análise do processo de privatização do sistema TELEBRÁS serviu como ponto
de apoio, para a comparação das principais justificativas para a implementação de um modelo
de telecomunicações que defendia a quebra do monopólio natural, como forma de
proporcionar a população melhores serviços de telefonia e preços bem mais acessíveis.
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INTRODUÇÃO
livre- mercado, consolidada pela sua corrente dominante, ao desbancar o pensamento dos
que enxergavam o intervencionismo estatal como uma peça chave no desenvolvimento das
nações.
opinião segundo a qual o laissez-faire constituía-se como o ambiente mais adequado a uma
estabilidade e do equilíbrio. A presença de uma “mão invisível” acabava por inibir qualquer
Neste comum instante, Marx polemizava a discussão ao afirmar que o Estado não
apesar de minoritária, detinha uma forte influência perante este organismo. Esta
predisposição, que acabava privilegiando a burguesia, foi por ele encarada como essencial à
formação do capital.
A mais longa crise mundial vivenciada pelo capitalismo desde a sua origem, durante a
hipótese de que o sistema econômico deixado a seu bel prazer poderia vir de fato a apresentar
parte do Estado, com o intuito de manter a demanda agregada e evitar fortes flutuações no
produto. Esta justificativa acabava por derrubar a tese defendida por muitos economistas,
econômica.
produto de forma mais eficaz, reaquecendo assim, a econo mia, a teoria keynesiana passa a
gozar de um imenso prestígio nas universidades e nos gabinetes dos governos. Durante grande
Entretanto os primeiros anos da década de 1970 trouxeram a tona dois fatos jamais
(FUSFELD, 2001).
novo rumo ao pensamento econômico. Neste exato momento a escola monetarista ganha força
e prestígio nos debates econômicos realizados na comunidade cie ntífica, trazendo ao debate
teorias formuladas pela escola Novo-Clássica, formada pelo triunvirato composto por Robert
Lucas, Thomas Sargent e Robert Barro, os quais atacaram de forma implacável a corrente
Keynesiana, mostrando aos descendentes de Keynes que as ações executadas pelo Estado,
com o intuito de descolar o produto do seu estado natural, possuíam uma curtíssima duração,
materializava-se uma nova roupagem para a defesa do livre- mercado, na qual estavam
bojo uma intensa crítica à produção de bens e serviços pela esfera estatal (STIGLITZ, 2002).
dos países desenvolvidos como os Estados Unidos, a adoção de políticas capazes de espantar
este fantasma, combatendo os efeitos maléficos causados pela estagflação e pelos dois
Esta ação combativa perpassava pela elevação substancial da taxa de juros, vindo a
obtenção de empréstimos, promovido pelas expectativas pessimistas por parte dos credores
pela imensa elevação das taxas de juros durante a década de 1980, serviu como pano de fundo
para que fosse implementada uma série de reformas neoliberais, conduzidas em grande parte
pelas instituições de Bretton Woods, baseadas em modelos permeados por uma extrema
ortodoxia e um alto teor matemático, cujos resultados acabaram por acentuar ainda mais o
argumentos utilizados pelos seus defensores. Serão buscados os resultados destas reformas
repassado à iniciativa privada num leilão promovido pelo Governo Federal em 29 de julho de
1998.
O capítulo 3 traz um estudo da evolução histórica do sistema Telebrás, bem como dos
fatores determinantes para a aplicação das reformas neoliberais por parte do Estado Brasileiro
A grande maioria dos economistas clássicos, como Adam Smith, David Ricardo e
John Stuart Mill eram defensores incontestes do livre- mercado. Sob a ótica destes grandes
pensadores, o Estado deveria ter uma participação mínima na economia. Seriam atribuídos à
fundamentado na Lei de Say, a qual afirmava que para toda a oferta de um bem existe uma
Por esta razão, tornava-se inaceitável a idéia de que a economia pudesse vir a sofrer
desequilíbrios entre oferta e demanda eram passageiros, sendo normalizados pelas forças de
forma eficiente com o auxílio da mão invisível, ocorrendo sempre equilíbrio de pleno
emprego (SOUZA, 1999). Este pensamento neoclássico vigorou até o ano de 1929, sendo
O crash da Bolsa de Nova York, em 1929, fez com que a economia norte-americana
mergulhasse numa profunda crise econômica gerada por um processo de superprodução que
se refletiu de forma quase imediata nos demais países capitalistas avançados. De uma hora
para outra o preço das ações das empresas norte-americanas caíram 23%, vários bancos
A teoria neoclássica não encontrava a solução para o problema. Apenas o mercado não
emprego. Foi então que John Maynard Keynes elaborou a Teoria Geral do Emprego, do Juro e
da Moeda em 1936, refutando a Lei de Say e afirmando que a demanda agregada, constituída
manutenção dos salários ao nível de subsistência seria capaz de manter o pleno emprego, bem
como era uma grande falácia a crença por eles defendida de que o laissez- faire seria capaz de
levar a economia ao equilíbrio. Foi então quando a teoria keynesiana propôs o aumento dos
monetária expansionista, bem como de políticas fiscais que viessem a reduzir impostos e
elevar os gastos do Governo, como forma de dar novo fôlego à economia norte-americana,
planificação, visando corrigir, por meio da política desenfreada dos governos, os efeitos
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Em 1944 ocorreu uma grande reunião em Bretton Woods, onde foram discutidas as
bases para a criação do Fundo Monetário Internacional - FMI e do Banco Mundial. A tarefa
mais árdua de uma estabilidade econômica global foi dada ao FMI, devido às lembranças
ainda latentes da depressão mais séria sofrida pelo capitalismo desde a sua existência. No pior
funcionavam bem, podendo gerar desemprego e efeitos negativos ao bem estar coletivo. A
partir deste ideal, o FMI fundamentou-se no pensamento de que haveria uma necessidade
imediata de uma ação coletiva em nível global, como forma de garantir a estabilidade
econômica.
planejar a transferência do eixo dinâmico de suas economias do campo para as cidades, sendo
Unidas – ONU, foi criada a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe - CEPAL,
idéia segundo a qual o subdesenvolvimento dos países da América Latina estava atrelado à
deterioração dos termos de troca presente na relação comercial entre países ricos e pobres. As
economias periféricas possuíam na sua pauta de exportação produtos de baixo valor agregado
quando comparados aos exportados pelas economias centrais. Este desequilíbrio na relação
que fosse estabelecida uma balança comercial deficitária por parte dos países pobres,
consumo sem restringir de forma veemente a importação de bens de capital. Todas estas
medidas seriam lançadas com o intuito de moldar o cenário nacional de forma favorável à
depressão capitalista dos anos de 1929 ia sendo exorcizado pelo crescimento fervoroso da
Neste exato momento tornava-se cada vez mais clara a divisão do mundo em dois
segundo, socialista, defendido pela União Soviética. Tinha assim início o período
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compreendido pela história como a Guerra Fria, por representar a disputa ideológica,
Estados Unidos, denominado Plano Marshall, promoveu uma grande e rápida recuperação das
O combustível para todo este crescimento econômico compartilhado por uma boa
parte das economias mundiais, residia nos aumentos de investimento nos setores de
esferas públicas e privadas (FUSFELD, 1999). Corroboraram também a elevação imensa nos
gastos dos governos dos Estados Unidos e da União Soviética, como forma de não perder
espaço na corrida armamentista e espacial. O aumento nos gastos do Governo destes dois
vinte e cinco anos de desenvolvimento econômico pacífico, com taxas médias de crescimento
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jamais vistas na experiência humana. Durante este período foi consolidada a hegemonia da
Teoria Keynesiana, a qual perdurou até o começo da década de 1970, quando uma nova crise
teve início, sendo agravada pela denúncia da convertibilidade do dólar, em 1971, pela crise do
petróleo e por um novo fenômeno, o qual seria teoricamente inconcebível, revelado pelo
que as coisas estavam muito mudadas: o dólar não teria mais a sua conversão automática em
comércio de ações, de títulos públicos e divisas, bem como da riqueza intangível e líquida do
um processo inflacionário, o qual trazia consigo altas taxas de desemprego, indo de encontro à
formulação teórica inicial da curva de Phillips, na qual a relação entre estas duas variáveis
1973 a 1978, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, duplicou o preço
promoveu uma redução do dinamismo da economia dos países importadores desta matéria-
prima, devido à elevação dos custos de produção e a redução do poder aquisitivo das famílias
(FUSFELD, 2001).
maioria dos países não era auto-suficiente na produção de petróleo, demandou uma grande
Percebe-se que até o ano de 1979, onde ocorrera o segundo choque do petróleo, o
mercado financeiro internaciona l desfrutava de uma alta liquidez, graças à elevada emissão de
moeda por parte dos Estados Unidos e a exuberante oferta de petrodólares pelas instituições
A elevação das taxas de juros nas economias mundiais foi motivada pela pressão
inflacionária provocada após o segundo choque do petróleo, o qual teve grande influência na
alcançavam valores enormes nos países subdesenvolvidos. Tanto no Brasil, como no restante
das economias latino-americanas, estas taxas adotavam níveis acima de 50%. Nas economias
dos países desenvolvidos o cenário era menos dramático, pois estas taxas ficaram entre 12 e
econômico das crises de inflação. O remédio utilizado para combater esta patologia acabou
A partir deste momento um tema era colocado em questão nos debates econômicos
economia? As correntes do pensamento econômico tinham respostas diferentes para este tipo
de questionamento.
escola monetarista, cujo grande expoente e difusor fora Milton Friedman, propunha a mínima
combater as distorções geradas pelo mercado, o Estado acabava por provoca- las de forma
monetária era muito mais eficaz em relação à política fiscal, podendo a primeira explicar
estabelecendo um ponto de inflexibilidade a tudo o que estava sendo debatido, ao afirmar que
tanto no curto quanto no longo prazo, a política fiscal e monetária era neutra. Qualquer tipo de
mecanismo por parte do Governo seria incapaz de deslocar o produto do seu estado natural
por muito tempo, caminhando sempre para a frustração, justificando assim, a defesa pelo
livre- mercado, já que apenas os agentes econômicos seriam capazes de recolocar a economia
nos trilhos.
Deal americano e o estado de bem-estar social europeu, passa a condenar a robustez do setor
governo.
atualmente, o FMI somente concede recursos aos países, se estes seguirem o seu receituário
de políticas econômicas, calcado no corte dos gastos, aumento dos impostos e elevação das
Woods teve início no começo dos anos de 1980, impulsionada e orientada pela política de
livre mercado nos Estados Unidos e na Inglaterra. O FMI e o Banco Mundial tornavam-se as
novas instituições missionárias, por meio das quais estas idéias eram impostas aos relutantes
países pobres, os quais via de regra, precisavam muito de seus empréstimos e de suas
concessões.
Unidos no ano de 1983, orientadas respectivamente por Margareth Thatcher e Ronald Reagan.
Os Ministros das Fazendas das nações mais pobres do mundo estavam dispostos a se
converterem a esta nova tendência para a obtenção de recursos, embora a grande maioria dos
funcionários desses governos, bem como a maioria dos habitantes destes países,
permanecessem descrentes neste novo rumo tomado por suas economias (STIGLITZ, 2002).
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em torno de U$$ 685 bilhões. No final da primeira metade da década de 1990, essa dívida
havia quase que triplicado, alcançando o patamar de U$$ 1945 bilhões. A maior variação
registrada no período, ocorreu entre 1984 e 1988, tendo a dívida saltado de U$$ 843 bilhões
para U$$ 1427 bilhões, coincidentemente, um ano após o início da onda neoliberal,
responsável por uma série de reformas pró- mercado nas economias norte-americana e inglesa.
promovendo uma redução bastante significativa nos gastos públicos destinados as áreas
Estrutural – PAE passam a adotar um modelo de desenvolvimento único e fiel aos preceitos
a partir de então seguem um caminho retilíneo, sem direito a desvio, pois estas são as
condicionalidades impostas pelo FMI para a renovação dos empréstimos que garantem o
atrelado a inúmeras investidas que serviram de ímpeto para uma nova onda de controle
desenvolvimento.
principal tendência das esferas políticas e econômicas nas duas décadas seguintes,
curiosamente difundidas por candidatos não somente da direita, como do centro e até mesmo
da esquerda.
Por ironia do destino ou vingança da História, grande parte destas reformas políticas
sustentadas pelo economicismo prevalecente da teoria neoclássica, foi realizada por chefes de
Estado que se diziam social-democratas como Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, Alberto
Fujimori, no Peru, Carlos Andrés Pérez, na Venezuela e Vicente Fox, no México, bem como
condições negativas para a esfera pública uma grande quantidade de suas empresas (SADER,
1997).
fundamental.
da globalização, sob a alegação de que o mercado seria o único agente capaz de alocar de
forma justa e racional os recursos, premiando o cidadão empreendedor pela iniciativa pessoal
pela Escola Austríaca de economia, liderada por Friedrich Hayek, considerado o patrono do
Becker e principalmente Milton Friedman, bem como pela Escola de Virgínia ou Public
geradas pela excessiva presença da esfera pública. Os defensores das práticas neoliberais
denunciam estes prejuízos, afirmando que os possíveis benefícios da intervenção pública não
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se materializam, pois são capturados por um elevado nível de burocratização “rent seeking” e
desenvolvimento econômico.
público deve restringir-se apenas e tão somente a moldar e assegurar um ambiente econômico
competitivo com regras estáveis, o qual atrairia novos investimentos e expandiria a atividade
econômica do sistema capitalista mundial, beneficiando uma parcela cada vez maior dos
habitantes do planeta, já que o mercado é a única força capaz de atuar com total isenção ao
obtidos através da redução dos preços dos bens e serviços por eles consumidos.
o privado (SADER, 2001). Na grande arena da conduta humana a luta pelo estado mínimo é
necessária para a liberdade política. Assim, considera que o único sistema compatível com a
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conseqüência trazida para humanidade traduziu-se na elevação do abismo entre ricos e pobres
(CHOMSKY, 2002)
desenvolvimento do Japão, país asiático pobre em recursos naturais e que após a Segunda
Guerra Mundial encontrava-se brutalmente destruído, o qual parecia ter sofrido no episódio
do lançamento das bombas nucleares por parte dos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima
supostos benefícios desta liberdade, o Japão alcançou na década de 1990 uma posição de
destaque entre as economias que habitam o núcleo do sistema capitalista, servindo como uma
Outra experiência bastante difundida foi a vivenciada pela Coréia do Sul que após ter
sofrido com os prejuízos causados pela Guerra da Coréia, resolveu construir um programa
vezes a renda per capita de sua população, reduziu drasticamente a miséria, acabou com o
mais desenvolvidas do planeta (STIGLITZ, 2002). Em pouco tempo a Coréia do Sul tornava-
se um dos países que mais produziam chips para computadores e os produtos de seus enormes
empresário.
Olhando para um passado não tão distante, percebe-se que até mesmo o país que
presidente dos Estados Unidos, relutou em liberar uma verba expressiva para um consórcio de
tecnologias no campo da eletrônica, por se tratar de uma ação relativa a garantia da segurança
nacional.
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a idéia ventilada pelos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, segundo a qual o
mesmo quando é conhecida a não utilização em grande intensidade destas políticas por parte
Rezende (2001, p.16) “em seu livro Finanças Públicas revela a participação do consumo
final do governo nas despesas e no PIB em diversos países no ano de 1994”, onde as idéias do
Consenso de Washington (1990) estavam na ordem do dia e bastante vivas na mente dos
economias desenvolvidas como o Reino Unido e, até mesmo os Estados Unidos, estava
Torna-se claro e notório que em países desenvolvidos onde as políticas neoliberais são
Pochmann (2001), desde a década de 1980, quando o modelo neoliberal tem o seu embrião
lançado na esfera política, até os últimos anos do século XX, onde este se revela triunfante,
não se viu a declamada redução da participação do gasto público no produto dos países
desenvolvidos.
Coréia do Sul e os Estados Unidos parecem ser ignorados pelos governos latino-americanos
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Monetário Internacional – FMI, mesmo quando se torna público a herança negativa que esta
Depois de quase duas décadas de reformas macroeconômicas, cujo epicentro tem sido
a defesa inconteste do poder do livre- mercado, os trágicos resultados destes programas são
sentidos intensamente pelas populações dos países em desenvolvimento, bem como nos países
do leste europeu onde ocorrera a transição para a economia de mercado sob a orientação do
humano convergiu quase que integralmente para um denominador comum. Fase esta
interpretada por Francis Fukuyama como sendo o “Fim da História”, por representar a
grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações (IANNI, 1999), onde
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em países onde se lutava por uma ideologia alternativa ao capitalismo, atualmente, os países
desenvolvidos conduzidos pelos Estados Unidos, promovem uma dominação muitas vezes
pressões que tentam firmar seus privilégios, o combate à elevação das despesas públicas, que
via de regra trazem efeitos indesejáveis como endividamento, emissão monetária e inflação,
bem como o crescimento da tributação que também traz efeitos indesejáveis que se propagam
por todos os poros da sociedade, não se presencia o fim das regulações, mas sim, a
transferência desse controle (produção de normas, regras e leis) para uma esfera maior: as
Banco Mundial e o FMI, comandadas pelos governos e banqueiros dos países capitalistas
mundo fica dividido em três zonas onde a ascensão econômica, social e política tornam-se
1
Grupo composto pelas sete maiores economias do planeta mais a Rússia
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por uma imensa dependência econômica e tecnológica das economias dos países
como destruição criativa para justificar o funcionamento do capitalismo, o qual segundo ele
tornava-se ultrapassada e obsoleta, sendo substituída por uma outra inovadora, a qual
proporcionando- lhe ganhos de produtividade maiores que poderiam vir a serem reaplicados
cada vez mais em capital humano e foram desenvolvidas estratégias empresarias cada vez
mais eficazes para vencer a concorrência e obter a liderança no mercado, já que o mundo dos
negócios passava a ser regido por um modelo Darwiniano, onde apenas e tão somente as
mundiais, criados através de megafusões entre transnacionais que muitas vezes possuem
economias maiores que a de muitos países. A concorrência parece estar com seus dias
contados, o mercado encontra-se cada vez mais concentrado na mão de poucas empresas, os
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e assim o fazem. Nos Estados Unidos da América 0,25% da população norte-americana mais
rica é responsável pela doação dos 80% do total de recursos investidos na campanha dos
(CHOMSKY, 2002).
governos nacionais.
realidade a dominação de uma minoria (GRUPPI, 1986). Neste atual estágio do capitalismo,
onde o mundo se enquadra dentro de uma lógica pragmática, cujo fim a ser alcançado é a
Neste novo mundo em que vivemos o poder deve ser entendido como sendo
“a probabilidade que um ator, dentro de uma relação social, está em uma
posição de realizar sua própria vontade, apesar da resistência de outro ator
social e independentemente da base sobre a qual essa probabilidade se
apóia” (WEBER, 1974, p.152).
capital estrangeiro, maior tende a ser sua capacidade de controlar mercados, criar poder
grupos nacionais também se utilizam destas vantagens para a obtenção de benefícios que
neoliberalismo, o qual se traduz numa incessante busca das empresas pelo acúmulo de capital.
zonas privilegiadas, as quais detêm riquezas a serem oferecidas ao modelo proposto pelas
economias desenvolvidas, cujos interesses são debatidos e planejados nos encontros do G8,
tendo nas instituições missionárias como o FMI e o Banco Mundial o ponto de apoio para a
Neste novo mundo onde o capitalismo reina de forma triunfante, por ter derrotado
grande parte dos seus inimigos, o Estado surge para potencializar a acumulação de capital,
sendo convocado para entrar em cena quando for necessário promover obras de infra-estrutura
Como foi descrito no capítulo anterior, o começo da década de 1980 é marcado por
uma intensa crise econômica que se desenvolve no continente latino-americano motivada pela
centro do sistema capitalista. Enquanto que em 1978 esta dívida alcançava o patamar de 151
bilhões de dólares, em 1982 supera a marca dos 300 bilhões de dólares (PEREIRA, 1992),
A expansão da dívida externa foi motivada por três choques exógenos ocorridos no
ano de 1979. O primeiro foi o do petróleo, no qual o preço desta matéria-prima teve o seu
significativa das taxas de juros internacionais, principalmente no valor pago pelos países
devedores; enquanto que o terceiro e último se revelou pela instauração de uma profunda crise
cenário econômico mundial. Períodos de crise se caracterizam pela extrema desconfiança por
negativas acerca do futuro, bem como, desenvolvem dentro dos proprietários de instituições
financeiras o temor de não virem a receber o dinheiro emprestado para outros agentes
são vistas como uma grande ameaça ao bom funcionamento dos negócios, os grandes
38
Durante este período a crise da dívida externa provoca uma avalanche de incertezas
investimentos. Países como o Brasil que durante 50 anos foi um grande atrativo para os
Externos Diretos – IED na América Latina, foi sucumbido por outros países no que diz
respeito à recepção dos fluxos de IED mundiais. Passou do sétimo lugar em 1980 para o
significava no terceiro ano da década de 1980 mais da metade da dívida externa do terceiro
aos países do continente latino-americano exigia uma pressão efetiva por parte destas
adotada pelos Governos e pelas elites da América Latina em relação à negociação da dívida
externa, tornava claro o pouco esforço em negociar uma melhor alternativa para a crise que
compartilhamento de interesses e a subordinação por parte das elites dos países periféricos
estava condicionada à adoção por parte de seus governos aos ajustes ortodoxos estruturais
recomendados pelo FMI, calcado na redução das importações e elevação nas exportações,
constituindo-se numa exigência imediata para a reativação das linhas de crédito por parte das
desempenho pífio nos três primeiros anos da década de 1980, durante o Gove rno do general
Figueiredo - cuja recessão somente pode ser comparada à crise dos anos trinta -
verificou um elevado crescimento econômico nacional, o qual foi impulsionado pelo mais
Somente em 1985, primeiro ano de mandato do presidente civil José Sarney, tem
crescimento não foi suficiente para anular a obtenção de empréstimos para o pagamento dos
juros da dívida externa, concedidos pelo Fundo Monetário Internacional apenas e tão somente
40
Washington.
ação era a mudança na natureza do Estado Brasileiro e de suas atribuições. Após várias
décadas de convivência com um Estado que absorvia grande parte das responsabilidades pela
economia.
A principal fonte de riqueza latino-americana ainda estava por ser explorada. Um país
detentor de um amplo mercado interno e um robusto e lucrativo setor público onde desfilavam
empresas como a Petrobrás, a Embraer, a Vale do Rio Doce, a Telebrás e outras tantas,
negava-se a promover uma mudança profunda na sua política econômica, adiando a adoção
do laissez-faire.
governo de Fernando Collor de Mello, eleito presidente em 1989, porém deposto pelo
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idealizado pela Ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, o qual misturava política
objetivos principais no Plano Collor a demissão de 360 mil funcionários públicos. Todavia
por falta de apoio no congresso para alterar a Constituição Federal, onde se tornava necessário
a adesão de uma maioria de dois terços dos congressistas, esta meta terminou ficando muito
pelo Plano Collor, cristalizava-se silenciosamente no corte dos gastos do governo e nos
salários, promovendo uma redução do déficit público, cujo fim a ser alcançado perpassava
Washington, promoveria uma mudança nas regras do jogo. Por não seguir à risca o que fora
proposto e acordado o governo brasileiro foi penalizado. O grupo consultivo dos 22 bancos
por parte do FMI, como também instruíram os bancos multilaterais à não realizar novos
Esta ação foi planejada em uma reunião realizada em Washington pelo G7, onde o
2
tesouro norte-americano aconselhou o Banco Mundial e o Banco Interamericano de
desenvolvimento econômico brasileiro estava sendo definido mais uma vez pelos organismos
missionárias.
Camedessus, do FMI, e com David Mulford, subsecretário do tesouro dos Estados Unidos
desta nova equipe econômica trazia consigo o nome de Pedro Malan para a negociação da
dívida externa perante os credores internacionais, o qual futuramente teria um papel decisivo
ainda mais intensa na organização do Estado Brasileiro, caracterizada por Stiglitz (2002)
como terapia de choque, nas quais estavam previstas alterações profundas na Constituição
2
Expressão utilizada por Stiglitz em seu livro: A globalização e os seus malefícios, para demonstrar a essência
destas instituições que freqüentemente promovem intervenções nas economias periféricas em prol dos países
desenvolvidos e das grandes corporações econômico-financeiras.
43
dos programas estaduais e municipais voltados para a área social e o repasse das empresas
reforma no modelo de financiamento público, sendo permitido o corte nos gastos sociais,
de Mello e o seu tesoureiro de campanha Paulo César Farias transformaram-se num revés ao
construído pela grande mobilização de forças populares de esquerda, as quais exerceram uma
intensa pressão para que Collor fosse deposto pelo Congresso Nacional, como também pelo
e a elite nacional, tais como: aumentar os salários reais, reduzir os preços das tarifas públicas
acordo assinado entre o Governo anterior e o FMI, fez com que a sua promessa se não se
realizasse.
FMI. Numa revisão efetuada pelos auditores do fundo objetivando monitorar e comparar os
Itamar Franco verificou-se que as metas trimestrais referentes à diminuição do déficit público,
estabelecidas pela equipe técnica do FMI, não haviam sido alcançadas pela economia
visão das instituições de Bretton Woods, revelou-se um obstáculo à liberação das parcelas
1999). A entrada do país na “lista negra” do FMI funcionava como um campo repulsivo aos
investimentos no país.
com o FMI:
defensoras da mínima intervenção do Estado na economia, ganhava força a idéia que uma boa
parte das empresas estatais brasileiras deveriam ser repassadas à iniciativa privada.
Enzo Faletto, no qual denunciou a existência de uma burguesia de Estado parasita responsável
pela execução de ações dentro das empresas estatais, onde o interesse público era renegado
país.
Itamar Franco, a elite nacional ficou inicialmente bastante assustada, já que Fernando
Henrique Cardoso ao longo de sua vida acadêmica produziu diversos textos esquerdistas,
calcados na análise crítica das classes sociais no capitalismo periférico. Todavia não demorou
muito para que a elite nacional viesse a se tranqüilizar. Durante um encontro com importantes
banqueiros e industriais, o então Ministro pronunciou a célebre frase: “Esqueçam tudo o que
escrevi...”, a qual ecoou de forma bastante agradável aos ouvidos das elites nacionais e
internacionais.
acadêmico. Para este importante filósofo, existe uma relação estreita entre política e filosofia,
pois a verdadeira filosofia de cada pessoa está em sua maneira de agir, consiste mais em suas
A posse de Fernando Henrique Cardoso em 1994 marcava o início de uma nova fase
populista realizado durante a década de 1930 até 1964, responsável por altas taxas de
crescimento do PIB, o qual apoiava-se num poderoso setor estatal controlador de empresas
descartado.
público no período compreendido entre 1970 e 1999. Torna-se bastante evidente que durante
a maior parte da década de 1980 o investimento estatal sofreu uma redução bastante
significativa, fruto do baixo crescimento do Produto Interno Bruto – PIB, bem como devido à
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1990 uma redução ainda mais intensa nos investimentos realizados pelo setor público,
resultado de um crescimento pífio do PIB, o qual esteve abaixo do regis trado na década de
mercado, no qual o Estado deixaria de atuar como provedor de bens e serviços, passando
período compreendido entre os anos de 1994 a 1999, quando Fernando Henrique Cardoso
Brasileiro pelos ideais neoliberais. Dentro desta incoerência escancaravam-se as portas para a
recolonização do Brasil, a qual deve ser compreendida como uma ramificação de um processo
Os resultados destas novas estratégias postas ao serviço de uma nova ordem mundial
verifica-se uma imensa expansão destes fluxos durante a década de 1990. Enquanto o
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Investimento Externo Direto – IED cresceu no mundo todo 223% na última década do século
XX, na América Latina esta expansão foi de 600%. Durante este mesmo período, o Brasil
capital. Nos quatro primeiros anos da década de 1990 ocorre um tímido crescimento no IED
no país, fruto de uma forte resistência das forças sócio-políticas nacionais e a não
período atraíram uma grande quantidade de IED, por terem aderido anteriormente ao
Consenso de Washington.
35
30
30 28,7
25
25
20
20 18,8
15
10,3
10
5,5
5 2,1
1,1 1,1 1,6 1,3
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Nos anos de 1994 a 2001, período onde a Presidência da República era ocupada por
Fernando Henrique Cardoso identifica-se uma significativa expansão dos IED no Brasil. Entre
os anos de 1994 até 1999 esta ampliação foi de 1430% aproximadamente, representando uma
verdadeira invasão do capital internacional ao país. Em 1998 o Brasil ocupava o oitavo lugar
no Ranking referente ao estoque de IED em todo o sistema mundial e o segundo lugar no que
que durante toda a década de 1980, a chamada década “perdida”, o Estado teria sido o
(POCHMANN, 2001).
fiscal e redução do endividamento externo. O patrimônio das estatais seria utilizado para
abater a dívida interna, promovendo assim, uma redução nos gastos financeiros do governo e
Todavia o resultado ficou bastante aquém do esperado, pois a dívida interna no início
mesmo com o dinheiro arrecadado com a venda do patrimônio nacional durante os seus dois
50
mandatos enquanto presidente, alcançou o valor de 685 Bilhões de reais em 2002, fazendo da
segundo a qual, a venda das estatais à iniciativa privada potencializaria uma maior
concentração nas atividades do Estado em atividades como: educação, saúde e segurança, que
que no Brasil as pessoas pagam uma carga tributária bastante elevada, semelhante à cobrada
em países como a França e a Suécia, mas usufruem serviços de péssima qualidade, parecidos
para ser aplicado na saúde, educação, erradicação da pobreza, cultura e ciência e tecnologia,
enquanto destinou 140 bilhões de reais a rolagem da dívida interna. Ao final do governo FHC,
adquiridas pela iniciativa privada adquiriam uma maior eficiência, proporcionando preços
mais baixos para o consumidor, bem como traria uma maior competitividade à economia
A venda de uma parte das estatais brasileiras ao capital internacional gerou impactos
negativos incalculáveis em nossa economia, pois essas empresas adquiridas pelo capital
estrangeiro, enquanto estavam sob o domínio do Estado, eram matrizes, passando a ser filiais
após a privatização. Segundo Benjamin (2004) existe uma enorme diferença entre estas duas
segunda é uma parte subordinada. A diferença básica entre elas é que a primeira produz
tecnologia, enquanto a segunda funciona apenas como receptora. Dentro desta lógica de
seus antigos centros de pesquisa fechados, não se tendo registro de abertura de nenhum novo
Brasil, 10% para instalações de novas empresas estrangeiras no Brasil, 30% para as aquisições
estatais brasileiras. Os capitais que mais arremataram empresas nacionais nos leilões de venda
das empresas anteriormente administradas pela esfera pública federal foram de origem norte-
americana e francesa. No que diz respeito à aquisição das empresas estaduais verifica-se
Em países como a Inglaterra e a Itália, a venda das estatais foi realizada através da
pulverização das ações, isto é, o repasse de um grande número de ações para as mãos da
53
A França também seguiu esta linha de conduta. Com a privatização parcial do sistema
destas empresas, graças aos atrativos oferecidos pelo governo. Enquanto que no Governo
Fernando Henrique Cardoso o processo foi conduzido de forma bastante particular, onde
grande parte das empresas estatais foram vendidas a poucos grupos empresariais (BIONDI,
2000a).
120
100
100
80
68,8
64,8
61,3
60
40 32,6 35,6
20
9,3 8,4
4,4
0,6 1,3 1,2
0
Serviços Bancos Mineração Siderurgica Material de Construção
públicos tarnsporte pesada
Estado, no qual foi consolidado o repasse de uma grande quantidade de empresas públicas à
iniciativa privada. No que refere ao setor financeiro nacional verificou-se durante o período
participação do Estado Brasileiro neste setor caiu de 61,3% para 35,6%, enquanto que a
participação relativa do setor privado estrangeiro aumentou de 6% para 29,6%. Vários bancos
estatais como o Banco Nacional do Estado do Rio de Janeiro – BANERJ, foram adquiridos
e atualmente regulador, fruto da onda neoliberal que se espalhou pelo mundo nos últimos anos
seja a indefinição de um modelo que seja capaz de administrar de forma imparcial, o “eterno”
conflito travado entre ofertantes e usuários, no tocante ao preço dos serviços ofertados pelas
um colegiado. Entretanto a sua composição tem gerado uma imensa polêmica. Enquanto
55
escolha de três representantes das partes interessadas, ou seja: governo, produtores e usuários,
Este tema surge e demanda especial atenção do Estado brasileiro, pois é fundamental o
assegure à remuneração das atividades realizadas agora pela iniciativa privada, mas não
É papel dos governantes das nações onde o patrimônio público foi repassado a
iniciativa privada regular as relações econômicas existentes nos diversos mercados, por
vivermos um processo de globalização cada vez mais voltado para a fusão de grandes
violenta acumulação de capital por parte de uma pequena quantidade de empresas, guiada por
uma engenharia econômica onde a decisão de investimento se dá apenas pela relação custo-
benefício.
Talvez seja um ponto bastante delicado. Quando os serviços eram ofertados pelo
Estado a questão social era levada em consideração, tendo como exemplo a isenção de taxas
para populações de baixa renda. Atualmente estas isenções foram abolidas, sendo cobrado a
particulares. A metade dos recursos aplicados para a compra destas empresas pela iniciativa
em condições excelentes, abrindo espaço para um fato um tanto quanto controvertido, pois
uma das razões levantadas pelo governo em prol da desestatização apoiava-se no elevado
endividamento do Estado, o qual consumia uma grande soma dos recursos e acabava
e dos empregos.
acabaria por promover um maior dinamismo aos setores onde o monopólio estatal havia sido
empregos formais foram destruídos no setor público, sendo a economia incapaz de absorver
este contingente de pessoas no setor formal. Uma parcela destes desempregados foi forçada a
adentrar no mercado informal, enquanto o restante acabou por integrar o que Marx chama de
destruídos na economia brasileira durante a última década do século XX, 17,1% foram fruto
das políticas de minimização do Estado, onde foram criados planos de demissão voluntária e
Universidade Católica do Chile. Neste intercâmbio foram dados os primeiros passos para a
formação de jovens economistas que mais tarde viriam a ser os condutores das primeiras
que iram ganhar relevância mundial na década de 1980 nos países desenvolvidos (MORAES,
de um novo modelo político-econômico onde a presença do Estado na economia era cada vez
mais repudiada.
consolidou-se como a grande justificativa para a quebra dos monopólios naturais, idealizados
demandadas pelos que entendiam que a substituição do capitalismo de estado por um modelo
pública. Dentro desta nova concepção ocorre no continente uma série de reformas no
intensa mobilização popular. Quando muito se falava na inabilidade do setor público em gerir
atividades complexas como as telecomunicações em uma era identificada por Castells (2002)
uma teledensidade semelhante e até mesmo superior a alguns países europeus. Detentor de
uma rede inteiramente digitalizada e com tarifas bastante acessíveis a população local, o
exemplo uruguaio mostrou-se bastante interessante pela sua autenticidade e os seus positivos
resultados.
governos, chegava o momento do Brasil, à beira do século XXI, definir o seu rumo, optando
60
escolha perpassava pelo modelo adotado por Chile e Argentina ou por privilegiar o exemplo
uruguaio.
Depois de um longo período onde o Estado brasileiro foi guiado por políticas
o país, capitaneado por Fernando Henrique Cardoso. A privatização das estatais passou a ser
funcionários.
lentos. Quantos anos os pernambucanos tinham que esperar para adquirir uma linha telefônica
Companhia Telefônica do Estado de São Paulo - TELESP. Enfim, existiam imensas listas de
possuíam um alto valor de venda e eram muitas vezes utilizadas como reserva de valor.
inoperante. Estudos demonstravam que o atual sistema ofertava uma quantidade de linhas
habitantes.
Estados Unidos 64
França 56
Itália 44
Espanha 40
Portugal 39
Argentina 17
Chile 15,5
Brasil 11,5
iniciativa privada e o que continua a optar pelo modelo estatal. Diante dos números referentes
aos oito países mostrados no gráfico, apenas o Brasil promovia o desenvolvimento do setor de
modernidade.
62
importante, tendo sido um dos carros chefes do Governo Federal. Algumas estatísticas
TOMIOKA, 1999).
Segundo Tavares (1998, p. 01) estas consultorias foram contratadas a peso de ouro:
que diz respeito ao desenvolvimento das telecomunicações no mundo, sendo uma questão de
tempo a transição do Estado brasileiro para um sistema de mercado, vivenciado há tempos por
promover a ampliação da planta instalada de terminais telefônicos em 526% nas duas últimas
décadas, quando neste mesmo período o crescimento vegetativo registrado foi de 50% e o PIB
modelo obsoleto e desalinhado com a realidade compartilhada pela maioria dos países
socialismo.
O Governo Federal defendia que a ineficiência nos serviços era motivada por uma
assim, a concorrência. O que estava sendo reivindicado neste momento era a liberdade para
que as forças de mercado atuassem, como forma de equilibrar a relação entre fornecedores e
consumidores.
opção governamental, tendo início às tão necessárias reformas, as quais se iniciam mediante
64
Federal de 1988, mais especificamente o inciso XI, o qual na prática garantia o monopólio ao
sistema TELEBRÁS. O texto anterior à alteração promovida pela emenda dizia o seguinte:
“Compete à União”:
(...)
XI – explorar, diretamente ou mediante concessão as empresas sob o
controle acionário estatal, os serviços telefônicos, telegráficos, de
transmissão de dados e demais serviços públicos de telecomunicações,
assegurada a prestação de serviços de informações por entidades de direito
privado através da rede pública de telecomunicações explorada pela União;
XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão:
a) Os serviços de radiodifusão sonora, de sons e imagens e demais serviços
de telecomunicações (...).
357 votos contra 136 e posteriormente a votação final no Senado Federal, no dia 11 de agosto
do mesmo ano, cujo resultado foi de 65 votos a favor e apenas 12 contra, o artigo 21 da
Conquistado o aparato legal, em 1996 foi aprovada a lei nº 9295, a qual permitiu a
privatização do sistema TELEBRÁS. Aliás, isto ficou bastante claro ainda quando candidato,
pois no seu programa de governo intitulado: “Mãos à obra, Brasil” estava inserido o ideal de
que seria responsabilidade do Estado não mais produzir, mas sim regular e fiscalizar a
Um fato curioso foi que nos anos de 1996 e 1997, o governo havia investido 16
bilhões de reais no sistema Telebrás que, associado ao descongelamento rápido das tarifas e a
expansão do número de linhas obtidos com estes enormes investimentos, renderam ao país 4
bilhões de dólares sobre a forma de lucro no final de 1997. Pela lógica continuariam
crescendo nos anos seguintes, já que no primeiro semestre de 1998, as vésperas do leilão
realizado em julho deste mesmo ano, foram investidos mais 5 milhões de dólares na empresa
de dez das doze empresas colocadas à venda neste leilão que para muitos, ficará marcado na
atividade estatal, por uma estrutura que se equilibra e aposta na força da iniciativa privada
para a resolução de velhos gargalos em infra-estrutura, surgem como atores principais deste
participação das empresas Telefônica S.A, Iberdrola e Bilbao Viscaya mostrou-se intensa e
relevante. A primeira fez o maior lance presenciado até hoje no mercado brasileiro,
oferecendo 4,96 bilhões de dólares para obter o controle da companhia de telefonia fixa do
pelos grupos estrangeiros, cinco meses após a ocorrência da desestatização o que se viu foi
União Galopar, bem como as da Tele-Nordeste Celular, de domínio do Bradesco, ambas para
a Telecom Itália, promoviam uma elevação do domínio acionário por grupos internacionais no
internacionais promoveu a transferência das matrizes das empresas recém criadas, para o
exterior, tendo as suas sedes no Brasil se transformado em filiais, gerando uma significativa
Esta é justamente a diferença entre uma matriz e uma filial. Enquanto a primeira
produz tecnolo gia, a segunda é apenas receptora. A privatização no molde em que foi
Campinas - UNICAMP, mostram que nos Estados Unidos as importações realizadas pelas
Esta diferença está relacionada ao modelo de privatização adotado nestes países, onde
o capital nacional é quase sempre majoritário. Aliás, nos países desenvolvidos desde os
primeiros passos rumo a privatização das telecomunicações, ficava claro que a opção do
governo estava calcada na pulverização das ações por parte dos cidadãos, tornando-os
acionistas das estatais, enquanto no Brasil a opção esteve relacionada aos modelos adotados
pela maioria dos países em desenvolvimento, onde a compra das estatais é realizada por
oligopolização.
taxativo:
Envolto neste modelo cheio de particularidades, tendo como uma de suas vertentes os
BNDES a juros abaixo dos identificados no mercado, representando uma fração dos recursos
telecomunicações.
A primeira ação executada pelo Estado brasileiro frente a esta nova realidade foi a
ausente de qualquer tipo de subordinação hierárquica, o que lhe proporcionava pelo menos em
TOMIOKA, 1999).
Enquanto órgão normativo caberia ainda: a definição das modalidades de serviços a serem
definido que o conselho diretor seria formado por cinco membros, todos indicados pelo
subserviência em relação ao Estado, criando assim, um anteparo para a pressão realizada por
consumidores e empresas, os quais geralmente querem impor os seus desejos e fixar os seus
pontos de vista.
Posteriormente caberia a ANATEL estabelecer as metas de expansão para cada uma das
setor, capaz de ampliar a oferta de linhas fixas aos brasileiros, ajudando a reforçar a
capital privado. As metas estipuladas pela ANATEL previam uma revolução no setor. Ao fim
milhões de linhas telefônicas, ou seja, de março de 1998, onde existiam 15,3 milhões de
aproximadamente.
72
A definição das áreas de atuação das empresas após a privatização também significava um
que a análise custo-benefício era a mola mestra na tomada de decisão por parte das empresas
uma intervenção por parte da agência reguladora após a privatização de qualquer setor em
após 2002, quando o mercado estaria totalmente aberto a entrada de novos concorrentes.
1998 existiam 10 linhas telefônicas para cada grupo de 100 habitantes, os ganhos
elevariam a média nacional para 20 telefones para cada grupo de 100 habitantes.
no país. Segundo o Ministro, não fazia sentido continuar pedindo às pessoas que comprassem
linhas por valores elevadíssimos, como ocorria no passado. Neste novo modelo competitivo, o
telefone não seria mais visto como propriedade, mas sim como concessão, a um custo de
ANATEL, deveria ocorrer uma drástica redução no tempo de instalação das linhas telefônicas
em todo o país. Em 2002, o tempo máximo de instalação aceitável seria de até quatro
semanas. Em 2003 cairia para até três semanas e em 2004 seria aceitável até duas semanas.
74
Daí para frente a ANATEL exigiria que todas as linhas telefônicas fossem instaladas num
A melhoria na qualidade dos serviços viria acompanhada de uma redução nas tarifas. As
ligações locais deveriam sofrer uma redução de 4,9% entre 2001 e 2005. As interurbanas
seriam reduzidas em 24,8% entre 1998 e 2005 e as internacionais cairiam 66% entre 1998 e
981
713 835
480
pública durante o período contemplado. A expansão prevista era da ordem de 104% em quatro
intervalo entre os telefones públicos deveria sofrer uma redução ainda maior, sendo
brasileiras.
75
de outorga, arrematadas em sua grande maioria por empresas privadas, parte das quais
grande aumento na oferta de linhas telefônicas fixas e móveis, bem como em relação aos
telefones públicos.
70
60 58 58
53,8
49,6 52,5
47,8 49,2
50
45,5
40 38,3
34,9
30
28,7
23,2
20
10
0,9 1,4 1,4 1,4 1,5 1,6
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005
durante os quatro primeiros anos do século XXI. Na telefonia fixa ocorreu um acréscimo de
acréscimo ainda maior, ficando próximo dos 127%. Em relação aos telefones públicos a
Segundo a ANATEL, todo este dinamismo não foi suficiente para o cumprimento integral
Uma outra dificuldade encontrada pelo setor é o alto índice de ociosidade. Segundo
telefônicas, estando 18 milhões em atividade e 2 milhões ociosas. No ano de 2001 a oferta era
Naquele momento o que estava sendo reivindicado é que as tarifas de telefonia fossem
Segundo Benjamin (2004), a telefonia brasileira era a segunda mais barata do planeta,
ficando atrás apenas da Chinesa. Os gastos com telefonia eram pouco representativos para as
famílias brasileiras, ou seja, pesavam pouco no orçamento mensal, enquanto que atualmente
até mesmo as classes mais favorecidas da sociedade começam a sentir no bolso os excessivos
A degradação do poder aquisitivo das famílias brasileiras nestes últimos anos associado à
elevação no preço dos serviços moldou um cenário negativo para as empresas de telefonia no
77
ano de 2002. Durante este período foram registradas elevadas taxas de inadimplência. No
mercado.
Aliás, esta tem sido uma questão muito debatida nestes últimos tempos. Os críticos da
outros países, as quais não lograram o efeito desejado. Nos Estados Unidos e em alguns países
americano em relação ao projeto de fusão idealizado pelas empresas MCI World Com e
Sprint no ano de 2000, bem como a aquisição da empresa alemã Mannesman Mobifunk pela
britânica Vodafone Air Touche, que ao se concretizar geraria a maior operadora móvel do
mundo, com 10% de toda a base de assinantes do planeta (ALMANAQUE ABRIL, 2001).
O modelo concorrencial não foi nem será capaz de cumprir aquela que
deveria ser uma meta fundamental de qualquer projeto nacional de
telecomunicações: a universalização dos serviços. Isso não chega a
surpreender. Em nenhum país do mundo a concorrência foi o mecanismo
fundamental dessa universalização, pois nesse setor o espaço para a
concorrência se limita a nichos relativamente pequenos. Foi a ação do poder
público que garantiu a universalização, onde ela ocorreu.
Torna-se claro e notório que apenas as camadas mais ricas da população tem renda
suficiente para usar o telefone, para fins privados de forma rentável para a operadora. A
rede suficientemente densa, de modo que o custo marginal desta instalação seja pequeno.
CONCLUSÕES
A década de 1980 ficou marcada na história por ser o ponto de partida de um processo
Calcado nas idéias da escola neoclássica, o neoliberalismo tem seu fôlego renovado
não só pela atuação dos integrantes das escolas monetarista e novo-clássica, no meio
acadêmico e nos gabinetes dos governos, como também por políticos e intelectuais, um dia
denominador comum. Nunca o mercado esteve tão em evidência. Estas interferências são
Brasil abandonaram o seu viés historicista para se converter a corrente neoclássica, já que a
grande arena da conduta humana respira intensamente o mercado, colocando sob a sua
Sob a égide do Banco Mundial e do FMI, o neoliberalismo mantém acesa a sua chama.
Os países que recorrem aos seus empréstimos, quase sempre sufocados pelas elevadas dívidas
de curto e longo prazo, se vêem forçados a compactuar com uma série de exigências, que em
resultados, consolidam a idéia segundo a qual o abismo entre ricos e pobres tem aumentado
prosperidade aos países em desenvolvimento, mesmo quando é fato que não se utilizam
integralmente de sua propaganda. Mediante uma intensa defesa das políticas pró- mercado é
mostrado muito mais freqüente e intensa em relação à atuação do setor público nos países
periféricos.
À luz destes acontecimentos pode-se cada vez mais afirmar que estamos vivendo uma
crise ideológica profunda, a qual abre espaço para o estabelecimento de novos paradigmas
aquisições vividos por esta nova e derradeira fase do capitalismo moderno, que elege poucos
outro, sempre em busca das melhores oportunidades de negócios, que na maioria das vezes
Todavia, o setor produtivo não foi e nem tem sido deixado de lado. Muito pelo
1990, uma verdadeira invasão de dólares sob a forma de Investimentos Externos Diretos-IED.
Utilizados inúmeras vezes para a aquisição de empresas estatais que foram repassadas a
compreendidas como uma conseqüência, da aplicação dos modelos defendidos pelos teóricos
muito tempo associado às raízes ideológicas da CEPAL, que tantos mestres formou, como o
brasileiro Celso Furtado, autor de brilhantes obras que tão bem explicam as razões do
subdesenvolvimento.
continente. Apenas no Brasil, foi identificada uma certa resistência, pelo importante momento
neoliberal.
como apenas uma das arestas da po1lítica neoliberal, planejada ainda na campanha
A venda das empresas estatais foi vista como uma alternativa à impossibilidade do
esperava era que ao serem compradas pela iniciativa privada, as estatais passassem a ofertar
claro e notório que o modelo adotado pelo Estado brasileiro começa a apresentar sinais de
alinhados as políticas neoliberais, parece estar perdendo a cada dia o seu vigor. Parece um
tanto quanto paradoxal o modo como este se desenvolveu e se desenvolve. A grande elevação
nas tarifas impediu a absorção da maior oferta de linhas fixas e móveis no país, fazendo
eram matrizes e compunham o sistema TELEBRÁS, em filiais dos grandes grupos que as
83
país.
A diferença básica entre uma matriz e uma filial é que a primeira produz tecnologia,
enquanto a segunda é apenas receptora. Dentro deste contexto percebe-se que o modelo
consolidação dos resultados esperados pelo Governo, no instante de optar por transferir o
Se no modelo estatal a expansão dos serviços não se deu pelo lado da oferta, diante da
população, atualmente os elevados preços das tarifas funcionam como um entrave à redução
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