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[ Ciência Política ]

Dinheiro para
as democracias
Evitar corrupção e garantir a competição são
preocupação no debate para identificar qual
o melhor modelo de financiamento político

Joselia Aguiar

T
ão antigo quanto a democracia moderna, o fi- recentemente no Departamento de Ciência Política
nanciamento político é indispensável para sua da USP, sob orientação de Maria Hermínia Tavares
existência: é o que mantém partidos políticos, de Almeida. “E o melhor será aquele que garantir um
divulga candidatos, realiza campanhas eleito- fluxo de recursos que permita a competição eleitoral
rais. Igualmente indispensáveis são as medidas ao mesmo tempo que minimize as possibilidades de
para sua regulamentação, que datam do final corrupção”, acrescenta.
do século XIX. A Grã-Bretanha é pioneira No Brasil, o financiamento é misto – ou seja, os re-
ao criar, em 1883, uma lei para prevenir a corrupção cursos vêm tanto do setor privado quanto do público,
nesse campo. Décadas depois, em 1928, com a mesma sendo o primeiro o predominante. Desde o escândalo
preocupação em combater práticas ilegais, o Uruguai Collor – quando denúncias de caixa 2 levaram ao
adotou pela primeira vez no mundo o financiamento impeachment do então presidente, Fernando Collor
público, por acreditar que este seria mais eficaz. Até de Mello, em 1993, uma série de medidas foi criada
então, a fonte de recursos era exclusivamente privada. pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para aumen-
O exemplo uruguaio foi seguido pela Argentina, em tar a transparência nas contas partidárias, fiscalizar e
1955, e pela Alemanha, em 1959. Logo outros países punir os políticos e partidos transgressores. Mas esse
optariam por esse tipo de financiamento. Porém não é, segundo a pesquisadora, um processo ainda em
há consenso sobre qual, se o público ou o privado, andamento, e há diversos casos de impunidade para
é o melhor para coibir práticas ilegais – como se vê alguns protagonistas de escândalos em torno de “re-
indistintamente pelos escândalos em países que têm cursos não contabilizados” em eleições anteriores.
um ou outro tipo, com regras as mais variadas. Como exemplo dessas medidas importantes, a pes-
No debate sobre financiamento de partidos e quisadora cita aquelas que permitem que as presta-
eleições, impedir manobras corruptas não é a única ções de contas dos partidos políticos e das campanhas
preocupação. Existe também a de garantir que haja eleitorais possam ser consultadas pelos eleitores na
competição saudável, de modo que setores menos internet. Já é possível verificar as prestações de con-
fortalecidos economicamente possam, em tese, con- tas das campanhas eleitorais desde 2002 e dos par-
ilustrações catarina bessell

correr com as mesmas possibilidades. “Um modelo tidos políticos dos anos de 2007 e 2008. Além disso,
adequado de financiamento político para um deter- evitam-se hoje as “doações ocultas”, aquelas feitas aos
minado país pode não ser o melhor para outro”, afir- partidos e imediatamente transferidas aos candidatos.
ma a cientista política Adla Youssef Bourdoukan, que No passado, a identidade dos doadores permanecia
estudou o tema em sua tese O bolso e a urna: financia- oculta. Eleitores só sabiam que um doador contribuiu
mento político em perspectiva comparada, defendida para a campanha de determinado partido quando

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este prestasse contas em abril do ano se-
guinte à eleição; e mesmo assim não era
informado o destino da doação. Com Os modelos de financiamento po-
as novas medidas, os partidos políticos lítico envolvem uma série de variáveis,
têm de declarar a fonte dos recursos que como explica a autora de O bolso e a
irão transferir para candidatos durante urna. São eles que determinam como
as campanhas eleitorais. os recursos podem ser arrecadados. As
fontes de recursos podem ser, como se

O
cientista político Bruno Wilhelm disse, públicas, privadas ou ambas. A
Speck, professor da Universidade eleitoral eficiente e cidadãos atentos e depender da escolha de cada país, os
Estadual de Campinas (Unicamp) críticos, que questionem os seus can- doadores podem ser indivíduos, em-
e autor das pesquisas Caminhos da didatos sobre estas doações”, explica o presas, sindicatos ou associações. Países
transparência: análise dos componentes cientista político. também podem definir quais os limites
de uma sistema nacional de integridade Aperfeiçoa-se, assim, o modelo de para as doações individuais e para a ar-
(Editora Unicamp) e Control ciudada- financiamento já existente, adotando recadação dos partidos. E também esta-
no del financiamento politico (Transpa- regras mais rígidas para a prestação de belecer regras sobre como esses recursos
rency International Secretary), diz que, contas e a divulgação dos dados. Ou- são gastos e se podem ser realizados por
de fato, o Brasil já avançou bastante no tra opção, além desse aperfeiçoamen- partidos, candidatos ou por terceiros, se
aperfeiçoamento do seu modelo de fi- to, seria, segundo ele, uma mudança há limites, vetos ou prazos. Geralmente
nanciamento. O país, segundo Speck, radical para um sistema de financia- se classificam os modelos de financia-
aposta menos em proibições e vetos e mento público exclusivo. Porém, co- mento político em termos das fontes de
mais em regras básicas de prestação mo diz Speck, o Congresso Nacional, receita. Dessa forma, nas democracias
de contas e transparência. “O anterior que tem competência para isso, não contemporâneas, encontram-se três
proibia doações de empresas, mas de avança nesse rumo. “A dicussão em modelos de financiamento político:
fato era uma fachada que camuflava torno do tema sugere explorar cami- exclusivamente privado, misto e por
o vale-tudo. Hoje é menos precário”, nhos alternativos para tirar a reforma matching funds (ou contrapartidas).
afirma Speck. Os candidatos e partidos política do beco sem saída em que se

N
podem receber recursos de praticamen- encontra há anos”, afirma Speck. o levantamento que fez, Adla
te todas as pessoas físicas e empresas, No Brasil há muita literatura sobre Bourdoukan encontrou países
sem limitação efetiva sobre os valores, partidos, sistemas partidários e eleições, que adotam um teto máximo para
com a condição única de que prestem mas quase nada sobre como os partidos os gastos com campanhas eleitorais,
contas sobre a origem e a aplicação à financiam suas atividades, avalia Maria como Reino Unido, Portugal, Espanha,
Justiça Eleitoral, que divulga estes dados Hermínia Tavares de Almeida. Por esse Argentina, México. Alguns proíbem as
na íntegra na internet. “Há certamente motivo, ela considera como pioneira a doações de empresas com finalidade
recursos não declarados ainda. Mas há tese de Adla Bourdoukan. “Os estudos lucrativa, como Estados Unidos, Mé-
também um volume considerável de sobre financiamento partidário estão xico, Israel. Outros impedem aquelas
recursos – em torno de R$ 2 bilhões por engatinhando no Brasil. A literatura feitas por associações sindicais ou pa-
eleição – dos quais sabemos a origem internacional, bem explorada no tra- tronais. Entre eles incluem-se Brasil,
e a aplicação. Conhecemos os grandes balho dela, mostra que há diversidade Argentina, França, Portugal, Estados
doadores. Mesmo que sejam doações nos modelos de financiamento e que são Unidos. Em alguns países há pulveriza-
dentro da lei, a imprensa observa de raros os países que se baseiam em ape- ção das fontes de receita dos partidos e
perto estas empresas e os políticos que nas um tipo de financiamento. Predomi- candidatos. Os Estados Unidos são um
se elegeram com ajuda destes recursos. nam aqueles que combinam o público e exemplo. Nas suas últimas eleições pre-
É um sistema que tem falhas ainda, mas o privado, como ocorre no Brasil”, diz. sidenciais, 34% das doações individuais
é inegavelmente superior ao que esta- Novos estudos, segundo ela, podem fa-
va em vigor antes. Requer uma Justiça zer avançar o debate em várias questões:
“Os determinantes da preferência pelos
distintos modelos; a espinhosa questão
do peso dos recursos não oficiais no
financiamento aos partidos; as formas
possíveis de monitoramento público do
financiamento partidário”.

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Em países que utilizam financia-
mento exclusivamente privado a com-
petição se dá não só em torno de votos,
mas também em relação aos recursos
para financiar as campanhas políticas
e o funcionamento dos partidos polí-
ticos. “Mas não é correto supor que os
partidos com acesso a mais recursos base no desempenho dos partidos nas
seriam mais beneficiados, porque esses eleições anteriores ou na eleição atual.
recursos não necessariamente irão se No primeiro caso, que é a opção ado-
transformar em votos”, explica a pes- tada pela maior parte dos países com
quisadora. “É claro que um mínimo financiamento público, existe uma
para a campanha de Barack Obama de recursos é necessário para que as tendência ao engessamento do sistema
foram de valores considerados baixos, propostas do partido ou candidato partidário, pois as eventuais mudanças
inferiores a US$ 200. A campanha de se tornem conhecidas dos eleitores e de preferência do eleitorado no tocante
Obama, segundo ela, foi notória por assim possam gerar votos, mas uma aos partidos políticos não estarão sen-
mobilizar grande número de pequenos série de estudos aponta também para do levadas em conta na distribuição
doadores, mas se pode dizer que as pe- um efeito oposto: votos atraem recur- dos recursos públicos.
quenas doações são uma característica sos. Isso porque poucos doadores es-

E
do sistema norte-americano: na cam- tão dispostos a desperdiçar dinheiro m O bolso e a urna, a cientista po-
panha de George Bush, em 2004, 26% contribuindo com campanhas com lítica se detém principalmente no
do total de arrecadação foi em valores poucas chances de vencer as eleições, efeito de cada tipo de financiamento
inferiores a US$ 200. ao passo que um grande número de – privado ou público – na competição
O modelo de matching funds, no doadores estaria disposto a contribuir eleitoral. Uma das conclusões é que este
qual o Estado contribui com recursos com campanhas que supõem que pos- costuma variar em função do sistema
proporcionais aos arrecadados pelos sam ser vencedoras, mesmo quando eleitoral. Em países com sistema elei-
candidatos, é adotado nas eleições para as preferências políticas dos doadores toral proporcional – aquele em que se
determinados cargos nos Estados Uni- e dos candidatos não são as mesmas”, exige um número mínimo de votos e
dos e na Alemanha, mas, de acordo com acrescenta Adla Bourdoukan. há divisão de votos entre partidos – há
a pesquisadora, sofreu um grande golpe No caso do financiamento público, mais financiamento público. Na outra
nas últimas eleições norte-americanas a possibilidade de haver efeitos sobre a ponta, em países em que o sistema elei-
com a recusa de Barack Obama de par- competição partidária é maior, alerta toral é majoritário – ou seja, o candidato
ticipar do esquema por não desejar se a pesquisadora. “O Estado tem de es- vitorioso é o que obtém a maioria, e os
comprometer com um teto máximo tabelecer critérios para distribuir os eleitores votam em pessoas –, há maior
para seus gastos de campanha. recursos públicos: pode dar uma quan- predomínio de financiamento privado.
tidade igual de recursos para todos os “Há predominância de financiamento

O
financiamento privado sempre partidos ou candidatos, o que equali- público em sistemas proporcionais co-
foi predominante no Brasil, com zaria artificialmente a disputa eleitoral, mo instrumento de restrição do mer-
exceção do período militar, quan- além de atrair para a disputa candida- cado eleitoral em benefício de partidos
do as doações vindas de empresas com turas oportunistas cujo objetivo único mais estabelecidos”, afirma.
finalidade lucrativa foram proibidas e seria se apropriar desses recursos, ou A pesquisadora diz que países com
surgiu o fundo partidário. A primeira destinar recursos proporcionalmente sistemas proporcionais tendem a uti-
forma de financiamento público no à relevância política dos partidos ou lizar critérios para a distribuição dos
Brasil foi o horário gratuito para cam- candidatos”, explica. Existem basica- recursos públicos baseados no resul-
panhas eleitorais no rádio e na TV, que mente duas possibilidades para medir tado das eleições anteriores. Com isso,
teve início em 1962. O financiamento essa relevância política, diz ela: com segundo ela, a competição pode ficar
público direto, na forma do fundo par- prejudicada. Tendo em conta as regras
tidário, foi estabelecido em 1965 e teve atuais para distribuição dos recursos
existência ininterrupta até hoje, embora do fundo partidário, a pesquisadora
com modificações na distribuição dos afirma que, no Brasil, é possível que
recursos. Pelos cálculos da pesquisado- um aumento no percentual do finan-
ra, o financiamento público no Brasil ciamento público em relação ao total
representou aproximadamente 28% do (hoje é pouco mais de 20%), ou uma
total do financiamento político total em eventual implementação do financia-
2002, 24% em 2004 e 28,3% em 2006. mento exclusivamente público, como
já foi proposto, tenha como conse-
quência o engessamento da disputa
eleitoral, o que pode levar a uma dimi-
nuição do número de partidos. n

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