Eficiência energética

Climatização invisível por superfícies

radiantes no edifício
Os sistemas de climatização por
superfícies radiantes vão ganhando
terreno à medida que os prescritores os
contemplam na execução dos seus
projectos de construção. Apesar de se
tratar de sistemas inovadores desde o
ponto de vista tecnológico, o conceito
físico de troca de temperaturas nos
quais se baseiam é o mesmo que
usavam intuitivamente os habitantes das
cavernas em tempos pré-históricos.
Existe uma variada e muito acessível
literatura sobre as características e
vantagens destes sistemas, que os
fabricantes e distribuidores facilitam aos
utilizadores finais, prescritores e
instaladores, e que não consideramos
necessário reproduzir. Por este motivo
neste artigo tentamos esclarecer as
dúvidas que alguns arquitectos nos
transmitiram ao incluir o chão radiante
nos seus projectos, tarefa que
pretendemos continuar nas próximas
edições.

através dos compressores que respeito, e com técnicos com

Em Espanha, apenas 4 em cada 100
edifícios contam com este sistema de
climatização, enquanto nos países
nórdicos, o valor ronda os 66% da
população, tal como indicou
recentemente o vice-presidente da
Uponor España, Fernando Roses.
A tendência do crescimento é
positiva não apenas por parte dos
utilizadores, dos quais 88% pedem
soluções de poupança energética
nas suas habitações, de acordo com
uma recente sondagem da Uponor
realizada por uma consultora
independente. Também os
prescritores encontram nestes
sistemas de climatização invisível
uma resposta ao aproveitamento das
fontes de energia renováveis como o
sol e o solo (geotérmica) que
permitem cumprir os requisitos do
CTE e da classificação energética
dos edifícios, e ao mesmo tempo
evitam a degradação de um
elemento fundamental na concepção
de um edifício como é a fachada,
servem o tradicional split, sistema de experiência nas superfícies radiantes
refrigeração mais utilizado (35%) de empresas de ponta na instalação
pelos utilizadores, de acordo com os deste tipo de tecnologias.
dados fornecidos pela mencionada
sondagem. Como são concebidos os
circuitos?
A norma UNE EN1264, nos números
1 a 4, define o conceito de chão Na concepção dos circuitos, é
radiante em todas as suas vertentes, aconselhável optar por uma
apesar de se aplicar apenas ao configuração em dupla serpentina ou
aquecimento. No que diz respeito à em espiral. De acordo com estas
refrigeração, existe uma proposta configurações, os tubos de ida e
que se está a consolidar, apesar de retorno são sempre contíguas,
ainda não existir uma data prevista estando o mais quente próximo do
para a sua publicação e aplicação. mais frio, o que garante uma
Esta norma basear-se-ia nos emissão/absorção térmica
preceitos que já estão estabelecidos homogénea (Inverno/Verão).
na UNE EN 1264.
O formulário de pergunta/resposta
que propomos a seguir é o resultado
das conversas entre a redacção da
InfoDomus e os arquitectos que
utilizam e/ou pretendem utilizar os
sistemas de climatização invisível
nos seus projectos e que nos
transmitiram as suas dúvidas a este

1

Alguns especialistas recomendam a
aplicação da dupla serpentina
quando a superfície a tratar tem uma
planta geométrica complexa,
enquanto a espiral é a mais
adequada para formas geométricas
simples, pois ao existir curvas menos
pronunciadas, a sua instalação é
mais simples.
Alguns arquitectos familiarizados
com este tipo de instalações
costumam dispor os circuitos de
forma a permitir a cobertura de zonas
que recebem sol directo (quantos
orientados a sul, por exemplo) e
zonas que não recebem sol directo
(quartos virados para norte) para
levar o calor obtido das primeiras
para as segundas, com a finalidade
de poder distribuir de forma mais
homogénea no edifício o calor
gerado de forma passiva,
programando movimentos da água
para transportar o calor ao longo do
sistema.
Onde é que se podem aplicar as
superfícies radiantes?
As superfícies radiantes são aptas
para a sua aplicação no chão, no
tecto e nas paredes. Apesar da sua
aplicação no chão ser a que tem
maior aceitação, tanto como sistema
húmido (com argamassa) como
sistema seco (por exemplo, com
placas de gesso cartonado), a
aplicação por tecto radiante é uma
solução compatível com a construção
em seco (através da utilização de
placas de gesso ou integrado em
tectos falsos), permitindo que com
temperaturas de impulsão só
ligeiramente diferentes da
temperatura ambiente, se alcancem
rendimentos altos, apesar de se
aconselhar em tectos,
principalmente, a sua aplicação para
frio.
Outra opção é a instalação de
superfícies radiantes nas paredes,
apesar de, por razões óbvias, o seu
rendimento poder ser afectado por
elementos de decoração, tais como
móveis (armários, armários
encastrados, quadros,...) e pode-se
colocar em perigo a instalação pois
com a intervenção do utilizador, por
exemplo, com a utilização de
berbequim que poderia perfurar o
circuito de condução da água.
Para além disto, as paredes
costumam albergar uma teia de
tubos e canalizações para o
saneamento e electricidade que
dificultam esta opção.
Como é que se dimensionam estas
instalações?
Recomenda-se a utilização de um
circuito independente para cada
divisão por várias razões, como a
vantagem de poder regular de forma
individual cada uma das divisões em
função das necessidades.
Para além disto, os técnicos
desaconselham a utilização de um
circuito com tubo de 16 mm com
mais de 120 metros lineares, o que
equivale aproximadamente a uma
superfície de 17 m2, já que a partir de
aí, as perdas de pressão poderiam
ser muito altas e o sistema não
funcionaria correctamente.
No caso de alguma divisão com mais
de 17 metros quadrados, propõe-se a
instalação na mesma de dois
circuitos ligados a um mesmo
sistema de regulação com o objectivo
de manter uma temperatura
homogénea em toda a divisão.
Portanto, antes de desenhar os
circuitos é necessário medir as áreas
que vão ser climatizadas por cada
um dos circuitos e a distância
existente entre a área a climatizar e o
colector, bem como a distância entre
tubos.
O cálculo do comprimento de cada
circuito é determinado tendo por
base a fórmula L= A/e + 2·l, em que
“A” é a área a climatizar pelo circuito
em metros quadrados, “e” é a
distância entre tubos (m) e “l” é a
distância entre o colector e a área a
climatizar.
Assim, um circuito que climatize uma
divisão de 10 m2, com uma distância
entre tubos de 15 cm (0,15 m) e uma
distância até ao colector de 6 m,
deverá ter um comprimento de L=
(10/0,15) + (2x6)= 79 metros
lineares. Os especialistas
recomendam um espaço equidistante
em todos os circuitos da instalação.
Por outro lado, como passo prévio ao
dimensionamento da instalação
deve-se conhecer as cargas térmicas
da divisão a climatizar, que indica as
perdas e os ganhos energéticos
pelas entradas e saídas do local,
pela ventilação espontânea (frestas
nas portas e janelas) ou forçada, ou
por ganhos internos de calor, que
devem ser compensados pelo
sistema para obter as condições
interiores de conforto desejadas.
São sistemas mais eficazes que os
de refrigeração por ar?
Há que ter em conta que o chão
radiante é um sistema de baixo
consumo energético, o que implica
que deve ir acompanhado de um
desenvolvimento arquitectónico e da
aplicação de critérios bioclimáticos
como as sombras exteriores, tanto
sejam trepadeiras, pérgulas ou
mesmo árvores de folha caduca, que
permitem a passagem do sol nos
meses de Inverno e impedem-no na
época estival.
De acordo com os especialistas,
trata-se de um aspecto essencial
para o óptimo aproveitamento do
sistema de climatização, já que as
protecções solares no interior
(estores, cortinas…) carecem de
eficácia logo que o sol entra no local
(efeito estufa).
Em qualquer caso, há que ter em
conta que os sistemas de chão
radiante consomem para frio cerca
de 50 kW/m2, enquanto os outros
sistemas de refrigeração por ar
consomem entre 120 e 150 W/m2.
Pode ser utilizado com qualquer
tipo de chão?
Efectivamente, os sistemas de
climatização por chão radiante são
adaptáveis a qualquer tipo de
2
pavimento. Alguns arquitectos
optaram nos seus projectos por
aplicar o chão radiante para o
aquecimento, desconsiderando a sua
utilização para refrigeração perante o
receio que o sistema possa deteriorar
o chão revestido de madeira. No
entanto, não existe nenhuma
complicação técnica que impeça a
compatibilidade de ambas
utilizações, independentemente do
tipo de pavimento no edifício.
Logicamente, os pavimentos
cerâmicos têm uma maior
transmitância térmica que a madeira,
que pela sua natureza é um material
isolante, cuja resistência térmica
depende da sua espessura. Existe
um valor máximo de 0,15 m2 K/W,
que na prática corresponde a uma
madeira entre 1,0 e 1,5 cm de
espessura a partir da qual é
desaconselhada a utilização do chão
radiante, tanto para a sua aplicação
no aquecimento como na
refrigeração.
Em qualquer caso, existem no
mercado fabricantes de pavimento
flutuante que oferecem a certificação
dos seus produtos como adequados
para a sua utilização com sistemas
de chão radiante.
O chão radiante afecta o cálculo
de estruturas do edifício?
Independentemente de ser instalado
ou não o chão radiante, actualmente
Setembro 2007
os prescritores coincidem em
determinar que qualquer edifício de
nova construção inclui em cada
andar ou placa a colocação de uma
placa de argamassa de 7-10 cm.
Ou seja, este peso é equivalente ao
do chão radiante, que requer uma
capa de argamassa de
aproximadamente 6 cm (4,5 cm
sobre o eixo do tubo).
Para além dos colectores
distribuidores de chão radiante que
fazem parte da instalação e que se
situam em caixas ou armários
encastrados na parede, os elementos
que integram o sistema e que se
aplicam no chão são o rodapé
perimetral, uma banda à base de
espuma de polietileno que absorve
as dilatações produzidas pela
argamassa colocada sobre os tubos
emissores; um filme contínuo de
polietileno, opcional dependendo dos
casos, que se coloca sobre a base
da divisão a climatizar para evitar a
humidade; e o painel de isolamento
de poliestireno expandido, que
canaliza o circuito e isola
termicamente o sistema.
Finalmente, os tubos de polietileno
reticulado com barreira contra a
difusão de oxigénio que canalizam a
água.
Todos os componentes somados não
implicam alterações perceptíveis no
cálculo estrutural e, portanto, a
instalação não precisa de uma placa
especial. Quanto ao que se refere ao
volume de água (120 cm3/m de tubo
de 16x1.8 mm) do circuito, trata-se
de valores que se podem considerar
insignificantes neste assunto. Outro
assunto é quando se trata de uma
renovação, onde sim existem para
estes sistemas limites de peso e
altura, apesar dos fabricantes já
resolverem este problema através de
sistemas que utilizam outro tipo de
difusores para além da argamassa,
mais ligeiros.
Pode-se aplicar a domótica a estes
sistemas?
O tipo de controlo que se pode
exercer sobre os sistemas de
aquecimento e refrigeração varia
muito em função do tipo de sistema
de aquecimento ou refrigeração
empregado, assim como da tipologia
do edifício.
A vinculação dos sistemas domóticos
com o chão radiante permite não
apenas controlar a activação como a
desactivação dos sistemas de
geração, mas também aproveitar a
informação de sondas de
temperatura encastradas nas placas
de argamassa e dos dados de
humidade relativa e temperatura
ambiente para optimizar o
funcionamento do sistema.