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ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:
Contexto, Resultados de Pesquisas
e Relatos de Experiências
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
REIT OR
REITOR
Alcibiades Luiz Orlando
VICE-REIT
VICE-REITOROR
Benedito Martins Gomes
PRÓ-REITORA DE PESQ
PRÓ-REITORA UISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PESQUISA
Fabiana Scarparo Naufel
Coordenadora
Profª. Drª. Lourdes Kaminski Alves
APARECIDA DE JESUS FERREIRA
Organizadora
PEAB – PROJETO DE
ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:
Contexto, Resultados de Pesquisas
e Relatos de Experiências
Mestrado
em Letras
CASCAVEL
CASCAVEL
2008
Copyright ©2008 by Aparecida de Jesus Ferreira.
Ficha catalográfica
catalográfica: Marcia Elisa Sbaraini-Leitzke CRB-9/539
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Inclui bibliografias
ISBN: 978-85-7644-120-5
PARTE 1: CONTEXT
PARTE O E RESUL
CONTEXTO TADOS DE PESQ
RESULT UISAS
PESQUISAS
1. PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros:
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
9
APRESENTAÇÃO
ros) é um projeto de extensão que existe desde 2005, no entanto passou a ser
chamado de PEAB em 2007 e tem o propósito de discutir questões acerca da
formação de professores e de relações étnico-raciais.
A primeira parte desta coletânea contém textos que enfocam o contexto do
PEAB e resultados de pesquisas. Nesta parte, o primeiro artigo aborda o PEAB –
Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: uma retrospectiva da história do PEAB, de auto-
ria de Aparecida de Jesus Ferreira. O artigo proposto tem a intenção de recontar o
contexto histórico do PEAB, projeto que teve como objetivo propiciar aos professo-
res em formação e em exercício (e demais interessados) a possibilidade de discutir
assuntos atinentes à formação de professores e a relações étnico-raciais. Esta propo-
sição se deu pensando nos PCNs, nas Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental
e na Lei nº 10639, de janeiro de 2003 (que torna obrigatório o ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana) e pensando na falta de preparo dos professores
em lidar com esta temática. O projeto pretendeu dar embasamento teórico-prático
para tal temática, enfocando uma forma interdisciplinar de trabalho. Este projeto
também objetivou integrar os professores em formação e os professores em serviço,
auxiliando-os a incorporar no currículo escolar a discussão das relações étnico-raciais
e da identidade no Ensino Fundamental, Médio e Universitário. A metodologia utili-
zada foi em forma de vários workshops, seminários, trabalhos em grupos. Foram
discutidos textos, bem como foi realizada análise teórico-prático de materiais de
ensino, com aplicação de material que enfoca a temática, utilizando vários gêneros
(filmes, documentários, poemas, contos, autobiografias, livros de literatura infantil e
infanto-juvenil, textos de jornais e revistas, etc.). A expectativa dos organizadores/
realizadores do projeto era aproximar e promover o diálogo entre a educação básica
e o ensino superior quanto a questões pertinentes à formação e à atuação docente,
bem como era favorecer a prática de uma postura reflexiva dos professores sobre sua
própria atuação. Esperou-se também incentivar os professores a buscarem o aperfei-
çoamento de sua qualificação através dos cursos e dos eventos.
O segundo artigo trata das Abordagens críticas e folclóricas na aplica-
ção da Lei Federal nº 10.639/2003, artigo de autoria de Rosani Clair da Cruz Reis.
11 Este texto teve por objetivo detalhar as abordagens que podem ser utilizadas
APRESENTAÇÃO
pelos professores ao se aplicar a Lei Federal n.º 10.639/2003, a qual tornou obri-
gatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, tema desenvol-
vido em um dos seminários promovidos pelo Projeto de Estudos Afro-Brasileiros
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
que são: professores e acadêmicos que já tiveram experiência com cursos (ou
eventos de qualquer outra natureza) acerca do tratamento da diversidade étnico-
racial na escola e, para realizar o contraponto, professores e acadêmicos que
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
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PARTE I
CONTEXTO E
RESULTADOS DE
PESQUISAS
1 PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS
AFRO-BRASILEIROS: UMA
RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB 1
(Coordenadora do PEAB)2
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
como favorecer a prática de uma postura reflexiva dos professores sobre sua
própria atuação. A expectativa era a de também incentivar os professores a bus-
carem o aperfeiçoamento de sua qualificação através dos cursos, de eventos e da
participação neste tipo de projeto (tudo ofertado pela universidade), bem como
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
OBJETIVOS DO PR
OBJETIVOS OJET
PROJETO PEAB
OJETO
MÉTODOS
MÉTODOS
Histórico de 2005
1º. Encontro
Conteúdos
• Discussão de terminologias: raça, etnia, identidade, racis-
mo, discriminação, preconceito, mito da democracia racial,
embranquecimento, branquidão e racismo institucional.
• Estudo dos PCNs.
• Lei Federal nº 10.639/2003.
Atividades Reflexivas
• Quais são suas expectativas com relação ao Curso de For-
mação de Professores e Diversidade Étnico-Racial?
• Como e quando você se deu conta de que o racismo existe?
Faça uma relação com suas experiências pessoais.
• De que forma a questão racial /étnica permeia sua vida pro-
fissional?
2º. Encontro
Conteúdos
• Cultura e Literatura Afro-Brasileira (trabalho desenvolvido
pelo Prof. Espec. José Carlos da Costa).
• Formação de Professores e Diversidade Étnico/Racial.
• Reflexões étnico-raciais utilizando vários gêneros: autobiografias,
poemas e músicas, filmes, documentários, artigos de jornais e revis-
tas, entrevistas e livros de literatura infantil e infanto-juvenil.
22 • Reflexões sobre Raça e Classe.
PROJETO PEAB – PROJETO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS: UMA RETROSPECTIVA DA HISTÓRIA DO PEAB
Atividades Reflexivas
3º. Encontro
Conteúdos
• Discussão e análise de terminologia: ações afirmativas (co-
tas), identidade étnico-racial.
• Análise da Constituição Federal e lei contra o racismo.
• Negro na História do Brasil Colônia, Império e República
(trabalho desenvolvido pelo Prof. Dr. Nilceu Jacob Deitos).
23 • Discussão e análise do material de ensino.
Aparecida de Jesus Ferreira
Atividades Reflexivas
• Por favor, contribua com um exemplo de uma experiência de
racismo que tenha ocorrido com você, ou situação que tenha
presenciado ou ouvido. Os exemplos podem ser dentro e fora
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
4º. Encontro
Conteúdos
• Avaliação da experiência do uso de material de ensino vol-
tado para uma reflexão étnico-racial em sala de aula.
• Reflexões sobre identidade profissional e relações étnico-raciais.
Atividades Reflexivas
reflexivas tiveram um papel muito importante, pois através deste exercício as/os
professoras/es puderam refletir sobre questões antes não pensadas.
Histórico de 2006
INSCRIÇÕES
Local: NEI (Núcleo de Estudos Interdisciplinares),
da UNIOESTE, Campus de Cascavel.
Certificação: NEI (Carga horária total: 10 horas).
CRONOGRAMA
CRONOGRAMA
8:30 ABERTURA Formação de Professores e
de Relações Étnico- Raciais
Dra. Iolanda de Oliveira (UFF).
• Narrativ
Narrativaa como Estratégia na Abordagem Étnico-Racial
Abordagem
(vagas 50 – sala 22).
Profa. Esp. Rosani Clair da Cruz Reis (Mestranda em Letras
- Unioeste/Cascavel e Profa. NRE).
VAGAS LIMIT
LIMITADAD AS: 400 para a Conferência e Mesa Redonda, vagas que
ADAS:
serão preenchidas de acordo com a ordem de inscrição e 380 para os
minicursos, vagas que serão preenchidas de acordo com a ordem de inscrição.
Histórico de 2007
Tema:
P ro j e t o P E A B : U m o l h a r a c e rc a d a s p e s q u i s a s e m re l a ç õ e s é t n i c o - r a c i a i s
Debatedoras:
Profa. Dra. Aparecida de Jesus Ferreira
Profa. Dra. Lourdes Kaminski Alves
DISCUSSÃO E RESULTADOS
RESULT
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi exemplificado pelo PCN e também pela Lei Federal nº 10639/
2003, há uma necessidade de cursos de formação de professores que estejam preo-
cupados com uma educação anti-racista e que promova a igualdade racial e social.
Vários têm sido os exemplos que comprovam que as escolas e as universidades não
estão sabendo lidar com situações que reflitam sobre o direito à cidadania, à igual-
29 dade e à justiça social (GILLBORN, 1995; FERREIRA, 2004, MOITA LOPES, 2003).
Aparecida de Jesus Ferreira
NOTAS
NOT
1
Este trabalho, em uma versão simplificada em formato pôster, foi apresentado e publicado em 2007
no VI SEU (Seminário de Extensão da Unioeste) e o mesmo trabalho foi premiado como um dos
melhores trabalhos de extensão da Unioeste e foi apresentado no SEURS (Seminário de Extensão
Universitária da Região Sul).
2
Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pela
University of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em Lingüística
Aplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores de
Línguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,
Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-
tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa em Linguagem.
Faz parte do grupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem e
Ensino. As áreas de interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/
Aprendizagem de Línguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticos
para a Sala de Aula de Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têm
se voltado para as questões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é:
Formação de Professores de Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado:
“Formação de Professores Raça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel:
Coluna do Saber. 2006. Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <cidajferreira@yahoo.com.br>.
Site: <www.aparecidadejesusferreira.com>.
REFERÊNCIAS
HALL, S. New Ethnicities. In: J. Donald and A. Rattansi. ‘Race’, culture & difference.
London: Open University Press, 1992. p. 252-259.
HERINGER, R. Race inequalities in Brazil. Brasília: Escritório Nacional Zumbi dos
Palmares, 2000.
MOITA LOPES, L. P. Socioconstrucionismo: discurso e identidade social. In: Luiz
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
Paulo Moita Lopes (Ed.) Discursos de identidades: discurso como espaço de construção
de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2003. p. 13-38.
SEED - SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO. Currículo Básico para a
Escola Pública do Paraná. Curitiba. 1992.
SEED - SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO. Dir etrizes Curricular
Diretrizes es: Da
Curriculares:
Educação Fundamental da Rede de Educação Básica do Estado do Paraná. Ensino
Fundamental
Fundamental. Curitiba. 2006.
WOODWARD, K. Identity and difference. London: Open University Press. SAGE. 1997.
difference.
32
2 ABORDAGENS CRÍTICAS E
FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO
DA LEI FEDERAL N.º 10.639/20031
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
TENDÊNCIAS MULTICUL
MULTICULTURALIST
TICULTURALISTAS
TURALISTAS
Multiculturalismo conservador:
EDUCAÇÃO ANTI-RACIST
ANTI-RACISTA
CISTA
dade cultural e étnica” (DEI, 1999, p. 25). Esta abordagem é defendida por diversos
autores (DEI, 1999; CAVALLEIRO, 2001; 2005; GOMES & SILVA, 2002; HENRIQUES
& CAVALLEIRO, 2005; SANTOS, 2005; FERREIRA, 2006), contudo, por apresen-
tarem de forma sistematizada os princípios da educação anti-racista, bem como
suas características, utilizarei, para fundamentar esta abordagem, Dei (1999) e
Cavalleiro (2001). O primeiro propõe dez princípios básicos interligados para a
educação anti-racista; e a segunda sistematiza orientações para a prática desta
abordagem voltada para a educação das relações étnico-raciais.
No Brasil esta abordagem nas políticas educacionais é bastante recente,
uma vez que inicialmente esse tema, discutido nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1997), recebia um tratamento nos moldes propostos pelo multiculturalismo
liberal, no item pluralidade cultural, constante entre os temas transversais. Depois de
2001, ano também em que aconteceu a Conferência de Durban4, é que começou a
haver, por parte do MEC, uma maior preocupação em dar um enfoque mais crítico às
discussões, publicando, então, em 2001, o livro “Superando o Racismo na Escola”, o
qual traz artigos que propõem um ensino voltado para a superação do racismo e do
preconceito racial no espaço escolar. Em 2003 foi sancionada a Lei Federal n.º 10.639/
2003 e, a partir de 2005, o MEC lançou várias publicações utilizando os conceitos
propostos pela educação anti-racista, obras dentre as quais o livro “Educação Anti-
Racista: caminhos abertos pela Lei Federal n.º 10.639/2003”.
A educação anti-racista pode ser definida, de acordo com Dei (1999),
como uma estratégia de ação orientada a uma mudança sistemática e institucional
para o enfrentamento do racismo e de outros sistemas de opressão e de desigual-
dades sociais, utilizando-se, para isso, de um discurso crítico de raça e do racis-
mo na sociedade. Ainda, conforme mencionado anteriormente, o anti-racismo
nomeia explicitamente as questões de raça e de diferenças sociais, em detrimen-
to de questões de diversidade cultural e étnica (DEI, 1999, p. 25). Ao discutir
assuntos relacionados à raça e às diferenças sociais identitárias, a educação
anti-racista questiona como se constituíram historicamente as relações de poder
e de dominação que estão embutidas nas estruturas institucionais da sociedade e
38 enfatiza que a noção romantizada de cultura, que não critica e nem interroga o
ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003
dos ali são iguais e que o que conta é o que está no interior
de cada um, ela encerra as identidades, ignorando gênero,
raça e classe, criando, assim, um apagamento de sexismo,
de racismo e de classismo (Idem, p. 31).
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Federal n.º 10.639/2003 “[...] é bem genérica e não se preocupa com a implementação
adequada do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira” (SANTOS, 2005, p. 33).
É genérica também porque nela não há nada falando sobre relações étnico-raciais,
deixando esse aspecto a cargo da interpretação feita pelos educadores, os quais, em
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
sua maioria, nunca leram as diretrizes que regulamentam a Lei Federal n.º 10.639/
2003, ou mesmo, no caso do Paraná, as Diretrizes Curriculares para a Educação das
Relações Étnico-Raciais, aprovadas em agosto de 2006.
Conhecer e diferenciar as abordagens por meio das quais a Lei Federal n.º
10.639/2003 pode ser cumprida, isto possibilitará ao professor o planejamento e a
adoção de atividades e de posturas capazes de formar cidadãos críticos, capazes de
ir além da aceitação das diferenças, conhecendo as origens destas; cidadãos consci-
entes da existência das relações de poder e dos mecanismos que as mantêm; cida-
dãos que, conscientes destas questões, percebam que a defesa de seus direitos pres-
supõe a defesa dos direitos daqueles que se encontram em situações semelhantes a
ele; cidadãos que não se neguem ou que não neguem sua cultura para tentar ser aquilo
que a cultura dominante impõe como norma. Enfim, trata-se de formar cidadãos
transformadores não só de sua realidade, mas dos rumos da história.
NOTAS
NOT
1
Este artigo é parte da dissertação “Diversidade Étnico-Racial: abordagens folclóricas predominam na
aplicação da Lei Federal n.º 10.639/2003”, desenvolvida no Mestrado em Letras, área de concentração
“Linguagem e Sociedade”, na UNIOESTE, Campus de Cascavel, defendida em fevereiro de 2008.
2
Rosani Clair da Cruz Reis: Possui graduação em Letras Português/Inglês pela Universidade Esta-
dual do Oeste do Paraná (1996), especialização em Didática e Metodologia do Ensino de Língua
Portuguesa – Teoria & Prática, pela Universidade Norte do Paraná (2002) e está concluindo
Mestrado em Letras, na área de concentração “Linguagem e Sociedade”, no qual desenvolve
pesquisa relacionada às relações étnico-raciais no contexto escolar, dentro da linha de pesquisa
“Linguagem e Ensino”. Rosani é professora da rede pública estadual de ensino da cidade de
Cascavel e ministrou, entre 2006 e 2007, o curso “A Lei Federal n.10.639/2003 no Contexto
Escolar”, promovido pelo Mestrado em Letras e Núcleo Sindical da APP naquele município. No
PEAB, em 2006, a profa. Rosani ofereceu a oficina “O Uso de Narrativas na Abordagem Étnico-
Racial” e, em 2007, apresentou seminário discutindo sobre as diversas abordagens nas quais os
professores se podem fundamentar para a aplicação da Lei Federal nº 10.639/2003.
3
Uso, neste estudo, a palavra discurso no entendimento proposto por Lankshear: Discursos podem ser
definidos como modos socialmente construídos e reconhecidos de fazer e de estar no mundo, que
integram e regulam as formas de agir, de pensar, de sentir, de usar a linguagem, de acreditar e de
valorizar. Através da participação em discursos, nós ocupamos papéis sociais e tomamos posições que
outros seres humanos podem identificar como significativas e com base nas quais são constituídas as
identidades pessoais (LANKSHEAR, 1994, p. 6). É dentro e através do(s) discurso(s) que os seres
humanos concebem, adotam, e, assim, dão forma aos valores e aos significados. (Idem, p. 7).
4
Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
44 Este evento aconteceu em Durban, África do Sul, entre os dias 31 de agosto a 8 de setembro de 2001.
ABORDAGENS CRÍTICAS E FOLCLÓRICAS NA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N.º 10.639/2003
REFERÊNCIAS
45
3 LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E
POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO
DE ESTRATÉGIAS ANTI-RACISTAS
E A LEI FEDERAL nº 10.639/2003 1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
O CONTEXTOD
CONTEXTO A PESQ
DA UISA E A MET
PESQUISA ODOLOGIA
METODOLOGIA
de outras localidades para a região. Cidade Verde, no momento da coleta dos dados
em 2002, tinha 40 escolas (incluindo Ensino Fundamental e Médio). Dos docentes
das 40 escolas, 46 professores responderam a um questionário e seis destes foram os
meus entrevistados. Esta amostra de resultados é parcial, pois outros instrumentos de
coleta foram utilizados, como, por exemplo: uma oficina de produção de material de
ensino, considerando a temática; entrevistas (inicias e finais); questionários induzidos
para auto-reflexão; e observação de sala de aula. Neste momento apresento, no en-
tanto, somente estes resultados. Com relação às narrativas e às considerações que
utilizo para minha análise, somente nomeio (utilizando nomes) os professores que
foram meus informantes nas entrevistas. Com relação às contribuições dos questioná-
rios, nomeio os informantes (todos os nomes utilizados são pseudônimos, para pro-
teger a privacidade dos/as professores/as).
Com relação aos instrumentos utilizados para coleta no que se refere
aos questionários, estes continham duas partes, uma de informações pessoais
e profissionais e outra com informações acerca da formação dos professores.
Com relação às entrevistas, as perguntas foram semi-abertas, com seis profes-
sores que se dispuseram a colaborar.
Embora me utilize de números algumas vezes, para dar evidência ao
que ocorre com os professores, estes números são utilizados com o mesmo sen-
tido dado por Mason (1994), que discute sua experiência de juntar dados qualita-
tivos e quantitativos na análise. Para Mason, qualitativo (significado) e quantitati-
vo (estrutura) não é a divisão de dois estágios. Para ela, “Ambos os estágios são
designados para fazer questionamentos, entre outras coisas, em diferentes níveis
de significado” (MASON, 1994, p. 110). A sugestão de Mason exemplifica minha
abordagem nesta pesquisa. Com isto quero dizer que os dados quantitativos que
utilizei ajudaram-me a propiciar um significado qualitativo para meus dados,
conjuntamente com outros instrumentos de dados utilizados, tais como as res-
postas abertas sugeridas no questionário e nas entrevistas.
Na próxima seção discuto alguns dos limites elencadas pelos professores para
a implementação de políticas educacionais que considerem raça/etnia e uma educação
anti-racista. Em primeiro lugar estão as condições de trabalho e, em segundo lugar, as
48 condições dadas aos professores pelas escolas e pela secretaria local de educação.
LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...
seus ganhos. De acordo com minha amostra, 67% dos/as professores/as têm um
grande número de aulas por semana, que varia de 26 a 40 aulas. O período de
trabalho dos/as professores/as varia de manhã à noite, em alguns casos, profes-
sores trabalham de manhã, de tarde e de noite. Ball, escrevendo sobre o contexto
do Reino Unido, afirma que “Os professores são confrontados por um aumento
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
das diferenças raciais e étnicas. Ela também descobriu que alguns/mas professo-
res/as mostraram iniciativas na sala de aula, mas muito poucas iniciativas foram
incorporadas em nível de escola. Desta forma, as iniciativas eram individuais e
ligadas ao próprio interesse do/a professor/a no assunto.
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
Desde que iniciei trabalhar, a secretaria local de educação nunca nos ofere-
ceu cursos sobre a temática pluralidade cultural – raça/etnia. Teve outros
tipos de cursos, mas nunca relacionadas à temática pluralidade cultural –
raça/etnia. (Fábia, entrevista).
IMPLICAÇÕES
Efeitos das condições de trabalho na escola: Efeitos das condições de trabalho na escola:
• Professores/as mais comprometidos/as. • Professores/as menos comprometidos/as.
• Mais tempo para preparar aulas. • Menos tempo para preparar aulas.
Estudantes: Estudantes:
• Tendência a ter mais estudantes brancos. • Tendência a ter mais estudantes negros.
Currículo: Currículo:
• Pais que têm condições de comprar livros • Pais não podem comprar livros didáticos
didáticos e materiais extras. e materiais extras.
• Pais podem participar nas reuniões esco- • Pais não podem participar dos encontros
lares (conseqüentemente eles exigem um da escola (é menos provável que eles sai-
currículo mais rígido da escola). bam o que está acontecendo na escola).
54
LIMITES, DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS...
POSSIBILIDADES
POSSIBILIDADES
Estratégias pedagógicas • Discutir em sala de aula sobre práticas anti-racistas para serem
adotadas por alunos.
• Ter uma discussão aberta com os alunos sobre xingamentos e
bullying (ameaças, pressão psicológica, descaso) relacionados a
raça/etnia (TROYNA & SELMAN, 1991, p. 54).
• Ter uma discussão aberta para que os alunos possam dividir
suas visões e seus sentimentos (EPSTEIN, 1993, p. 146).
• Desenvolver materiais de ensino que propiciem espaço para
que os professores os possam adaptar à realidade dos alunos
(TROYNA & SELMAN, 1991, p. 54).
• Organização de alguns materiais de ensino preparados pelos
alunos para discutir o assunto de raça/etnia (TROYNA &
SELMAN, 1991).
• Uso de estratégias de contar “estórias” para empoderar os alu-
nos negros (LADSON-BILLINGS, 1998, p. 13).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
afirma que não utiliza as reuniões escolares como recurso para se manterem
atualizados. Conseqüentemente, as escolas não eram vistas como fórum de discus-
são de pluralidade cultural (diversidade étnico-racial) nem como suporte aos/às
professores/as na implementação de novas políticas educacionais. Outro fator é
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
NOTAS
NOT
1
Este artigo em uma versão simplificada foi apresentado do InPLA de 2007 na PUC/SP.
2
Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pela
University of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em Lingüística
Aplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores de
Línguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,
Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-
tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa. Faz parte do
grupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem e Ensino. As áreas
de interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/Aprendizagem de
Línguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticos para a Sala de Aula
de Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têm se voltado para as
questões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é: Formação de Professores
de Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado: “Formação de Professores
Raça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel: Coluna do Saber. 2006.
Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <cidajferreira@yahoo.com.br>. Site:
<www.aparecidadejesusferreira.com>.
REFERÊNCIAS
APPLE, Michael W. The absent presence of race in educational reform. Race Ethnicity
and Education
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AUERBACH, Elsa Roberts. The Politics of the ESL Classroom: Issues of power in
pedagogical choices. In: TOLLEFSON, J. W. (Ed.). Power and inequality in languag
ower languagee
57 classroom
classroom
oom. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p. 9-33.
Aparecida de Jesus Ferreira
59
4 OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO
PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS:
UMA ANÁLISE A PARTIR DOS
PARÂMETROS NACIONAIS 1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
RETOMAD
RETOMADA HISTÓRICA: ANÁLISE DE MA
OMADA TERIAIS DE ENSINO
MATERIAIS
Deste modo, de acordo com Silva (1995, p. 59), dando aos negros tais
características, os materiais acabam por omitir a “[...] contribuição econômica e
a diversidade de funções e papéis desempenhados pelo homem negro no Brasil,
desde a sua chegada até os dias atuais”, além de deixar de comentar o acesso das
pessoas negras à profissões reservadas às pessoas brancas, a existência de mães
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
negras e os inúmeros papéis ocupados por elas na sociedade. Todos estes este-
reótipos educam tanto a criança negra quanto a criança branca já com uma men-
talidade racista. Na próxima seção discutiremos os parâmetros nacionais.
PARÂMETROS NA
ARÂMETROS CIONAIS: PNLD, PCNS E LEI FEDERAL Nº 10.639/2003
NACIONAIS:
certamente têm contribuído para isto. Estas mudanças são decorrentes de rei-
vindicações ocorridos por pressão de vários movimentos sociais (movimento
negro, movimento feminista e outros) e que foram transformados em parâmetros
nacionais como estes que estamos analisando.
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
que devem exercer dentro do sistema escolar de ensino em prol de práticas sociais
de igualdade étnico-racial, papel que, certamente, também passa pela questão de
saber analisar, de uma forma crítica e analítica, os materiais de ensino que utilizam
em sala de aula. É isso o que passamos a analisar na próxima seção.
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
ENCAMINHAMENTOS MET
ENCAMINHAMENTOS ODOLÓGICOS E ANÁLISE DO LIVR
METODOLÓGICOS O
LIVRO
ANÁLISE DE FIGURAS
A pipoca, em que, mesmo não tratando das diferenças raciais, traz a ilustração de
uma favela em que há apenas mulheres negras com o corpo bem destacado, talvez
para forçar a idéia do estereotipo da mulher afro-descendente sensual. Isto reforça
a análise feita por Gomes (1995), mencionada na seção da retomada histórica (aci-
ma), bem como o estereótipo de que negro mora na favela. Mais à frente, na página
101, há uma foto de uma menina afro-descendente com um piercing na língua, tra-
tando do preconceito social em relação ao que é diferente.
Na página 118, temos uma propaganda de protetor solar que força a idéia
da igualdade racial. Esta traz duas crianças, uma negra e outra branca, abraçadas,
porém mais à frente, na página 165 do material, já na terceira unidade, encontramos
a ilustração de um homem negro e uma entrevista com ele. Este homem negro conta
que ele fazia parte do submundo da violência e das drogas, e, com a ajuda de
algumas pessoas, conseguiu alcançar uma carreira de sucesso. Durante a entrevis-
ta, o pedagogo Roberto conta toda a história de sua vida e o que fez com que ele se
tornasse conhecido como O contador de histórias. Essa história pode auxiliar para
que os alunos consigam desconstruir aquela visão de que os negros são vistos
como subalternos, trazendo uma visão positiva, e também pode colaborar para
melhorar a auto-estima dos/as alunos/as afro-descendentes. Entretanto, quando o
material poderia aprofundar o assunto, passa para outras atividades, deixando ape-
nas a entrevista sem proporcionar nenhuma reflexão aos alunos/as. Podemos citar
ainda, nesta parte, a página 149, que traz a ilustração de crianças negras estudando,
o que mostra que estas também têm acesso ao estudo. Após, a página 171 aparece
com uma ilustração de várias pessoas, negras e brancas, participando de uma festa
religiosa e, por último, a página 224 (4ª unidade) contém uma ilustração com várias
crianças cantando, tanto brancas quanto afro-descendentes.
sem uma reflexão. Por trás de um texto/ilustração desse tipo certamente estão
subentendidas algumas ideologias que desfavorecem o negro e favorecem o bran-
co, como exemplificamos na seção da retomada histórica.
No terceiro capítulo da segunda unidade, o assunto étnico e racial passa a
ser comentado de uma maneira mais aprofundada. O capítulo vem intitulado como A
cor de um país plural e mostra, logo no início, o preconceito existente no Brasil,
mesmo que não intencionalmente. Para explicar isto ele traz o seguinte enunciado:
“E aí, neguinho?”, “Ô Pelé, pega aquela caixa!”, Tudo bem, japa?”, “Entra aí,
alemão!”, “Me dá uma bala, meu: você parece turco!”. Quem nunca ouviu no dia-
a-dia frases como essas? O Brasil se diz um país se preconceito racial, mas será
que essas frases não ocultam algum tipo de preconceito?
Cavalleiro (2001, p. 145) afirma que, quando as pessoas negras são trata-
das como “neguinho” e “pretinho”, estes acontecimentos podem parecer apenas um
detalhe do cotidiano pré-escolar, porém “[...] são reveladores de uma prática que
pode prejudicar severamente o processo de socialização de crianças negras, im-
primindo-lhes estigmas indeléveis [...]”, contribui “[...] para um sentimento de recu-
sa às características raciais do grupo negro e fortalece o desejo de pertencer ao
grupo branco”. Cavalleiro (idem) ainda explica que este tipo de tratamento revela
um problema, revelando a existência de “uma hierarquia racial”.
Logo abaixo do terceiro capítulo da segunda unidade há depoimentos
de pessoas negras, algumas famosas, que já sofreram com o preconceito racial,
entre elas Cinthya Rachel, a Biba do Castelo Rá-Tim-Bum; Zezé Mota, cantora e
atriz; Netinho, vocalista do Negritude Júnior na época; Marcelo Pereira Surcin, o
Marcelinho Carioca, jogador de futebol, e outros. Entre estes depoimentos, os
autores do livro explicam que, “[...] segundo a constituição de 1988, todos os
homens nascem livres e iguais em dignidades e direitos”. Após isso, na interpre-
tação dos textos, são propostos alguns exercícios para que os alunos reflitam
sobre os preconceitos e coloquem suas opiniões a respeito, exercícios nos quais
os alunos são convidados a comparar as atitudes tidas em relação às pessoas
brancas com as atitudes tidas em relação às pessoas negras, como nesta questão:
Na sua opinião, os funcionários da loja agiriam da mesma forma com uma pes-
69 soa branca, mas vestida com roupa simples?, além de perceber refletir sobre os
Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira - Fernanda Cristina Couto - Luciane Watthier
anunciante, a pele dos negros requer cuidado tanto quanto a dos brancos? Justifique.
Você diria que a imagem do anúncio é preconceituosa ou não? Por quê? Através destas
atividades elencadas acima é possível que o aluno dê sua opinião sobre o assunto,
sendo que aqui caberia ao professor fazer com que o aluno observasse a ilustração não
como racismo, mas com uma visão positiva sobre o negro, pois mostra que este tam-
bém carece de cuidados com sua pele, ou seja, mostra o negro igual ao branco.
Ainda na página 118 encontramos resultados de pesquisas feitas com
negros, resultados que mostram que estes estão procurando vencer os preconcei-
tos existentes através de uma inserção maior na sociedade. A próxima página traz,
porém, o resultado de uma entrevista, a qual mostra o preconceito ainda existente:
a diferença entre o salário de um branco e o de um negro, ou seja, o baixo salário
deste último. E traz algo o mais impressionante, ou seja, a informação de que os
próprios negros são preconceituosos: “Metade dos negros diz concordar que ne-
gro bom é negro de alma branca” (p.119). Percebe-se aqui que há uma necessidade
de que o professor esteja preparado para lidar com este texto, pois, se não estiver,
pode perpetuar os estereótipos que foram repassados historicamente e socialmen-
te em nossa sociedade sobre o que é ser negro, como discutido na seção dos
parâmetros nacionais. Este texto dá uma fonte enorme de possibilidades para se-
rem “trabalhadas” na sala de aula: questões como embranquecimento, como racis-
mo institucional e como entender o processo que faz com que os próprios negros
reproduzam o que foi construído para eles socialmente e historicamente e que
infelizmente acabam reproduzindo estereótipos que os deixam em desvantagem
social com relação aos demais grupos étnicos (BRASIL, 2004).
Na página 120, os autores do material trazem um texto em que falam do
preconceito existente na televisão. Trata-se do fato de que as principais apresenta-
doras de programas serem loiras, o que, de acordo com as crianças, faz com que
as crianças negras se achem “feinhas, os cabelos feinhos, a cor dos olhos feinhos”
(p.120). Cavalleiro (2001, p. 145) aponta que o resultado de a criança assistir a esse
tipo de material (seja na televisão, seja em cartazes que são mostrados nos corre-
dores das escolas, seja em fotos ou em ilustrações de livros infantis), faz com que
elas percebam “uma suposta superioridade do modelo humano branco”, pois elas
70 não se vêem representadas nos diversos segmentos sociais.
OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Silva (2002) também chega às mesmas conclusões em sua pesquisa. Grande parte
das discussões e das lutas contra ações racistas ressoam no ambiente escolar, mas
algumas vezes de uma forma discriminatória. O ambiente escolar é um dos locais
em que os alunos interagem e onde, em suas mentes, se formam conceitos e ideolo-
gias que nem sempre levam em consideração as diferenças étnico-culturais, o que
acaba por influenciar a difusão de preconceitos e de práticas racistas. Passamos,
neste momento, a fazer uma análise das omissões, dos limites e das possibilidades
que o livro didático oferece com relação à discussão do tema.
Omissões/limites Possibilidades
• Algumas das figuras e alguns dos textos • O livro traz muitas propostas de reflexões
presentes neste livro estereotipam o ne- sobre a questão racial, tanto através de figu-
gro em papéis de baixo prestígio social. ras quanto através de perguntas e de textos.
NOTAS
NOT
1
Este trabalho foi apresentado no Seminário de Estudos da Linguagem, em 2006, na Unioeste, no
Campus de Cascavel.
2
Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pela
UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculda-
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
de, à monitoria, a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estas
atividades se voltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem como
ligadas à questão da diversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas e
hispanoamericanas e, também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiais
propondo um trabalho com a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos de
extensão, participou de atividades como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto de
Intercâmbio Lingüístico, Artístico e Cultural visando ao incentivo para o desenvolvimento de
trabalhos na área da língua estrangeira, no caso, de língua espanhola. Possui várias publicações em
anais de eventos locais, regionais e nacionais, bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/
Capes. Entre seus principais artigos escritos, encontra-se um que se refere ao projeto PILAR e que
foi digno de premiação pelo SEURS (Seminário de Extensão Universitária da Região Sul).
3
Aparecida de Jesus Ferreira é doutora em Educação de Professores e em Lingüística Aplicada pela
University of London - Institute of Education (2004). Suas pesquisas têm ênfase em Lingüística
Aplicada em Língua Inglesa e Línguas Estrangeiras e com ênfase em Formação de Professores de
Línguas. Ministra aulas no Curso de Letras (graduação), nas seguintes disciplinas: Língua Inglesa,
Iniciação à Pesquisa em Linguagem, Prática de Ensino. No mestrado em Letras ministra as seguin-
tes disciplinas: Formação de Professores de Línguas e Metodologia de Pesquisa. Faz parte do
grupo de pesquisa: Linguagem e Sociedade e da Linha de Pesquisa: Linguagem e Ensino. As áreas
de interesse em pesquisa são: a) Formação de Professores de Línguas; b) Ensino/Aprendizagem de
Línguas Estrangeiras; c) Desenvolvimento e Avaliação de Materiais Didáticos para a Sala de Aula
de Segunda Língua e Língua Estrangeira. Nos últimos anos suas pesquisas têm se voltado para as
questões de Formação de Professores e seu projeto de pesquisa atual é: Formação de Professores
de Línguas e Práticas Sociais. Seu último livro publicado é intitulado: “Formação de Professores
Raça/Etnia: reflexões e sugestões de materiais de ensino”. Cascavel: Coluna do Saber. 2006.
Também coordena o Projeto PEAB. E-mail: <cidajferreira@yahoo.com.br>. Site:
<www.aparecidadejesusferreira.com>.
4
Fernanda Cristina Couto: Graduada em Letras Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR, em
2007, pela UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Durante a graduação, partici-
pou de projetos de pesquisa e de extensão.
5
Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, com
concentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-
sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanhol
pela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser aluna
de iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –
formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicados
em anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,
e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso está
voltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.
6
Os termos negro e afro-descendente foram utilizados, neste artigo, de forma aleatória. Essa
nomenclatura serve justamente para mostrar que os dois termos são utilizados para referir as
pessoas de ascendência africana.
72
OS ESTEREÓTIPOS DO NEGRO PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS: UMA ANÁLISE ...
REFERÊNCIAS
73
5 UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE
PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO:
A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO DA
DIVERSIDADE RACIAL NA FORMAÇÃO
DA IDENTIDADE DOS ALUNOS 1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
Luciane Watthier 2
Aparecida de Jesus Ferreira 3
(Orientadora/UNIOESTE)
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
CONSTRUÇÃO DA IDENTID
DA ADE
IDENTIDADE
identidades, porque aprendemos a ser quem nos dizem que somos e a pensar do
outro aquilo que dele imaginamos, sem ter para isso nenhum motivo real.
Nessa perspectiva, a preocupação de promover a igualdade deveria ser
também da escola. Assim, seria fundamental que tivéssemos professores capa-
zes de trabalhar com tais temáticas e de conscientizar seus estudantes da “[...]
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
Racismo em LDs
partir destas pesquisas, pôde-se constatar que muitos LDs veiculavam estereóti-
pos e expressões de inferioridade natural do negro, o que prejudicava a constru-
ção da identidade dos alunos, como:
[...] a não representação de personagens negros na sociedade descrita nos livros;
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
METODOLOGIA
METODOLOGIA
gio em que foi feita a coleta de dados, o conteúdo da diversidade étnico-racial estava
sendo “trabalhado” pela turma de primeiro ano. Por esse motivo foi decidido realizar
uma comparação entre a maneira como os alunos que estavam “trabalhando” com o
tema e os que não estavam entendiam a questão da diversidade étnico-racial.
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
RESULT
dois, ilustração que trata de uma pessoa afrodescendente que ocupa o cargo de
diretor de uma empresa, como permite afirmar o texto trazido acima dessa imagem.
O trabalho proposto pela unidade três do LD trata da diversidade étnico-
racial, propondo textos e atividades que mostram a existência do racismo na forma-
ção de nossa sociedade. Observa-se, porém, maior enfoque sobre o tempo da escra-
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
aula, afirmaram que o racismo é algo inato no ser humano, ou seja, todas as
pessoas são racistas porque nasceram assim:
“Pessoas não adquirem o racismo, todos nascem com este defeito” (João,
terceiro ano).
Identidade e LD
“Sim, porque pode nos ajudar a se livrar do racismo que vem desde que
84 nascemos” (João, terceiro ano).
UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ensino médio, frente à abordagem ou não do tema da diversidade racial pelo LD, se
torna perceptível quando se percebe que a sociedade brasileira, no geral, ainda
despreza a existência da diversidade étnico-racial e, como percebido com a análi-
se das respostas ao questionário, esse trabalho, quando levado até o aluno de
forma que o faça refletir sobre essas questões, tanto baseado na época da escravi-
dão quanto na realidade dos dias atuais, pode influenciar, positivamente, na forma-
ção de sua identidade, de modo a conduzi-lo a uma valorização das diferenças.
Chega-se a essa conclusão porque os alunos de terceiro ano pareceram
apresentar maiores dificuldades nas respostas às perguntas do questionário. Pri-
meiro apresentaram dificuldade de conceituação de racismo, pois o confundi-
ram muito com discriminação em relação a pessoas com deficiências e/ou com
diferentes opções sexuais. Também apresentaram dificuldade de detectar de que
forma o racismo é adquirido, certamente não sendo algo inato ao indivíduo (como
afirmado por alunos do terceiro ano), mas adquirido durante a formação de sua
identidade, a qual está sempre em construção. Por fim, tiveram dificuldade até
de identificação dos grupos étnico-raciais representados no LD e o reconheci-
mento da importância disso para a formação da identidade de um indivíduo.
De outra forma, os alunos da turma de primeiro ano demonstraram um
conhecimento maior sobre o assunto, até mesmo nas justificativas, as quais muitos
alunos do terceiro ano deixaram em branco. Percebeu-se, no entanto, que este
conhecimento se tornava mais claro quando era possível traçar uma relação com a
época da escravidão, muito abordada pelo LD, pois quando se tratava, especifica-
mente, dos dias atuais, estes também apresentavam dificuldades, uma vez que o
material didático não se preocupa muito em demonstrar o racismo em nossa soci-
edade atual. Em outras palavras, o “trabalho” com a diversidade étnico-racial, ain-
da que tendo como foco principal a época da escravidão, possibilitou aos alunos
do primeiro ano a formação de uma identidade que lhes permite respeitar e, acima
de tudo, entender a formação da diversidade étnico-racial em nossa sociedade.
Por outro lado, a maioria dos alunos acredita ser importante o “traba-
lho” com a diversidade étnico-racial em sala de aula, concordando que a falta
desse “trabalho” significa negar a diversidade étnico-racial de nossa sociedade e
86 a importância das distintas culturas existentes nela. Tal fato prova, também, a
UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O MATERIAL DIDÁTICO: A INFLUÊNCIA DA DISCUSSÃO...
NOT
NOTAS
1
Os resultados apresentados são parciais, pois se trata de um trabalho de conclusão de curso. Este
trabalho foi apresentado no VII Seminário Nacional de Literatura, História e Memória e I Simpósio
de Pesquisa em Letras da Unioeste. Em outubro de 2007.
2
Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, com
concentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-
sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanhol
pela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser aluna
de iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –
formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicados
em anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,
e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso está
voltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.
3
Professora orientadora - Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Cascavel.
REFERÊNCIAS
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88
6 O DESENVOLVIMENTO DA
SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A DIVERSIDADE
ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO
INICIAL E/OU CONTINUADA DE
PROFESSORES DE LÍNGUAS1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
brasileira de que aqui não há racismo, nem preconceito racial/social, mesmo quan-
do pesquisas atestam a existência da discriminação nas relações de gênero, no
mercado de trabalho, na educação básica e na universidade (GOMES, 2005).
Com base nisso, a pesquisa realizada objetivou comparar visões e atitu-
des dos professores dos ensinos fundamental e médio do sistema público de ensi-
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
RECONHECIMENT
RECONHECIMENTOO DOS DIREIT OS DOS AFR
DIREITOS ODESCENDENTES EM
AFRODESCENDENTES
LEIS E DOCUMENTOS D
DOCUMENTOS A EDUCAÇÃO
DA
negros fazem acerca da noção de identidade. Esse autor (2002) observa que a
modernidade, ao introduzir a descontinuidade do eu, coloca em cheque as grandes
identidades sociais coletivas – como a classe, a raça, a nação, o gênero e a de
Ocidente – que passam a não ser capazes de oferecer mais aquela estabilidade, ou
forma de ancoradouro, que era o que ofereciam essas identidades globalizantes.
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
tivas feitas aos afrodescendentes a fim de buscar uma forma de eliminá-las, primei-
ramente, do principal espaço de formação de opiniões e ideologias: a escola.
Vale esclarecer que o termo racismo, quando utilizado na pesquisa, se
referiu às concepções trabalhadas por Gomes (2007), que o diferencia do precon-
ceito e da discriminação. Para ela, o racismo é suscetível a três noções, sendo, por
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
[...] olharia com desprezo para os racistas. Pois uma das maneiras de pro-
testar contra a discriminação é o desprezo para os racistas (A1, acadêmico
Claudionor).
É comum atitudes racistas entre alunos e até professores (A1, acadêmica Maluce).
Nessa perspectiva, como comenta Auad (1998, p. 2), é mais difícil lutar
contra os preconceitos dos alunos se o educador toma atitudes discriminatórias,
porque não tem como criar “[...] condições para que as crianças e adolescentes
conheçam e lidem com suas idéias, sentimentos, corpos e sensações, sem que
tenha conhecido e lidado com ela mesma”.
Frente a isso, percebe-se que as atitudes desses profissionais A1 e P1 medi-
ante situações ou conteúdos do livro didático que exijam um posicionamento crítico
e livre de preconceitos por parte deles são, na maior parte das vezes, erradas, isto é,
reafirmam o preconceito e prejudicam a formação identitária do aluno discriminado.
As respostas dos P1 e dos P2 coincidiram em seus relatos. Os primeiros
(P1) relataram que as maiores dificuldades seriam não ter embasamento teórico
sobre a diversidade étnico-racial e o conseqüente medo de estimular ainda mais
as práticas racistas em sala e ofender o aluno, principalmente o afrodescendente,
por causa de sua raça. Os segundos (P2) relataram, como especial contribuição,
terem obtido, através de curso específico, segurança, respeito e preparo para
tratar do assunto, para saber buscar leituras e materiais apropriados para elabo-
rar atividades relacionadas a isso e para saber agir e falar numa sala de aula
freqüentada por alunos de diversas raças/etnias.
Enfim, levando em conta os professores sem preparo específico, o trato
da diversidade na sala de aula está se constituindo em campo de silêncio, como
assegura Marlucy Alves Paraíso (2007, p. 2), já que os professores “[...] não
conhecem as discussões sobre os temas, não tiveram acesso a essas discussões
durante a sua formação e, na maioria das vezes, nem conseguem ver espaço no
currículo para a sua problematização e discussão”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
etnias ou diversidade dos povos. Outros 20% dos pesquisados acabaram expli-
cando ambos os termos (raça e etnia) como se fossem sinônimos, como, por
exemplo, diversidade étnico-racial se trata de um grupo de etnias da sociedade.
Ocorre, porém, que 70% dos A2 e P2 citaram, além dos fatores biológi-
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
cos que originam raças e etnias, também os aspectos sociais e culturais que as
envolvem. Assim, para os públicos-alvo que possuem respaldo teórico para tra-
tar da questão, a diversidade não se refere, portanto, somente às origens das
raças e à descendência de povos, mas enquanto constituída também pelos valo-
res, pelas ideologias, pela cultura e pelos costumes socialmente construídos ou
assimilados por esses grupos raciais e étnicos.
Desse modo, o entendimento demonstrado pelos P2 e A2 foi mais deta-
lhado que o dos P1 e A1, à medida que estes conseguiram oferecer uma visão
mais ampla e crítica da temática, porque englobaram aspectos como cultura,
costumes e valores, aspectos que também influenciam na formação identitária e
na aceitação e na valorização das raças e das etnias em nossa sociedade, o que
não ocorreu nas contestações dos P1, por exemplo.
O entendimento, enquanto ação, da questão da diversidade étnico-raci-
al dos professores e dos acadêmicos que passaram por formação referente ao
tema e daqueles que não passaram, de acordo com as concepções de diversida-
de étnico-racial expostas anteriormente, por parte desse público-alvo sem funda-
mentação teórica acerca do tema, aponta para uma prática realçadora dos este-
reótipos há tempos perpetuados em nossa sociedade sobre os afrodescendentes.
O entendimento destes professores sem a devida formação específica
para o assunto, quando se trata de indicar ações e posicionamentos em contextos
de práticas racistas que os exijam, se demonstra frágil. Trata-se de um entendi-
mento frágil tanto por não saberem qual discurso adotar, quanto por não conse-
guiram se decidir por qual atitude tomar. Dessa forma, muitos deles acabariam
deixando a discussão para uma aula posterior, postergação essa a fim de pode-
rem levar materiais aos alunos ou com o intuito de acalmarem os ânimos dentro
da sala de aula, levando ao esquecimento do ocorrido.
Lidar com a diversidade étnico-racial quando se tem a discriminação
de uma raça por um grupo de alunos no contexto de sala de aula é uma ação
pedagógica desnecessária para alguns deles, na medida em que a solução para
tal caso seria desprezar o racismo ou o racista, o que mostra que, além do des-
prezo dos alunos em relação a algumas raças de seus colegas de turma, essas
97 crianças e adolescentes ainda terão contato com o desprezo do professor com
Andréia Fernanda Orlando - Aparecida de Jesus Ferreira
aqueles que têm esse tipo de atitude e com uma prática que fere tanto quem é discri-
minado quanto os outros que encaram as diferenças como algo positivo e natural.
Os acadêmicos e os professores que possuem respaldo teórico para
tratar da temática (70%) defendem que o correto tratamento e a correta compre-
ensão da questão são cruciais para uma boa formação profissional na área da
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
educação, porque esta questão lida não só com a formação intelectual do aluno,
mas, sobretudo, com sua formação cidadã.
Ao voltar o olhar para o conjunto das respostas dos A2 e dos P2, veri-
fica-se que, apesar de já terem tido momentos de discussões sobre a lida com a
diversidade em sala de aula, muitos deles apontam a intenção de continuar se
aprofundando em leituras e debates. Comprova-se isso ao se contabilizar que
60% dos A2 e 20% dos P2 participam de projetos de extensão ou de pesquisa que
trabalham nessa perspectiva de levar essas discussões a um público maior com a
finalidade de esclarecimento de visões estereotipadas relacionadas às concep-
ções de raça, de gênero, de etnia e de valores a elas incutidos e, também, 10%
dos P2 desenvolvendo projetos de pós-graduação stricto sensu nessa área temática.
NOTAS
NOT
1
Este artigo mostra o resultado do TCC de Andréia Fernanda Orlando, apresentado em Outubro de 2007.
2
Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pela UNIOESTE
(Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculdade, à monitoria,
a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estas atividades se
voltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem como ligadas à questão da
diversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas e hispanoamericanas e,
também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiais propondo um trabalho
com a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos de extensão, participou de ativida-
des como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto de Intercâmbio Lingüístico, Artístico e
Cultural visando ao incentivo para o desenvolvimento de trabalhos na área da língua estrangeira, no
caso, de língua espanhola. Possui várias publicações em anais de eventos locais, regionais e nacionais,
bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/Capes. Entre seus principais artigos escritos, encon-
tra-se um que se refere ao projeto PILAR e que foi digno de premiação pelo SEURS (Seminário de
Extensão Universitária da Região Sul). Integrante do grupo de pesquisa “Formação de Professores de
Línguas e Práticas Sociais”, orientado pela professora Dra. Aparecida de Jesus Ferreira.
3
Professora Orientadora - Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, Cascavel/PR.
REFERÊNCIAS
99
PARTE II
RELATOS DE
EXPERIÊNCIAS
7 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-
RACIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
A esse respeito, Canen (2001) assegura que estas iniciativas são os melho-
res caminhos por uma “[...] formação docente que sensibilize professores e futuros
professores à pluralidade cultural e favoreça práticas pedagógico-curriculares a ela
coadunadas”. Longe de oferecer receitas prontas de como “trabalhar” esta questão
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
em sala de aula, a oferta de tais cursos de formação continuada baseia-se num ensino
construído sob uma visão multicultural, conforme ressalta Canen (2006, p. 45), ensi-
no o qual pode buscar meios diversificados que “[...] focalizem as práticas curriculares,
os projetos construídos e as relações interpessoais cotidianas, dentre outras”.
A maior parte dos professores, se não a totalidade deles, ao iniciar esse
curso relatou que estava procurando subsídios teóricos que pudessem embasar as
discussões sobre discriminação e preconceito racial no contexto escolar por sentir
necessidade de tal conhecimento, uma vez que, na prática de sala de aula, estes
profissionais já haviam presenciado muitas situações discriminatórias diante das
quais se silenciaram por falta de informação sobre o tratamento da questão.
As discussões geradas nos encontros abrangiam temas simples, como a
conceituação de preconceito, de discriminação e de racismo, até os mais comple-
xos, ou seja, como estes temas podem e devem ser abordados em sala de aula,
contribuindo com nossa formação no sentido de que tenhamos propriedade para
lidar com a questão quando expostos a situações que exijam tal propriedade.
Nas séries iniciais esta omissão do educador perante tais situações ra-
cistas é mais grave ainda, pois, de acordo com Laing (apud SILVA, 2001), “[...] a
primeira identidade social da pessoa lhe é conferida pelos demais. Aprendemos
a ser quem nos dizem que somos [...]” e, também, a fazer e a pensar dos outros
aquilo que deles imaginamos, sem ter sobre isso nenhuma razão real. Deste modo,
podem estar sendo incutidos valores, crenças e estereótipos errôneos nas mentes
das crianças mesmo sem os professores terem se dado conta disto.
Até mesmo o fato de um educador deixar passar uma simples expressão
ou pequena atitude que denota traços de preconceito já permite ao aluno inferir
que tal postura não é condenada e que pode, perfeitamente, ser repetida. Muitas
destas expressões definem todo um povo e um país por estereótipos que são
perpetuados por séculos, histórica e socialmente construídas, e atribuídos por
fatores tais como raça e etnia de origem ou religião.
Sobre isso, alguns dos professores participantes relataram a existência
de casos de brincadeiras comuns em suas aulas, brincadeiras que, à primeira
vista, parecem inocentes, mas que, se não levadas a sério pelos pais e não consi-
104 deradas pelo colégio, podem acabar formando pessoas agressivas,
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...
preconceito, tanto que inclusive apanhou de seus colegas por ser um menino more-
no, bailarino e homossexual. Isso acontece porque a criança negra, pobre, índia ou
com qualquer outra diferença, perante aquilo que a sociedade julga ser o padrão
de beleza e status, encontra dificuldades de relacionamento e de integração no
grupo escolar, pois os colegas costumam rechaçar esses colegas e, se o professor
não souber conduzir a situação, ele a ignora ou acaba por agravá-la.
Assistindo a um vídeo sobre o fenômeno da bullying, pudemos observar e
conhecer outra forma de se discriminar uma pessoa por uma determinada caracte-
rística física, atribuindo a uma criança e/ou a um adolescente algum apelido. A
imposição de apelido, além de excluir e rejeitar socialmente tal criança ou adoles-
cente, também pode causar nela/e depressão, revolta e fechamento para o mundo.
Assim, a preocupação reside mais uma vez na falta de formação dos professores,
os quais se silenciam frente a essas situações e não tentam solucioná-las.
Além disso, o curso propiciou a reflexão sobre os cuidados que devemos
ter em sala sobre a maneira de tratar os alunos, pois, às vezes, mesmo tratando-se
de uma brincadeira, podemos ofender e traumatizar crianças, chamando-as, por
exemplo, de macacada, de tigrada, etc. Estes exemplos foram citados por uma
professora que comentou ter arranjado problemas com o uso de tal vocabulário.
Lendo um texto que tratava dos direitos e dos deveres dos negros, foi
possível um debate em relação à educação das relações étnico-raciais. Uma
prática pedagógica que se pretenda eficiente não deve concentrar suas preocu-
pações somente na formação do educador, mas principalmente incitar a partici-
pação da família nesse combate, pois este não é um dever exclusivo da escola e
a maior parte dos alunos já traz de casa estereótipos construídos a partir de uma
“herança familiar” (SILVA, 1995, p. 43).
A falta de formação do professor para “trabalhar” com questões relacionadas
à discriminação racial acarreta o medo de se abordar o assunto, construindo-se estere-
ótipos e mitos em relação ao racismo. A preocupação dos professores que buscaram
pelo curso de aprimoramento sobre diversidade era de abolir o receio de, na tentativa
de amenizar um problema relacionado a este assunto, acabar complicando-o mais
ainda, sendo mal interpretado, além da insegurança quanto à forma de abordar o assun-
106 to, quer dizer, não saber onde começar a discuti-lo e até onde levá-lo.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...
te. O primeiro, como o próprio nome já diz, acontece quando a pessoa está
consciente do que faz. Ocorre com afrodescendentes ou não, podendo aconte-
cer, por exemplo, em relação aos estereótipos apresentados pela mídia, como o
padrão de beleza (loiro, magro, alto, etc.), que pode ser do tipo individual (uso
de nomes para pessoas negras) ou institucional.
O segundo nível de racismo, o inconsciente, ocorre sem a intenção da pessoa
e, algumas vezes, sem que ela perceba. Pode ser causado apenas pelo fato de uma
pessoa rir de uma piada racista ou pelo uso de linguagem racista (“serviço de preto”,
quando alguma coisa está mal feita; “ovelha negra da família”, etc.), entre outros.
Tendo em vista que uma sala de aula é extremamente heterogênea, ou
seja, que os indivíduos se agregam “[...] de acordo com sua pertença e referên-
cia, mobilizados por fatores como gosto musical, nível intelectual, nível social,
etc.[...]” (SILVA, 2005, p. 99), comentou-se, também, que é importante que os
professores tentem ligar o conteúdo à realidade do aluno, o que pode ser feito,
por exemplo, com o uso de vídeos, de músicas e de aulas diversificadas. Entre-
tanto, o que vemos nas escolas é um desinteresse pelo assunto, desinteresse que
o leva a ser camuflado pelas instituições que, mesmo que o coloquem nos planos
de ensino, no entanto não se adquirem materiais para abordá-lo em sala de aula,
ocasião quando ao menos se trabalha com ele junto aos alunos.
NOTAS
NOT
1
Reflexões produzidas como trabalho final do Curso de Formação de Professores de Línguas e
Diversidade Étnico-Racial em 2005.
2
Andréia Fernanda Orlando: Graduada em Letras Português/Espanhol em Cascavel/PR pela
UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Dedicou-se, durante os anos de faculda-
de, à monitoria, a projetos de pesquisa e de extensão nessa mesma universidade, sendo que estas
atividades se voltaram a reflexões acerca da formação de professores e tecnologia, bem como
ligadas à questão da diversidade étnico-racial e, ainda, a análises de obras literárias espanholas e
hispanoamericanas e, também, do ensino da língua materna nas escolas e à produção de materiais
propondo um trabalho com a gramática contextualizada. Já no que diz respeito a projetos de
extensão, participou de atividades como extensionista bolsista do projeto PILAR (Projeto de
Intercâmbio Lingüístico, Artístico e Cultural visando ao incentivo para o desenvolvimento de
trabalhos na área da língua estrangeira, no caso, de língua espanhola. Possui várias publicações em
108 anais de eventos locais, regionais e nacionais, bem como em revistas reconhecidas pela Qualis/
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: ...
Capes. Entre seus principais artigos escritos, encontra-se um que se refere ao projeto PILAR e que
foi digno de premiação pelo SEURS (Seminário de Extensão Universitária da Região Sul).
3
Luciane Watthier: Atualmente é aluna do primeiro ano do Mestrado em Linguagem e Sociedade, com
concentração na linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”, do Curso de Letras da UNIOESTE (Univer-
sidade Estadual do Oeste do Paraná). Em 2007 concluiu a graduação em Letras Português/Espanhol
pela mesma UNIOESTE, no mesmo Campus de Cascavel/PR. Durante a graduação, além de ser aluna
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
de iniciação científica (PIBIC), participou de vários outros projetos na área de lingüística textual –
formação de professores, práticas sociais e formação da identidade dos alunos. Tem artigos publicados
em anais de eventos regionais e nacionais, tanto na Unioeste quanto em outras universidade públicas,
e um artigo publicado no periódico “Educere et Educare”. Seu trabalho de conclusão de curso está
voltado para a diversidade étnico-racial, com foco na formação da identidade dos alunos.
REFERÊNCIAS
SILVA, Rosângela Souza da. Racismo e discriminação racial no cotidiano de uma escola
pública de nível médio. In: PINTO, Regina Pahim; OLIVEIRA, Iolanda de (Org.). Neg
Negrro
e educação
educação: escola, identidades, culturas e políticas públicas. São Paulo: Ação
Educativa, Anped, 2005.
SILVA, Ana Célia da. A discriminação do neg
negrro no livro didático
livro didático. Salvador: CEAO,
CED, 1995.
SILVA, Maria Aparecida da. Formação de educadores/as para o combate ao racismo:
mais uma tarefa essencial. In: CAVALLEIRO, Eliane (Org.). Racismo e anti-racismo
na educação
educação: repensando nossas escolas. São Paulo: Summus, 2001.
SILVA, Antonio Ozaí da; Maurício Tragtenberg: Identidade e alteridade. Revista
Urutágua. N. 01, maio de 2001. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br//
ru18_mtrag.htm>. Acesso em: 1º nov. 2006.
109
8 FORMAÇÃO DE PROFESSORES
E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL:
UM CURSO QUE DEU NOVO RUMO
À MINHA PRÁTICA DOCENTE1
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
vei meus primeiros contatos com temas como racismo, preconceito, discrimina-
ção, raça, etnia e bullying, temas estes que, seguramente posso afirmar, fizeram e
fazem toda a diferença em minha prática pedagógica. Comecei a olhar a educação
com outros olhos e tomei consciência da responsabilidade enquanto professora
em desenvolver uma prática pedagógica mais humana, que venha a contribuir com
a construção de uma sociedade que respeite o ser humano. Passei a ser, de fato,
professora-pesquisadora, como foi proposto durante os encontros do citado cur-
so, observando como aconteciam as relações inter-pessoais estabelecidas na esco-
la, por meus alunos. Foi assim que me deparei com situações para as quais anteri-
ormente não havia desenvolvido a sensibilidade adequada, sendo as mais sérias a
prática de bullying e as práticas racistas entre os alunos. Perceber como acontecem
essas relações no interior da escola é fundamental se quisermos nelas interferir e
assim melhorar o convívio entre os educandos.
Todos os profissionais da educação deveriam ter a oportunidade de fre-
qüentar cursos como aquele, curso que, além de tratar de temática hoje muito discu-
tida (relações étnico-raciais), utilizou para isso de uma abordagem crítica, apresen-
tando os princípios da educação anti-racista, indo, portanto, muito além da proposta
apresentada pelos PCNs quanto à pluralidade cultural, ou mesmo de uma interpreta-
ção superficial da Lei Federal nº 10.639/2003. Durante os encontros, discutimos as
relações de poder existentes na sociedade, relações de poder por meio das quais são
determinadas as situações socioeconômicas dos cidadãos, colocando por terra má-
ximas como: “As pessoas miseráveis assim o são por não terem vontade de traba-
lhar”. Interligada a esta problemática, discutimos também a situação do negro hoje,
observando dados estatísticos que apontam para as desigualdades raciais presentes
na sociedade hoje e que são decorrentes de uma herança da escravidão: “[...}a popu-
lação negra era de fato imensa, e isso levou as elites a fortalecer as teorias racistas e
a produzir preconceitos contra as pessoas de origem africana, com o objetivo exclu-
sivo de garantir seus privilégios.” (SILVA, 2001, p. 76).
Ao discutirmos estas questões, as ações afirmativas foram lembradas
enquanto medidas criadas como reconhecimento de uma dívida social que a
população brasileira tem para com os descendentes de africanos, dos quais tudo
112 se tirou e depois foram abandonados à própria sorte em decorrência do fim do
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: UM CURSO QUE DEU NOVO RUMO...
sistema escravista. Políticas públicas não foram adotadas naquela época para
integrar o negro à sociedade, exigindo, da sociedade contemporânea com rela-
ção aos direitos humanos, o reconhecimento de tal dívida.
Ainda durante o curso, como propõe a educação anti-racista, trabalha-
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
NOTAS
NOT
1
Este artigo foi produzido como reflexão acerca do curso “Formação de Professores e Diversidade
Étnico-Racial” de que ela participou em 2005.
2
Rosani Clair da Cruz Reis: Possui graduação em Letras Português/Inglês pela Universidade Esta-
115 dual do Oeste do Paraná (1996), especialização em Didática e Metodologia do Ensino de Língua
Rosani Clair da Cruz Reis
Portuguesa – Teoria & Prática, pela Universidade Norte do Paraná (2002) e Mestre em Letras, na área
de concentração “Linguagem e Sociedade”, no qual desenvolve pesquisa relacionada às relações étnico-
raciais no contexto escolar, dentro da linha de pesquisa “Linguagem e Ensino”. Rosani é professora da
rede pública estadual de ensino da cidade de Cascavel e ministrou, entre 2006 e 2007, o curso “A Lei
Federal n.10.639/2003 no Contexto Escolar”, promovido pelo Mestrado em Letras e Núcleo Sindical da
APP naquele município. No PEAB, em 2006, a profa. Rosani ofereceu a oficina “O Uso de Narrativas na
Abordagem Étnico-Racial” e, em 2007, apresentou seminário discutindo sobre as diversas abordagens
FERREIRA. Aparecida de Jesus (Org). PEAB – Projeto de Estudos Afro-Brasileiros: contexto,
pesquisas e relatos de experiências. Cascavel: Unioeste, 2008. ISBN: 978-85-7644-120-5
nas quais os professores se podem fundamentar para a aplicação da Lei Federal nº 10.639/2003.
REFERÊNCIAS
116
“Solaris”, de Marcelo Marcio de Oliveira
Endereço eletrônico de
Marcelo Marcio de Oliveira
marcelom@pop.com.br
Página na internet:
www.marcelom.pop.com.br