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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

BIOQUÍMICA BÁSICA ICS 050


UFBA Prof. Max Lima Data:
Aluno:

ÁGUA, pH E TAMPÕES- DISTÚRBIOS ÁCIDO-BÁSICOS


(Adaptado de http://perfline.com/cursos/cursos/acbas)

A regulação dos líquidos do organismo inclui a regulação da concentração do íon hidrogênio, para
assegurar o ambiente ótimo para as funções celulares. A energia para todos os processos celulares e
orgânicos, provém da energia química produzida pelo metabolismo celular. A concentração dos íons
hidrogênio nos líquidos do organismo é medida pela unidade denominada pH. A redução do pH é
denominada acidose e o seu aumento constitui a alcalose. Ambos, acidose e alcalose, podem diminuir
acentuadamente a eficiência das reações químicas celulares; o metabolismo celular exige um estreito
limite para a concentração do íon hidrogênio. O metabolismo celular produz ácidos que devem ser
neutralizados, a fim de preservar o pH ou, em outras palavras, manter estável a concentração do íon
hidrogênio. A principal base do organismo é o íon bicarbonato, produzido à partir da combinação do
dióxido de carbono com a água. O bicarbonato e as demais bases do organismo atuam em associação
com ácidos da mesma natureza química, formando pares de substâncias chamadas sistema tampão. A
regulação do equilíbrio entre os ácidos e as bases do organismo depende de um mecanismo imediato,
representado pelos sistema tampão e de um mecanismo respiratório rápido, que elimina ou retém o
dióxido de carbono e, portanto, reduz ou aumenta o ácido carbônico. Depende também do mecanismo
renal, mais lento, que elimina íon hidrogênio e retém ou elimina o íon bicarbonato, moderando a
quantidade de bases disponíveis no organismo.

CONCEITOS DE ÁCIDO, BASE E pH

OBJETIVOS: Descrever o conceito de ácidos e bases. Analisar a concentração dos íons hidrogênio nos
líquidos do organismo e a determinação do pH. Descrever os mecanismos de regulação do pH. Definir
acidose e alcalose.

CONCEITOS GERAIS
O metabolismo celular produz ácidos que são lançados, continuamente, nos líquidos intracelular e
extracelular e tendem a modificar a concentração dos íons hidrogênio. A manutenção da concentração
dos íons hidrogênio dentro da faixa ótima para o metabolismo celular, depende da eliminação do ácido
carbônico nos pulmões, da eliminação de íons hidrogênio pelos rins e da ação dos sistemas tampão intra
e extracelulares. O modo como o organismo regula a concentração dos íons hidrogênio (H+) é de
fundamental importância para a compreensão e a avaliação das alterações do equilíbrio entre os ácidos
e as bases no interior das células, no meio líquido que as cerca (líquido intersticial) e no sangue (líquido
intravascular).

CONCEITO DE ÁCIDO E BASE


Os elementos importantes para a função celular estão dissolvidos nos líquidos intra e extracelular. Sob o
ponto de vista químico, uma solução é um líquido formado pela mistura de duas ou mais substâncias,
homogeneamente dispersas entre sí. A mistura homogênea apresenta as mesmas propriedades em
qualquer ponto do seu interior e não existe uma superfície de separação entre os seus componentes. A
solução, portanto, consiste de um solvente, o composto principal, e um ou mais solutos. Nos líquidos do
organismo a água é o solvente universal; as demais substâncias em solução, constituem os solutos. Em
uma solução, um soluto pode estar no estado ionizado ou no estado não ionizado. Nos líquidos do
organismo, os solutos existem em ambas as formas, em um tipo especial de equilíbrio químico. Quando
um soluto está ionizado, os elementos ou radiciais químicos que o compõem, estão dissociados uns dos
outros; a porção da substância que existe no estado ionizado é chamada íon. O soro fisiológico, por
exemplo, é uma solução de água (solvente) contendo o cloreto de sódio (soluto). Uma parte do cloreto
de sódio está no estado dissociado ou ionizado, constituida pelos íons Cl- (cloro) e Na+ (sódio), enquanto
uma outra parte está no estado não dissociado, como NaCl (cloreto de sódio); ambas as partes estão em
equilíbrio químico. Existem substâncias, como os ácidos fortes, as bases fortes e os sais, que
permanecem em solução, quase completamente no estado ionizado. Outras substâncias, como os ácidos
e as bases fracas, ao contrário, permanecem em solução em graus diversos de ionização. A água tem
sempre um pequeno número de moléculas no estado ionizado. Os íons combinam-se entre si conforme a

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sua carga elétrica. Os cátions são os íons com carga elétrica positiva, como o hidrogênio (H+) e o sódio
(Na+). Os ânions são os íons com carga elétrica negativa, como o hidróxido ou hidroxila (OH-) e o cloreto
(Cl-). Para ser um ácido, é necessário que a molécula da substância tenha, pelo menos, um hidrogênio
ligado ionicamente. O hidrogênio ionizado, simplesmente representa um próton. Um ácido é uma
substância que, em solução, é capaz de doar prótons (H+). Uma base é uma substância que, em
solução, é capaz de receber prótons. Em outras palavras, os ácidos são substâncias que, quando em
solução, tem capacidade de ceder íons hidrogênio; as bases são substâncias que, quando em solução,
tem capacidade de captar íons hidrogênio. Um ácido forte pode doar muitos íons hidrogênio para a
solução, porque uma grande parte das suas moléculas se encontra no estado dissociado (estado iônico).
Do mesmo modo, uma base forte pode captar muitos íons hidrogênio de uma solução.

CONCEITO DE pH
A atividade dos íons hidrogênio em uma solução qualquer, depende da quantidade de hidrogênio livre na
solução. Para a avaliação do hidrogênio livre nas soluções, usa-se a unidade chamada pH. O termo pH
significa potência de hidrogênio e foi criado para simplificar a medida da concentração de íons
hidrogênio (H+) na água e nas soluções. A água é a substância padrão usada como referência, para
expressar o grau de acidez ou de alcalinidade das demais substâncias. A água se dissocia em pequena
quantidade em íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-).

A água é considerada um líquido neutro por ser o que menos se dissocia ou ioniza. A quantidade de
moléculas dissociadas ou ionizadas na água é muito pequena, em relação ao total de moléculas, bem
como são pequenas as quantidades de íons H+ e OH-, em solução. Para cada 1 molécula de água
dissociada em H+ e OH-, há 10.000.000 de moléculas não dissociadas. A concentração do H+ na água,
portanto, é de 1/10.000.000 ou seja 0,0000001, conforme representado na figura acima. Para facilitar a
comparação dessas pequenas quantidades de íons, foi adotada a fração exponencial, ao invés da fração
decimal. Assim, pela fração exponencial o valor de 0,0000001 é expresso como 10-7, chamada "potência
sete do hidrogênio", e significa a sua concentração na água. Para evitar a utilização de frações
exponenciais negativas, foi criada a denominação pH, que representa o logarítmo negativo, ou seja, o
inverso do logarítmo, da atividade do íon hidrogênio. O pH de uma solução, portanto, representa o
inverso da sua concentração de íons hidrogênio. Esta forma de representação permite que os valores da
atividade do hidrogênio nas soluções, sejam expressos com números positivos.
Como as quantidades dos íons nas soluções se equivalem, a água tem partes iguais do cátion (H+) e do
ânion (OH-), ou seja, a concentração de (H+) é de 10-7 e a concentração de (OH-) também é de 10-7. A
água, portanto, tem o pH=7. H2O Û H+ (10-7) + OH- (10-7) A água é considerada uma substância
neutra. Isto equivale a dizer que a água não é ácido nem base e serve de comparação para as demais
soluções. Um ácido forte, em solução, libera uma quantidade de íons hidrogênio (H+), muito maior que a
água. O seu pH, portanto será inferior ao da água. Ao contrário, uma base forte, por aceitar muitos
prótons ou íons hidrogênio da solução, permitirá que apenas uma pequena parte dos íons fique livre, em
comparação à água. O pH da base forte, portanto, será superior ao pH da água. O pH é expresso por
uma escala numérica simples que vai de 0 (zero) a 14. O ponto 7 da escala é o ponto de neutralidade e
representa o pH da água. As soluções cujo pH está entre 0 e 7 são denominadas ácidas; as que tem o pH
entre 7 e 14 são denominadas básicas ou alcalinas. Quanto maior a concentração de hidrogênio livre em
uma solução, tanto mais baixo será o seu pH.

REGULAÇÃO DO pH NO ORGANISMO
Quando se adiciona ácido à água, mesmo em pequenas quantidades, o pH da solução se altera
rapidamente. O mesmo fenômeno ocorre com a adição de bases. Pequenas quantidades de ácido ou de
base podem produzir grandes alterações do pH da água. Se adicionarmos ácido ou base ao plasma
sanguíneo, veremos que há necessidade de uma quantidade muito maior de um ou de outro, até que se
produzam alterações do pH. Isto significa que o plasma dispõe de mecanismos de defesa contra
variações bruscas ou significativas do pH. O balanço entre os ácidos e as bases no organismo se
caracteriza pela busca permanente do equilíbrio; o plasma resiste às alterações do pH, por meio de
pares de substâncias, capazes de reagir tanto com ácidos quanto com bases, chamadas sistemas
"tampão". Os mesmos mecanismos de defesa existem nos líquidos intracelular e intersticial.

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Três mecanismos regulam o pH dos líquidos orgânicos, conforme demonstra a figura acima. O
mecanismo químico é representado pelos sistemas tampão, capazes de neutralizar ácidos e bases em
excesso, dificultando as oscilações do pH. O mecanismo respiratório, de ação rápida, elimina ou retém o
dióxido de carbono do sangue, conforme as necessidades, moderando o teor de ácido carbônico. O
mecanismo renal é de ação mais lenta e, fundamentalmente, promove a poupança ou a eliminação do
íon bicarbonato, conforme as necessidades, para, à semelhança dos demais mecanismos, assegurar a
manutenção do pH dentro dos limites normais.

VALORES NORMAIS DO pH
A água é o solvente universal dos líquidos orgânicos; a sua concentração de hidrogênio livre ou ionizado
é utilizada como valor de comparação para as demais soluções. O pH normal da água, considerada um
líquido neutro é 7. As soluções com pH inferior a 7 são consideradas ácidas e as soluções com pH
superior a 7 são consideradas alcalinas. Os líquidos orgânicos são constituidos de água contendo uma
grande quantidade de solutos de diversas características químicas e iônicas. A solução orgânica padrão
para a avaliação do pH é o sangue. O pH normal do sangue varia dentro da pequena faixa de 7,35 a
7,45. Em comparação com a água, portanto, o sangue normal tem o pH levemente alcalino. Essa
alcalinidade do sangue representa a atividade iônica de numerosas substâncias incluindo-se os sistemas
tampão. O sangue arterial é o padrão habitual para avaliação do pH; seu valor se situa na porção mais
alcalina da faixa normal, entre 7,4 e 7,45. O sangue venoso tem maior concentração de hidrogênio livre,
recebido do líquido intersticial pelos capilares venosos. Em consequência, o pH do sangue venoso se
situa na faixa menos alcalina do pH normal, geralmente entre 7,35 e 7,40.

As principais alterações do pH do sangue estão representadas na figura 4. Quando o pH do sangue está


abaixo de 7,35 existe acidose; se o pH do sangue é superior a 7,45, existe alcalose. Quando a acidose é
severa e o pH alcança valores abaixo de 6,85, em geral as funções celulares se alteram de tal forma que
sobrevém a morte celular; o distúrbio é irreversível. Do mesmo modo, nas alcaloses severas e
persistentes, os valores de pH superiores a 7,95 são incompatíveis com a normalidade da função celular.
O distúrbio é irreversível e, em geral, ocorre a morte celular.

pH INTRACELULAR
O interior das células reflete uma realidade metabólica diferente do plasma sanguíneo. A atividade
celular gera permanentemente subprodutos ácidos como resultado de numerosas reações químicas. Em
consequência, o pH habitual do líquido intracelular é mais baixo que o pH do plasma. O pH intracelular é
de aproximadamente 6,9 nas células musculares e pode cair a 6,4 após um exercício extenuante. Nas
células dos túbulos renais, o pH é de cerca de 7,3, de acordo com a predominância de substâncias
alcalinas, podendo se alterar com as necessidades do organismo. Em geral, as células dos tecidos com
maior atividade metabólica tem um pH levemente ácido, em relação ao pH do sangue.

RESUMO
O metabolismo celular produz ácidos que tendem a modificar a concentração dos íons hidrogênio nos
líquidos do organismo. A manutenção da concentração ideal de íons hidrogênio depende da ação de
ácidos e bases existentes nos líquidos, da eliminação de ácido carbônico pelos pulmões e da eliminação
de íons hidrogênio pelos rins. Os ácidos são as substâncias que podem ceder íons hidrogênio para uma
solução; bases são as substâncias que podem receber íons hidrogênio em uma solução. A quantidade de
íons hidrogênio livres nas soluções é quantificada pelo pH. Quanto maior a quantidade de íons
hidrogênio nas soluções, tanto mais baixo será o seu pH; ao contrário, as soluções com baixa

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concentração de íons hidrogênio, tem o pH mais elevado. A água é a substância padrão para
comparação com as demais substâncias. A dissociação da água é desprezível; apenas uma molécula, em
cada 10 milhões, se dissocia. A água é, portanto, uma substância neutra, ou seja não é ácido nem é
base. O pH da água é 7; a água ocupa o ponto neutro da escala do pH, que vai de 0 a 14. As soluções
com pH inferior ao da água, são consideradas ácidas; as soluções cujo pH é superior a 7, são
consideradas bases. O pH do sangue reflete a atividade iônica de numerosas substâncias e é
ligeiramente maior que o pH da água. O sangue normal tem o pH que varia entre 7,35 e 7,45. O sangue
normal, portanto, é levemente alcalino, em relação à água. Quando o pH do sangue está abaixo de 7,35
dizemos que existe acidose; quando o pH do sangue supera o valor de 7,45, dizemos que há alcalose.

SISTEMAS "BUFFER" OU TAMPÃO

OBJETIVOS: Descrever o sistema de defesa contra as variações importantes do pH dos


líquidos do organismo. Analisar a composição, propriedades e mecanismo de ação dos
sistemas tampão. Descrever a composição dos principais tampões do organismo.
CONCEITOS GERAIS
O organismo dispões de três importantes mecanismos reguladores do pH, que atuam em sincronia,
com a finalidade de preservar as condições ótimas para as funções celulares. O mecanismo respiratório,
de ação rápida, o mecanismo renal, de ação lenta e o mecanismo químico, de ação imediata,
representado por pares de substâncias chamados sistemas "tampão", que podem reagir com ácidos ou
com bases em excesso nos líquidos do organismo.
SISTEMAS TAMPÃO
Os tampões, denominação traduzida do original inglês "buffer" (amortecedor), são as substâncias que
limitam as variações do pH do sangue e demais líquidos orgânicos, ao se combinarem com os ácidos ou
as bases que alcançam aqueles líquidos. As substâncias que constituem os tampões agem aos pares ou,
menos comumente, em grupos, constituindo um sistema protetor. Um sistema tampão é constituído por
um ácido fraco e o seu sal, formado com uma base forte. O ácido fraco e o sal do sistema tampão, em
condições normais, existem em uma relação constante, que o organismo tende a preservar. Se
gotejarmos continuamente ácido clorídrico em água durante um intervalo de 90 minutos, verificamos
que o pH da água passa de 7 para 1,84. Se administrarmos proporcionalmente, a mesma quantidade de
ácido clorídrico a um cão no mesmo período de tempo, verificamos que o pH do sangue do animal passa
de 7,44 para 7,14. A diferença de comportamento diante da mistura com o ácido clorídrico reflete a
atuação dos sistemas tampão do plasma do animal, que impedem a variação mais acentuada do pH. O
sistema tampão do bicarbonato e ácido carbônico corresponde a cerca de 64% do total de tampões.
Esse sistema é essencial à regulação do equilíbrio ácido-base, porque o metabolismo celular gera muito
ácido como produto final, sob a forma de ácido carbônico.
Composição do Sistema Percentual
Bicarbonato/Ácido Carbônico 64%
Hemoglobina/Oxihemoglobina 28%
Proteinas ácidas/Proteinas básicas 7%
Fosfato monoácido/Fosfato diácido 1%
A Tabela acima lista os sistemas tampão que existem no sangue (líquido intravascular), nos tecidos
(líquido intersticial) e no interior das células (líquido intracelular). Quando um ácido se acumula em
maior quantidade no organismo, é neutralizado no sangue, no líquido intersticial e no interior das
células, em partes aproximadamente iguais, ou seja, 1/3 do ácido é neutralizado no sangue, 1/3 é
neutralizado no líquido intersticial e 1/3 no líquido intracelular. O processo intracelular é mais lento e
pode demorar cerca de duas horas, para compensar uma alteração.

Quando um ácido é adicionado ao sangue, o bicarbonato do tampão prontamente reage com ele; a
reação produz um sal, formado com o sódio do bicarbonato e ácido carbônico. Essa reação diminui a
quantidade de bases e altera a relação entre o bicarbonato e o ácido carbônico. O ácido carbônico
produzido pela reação do bicarbonato do tampão, se dissocia em CO2 e água; o CO2 é eliminado nos
pulmões, recompondo a relação de 20:1 do sistema protetor. Quando uma base invade o organismo, o
ácido carbônico prontamente reage com ela, produzindo bicarbonato e água. O ácido carbônico diminui.
Os rins aumentam a eliminação de bicarbonato ao invés do íon hidrogênio, reduzindo a quantidade de
bicarbonato no organismo, para preservar a relação do sistema tampão. Todos os sistemas tampão do
organismo atuam da mesma forma que o sistema bicarbonato/ácido carbônico. O sistema neutraliza o
excesso de ácidos ou de bases e em seguida o organismo tenta recompor a relação normal do tampão.
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O princípio fundamental da regulação do equilíbrio ácido-base é a manutenção da relação constante
entre o numerador e o denominador do sistema tampão. O bicarbonato total disponível no organismo é
de aproximadamente 1.000 mEq, dos quais cerca de 450 mEq. estão imediatamente disponíveis,
distribuidos em 15 litros de líquido extracelular, sendo 3 litros de plasma e 12 litros de líquido
intersticial. Nas alcaloses o organismo tolera a redução dos íons hidrogênio em cerca da metade do seu
valor normal, até alcançar o pH incompatível com a vida celular. Nas acidoses, o organismo tolera a
elevação dos íons hidrogênio 3 vezes acima do normal, até alcançar o pH incompatível com a vida.

INTEGRAÇÃO DA DEFESA CONTRA VARIAÇÕES DO pH

Os sistemas de defesa que mantém o pH dos líquidos orgânicos dentro de uma faixa estreita, atuam
perfeitamente integrados em suas funções. Todos os líquidos do organismo possuem sistemas tampão,
para impedir alterações significativas da concentração dos íon hidrogênio ou, em outras palavras, do pH.
Se a concentração do íon hidrogênio aumenta ou diminui significativamente, o centro respiratório é
imediatamente estimulado, para alterar a frequência respiratória e modificar a eliminação do dióxido de
carbono. As variações da eliminação do dióxido de carbono, tendem a retornar o pH aos seus valores
normais. Quando o pH se afasta da faixa normal, os rins eliminam urina ácida ou alcalina, contribuindo
para o retorno da concentração dos íons hidrogênio aos valores normais.

O TAMPÃO BICARBONATO/ÁCIDO CARBÔNICO

O sistema tampão constituido pelo bicarbonato e pelo ácido carbônico tem características especiais
nos líquidos do organismo. O ácido carbônico é um ácido bastante fraco e a sua dissociação em íons
hidrogênio e íons bicarbonato é mínima, em comparação com outros ácidos. Em cada 1.000 moléculas
de ácido carbônico, cerca de 999 estão em equilíbrio sob a forma de dióxido de carbono (CO2) e água
(H2O), do que resulta uma alta concentração de dióxido de carbono dissolvido e uma baixa
concentração de ácido. O sistema tampão do bicarbonato/ácido carbônico é muito poderoso porque os
seus componentes podem ser facilmente regulados. A concentração do dióxido de carbono é regulada
pela eliminação respiratória e a concentração do bicarbonato é regulada pela eliminação renal.

OUTROS SISTEMAS TAMPÃO


Além do principal sistema tampão, o bicarbonato/ácido carbônico, outros sistemas são importantes na
manutenção do equilíbrio ácido-base. No líquido intracelular, cuja concentração de sódio é baixa, o
tampão do ácido carbônico consiste principalmente de bicarbonato de potássio e de magnésio.O sistema
tampão fosfato, formado pelo fosfato de sódio e ácido fosfórico é eficaz no plasma, no líquido
intracelular e nos túbulos renais onde se concentra em grande quantidade. O sistema tampão das
proteinas é muito eficaz no interior das células, onde é o sistema mais abundante. O tampão
hemoglobina é exclusivo das hemácias; colabora com a função de transporte do CO2 e com o tampão
bicarbonato. Os sistemas tampão não são independentes entre sí, mas cooperativos. Qualquer condição
que modifique um dos sistemas também influirá no equilíbrio dos demais; na realidade, os sistemas
tampão auxiliam-se uns aos outros.

RESUMO
O organismo dispõe de três mecanismos reguladores do pH, que funcionam em sincronia, para
preservar as condições ótimas para o metabolismo celular: o mecanismo respiratório, de ação rápida,
que elimina o dióxido de carbono, reduzindo a quantidade de ácido carbônico; o mecanismo renal, de
ação lenta, que elimina ou economiza íons hidrogênio e bicarbonato e o mecanismo químico, de ação
imediata, constituído pelos sistemas tampão, que neutralizam ácidos ou bases que se acumulam no
organismo. O sistema tampão bicarbonato/ácido carbônico é o mais importante e corresponde a 64% do
poder tamponante do plasma. A principal característica do sistema tampão é a relação constante que
deve existir entre o sal (numerador) e o ácido (denominador) do sistema. Quando um ácido é produzido
no organismo, o sal do sistema tampão reage com o mesmo, produzindo um novo sal de sódio e ácido
carbônico ou dióxido de carbono e água. O dióxido de carbono em excesso é eliminado pelos pulmões.
Quando uma base é produzida no organismo, o ácido do sistema tampão reage com a mesma,
produzindo bicarbonato de sódio e água. O bicarbonato em excesso é eliminado pelos rins. O princípio
fundamental da regulação do equilíbrio ácido-base é a manutenção da relação constante entre o sal e o
ácido do sistema tampão. O organismo tenta preservar a relação, para manter sempre disponível o seu
sistema de defesa. Além do sistema bicarbonato/ácido carbônico, existem os sistemas tampão fosfato,
da hemoglobina e das proteinas.
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DISTÚRBIOS ÁCIDO-BÁSICOS

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OBJETIVOS: Descrever as principais alterações do equilíbrio ácido-base. Analisar os desvios do pH.
Descrever os distúrbios de origem respiratória e os de origem metabólica. Conceituar acidose e alcalose.

CONCEITOS GERAIS
Os desvios da concentração de íons hidrogênio são ocorrências relativamente comuns nos pacientes
graves, nos pacientes sob regime de terapia intensiva, especialmente quando a ventilação depende de
respiradores mecânicos e nos que apresentam doença significativa pulmonar ou renal, devido à
interferência com os mecanismos reguladores naturais. São ainda comuns em pacientes com doenças
sistêmicas severas, de qualquer natureza, em que haja comprometimento das funções metabólicas ou
respiratórias.

DESVIOS DO pH
O pH é o indicador do estado ácido-base do organismo. Os desvios do equilíbrio ácido-base refletem-se
nas alterações do pH do sangue. O pH normal do sangue, situa-se entre 7,35 e 7,45. Quando o pH está
abaixo do valor mínimo normal, existe acidose. Se o pH está acima da faixa normal, existe alcalose. A
prática tem demonstrado que o organismo humano tolera um certo grau de alcalose, melhor que graus
idênticos de acidose. A severidade dos distúrbios do equilíbrio ácido-base pode ser apreciada pelo grau
de alteração do pH. Quanto mais baixo o pH, mais severa é a acidose; do mesmo modo um pH muito
elevado, indica a presença de alcalose grave.

Desvios extremos do equilíbrio ácido-base, em geral se acompanham de alterações profundas da


função dos órgãos vitais e podem determinar a morte do indivíduo. Em geral, o valor mínimo do pH,
compatível com a vida nas acidoses é de 6,85; nas alcaloses, o valor máximo de pH, tolerado pelo
organismo é de aproximadamente 7,95. As variações da concentração dos íons hidrogênio no
organismo podem ser de origem interna (endógena) ou externa (exógena). O acúmulo de ácidos no
organismo pode ser consequência da retenção do CO2 no sangue por dificuldade de eliminação nos
alvéolos pulmonares, pode ocorrer em consequência do aumento da produção de ácido lático e por
incapacidade de eliminação de ácidos fixos pelos rins (causas endógenas). Pode também ocorrer, em
consequência da ingestão acidental de grande quantidade de ácidos, como o ácido acetil-salicílico
(aspirina) ou outros agentes de natureza ácida (causas exógenas). A redução dos ácidos no organismo
pode ser consequência da eliminação excessiva do CO2 (causa endógena), da perda de ácidos fixos ou
da administração excessiva de bases, como o bicarbonato de sódio, por exemplo (causa exógena).
Sempre que há tendência a desvios do equilíbrio ácido-base, o organismo intensifica a atuação dos
mecanismos de compensação, na tentativa de impedir grandes desvios do pH. Nestas circunstâncias
os desvios podem ser parcialmente compensados. A compensação completa do desvio, entretanto,
depende da remoção da sua causa primária.

CLASSIFICAÇÃO DOS DESVIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

Os distúrbios do equilíbrio ácido-base são classificados conforme os seus mecanismos de produção.


Dessa forma, as alterações podem ter origem respiratória ou metabólica. Esses desvios
correspondem, portanto, a quatro tipos de alterações. Os desvios do tipo respiratório devem-se à
alterações da eliminação do dióxido de carbono. Os desvios do tipo metabólico não sofrem
interferência respiratória na sua produção. Conforme a duração, os desvios do equilíbrio ácido-base
podem ser agudos ou crônicos. Os distúrbios crônicos, em geral, acompanham doenças crônicas do
sistema respiratório ou dos rins. Os distúrbios crônicos costumam ser de intensidade mais leve,
parcialmente compensados e melhor tolerados.

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ACIDOSES
Ocorre acidose quando a concentração de íons hidrogênio livres nos líquidos do organismo está
elevada; em consequência, o pH, medido no sangue arterial, está abaixo de 7,35. As acidoses podem
ser de dois tipos: acidose respiratória e acidose metabólica. A acidose respiratória ocorre em
consequência da redução da eliminação do dióxido de carbono nos alvéolos pulmonares. A retenção
do CO2 no sangue que atravessa os capilares pulmonares, produz aumento da quantidade de ácido
carbônico no sangue, com consequente redução do pH, caracterizando a acidose de origem
respiratória. A acidose metabólica ocorre em consequência do aumento da quantidade de ácidos fixos,
não voláteis, no sangue, como o ácido lático, corpos cetônicos ou outros. O pH do sangue se reduz,
devido ao acúmulo de íons hidrogênio livres; não há interferência respiratória na produção do
distúrbio. As acidoses, como distúrbio primário do equilíbrio ácido-base, são encontradas na prática
clínica, mais frequentemente que as alcaloses.
ALCALOSES
Ocorre alcalose quando a concentração de íons hidrogênio livres, nos líquidos do organismo está
reduzida. Em consequência, o pH medido no sangue arterial está acima de 7,45. Conforme o
mecanismo de produção, as alcaloses podem ser de dois tipos, alcalose respiratória e alcalose
metabólica. A alcalose respiratória ocorre em consequência do aumento da eliminação de dióxido de
carbono nos alvéolos pulmonares. A eliminação excessiva do CO2 do sangue que atravessa os
capilares pulmonares, produz redução da quantidade de ácido carbônico no sangue, com consequente
elevação do pH, caracterizando a alcalose de origem respiratória. A alcalose metabólica ocorre em
consequência do aumento da quantidade de bases no sangue, como o íon bicarbonato. O pH do
sangue se eleva, devido à redução de íons hidrogênio livres; não há interferência respiratória na
produção do distúrbio. As alcaloses como alterações primárias do equilíbrio ácido-base, são
encontradas na prática clínica, com menos frequência que as acidoses.
RESUMO
Os desvios da concentração de íons hidrogênio são ocorrências relativamente comuns nas práticas de
emergência, terapia intensiva e grandes cirurgias. O pH indica o estado ácido-base do organismo. O
pH normal do sangue oscila dentro da faixa de 7,35 a 7,45. Quando o pH do sangue é inferior a 7,35,
existe acidose; quando o pH é superior a 7,45 existe alcalose. Os valores de pH abaixo de 6,85 ou
acima de 7,95 indicam acidose e alcalose extremas, respectivamente e, de um modo geral, são
incompatíveis com a vida. Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem ser produzidos por alterações
respiratórias ou por alterações metabólicas. Os desvios do tipo respiratório devem-se à alterações da
eliminação do dióxido de carbono. Os desvios do tipo metabólico não sofrem interferência respiratória
na sua produção; correspondem à produção excessiva de ácidos, dificuldade de eliminação de ácidos,
perda excessiva de bases do organismo ou à perda de ácidos. As acidoses (pH inferior a 7,35),
portanto, podem ser: respiratória ou metabólica. As alcaloses (pH superior a 7,45), também podem ser
respiratórias ou metabólicas, conforme a natureza da sua produção.

REGULAÇÃO RESPIRATÓRIA DO pH

OBJETIVOS: Descrever a ventilação pulmonar, a produção e o transporte de dióxido de carbono para


os alvéolos pulmonares. Analisar a pressão parcial do dióxido de carbono e a eliminação pulmonar na
regulação do pH do sangue. Descrever o mecanismo de ação do centro respiratório.
CONCEITOS GERAIS
Os principais mecanismos reguladores do equilíbrio ácido-base do organismo são os sistemas tampão,
a regulação respiratória e a regulação renal. Esses mecanismos atuam em conjunto e, em
circunstâncias normais, mantém inalterada a concentração de íons hidrogênio dos líquidos orgânicos,
assegurando as condições ideais para a função celular. A alimentação e a atividade física produzem
desvios do pH que são prontamente compensados, quando as funções respiratória e renal são
adequadas. Em determinados estados patológicos ou em certas alterações pulmonares ou renais, a
produção de ácidos ou a retenção de bases no organismo, podem ser tão intensos que os mecanismos
de compensação tornam-se incapazes de manter o equilíbrio adequado. Nessas condições, o sistema
regulador colapsa e o pH dos líquidos orgânicos se altera; as funções celulares deterioram e quando a
condição persiste, em geral, ocorre a morte do indivíduo. Os sistemas tampão e os mecanismos
respiratórios são os principais reguladores do pH dos líquidos do organismo diante de alterações
bruscas do equilíbrio entre os ácidos e as bases.
VENTILAÇÃO PULMONAR
O pulmão humano possui cerca de 300 milhões de alvéolos, que equivalem a uma superfície de
aproximadamente 70 metros quadrados, destinada a trocar gases com o ar atmosférico. A função
respiratória se processa mediante três atividades distintas, mas interrelacionadas e coordenadas:
ventilação, que consiste no processo através do qual o ar atmosférico alcança os alvéolos, para as
trocas gasosas;
perfusão, que consiste no processo pelo qual o sangue venoso alcança os capilares dos alvéolos, para
as trocas gasosas;

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difusão, o processo pelo qual o oxigênio da mistura gasosa alveolar passa para o sangue, ao mesmo
tempo em que o dióxido de carbono (CO2) contido no sangue passa para o gas dos alvéolos.
O sistema respiratório pode ser representado simplificadamente, por uma membrana com enorme
superfície em que, de um lado existe o ar atmosférico e do outro lado o sangue venoso. Através desta
membrana, ocorrem as trocas gasosas. A enorme superfície disponível para as trocas gasosas permite
que em um minuto o organismo possa eliminar até 200 mL de dióxido de carbono (CO 2). Por esta
grande capacidade de eliminar o CO2 do sangue, o pulmão é o mais importante regulador do equilíbrio
ácido-básico do organismo. O mecanismo regulador respiratório pode manter o pH na faixa normal,
variando a quantidade de dióxido de carbono eliminada nos alvéolos.

PRODUÇÃO DO DIÓXIDO DE CARBONO (CO2)

As etapas terminais do metabolismo celular consistem na combustão da glicose e de outros


metabólitos, com liberação de energia química e produção de dióxido de carbono e água. O dióxido de
carbono formado no organismo difunde-se para os líquidos intersticiais e destes para o sangue. O
dióxido de carbono (CO2) combina-se com a água (H2O), para formar o ácido carbônico (H2CO3); uma
pequena parte se dissocia nos íons bicarbonato (HCO3-) e hidrogênio (H+), conforme esquematizado na
figura 7. A maior parte do ácido carbônico existe no sangue como CO2 dissolvido e água, em equilíbrio.
O dióxido de carbono é transportado pelo sangue venoso para os capilares pulmonares, sob três
formas:
Gás dissolvido - Cerca de 5% do CO2 é transportado simplesmente dissolvido na água do plasma.
Íon bicarbonato - Cerca de 75% do total de CO2 é transportado sob a forma de íon bicarbonato,
produto da reação com a água das hemácias, catalisada pela enzima anidrase carbônica, que torna a
reação 5.000 vezes mais rápida. O íon hidrogênio resultante da reação é captado pela hemoglobina
(sistema tampão das hemácias).
Combinado à hemoglobina - Os restantes 25% do CO2 ligam-se à hemoglobina em local diferente do
que se liga o oxigênio, mediante uma ligação química facilmente reversível, para transporte pelo
sangue (carbamino hemoglobina).

ELIMINAÇÃO DO DIÓXIDO DE CARBONO

A produção díária de dióxido de carbono é elevada e depende da atividade metabólica dos indivíduos.
O índice metabólico é o fator determinante da produção do CO 2 e, portanto, da sua eliminação pelos
pulmões. Os gases tem um comportamento especial quando estão em solução. A quantidade de gás
existente em uma solução é medida pela sua pressão parcial, ou seja, a pressão ou a tensão exercida
pelo gás na solução, independente da presença de outros gases. A pressão parcial é proporcional à
quantidade de gás existente na solução. Por essa razão, a quantidade de CO2 existente no sangue é
medida pela sua pressão parcial. A pressão parcial do dióxido de carbono é representada pelo símbolo
PCO2. Nos capilares alveolares, o dióxido de carbono do sangue venoso se difunde para o gas dos
alvéolos. A difusão do CO2 para os alvéolos é comandada pela diferença de pressão parcial (PCO 2)
entre o sangue venoso e o gas alveolar; esta difusão rápidamente equilibra a pCO 2 do sangue com a
PCO2 do gas dos alvéolos pulmonares. A eliminação do CO2, reduz a quantidade de ácido carbônico,
conforme representado na figura 8. A redução do CO2 do sangue, elimina ácido e eleva o pH. O
aumento da quantidade de dióxido de carbono no sangue, altera o pH para o lado ácido; a redução da
quantidade (ou da tensão parcial) do dióxido de carbono no sangue, altera o pH para o lado alcalino. É
com base nessa relação que o sistema respiratório modifica o pH.

MECANISMO DA AUTO-REGULAÇÃO DO pH

8
A concentração de íons hidrogênio do sangue ou, em outras palavras, o pH do sangue, modifica a
ventilação alveolar, através do centro respiratório. Esta estrutura do sistema nervoso central se
comporta como um "sensor" do pH do sangue. Quando a concentração de íons hidrogênio do sangue
está elevada (pH baixo) o centro respiratório aumenta a frequência dos estímulos respiratórios,
produzindo taquipneia. Com o aumento da frequência respiratória, aumenta a eliminação do CO2 do
sangue; a redução dos níveis sanguíneos do CO2 eleva o pH. A concentração de H+ no sangue é
permanentemente acompanhada pelo centro respiratório, que regula seus estímulos de acordo com
ela, conforme demonstra o diagrama da figura 9. Ao contrário, quando a concentração de íons
hidrogênio (H+) está baixa (pH elevado), o centro respiratório diminui a frequência dos estímulos à
respiração e ocorre bradipneia, que reduz a eliminação do CO 2 tentando corrigir o pH do sangue. Na
realidade, a regulação respiratória do pH, por estímulos do centro respiratório, não normaliza o pH do
sangue, porque, à medida que a concentração do íon hidrogênio se aproxima do normal, o estímulo
que modifica a atividade respiratória vai desaparecendo. Apesar disso, a compensação respiratória é
extremamente eficaz para impedir grandes oscilações do pH.

RESUMO
A função respiratória se processa mediante três mecanismos interligados: a ventilação pulmonar,
através da qual o ar atmosférico alcança os alvéolos; a perfusão pulmonar, através da qual o sangue
venoso alcança os capilares alveolares para as trocas gasosas e a difusão pulmonar, através da qual o
dióxido de carbono do sangue é eliminado para os alvéolos e o oxigênio do ar inspirado é captado pelo
sangue venoso. O dióxido de carbono (CO2) é o produto final do metabolismo aeróbico. O CO2 alcança
o líquido extracelular e o sangue para eliminação nos alvéolos. A quantidade de CO2 é expressa pela
sua pressão parcial, representada pela sigla PCO2. Como a PCO2 do sangue venoso é maior que a
PCO2 do gas alveolar, o CO2 se difunde do sangue para os alvéolos. Quando o CO2 deixa o sangue,
diminui a quantidade de ácido carbônico e em consequência o pH tende a se elevar. Se, ao contrário,
a eliminação do CO2 for reduzida, haverá acúmulo de ácido carbônico no sangue, com consequente
redução do pH. A concentração do íon hidrogênio no sangue ou, em outras palavras, o pH do sangue,
modifica a ventilação pulmonar, através de estímulos do centro respiratório. Quando o pH do sangue
está baixo (acidose), o centro respiratório aumenta a frequência respiratória e, desse modo, acentua a
eliminação do CO2. Quando o pH do sangue está elevado (alcalose), o centro respiratório diminui a
frequência respiratória e, desse modo, acumula CO2 no sangue, reduzindo a sua eliminação.

9
REGULAÇÃO RENAL DO pH

OBJETIVOS: Descrever a função renal e o mecanismo de eliminação através da secreção tubular.


Analisar os mecanismos de eliminação do íon hidrogênio e de eliminação do íon bicarbonato na
regulação tardia do pH.

CONCEITOS GERAIS
Os principais mecanismos reguladores do equilíbrio ácido-base do organismo são os sistemas tampão,
a regulação respiratória e a regulação renal. A regulação respiratória é de ação rápida, capaz de
controlar a eliminação do dióxido de carbono e dessa forma, moderar a quantidade de ácido carbônico
e a concentração de hidrogênio livre no plasma sanguíneo. Quando a concentração de íons hidrogênio
se afasta do normal, os rins eliminam urina ácida ou alcalina, conforme as necessidades, contribuindo
para a regulação da concentração dos íons hidrogênio dos líquidos orgânicos. O mecanismo renal de
regulação faz variar a concentração de íons bicarbonato (HCO3-) do sangue, mediante reações que se
processam nos túbulos renais. É o mecanismo definitivo de ajuste na maioria dos desequilíbrios ácido-
básicos de origem metabólica.

FUNÇÕES RENAIS
Os rins podem excretar diariamente cerca de 50mEq. de íons hidrogênio (H+) e reabsorver 5.000
mEq. de íon bicarbonato ((HCO3-). Os rins eliminam material não volátil que os pulmões não tem
capacidade de eliminar. A eliminação renal é de início mais lento, torna-se efetiva após algumas horas
e demora alguns dias para compensar as alterações existentes. A eliminação de bases e seus cátions
é feita exclusivamente pelos rins. Os rins tem a capacidade de reabsorver o sódio (Na+) e o potássio
(K+) filtrados para a urina, eliminando o íon hidrogênio (H+) em seu lugar; o sódio reabsorvido pode
ser usado para produzir mais bicarbonato e reconstituir a reserva de bases do organismo. Além de
influir na restauração do equilíbrio ácido-base, os rins reagem à desidratação, à hipotensão, aos
distúrbios da osmolaridade e eliminam ácidos fixos. Os rins desempenham fundamentalmente duas
funções no organismo:
1. eliminação de produtos terminais do metabolismo, como uréia, creatinina e ácido úrico e,
2. controle das concentrações da água e de outros constituintes dos líquidos do organismo como
sódio, potássio, hidrogênio, cloro, bicarbonato e fosfatos.
A unidade funcional dos rins é o néfron. Existem cerca de 2.400.000 néfrons nos dois rins. Cada néfron
é formado de um novelo de capilares para filtração do sangue, chamado glomérulo e um conjunto de
túbulos que recebem o filtrado dos glomérulos, reabsorvem a sua maior parte e eliminam substâncias
na sua luz para a formação da urina. Os rins cumprem as suas funções no organismo através de 3
mecanismos principais:
Filtração gromerular - O sangue que alcança os glomérulos é filtrado para os túbulos renais. O líquido
filtrado é chamado filtrado glomerular e corresponde a aproximadamente 180 litros por dia. O filtrado
é transformado em urina à medida que atravessa os túbulos renais.
Reabsorção tubular - Cerca de 99% do filtrado glomerular são reabsorvidos para o sangue. O restante,
cerca de 1,8 L constitui a urina, que representa um concentrado do filtrado glomerular.
Secreção tubular - A secreção tubular atua em direção oposta à reabsorção tubular. As substâncias
são transportadas do interior dos capilares sanguíneos para a luz dos túbulos para mistura com a urina
e subsequente eliminação. Esse transporte ativo de substâncias, a secreção tubular, é desempenhado
pelas células dos túbulos renais. A secreção tubular é fundamental à manutenção do equilíbrio ácido-
base.

REGULAÇÃO RENAL DO pH
Os rins regulam a concentração de íon hidrogênio (H+), promovendo o aumento ou a diminuição da
concentração dos íons bicarbonato (HCO-3), nos líquidos do organismo. Essa variação dos íons
bicarbonato ocorre em consequência de reações nos túbulos renais, às custas do mecanismo da
secreção tubular.

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O dióxido de carbono do líquido extracelular penetra nas células tubulares e, com o auxílio da anidrase
carbônica, combina-se com a água, para formar ácido carbônico, que se dissocia em íons bicarbonato
e hidrogênio, conforme a reação:

O hidrogênio assim formado é secretado para a luz do túbulo renal, sendo misturado ao filtrado
glomerular. As células dos túbulos renais absorvem sódio do filtrado glomerular e o combinam ao íon
bicabonato, produzindo o bicarbonato de sódio, que é devolvido ao líquido extracelular. A formação do
bicarbonato depende da produção e secreção de H+ pelas células tubulares e mantém a reserva de
bases do organismo. A figura 10 representa a atividade de uma célula tubular, nas trocas de íons
hidrogênio (H+) pelos íons sódio (Na+) do filtrado glomerular, para a formação de bicarbonato. O
excesso de íon hidrogênio no filtrado tubular é neutralizado pelos tampões do líquido tubular,
principalmente o fosfato, a amônia, os uratos e citratos. O resultado final da excessiva secreção de
íons hidrogênio nos túbulos renais é o aumento da quantidade de bicarbonato de sódio no líquido
extracelular. Isso aumenta a quantidade de bicarbonato do sistema tampão bicarbonato/ácido
carbônico, que mantém a normalidade do pH. Quando a quantidade de bicarbonato no sangue está
aumentada, a sua proporção, em relação ao ácido carbônico, é maior e o pH está acima do normal.
Nestas circunstâncias, aumenta a filtração renal dos íon bicarbonato, em relação aos íons hidrogênio
secretados. A concentração mais baixa de dióxido de carbono, diminui a secreção de íons hidrogênio.
Maiores quantidades de íons bicarbonato que de íons hidrogênio passam a penetrar nos túbulos. Como
os íons bicarbonato não podem ser reabsorvidos sem antes reagir com o hidrogênio, todo o íon
bicarbonato em excesso passa à urina, carregando com ele íons sódio e outros íons positivos. Deste
modo o íon bicarbonato é removido do líquido extracelular. A perda de bicarbonato diminui a sua
quantidade no sistema tampão bicarbonato/ácido carbônico o que desloca o pH dos líquidos do
organismo na direção ácida. A urina eliminada contém maior quantidade de bicarbonatos e se torna
alcalina.

RESUMO
O mecanismo renal de compensação do equilíbrio ácido-base é o mais lento e demorado, embora o
definitivo. Quando o pH do sangue se altera, os rins eliminam urina ácida ou alcalina, conforme as
necessidades, contribuindo para regular a concentração de íons hidrogênio do sangue e demais
líquidos orgânicos. Os três principais mecanismos funcionais do sistema renal são a filtração
glomerular, a reabsorção tubular e a secreção tubular. Através o mecanismo de secreção tubular, os
rins transformam o dióxido de carbono em ácido carbônico ionizado. O íon hidrogênio é eliminado para
a urina em troca por sódio ou potássio que combinando-se ao íon bicarbonato, retorna ao líquido
extracelular, para alcançar a corrente sanguínea. Quando há bicarbonato em excesso no sangue, os
rins eliminam o íon bicarbonato em conjunto com o íon hidrogênio, o que torna a urina alcalina e
contribui para a regulação das bases existentes.

AVALIAÇÂO DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

OBJETIVOS: Descrever os exames que indicam o estado do equiíbrio ácido-base. Detalhar a coleta da
amostra de sangue arterial e os cuidados na realização do exame. Analisar o significado dos
resultados do exame.
CONCEITOS GERAIS
A normalidade do pH, da PCO2 e das bases do sangue e demais líquidos do organismo é representada
por faixas, ao invés de um valor simples e absoluto, por duas razões principais:
1. As medidas de parâmetros biológicos em uma grande quantidade de indivíduos são semelhantes,
mas não são exatamente iguais. Um mesmo exame, realizado em um grande número de indivíduos,
mostrará uma curva de distribuição de resultados. O valor encontrado o maior número de vêzes
representa o ponto médio da curva. Os valores encontrados em 95% dos indivíduos, formam um
segmento simétrico da curva, acima e abaixo do ponto médio e constituem o desvio padrão. A faixa
de normalidade nessa curva abrange o ponto médio e o desvios padrão inferior e superior. 2. Os
valores do equilíbrio ácido-base refletem a atividade metabólica das células e a atividade química de
um grande número de substâncias existentes no sangue e nos líquidos intracelular e intersticial, onde
ocorrem intercâmbio e reações químicas muito rápidas. O conceito de normalidade e seus valores
numéricos, portanto, devem ser abrangentes e devem considerar as variações individuais.

AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE


A avaliação do estado ácido-base do organismo, na prática clínica, é feita pela análise de quatro
parâmetros principais, determinados em amostras de sangue arterial. Esses parâmetros são o pH, a
PCO2, o bicarbonato e a diferença de bases (excesso ou déficit). Gasometria é o exame que fornece os
valores que permitem analisar os gases sanguíneos e o equilíbrio ácido-base; os aparelhos utilizados
para a determinação dos gases sanguíneos e do pH são os analisadores de gases, dos quais existem
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vários tipos e modelos, disponíveis no mercado. Os aparelhos mais sofisticados fazem correções
automáticas para o valor da hemoglobina e da temperatura e emitem os resultados já impressos em
formulários próprios. Por se tratar da análise de gases, inclusive o CO2, muito volátil, diversos
cuidados são essenciais em relação à coleta das amostras de sangue, transporte ao laboratório e
realização imediata do exame, para assegurar a fidelidade dos resultados. A velocidade com que as
condições do equilíbrio ácido-base podem se modificar, principalmente na terapia intensiva, requer a
imediata análise dos resultados do exame, que refletem as condições do paciente, no momento da
coleta da amostra.

AMOSTRAS DE SANGUE
A amostra de sangue deve ser colhida por meio da punção cuidadosa de uma artéria periférica,
geralmente a artéria radial ou a femural. A punção da artéria femural é usada, quando a palpação dos
pulsos radiais é difícil, devido à hipotensão arterial ou baixo débito cardíaco. Em pacientes com
instabilidade cardio-respiratória, frequentemente se usa um cateter intra-arterial para a monitorização
contínua da pressão arterial e análise seriada da gasometria arterial. Nesses casos o procedimento da
coleta da amostra fica simplificado. Isso é comum nas unidades de terapia intensiva, durante
procedimentos cirúrgicos de grande porte, como na cirurgia cardiovascular ou nos laboratórios de
hemodinâmica, durante o cateterismo cardíaco. A amostra deve ser coletada com anticoagulante
(heparina), para manter a fluidez do sangue. A técnica recomendada para a coleta consiste em aspirar
cerca de 1 mL de heparina sódica (1.000 U/mL) e movimentar o líquido na seringa, apenas para
"lavar" as paredes internas; logo após, desprezar todo o conteudo. O resíduo que fica no espaço morto
do bico da seringa e na agulha é de cerca de 0,15mL.. Essa quantidade de heparina é suficiente para
anticoagular cerca de 2 a 4 mL. de sangue. O volume mínimo da amostra deve ser de 2 mL., para
manter a heparina bem diluida. Esse cuidado é importante, porque a heparina é ácida (pH em torno de
6,8). Heparina em excesso, na amostra, pode falsear a determinação do pH. Na prática, 0,05 mL. de
heparina sódica são suficientes para anticoagular 1 mL. de sangue. As amostras de sangue devem ser
isentas de ar. As bolhas de ar porventura existentes, devem ser imediatamente removidas. Quando a
amostra contém ar, ocorre o equilíbrio gasoso com o sangue. A PCO2 da amostra será mais baixa
enquanto a PO2 poderá ser mais alta e o resultado pode não refletir as condições reais do paciente.
Quando o laboratório é distante do local da coleta, a amostra deverá ser transportada em gelo. O
metabolismo do sangue da amostra continua; há consumo de oxigênio e produção de CO2. Este
cuidado é importante, quando o transporte produz demora na análise da amostra de sangue. Decisões
clínicas importantes são baseadas nos resultados da gasometria arterial; é fundamental, portanto, que
os resultados do exame sejam absolutamente confiáveis.

TÉCNICA DA PUNÇÃO ARTERIAL


A técnica da punção radial é simples mas requer alguma experiência, para ser realizada com sucesso.
* A artéria radial é puncionada na altura do punho. Devemos inicialmente palpar a artéria para
assegurar a sua perfeita localização; a mão do paciente é posicionada mantendo o punho em
extensão ampla, para facilitar a palpação da artéria. A posição é mantida com apoio sobre uma
compressa dobrada ou enrolada, conforme demonstra a figura abaixo; * A pele no local da punção é
limpa e desengordurada com algodão embebido em álcool ou solução de álcool iodado; * Faz-se um
pequeno botão anestésico no local da punção, com agulha 25, que permite várias tentativas sem
produzir dor no local;

* A artéria é palpada com uma das mãos, enquanto a outra empunha a seringa com agulha 20 ou 21;
* A agulha deve fazer um ângulo de trinta graus com a pele, para perfurar a artéria em posição
oblíqua, que facilita a hemostasia natural pelas fibras musculares da parede arterial; * Ao ser
alcançada a luz da artéria, observa-se o fluxo sanguíneo no interior da seringa que em geral
impulsiona o êmbolo. Esta manobra é mais fácil com as seringas de vidro que com as de plástico.
Nestas últimas, em geral, é necessário puxar levemente o êmbolo para estabelecer o fluxo sanguíneo
para o interior da seringa; * Se a punção transfixa a artéria, a agulha deve ser retirada
vagarosamente, até que a sua ponta alcance a luz do vaso, quando se estabelecerá o fluxo sanguíneo;
* A aspiração vigorosa com o êmbolo favorece a entrada de ar na amostra e deve ser evitada. Quando
necessário, aspirar o sangue suavemente; * Após remover 2 mL. de sangue, retirar a agulha e
comprimir o local da punção com algodão embebido em álcool ou álcool-iodado, por três minutos,
para evitar a formação de hematomas no local da punção. * A punção em crianças pequenas deve ser
feita com um escalpe fino (calibre 21), não adaptado à seringa, para permitir o livre fluxo do sangue.
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Um auxiliar deve conectar a seringa e aspirar a amostra quando o escalpe estiver cheio. A punção em
crianças requer mais experiência com a técnica, embora as linhas gerais do procedimento sejam as
mesmas.

ANALISADORES DE GASES
Os analisadores de gases sanguíneos utilizam eletrodos especiais para a determinação do pH, da
pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) e da pressão parcial de oxigênio (PO2). A pressão parcial
de oxigênio é determinada ao mesmo tempo que os demais parâmetros; contudo, sua análise não tem
implicações nos mecanismos do equilíbrio ácido-base. A PO2 do sangue arterial nos informa sobre a
eficiência da oxigenação realizada nos alvéolos pulmonares. Os eletrodos de pH, pCO2 e de pO2 são
contidos em um pequeno reservatório, cuja temperatura é controlada. O aparelho requer calibração
prévia para uso, que é obtida por comparação com soluções padronizadas. Os aparelhos modernos
calculam os parâmetros que não são diretamente medidos pelos eletrodos e são de grande precisão. A
taxa de hemoglobina do sangue do paciente deve ser informada, para a correção do valor das bases
em excesso ou em déficit. Estes cálculos consideram a presença do sistema tampão da hemoglobina.
INTERPRETAÇÃO DO EXAME
A interpretação da gasometria arterial, para a identificação de distúrbios do equilíbrio ácido-base é
feita em etapas sucessivas: * Verificação do pH; * Verificação da PCO2; * Verificação das bases
(bicarbonato); * Verificação da diferença de bases (excesso ou déficit).
VERIFICAÇÃO DO pH
O valor do pH da amostra indica o estado do equilíbrio ácido-base. Um pH normal demonstra a
ausência de desvios ou sua completa compensação. Se o pH está abaixo de 7,35, dizemos que existe
acidose; quando o pH está acima de 7,45, dizemos que existe alcalose, conforme representado na
figura abaixo.

A análise do pH demonstra, simplesmente, a existência de acidose ou alcalose. Podemos, com base na


experiência clínica, estimar a gravidade dos distúrbios pelos níveis do pH. Um pH igual ou inferior a
7,25 é indicativo de acidose severa, enquanto que um pH, igual ou superior a 7,55 é indicativo de
alcalose severa. A avaliação isolada do pH, obviamente, não oferece qualquer indicação sobre a
origem do distúrbio, que pode ser respiratória ou metabólica.

VERIFICAÇÃO DA PCO2
Após determinar a presença de acidose ou alcalose, devemos investigar a origem do distúrbio. O
passo seguinte é avaliar o componente respiratório do equilíbrio ácido-base.

O componente respiratório é avaliado pela quantidade de ácido carbônico existente no sangue. O


ácido carbônico existe quase completamente sob a forma de CO2 + H2O. A sua quantidade, portanto,
pode ser determinada pela pressão parcial do dióxido de carbono (PCO 2). A pressão parcial do CO2 no
sangue arterial normal oscila entre 35 e 45mmHg. Um valor anormal da PCO2, acima de 45mmHg ou
abaixo de 35mmHg, indica a origem respiratória do distúrbio. Quando a PCO2 está acima de 45mmHg
significa que há retenção de CO2 no sangue, o que, em consequência reduz o pH. Existe, portanto,
acidose respiratória. Quando, ao contrário, a PCO2 está abaixo de 35mmHg significa que há excessiva
eliminação de CO2 do sangue e, em consequência, o pH se eleva. Nessas circunstâncias, estamos
diante de um quadro de alcalose respiratória. A figura 15 ilustra o comportamento da PCO2 que
origina os dois distúrbios de natureza respiratória.

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NOTA: Embora na prática, o termo PCO2 seja de uso corrente, a expressão da pressão parcial de
gases, deve respeitar a seguinte convenção:
PACO2: refere-se à pressão parcial do CO2 no gas alveolar (com A maiúsculo). PaCO2: refere-se à
pressão parcial do CO2 no sangue arterial (com a minúsculo). PvCO2: refere-se à pressão parcial do
CO2 no sangue venoso (com v minúsculo).

VERIFICAÇÃO DAS BASES


A quantidade de bases disponíveis no sangue, indica o estado do componente metabólico do equilíbrio
ácido-base. As bases disponíveis no organismo para a neutralização dos ácidos, não são medidas
diretamente na amostra do sangue, como acontece com o pH e a pCO2; na realidade, a medida das
bases é derivada das medidas anteriores. Os analisadores de gases de uso corrente calculam aqueles
valores. A relação entre o bicarbonato plasmático, controlado pelos rins, e o ácido carbônico,
controlado pelos pulmões, determina o pH. Esse princípio permite o cálculo das bases, em função da
sua relação com o pH e a PCO2.

Existem diversos modos de expressar as bases existentes no sangue. Os dois parâmetros mais
correntemente utilizados na prática, são o bicarbonato real e o base excess. No analisador de gases, a
amostra de sangue é colocada em presença de uma solução padronizada, cuja PCO2 é de 40mmHg.
Após o equilíbrio, a PCO2 da amostra será de 40mmHg, independente do seu valor inicial. O
bicarbonato real existente no sangue é calculado à partir do pH e do CO2. Os valores das bases são
expressos em miliequivalentes por litro ou, mais comumente em milimols/litro (mM/L). O valor normal
do bicarbonato real (BR), oscila de 22 a 28mM/L. A figura 16 ilustra o comportamento do bicarbonato
real nos distúrbios metabólicos do equilíbrio ácido-base. Quando o bicarbonato real (BR) está baixo,
inferior a 22mM/L, significa que parte da reserva de bases foi consumida; em consequência o pH do
sangue se reduz, configurando o quadro de acidose metabólica. Quando, ao contrário, o bicarbonato
real (BR) está elevado, acima de 28mM/L, significa que há excesso de bases disponíveis no sangue. O
excesso das bases eleva o pH, configurando o quadro da alcalose metabólica.

VERIFICAÇÃO DA DIFERENÇA DE BASES

O cálculo do bicarbonato ignora o poder tamponante do fosfato e das proteinas (principalmente a


hemoglobina) do sangue e, portanto, não permite quantificar o distúrbio com precisão. A capacidade
total de neutralização das bases é melhor refletida pelo cálculo da diferença de bases (excesso ou
déficit de bases existentes). Este parâmetro é calculado à partir das medidas do pH, da PCO2 e da
hemoglobina. O resultado expressa o excesso de bases existentes nas alcaloses metabólicas ou o
déficit de bases existentes nas acidoses metabólicas. O valor aceito como normal para a diferença de
bases é de 2mEq/L ou, em outras palavras: a diferença de bases oscila entre um déficit (BD) de
-2,0mEq/l e um excesso (BE) de +2,0mEq/l. Usa-se o termo excesso de bases, do inglês "base excess"
(BE) para exprimir o resultado positivo e o termo déficit ou deficiência de bases, "base deficit" (BD)
para exprimir o resultado negativo. Um déficit de bases indica a existência de acidose metabólica,
enquanto o excesso de bases indica alcalose metabólica. O comportamento da diferença de bases
está representado na figura acima. A diferença de bases calculada, na realidade, representa o número
de miliequivalentes de bases que faltam ou que excedem para que o pH do sangue seja normal (7,40).

DISTÚRBIOS COMPENSADOS

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Os distúrbios do equilíbrio ácido-base ativam os mecanismos de compensação. Dessa forma, se o
distúrbio se prolonga, os exames poderão mostrar também o resultado da ação dos mecanismos
compensadores. O resultado dos exames laboratoriais representa o distúrbio primário e as tentativas
de compensação do organismo. Por essa razão, quando a alteração primária tem duração suficiente,
os exames podem expressar a resultante da compensação do distúrbio. Esses distúrbios são
chamados compensados ou parcialmente compensados. Nas fases agudas, mais comum nas unidades
de terapia intensiva, a compensação raramente ocorre, pelo menos ao ponto de mascarar o resultado
dos exames.

RESUMO
Os valores normais dos parâmetros biológicos são representados por faixas, que representam pelo
menos 95% dos indivíduos. A avaliação do equilíbrio ácido-base é feita pela determinação do pH, da
PCO2, do bicarbonato e da diferença de bases em amostras de sangue arterial. Para que o resultado
seja confiável, a amostra de sangue deve ser coletada em heparina, em condições anaeróbicas,
refrigerada e imediatamente analisada. A verificação do pH indica o estado do equilíbrio ácido base.
Um pH abaixo de 7,35 indica a existência de acidose, enquanto o pH superior a 7,45 indica a presença
de alcalose. A verificação da PCO2 demonstra o estado do componente respiratório do equilíbrio ácido-
base. Se a PCO2 está anormal, a origem do distúrbio é respiratória. A PCO2 acima de 45mmHg
significa retenção de CO2 no sangue e indica acidose de origem respiratória. A PCO2 está abaixo de
35mmHg, significa que há excessiva eliminação de CO2 do sangue e indica alcalose de origem
respiratória. A verificação do bicarbonato demonstra o estado do componente metabólico do equilíbrio
ácido-base. Se o bicarbonato está anormal, a origem do distúrbio é metabólica. Se o bicarbonato real
é inferior a 22mM/L, significa que parte das bases foram consumidas e indica acidose de origem
metabólica. Se o bicarbonato real é superior a 28mM/L, significa que há excesso de bases no sangue e
indica alcalose de origem metabólica. A verificação da diferença de bases permite avaliar a severidade
do distúrbio metabólico. Uma deficiência de bases (BD) indica a existência de acidose metabólica.
Quanto maior o déficit de bases, tanto mais severa é a acidose. Um excesso de bases (BE) indica
alcalose metabólica. Quanto maior o excesso de bases, tanto mais severa é a alcalose. A diferença de
bases representa o número de miliequivalentes de bases que faltam ou que excedem para que o pH
do sangue seja normal.

ACIDOSE RESPIRATÓRIA

OBJETIVOS: Descrever a acidose de origem respiratória e suas principais causas. Analisar as


consequências do acúmulo de dióxido de carbono e ácido carbônico no sangue. Analisar os resultados
da gasometria arterial na acidose respiratória.
CONCEITOS GERAIS
Os quatro grandes distúrbios do equilíbrio ácido-base são de origem respiratória ou metabólica. Os
distúrbios de origem respiratória decorrem de alterações da eliminação do dióxido de carbono (CO2)
do sangue, ao nível das membranas alvéolo-capilares. A redução da eliminação do dióxido de carbono
nos pulmões, faz elevar o seu nível no sangue; em consequência, eleva-se o nível do ácido carbônico.
Há maior quantidade de íons hidrogênio livres no organismo e o pH cai. O distúrbio resultante é a
acidose respiratória. A quantidade aumentada de dióxido de carbono no sangue, em consequência da
redução da sua eliminação é denominada hipercapnia. A acidose respiratória é, portanto,
consequência de alterações da ventilação pulmonar, caracterizadas por hipoventilação pulmonar e
insuficiência respiratória. A acidose respiratória pode estar relacionada a alterações de diversas
naturezas que comprometem a adequada eliminação do dióxido de carbono produzido pelo
organismo. As alterações podem ser do sistema nervoso central, da caixa torácica ou do parênquima
pulmonar. As alterações do sistema nervoso que deprimem a função respiratória são relativamente
comuns nas unidades de emergência e, em geral, são de fácil identificação.
CAUSAS DE ACIDOSE RESPIRATÓRIA
A acidose respiratória é consequência da insuficiente eliminação do dióxido de carbono nos alvéolos
pulmonares. Como a eliminação do dióxido de carbono depende fundamentalmente da ventilação
pulmonar, as condições que geram hipoventilação pulmonar, são causas de acidose metabólica. A
hipoventilação pulmonar pode ser produzida por diversos tipos de alterações, como:
Alterações do sistema nervoso que podem dificultar a respiração:
• traumatismos crânio-encefálicos,
• intoxicações exógenas,
• comas de qualquer natureza,
• resíduo de drogas depressoras,
• lesão medular,
• lesão do nervo frênico,
• bloqueadores neuromusculares.
• Alterações tóraco-pulmonares:
15
• obstrução das vias aéreas altas,
• atelectasias,
• pneumonias extensas,
• derrame pleural,
• pneumotórax extenso ou hipertensivo,
• afogamento,
• traumatismo torácico,
• hipercapnia permissiva.
Os traumatismos crânio-encefálicos, o coma barbitúrico e outros tipos de coma podem produzir
insuficiência respiratória por alterações do controle neuromuscular da respiração ou por interferência
com a função do centro respiratório.
ALTERAÇÕES DA FISIOLOGIA
O distúrbio primário da acidose respiratória é a redução da eliminação do dióxido de carbono ao nível
das membranas alvéolo-capilares dos pulmões. O CO2 acumulado no sangue mantém elevada a
quantidade de ácido carbônico e de íons hidrogênio livres. O hidrogênio tende a penetrar nas células
em troca pelo potássio, que aumenta seu valor no plasma nas primeiras horas do início da alteração.
Os rins procuram eliminar o máximo de íons hidrogênio, que tornam a urina excessivamente ácida.

QUADRO LABORATORIAL

Os resultados da gasometria arterial permitem o diagnóstico da acidose respiratória:


1. O pH está baixo (inferior a 7,35);
2. A PCO2 está elevada (acima de 45mmHg).
A associação daquelas alterações do pH e da pCO2, permitem o diagnóstico da acidose respiratória,
conforme ilustra a figura acima. Em geral, nos distúrbios agudos a reserva de bases (bicarbonato real)
é normal.
COMPENSAÇÃO DA ACIDOSE RESPIRATÓRIA
A acidose respiratória em geral é um distúrbio agudo que pode ser grave e rapidamente fatal. Casos
de enfisema pulmonar e outras doenças crônicas do parênquima pulmonar, podem desenvolver graus
leves de acidose respiratória crônica, cuja duração permite compensação relativamente eficaz. A
retenção crônica de dióxido de carbono, aumenta o teor de ácido carbônico do organismo. Os rins
eliminam íons hidrogênio e retém os íons bicarbonato, o que aumenta a reserva de bases e mantém o
pH nos limites normais ou muito próximo deles. Infecções respiratórias podem descompensar estes
pacientes levando-os a grandes aumentos da PCO2 e grandes quedas do pH resultando em acidose
respiratória crônica agudizada.

TRATAMENTO DA ACIDOSE RESPIRATÓRIA


O tratamento da acidose respiratória depende da causa e da severidade do distúrbio. Em linhas
gerais, contudo, o tratamento consiste de medidas para estimular a ventilação pulmonar que vão
desde o incentivo à tosse e eliminação de secreções bronco-pulmonares até a entubação traqueal e
ventilação mecânica. Um plano adequado de toilete bronco-pulmonar e fisioterapia respiratória são
importantes medidas auxiliares que, em certas circunstâncias podem contribuir para reduzir a
necessidade de ventilação mecânica. A ventilação mecânica, quando utilizada, deve ser
cuidadosamente conduzida e monitorizada. A ventilação mecânica inadequada também pode ser
causa de hipoventilação e retenção de dióxido de carbono, com produção de acidose respiratória.

RESUMO
Os distúrbio do equilíbrio ácido-base podem ser de origem respiratória ou de origem metabólica. A
eliminação respiratória do dióxido de carbono é o grande regulador da concentração do ácido
carbônico no organismo. Quando a eliminação do dióxido de carbono nos alvéolos pulmonares está
reduzida, o CO2 se acumula no sangue e, em consequência, aumenta a quantidade de ácido carbônico
e de íons hidrogênio livres. Estas circunstâncias originam a acidose de natureza respiratória. Devido à
maior quantidade de íons hidrogênio livres o pH se reduz. Os valores do pH inferiores a 7,35
caracterizam a existência da acidose. O acúmulo do dióxido de carbono no sangue é representado
pela elevação da sua pressão parcial (PCO2). Quando a PCO2 supera 45mmHg, configura a natureza
16
respiratória da acidose. Em geral os quadros de acidose respiratória são de instalação rápida; não há
tempo para que os mecanismos de compensação sejam eficazes. O tratamento da acidose respiratória
consiste de medidas destinadas a estimular a ventilação pulmonar e inclui estímulo à tosse, toilete
bronco-pulmonar, fisioterapia respiratória e ventilação com respiradores mecânicos. Quando a acidose
respiratória é leve e causada por doença pulmonar crônica, a compensação renal consiste em reter
íons bicarbonato, aumentando a reserva de bases e normalizando o pH.

ALCALOSE RESPIRATÓRIA

OBJETIVOS: Descrever a alcalose de origem respiratória e suas principais causas. Analisar as


consequências da excessiva redução do dióxido de carbono e do ácido carbônico no sangue. Analisar
os resultados da gasometria arterial na alcalose respiratória.

CONCEITOS GERAIS
Os quatro grandes distúrbios do equilíbrio ácido-base são de origem respiratória ou metabólica. Os
distúrbios de origem respiratória decorrem de alterações da eliminação do dióxido de carbono (CO2)
do sangue, ao nível das membranas alvéolo-capilares. A eliminação respiratória regula a quantidade
de dióxido de carbono no sangue e, dessa forma, regula o nível de ácido carbônico. Quando a
eliminação do dióxido de carbono nos pulmões é elevada, o nível sanguíneo de ácido carbônico se
reduz; há menor quantidade de íons hidrogênio livres. A quantidade reduzida de dióxido de carbono
no sangue, em consequência da hiperventilação é denominada hipocapnia. O distúrbio resultante é a
alcalose respiratória. A alcalose respiratória é, portanto, consequência da hiperventilação pulmonar.

CAUSAS DE ALCALOSE RESPIRATÓRIA


A alcalose respiratória é sempre consequência da hiperventilação pulmonar, tanto na sua forma aguda
como na crônica. A hiperventilação pulmonar pode ser secundária a doença pulmonar ou não. A
hiperventilação pode também ser devida à resposta quimioceptora do organismo em consequência de
hipoxemia, disfunção do sistema nervoso central ou mecanismo de compensação ventilatória, na
presença de acidose metabólica. A hiperventilação que acompanha certos quadros de agitação psico-
motora pode produzir alcalose respiratória aguda que leva a tonteiras ou desmaios. Na terapia
intensiva a alcalose respiratória é frequentemente produzida pelo uso da ventilação artificial com
respiradores mecânicos. Nessas circunstâncias um leve grau de alcalose, com PCO2 entre 30 e
34mmHg contribui para reduzir o estímulo respiratório e manter o paciente ligeiramente sedado com
menores doses de tranquilizantes. Outras causas de alcalose respiratória como subproduto da
hiperventilação podem ser enumeradas como: angústia, dor, febre elevada com calafrios, insuficiência
hepática, meningoencefalites, sepsis e hipertireoidismo. Hiperventilação intencional, com níveis de
PaCO2 entre 28 e 30 mmHg são utilizados clinicamente objetivando reduzir a pressão intracraniana.

ALTERAÇÕES DA FISIOLOGIA
O distúrbio primário da alcalose respiratória é a eliminação excessiva de dióxido de carbono ao nível
das membranas alvéolo-capilares dos pulmões. A tensão parcial do CO2 no sangue se reduz, bem
como reduz-se a quantidade de ácido carbônico e a quantidade de íons hidrogênio livres. Há o
deslocamento de íons hidrogênio do interior das células para o interstício, em troca pelo potássio, cujo
teor no sangue se reduz.

QUADRO LABORATORIAL

Os resultados da gasometria arterial mostram os principais achados que permitem o diagnóstico da


acidose respiratória:
1. O pH está elevado (acima de 7,45);
2. A PCO2 está baixa (abaixo de 35mmHg). A existência dessas duas alterações permitem firmar o
diagnóstico da alcalose respiratória, conforme ilustra a figura .
COMPENSAÇÃO DA ALCALOSE RESPIRATÓRIA
A alcalose respiratória é um distúrbio menos severo que a acidose respiratória. Frequentemente é
induzida por terapia respiratória que inclui ventilação mecânica. Quando o distúrbio se prolonga, os

17
rins diminuem a absorção de íon bicarbonato do filtrado glomerular, promovendo maior eliminação
pela urina, que se torna excessivamente alcalina.

TRATAMENTO DA ALCALOSE RESPIRATÓRIA


Em geral os quadros de alcalose respiratória são leves e de baixa gravidade. O tratamento em todos
os casos consiste em remover a causa da hiperventilação. Nos casos mais severos pode ocorrer
hipopotassemia, capaz de gerar arritmias cardíacas, pela entrada rápida de potássio nas células em
troca pelos íons hidrogênio. Os casos mais frequentes de alcalose respiratória severa são secundários
à ventilação mecânica prolongada; o tratamento consiste em ajustar os controles do aparelho
adequando a ventilação às necessidades do paciente.
RESUMO
Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem ser de origem respiratória ou de origem metabólica. A
eliminação respiratória do dióxido de carbono é o grande regulador da concentração do ácido
carbônico no organismo. Quando a eliminação do dióxido de carbono nos alvéolos pulmonares é
excessiva, a quantidade de CO2 e, em consequência, a quantidade de ácido carbônico do sangue
estão diminuidos. Estas circunstâncias originam a alcalose de natureza respiratória. Devido à menor
quantidade de íons hidrogênio livres, o pH se eleva. Os valores do pH superiores a 7,45 caracterizam a
existência da alcalose. A redução do dióxido de carbono no sangue é representada pela queda da sua
pressão parcial (PCO2). Quando a PaCO2 é inferior a 35mmHg., configura-se a natureza respiratória da
alcalose. Em geral os quadros de alcalose respiratória ocorrem em pacientes sob ventilação mecânica
nas unidades de terapia intensiva. São de instalação rápida e não há tempo para que os mecanismos
de compensação sejam eficazes. O tratamento consiste em remover as causas da hiperventilação.
Quando o distúrbio é leve e persistente a compensação renal consiste em reduzir a absorção dos íons
bicarbonato do filtrado glomerular, mantendo a relação do sistema tampão constante. A urina se torna
alcalina.

ACIDOSE METABÓLICA
OBJETIVOS: Descrever a acidose de origem metabólica e suas principais causas. Analisar as
consequências do excesso de ácidos não voláteis no sangue. Analisar os resultados da gasometria
arterial na acidose metabólica.

CONCEITOS GERAIS
Os quatro grandes distúrbios do equilíbrio ácido-base são de origem respiratória ou metabólica. Os
distúrbios de origem metabólica são produzidos pelo acúmulo de ácidos fixos (acidose metabólica) ou
de bases (alcalose metabólica) nos líquidos do organismo.
Ocorre acidose metabólica quando há predomínio da quantidade de ácidos fixos em relação às bases
disponíveis para a sua neutralização. Estas circunstâncias podem ser consequência do aumento da
produção de ácidos, da ingestão de ácidos fixos ou da perda excessiva de bases pelo organismo.

CAUSAS DE ACIDOSE METABÓLICA


A acidose metabólica é um distúrbio bastante comum nas unidades de emergência, de pós-operatório e
de terapia intensiva. É um distúrbio sério, capaz de produzir complicações severas ou mesmo levar à
morte. A acidose metabólica, de um modo geral, ocorre em quatro circunstâncias:
1. Aumento da produção de ácidos não voláteis, que supera a capacidade de neutralização ou de
eliminação do organismo;
2. Ingestão de substâncias ácidas;
3. Perdas excessivas de bases do organismo;
4. Dificuldade de eliminação de ácidos fixos.
A acidose metabólica mais frequente nas unidades de terapia intensiva é consequência do aumento da
produção de ácidos lático e pirúvico. A causa mais comum do acúmulo de ácido lático é a hipóxia dos
tecidos. Em condições de baixa oxigenação, os tecidos são forçados a recorrer ao metabolismo
anaeróbico para manter a produção de energia. A via anaeróbica tem como produtos finais os ácidos
fixos, principalmente o ácido lático. A reduzida perfusão dos tecidos que ocorre nos quadros de choque
ou de baixo débito cardíaco é a causa da hipóxia tissular. Nos casos de parada cardio-respiratória em
que a recuperação não é muito rápida, sempre ocorre acidose metabólica. Esta, por sua vez, reduz a
qualidade da resposta às medidas de recuperação. A entrada e a combustão da glicose nas células,
requer a presença da insulina e do potássio. Quando a insulina falta ou é insuficiente, como no caso do
diabetes mellitus, a glicose não é corretamente utilizada; a via metabólica alternativa produz corpos
cetônicos como produto final, que tem caráter ácido. A acidose metabólica, produzida pelo acúmulo dos
corpos cetônicos corresponde a um tipo especial, conhecida como ceto-acidose diabética. A ingestão
acidental de grande quantidade de aspirina, comum em crianças, produz acidose metabólica por
absorção maciça do ácido acetil salicílico. Quando ocorre redução da função tubular renal ou do
número de néfrons funcionantes, há grande limitação na capacidade do organismo eliminar ácidos fixos
18
originários do metabolismo. Isto é o que ocorre na insuficiência renal. A quantidade total de bases do
organismo pode ser reduzida em certas condições que se acompanham de perda importante de bases.
As diarréias das crianças que levam à desidratação, podem gerar acidose metabólica por perda
excessiva de bases; a diarréia da cólera, também se acompanha de distúrbios da mesma natureza. As
acidoses metabólicas mais frequentemente encontradas são produzidas por: choque e hipotensão
arterial, diabetes descompensado, cirurgias prolongadas, insuficiência renal, diarréias e obstrução
intestinal alta.

ALTERAÇÕES DA FISIOLOGIA
Os íons hidrogênio liberados pela dissociação do ácido em excesso reduzem o pH. Os radicais dos
ácidos fixos em excesso nos líquidos do organismo e no sangue reagem com o bicarbonato do tampão,
do que resulta maior produção de sais de sódio (lactato, por exemplo) e ácido carbônico que, sob a
forma de CO2 é eliminado pelos pulmões. Como o bicarbonato do sistema tampão é consumido pelo
ácido em excesso, a sua quantidade diminui; altera-se a relação normal do sistema tampão e há déficit
de bases. Quando a causa da acidose é a perda excessiva de bases, o bicarbonato total está diminuído
e a relação normal do sistema tampão, igualmente se altera, com predomínio de ácido e aumento dos
íons hidrogênio.

QUADRO LABORATORIAL
Os resultados da gasometria arterial permitem o diagnóstico da acidose metabólica:

COMPENSAÇÃO DA ACIDOSE METABÓLICA


O mecanismo mais imediato de compensação do aumento exagerado dos ácidos no organismo consiste
na sua neutralização pelas bases do sistema tampão. O ácido em excesso ao reagir com o bicarbonato
forma ácido carbônico que é eliminado pelos pulmões, sob a forma de dióxido de carbono. O pH baixo
estimula o centro respiratório que aumenta a frequência respiratória produzindo a taquipnéia
compensatória, reduzindo a PaCO2. A compensação renal, mais lenta, é pouco importante na fase inicial
das acidoses severas e consiste em aumentar a reabsorção de bicarbonato e a eliminação de íons
hidrogênio, em troca por sódio e potássio.

TRATAMENTO DA ACIDOSE METABÓLICA


O tratamento das acidose metabólicas é variado; consiste fundamentalmente na eliminação das causas
de hipóxia que, em geral inclui a reposição hídrica e volêmica, normalização do débito cardíaco e
correção da hipotensão arterial. A administração de bicarbonato de sódio pode corrigir a acidose do
sangue e minimizar os seus efeitos ao nível do interstício e do espaço intracelular. A reversão do
processo contudo, depende da correção das causas básicas da acidose. A resposta do sistema
circulatório aos agentes vasoativos e inotrópicos depende da manutenção do pH na faixa normal.
Quando há excesso de íons hidrogênio livres, a função das membranas celulares se deteriora, a
contratilidade miocárdica fica deprimida e o coração deixa de responder adequadamente ao estímulo
dos inotrópicos, como a dopamina e dobutamina. A dose de bicarbonato de sódio para a correção da
acidose metabólica pode ser estimada, à partir do déficit de bases (BD). Considera-se que a acidose
consome as bases do líquido intravascular (plasma) e do líquido intersticial, cuja soma corresponde a
aproximadamente 30% do pêso corporal. O déficit de bases (BD) representa a quantidade de bases
necessárias para elevar o pH até o valor médio de 7,40 para cada litro de líquido do espaço
extravascular (30% do peso corporal). A seguinte fórmula: mEq = Pêso (Kg) x 0,3 x BD permite o
cálculo da quantidade de miliequivalentes de bases a ser reposta, para elevar o pH a 7,40. Os cálculos
acima são apenas aproximações; o uso da fórmula admite que há equilíbrio entre o líquido intracelular
e o extracelular, o que nem sempre é verdadeiro em todos os instantes. Por estas razões, na prática
recomenda-se administrar a metade da dose calculada e repetir o exame após 15 minutos, para nova
reavaliação. Esta prática evita a sobrecarga de sódio e a possibilidade de originar alcalose metabólica
por administração de bicarbonato de sódio em excesso. Se usamos para a correção da acidose
metabólica, o bicarbonato de sódio a 8,4% (mais comum no mercado), em que cada 1mL da solução
contém 1mEq, a fórmula completa a ser usada passa a ser: V (ml)= Pêso (Kg) x 0,3 x BD V =
representa o volume de bicarbonato de sódio a 8,4% a ser administrado. Peso = representa o peso do
indivíduo, expresso em Kg. 0,3 = representa a constante para o líquido extracelular (30% do peso
19
corporal), e BD = representa o déficit de bases obtido na gasometria arterial. O produto do cálculo
inicial é dividido por 2 para administrar apenas a metade da dose. Nos casos de parada cardio-
respiratória, podemos administrar 1 a 2mEq de bicarbonato de sódio a 8,4% por quilo de pêso do
paciente, a cada 15 ou 30 minutos ou mais frequentemente, se necessário, até que se consiga realizar
a gasometria arterial ou haja a recuperação dos batimentos cardíacos. A acidose inibe a resposta do
miocárdio ao estimulo da adrenalina e outras drogas inotrópicas e antiarrítmicas. A tendência atual é
limitar muito ou mesmo abolir o uso de bicarbonato de sódio nesta situação. Há diversos estudos
mostrando aspectos negativos do uso de bicarbonato na recuperação da contração miocárdica. O
bicarbonato administrado neutraliza o ácido láctico produzido pelo metabolismo anaeróbico e o ácido
carbônico resultante se dissocia em CO2 e água. O CO2 se acumula no sangue e, sendo extremamente
difusível, penetra nas células causando acidose respiratória intracelular, o que dificulta muito a
recuperação do miocárdio. Nos casos de insuficiência renal podem ser indicados os métodos de
depuração extrarrenal: diálise peritoneal ou hemodiálise.

RESUMO
Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem ser de origem metabólica ou respiratória. A acidose
metabólica ocorre em uma de quatro circunstâncias:
1. Quando há excesso de produção de ácidos fixos,não voláteis, como o ácido lático ou ácidos
cetônicos, por exemplo.
2. Quando há ingestão de substância ácida.
3. Quando os ácidos fixos não podem ser eliminados devido à insuficiência renal.
4. Quando há perda excessiva de bases, como na obstrução intestinal alta e nas diarréias intensas, por
exemplo. A acidose metabólica é acompanhante comum dos quadros de hipotensão arterial severa,
choque de todos os tipos e parada cardio-respiratória. Pode ocorrer ainda nas diarréias severas, no
diabetes descompensado e na obstrução intestinal alta. Os íons hidrogênio liberados pela dissociação
do ácido em excesso reduzem o pH; os radicais negativos dos ácidos fixos reagem com o bicarbonato,
produzindo sais de sódio e ácido carbônico. Na insuficiência de bases, o bicarbonato total está
diminuido, com predomínio dos ácidos e aumento dos íons hidrogênio livres. A gasometria arterial
mostra o pH abaixo de 7,35, caracterizando a acidose. A PaCO2 é normal e o bicarbonato padrão ou
standard é baixo, inferior a 22mEq/L. Há também um déficit de bases, maior que -2mEq/L. O principal
tratamento da acidose metabólica consiste na remoção das causas do distúrbio. A administração de
bicarbonato de sódio pode controlar a acidose metabólica, enquanto as medidas dirigidas à remoção da
causa primária são providenciadas ou tornam-se eficazes. Nos casos de parada cardio-respiratória
podemos administrar 1 a 2 mEq. de bicarbonato de sódio por quilograma de peso a cada 15 ou 30
minutos.

ALCALOSE METABÓLICA
OBJETIVOS: Descrever a alcalose de origem metabólica e suas principais causas. analisar as
consequências do excesso de bases no sangue. Analisar os resultados da gasometria arterial na
alcalose metabólica.

CONCEITOS GERAIS
Os principais distúrbios do equilíbrio ácido-base são de origem respiratória ou metabólica. Quando há
acúmulo de bases no organismo, em relação à quantidade de ácidos a serem neutralizados, configura-
se o quadro da alcalose metabólica. Isto pode ocorrer em consequência de ganho real de bases ou em
consequência da perda de ácidos. Este distúrbio não é muito frequente na prática médica; a alcalose
metabólica é, frequentemente, produzida pela administração vigorosa ou intempestiva de álcalis, como
o bicarbonato de sódio, com a finalidade de tamponar acidoses pré-existentes.

CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA


A alcalose metabólica pode surgir em duas circunstâncias principais:
1. Ganho excessivo de bases. Em geral as bases em excesso são administradas aos pacientes, sob a
forma de bicarbonato de sódio, com o intuito de tamponar acidose pré-existentes. Com o manuseio
adequado dos demais distúrbios do equilíbrio ácido-base, essa causa de alcalose metabólica se torna
cada vez mais rara. 2. Perda de ácidos ou íons hidrogênio. A perda de íon hidrogênio mais comum
ocorre na estenose pilórica, onde os vômitos produzidos pela dilatação do estômago eliminam grande
quantidade de ácido clorídrico. O uso imoderado de diuréticos também acentua a eliminação de íons
hidrogênio pela urina e pode produzir alcalose metabólica. Nas alcaloses os íons hidrogênio e potássio
são trocados pelos íons sódio; pode, portanto, ocorrer hipopotassemia associada nas alcalose
metabólicas.

ALTERAÇÕES DA FISIOLOGIA

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Quando ocorre um excesso de bases, estas captam os íons hidrogênio, cuja concentração fica menor; o
pH se eleva. As bases em excesso reagem com o ácido carbônico, produzindo bicarbonato e outros. O
bicarbonato total e o bicarbonato standard se elevam. A perda de íons hidrogênio também eleva o pH.
O bicarbonato deixa de ser reabsorvido do filtrado glomerular e a urina se torna mais alcalina.

QUADRO LABORATORIAL
Os resultados da gasometria arterial permitem o diagnóstico da alcalose metabólica:

1. O pH está elevado, superior a 7,45;


2. A PaCO2 está normal; não há interferência respiratória na produção do distúrbio;
3. O bicarbonato real está elevado, acima de 28mM/L; 4. Há um excesso de bases (BE), superior a
+2mEq/L.

COMPENSAÇÃO DA ALCALOSE METABÓLICA


O mecanismo de compensação respiratória é pouco expressivo, nas alcaloses respiratórias. A redução
da eliminação de dióxido de carbono produziria hipóxia concomitante; como o centro respiratório é
extremamente sensível ao teor de CO2, esta compensação é limitada. Os rins diminuem a produção de
amônia e trocam menos ión hidrogênio por sódio, para permitir sua maior eliminação. A reabsorção
tubular do íon bicarbonato também fica deprimida. A urina resultante é bastante alcalina.

TRATAMENTO DA ALCALOSE METABÓLICA


De um modo geral a alcalose metabólica é leve ou moderada e não requer tratamento especial a não
ser a remoção da sua causa, quando possível. A reposição líquida nos casos de estenose pilórica, com
frequência contribui para normalizar o total das bases. O uso mais moderado dos diuréticos e a
administração de cloreto de potássio tendem à normalizar os demais quadros. Em casos excepcionais,
a alcalose metabólica é tão severa que pode justificar a necessidade de se administrar soluções de
ácidos por via venosa. Nesses raros casos usam-se soluções de ácido clorídrico. Essas soluções,
contudo, não existem em nosso mercado.
RESUMO
Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem ser de origem metabólica ou respiratória. A alcalose
metabólica é um distúrbio pouco frequente, na prática clínica, em relação aos demais distúrbios. Em
geral, a alcalose metabólica ocorre em uma de duas circunstâncias:
1. Quando há excesso de bases, geralmente por administração intempestiva de bicarbonato de sódio,
para corrigir acidose pré-existente;
2. Quando há perda de ácidos fixos, como pode ocorrer na estenose pilórica em que o ácido clorídrico
do estômago é perdido através os vômitos. As bases em excesso nos líquidos captam os íons
hidrogênio; o pH se eleva. O bicarbonato real está elevado e o excesso de bases supera o valor de
+2mEq/L. A eliminação acentuada de íons hidrogênio por uso de diuréticos, também pode causar
alcalose metabólica. A gasometria arterial mostra o pH acima de 7,45, o bicarbonato real superior a
28mM/L e um BE maior que +2. O tratamento da alcalose metabólica consiste em atuar sobre as
causas primárias do distúrbio.

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