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Por Jocax
Vou colocar uma nova refutação ao “princípio antrópico” quando este é utilizado como
argumento da necessidade de uma deidade, ou de múltiplos universos, para explicar a
vida em nosso universo. O argumento que irei elaborar eu já havia esboçado no meu
artigo anterior sobre o tema: "O Principio Antrópico e o Nada-Jocaxiano" [1], mas
agora irei aprofundar um pouco mais em sua análise.
O argumento não é muito intuitivo, e por isso lançaremos mão de uma analogia para
entendermos a idéia que está por trás. Antes, porém, vou resumir o que é o principio
antrópico, e como ele é utilizado pelos criacionistas, e religiosos em geral, para
justificar Deus:
Introdução
Colher de chá
A bem da verdade, precisamos observar que um universo com leis aleatórias não
precisariam seguir o padrão de leis físicas que temos em nosso universo, isto é, as
equações matemáticas que definiriam um universo gerado aleatoriamente, poderiam ser
totalmente distintas das que temos no nosso universo atual (em princípio tais universos
nem precisariam ser descritos por equações matemáticas), de modo que os parâmetros
que temos hoje não se aplicariam em nenhuma das equações deste universo aleatório.
Dessa forma, é totalmente FALSO alegar que todos os universos possíveis podem ser
descritos mantendo as mesmas equações do nosso universo particular, e variando
apenas as constantes que nele aparecem.
Uma analogia
Vamos supor que exista uma máquina que gere, aleatoriamente, números reais entre
zero e dez. Cada número gerado seria o parâmetro que definiria um universo. Podemos
perceber que é ínfima, praticamente nula, a possibilidade de prevermos qual número a
máquina irá gerar. Entretanto, certamente a máquina irá gerar um número.
Suponha que nosso universo seja representado por U1 (“4,22341”). Podemos então
perguntar: qual a probabilidade de que o número do nosso universo seja escolhido,
sendo que há uma infinidade de outros possíveis? Há infinitos números reais entre zero
e dez, assim é praticamente impossível prever que o número “4,22341”, que é o
parâmetro que define as características de nosso universo, seja escolhido.
Equiprovável
Vida
Ou então:
“-Apenas neste universo há possibilidade de se produzir estas gomas elásticas!”
E assim sucessivamente. Para nós, humanos, a vida pode ser mais importante do que
bolinhas cintilantes, ou do que gosmas elásticas, mas isso é apenas uma valoração
humana. Não há nenhuma razão lógica para supor que um universo com vida seja mais
importante do que um universo que produza bolinhas de cristais cintilantes, ou gosmas
elásticas.
Portanto, não podemos alegar que nosso universo seja especial e único, pois ele é tão
especial e único quanto qualquer outro universo que fosse gerado aleatoriamente. Todos
teriam suas características únicas, geradas por suas constantes físicas também únicas.
Outro Formalismo
Para clarear esta idéia vamos refazer nosso argumento utilizando um outro formalismo:
Suponha que os universos sejam descritos por seis constantes fundamentais, (o número
exato não importa, o raciocínio que faremos serve para qualquer número de constantes).
Assim, qualquer Universo U poderia ser definido por um sistema de equações que
utilize de seis constantes básicas. Vamos representar essa dependência da seguinte
forma:
U= U (A, B, C, D, E, F).
Claro que, da mesma forma, um outro universo, U3, com outras constantes:
“vuda” é uma condição física que ocorre quando as partículas estão submetidas ao
regime de forças geradas pelas constantes de U3 (A3... F3). E qualquer alteração numa
destas constantes de U3 inviabilizaria “vuda”.
Note que não existe uma importância INTRÍNSECA se o universo irá gerar “vida”,
“voda” ou “vuda”. Para a máquina geradora, ou para o próprio universo, isso não faz
nenhuma diferença. Mesmo por que o universo ou a máquina aleatória não tem
consciência ou desejos. Para a máquina, o que difere é o valor das constantes
fundamentais, e não o que elas irão ou não gerar. É irrelevante para a máquina geradora,
e mesmo para o universo gerado, se ele poderá abrigar vida, "voda", "vuda" ou
apresentar qualquer outra peculiaridade. Cada universo tem sua própria característica.
Se U1 permite “vida” ele não permite “voda” nem “vuda”, se U2 permite “voda” ele
não permite “vida” nem “vuda”, se U3 permite “vuda” ele não permite “vida” nem
“voda”. E assim ocorre para qualquer universo gerado.
Desta forma podemos perceber que nosso universo não tem nada de especial porque
nada é intrinsecamente especial. “vida” é tão importante como “voda” ou “vuda”. O
universo não está preocupado se “voda” gera consciência ou não gera, nem se “vuda”
gera um aglomerado de brilho amarelo incrível que nunca existiria em U1. Ou que
“voda” gere micro pirâmides coloridas de brilho próprio de indescritível beleza. Isso
pode importar para os humanos, pequenos seres egocêntricos de U1 que dão
importância à “vida”, talvez porque também são vivos.
É como escolher aleatoriamente um número real entre zero e dez: Todos são igualmente
prováveis e difíceis de serem escolhidos, nenhum é mais ou menos especial que os
outros.