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Instituto de Matemática e Estatı́stica da Universidade de São Paulo - IME USP

Grupos Topológicos e Aplicações

José Augusto Gerolin Gávea


Orientadora: Profa. Dra. Ofelia Teresa Alas

Projeto Financiado pelo CNPq


IME USP
2007
2
Sumário

0.1 Préfacio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1 Grupos Topológicos 5
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 O Conceito de Grupo Topológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Homogeneidade de Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Bases e Vizinhanças da identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.5 Axiomas de Separação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 Metrizabilidade em Grupos Topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.7 Subgrupos Topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.8 Grupos Quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.9 Conexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.10 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2 Alguns Grupos Especiais 21


2.1 Reta Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 Grupos Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Esfera n-dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4 Toro n-dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Grupos Localmente Compactos 25


3.1 Resultados Gerais sobre Grupos localmente compactos . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Conexidade em grupos localmente compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.4 Grupos Localmente Euclidianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.5 Grupos de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.6 Grupos Topológicos de Transformações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.7 O Quinto Problema de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4 A Medida de Haar 33
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.3 Existência de um funcional Invariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.4 Unicidade da Integral de Haar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.5 Grupos Unimodulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.6 Exemplos e Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4 SUMÁRIO

4.7 Demonstração da Existência e Unicidade da Integral de Haar segundo Henri


Cartan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Referências Bibliográficas 47

0.1 Préfacio
Esta versão é parcial, e portanto poderá conter diversos erros.
Capı́tulo 1

Grupos Topológicos

1.1 Introdução
Espaços com estruturas álgebrico-topológicas sempre possuiram um papel central nos estudos
da matemática. O exemplo clássico disso está no corpo dos números reais ou no grupo multipli-
cativo formado por sua parte positiva, ambos munidos com a topologial habitual. Matemáticos
como Kronecker, Cauchy, Bolzano, Weierstrass, Cantor e Dedekind demonstraram profundo
interesse em estudar as diferenças entre as estruturas álgébricas e algébrico-topológicas de di-
versos conjuntos.
Somente com a definição mais abstrata de espaço topológico - com a qual trabalhamos
atualmente - foi que esses conceitos foram melhor entendidos, embora diversos resultados nessa
direção já tinham sido estabelecidos vinte anos antes dela ter aparecido.
Entretanto, a definição de espaço topológico foi tão bem sucedida, deixando claro as dife-
renças conceituais e as aplicações dessas estruturas, que tornou-se um problema nada trivial
dar uma boa definição relacionando conceitos algébricos, como o de grupo, com a estrutura
de espaço topológico. Tanto é verdade, que a maior motivação para a definição de grupo to-
pológico, na forma como conhecemos hoje, veio da Geometria, durante o estudo de grupos de
transformações.
Por esse motivo, Sophus Lie, é considerado um dos precursores da teoria de Grupos To-
pológicos, quando estudou o que chamamos hoje de grupos de transformações analı́ticos finitos
(que dependem de um número finito de parâmetros). Este são determinados por um sistema
de transformações deriváveis à valores complexos:

x0i = fi (x1 , ..., xn ; a1 , ..., am )(i = 1, ..., n)


Se nós efetuarmos duas dessas transformações sucessivamente, nós obteremos ainda uma
transformação desse sistema. As motivações que, entre 1869 e 1871, conduziram Lie a exami-
nar esses grupos são de caráter geométrico. O grande desenvolvimento da teoria dos grupos
de transformações foi bastante motivado por Felix Klein, que em seu célèbre ”programa de Er-
langen”, propôs-se a estabelecer uma associação entre os grupos e as geometrias, sintetizando
geometria como o estudo de propriedades do espaço que são invariantes sobre um grupo de
transformações.
Foi graças a Henri Poncaré que houve uma aproximação significativa da teoria dos Grupos
6 Grupos Topológicos

de Lie com a Analysis situs,1 e que na época representava um novo ramo da matemática.
A série de trabalhos desenvolvidos por Lie fez com que houvesse um interesse por um estudo
de grupos topológicos mais gerais. No que tangia a teoria axiomatica de Lie, David Hilbert
afirmou que a imposição das condições de diferenciabilidade não se justificava, pois além de
considerar a hipótese muito restritiva, tornava a argumentação mais complicada, de forma
oposta ao que acontece com a continuidade.
Durante o ano de 1900, a teoria dos grupos topológicos ganhou fundamental importância
no cenário da pesquisa matemática, quando Hilbert formulou o seu “quinto problema” relativo
a grupos topológicos localmente euclidianos. Ele colocou a questão do quão problemático
seria retirar a hipótese de diferenciabilidade dos Grupos Analı́ticos. Com a linguagem atual
o problema pode ser formulado da seguinte maneira: sob que condições um grupo localmente
euclidiano é um Grupo de Lie?
Esse problema foi resolvido em 1952, por Gleason, Montgomery e Zippin, afirmando que
todo grupo localmente euclidiano é um Grupo de Lie. Nos poucos mais de cinqüenta anos da
formulação do quinto problema, muito se desenvolveu na teoria de grupos topológicos. Uma
das conjecturas formuladas durante esse perı́odo foi a existência de uma integral invariante
sobre um grupo topológico. A existência de tal medida já era conhecida por Sophus Lie para
o caso de grupos analı́ticos. Hoje já conhecemos a Integral de Haar para grupos localmente
compactos.
Em 1933, Haar 2 considerou um grupo topológico métrico separável e localmente compacto.
Referindo-se a Schreire e E. Cartan, Haar definiu a continuidade em um grupo exigindo apenas
que se duas sequências formadas por elementos do grupo são convergentes, então o limite da
sequência formada pelo produto (operação de grupo) termo a termo é convergente, e converge
para o produto dos limites.
Entretanto, é von Neumann a quem se deve atribuir o mérito de abrir o horizonte para
diversos problemas na teoria de grupos de transformações, pois percebeu que não apenas, a
estrutura do grupo desempenhava um papel principal na teoria de grupos topológicos, mas
também a ação no mesmo. Ele abordou o quinto problema de Hilbert, examinando a ação de
um grupo de transformações G sobre uma variedade M, no caso particular em que G=M. von
Neumann considerava um grupo topológico como um grupo algébrico munido de uma topologia
Hausdorff na qual as operações de multiplicação e inversão de grupo eram contı́nuas.
Em 1934, Pontrjagin publicou seus primeiros resultados sobre a estrutura de grupos to-
pológicos abelianos 3 . Em 1938, Pontryjagin publicou 4 o primeiro livro a respeito da teoria de
grupos topológicos, deixando claro que para a investigação de numerosos problemas, não era
necessário considerar os grupos de transformações, mas apenas estudar a estrutura intrı́nseca
do grupos munidos de uma topologia que tornassem contı́nuas as operações fundamentais de
grupo.

1
Poincaré, Henri. Dernieres pensées. Flammarion, Paris, 1920
2
Haar, Der Massbegriff in der Theorie der Kontinuierlichen Gruppen Annals of Math. (1933)
3
Pontryjagin, L. Sur les groupes abéliens continus, C. R. Acad. Sci. Paris, 198, 328-330 (1934)
4
Pontrjagin, Topologische Gruppen.
1.2 O Conceito de Grupo Topológico 7

1.2 O Conceito de Grupo Topológico


Definição 1.2.1 (Grupo Topológico). Um Grupo Topológico é uma trinca (G, •, τ ), onde (G, •)
é um grupo algébrico e (G, τ ) um espaço topológico, no qual as operações:

(i) (x, y) ∈ G × G 7−→ x • y ∈ G

(ii) x ∈ G 7−→ x−1 ∈ G

são contı́nuas.
É bem razoável esperar que a nossa definição de Grupo Topológico englobe o corpo dos
números reais munido da operação de adição com a topologia habitual e o grupo dos números
reais positivos munidos com a topologia habitual. A fim de tornar mais claro a definição acima,
observemos dois pontos: Ambos os espaços topológicos são metrizáveis - ou mais geralmente,
satisfazem o primeiro axioma de enurabilidade - e dessa forma podemos caracterizar a conti-
nuidade de funções nesses espaços por meio de sequências convergentes. Também é um fato
conhecido dos cursos de cálculo elementar as propriedades de que o limite do produto (da soma)
de sequências convergentes é o produto (a soma) dos limites.

Observações:

(a) Usaremos a notação do produto para indicar a lei que associa cada dois elementos do
grupo. Entretanto, salvo menção em contrário, todos os resultados das próximas seções
serão válidos para grupos munidos das operações de adição, composição, etc. Além disso,
vamos frequentemnte omitir o sinal • e escrever simplesmente xy para indicar o resultado
da operação entre dois elementos do grupo.

(b) É fácil mostrar que as condições (i) e (ii) são satisfeitas se, e somente se, a operação
(x, y) ∈ G × G 7−→ x • y −1 é contı́nua.

(c) É claro que todo grupo algébrico munido com a topologia discreta é um grupo topológico,
pois esta torna todas as funções contı́nuas, em particular, as dadas pela definição acima.

Dado um grupo topológico G, é razoável esperar que um subgrupo algébrico H ⊂ G -


indicaremos por H  G - também seja um grupo topológico, como um subespaço topológico de
G. De fato, basta restringir à H as operações (i) e (ii) e teremos que H é um grupo topológico,
munido com a topologia de subespaço.
Proposição 1.2.1. Sejam G um grupo topológico e H  G, então H é um subgrupo topológico.
Demonstração 1.2.1. Devemos mostrar que a aderência de H é um subgrupo algébrico de G.
Sejam x, y ∈ H. Considere U uma vizinhança de xy. Pelo item (i) da definição, existe vizinha
V de x e W de y tal que
xy ∈ V W ⊂ U
Em particular,
T para
T essas vizinhanças, pela definição de ponto de aderência existe um ponto
a ∈ H V (b ∈ H W ). Desse modo, ab ∈ V W ⊂ U , ou seja, U ∩ H 6= ∅. Portanto, xy ∈ H.
8 Grupos Topológicos

Seja x ∈ H. Considere U vizinhança para x−1 . PorT(ii) temos que existe vizinhança V de
x tal que x−1 ∈ V −1 ⊂ U . Como x ∈ H, existe z ∈ H V . Logo, z −1 ∈ H ∩ U , e finalmente,
x−1 ∈ H.

A pergunta natural que surge é que se H é subgrupo abeliano de um grupo topológico G,


então H também o é? Note que se x, y ∈ H e se xy é diferente de yx, entao construı́mos
dois pontos distintos em G. Nesse momento, ficamos tentados a perguntar se existem abertos
disjuntos que o seperam. Mais precisamente, podemos nos perguntar se um grupo topológico é
Hausdorff, ou pelo menos T1 .
Consideremos um grupo topológico Hausdorff. Suponhamos, por absurdo, que a T aderência
de H não seja abeliana. Então, existem vizinhanças U de xy e V de yx, tais que U V = ∅.
Como x, y ∈ H, existem vizinhanças Wx e Wy , de x e y, respectivamente, tais que, para todo
z ∈ Wx Te t ∈ Wy , zt ∈ U e tz ∈ V . Entretanto, se v, w ∈ H então wv = vw, e portanto,
wv ∈ U V , contradição.
Mostraremos posteriormente que basta que um grupo seja T0 para que ele satisfaça aos
axiomas T1 , T2 , T3 , T3 1 . Veremos mais adiante, que um grupo topológico não é necessariamente
2
normal.

1.3 Homogeneidade de Grupos


Definição 1.3.1 (Produto de Conjuntos). Considere G um grupo algébrico. Sejam A, B ⊂ G.
Definimos:
.
AB = {ab ∈ G | a ∈ A , b ∈ B}

Proposição 1.3.1. Sejam G um grupo topológico e a ∈ G. A aplicação La : x ∈ G 7−→ ax ∈ G


é um homeomorfismo.

Demonstração 1.3.1. Sejam x, y ∈ G.


(Injetividade) ax = ay ←→ x = y. (Lei do Cancelamento)
(Sobrejetividade) Suponha x ∈ G. Tomando y = a−1 x, temos que y 7−→ ay = aa−1 x = x.

Seja V um aberto contendo ax. Por (i) temos que existe U e W, vizinhanças de a e x,
respectivamente, tais que ax ∈ U W ⊂ V , e portanto, x 7−→ ax é contı́nua.

Analogamente, mostra-se que a inversa x7−→ a−1 x é contı́nua.

Efetuando argumentação análoga, podemos definir a função Ra : x ∈ G 7−→ xa ∈ G e


mostrar que esta é um homeomorfismo.

Proposição 1.3.2. Sejam G um grupo topológico, A, B ⊂ G.

(i) Se A e B são abertos então AB e BA são abertos.

(ii) Se A e B são compactos então AB e BA também o são.

(iii) Se A é compacto e B é fechado então AB e BA são fechados.


1.4 Bases e Vizinhanças da identidade 9

Antes de demonstrar este teorema convém observar que o grupo G não precisa ser abeliano,
logo AB = BA não se verifica em geral. Além disso, a hipótese de compacidade no item (iii) é
fundamental.

Considere o grupo (Z, +) munido da topologia de subespaço da reta real. Z é fechado, pois
é discreto. Como x ∈ G 7−→ ax ∈ G é homeomorfismo, fixado rinRQ temos que rZ também
é fechado. Entretanto, Z + rZ não é fechado, pois é um subconjunto próprio de R denso e
denso no mesmo.

Demonstração 1.3.2. (i) Fixe a ∈ A. Como B é, porShipótese, aberto e x7−→ ax é homeo-
morfismo, temos que aB é aberto. Note que: AB = a∈A aB. Como reunião de conjuntos
abertos é aberto, segue o resultado.

(ii) Note que a técnica da demonstração anterior não se aplica nesse caso, mesmo aB sendo
fechado para todo a ∈ A.
Considere A e B subconjuntos fechados de G. Observe que: AB é imagem direta da
aplicação (a, b) ∈ A × B 7−→ a • b ∈ G. Como o produto A × B é compacto e esta
aplicação é contı́nua, temos que AB é compacto.

(iii)

Proposição 1.3.3. Sejam G um grupo topológico. A aplicação Iv : x 7−→ x−1 é um homeo-


morfismo.

Demonstração 1.3.3. Seja x ∈ G. Como G é um grupo, temos trivialmente que a função é


injetora e sobrejetora.
Seja V um aberto contendo x−1 . Pelo item (ii) da definição de grupo topológico, temos que
existe U, vizinhança de x, tal que x ∈ U e U −1 ⊂ V , e portanto, x 7−→x−1 é contı́nua. Como
x 7−→x−1 é uma involução o resultado está demonstrado.

Proposição 1.3.4. Sejam G um grupo topológico e A ⊂ G é aberto (respectivamente fechado,


compacto, ...). Temos que A−1 é aberto (respectivamente fechado, compacto, ...).

Demonstração 1.3.4. A proposição segue imediatamente do fato de que a função x 7−→ x−1
é um homeomorfismo.

Definição 1.3.2. Chamaremos as funções La , Ra e Iv, conforme definidas anteriormente,


respectivamente, de translações à esquerda, direita e Inversão.

1.4 Bases e Vizinhanças da Identidade


Uma das propriedades mais interessantes da estrutura de grupo topológico está no fato de
propriedades topológicas locais definirem as caracterı́sticas do espaço, por translação. Foi
em função disso que tratamos de demonstrar algumas propriedades das funções La , Ra e Iv.
Desse modo, se um grupo topológico possui um sistema fundamental de vizinhanças para o
elemento neutro e, por exemplo, compacta, então todo o grupo topológico será localmente
10 Grupos Topológicos

compacto (cada ponto possuirá um sistema fundamental de vizinhanças compactas). Espaços


que satisfazem essa propriedade são chamados espaços homogêneos. Os grupos topológicos são
exemplos centrais de espaços homogêneos.

Proposição 1.4.1. Sejam G um grupo topológico e β uma base de abertos para a identidade,
e ∈ G. Então as famı́lias {U x : x ∈ G} e {xU : x ∈ G} formam uma base de abertos para G.

Demonstração 1.4.1. Seja x um elemento arbitrário de G e V uma vizinhança, que podemos


supô-la aberta (senão, tomamos o seu interior) contendo x. O conjunto x−1 V é uma vizinhança
aberta do elemento neutro e. Como β é base de abertos, existe U ∈ β tal que e ∈ U ⊂ x−1 V .
Assim x ∈ xU ⊂ V . Desse modo:
[ [
x⊂ xU ⊂ V
[
V ⊂ xU ⊂ V
S
Portanto: V = xU

Proposição 1.4.2. Seja G um grupo topológico. Então existe uma vizinhança V de e, tal que
U = U−1 , ou seja, simétrica.

Demonstração. Seja U uma vizinhança arbitrária de e. Tome V = U ∪ U −1 . V é não-vazio,


pois ao menos o elemento neutro pertence a intersecção. Então temos: V −1 = (U ∪ U −1 )−1 =
U −1 ∪ (U −1 )−1 = U −1 ∪ U = U ∪ U −1 = V . V é vizinhança da identidade, e V ⊂ U .

Observe que pela demonstração anterior, dada uma vizinhança U da identidade, podemos
sempre supor, sem perda de generalidade, que esta é simétrica, pois se assim não o for, re-
alizamos argumentação análoga a apresentada acima e teremos uma vizinhança simétrica da
identidade. Ao longo desse texto, vamos realizar com frequência demonstrações considerando
vizinhanças simétricas da identidade. Em função do fato anterior, não há nenhuma perda de
generalidade nos resultados que serão obtidos.

Proposição 1.4.3. Seja G um grupo topológico. Todo subgrupo aberto H de G é fechado.


S
Demonstração. Para cada x ∈ G xH é aberto. Assim, H = G\ xH é fechado, pois reunião
quaisquer de conjuntos abertos é aberta.

Proposição 1.4.4. Sejam G um grupo topológico, e ∈ G e U uma vizinhança simétrica de e.


Então H = ∪∞ n
n=1 U é um subgrupo aberto e fechado de G.

Demonstração. Suponhamos x, y ∈ H = ∪∞ n
n=1 U . Então existem inteiros k e l tais que x ∈
k l k l
U ey ∈ U , e portanto, xy ∈ U U ⊂ U k+l
⇒ xy ∈ H. Dado x ∈ H = ∪∞ n=1 , existe inteiro
k tal que x ∈ U k . Como (U k )−1 = U k (vizinhança simétrica), temos que x−1 ∈ U k ⊂ H. O
subgrupo H é aberto, pois é reunião de conjuntos abertos. Pelo resultado anterior, este deverá
ser fechado.
1.4 Bases e Vizinhanças da identidade 11

Demonstração. Considere G um grupo topológico. Como a aplicação (x, y) ∈ G × G 7→ xy ∈ G


é contı́nua, temos que dado U vizinhança de x2 , existe V vizinhançaa de x, tal que V 2 ⊂ U .
Logo, (i) ocorre. Como a aplicação (x, y) ∈ G × G 7→ x−1 ∈ G é contı́nua, temos que dado U
vizinhança de x−1 , existe V vizinhança de x, tal que V−1 ⊂ U. A propriedade (iii) segue do fato
que U é aberto. E a propriedade (iv) segue do fato de que x → axa−1 é um homeomorfismo,
para todo a ∈ G fixado.

Reciprocamente, condidere f um conjunto, o qual satisfaz a propriedade da intersecção


finita e as condições (i),(ii),(iii) e (iv), em um grupo G. Para cada U ∈ f, exixste V, T ∈ f tal
que V 2 ⊂ U e T −1 ⊂ V . Face a proposição anterior, podemos supor, sem perda de generalidade,
que essas vizinhanças são simétricas. Ademais, em função da propriedade da intersecção finita,
U ∩ V é não-vazio, e nós temos e ∈ V T −1 ⊂ V 2 ⊂ U . Então, todos os elementos de U contém
e.

Considere a seguinte famı́lia:


( n
)
\
℘= Uk : Ui ∈ f
k=1

Seja I = 1,...,n. Fixemos i ∈ I e Ui ∈ f.


Por hipótese, existe Vi ∈ f tal que Vi2 ⊂ Ui . Como i é arbitrário, temos:
n
\ 2 n
\ n
\
Vk ⊂ Vk2 ⊂ Uk
k=1 k=1 k=1

Portanto, a primeira propriedade ocorre para ℘.

Como são válidas as relações abaixo (verifique):


n
\ −1 n
\
Vk = Vk−1 (1.1)
k=1 k=1

n
\  n
\
x Vk = xVk (1.2)
k=1 k=1

n
\  n
\
−1
x Vk x = xVk x−1 (1.3)
k=1 k=1

as propriedades (ii),(iii) e (iv) também estão verificadas para ℘.

Pela definição de subbase topológica, os conjuntos não-vazios nk=1


T
T xk Uk , onde xk ∈ G e
Uk ∈ f, forma uma base de abertos para a topologia de G. Seja y ∈ nk=1 xk Uk , e seja Vk ∈ f
com a propriedade de que x−1 k yVk ⊂ Uk (k=1,...,n). Podemos tomá-la em função da propriedade
(iii) e (iv). Então:
12 Grupos Topológicos

n
\  n
\ n
\
y Vk = yVk ⊂ xUk
k=1 k=1 k=1
Então o conjunto formado pelos yW, onde W ∈ ℘ formam uma base de abertos para o
conjunto y, onde y é um elemento de G arbitrário.

Resta mostrar que G é, de fato, um grupo topológico. Considere a, b ∈ G, e W ∈ ℘. Como o


conjuntos dos W ∈ ℘ são formados por intersecções finitas de elementos de f, em função das
propriedades 1.1, existem conjuntos V e U ∈ ℘ tal que: (b−1 W b)V ⊂ U. Logo, (aW )(bV )
⊂ abU . Do mesmo modo, para o mesmo W , existe V−1 ∈ ℘ (x−1 V ⊂ xW.

1.5 Axiomas de Separação


Quando no inı́cio da primeira seção nós perguntamos se a aderência de um grupo topológico
também era um grupo topológico, fomos induzidos a nos questionar sobre quais os Axiomas de
Separação são satisfeitos por um grupo topológico em geral. Na demonstração que expusemos,
a hipótese do espaço ser de Hausdorff foi fundamental. A próxima proposição nos motra que
é preciso bem menos que Hausdoff para concluir o mesmo resultado, ou mais precisamente, é
preciso muito pouco para que um grupo topológico satisfaça ao axioma T2 .
Proposição 1.5.1. Para um grupo topológico G, as seguintes afirmações são equivalentes:
(i) G é um espaço T0
(ii) G é um espaço T1
(iii) G é um espaço T2
T
(iv) U = e, onde U é um sistema fundamental de vizinhanças da identidade.
(i) ⇒ (ii) Sejam x, y ∈ G distintos. Por hipótese, existe vizinhança V de um desses
Demonstração.
pontos, digamos
T x, ao qual o ponto y não pertence. Como U = x−1 V é uma vizinhança
de e, W = U U −1 é uma vizinhança simétrica de e, e portanto, yW é uma vizinhança
de y.

Afirmo: x ∈
/ yQ.
Suponhamos que x ∈ yW ⇒ x−1 ∈ W y −1 (pois W é simétrica) então:

x−1 ∈ W y −1 ⊂ U y −1 ⊂ x−1 V y −1
mas isso implica:

e = xx−1 ∈ xW y −1 ⊂ xU y −1 ⊂ V y −1 ⇒ y ∈ V
que é uma contradição.
1.5 Axiomas de Separação 13

(ii) ⇒ (iii) Sejam x, y ∈ G distintos. Como estamos supondo G T1 , x é fechado, e portanto U = Gx
é uma vizinhança de y que não contém x. Logo, y −1 U é uma vizinhança da identidade.
Seja V uma vizinhança de e tal que V V −1 ⊂ y −1 U . Desse modo, yV é uma vizinhança
para y. Considere W = GyV .

T
Observe que W é aberto, e x ∈ W , pois caso contrário, x ∈ yV e então xV yV 6== ∅ (V
é vizinhança da identidade). Mas se isso ocorre mostra que T x ∈ yV V −1 ⊂ y(y −1 U = U ,
que é uma contradição pela definição de U. Claramente W yV = ∅. Assim y ∈ yV e
x ∈ W e yV e W são vizinhanças disjuntas.
T
(iii) ⇒ (iv) Seja Λ um sistema fundamental de vizinhanças para e. Considere x ∈ U , x 6= e.
PorShipótese, o espaço é de Hausdorff, logo existe vizinhança W da identidade
T tal que
W U = ∅, ou seja, x 6= W , um absurdo pois contradiz o fato que x ∈ U ∈ ΛU .
Portanto x = e.

(iv) ⇒ (i) Considere dois pontos x e y de G, distintos. Desse modo xy −1 6== e e, então, por hipótese
existe uma vizinhança U do sistema fundamental de vizinhanças, tal que xy −1 6= U .
Portanto Uy é uma vizinhança de y tal que x 6= U y.
Desse modo, para que um grupo topológico separe pontos é necessário apenas supô-lo To .
A pergunta natural que surge é até quando um grupo topológico Hausdorff (equivalentemente,
T0 ) é completamente regular ou normal. A resposta da primeira pergunta não é tão simples
como as anteriores. O fato de um grupo T2 ser T3 21 será o primeiro grande teorema a ser
demonstrado. Quando a satisfazer ao axioma T4 , a afirmação nem sempre é verdadeira para
grupos topológicos Hausdorff.

Demonstrar que um grupo topológico é completamente regular está longe de ser uma tarefa
trivial, como foi para os outros axiomas de sepração. Por isso este será o primeiro resultado que
enunciaremos como um Teorema. A partir desse momento, trataremos de construir um conjunto
de vizinhanças especial, com o intuito de demonstrar que todo grupo topológico satisfazer ao
axioma T3 1 .
2 
Seja G um grupo topológico. Considere o conjunto e: Wn n∈N . Podemos supor, sem perda
de generalidade, que os elementos do conjunto são vizinhanças são simétricas, pois se não o
forem, tomamos a intersecção destas com o conjunto inverso, e esses novos elementos formaram
um conjunto de vizinhanças simétricas contidos no inicial. Assim, aplicando indutivamente
a propriedade (i) do teorema das  vizinhanças
da identidade, podemos obter uma sequência
de vizinhanças simétricas de e: Un n∈N tais que U0 = V0 , V0 vizinhança arbitrária de e, e
2
Un+1 ⊂ Un , ∀n ∈ N.

Nosso objetivo nas próximas linhas, será ”imergir”esse conjunto Un de vizinhanças em uma
outra famı́lia tendo uma propriedade especial. Com isso poderemos construir funções contı́nuas
em G, não constantes. A idéia por traz dessa contrução representa um papel importante na
teoria de grupos pois, como será possı́vel ver ao longo deste texto, serão realizadas construções
semelhantes, como por exemplo, para construir uma métrica para um grupo topológico T0 .
14 Grupos Topológicos

k

Para cada racional da forma r = 2n , n ∈ N e k ∈ 2k : k ≤ n nós definimos uma vizi-
nhança aberta Vr de e da seguinte forma:
(a) V 1n = Un , ∀n ∈ N.
2

e também, por indução:


(c) V (2k+1) = V n+1
1
V k
2n+1 2 2n

Observe que a famı́lia de vizinhanças, conforme contruı́da acima, tem a seguinte propriedade:

V 1n V 2mn ⊂ V m+1
n
; m ≤ 2n − 1
2 2

De fato, para m = 2k, por (c) temos:

V (2k+1) =V k
V 2kn
n 2 2n−1

e como, por (b):

V 1n V 2kn = V 1n V k
2 2 2 2n−1

pela propriedade (c) implica:

V 1n V 2kn = V 1n V k = V 2k+1
n
2 2 2 2n−1 2

Em particular, vale a inclusão.

Para m ı́mpar, ou seja, da forma m = 2k+1.

V 1n V 2mn = V 1n V 1n V 2kn ) = (V 21n )V 2kn


2 2 2 2 2 2

como as vizinhanças tem a propriedade que U2n+1 ⊂ Un :

V 1n V 2mn = V 1n (V 1n V 2k+1
n
) = (V 21n )V 2kn ⊂ V 1 V k
2 2 2 2 2 2 2n−1 2n−1

Logo (usando as propriedades (b) e (c):

V 1n V 2mn ⊂ V 1 V k = V 2n V k = V 2k+2
n
= V 2(k+1) =V k
2 2n−1 2n−1 2 2n−1 2 n 2 2n−1

Ou seja:

V 1n V 2mn ⊂ V k = V m+1
n
2 2n−1 2

Como querı́amos. Assim, podemos concluir que:

Vr ⊂ Vr0 ; r < r0 ≤ 1.
Usaremos essa sequêcia especial no próximo teorema, devido a Pontrjagin.
1.5 Axiomas de Separação 15

Demonstração. Seja F um subconjunto fechado de G não contendo a identidade. Tomemos


V0 = G\F e consideremos o sistema fundamental de vizinhanças Vr contruı́do anteriormente.
Definamos f(x), x ∈ G, da seguinte forma:

1) f (x) = 0sex ∈ Vr ∀r,


2) f (x) = 1sex 6= V1
3) f (x) = supr ≤ 1, x 6= Vr

Seja  > 0 fixado, arbitrário. Escolha n ∈ N tal que 21n < . Suponha que f (x) < 1 para
algum ponto x ∈ G. Então existe um par de inteiros m e k tal que k < n (mesmo m acima!) e
m < 2k . Também temos a propriedade:

x ∈ V mk \V m−1
k
2 2

onde convencionamos V0 como o conjunto vazio, se este ocorrer.

Considere y ∈ V 1k x. Então:
2

y ∈ V 1k V mk ⊂ V m+1
k
2 2 2
−1
Pela escolha de y, yx ∈ V 1k , o que implica, x ∈ V 1k y. Isto mostra que y não pode
2 2
pertencer a V m−2
k
. Portanto temos:
2

(m − 2) (m + 1)
k
≤ f (y)
2 2k
E também:

(m − 1) m
k
≤ f (x) ≤ k
2 2
Logo
2 1
|f (x) − f (y)| ≤
k
≤ k−1 < 
2 2
Suponhamos agoar f(x) = 1, e escolhemos k > n como anteriormente. Seja y ∈ V 1k x.
2
Observe que y não pode pertencer a V m com m < 2k -2 pois implicaria f (x) < 1. Isto segue
2k
que:
2
1− ≤ f (y) ≤ 1
2k
Logo:

|f (x) − f (y)| ≤ 
E portanto f é contı́nua em todo o domı́nio de definição.

Repare que fomos redundantes na definição da função f, pois o caso 2) se reduz ao terceiro.
16 Grupos Topológicos

1.6 Metrizabilidade em Grupos Topológicos


1.7 Subgrupos Topológicos
Seja G um grupo topológico. Pela observação feita no inicio do primeiro parágrafo, todo
subgrupo algébrico H de G é também um grupo topológico, quando munido da topologia de
subespaço. Observe que em função da continuidade (e sobrejetividade) da aplicação: (x, y) ∈
G × G 7→ xy −1 ∈ G podemos concluir que para quaisquer subconjuntos A,B de G, AB −1 ⊂
AB −1 , e que, para todo a ∈ GaAa−1 = aAa−1
Proposição 1.7.1. Se G um grupo topológico Hausdorff então seu centro é um subgrupo inva-
riante fechado.
Demonstração. Seja C o centro de G. Pela observação feita no inı́cio desse parágrafo (aAa−1 =
aAa−1 ), temos que se C é um subgrupo invariante de G então o mesmo ocorre com C. A fim
de mostrar que C é fechado, será suficiente mostrar que C ⊂ C.
Seja x ∈ C e suponha que existe a ∈ G tal que a−1 xa 6= x. Como G é Hausdorff, e então
regular, existem vizinhanças abertas U e V tal que x ∈ U , a−1 xa ∈ V e U ∩ V = ∅. Como:

x ∈ (U ), x ∈ C =⇒ x ∈ U ∪ C
Então:

a−1 xa ∈ a−1 U ∪ Ca = a−1 U ∪ Ca = U ∪ C ⊂ U


O que é uma contradição com a escolha das vizinhanças U e V.

Proposição 1.7.2. Sejam G um grupo topológico e U uma vizinhança simétrica da identidade


e. Então H = U n é um subgrupo aberto e fechado de G.
S

Proposição 1.7.3. Todo subgrupo discreto H de um grupo topológico Hausdorff G é fechado.


Demonstração.

1.8 Grupos Quocientes


Considere (G,τ ) um grupo topológico e H um subgrupo de G (estamos explicitando a topologia
do grupo para não haver confusão no que segue). O quociente GH denota o conjunto de todos
as classe laterais {xH : x ∈ G}. Sabemos que este é um grupo com a operação xHyH = xyH.
Gostariamos de colocar uma topologia neste espaço, que tenha propriedades boas (gostariamos
que tivesse propriedades semelhantes ao próprio G), mas que ao mesmo tempo torne o grupo
GH um grupo topológico.

Sabemos que G é um grupo topológico, então a forma mais fácil de se obter uma topologia
para o quociente é “herdar” a topologia de G. Mais precisamente, considere a aplicação canônica
π : G −→ GH, que associa a cada elemento de G a sua classe de equivalência. Vamos definir
uma topologia em GH da seguinte maneira:
1.8 Grupos Quocientes 17

τGH = {Y ⊂ GH : π −1 (Y ) ∈ τ }
Ou seja, um aberto de GH é a imagem direta dos abertos de G pela aplicação canônica
do grupo. Chamamos essa topologia de topologia quociente. Note que com essa definição
“ganhamos” a continuidade da aplicação canônica, algo que será fundamental para os resultados
dessa seção.
Proposição 1.8.1. Seja G um grupo topológico e H um subgrupo de G. Seja GH o espaço
quociente, munido com a topologia quociente, e π a aplicação canônica. Então:
(i) π é sobrejetora
(ii) π é contı́nua
(iii) π é aberta
(iv) A topologia quociente é a topologia mais fina para a qual π é contı́nua.
Demonstração. Os itens (i) e (ii) são imediatos.

Considere um aberto U de G. Queremos mostrar que π(U ) é aberto em GH, ou seja, que
−1
π (π(U )) é aberta (definição de topologia quociente). Observe que:

π −1 (π(U )) = {x : x ∈ uH, u ∈ U } = U H
E UH é aberto, pois é reunião dos abertos Uh, com h ∈ H.

Quanto a última afirmação. Suponhamos que existe ν topologia de GH tal que a aplicação
canônica seja contı́nua. Queremos mostrar que todo aberto dessa topologia também é aberto
da topologia quociente, ou seja, que ν ⊂ τGH .
Seja Vν um aberto em ν. Como a aplicação canônica é contı́nua, π −1 (Vν ) = Vν H é aberto em
G. Pela definição de topologia quociente, Vν é aberto na topologia quociente. Sendoo Vν um
aberto em ν arbitrário, segue-se o resultado.

Proposição 1.8.2. Seja G um grupo topológico e H um subgrupo de G. Então GH é um


subespaço T1 se, e somente se, H é fechado.
Demonstração.
Proposição 1.8.3. Seja G um grupo topológico e H um subgrupo de G. Então GH é um
discreto T1 se, e somente se, H é aberto.
Demonstração.
Proposição 1.8.4. Seja G um grupo topológico, H um subgrupo de G e π a aplicação canônica.
Se Λ é um sistema fundamental de vizinhanças da identidade de G, então {π(U )}U ∈Λ é um
sistema fundamental de vizinhanças para ê = π(e) (identidade do grupo GH).
Demonstração.
18 Grupos Topológicos

1.9 Conexidade
Proposição 1.9.1. Seja G um grupo topológico e C a componente da identidade de em G.
Então GC é um subgrupo totalmene desconexo e Hausdorff.
Demonstração.
Proposição 1.9.2. Seja G um subgrupo conexo. Se H é um subgrupo fechado, então GH é
um subgrupo conexo.
Demonstração. Basta notar que GH é imagem direta de G pela aplicação canônica π. Como
a aplicação π é contı́nua, temos que GH é conexo.
Proposição 1.9.3. Seja G um grupo topológico e H um subgrupo de G. Se H e GH são
conexos então G é conexo.
Demonstração. Suponha que existam U e V subconjuntos de G abertos, não-vazios e disjuntos,
tais que G = U ∪ V . Como H é conexo, cada xH ∈ GH pertence a imagem inversa da
aplicação canônica pelo aberto U ou pelo aberto V. Dessa forma, GH = π[U ] ∪ π[V ], e π[U ]
, π[V ] são abertos disjuntos (π é aberta), um absurdo, pois contradiz a hipótese da conexidade
de GH. Portanto, devemos ter que G é conexo.

1.10 Compacidade
Proposição 1.10.1. Seja G um grupo topológico e U uma vizinhança compacta da identidade
e. Então U contem um subgrupo H de que é compacto, aberto e fechado.
Demonstração.
Proposição 1.10.2. Sejam G um grupo topológico compacto e H um subgrupo fechado de G.
Então GH é compacto.
Demonstração. Basta observar que GN é imagem direta do conjunto G pela aplicação canônica
- imagem direta de subconjuntos compactos por uma aplicação contı́nua é compacto.
Proposição 1.10.3. Sejam G um grupo topológico compacto, U uma vizinhança de e arbitrária
e K um subconjunto compacto de G. Então existe uma vizinhança V de e tal que xV x−1 ⊂
U ∀x ∈ K.
Demonstração. Seja W uma vizinhança simétrica da identidade e tal que W 3 ⊂ U . Como
K ⊂ ∪x∈K W x e K é compacto, existe um número n finito de xi ∈ K com 1 ≤ i ≤ n tal que
K ⊂ ∪ni=1 W xi .

Defina V = ∩ni=1 x−1


i W xi . V é uma vizinhança de e. Observe que para j, 1 ≤ j ≤ n fixado,
temos que: V ⊂ xj W xj ←→ x−1
−1
i V xi ⊂ W . Portanto, se x ∈ K, então existe j, 1 ≤ j ≤ n tal
que x ∈ W xj . Então existe w ∈ W tal que x = wxj . Logo:

xV x−1 = wxj V x−1


j w
−1
⊂ wW w−1 ⊂ W 3 ⊂ U
Como querı́amos.
1.10 Compacidade 19

No fundo, essa proposição nos diz que a propriedade para uma base de abertos f:

∀U ∈ fe∀x ∈ G, existeumV ∈ ftalquexV x−1 ⊂ U

pode ser generalizada para grupos compactos. Este fato será importante para a demons-
tração de outros resultados da teoria.

Proposição 1.10.4. Sejam G um grupo topológico, K um subconjunto compacto de G e U


um subconjunto aberto de G tal que K ⊂ U . Então existe uma vizinhança V de e tal que
(KV ) ∪ (V K) ⊂ U .

Demonstração. Para cada x ∈ K, existe uma vizinhança Wx da identidade tal que xWx ⊂ U e
uma vizinhança Vx de e tal que Vx ⊂ Wx (propriedade da base de abertos do grupo topológico
G). Como K ⊂ ∪x∈F xVx e K é compacto, existe um número n ∈ N tal que xi , 1 ≤ i ≤ n e
K ⊂ ∪ni=1 xi Vxi . Defina V = ∩ni=1 Vxk . Então:

KV ⊂ ∪ni=1 xi Vxi V ⊂ ∪ni=1 xi Vx2i subset ∪ni=1 xi Wxi


A demonstração da exitência de uma vizinhança da forma VK é análoga a realizada acima,
temos apenas que tomar cuidado para escolher as vizinhanças 00 xVx00 onde x ∈ K, com x multi-
plicado à direita. Vejamos como proceder:

Para cada x ∈ K, existe uma vizinhança Wx da identidade tal que Wx x ⊂ U e uma


vizinhança Vx de e tal que Vx ⊂ Wx (propriedade da base de abertos do grupo topológico
G). Como K ⊂ ∪x∈F Vx x e K é compacto, existe um número n ∈ N tal que xi , 1 ≤ i ≤ n e
K ⊂ ∪ni=1 Vxi xi . Defina V = ∩ni=1 Vxk . Então:

KV ⊂ ∪ni=1 xi Vxi V ⊂ ∪ni=1 xi Vx2i ⊂ ∪ni=1 xi Wxi

Proposição 1.10.5. Sejam G um grupo compacto e U uma vizinhança da identidade e fechada.


Então U contem um subgrupo normal N, que é aberto e fechado. Além disso, o grupo GN é
finito.

Demonstração. Pela proposição anterior, U contém um subgrupo H, que é aberto, fechado


e compacto. Seja N = ∩x∈G xHx−1. N é fechado (normal), pois é interseção de conjuntos
fechados (subgrupos normais). Pela proposição (CITAR), existe uma vizinhança V de e tal que
x−1 V x ⊂ H∀x ∈ G. Isto é, V ⊂ xHx−1 ∀x ∈ G. Logo V ⊂ N , portanto, N é aberto. Como
N um subgrupo aberto, N é fechado. Como G é compacto, GN é compacto, assim, GN é
finito.
20 Grupos Topológicos
Capı́tulo 2

Alguns Grupos Especiais

2.1 Reta Real


2.2 Grupos Lineares
Hewitt parte conexidade há um resultado sobre U(n) ser conexo por arcos.

2.3 Esfera n-dimensional


Primeiramente estudamos o caso da esfera S 1 ⊂ R2 .

Considere S 1 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1. Definamos a sequinte relação de equivalência v


para pontos x, y ∈ R:
x v y ←→ x − y ∈ Z.
Vamos mostrar que o espaço quociente R v é homeomorfo ao cı́rculo S 1 . Para tanto
utilizaremos a proposição ACHAR A PROPOSICAO para construir um homeomorfismo ϕ :
R −→ S 1 .

Definamos uma função f : R −→ S 1 , da forma mais natural possı́vel (parametrização da


esfera):

f (t) = (cos(2πt), sin(2πt))t ∈ [0, 2π[


É fácil ver que f é uma função sobrejetora, além disso, f (x) = f (y) ←→ x = y + k, k ∈ Z
ou seja:

f (x) = f (y) ←→ x − y ∈ Z ←→ x v y
Aplicando a Proposição AINDA A SER DEFINIDA, temos que existe uma função contı́nua
ϕ : R −→ S 1 tal que

f = ϕ : R −→ S 1 ◦ π
22 Alguns Grupos Especiais

Mostremos que ϕ é um homeomorfismo. A sobrejetividade de ϕ seque da sobrejetividade


de f e de π. Se ϕ([x]) = ϕ([y]) então f (x) = f (y) ←→ x v y ←→ [x] = [y], logo ϕ é injetora.

Resta-nos mostrar que ϕ−1 é contı́nua. Notemos que a função f não é inversı́vel, entretanto,
podemos considerá-la em em determinamos subconjuntos de R e nestes ela possuirá inversas
locais.

Definamos os seguintes abertos (em S 1 ):

\
Ω1 = S 1 {(x, y) ∈ R2 : x > 0}
\
Ω2 = S 1 {(x, y) ∈ R2 : y > 0}
\
Ω3 = S 1 {(x, y) ∈ R2 : x < 0}
\
Ω4 = S 1 {(x, y) ∈ R2 : y < 0}
e a função:

ψi : Ωi −→ R
Temos que:

f ◦ ψi = (x, y)
Vamos mostrar que ψ1 é inversı́vel, os cálculos para as outras funções são análogos e serão
deixadas para o leitor.

A função ψ1 quando restrita ao invervalo aberto (- 41 , 14 ) é injetora, já que π2 ◦ f o é, pois a
função seno restrita a esse intervalo é injetora. Como a derivada do seno (função cosseno) não
se anula no intervalo (- 14 , 14 ) podemos aplicar o Teorema da Função Inversa.
Observe que a demonstração anterior mostou que a função g é mais do que um homeomor-
fismo, ela também é um difeomorfismo. Na verdade, acabamos de mostrar que o espaço RZ
é uma variedade diferenciável.

2.4 Toro n-dimensional


Começemos com a noção mais intuitiva do toro T, como o conjunto de pontos formado por:
. p
T 2 = {(x, y, z) ∈ R3 : c − x2 + y 2 + z 2 = a2 , c > a > 0}
É fácil observar que essa expressão define o toro realizando uma rotação em torno do eixo
z, de uma circunferência de raio a, distando c do eixo z.
Como estamos interessados apenas em propriedades topológicas do Toro, não haverá perda
se fixarmos c = 1, pois todos os outros toros serão homeomorfos a este. Assim temos 1 > a > 0.
2.4 Toro n-dimensional 23

Note nesse momomento que T ⊂ R3 . Vamos definir uma relação de equivalência em [0, 1] ×
[0, 1], e mostrar que esta é homemorfa toro conforme definimos anteriormente. Seja v a relação
de equivalência definida em [0, 1] × [0, 1] da seguinte maneira:

x, y ∈ [0, 1] × [0, 1] ←→ x − y ∈ Z2
Vamos denotar esse espaço quociente por: [0, 1]2 Z2 .
Considere ψ : (r, s) ∈ [0, 1]2 −→ (x, y, z) ∈ T , onde:

x = (1 + cos 2πs) cos 2πr)


y = (1 + cos 2πs) sin 2πr)
z = sin 2πs
Observe que ψ é sobrejetora. Além disso,

ψ(r, s) = ψ(r0 , s0 ) ←→ (r − r0 , s − s0 ) ∈ Z2
ψ é uma função contı́nua pois cada coordenada é uma função contı́nua. Podemos aplicar a
proposição ?? que nos garante a existência de uma função g : R2 Z2 7−→ T 2 contı́nua tal que:
ψ = g ◦ π.
Precisamos mostrar que a inversa da função g é contı́nua, e portanto a função g será um
homemorfismo entre o toro T 2 e [0, 1]2 Z2 . Infelizmente esta proposição garante apenas a
existência de uma função g o que torna impossı́vel o cálculo explı́cito da sua inversa. Por outro
lado, temos a sorte de estar em um espaço topológico Hausdorff (subespaço do espaço métrico
R2 ), e portanto, se mostrarmos que [0, 1]2 Z2 é compacto, podemos lançar mão de um teorema
clássico de topologia, e garantir que g é um homeomorfismo. De fato, [0, 1]2 Z2 é compacto,
pois:

π[[0, 1]2 ] = [0, 1]2 Z2


E imagem direta de compactos por funções contı́nuas é compacto. Portanto g é um homor-
fimos entre [0, 1]2 e o toro T 2 .

Para o caso geral do toro n dimensional, podemos definir uma relação de equivalência em
[0, 1]n , n ∈ N, de forma análoga a realizada no caso bidimensional, ou seja:

x, y ∈ [0, 1]n ←→ x − y ∈ Zn
e mostrar que T n é homeomorfo à ni=1 S 1 .
Q
24 Alguns Grupos Especiais
Capı́tulo 3

Grupos Localmente Compactos

Definição 3.0.1. Dizemos que um Grupo Topológico G é localmente compacto se este possui
um sistema fundamental de vizinhanças compactos para o elemento neutro e ∈ G.

3.1 Resultados Gerais em Grupos localmente compac-


tos
3.2 Conexidade em grupos localmente compatos
3.3 Continuidade Uniforme
Definição 3.3.1. Vizinhança -uniformidade à esquerda Sejam G um grupo topológico e f :
G −→ R uma função. Dado  > 0 arbitrário, dizemos que uma vizinhança V da identidade é
uma vizinhança de -uniformidade à esquerda, se:

x−1 y ∈ V ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ 


Dizemos que uma vizinhança V da identidade é -uniformidade à direita, se:

yx−1 ∈ V ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ 


Uma vizinhança é -uniformidade se for -uniformidade à esquerda e -uniformidade à di-
reita.
Note que pela intersecção de uma vizinhança -uniformidade à esquerda e -uniformidade à
direita, obtem-se uma vizinhança -uniformidade (podendo conter apenas o elemento neutro).
Definição 3.3.2. Função Uniformemente contı́nua em um grupo topológico Considere G um
grupo topológico. Dizemos que uma função f : G −→ R é uniformemente contı́nua, quando
dado  > 0 existe uma vizinhança -uniformidade para f.
Note que se x−1 y ∈ V então, existe v ∈ V tal que x−1 y = v ⇒ y = xv. Logo, a definição de
-uniformidade à esquerda (à direita) de f, equivale à:

x−1 y ∈ V ⇒ |f (x) − f (xv)| ≤ ∀x ∈ G, v ∈ V


26 Grupos Localmente Compactos

Lema 3.3.1. ?? Toda função real contı́nua definida em um subconjunto compacto X é unifor-
memente contı́nua.
Demonstração. Pela hipótese de continuidade de f, para cada x ∈ X existe uma vizinhança Ux
de x e uma vizinhança Vx de e tais que |f (y) − f (yv)| ≤  para todo y ∈ Ux e v ∈ Vx .
Note que X ⊂ ∪x∈X Ux . Como X é compacto, existe um número finito de xi tal que: X ⊂
∪ni=1 Uxi . Defina V = ∩ni=1 Vxi . Temos que se x ∈ X e v ∈ V então: |f (x) − f (xv)| ≤ .
Proposição 3.3.1. Toda função real contı́nua de suporte compacto definida em um grupo
localmente compacto G é uniformemente contı́nua
Demonstração. Considere K o suporte compacto de f. Indiquemos por W uma vizinhança com-
pacta de e. Desse modo, X = KW −1 é compacto, pois é produto de dois compactos. Pelo lema
anterior, dado  > 0, podemos determinar uma vizinhança V de e tal que se x ∈ X e v ∈ V
então: |f (x)−f (xv)| ≤ . Podemos supor, sem perda de generalidade, que V está contido em W.

Vejamos agora o caso em que x ∈ GX. Como X = KW −1 e W é vizinhança de e, então


x ∈ GK. Também temos que xv ∈ GK, pois xv ∈ K ⇒ x ∈ Kv −1 ⊂ KW −1 = X , con-
trariando a escolha de x. Assim f (xs) = 0. Isso nos mostra a desigualdade |f (x) − f (xv)| ≤ 
para x ∈ GX e v ∈ V .

Analogamente, obtem-se uma vizinhança -uniformidade à direita.

3.4 Grupos Localmente Euclidianos


Definição 3.4.1. Um Espaço Topológico X é dito localmente euclidiano se existe um (único)
inteiro positivo n tal que para todo x ∈ X existe uma vizinhança U = U (x) homeomorfa ao Rn .

(i) Como toda bola aberta de Rn é homeomorfa a este último, dizer que para todo x ∈
X existe uma vizinhança U = U (x) homeomorfa a Rn é equivalente a dizer que U é
homeomorfa a alguma bola aberta de Rn .

(ii) A definição mais geral de espaços localmente euclianos permite a existência de vizinhanças
U e V de pontos x, y ∈ X homeomorfas a Rn e Rm , respectivamente, com m 6= n.
Lembramos também que com métodos de topologia algébrica pode-se demostrar que dois
abertos U,V de Rn e Rm (m 6= n), respectivamente, não são homeomorfos. Para os nossos
propósitos, vamos considerar sempre que todos as vizinhanças de pontos do espaço X são
homeomorfas ao Rn para o mesmo n.

Proposição 3.4.1. Mn (K) é um espaço localmente euclidiano.


Proposição 3.4.2. Gn (K) são localmente euclidianos.
Corolário 3.4.1. Se H  Gn (K) então H é localmente euclidiano.
É importante salientar
Q que existem grupos topológicos que não são localmente euclidianos.

Por exemplo, seja G = α∈ω Rα onde Rα = R munido com a Topologia produto de Tychonoff
(verifique).
3.5 Grupos de Lie 27

3.5 Grupos de Lie


Definição 3.5.1. [?]
(a) Seja f uma função à valores reais definidas em um subconjunto aberto Ω ⊂ Rn . Dizemos
que f é de classe C ∞ se esta função admite derivadas parciais mistas de todas as ordens
e se estas são contı́nuas em Ω.
(b) Seja X um espaço topológico. Dizemos que um conjunto A é um atlas de classe C ∞ em
X se os elementos de A são pares (Uα , ψα ), α ∈ Λ, Λ conjunto de ı́ndices, satisfazendo
as seguintes condições:
S
(i) Cada Uα é um subconjunto aberto de X, e X ⊂ α∈Λ Uα
(ii) Cada ψα é um homeomorfismo de Uα a um subconjunto aberto do ψα [Uα ] ⊂ Rn para
algum n ∈ N fixado.
(iii) Se Uα ∩ Uβ 6= ∅ então ψα ◦ ψβ−1 : ψβ [Uα ∩ Uβ ] −→ ψα [Uα ∩ Uβ ] é de classe C ∞ .
(iv) Seja (U, ψ) um par consistindo em um subconjunto aberto U de X e um homeomor-
fismo ψ : U −→ ψ[U ]. Se para cada par (Uα , ψα ) ∈ A no qual Uα ∩ U 6= ∅, a
aplicação ψα ◦ ψ −1 : ψ[Uα ∩ U ] −→ ψα [Uα ∩ U ] é de classe C ∞ .

(c) Sejam X um espaço topológico Hausdorff e A um atlas de classe C ∞ . Dizemos que o


par (X, A), é uma variedade n-dimensional C ∞ , ou simplesmente, uma variedade. Os
elementos do atlas são chamados de sistemas de coordenadas da variedade.
Proposição 3.5.1. Toda variedade é localmente Euclidiana e, portanto, localmente compacta.
E a recı́proca desse problema? Quando um espaço localmente Euclidiano torna-se uma
variedade?. Para grupos topológicos esse problema foi modificado e transformado no quinto
problema de Hilbert, que comentaremos em uma das seções seguintes.
Gostariamos de tentar definir uma noção de diferenciabilidade entre variedades. Lembremos
que uma função f definida em um aberto Ω ⊂ Rm à valores em Rn , f = (fi )1≤i≤m , é dita de
classe C ∞ se, para cada i, fi é de classe C ∞ . Ou equivalentemente, se proji ◦ f : Rm −→ R é
de classe C ∞ . Isso motiva a dar-nos a definição seguinte:
Definição 3.5.2 (funções diferenciáveis em variedades). Seja M e N duas variedades de di-
mensões m e n, respectivamente. Uma aplicação f : M −→ N é dita de classe C ∞ se existe
um atlas Uα , ψα de M e um atlas Vβ , ϕβ tal que para cada α, β, a aplicação:

ϕβ ◦ f ◦ ψα−1 : ψα (Uα ) −→ ϕβ (Vβ )


é de classe C ∞ no sentido do parágrafo anterior.
Note que psiα (Uα ) ⊂ Rm e ϕβ (Vβ ⊂ Rn .
Se a função f da definição ?? admite uma expansão em série de potências, então f é dita
analı́tica. Dessa forma, podemos definir variedades analı́ticas e funções analı́ticas entre varie-
dades, alterando a palavra C ∞ por analı́tica.
Vamoa agora fazer uma junção entre o conceito de variedade diferencial e grupos topológicos.
Ao invéz de considerar um espaço topológico X arbitrário, vamos nos restrigir a apenas os
espaços topológicos que são variedades diferenciais.
28 Grupos Localmente Compactos

Definição 3.5.3. Uma variedade G que também é um grupo é chamado de Grupo de Lie se as
aplicações:

(i) (x, y) ∈ G × G 7−→ x • y ∈ G

(ii) x ∈ G 7−→ x−1 ∈ G

Evidentemente, todo Grupo de Lie é um grupo topológicos. Os exemplos contruı́dos no


capı́tulo Alguns Grupos Topológicos Especiais são todos os Grupos de Lie, e basta fazer ligei-
ras modificações e acréscimos nas demonstrações realizadas nesse capı́tulo para verificar essa
informação.

Os Grupos de Lie possuem importância fundamental, como já destacamos, no desenvol-


vimento da teoria dos Grupos Topológicos, e possuem diversas aplicações várias quase todas
as áreas da matemática e em teorias modernas da fı́sica como a Mecânica Quântica e Teoria
Quântica de Campos. Sugerimos ao leitor interessado em se aprofundar na teoria dos Grupos de
Lie e Variedades Diferenciais a apostila escrita pelo Prof. Daniel Tausk, Cálculo em Variedades
Diferenciais e Grupos de Lie, que estava disponı́vel no seu site (http://www.ime.usp.br/ tausk/)
no momento da elaboração desse texto.

3.6 Grupos Topológicos de Transformações


Vamos demonstrar dois lemas de caracter apenas topológico, a fim de realizar um estudo do
grupo de homeomorfismos definidos em um espaço topológico. No mais, construiremos outros
exemplos de grupos topológicos que não são Grupos de Lie.

Considere X,Y dois espaços topológicos. Denotaremos por C(X, Y ) o conjuntos de todas
as funções contı́nuas de X em Y. Considere F um subconjunto de C(X, Y ), K um subconjunto
compacto de X e seja ω um subconjunto aberto de Y. Defina:

W (K, ω) = {f ∈ F |f (K) ⊂ ω}

Os subconjunto da forma W (K, ω) formam uma base de abertos para o conjunto F. Dizemos
que essa topologia é a topologia compacta-aberta em F.

Lema 3.6.1. Sejam X, Y e Z espaços topológicos e F ⊂ C(Y, Z). Para uma função f : X −→
F , nós definimos uma aplicação f 0 : X × Y −→ Z por:

f 0 (x, y) = f (x)(y)
Neste caso, se f 0 é contı́nua então f é contı́nua. Além disso, a recı́proca é verdadeira se
supusermos Y um espaço topológico localmente compacto e Hausdorff.

Demonstração. Sejam K ⊂ Y compacto e Ω ⊂ Z aberto. Devemos provar que f −1 [W (K, C)] é


um subconjunto aberto de X. Fixemos um ponto xo ∈ f −1 [W (K, C)], queremos encontrar uma
vizinhança aberta U de xo com f (U ) ⊂ W (K, Ω).
3.6 Grupos Topológicos de Transformações 29

Para y ∈ K nós temos que:

f 0 (xo , y) = f (xo )(y) ∈ Ω

Pela hipótese de continuidade da função f 0 implica que existe uma vizinhança Uy de xo e


uma vizinhança Vy de y com:

f 0 (Uy × Vy ) ⊂ Ω
Observe que indexamos por y a vizinhança de U y de x
So , pois xo está fixado, e esta depende
do ponto y que está variando. Note também que: K ⊂ Sy∈K Vy . Em função da compacidade
de K, existe um subconjunto finito J ⊂ K tal que: K ⊂ y∈J Vy . Defina:
n
\
U= Uyi
i=1
n
[
V = Vyi
i=1

Então U é uma vizinhança aberta de xo e V um conjunto aberto de Y contendo K. Resta-nos


mostrar que f 0 (U × V ) ⊂ Ω
Fixe (x0 , y 0 ) ∈ U × V , temos que existe Vw , w ∈ J tal que y 0 ∈ Vw ⊂ V e x0 ∈ U ⊂ Uw , pela
própria definição de U. Desse modo,

f 0 (x0 , y 0 ) ∈ f 0 (Uw × Vw ) ⊂ Ω
[ [
f 0 (x0 , y 0 ) ∈ f 0 (Uw × Vw ) ⊂ Ω
(x0 ,y 0 )∈U ×V w∈J

f 0 (U × K) ⊂ f 0 (U × V ) ⊂ Ω
e portanto:

f (U ) ⊂ W (K, Ω)
. logo f é contı́nua.

Suponhamos que Y é um espaço localmente compacto e que f é uma função contı́nua. Vamos
mostrar que f 0 conforme definida acima também é contı́nua. Para cada subconjunto aberto Ω
em Z, fixe um ponto (x, y) ∈ f 0−1 (Ω). Observe que f 0 (x, y) = f (x)(y) ∈ Ω. Como f(x) é uma
função contı́nua de Y em Z (f (x) ∈ C(Y, Z)), existe uma vizinhança aberta V contendo y tal
que:

f (x)(V ) ⊂ Ω
Por hipótese, Y é um espaço topológico localmente compacto. Logo existe uma vizinhança
T ∗ vizinhança compacta de y tal que

y ∈ T∗ ⊂ V
30 Grupos Localmente Compactos

Então, nós temos

f (x)[T ∗] ⊂ f (x)[V ] ⊂ Ω −→ f (x) ∈ W (T ∗, Ω)


Como f é uma função contı́nua, existe uma vizinhança aberta U de x com

f (U ) ⊂ W (T ∗, Ω
e portanto, temos

f 0 (U × T ∗) ⊂ Ω
e isso implica que f’ é contı́nua.

Lema 3.6.2. Se Y é um espaço de Hausdorff, então C(X, Y ) é hausdorff. Então todo subespaço
de C(X, Y ) é também Hausdorff.

DEMONSTRAR
Considere X um espaço topológico. Denotaremos por Homeo(X) o conjunto formado por
todos os homeomorfismos de X nele mesmo. Sabemos que Homeo(X) é um grupo munido da
operação de composição de funções. Como Homeo(X) ⊂ C(X, Y ) nós vamos considerá-lo um
espaço topológico munido com a topologia induzida por C(X, Y ).

Teorema 3.6.1. Se X é um espaço topológico compacto e Hausdorff, então Homeo(X) é um


grupo topológico. Assim todo subgrupo de Homeo(X) é também um grupo topológico.

Definição 3.6.1 (Grupo Topológico de Transformações). Um grupo topológico de transformação


é uma tripla (G, X, ϕ), onde G é um grupo topológico, X é um espaço topológico e ϕ : G×X −→
X é uma aplicação contı́nua satisfazendo:

(i) ϕ(e, x) = x∀x ∈ X, onde e é a identidade de G.

(ii) ϕ(g2 , φ(g1 , x)) = ϕ(g2 g1 , x)∀g1 , g2 ∈ G e x ∈ X.

O a dupla (X, φ) é chamada de G-espaço.

Lema 3.6.3. Seja (X, G, ϕ) um grupo topológico de tranformação. Dado g ∈ G seja ϕg :


X −→ X uma função definida por ϕg (x) = ϕ(g, x). Então ϕg é um homeomorfismo de X..

Pelo Lema anterior, a função: φ : g ∈ G 7−→ φg ∈ Homeo(X) está bem definida.

Lema 3.6.4. φ conforme definida anteiormente é um homomorfismo de grupo.

Proposição 3.6.1. Sejam X um espaço topológico e as funções φ e ϕ conforme definidas


anteiormente. Se ϕ é contı́nua então o mesmo ocorre com φ. Se X é um espaço topológico
localmente compacto e Hausdorff, então ϕ é contı́nua se, e somente, se φ é contı́nua.

Proposição 3.6.2. Seja X um espaço topológico compacto e Hausdorff. Então Homeo(X) é


um grupo topológico, e considerar uma G-ação contı́nua ϕ em X é equivalente a considerar um
homomorfismo φ : G −→ Homeo(X) de grupos topológicos.
3.7 O Quinto Problema de Hilbert 31

3.7 O Quinto Problema de Hilbert


“Who among us would not be happy to lift the veil behind which is hidden the future; to gaze at
the coming developments of our science and at the secrets of its development in the centuries to
come? What will be the ends toward which the spirit of future generations of mathematicians
will tend? What methods, what new facts will the new century reveal in the vast and rich field of
mathematical thought?” - David Hilbert, durante a palestra ”The Problems of Mathematics”,
proferida no Segundo Congresso Internacional de Matemáticos (Paris).
No ano de 1900, na cidade de Paris, Hilbert propôs uma famosa lista de 23 problemas que,
segundo ele, são problemas fundamentais aos quais os matemáticos deveriam atacar a fim de
tornar a matemática mais coerente. Mesmo no século XXI, esta lista de problemas abertos
é considerada como a compilação de maior influência da história da matemática. Hilbert foi
motivado a desenvolver a lista após a sua proposta de fundamentação da geometria clássica,
pois este gostaria de expandir a filosofia desse trabalho para os outros campos da matemática.
Ao final da conferência Minkowsky, sugeriu outros problemas a sala e ao final, uma lista
com os hoje conhecidos como vinte e três problemas de Hilbert, foi publicada nas atas do
congresso. Dentre os problemas estão a hipótese do contı́nuo, a demonstração da consistência
dos axiomas da aritimética, a criação de uma teoria de curvas e superfı́cies algébricas e a hipótese
de Riemann. Parte dos 23 problemas foram rapidamente resolvidos, entretanto, alguns deles
ainda não possuem uma resposta definitiva.
32 Grupos Localmente Compactos
Capı́tulo 4

A Medidade de Haar

4.1 Introdução
4.2 Motivação
A idéia da demonstração da existência de uma medida invariante em um grupo não é muito
difı́cil. Tentaremos expô-la em linhas gerais, nos próximos parágrafos.
Consideremos, para fixar idéias, o grupo dos números reais aditivos (sabemos que é um
grupo topológico localmente compacto). Gostariamos de definir uma “medida” nesse grupo,
a qual assim como a medida de Lebegue, tenha propriedades “razoáveis”. Mais precisamente:
queremos investigar a existência de uma função m : P (R) −→ R ∪ {∞} que, para subconjuntos
X,Y da reta, os quais chamaremos de mensuráveis, valham as seguintes propriedades:

(i) 0 6 m(X) 6 ∞ se X ⊂ R for mensurável.

(ii) m(X) ≤ m(Y ) sempre que X ⊂ Y e X e Y forem mensuráveis.


P
(iii) m(∪Xi ) = m(Xi ) para toda famı́lia Xi enumerável de partes mensuráveis, dois a dois
disjuntos.

(iv) m(y + X) = m(X), ∀y ∈ R, onde X é mensurável e y + X também deverá ser.

A última propriedade é chamada de invariância da medida por translações. É razoável


também esperar que os subconjuntos compactos de R estejam entre os conjuntos que iremos
medir.
Suponhamos que tal medida exista. Considere dois subconjuntos da reta real X e Y, sendo
que é possı́vel cobrir X por um número finito de translações de Y: X ⊂ (z1 + Y ) ∪ ... ∪ (zn + Y ).
Desse modo:
n
X
m(X) ≤ m(zi + Y ) = n.m(Y )
i=1

Suponha que 0 < m(Y ) < ∞. Desse modo, podemos escrever n ≥ m(X) m(Y )
. Definamos (X:Y)
como sendo o menor dos inteiros n satisfazendo a desigualdade anterior.
34 A Medida de Haar

Note que se X é compacto e o interior de Y é não-vazio, então é possı́vel cubrı́-lo com um


número finito de translações. Informalmente, o número (X:Y) é a medida grosseira de quantas
vezes X é maior do que Y. Evidentemente, essa comparação é melhor quanto menor for o
tamanho de Y, e reciprocamente, é pior quando o tamanho de Y se aproxima do tamanho de
X.
Em face desse problema, definamos uma unidade de medida, ou seja, fixemos O ⊂ R
tal que m(O) = 1. Suponhamos que O é compacto e que possua interior não-vazio - hipóteses
perfeitamente razoáveis dado que queremos usar esse conjunto como unidade de medida natural
para R.
A fim de melhorar a nossa “medida”, podemos considerar uma vizinhança V da origem e e
definir uma ”medida” como:

(X : V )
mV (X) =
(O : V )
Por vim imaginando ser possı́vel
As idéias aqui expostas foram devidas a Haar. Entretanto, em seu trabalho, foi necessário
lançar mão do método da “Diagonal de Cantor” e por isso, Haar apenas conseguiu demonstrar
a existência de um funcional para Grupos Topológicos Localmente compactos e separáveis.
Trataremos nos próximos parágrafos de transformar essas idéias em teoremas matemáticos.
Veremos que o cerne das idéias de Haar ainda estão presentes, embora tenha sido necessários
utilizar caminhos diferentes a fim de enfraquecer a hipótese de separabilidade.

4.3 Existência de um funcional Invariante


Seja G um grupo topológico. Sejam f, g : G −→ R funções tais que g ≥ 0, g 6= 0. Consideremos
todas as sequências finitas de números reais positivos ci e todos os conjuntos finitos xi ⊂ G tais
que:
n
X
f (x) ≤ ci g(x−1
i x)∀x ∈ G
i=1
Definimos:
Xn n
X
(f : g) = inf { ci |f (x) ≤ ci g(x−1
i x)}
i=1 i=1

ou então (f : g) = ∞ caso não existam {ci } e {xi } nas condições acima.

Observe que se tivessemos uma “Integral de Haar” invariante à esquerda em G, concluirı́amos


que:
n R
X f dm
ci > R
i=1
gdm

Proposição 4.3.1. Seja G um grupo topológico e considere f, g, h ∈ C0+ (G) e seja g 6= 0.


Então:
4.3 Existência de um funcional Invariante 35

(i) (f : g) existe e é finito;


(ii) para f 6= 0, (f : g) > 0;
(iii) (fa : g) = (f : g) ∀a ∈ G
(iv) (cf : g) = c(f : g) ∈ R, c > 0
(v) (f : g) 6 (h : g) sempre que f 6 g
(vi) (f + g : h) 6 (f : h) + (g : h)
(vii) (f : h) 6 (f : g)(g : h)
Demonstração. (i) Considere C o suporte compacto de f. Como g 6= 0 existe uma vizinhança
aberta U da identidade e ∈ G e um ponto a ∈ G tal que g(y) > m > 0, para todo y ∈ aU ,
onde m é o ı́nfimo de g em aU . (Ou seja, g(y)
m
>1)
Observe que C ⊂ ∪y∈G yU , sendo C compacto, existe {yi U } (0 ≤ i ≤ n) que cobre C.
Então, segue-se para todo x ∈ G

n
sup f X
(f : g) ≤ sup f ≤ g(ayi−1 x)
m i=1

Então nós temos que (f:g) existe e é finito, pois

n sup f
f (x) ≤ <∞
m
(ii) Como f, g 6= 0 e ambas são positivas e possuem suporte compacto, temos que supf, supg >
0. Como g tem suporte compacto, g é limitada, logo 0 ≤ supg < ∞. Assim, a expressão

n
X
f (x) ≤ ci g(x−1
i x)
i=1

implica:

supf
(f : g) ≥ >0
supg
(iii) Por definição, fa (x) = f (ax), portanto

n
X
f (x) ≤ ci g(x−1
i x)
i=1
n
X n
X
⇒ fa (x) = f (ax) ≤ ci g(x−1
i ax) = ci g((a−1 xi )−1 x)
i=1 i=1

Assim: (fa : g) ≤ (f : g) para todo a ∈ G. Em particular para a = e. Logo, (fa : g) =


(f : g).
36 A Medida de Haar

(iv) Fixemos c ≥ 0.

n
X
cf (x) ≤ cci g(x−1
i x)
i=1

Pn Pn
Então: (cf : g) = inf i=1 cci g(x−1
i x) = cinf
−1
i=1 ci g(xi x) = c(f : g).

(v) Suponha f ≤ g. Então, para x ∈ G arbitrário

n
X
f (x) ≤ g(x) ≤ cgi h(x−1
i x)
i=1

Pela definição de (f : h) e (g : h), temos

(f : h) ≤ (g : h)

(vi) Seja:

n
X
f (x) ≤ ai h(x−1
i x)
i=1
n
X
g(x) ≤ bi h(x−1
i x)
i=1

Então:

n
X n
X
f (x) + g(x) ≤ ai h(x−1
i x) + bi h(x−1
i x)
i=1 i=1

Tomando o ı́nfimo de {ai } e {bj } sucessivamente, concluı́mos:

(f + g, h) ≤ (f : h) + (g : h)

(vii) Se:

n
X
f (x) ≤ ai g(x−1
i x)
i=1
m
X
g(x) ≤ bj h(yj−1 x)
j=1

Então
4.3 Existência de um funcional Invariante 37

n m n,m
X X X
f (x) ≤ ai bj h(yi−1 x−1
i x) = ai bj h(yj−1 x−1
i x)
i=1 j=1 i,j=1

Logo:

n,m n m
X X X
(f : g) ≤ ai b j ≤ ( ai )( bj )
i,j=1 i=1 j=1

Definição 4.3.1. Seja f0 ∈ C0+ (G), f0 6= 0, fixado. Defina:

(f : g)
Ig (f ) =
(f0 : g)

Dessa forma, o número Ig (f ) nada mais é que uma medida relativa entre a medida de f e g
e f0 e g. Observe que (f0 : g) funciona como uma espécie de unidade da medida.

É possı́vel estabelecer um resultado análogo ao demonstrado na proposição anterior

Proposição 4.3.2. [?] Sejam f, g, f1 , f2 ∈ C0+ (G), com g 6= 0. Então:

(i) Ig (f ) ≥ 0

(ii) Ig (f ) = 0 ⇐⇒ f = 0

(iii) Ig (fa ) = Ig (f )

(iv) Ig (cf ) = cIg (f ), c ≥ 0;

(v) Ig (f1 + f2 ) ≤ Ig (f1 ) + Ig (f2 )


1
(vi) (f0 :f )
≤ Ig (f ) ≤ (f : f0 ), f 6= 0

(vii) f1 ≤ f2 ⇒ Ig (f1 ) ≤ Ig (f2 )

Demonstração.
(i) Segue imediatamente da definição.
(ii) Se f = 0 então: Ig (f ) = (f(f0:g)
:g)
6 0 então,
= 0, pois (f : g) = 0. Suponha Ig (f ) = 0. Se f =
pelo item (ii) da proposição anterior (f : g) > 0. Como (f0 : g) > 0 temos que Ig (f ) > 0,
contradição.
(iii)
(fa : g) (f : g)
Ig (fa ) = = = Ig (f )
(f0 : g) (f0 : g)
38 A Medida de Haar

(iv) Fixe c ≥ 0.

(cf : g) c(f : g)
Ig (cf ) = = = cIg (f )
(f0 : g) (f0 : g)
(v)
(f1 + f2 : g) (f1 : g) (f2 : g)
Ig (f1 + f2 ) = ≤ + = Ig (f1 ) + Ig (f2 )
(f0 : g) (f0 : g) (f0 : g)
(vi) Temos que:

(f : g) ≤ (f : f0 )(f0 : g)
(f0 : g) 1 (f : g)
(f0 : g) ≤ (f0 : f )(f : g) ⇒ ≤ (f : g) ⇒ ≤
(f0 : f ) (f0 : f ) (f0 : g)
Então:

1 (f : g)
≤ ≤ (f : f0 )
(f0 : f ) (f0 : g)
(vii) Se f1 ≤ f2 então:

(f1 : g) (f2 : g)
Ig (f1 ) = ≤ = Ig (f2 )
(f0 : g) (f0 : g)

Proposição 4.3.3. Sejam G um grupo topológico localmente compacto e f1 , f2 ∈ C0+ (G). Dado
 > 0, existe uma vizinhança U de e ∈ G tal que para todo g ∈ C0+ (G) tendo suporte em U:

Ig (f1 ) + Ig (f2 ) ≤ Ig (f1 + f2 ) + 

Demonstração. Se f1 , f2 ∈ C0+ (G) então f1 + f2 ∈ C0+ (G). Seja C o suporte da função f1 + f2 .


Como todo grupo topológico localmente compacto e Hausdorff é normal e todo compacto em
um espaço de Hausdorff é fechado, podemos aplicar o Lema de Urysohn e obter uma função
f 0 ∈ C0+ (G) tal que f’(C) = 1.
Seja η, δ números positivos arbitrários e defina f = f1 + f2 + δf 0 . Observe que f ∈ C0+ (G).
Seja:

. fi (x)
hi (x) = { sef (x) 6= 0e0caso contrário
f (x)
para i = 1,2. Então:
f1 + f2
h1 + h2 = ≤1
f
Como hi ∈ C0+ (G) (é contı́nua e tem suporte compacto) sabemos que existe uma vizinhança
V de e, tal que para x, y ∈ G:

|hi (x) − hi (y)| ≤ η


4.3 Existência de um funcional Invariante 39

sempre que x−1 y ∈ U i = 1,2.

Seja g ∈ C0+ (G) com suporte em U. Como f, g ∈ C0+ (G) sabemos que (f : g) existe e é
finito, logo existem cj e xj tais que:
X
f (x) ≤ cj g(x−1
j x)
j

Se x−1
j é tal que g(x−1
j x) 6= 0 então x−1
j x ∈ U e, portanto:

|hi (x) − hi (xj )| < η


ou

hi (xj ) − η < hi (x) < hi (xj ) + η


Então:
X X
fi (x) = f (x)hi (x) ≤ cj g(x−1
j x)hi (xj ) ≤ cj g(x−1
j x)(hi (xj ) + η)
j j

Assim:
X
(fi : g) ≤ cj (hi (xj ) + η)
j
X X
(f1 : g) + (f2 : g) ≤ cj {h1 (xj ) + h2 (xj ) + 2η} ≤ (1 + 2η) cj
j j

Isso mostra que:

(f1 , g) + (f2 : g) ≤ (f : g)(1 + 2η)


Seja f0 ∈ C0+ (G), fixado, f0 6= 0. Dividindo a desigualdade anterior por (f0 : g) temos:

Ig (f1 ) + Ig (f2 ) ≤ Ig (f )(1 + 2η)


Pela definição de f, f = f1 + f2 + δf 0

Ig (f ) ≤ Ig (f1 ) + Ig (f2 ) + δIg (f 0 )


Então:

Ig (f1 )+Ig (f 2) ≤ (Ig (f1 )+Ig (f2 )+δIg (f 0 ))(1+2η) ≤ Ig (f1 )+Ig (f2 )+δIg (f 0 )+2η{Ig (f1 )+Ig (f2 )+δIg (f 0 )}
Como Ig (f1 ), Ig (f2 ) e Ig (f 0 ) são finitos e η , δ são arbitrários, podemos escolhê-los de forma
que:

δIg (f 0 ) + 2η{Ig (f1 ) + Ig (f2 ) + δIg (f 0 ) < 


40 A Medida de Haar

Teorema 4.3.1 (Weil). Seja G um grupo topológico localmente compacto e Hausdorff. Então
existe um funcional I ∈ Co+ (G), o qual é não trivial (não é identicamente nulo), não-negativo,
invariante à esquerda, positivamente homogêneo e aditivo.

Demonstração. Para cada f ∈ Co+ (G), defina Xf = [ (f01:f ) , (f : f0 )]. Pelo Teorema de Tycho-
Q
noff, X = f ∈Co+ (G) Xf é um espaço compacto. Além disso, X é Hausdorff, pois cada Xf o é.
Para cada g, não identicamente nulo, Ig = (Ig (f ))f ∈Co+ (G) ∈ X, já que Ig (f ) ∈ Xf pelo item
(iv) da propósição ??.

Considere ϑ um sistema fundamental de vizinhanças para a identidade. Para cada vizi-


nhança V ∈ ϑ, defina:

FV = {Ig ∈ X : suporte de g éV }


Observe que os elementos da famı́lia {FV |V ∈ ϑ} são subconjuntos fechados de X que tem a
propriedade da intersecção finita. De fato, se FV1 , ..., FVn é uma famı́lia finita arbitrária, então
V = ∩ni=1 Vi é uma vizinhança de e ∈ G tal que, se g tem suporte em V , então Ig ∈ ∩ni=1 FVi .
Pela compacidade de X, temos que ∩V ∈ϑ FV 6= ∅. Tomemos I funcional tal que I ∈ FV ∀V ∈ ϑ.
Denotemos por I(f ) a f-ésima coordenada de I, I = (I(f ))f ∈Co+ (G) . Vamos mostrar que I é, de
fato, o funcional que procuramos.

Fixemos  > 0. Como I ∈ FV = {Ig ∈ X : suporte de g éV } ∀V ∈ ϑ, dado W aberto básico


ao qual pertence, tem-se W ∩ FV 6= ∅.
Assim, para todo W aberto básico, existe um subconjunto finito JW ⊂ Co+ (G) e g ∈ Co+ (G)
tendo suporte em algum V ∈ ϑ tal que:

|I(fi ) − Ig (fi )| < , ∀fi ∈ JW


Para cada J = Ig , pela proposição ??, tem-se que:

(i) J(f ) ≥ 0∀f ∈ Co+ (G)

(ii) J(f ) = 0 ⇐⇒ f = 0

(iii) J(fa ) = J(f )∀f ∈ Co+ (G)

(iv) J(cf ) = cJ(f ), c ≥ 0∀f ∈ Co+ (G);

(v) J(f1 + f2 ) ≤ J(f1 ) + J(f2 )∀f1 , f2 ∈ Co+ (G)

Como a famı́lia fi e g são arbitrários, temos que as mesmas propriedadea valem para J = I.
Desse modo, temos que I é uma função à valores reais não-trivial, invariante à esquerda, não
negativo, positivamente homogêneo e sub-aditiva. Resta-nos apenas mostrar que a desigual-
dade reversa vale em (iv):

Em função de ??, temos para f1 , f2 ∈ Co+ (G) arbitrários:

|I(f1 + f2 ) − Ig (f1 + f2 )| < 


4.4 Unicidade da Integral de Haar 41

Ou seja:

Ig (f1 + f2 ) < I(f1 + f2 ) + 


Pela proposição ??:

Ig (f1 ) + Ig (f2 ) < Ig (f1 + f2 ) + 


Assim:

Ig (f1 ) + Ig (f2 ) < Ig (f1 + f2 ) +  < I(f1 + f2 ) + 2

I(f1 ) + I(f2 ) < Ig (f1 + f2 ) + 2


Como  é arbitrário:

I(f1 ) + I(f2 ) ≤ I(f1 + f2 )


Portanto, I é aditivo.

4.4 Unicidade da Integral de Haar


Teorema 4.4.1. Seja G um grupo topológico localmente compacto e Hausdorff. Então o funcio-
nal I, determinado no teorema anteior, é único a menos de uma constante. Mais precisamente,
se J é um outro funcional em Co+ (G) não-trivial, não-negativo, positivamente homogêneo, in-
variante à esquerda e aditivo, então existe uma constante c ∈ R, c > 0 tal que:

J(f ) = cI(f )∀ f ∈ C0+ (G)

Demonstração. Considere J ∈ Co+ (G) um funcional invariante, diferente de I e tendo as mesmas


propriedades deste. Seja f ∈ Co+ (G), f 6= 0, e denote por C o suporte de f. Como G é localmente
compacto, existe uma vizinhança aberta U tal que C ⊂ U e U é compacto. Sendo f contı́nua,
pela proposição ?? temos que f é uniformemente contı́nua à esquerda. Portanto, dado  > 0
existe uma vizinhança V da identidade e, a qual podemos supô-la sempre simétrica, tal que
para todos x, y ∈ G, y −1 x ∈ V implica:

(i) |f (yx) − f (x)| < 2


(ii) |f (xy) − f (x)| < 2

(iii) V C ∪ V C ⊂ U

Como todo espaço topológico localmente compacto e Hausdorff é normal, pelo Lema de
Urysohn existe uma função f ∗ ∈ Co+ (G) tal que f ∗ [U ] = 1 e f ∗ [GU ] = 0.
Em virtude de (iii) podemos escrever: f (xy) = f (xy)f ∗ (x) e f (yx) = f (yx)f ∗ (x), pois
f [GU ] ⊂ f [GC] = 0. Aplicando (i) e (ii) podemos obter, para todo x ∈ G e y ∈ V :
42 A Medida de Haar

|f (xy) − f (yx)| = |f (xy)f ∗ (x) − f (yx)f ∗ (x)| = |f ∗ (x)|{|f (xy) − f (x) + f (x) − f (yx)|}

|f (xy)−f (yx)| ≤ |f ∗ (x)|{|f (xy)−f (x)|+|f (x)−f (yx)|} ≤ |f ∗ (x)|{|f (xy)−f (x)|+|f (yx)−f (x)|}
 
|f (xy) − f (yx)| ≤ |f ∗ (x)|{ + } = h(x)
2 2
Seja ϕ ∈ Co (G) tal que o suporte de ϕ esteja contido em V e ϕ(x) = ϕ(x−1 ). Então:
+

I(ϕ)J(f ) = Iy (ϕ(y))Jx (f (x)) = Iy (ϕ(y))Jx (f (xy)) = Iy Jx (ϕ(y)f (xy))


onde usamos a propriedade da invariância à esquerda do funcional na segunda igualdade, e
o teorema de Fubini na terceira. Pela mesma razão, temos também que:

J(ϕ)I(f ) = Jx (ϕ(x))Iy (f (y)) = Jx (ϕ(y −1 x))Iy (f (y)) = Jx Iy (ϕ(y −1 x)f (y))


Como ϕ é simétrica:

J(ϕ)I(f ) = Jx Iy (ϕ(xy −1 )f (y)) = Jx Iy (ϕ(y)f (xy)) = Iy Jx (f ∗ (y)f (xy))


Então:

|I(ϕ)J(f ) − J(ϕ)I(f )| ≤ Iy Jx |f (yx) − f (xy)|ϕ(y)


|I(ϕ)J(f ) − J(ϕ)I(f )| ≤ Ix Jy f ∗ (x)ϕ(y) ≤ I(ϕ)J(f ∗ )
Se ψ ∈ Co+ (G) e se ψ é tal que o suporte de ψ esteja contido em V e ψ(x) = ψ(x−1 ), por
cálculos análogos aos anteriores teremos que:

|I(ϕ)J(ψ) − I(ϕ)I(ψ)| ≤ I(ϕ)J(ψ ∗ )


onde ψ ∗ é obtida de forma análoga a função f ∗ , ou seja, é a função dada pelo Lema de
Urysohn tal que ψ ∗ [V ] = 1 e ψ ∗ [GV ] = 0. Segue-se dos cálculos anteriores que:

J(f ) J(h) J(f ∗ )


| − |<
I(f ) I(h) I(f )
e

J(ψ) J(h) J(ψ ∗ )


| − |<
I(ψ) I(h) I(ψ)
Como:

J(f ) J(ψ) J(f ) J(h) J(h) J(ψ)


| − |=| − + − |
I(f ) I(ψ) I(f ) I(h) I(h) I(ψ)
Temos que:

J(f ) J(ψ) J(f ) J(h) J(ψ) J(h)


| − |≤| − |+| − |
I(f ) I(ψ) I(f ) I(h) I(ψ) I(h)
4.5 Grupos Unimodulares 43

O que implica:

J(f ) J(ψ) J(f ∗ ) J(ψ ∗ ) J(f ∗ ) J(ψ ∗ )


| − |≤ + = { + }
I(f ) I(ψ) I(f ) I(ψ) I(f ) I(ψ)
Como  > 0 é arbitrário, resulta:

J(f ) J(ψ)
=
I(f ) I(ψ)
J(ψ)
Se fixarmos ψ não nulo, então I(ψ)
= c > 0 e, portanto:

J(f ) = cI(f )
para todo f ∈ C0+ (G).

Definição 4.4.1. Dizemos que a medida µ induzida por I é a Medida de Haar em G. O


funcional linear I é chamado de Integral de Haar. Para cada subconjunto compacto A contido
em um grupo topológico G:

µ(A) = inf{I(f ) : f ≥ 1 em A, f ∈ Co+ (G)}

4.5 Grupos Unimodulares


4.6 Exemplos e Aplicações
P G um grupo finito de cardinalidade |G| = r. É fácil verificar que o funcional: I(f ) =
Seja
1
r x∈G f (x) é uma integral de Haar invariante à esquerda e à direita no espaço das funções
definidas em G tomando valores complexos. A medida correspondente a este funcional sobre
os conjuntos mensuráveis de G é dada por µ(A) = |A| r
.
Considere
R 2π o grupo compacto multiplicativo do Toro. Há uma Integral de Haar normalizada
1
é 2π 0 f (exp(it))dt, ∀f ∈ C(T ). Observe que a medida correspondente é a medida de Lebegue
multiplicada por um termo de normalização.

4.7 Demonstração da Existência e Unicidade da Integral


de Haar segundo Henri Cartan
Lema 4.7.1 (Partições da Unidade). Considere G grupo topológico Hausdorff e localmente
compacto. Seja {Ci } uma famı́lia finita de subconjuntos compactos. Então existe uma famı́lia
finita {fi }1≤i≤n de funções definidas em G à valores reais tal que:
Pn
(a) i=1 fi = 1

(b) fi (x) = 0 ∀x ∈ GCi para cada i , 1 ≤ i ≤ n


44 A Medida de Haar

Lema 4.7.2. Considere G um grupo topológico e fi ∈ Co+ (G), 1 ≤ i ≤ n. Sejam  > 0 e δ > 0
números reais fixados. Então existe uma vizinhança U da identidade e ∈ G tal que para todo
g ∈ Co+ (G) com suporte em U:

Xn n
X Xn
Ig ( λi fi ) ≤ λi Ig (fi ) ≤ Ig ( λi fi ) + 
i=1 i=1 i=1

para todo 0 ≤ λi ≤ δ.

Teorema 4.7.1 (Aproximação). Consirede G um grupo topológico e f ∈ Co+ (G). Sejam  > 0
e V uma vizinhança da identidade e ∈ G tal que (y −1 x ∈ V −→ |f (x) − f (y)| ≤  ∀x, y ∈ G).
Fixe h ∈ Co+ (G), h 6= 0, tal que h[GV ] = 0. Então para cada 0 >  podemos obter uma
famı́lia {si } ⊂ G e números reais ci > 0 ta que para todo x ∈ G:
n
X
|f (x) − ci h(s−1
i x)| < 
i=1

Vamos admitir que esse teorema é válido e tentemos mostrar porque ele é suficiente para
garantir a existência e unicidade de um funcional invariantes e com propriedades “boas”.
Embora não tenhamos utilizado tanto este fato, mas Ig(f ) também pode ser vista como uma
função que depende da função g. Fixemos uma função f ∈ C0+ . Dado  > 0, gostarı́amos de
estabelecer a existência de uma vizinhança, digamos U, da identidade tal que se g, k ∈ C0+ (G)
e se g e k tem suporte em U, então

(∗) |Ig (f ) − Ik (f )| < 

Desse modo observando que o conjunto {{g ∈ C0+ (G)|gtemsuporteemU } : U vizinhança de e satisfaz
é base para um filtro em g, temos garantida a existência do limite. Além do mais, todas as
propriedades, como aditividade e homogeneidade, são obtidas da mesma maneira que aquelas
demonstradas nos teoremas anteriores.
Vamos mostrar agora a existência da requerida vizinhança U.

Seja 0 > 0 fixado. Pelo teorema da aproximação, existe uma função h ∈ C0+ (G), si ∈ G (1 ≤
i ≤ n), ci > 0 tal que:
n
X
|f (x) − ci h(s−1
i x)| < 
0

i=1

Pelo Lema 2, existe uma vizinhança U de e tal que para todo g ∈ C0+ com suporte em U,
n
X
0
Ig (f ) −  ≤ ci Ig (f ) ≤ Ig (f ) + 0
i=1

Da mesma forma podemos obter as mesmas desigualdades para f0 ∈ C0+ (G) tal que Ig (f0 ) =
1 (para mesma g de f).
4.7 Demonstração da Existência e Unicidade da Integral de Haar segundo
Henri Cartan 45
Demonstração. Considere V e  positivo, nas condições do enunciado. Para s ∈ G fixado, temos
que

[f (x) − ]h(s−1 ) ≤ f (s)h(s−1 x) ≤ [f (x) + ]h(s−1 x)


para todo x ∈ sV .
Denotemos por h∗ a função definida em G tal que h∗ (x) = h(x−1 ). Seja 0 > , e para este,
tome δ 0 > 0 convenientemente, de tal forma que:

(f : h∗ )δ < 0 − 
Como o suporte de h é compacto, podemos considerar W, uma vizinhança da identidade tal
que para todo x, y ∈ G, y −1 x ∈ W implique |h(x) − h(y)| < δ 0 . Como o suporte de f , o qual
será denotado por K, é compacto, existe uma famı́lia finita {si }1≤i≤n ⊂ G tal que {si W }1≤i≤n
cobre o suporte de f.
Pelo Teorema de Partições da Unidade existe hi ∈ C0+ (G) (1 ≤ i ≤ n) tal que ni=1 hi (x) =
P
1 ∀x ∈ K e hi (x) = 0 se x ∈ Gsi W, ∀ 1 ≤ i ≤ n.
Dessa maneira, para j fixado

hi (s)f (s)[h(s−1 0 −1 −1 0
i ) − δ ] ≤ hi (s)f (s)h(s x) ≤ hi (s)f (s)[h(si x) + δ ]

Somando em relação a j temos


n
X n
X
hi (s)f (s)h(s−1 0 −1
i x) − δ f (s) ≤ f (s)h(s x) ≤ hi (s)f (s)h(s−1 0
i x) + δ f (s)
i=1 i=1

Relacionando as duas equações anteriores, obtemos

m
X
[f (x) − ]h(s−1 x) − δ 0 f (s) ≤ hi (s)f (s)h(s−1 x) ≤ [f (x) + ]h(s−1 x) + δ 0 f (s)
i=1

Desse modo, para cada g ∈ C0+ (G),

Xn
−1 0
[f (x) − ]Ig (h(s x)) − δ Ig (f ) ≤ Ig [ hi (s)f (s)h(s−1 ∗ 0
i x)] ≤ [f (x) + ]Ig (h ) + δ Ig (f )
i=1

Por outro lado,


(f :g)
Ig (f ) (f0 :g) (f : g) β−
≤ (h∗ :g)
= ≤ (f : h∗) =
Ig (h∗ ) ∗
(h : g) δ0
(f0 :g)

para algum β < 0 e onde f0 ∈ C0+ (G), f 6= 0 foi fixado na definição de Ig . Note que esta
desigualdade justifica a escolha do δ’ tomado inicialmente.

Desse modo
46 A Medida de Haar

n
X h(s−1i x)
(∗) f (x) − β ≤ Ig ( ∗
hi (s−1
i x)f (s)) ≤ f (x) + β
i=1
Ig (h )
h(s−1
i x)
Aplicando o Lemma 2 para fi = hi f, λi = Ig (h∗ )
, e δ = (f0 : h∗ )supg, sabemo que existe
uma vizinhança U de e ∈ G tal que:
n n n
X h(s−1i x)
X Ig (hi f ) −1
X h(s−1i x)
Ig ( ∗
hi f ) ≤ ∗
h(s i x) ≤ Ig ( ∗)
hi f ) + 0 − β
i=1
Ig (h ) i=1
Ig (h ) i=1
Ig (h
Ig (hi f )
Colocando ci = Ig (h∗ )
, por (*) tem-se que
n
X
0
f (x) −  ≤ ci h(s−1
i x) ≤ f (x) + 
0

i=1

Como querı́amos.
Referências Bibliográficas

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[14] Pier, J. L’apparition de la théorie des groupes topologiques, Cahiers du séminaire d’histoire
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