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Benedito Dielcio Moreira*
Resumo
Este trabalho tem como proposta aproximar a idéia de desenvolvimento humano com a
necessidade de compreensão da realidade propagada pelos meios de comunicação. Na
perspectiva sóciohistórica atuam, de modo decisivo para impulsionar o potencial de
desenvolvimento de uma pessoa, o grupo social e o contexto onde as relações se dão. Nossa
hipótese é que a sociedade atual, com suas múltiplas possibilidades de acesso a informação,
supervaloriza a capacidade individual de percepção e compreensão dos acontecimentos,
que não são exclusivamente fenômenos locais, territorializados. Contudo, a experiência do
conhecimento – por isso transformador é histórica e social. Tem a cumplicidade do
coletivo. Isto requer também dos jovens um olhar reflexivo sobre o conteúdo das mídias,
pois da reflexão, do debate, emergem questões sociais relevantes, como noções de
desenvolvimento humano e de inclusão social.
Palavr as Chaves: desenvolvimento humano, exclusão social, comunicação, educação.
Existem outras razões para o desenvolvimento que não sejam razões humanas? Todos os
motivos que possam ser apresentados e legitimados, como desenvolvimento tecnológico,
desenvolvimento econômico, por exemplo, são motivos subjacentes a uma razão maior: o
desenvolvimento humano. No entanto, mapas e estudos sobre a exclusão social 1 indicam
que o desenvolvimento tem outras direções. Não por acaso, vamos verificar exemplos de
exclusão social mais visíveis em países onde o conhecimento acumulado ao longo da
história da humanidade não está acessível igualmente a todos. Em vista disso, e motivados,
primeiro pelas reflexões que fazemos sobre o que atrai os jovens nos meios de comunicação
e na Internet, as informações que eles apreendem e como compartilham estas informações
no ambiente escolar 2 e, depois, pelas discussões sobre desenvolvimento humano ocorrido
1
Estudos que mapeiam a exclusão social no mundo podem ser acessados pela Internet. Dois estudos são
interessantes pela discussão que realizam sobre o conceito de Exclusão Social: www.ilo.org/public/english e
de Pedro Hespanha e Iver Hornemam Moller em www.ces.fe.uc.pt. Sobre a exclusão social no Brasil ver
indicadores em www.dpi.inepe.br e em www.consciencia.br.
2
Estudo que realizo para o doutoramento na Universidade de Siegen sobre Educação e Comunicação.
na Universidade de Alcalá 3 , decidimos discutir neste texto algumas questões que
aproximam o consumo de mídias e o conhecimento daí decorrente com a idéia de
desenvolvimento humano e de exclusão social.
Para Lévy (1993; 2005), o desenvolvimento humano tem estreita relação com a inteligência
coletiva, que se realiza no ato de “intercambiar conhecimentos e complementar
competências”, nos seus aspectos “técnicos, éticos e emocionais”. Lévy relaciona o salto de
desenvolvimento humano verificado: 1. após a escrita, 2. após o surgimento da imprensa, 3.
no avanço das comunicações de massa e, 4. a imensidão de conhecimentos disponíveis na
Internet, com a participação coletiva no conjunto de bens culturais gerados na sociedade.
De fato, a idéia de desenvolvimento que não tenha o ser humano como fim não tem sentido.
O desenvolvimento centrado nas potencialidades do ser humano significa o acesso a todos
os processos que promovam a realização pessoal, com a participação plena de todas as
pessoas nas riquezas que a sociedade gera. Vigotski, segundo análise de Geraldi, Fichtner e
Benites (2007), entende desenvolvimento humano como sendo resultante de um diálogo
que a pessoa trava no presente consigo mesma e com a realidade ao seu redor, mas com os
olhos fixados no futuro que ela deseja ou espera construir. O passado é a sua referência.
“As ações de cada pessoa são influenciadas pelo passado, mas nunca por ele determinadas”.
O pensamento de Vigotski contempla não apenas os valores individuais, mas também as
condições do coletivo, do social. Por isso o desenvolvimento é sempre histórico e cultural,
tem características históricas e culturais específicas para cada momento e para cada grupo
social. O desenvolvimento humano é, portanto, a capacidade de compreender, empreender
e transformar, tanto no plano individual, da pessoa, como também no plano do coletivo, do
grupo social. Complexo e dinâmico, o desenvolvimento pessoal e do conjunto social, é
sempre potencializado por aspectos pessoais e sociais.
Empregado por todas as áreas do conhecimento, o conceito de exclusão social é demasiado
amplo e mereceu de Estivill (2003) um levantamento histórico e uma proposta que
contemple o que hoje o termo traduz. Assim, diz Estivill, “a exclusão social pode ser
3
As IV Jornadas de Desarrollo Humano y Educación, organizadas pela Universidade de Alcalá e Fundación
Infancia y Aprendizaje, entre os dias 06 e 09 de setembro de 2005, debateram temas relacionados às
mudanças que ocorrem na sociedade contemporânea e os novos cenários para o desenvolvimento humano.
entendida como uma acumulação de processos confluentes com rupturas sucessivas que,
despoletada no centro da economia, da política e da sociedade, vão afastando e
«inferiorizando» pessoas, grupos, comunidades e territórios em relação aos centros de
poder, aos recursos e aos valores dominantes”. Assim, não há, por certo, uma decisão
unilateral para excluir, mas decisões motivadas por razões econômicas e políticas que
levam à concentração de esforços e à maximização do desenvolvimento em determinadas
regiões e entre determinados grupos de pessoas. Pois é também nesta confluência de
processos, que afasta e inferioriza pessoas e grupos, que perpassam, como fatores de não
desenvolvimento e de exclusão, além da impossibilidade de acesso a todas as tecnologias
de comunicação e informação, especialmente a incapacidade de
ver/ouvir/ler/compartilhar/compreender as informações propagadas pelas diferentes mídias.
David Buckinghan (2005:23), em um de seus trabalhos sobre mídia e educação, traz uma
citação de Roger Silverstone, que transcrevo a propósito do que me parece ser relevante
neste texto. Tratase de onde estão localizadas a força e a influência das mídias: “no centro
da experiência, no coração de nossa capacidade ou incapacidade para encontrar um sentido
para o mundo em que vivemos”.
A propósito desta parábola, e da inegável hegemonia que detém a mídia televisão em nossa
sociedade, com suas câmeras postadas no mundo, como extensão de nossos olhos
(McLuhan, 1979), dedicamonos ainda algum tempo ao “olhar”. A interpretação de uma
dada realidade invoca a habilidade do olhar: “Saber olhar” é um momento vital para a
interpretação, assinala Canevacci. Quando trata da configuração na percepção visual,
ensina Arnheim (2002:41) que o ato de olhar no cotidiano é um ato rotineiro de
identificação e de orientação. Mas é também uma experiência visual “inserida num
contexto de espaço e tempo”. Ao escrever sobre “os prazeres e saberes do olho” Passeron
(1991) se apoiou em Ernest Gombrich, quando este disse que além do código e do contexto
a imagem traz um mistério em si, que não podemos na imagem localizar, mas no intérprete.
A percepção em Bergson, MerleauPonty, Castoriadis foi revisitada por Marin, Torres e
Comar (2003). Em uma análise da complexidade da percepção no trabalho de educação
ambiental, estes autores se depararam com um “ambiente repleto de significados, de
magias, de mitos, e carregados das nostalgias que lhe atribuímos”. Assim, não há um
universo simbólico único, coerente, mas povoam nossas mentes uma mistura de crenças,
experiências pessoais, experiências de outros, e conhecimentos aprendidos, seja na escola,
nos livros ou nas mídias.
Além da complexidade que encerra nosso entendimento dos muitos mundos que nos
chegam e de tantos outros que construímos, como entende Goodman (1995), nós não
vemos a realidade apenas com os nossos olhos. Além da mediação das mídias, que olham o
mundo a seu modo, com seus princípios, conceitos e tecnologias, e nos transmitem o que
julgam ser de nosso interesse, atuam também no nosso entendimento os grupos que nos
cercam, como a igreja, a família, os amigos, a escola, sindicatos, partidos políticos, entre
outros. (Silva, 1985). Portanto, ver e compreender não são atividades que um ser humano
realiza isoladamente como se fosse uma estátua pensante. Elias (1994:27), inclusive,
pontuou que as “funções mentais maleáveis e relativamente indiferenciadas” de uma
criança se tornam complexas em contato com a sociedade. É o seu crescimento em um
grupo que já existia antes dela nascer que lhe empresta as articulações da fala, da escrita;
que lhe assegura, a partir da estrutura do grupo e da posição que ocupa no grupo, o
processo formador do adulto que se tornará. Devemos a Vigotski conceito que trataremos
mais à frente, a concepção da proximidade do outro como fator vital do desenvolvimento
humano.
Não há, portanto, desenvolvimento humano que irrompa, exclusivamente de dentro para
fora, como uma dádiva de inteligências bem dotadas. Mesmo homens influentes e
poderosos, como Napoleão, por exemplo, não foram capazes, sozinhos, de influir na
história sem o apoio da sociedade que os abrigavam, sem as condições históricas que se lhe
apresentavam (Plekhâov, 1980). Provocado pelo cineasta brasileiro Glauber Rocha, ao
traçar um perfil do presidente João Goulart 4 , escreveu Darcy Ribeiro (1979): “O que quero
dizer é tãosomente que um homem não exprime, no poder, a sua ideologia pessoal, mas a
conjuntura política com que ascendeu”. Em um outro sentido, mas ainda chamando a
atenção do leitor para a relevância de um grupo sua estrutura e organização, como
elementos vitais para a fecundação do potencial humano, temos a trajetória do Instituto de
Pesquisa Social de Frankfurt, ou o Círculo Filosófico de Viena (De Masi, 1999), e até
mesmo o surgimento e desenvolvimento do Vale do Silício, nos Estados Unidos, que
encontrou condições estruturais e potencial coletivo humano propícios para se desenvolver.
(Castels, 2001). (musicalidade baiana)
É, portanto, na perspectiva do fazer coletivo e da influência do grupo social em nosso
entorno, que retomo os temas do desenvolvimento humano e da comunicação. Há um
4
João Goulart foi presidente do Brasil entre 1961 e 1963. Assumiu a presidência após a renúncia do
presidente Jânio Quadros, de quem era vicepresidente.
processo de globalização e de mundializacao 5 da cultura em curso, com três grandes arenas
de embates e de confronto de forças: o mercado de consumo, os meios de comunicação e de
informação e a arena de regulação das relações entre nações e entre nações e empresas
transnacionais. O que acontece nestas três arenas afeta decisivamente a todos. Mas uma
delas tem especial relevância neste trabalho: a arena das relações de forças no âmbito da
comunicação social e das conexões da Internet. É desta arena que se torna possível
acompanhar os embates políticos e econômicos que se sucedem no campo da regulação, e é
também, através desta arena, que forças do mercado se articulam e se comunicam com o
consumidor. Portanto, entender a realidade em curso através dos meios de comunicação e
de informação não é uma tarefa para “estátuas pensantes”: expectador que apenas aguarda o
momento do espetáculo, que chora quando se emociona, que aplaude quando se entusiasma
e maldiz quando se sente logrado e, depois, retorna para dentro de si como se o que ele
presenciou fosse apenas uma encenação, externa à sua realidade. Se a tarefa de acompanhar
e compreender o que acontece no mundo é árdua e fugidia para homem escolarizado, é
sensato pensar que para os jovens em fase de escolarização média as dificuldades sejam
mais penosas.
As dificuldades de compreensão se agigantam quando, por exemplo, se pretende entender o
processo de globalização em curso. Em face da rapidez com que as mudanças se
apresentam, Milton Santos pede que se faça uma revisão dos significados das palavras, das
idéias e dos fatos. Para entender a globalização é importante compreender o significado de
cada termo, sua clareza e coerência. Termos, que são correntes nos noticiários em jornais,
em rádios, em televisões e na Internet. No entanto, para entender os termos e seus
significados com clareza e coerência, no contexto em que a notícia se insere, exigese uma
atitude de aprendizagem, na qual a Escola é ainda insuperável. De fato, a não compreensão
de significados correntes, presentes em diferentes tipos de decisões, pode contribuir para
parecer simples, natural, óbvio, o que antes foi uma decisão estratégica. Cito, como
exemplo, os apontamentos de Ortiz (1996) sobre as telenovelas brasileiras. Elas são
produzidas para o consumo interno com, aproximadamente, 200 capítulos. Para a
5
Renato Ortiz emprega o termo mundialização quando se refere especificamente ao “domínio da cultura” e
reserva o termo globalização para o domínio da economia. Para Ortiz, cultura mundializada não significa “o
aniquilamento das outras manifestações culturais, ela cohabita e se alimenta delas” (Ortiz, 1994)
exportação, ocorre uma redução de capítulos, ficando o compacto exportável com cerca de
um terço do original, para, deste modo, atender a demanda internacional. Parece simples.
Mas para tornar um Inteiro em um Terço, algo precisa ser excluído. “O que é sobremaneira
brasileiro tornase supérfluo, sendo por isso eliminado” (Ortiz, 1996:201). Esta rotina nas
trocas culturais internacionais oculta o sentido de universalização. Acrescenta Ortiz que
esta operação não se refere exclusivamente a “intercâmbios econômicos”, mas tratase de
um modelo de avaliação que determina o que é mundialmente aceito, e quais “os elementos
específicos, nacionais ou regionais, serão rebaixados à categoria de localismo”. Portanto, ao
estudar e debater termos e fatos veiculados através das mídias pode o grupo da escola
apoiar o estudante em sua capacidade reflexiva e este, por sua vez, compartilhar destas
informações com familiares, amigos do bairro, da igreja, gerando com isso um processo
que potencializa e inclui.
Assim, do modo como está colocado, o desenvolvimento humano não se dá pela força
predadora das diferenças individuais, pelo valor do indivíduo que se supera e aos outros,
como querem fazer crer os defensores da ideologia capitalista, mas no histórico, no social,
no cultural. A idéia de desenvolvimento humano pode também estar contida nos meios de
comunicação e de informação quando estes se apresentam, sob nossa autorização, como
portadores do que se passa no mundo, do que se passa do lado de fora de nós. Porém, esta é
uma compreensão que mais facilmente se obtém com o suporte da Educação. Assim,
desenvolvimento Humano é antes interação, é participação coletiva. Não se obtém pelo
desejo de um líder político nem pelos sonhos altruístas, embora estes possam ser
importantes. Desenvolvimento humano é um atributo do coletivo.
Na fronteira do “desenvolvimento real” de uma criança com o seu “desenvolvimento
potencial” há uma região que Vigotski (2002) chama de “zona de desenvolvimento
proximal”. Por este prisma, não há desenvolvimento que não esteja ancorado nas relações
que estabelecemos com o meio cultural e social que nos envolve e com as pessoas que nos
cercam. Para não limitar o que falamos e nem reduzir nosso pensamento à influência de
alguém sobre outro alguém, nem circunscrever este conceito de zona de desenvolvimento
proximal, como ressalta Tudge (1990), a uma atividade de um instrutor que leva o
conhecimento ao seu aprendiz, é o contexto onde se dá a interação, como pensou Vigotski,
determinante no processo interativo. Na concepção de Tudge, o desenvolvimento de uma
criança tem, então, a direção empreendida por um adulto ou por um colega mais experiente,
quando estes ocupam o espaço proximal, auxiliando o outro na maximização de seu
desenvolvimento potencial, como tem também a relevância do entorno, pensando a zona de
desenvolvimento proximal não como algo de frente ao aprendiz, mas algo que ocupa todo o
seu redor. Assim, está presente na relação proximal uma relação de trocas, de comunicação
total, permanente e integral.
O processo interativo e as condições históricas e culturais concretas geradas pelo coletivo
têm, portanto, relevância na aquisição da compreensão. Contudo, coletivo também é
entorno, é o contexto onde as interações se dão, onde o conhecimento é gerado. Se o
desenvolvimento humano não emerge exclusivamente por força do valor individual,
também não está empacotado em jornais ou compartimentalizado em emissoras de Rádio e
Televisão, não existe “independente dos sujeitos”. O conhecimento está na experiência de
sua aquisição (Moises, Geraldi, Colares, 2002). Assim, retomo, aqui, a importância
assumida pelas mídias, em seu conjunto, enquanto fornecedoras de “muitos dos recursos
simbólicos que utilizamos para dirigir e interpretar nossas relações e para definir nossas
identidades” (Buckngham 2005). As mídias elegem, interpretam e apresentam alguns
acontecimentos 6 . Mas a descrição não “desvenda os fatos que provocaram o fenômeno. Se
não há consciência dos mecanismos históricos e sociais que provocaram o fato, temos
apenas a constatação do fato, não a consciência de sua formação para a sua superação”
(Franco, 2004). A realidade se apresenta para nós através dos acontecimentos de fora para
dentro. Formase a partir dos signos socialmente constituídos e se aloja em nossa
consciência. (Bacega, 1996). E consciência, para Vigotski, vem do encontro que a pessoa
tem consigo mesmo e com a realidade que a cerca (Benites, Fichtner e Geraldi, 2005). E
este encontro tem sempre uma “natureza social e cultural”. Assim, a realidade que
captamos, a captamos de um modo segundo o “capital” que dispomos, nos ensinou
6
Há que se diferenciar os sentidos de acontecimento. Um acontecimento jornalístico mereceu uma
classificação. Entre tantos outros acontecimentos, sua propagação pelos meios de comunicação atendeu a
critérios de notabilidade, imprevisibilidade e metaacontecimento. Já acontecimento “é tudo aquilo que
irrompe na superfície lisa da história (...)” (Rodrigues, 1999).
Bourdieu. Isto porque olhamos sempre do nosso ângulo, “da posição que estamos
colocados e dos hábitos de nossos olhares”, isto é, antes de ver, definimos. Depois vemos.
(Lippman, 1970).
Por isso, as pessoas que são mais capazes de “desconstruir” os discursos que as cercam, e
assim o fazem como prática do coletivo onde se inserem, tornamse igualmente capazes de
reconstruílos segundo seus objetivos e seus interesses, que são, por sua vez, os mesmo
objetivos e interesses contidos no grupo social que pertencem. São estas pessoas,
seguramente, as que menos sofrem com a exclusão. Cabe à escola, na opinião de Franco
(2004), a tarefa de ensinar os jovens a desconstruir e compreender os diferentes discursos:
“aqui entra a função conscientizadora da escola, que promove a desconstrução destes
discursos, e através da reflexão conjunta e refletida na realidade de cada um, pode superar o
consumismo imediato de meias verdades”. A compreensão de um dado acontecimento
narrado tornase ainda mais relevante como fator de desenvolvimento humano e de não
exclusão quando aceitamos a idéia de que o poder não tem um lugar fixo na estrutura
social, mas a perpassa através da ação dos grupos sociais (Foucoult, 1989). Ou, ainda,
porque os discursos são portadores de um tipo de poder, o simbólico, mais facilmente
identificável pela prática reflexiva (Bourdieu, 2004). A seguir, e para concluir este texto,
trago, como exemplo, algumas pesquisas apresentadas em Acalá.
Entre as dezenas de pesquisas discutidas em Alcalá, os contextos de algumas que aqui
apresento são contextos de riscos para os jovens, e demasiadamente rotineiros nos centros
urbanos. São conhecidos não apenas pelos jovens, mas também pelos seus pais: além de
configurar contextos concretos de vida, estão nos meios de comunicação em forma de
notícias, de filmes, de novelas, de clips musicais. São contextos realmente vivenciados e,
através das mídias, tornados também ficções. Por conta da familiaridade podem parecer
contextos simples e inofensivos. Podem até ser a realidade do outro, “não a do meu filho”,
poderá dizer um pai. Podem ser vistos como fatalidade, como contextos inevitáveis. No
entanto, as conclusões dos pesquisadores demonstram que não. São contextos históricos,
sociais e culturalmente forjados. Gema 7 mostrou que o comportamento de risco entre os
jovens tem estreita ligação com as motivações existentes em seu entorno. A relação do
jovem com o álcool, não necessariamente o seu consumo, com o fumo, e com as diversas
alternativas de ocupação do tempo livre podem inibir ou acelerar comportamentos de risco.
Outra pesquisa 8 realizada com 1068 adolescentes mostrou que quanto mais negativa e
problemática é a comunicação entre pais e filhos mais agressivo é o adolescente, pois ele
não conta com o grupo familiar para a transmissão de habilidades sociais. Pesquisa feita
com 8.950 adolescentes espanhóis 9 mostrou como estes jovens se comportam no apoio ao
serviço doméstico. Quem não ajuda os pais em casa são meninos, eles não obtém bons
resultados na escola, não sabem cozinhar, não comentam com os pais sobre o que ocorrem
com eles, dedicam somente 15 minutos por dia para as tarefas escolares e são do tipo que
intimidam, não são intimidados. Já as meninas são as que ajudam seus pais, recebem apoio
familiar, dedicam duas horas por dia para a realização de tarefas escolares e têm facilidades
para fazer amigos. As conclusões apresentadas por professores das Universidades de
Sevilla, Huelva e Universidad Nacional de Educación a Distancia 10 podem auxiliar no
entendimento do que se quer aqui dizer. O desenvolvimento tem uma ecologia, uma
continuidade de contextos que incluem a família, a escola, o bairro. Por isso, o
desenvolvimento humano e uma tarefa do coletivo. E da sabedoria do olhar.
*Publicado originalmente na Alemanha, com o título: Menschliche Entwicklung und soziale Inklusion
erfordern eine differenzierte (re) Sicht auf unsere Gesellschaft. In: BENITES, Maria e FICHTNER, Bernd.
Vom Umgang mit Differenz: Globalisierung und Regionalisierung im interkulturellen Diskurs. Berlin:
AthenaVerlag, 2007, S. 121132.
7
Gema, Martín Seone. Condiciones de riesgo y protección en la adolescencia. Universidade de Alcalá.
8
Martinez, Belém et al. Relaciones familiares y aceptación en la adolescencia. Universiade de valencia
9
Mendoza Borjano, Ramón y Rubio Gonzáles, Antonia. La cooperación de los adolescentes españoles en las
tareas domesticas: situación actual e interacción con los estilos de vida y otros aspectos del desarrollo
personal. Universidade de Huelva.
10
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adolescentes españoles de la relación com sus padres y madres (comunicación, apego y estilos disciplinarios)
y su relación con el ajuste psicológico y las conductas de riesgo.
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