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Esse neoecletismo pode ser o prenúncio de um novo discurso que compreenda a arquitetura na
sua complexidade e nas suas naturezas diversas, desatando-lhe as amarras estetizantes. Seria
uma outra Grande Narrativa?
Introdução.
O que existe de tão marcadamente diferente entre esses dois grandes conjuntos de aparências
arquitetônicas, o antigo e o moderno? Ou melhor, por que o senso comum distingue o edifício
moderno dos demais?
A resposta a essas questões exigiria um trabalho de muito maior fôlego. O que quero discutir
aqui é a importância que se dá às aparências – ou ao visual - quando se examina o objeto
arquitetônico. A chegada da arquitetura ao mundo visual se dá através de desenhos, maquetes
ou de técnicas digitais. Nesse momento ela é apenas uma representação daquilo que pode vir a
ser. Sua existência se efetiva no instante em que ela se torna um edifício, um objeto presente
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no mundo com um uso prático e apoiando-se em técnicas construtivas. Entretanto, o valor da
arquitetura - o conjunto de atributos que a tornam célebre - reside, na maioria absoluta dos
casos, nos seus aspectos visuais: suas aparências. São as aparências - que alguns chamam de
"forma", outros de "plástica", outros tantos de "configurações volumétricas" - que distinguem
os edifícios e permitem-nos agrupá-los em estilos e tipologias.
Mas a gênesis da arquitetura, sua razão de ser, decorre da espacialidade inerente ao ser
humano. Todas as ações humanas ocorrem no espaço. Homem e espaço são entidades
indissociáveis no mundo, conforme nos ensina HEIDEGGER (1962) O espaço pertence à
essência do ser e incorpora todas as necessidades, expectativas e desejos que fazem parte da
existência humana.
Entender essa relação entre existência e espaço é fundamental para a compreensão do espaço
arquitetônico pois, na sua lida no mundo, o sujeito/corpo faz acontecer o evento e produz o
lugar. O processo de criar e modificar lugares para propósitos sociais é dinâmico e dialético.
As formas arquitetônicas são moldadas na experiência vivida do espaço e do tempo
A arquitetura tem, inegavelmente, uma dimensão simbólica que fala à nossa sensibilidade.
Por isso ela também é arte e, como tal, se manifesta visualmente. Mas a arquitetura não é só
arte. Ela tem uma dimensão utilitária e um valor de troca. Além disso, ela demanda técnica
para se corporificar e por isso a dimensão tecnológica lhe é imprescindível. Podemos dizer
que o objeto arquitetônico é fruído na sua dimensão artística, usufruído na sua dimensão
utilitária e construído na sua dimensão tecnológica. E essas três dimensões se constituem no
decorrer do processo social, como a história nos ensina. A forma arquitetônica é, portanto,
mediadora das relações sociais e só pode ser compreendida nessa relação.
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industriais. Em 1910, com a Faguswerk, o jovem aluno de Behrens, Walter Gropius, dá um
passo fundamental em direção a uma articulação simbólica da arquitetura com a produção
industrial.
Para Steven Connor 1 o que se faz em arquitetura é muito mais conspícuo do que os feitos de
outra esfera cultural qualquer. Isso porque a arquitetura vai logo para as ruas e se submete ao
escrutínio público, seja ele erudito ou popular. A arquitetura, uma vez criada, passa a
pertencer à cidade, a compor um espaço que é público e que é fruído por todos.
A sobrevalorização dos aspectos visuais – que eu chamei de Mito das Aparências em outro
ensaio – tem início no Renascimento: nos edifícios eclesiásticos, a dimensão artística se
impõe às necessidades funcionais da liturgia. Representar os ideais platônicos de beleza passa
a ser a prioridade, em detrimento da ritualística do culto. A dimensão tecnológica é invocada
para reafirmar a centralidade do templo e erigir as majestosas cúpulas que marcarão a sua
presença. O arquiteto se afasta do canteiro de obras e se constitui no mestre do desenho, o
mago das aparências.
1 CONNOR, Steven. Postmodernist culture: an introduction to theories of the contemporary. Oxford: Basil
Blackwell Ltd, 1990. p. 66.
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Nos neo-ismos. do Século XIX a aparência se degenera em simulacro. Os arquitetos, que já
haviam abandonado o canteiro de obras, não mais dominam as técnicas de construção. A
dimensão tecnológica se afasta da dimensão de uso e passa a atender apenas ao simbólico,
como no tempo das catedrais. Não há mais correspondência entre o usufruir e o construir. A
arquitetura, enquanto totalidade, está praticamente morta.
Como a arquitetura, uma vez construída, está nas ruas, essa face pública logo se torna
popular. Foi por isso que a arquitetura pós-moderna foi o primeiro pós a ganhar as páginas
dos jornais. Ela como que solidificou um conceito, transformando-se em metáfora da
condição pós-moderna.
Em 1977 Charles Jencks anunciou a morte da arquitetura moderna, no seu livro The language
of post-modern architecture. Endossando a controvertida teoria de NEWMAN (1973) sobre a
relação da criminalidade com a forma arquitetônica, Jencks culpa a arquitetura pelos males
que, na raiz, pertencem ao desemprego, à pobreza e à discriminação racial. Males, enfim, que
pertencem à sociedade capitalista, de cujas relações a arquitetura é meramente um mediador.
Nietzsche, Foucault, Lyotard e outros críticos da era moderna dizem que o projeto moderno,
uma vez sendo de natureza totalizadora, torna-se um projeto para controlar o poder político,
produzindo um elenco de instituições, práticas e discursos cujo objetivo primeiro é legitimar
seu próprio modo de dominação e controle.
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Observe-se que, enquanto o modernismo é definido a partir da modernidade, isto é, ele surge
de um corpus teórico que se constitui desde o Renascimento ao Iluminismo, o pós-
modernismo é que vai definir a pós-modernidade. Nesse aspecto, pós-modernismo não é um
movimento pró, mas uma reação contra e, assim sendo, torna-se muito difícil demarcar o seu
território e distinguir os seus fundamentos.
1 - Novos requisitos programáticos, uma vez que o capitalismo industrial criou uma
expressiva classe média e uma grande demanda por escritórios, lojas, escolas, bibliotecas,
estações ferroviárias, túneis, pontes, aeroportos e tudo o mais.
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A ordem moderna, constituída de elementos geométricos simples e desprovida de
ornamentos, foi feita à imagem e semelhança, não de uma Antigüidade distante, mas de um
mundo presente e tangível: as máquinas industriais. Afinal, numa máquina, nada é supérfluo.
Cada peça tem sua razão específica de ser, tem uma função singular a executar. Na máquina
não existe - nem pode existir - nenhuma engrenagem para enfeite, nenhum parafuso
decorativo. A estética da máquina - sua aparência para o mundo - é ela própria, tal como é, tal
como precisa ser. A máquina não é para ser apreendida pelos sentidos, mas para servir a uma
necessidade. Sua beleza reside na sua capacidade de servir. Foi essa analogia que os
modernistas tentaram e, aqueles de talento, conseguiram.
Para Habermas (1984), a face verdadeira da arquitetura moderna não se revela nas atrocidades
cometidas pelos especuladores imobiliários do pós-guerra. Essas são apenas interpretações
mal feitas e ultrajantes do verdadeiro espírito moderno.
O Pós-Modernismo Historicista.
Os primeiros fundamentos teóricos que serviram de base para a proliferação desse revival
foram estabelecidos pelo arquiteto americano Robert Venturi, em 19663, no seu livro
Complexity and contradiction in architecture, no qual ele apresenta uma série de
“preferências visuais em oposição ao modernismo.” Mais tarde, em 1972, em parceria com
Denise Scott-Brown e Steven Izenour, Venturi lança um novo livro, Learning from Las
Vegas, advogando o retorno à cultura popular através do uso de imagens e técnicas “pop” 4.
Entretanto, o maior protagonista da nova tendência veio a ser Charles Jencks com o seu livro
The language of post-modern architecture, no qual ele discute os possíveis fundamentos do
que seja essa nova linguagem.
3 VENTURI, Robert. Complexity and contradiction in architecture. New Tork: Museum of Modern Art,
1966.
4 VENTURI, Robert, SCOTT-BROWN, Denise e IZENOUR, Steven. Learning from Las Vegas.
Cambridge, Mass.: MIT Press, 1972.
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No Brasil, algumas notáveis manifestações pós-modernistas estão em Minas Gerais,
protagonizadas por Éolo Maia, Silvio Podestá e Jô Vasconcellos. Esses arquitetos aderiram
com muita criatividade e bom gosto ao pluralismo estético dos anos 70 e 80. A viva coloração
tropical que imprimiram às suas obras certamente contribuiu para aproximá-las do gosto
popular.
O High-Tech.
O Desconstrutivismo.
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A primeira sensação que se tem ao se examinar um projeto de Eisenman, Coop Himmelblau,
Frank Gehry, Zaha Hadid, Rem Koolhaas e de outros arquitetos que se alinham aos
desconstrutivistas, é que tudo está fora de alinhamento. Os pilares se desmodulam, as vigas
fogem dos apoios, as paredes resistem à verticalidade, as lajes se dobram e desdobram para
não serem mais planas e a ortogonalidade dos espaços é radicalmente banida. Os eixos, esses
são explícitas referências ante-cartesianas e sempre estão presentes na composição
arquitetônica, em alguma direção tomada somente para assegurar que nada combine a 90o.
Aplicadas com gosto, essas regras produzem edifícios desconcertantes e de grande apelo à
imaginação. Sua aplicação é simplificada pelo uso do computador. Talvez a computação
gráfica esteja para o desconstrutivismo assim como a geometria plana esteve para o
Renascimento, e o desenho projetivo para o neoclassicismo.
As formas desconstrutivistas, ao contrário das modernistas, não têm mais compromisso com a
racionalidade construtiva, a lógica estrutural e a organização espacial hierárquica. Essa radical
autonomia da forma é a estetização da arquitetura levada ao extremo.
Conclusão.
Se aceitarmos a tese de que o objeto arquitetônico é o mediador das relações sociais, além de
ser uma totalidade de fruição, usufruto e construção, muitas perguntas teremos de fazer sobre
o tempo e o mundo em que vivemos para criarmos os seus objetos de mediação. O
movimento moderno conseguiu somar, com rara felicidade, a dimensão funcional `a dimensão
tecnológica e retirar dessa soma um novo código estético, em estreita harmonia com a
subjetividade que despontava no Século XX. Tirou suas formas da base material e dos
problemas que o meio social lhe apresentava, tendo sido, sem dúvida, uma das empreitadas
mais bem sucedidas da arquitetura ocidental. Daí a dificuldade de ultrapassá-lo, sem voltar
aos simulacros de cento e poucos anos atrás. Daí a necessidade de aprendermos suas lições.
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ser criadas. Não sabemos, ainda, quais são as espacializações da sociedade da informação.
Quais são os novos programas, se é que são realmente novos. O problema não está sequer
formulado, portanto, não pode ser resolvido. No mundo globalizado, as diferenças abissais
entre paises ricos e pobres não permite mais o florescimento de um estilo internacional. O
concreto, o aço, o vidro, a cerâmica eram materiais acessíveis à França, à Índia, ao Brasil e
aos países africanos onde o suíço Corbusier deixou suas marcas indeléveis. O que dizer das
chapas de titânio, das cortinas de cristal, das fibras de carbono e das ligas leves? Diante da
estupefação que nos causam as maravilhas da tecnologia, criamos formas desespacializadas,
mimetizando um mundo virtual onde o espaço não mais importa. Nesse processo,o espaço de
nossa experiência, o espaço vivido, é substituído por alegorias computadorizadas, primas
irmãs dos simulacros do Século XIX. Espero que, como aqueles, estejam prenunciando uma
nova ordem arquitetônica, que dará fim ao delírio e lugar para um mundo melhor.
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