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Engana-se, no entanto, quem pensa que a ideia de misturar PET e ouro é recente. “Há
muito tempo atrás eu fiz umas flores de garrafas PET e as deixei num cantinho de casa
por onde eu passo”, conta Junia. “Sempre que eu olhava pra elas eu dizia ‘ainda vou
fazer uma coleção de flores de PET’. Quando eu contava essa ideia para os amigos, eles
respondiam que já achavam um pouco demais (risos). Mas eu insisti.” Sua mais nova
coleção está fazendo o maior sucesso, em parte por estar sendo usada pela personagem
da atriz Isis Valverde na novela Ti Ti Ti, além de atrair a atenção de curiosos e
interessados pelo tema da sustentabilidade. “As pessoas têm um certo preconceito em
comprar jóia com material alternativo porque dizem que o ouro fica, mas o material
alternativo vai se desfazer, têm medo de perder a peça. Outro dia perguntaram para mim
se as peças dessa coleção tem alguma durabilidade e eu respondi: 100 anos (risos).”
Junia inspirou-se nas catadoras de lata de Tiradentes, que recortam e fazem flores com o
material, para produzir esta coleção de PET. Ao fazer várias folhas com os plásticos de
garrafas de diferentes cores e colocá-las sobre uma folha de ouro, ela mudou o conceito
não só de jóia, mas também do PET. “Agora o PET não demora 100 anos para se
decompor, ele dura 100 anos”, comenta.
Arte social
Junia pensava em procurar um parceiro para a implantação de uma oficina de artesanato
e produção dessas joias em uma comunidade carente. “Eu já tive uma oficina de
artesanato no morro Santa Marta há 15 anos. Foi uma experiência marcante na minha
vida e eu sempre dizia que um dia iria retomar.” Ao apresentar sua ideia ao Instituto
Coca-Cola Brasil, ela rapidamente foi vinculada ao programa Reciclou, Ganhou, que
estimula a reciclagem de embalagens e apoia as cooperativas de catadores.
A parceria entre Junia e o Instituto Coca-Cola Brasil chegou bem a tempo, pois a
personagem de Isis na novela estava ganhando cada vez mais destaque no fim da trama,
que tinha apenas mais três meses no ar – as novas peças da coleção a serem usadas na
frente das câmeras tinham que ser produzidas rápido. Foi nesse momento que a
Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho, no município
de Duque de Caxias (RJ), passou a fazer parte desta história de sucesso. “A oficina de
artesanato em Gramacho começou com três aulas por semana. Levei metade de minha
equipe de ourives e ficamos ‘acampados’ lá para ensinarmos a confeccionar as peças.”
(…)
Com a ajuda de uma orientação pedagógica, Junia teve 10 dias para ensinar as catadoras
interessadas no projeto, reconhecer talentos para cada função, capacitá-las e iniciar a
produção das peças. “Eu e minha equipe fomos para Gramacho, onde o Tião (Tião
Santos, presidente da ACAMJG e líder do Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Reciclados) já tinha selecionado algumas pessoas. Antes disso, ele havia
perguntado como é que iria reconhecer alguém com habilidade para esse tipo de
trabalho. Eu falei para ele perguntar para as pessoas: ‘Sabe pregar botão? Se souber
pregar botão, eu ensino a fazer flor.’”
O grupo de 10 pessoas que Tião havia reunido aprendeu rápido a fazer flores e outras
peças de PET com Junia e sua equipe A primeira turma já encerrou e as catadoras, agora
capacitadas para a atividade, estão produzindo novas joias com os moldes da designer
para sua coleção. “Acredito que elas ganharão mais do que pretendem porque, com o
tempo, elas vão ganhando prática e produzindo mais. Outro projeto será um encontro
periódico onde faremos um laboratório de criação juntas. Trocaremos ideias e criaremos
outras coisas que possivelmente podem ser encaixados na minha linha de produção ou
não. Elas também têm total liberdade de criar outras coisas e fazer uma linha delas e
vender para outras pessoas.”
O que parecia estranho à primeira vista, transformar PET em joias com a ajuda de
catadoras, tornou-se uma realidade. As catadoras ganharam uma renda extra com o
artesanato das joias, uma atividade que se mostrou prazerosa quando se está interessado
em aprender – até mesmo o próprio Tião e o secretário geral da ONG Doe Seu Lixo,
Julio Santos, em uma visita à Gramacho, arriscaram, e conseguiram, fazer uma flor de
PET. “O próprio Tião não pensava que as pessoas de lá fossem aprender tão
rapidamente”, comenta Junia. “Mesmo achando que não seria a praia deles, ele foi
muito gentil e parceiro em abrir as portas para o projeto. Ele está muito orgulhoso das
meninas e até me deu a flor que ele fez!”
A partir destas ideias promissoras, o céu é o limite para Junia e as novas artesãs de
Gramacho. “Eu comecei a dedicar minha criatividade a isso há muito pouco tempo e a
cada momento que passa eu tenho mais ideias”, comenta. “Nosso curso foi muito bem
sucedido, parecia que era uma daquelas ideias que estava só esperando por nós para
acontecer. Vamos aprendendo com a experiência para fazer o curso se replicar,
envolvendo cada vez mais pessoas para aprender não só a arte, mas também sobre o
lixo, que foi o que aconteceu comigo e com minha equipe. As trocas, o maior
aproveitamento possível do material, a sustentabilidade do planeta, transformando nosso
cotidiano mais confortável e mais belo.”.
http://www.institutococacolabrasil.org.br/not_entrevista_juniamachado.htm
B) Quais paralelismos podem ser feitos entre a forma de criar de Junia Machado
e as da antropofagia e do tropicalismo?
D) O fato de as artesãs verem “com outros olhos” o lixo é suficiente para que ele
se torne luxo? Justifique. (1,0)
5) Tomando por base o livro Indústria cultural, identifique como, por meio desse
projeto de Junia Machado, o trabalho das artesãs se integra e se insere no modo
de produzir da indústria e da indústria cultural? Caso as artesãs queiram se
inserir na indústria e indústria cultural de modo autônomo (ou seja, sem o
auxílio de Junia Machado), quais serão as dificuldades nesse sentido? (1,0)