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A Escravidão Contemporânea no Brasil: de 1985 a 2009

A força do latifúndio, que se expressa na chamada bancada ruralista do Congresso, representa um


impasse a qualquer medida mais séria – a aprovação da PEC 438, por exemplo, que prevê a perda da
propriedade envolvida no trabalho escravo - e ri do sonho de Sérgio Buarque de Holanda que
imaginava ter a lei abolicionista de 1888 “tornado impotentes” os “velhos proprietários rurais”
(Holanda, 1995: p. 176). Os velhos renasceram nos novos, na pecuária moderna e no conjunto de
empresários do agronegócio. A força do pensamento ruralista encontra guarida não só no Congresso,
mas nos demais poderes e nos meios de comunicação social. Aliás, esta força se expressa na
promiscuidade de autoridades com a escravidão, ou porque se encontram diretamente envolvidas, ou
porque são coniventes. De uma forma e de outra, o crime, no caso, passa a ser endógeno ao Estado

Introdução
No Brasil, 121 anos após a promulgação da Lei Áurea, a escravidão, mesmo se ilegal, persiste de nova
forma, com novo rosto. E isso é confirmado na área rural e na área urbana pelo volume de
publicações e noticiários em diversos meios de comunicação social e pelo número dos libertos
revelados pelas autoridades. Dada a persistência do problema, os caminhos de solução parecem
insuperáveis. Mas quais são os caminhos trilhados para seu combate ou erradicação?
Durante a ditadura, a ação do Estado era irregular, sem um plano nacional de combate ao crime e
mesmo sem um reconhecimento formal sobre sua existência; o pouco que era feito dependia de
ações executadas esporadicamente pela Polícia Federal (PF). Não é sem razão, pois, que a
antropóloga Neide Esterci constatou, em suas pesquisas que já nos anos 1960, antes pois das
conhecidas denúncias formuladas nas décadas seguintes por agentes pastorais, como dom Pedro
Casaldáliga, “quem com maís frequência infomava sobre essas práticas no País eram membros da
própria Polícia Federal” (2004: p. 22).
É verdade que as informações a respeito do crime são bem anteriores. Desde meados do século XIX, é
possível encontrar quem escrevesse a respeito (Davatz, 1980). No mais, os auditores fiscais da
Delegacias Regionais do Trabalho, mesmo ao assinalarem minuciosamente o que haviam encontrado
nas fazendas - homens armados intimidando trabalhadores, espancamentos e assassinatos de pessoas,
o sistema de endividamento presente no trabalho, situações degradantes de moradia e alimentação -
muitas vezes concluíam não terem encontrado indícios de escravidão. Naturalizavam as violações dos
direitos contra a pessoa, ao registrarem que tais eram a modalidade comum do trabalho e as
condições de vida dos assalariados na região.
Raramente havia inquéritos policiais e, algumas vezes, a própria polícia do estado se envolvia,
favorecendo empregadores, e os Procuradores e o Poder Judiciário eram omissos. No atual município
de Floresta, no sul do Pará, por exemplo, no início da década de 1990, trabalhadores ao tentarem
escapar de uma fazenda, foram presos pela polícia que pretendia devolvê-los ao empreiteiro. Não o
fez porque houve reação de uma agente de pastoral que morava na comunidade. Em outro caso, a
polícia, no município de Redenção, ao ser comunicada que um trabalhador havia sido assassinado na
fuga do trabalho escravo, recolheu e sepultou o morto. Apesar de ter encontrado os documentos da
vítima junto ao corpo, no registro de óbito consta a palavra “Cachorro”. Assim a humanidade do
trabalhador não só era na prática desdenhada, pelas violências físicas sofridas, mas simbolicamente
representada atrás da ocultação da identidade e da transmutação de gente para cachorro.
Contudo, como se manifesta a pressão social e a resposta do Estado a partir da chamada Nova
República? Na tentativa de compreendê-lo vamos dividir o período em três momentos, mesmo
sabendo que não são rígidos e, em certos momentos, um período pode penetrar e se confundir com
outro. A divisão será esta: a) de 1985 a 1994; b) de 1995 a 2002; c) de 2003 a 2009.

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