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Organização:
Elisabete de Oliveira Costa Santos
Sílver Jonas Alves Farfán
JUAZEIRO/BA
Abril de 2008
Fórum do Território Sertão do São Francisco
Núcleo Executivo:
Articulação Sindical Rural da Região do Lago de Sobradinho – ASS
Associação dos Vereadores da Borda do Lago de Sobradinho – A VEBLASA
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA
Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais – SASOP
Instituições Animadoras:
Articulação Sindical Rural da Região do Lago de Sobradinhho – ASS
Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA
Articulador:
João Régis da Silva Neto
Consultor:
Cláudio Gustavo Lasa
Organização:
Elisabete de Oliveira Costa Santos
Sílver Jonas Alves Farfán
Fotos Capa:
João Zinclar, Arquivo IRPAA, CODEVASF.
Revisão:
Valdelice Leal Rodrigues
Diagramação:
Lourival Rodrigues de A. Neto
Impressão:
Gráfica Franciscana
SUMÁRIO
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principalmente para o Programa de Aquisição de Alimentos da CONAB, onde a
produção é fornecida como complemento à merenda escolar, creches e hospitais. A
Rede é articulada com o CONSEA/BA, que conseguiu recentemente a isenção do
ICMS nas operações institucionais. Os problemas desse sistema produtivo estão
associados ao pouco aproveitamento da produção, colheita predatória, baixos preços
da fruta in natura praticados pelos atravessadores e à ausência de investimentos do
Governo nas várias etapas desse sistema produtivo: produção, processamento e
comercialização.
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1 - INTRODUÇÃO
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estaduais, federais e organizações da sociedade civil. Naquele evento, sob a
orientação de representantes do MDA e da FAO, foram constituídos o Fórum Territorial,
composto por quarenta instituições (vinte e duas da sociedade civil, dezoito do poder
público), o Núcleo Diretivo, Eleição de instituições para execução das atividades de
animação, pesquisa e diagnósticos, territorial com o objetivo principal de construir o
Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável. Naquele momento também foi
eleito um articulador territorial, que junto com as instituições indicadas posteriormente
foram contratadas pela FAO para receberem apoio e exercerem seus papéis.
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2 - TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE
ESTADO DA BAHIA
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3 - TERRITÓRIO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO
O Território Sertão do São Francisco localizado no norte da Bahia tem o Rio São
Francisco como principal elemento geográfico, histórico, social, econômico e cultural,
um dos marcos da sua identidade, junto com a cultura sertaneja e catingueira, Figura 2.
O leito do rio corta o Território de ponta a ponta, são 420 km percorrendo o Território. Por
causa da construção da Barragem de Sobradinho e a formação do Lago a região ficou
subdividida em duas partes, acima da barragem onde estão os municípios de Casa
Nova, Sento Sé, Remanso, Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes, e abaixo da
barragem onde estão os municípios de Sobradinho, Juazeiro, Curaçá, Uauá e
Canudos. Desses municípios apenas Campo Alegre de Lourdes, Uauá e Canudos não
são banhados pelo Rio São Francisco, e no caso de Canudos, este pertence à bacia
hidrográfica do Rio Vaza Barris.
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O Território tem como característica apresentar apenas um rio permanente, o Rio São
Francisco. O Rio Salitre até uns 50 anos atrás era um rio perene e de lá para cá se
tornou temporário, mostrando a grande fragilidade ambiental a que está sujeito o bioma
do Território. O Rio Vaza Barris é um rio temporário que nasce em Canudos e só é
perene no seu baixo curso por sofrer influência das marés.
Existem inúmeras ilhas no leito do Rio São Francisco, umas habitadas outras não.
Algumas delas são ocupadas por tribos indígenas. Em Juazeiro as ilhas são
frequentemente cultivadas e freqüentadas por turistas, sendo as principais a Ilha
Massangano, Ilha do Rodeadouro e Ilha da Amélia. A Ilha do fogo fica em frente à
Juazeiro e apóia a ponte Presidente Dutra que liga Juazeiro a Petrolina, é a principal via
de ligação de Juazeiro com os municípios de Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e
Campo Alegre de Lourdes, além de permitir o fluxo de transporte que vem do sudeste
para boa parte do Nordeste e o Norte.
Fotos: CODEVASF
Figura 2. Imagens da identidade sócio-cultral no Território Sertão do São Francisco.
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O Lago Sobradinho foi concluído na década de 70 e teve um período de grande
produção de peixe, atraindo pescadores de várias regiões do Nordeste. Após esse
período houve uma redução drástica da produção do lago, que frustrou investimentos,
tais como os terminais pesqueiros de Pilão Arcado e Remanso. A crise produtiva do lago
muito provavelmente foi devido à grande pressão de pesca, a uma esperada
estabilização produtiva do lago e a interrupção da piracema, devido à barragem não
conter escada para os peixes.
A região de sequeiro, que ocupa a maior parte das áreas do Território, caracteriza-se em
grande parte por agricultores e criadores que possuem minifúndios e utilizam
coletivamente áreas abertas para o pastoreio do gado caprino, ovino e bovino, e são
áreas chamadas de fundo de pasto. Essa forma de uso coletivo da terra Prática foi
desenvolvida durante a história da ocupação dos sertões, principalmente após a
quebra do ciclo da cana-de-açúcar no Agreste pernambucano e a migração das
atividades para o sudeste.
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O sistema tradicional de uso comum de terras em Fundos de Pasto é um sistema
reconhecido na Constituição do Estado da Bahia de 1989, Artigo 178. Representa um
modo eficaz de convivência de milhares de famílias do Semi-árido baiano. Através da
prática agrosilvopastoril, do extrativismo, da pequena agricultura, da religiosidade, das
relações entre famílias e comunidades, foi possível construir uma cultura que, por si só,
expressa a alma da comunidade sertaneja, além de assegurar a dignidade e o direito de
viver na terra. Hoje existem no Território aproximadamente 226 associações de fundos
de pasto regularizadas e procurando adquirir o direito das suas terras tanto para uso
coletivo como individual. A forma de ocupação e utilização das terras em fundos de
pasto caracteriza o Território e mostra caminhos para definições do aspecto fundiário na
região.
Na divisa com o Piauí fica a Serra Dois Irmãos, limite divisório dos Estados e que ao
mesmo tempo define uma realidade semelhante dos dois lados, são regiões periféricas
e excluídas da maioria das políticas sociais, de saúde e educação, que acontecem nas
sedes dos municípios e no município pólo da região, Juazeiro. Nesta Serra que vai de
Casa Nova a Campo Alegre de Lourdes, margeiam pelo lado do Piauí vários municípios
menores que se assemelham pelo alto grau de exclusão.
A calha do Rio São Francisco abriga a região ribeirinha onde a agricultura de vazante e
a pesca são as atividades principais e mais antigas da região. Além dessas atividades o
rio foi o primeiro meio de transporte que serviu à colonização do interior do Nordeste. A
pesca artesanal movia-se em sincronia com as grandes e pequenas cheias do Rio, as
várzeas e lagoas marginais funcionando como berçários naturais para a reprodução
dos peixes que subiam na piracema.
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caatinga, poluição das águas com agrotóxicos, metais pesados, e desequilíbrios
químicos decorrentes da agricultura e dos esgotos urbanos ao longo do rio.
As principais estradas da região são precárias e ligam apenas sete municípios, sendo
elas: Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Sobradinho Juazeiro e Curaçá, ficando
Campo Alegre de Lourdes, Canudos e Uauá, atendidas por estradas de terra nem
sempre preservadas. As estradas asfaltadas são precárias porque não dispõem de
acostamento, são pavimentações de segunda qualidade com piche e areia, de modo
que requerem reparos anuais, pois não resistem às chuvas nem ao transporte pesado,
além de apresentarem irregularidades que as tornam perigosas. A única BR
pavimentada que passa pelo Território e que mesmo assim têm problemas de
manutenção serve apenas à Juazeiro, fazendo a ligação com Salvador e interligando à
Petrolina. As estradas vicinais nos municípios que ligam às comunidades rurais se
encontram geralmente em péssimas condições de conservação, o que dificulta o
acesso e o escoamento da produção.
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4 - ESTUDO DAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS–EPE PARA O TERRITÓRIO
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5.1 - Estrutura Fundiária e Reforma Agrária
A questão fundiária é uma questão bastante polêmica não só na região do TSSF, mas
em todo o país. A garantia da terra e em quantidade suficiente é a base para a
Convivência com o Semi-árido e para qualquer desenvolvimento sustentável. Existe no
Território uma série de dificuldades provocadas principalmente pela má distribuição das
terras, que favoreceu desde a ocupação portuguesa a formação de latifúndios, em
contraposição aos minifúndios ocupados pela maioria dos agricultores familiares.
São duas realidades bastante distintas, as áreas irrigadas que se concentram às
margens do Rio São Francisco e as áreas de sequeiro utilizadas principalmente para a
criação de caprinos e ovinos. Segundo o Zoneamento Agroecológico desenvolvido pela
EMBRAPA o uso das terras do Semi-Árido deve ser da seguinte forma:
– 4% para irrigação
– 16% para agricultura de sequeiro
– 44% para extrativismo e pecuária com animais de médio porte
– 36% para áreas de extrativismo e reserva ambiental obrigatória por não ter aptidão
natural para agropecuária.
O documento “Fundo de Pasto que Queremos”, 2005, descreve que “Os Fundos de
Pasto” constituem um sistema de ocupação coletiva de terras por comunidades usadas
em pastoreio extensivo e hoje semi-extensivo, área livremente utilizada por
condôminos, ausência de delimitação com cercas e sim por variantes, residências
típicas do sertão nas áreas das posses individuais, roçados de subsistência individuais
de cada família, forte grau de parentesco e compadrio ente os membros das
comunidades, características culturais próprias de cada comunidade: festas,
artesanato, rezas e o cuidado com a caatinga e animais.
Esta ocupação dá-se na forma de Sistema Agrosilvopastoril e é de fundamental
importância para milhares de famílias (estima-se em mais de 20.000) de agricultores da
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Bahia, mais precisamente nas regiões norte-nordeste e baixo médio São Francisco.
Esse formato de ocupação concorre decisivamente para a viabilização da economia
familiar nessas micro-regiões e para a manutenção de um modo de vida nascido da
relação destas comunidades com o clima semi-árido.
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Fotos: CODEVASF, IRPAA.
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Segundo dados da CDA, INCRA e IBGE, 55,10% das terras da Bahia são devolutas,
isto é, terras públicas mas que não estão registradas em nome do Estado. No caso do
Território do Sertão do São Francisco, esse percentual é de 78,12%, porque, ainda
segundo a CDA, dos 6.174.600 hectares correspondentes a área total dos dez
municípios, apenas 1.350.937 (21,87%) estão “legalizados” (propriedade privada,
propriedade do Estado da Bahia ou da União); 4.823.663 de hectares são terras
devolutas, o que pode ser observado na Tabela 1.
Estão cadastradas na CDA 226 associações de Fundo de Pasto, sendo que grande
quantidade delas (68) está em Uauá, e a menor (02), em Sento Sé, e o total das áreas
por elas ocupadas (202.771ha) corresponde a 4,20% das terras devolutas existentes
no Território, Tabela 1.
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Por outro lado a concentração fundiária não foge à realidade estadual e nacional, ou
seja, existem muitos minifúndios ocupando a menor parte das terras e uma pequena
quantidade de latifúndios ocupando a maior parte das terras, como pode ser visto na
Tabela 2 que trata da distribuição de imóveis rurais registrados e concentração
fundiária. Se o fato de existir muita terra devoluta facilita a utilização das terras em
regime de fundo de pasto, por outro lado esse mesmo fator facilita a apropriação
indébita dessas terras por grileiros, do que pode ser deduzido que a sobra da grilagem e
dos latifúndios oficiais é que vem sendo utilizado em regimes de fundos de pasto. Essa
realidade vem causando conflitos pela terra, entre agricultores e grileiros, os primeiros
vêm atuando organizadamente em associações com apoio das organizações
representativas.
Não raramente esses conflitos resultam até em homicídios, como aconteceu há alguns
anos no município de Curaçá, vitimando agricultores envolvidos na regularização
fundiária de uma área de fundo de pasto. Em outros casos como foi no assentamento
Canaã em Remanso, antes da área ser regularizada pelo INCRA, quando os
acampados tiveram que suportar vários despejos feitos pela polícia a mando da Justiça,
muitas vezes em clima de muita tensão, usando até fogo para destruir os
acampamentos.
Já nas áreas irrigadas a realidade fundiária é muito distinta das áreas de sequeiro. Será
abordado neste estudo como se comportam algumas questões nessas áreas. A
irrigação é um conjunto de tecnologias que possibilita uma maior produtividade em um
espaço mínimo de terra. Na região do TSSF é possível ter até três colheitas ao ano
numa mesma área irrigada.
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Tabela 2. Distribuição em módulos fiscais de imóveis rurais registrados e
concentração fundiária.
Fonte: INCRA.
Para atrair a iniciativa privada o Governo criou projetos pilotos de irrigação constituídos
por lotes familiares de seis hectares, em média, associado ao pacote tecnológico da
revolução verde, baseado no uso de agrotóxicos, adubos químicos e mecanização. O
Governo subsidiou toda a infra-estrutura e a produção. Como resultado inicial os
colonos tiveram sucesso com culturas de ciclo curto e foram atraídos grandes grupos
empresariais, nacionais e internacionais. Com a chegada das empresas de irrigação e
a consolidação da região como um pólo de desenvolvimento, o governo cortou os
subsídios às famílias de irrigantes e “emancipou” os perímetros irrigados, passando a
se dedicar a construir a infra-estrutura (canais, estradas e aeroporto) para atender a
grande irrigação de exportação.
Hoje a realidade dos pequenos irrigantes é dramática, boa parte das terras está
esgotada e já não produz como antes; por conta da interferência direta do Estado as
famílias pouco desenvolveram a cultura do cooperativismo e a profissionalização para
o mercado; é alarmante o índice de câncer na população do pólo de irrigação e fora dos
perímetros onde também pratica a agricultura irrigada, principalmente entre os
trabalhadores rurais. O retrato econômico das famílias de colonos é que estão
endividadas, falidas, contaminadas por agrotóxicos e sem perspectivas, mesmo tendo
terra e água. Os jovens das áreas irrigadas abandonam a propriedade e buscam
subempregos na cidade. No vale existem aproximadamente 15 mil famílias irrigantes,
destas, 80% devem ao banco e apenas 10% têm a propriedade agrícola como única
fonte de renda.
Por outro lado é grande a pressão das famílias sem terra para conseguirem uma área
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irrigada. Em especial o MST tem reivindicado novos projetos de irrigação familiar. O
governo vem planejando o investimento em grandes projetos de irrigação para grandes
empresas como é o caso do Projeto Salitre e o Projeto Pontal, transposição do Rio São
Francisco, construção de grandes barragens em Curaçá, a expansão de empresas
agrícolas, principalmente com monocultura (cana-de-açúcar) sugerem a utilização de
mão de obra barata das famílias sem terra. O avanço desses grandes projetos contribui
para a degradação ambiental e a expulsão das famílias rurais de suas terras,
aumentando a concentração fundiária.
Apesar das dificuldades a região tem um grande potencial social que são as
associações, cooperativas e o movimento Sindical, que constituem atores sociais
fundamentais para discutir propostas de produção, de comercialização e regularização
fundiária.
O principal movimento de luta pela terra com a política de assentamento na região é o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Parte dos assentamentos já
tem o Plano de Desenvolvimento do Assentamento - PDA elaborado, mas ainda não
foram executados, na maioria falta água, falta assistência técnica, crédito, etc. Em
relação aos acampamentos a situação ainda é mais complexa.
O Projeto de Assentamento Bangüê, em Curaçá, com 40 famílias assentadas em 5.600
hectares, sendo 140 hectares por família é uma novidade nesse contexto. O PDA
construído através de convênio com o IRPAA, já encontra-se em fase de implantação.
Neste assentamento a habitação, água e energia encontram-se contemplados através
do Programa Operacional 2006 do INCRA, sendo que a energia faz parte do programa
“Luz para Todos”. Esse assentamento se diferencia de outros já instalados na região
devido ao maior número de hectares para cada família, o que se justificou devido à
qualidade da vegetação da caatinga e do solo da região do assentamento, porém o
INCRA demonstra resistir em concordar com esse critério, justificando sua opinião por
causa da grande pressão das famílias sem terra. É uma discussão entre qualidade de
reforma agrária e quantidade de famílias assentadas.
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5.2 - Fundos de Pasto no Território Sertão do São Francisco
A ocupação histórica das terras no norte do estado da Bahia é marcada por um sistema
de uso comum das terras, os denominados Fundos de Pasto que representa também
uma forma de resistência e lutas pela posse da terra por parte dos pequenos produtores
rurais.
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tradicionais; convênios com INCRA e CDA; convênios para implantação de infra-
estrutura para as áreas; fortalecimento das mobilizações; entrega de títulos coletivos
(municípios de Canudos mais de 40% das associações já receberam); criação de um
Núcleo de referência dos Fundos de Pastos no INCRA em Salvador, e construção e
elaboração do Projeto Fundo de Pasto que queremos.
Entretanto, mesmo reconhecido por Lei, os Fundos de Pasto sofrem com programas
governamentais que vão contra a lógica de ocupação e produção em sistemas de
Fundo de Pasto, a exemplo do Programa Minha Roça, do governo estadual que
promoveu a titulação individual das áreas sem considerar a realidade dos Fundos de
Pastos, desarticulando a dinâmica das associações, acabando por reforçar o
minifúndio até mesmo o latifúndio.
Nesse contexto mais amplo, se faz necessário uma maior participação das associações
de Fundo de Pasto nas políticas de desenvolvimento territorial, através do Fórum do
Território Sertão do São Francisco para defender suas demandas e seus pleitos.
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cidades fora da sua margem, como a sede de Campo Alegre de Lourdes. O retrato mais
fiel desse contraste são as comunidades a poucos quilômetros do rio que não tem
acessos à esse bem essencial.
Dentre outras barragens de menor porte está o açude Pinhões, no interior de Juazeiro,
no Rio Curaçá e o açude Cocorobó, em Canudos no Rio Vaza Barris. Além desses
açudes existe uma quantidade desconhecida de outras pequenas barragens e uma
quantidade ainda maior de barreiros e caldeirões de pedra, construídos por iniciativas
individuais e de comunidades, onde os lajedos propiciam essa estratégia. Existem
algumas barragens subterrâneas em funcionamento no Território, nos municípios de
Curaçá, Uauá e Canudos. Será necessário fazer posteriormente um levantamento
completo desses recursos hídricos superficiais.
Devido à esse quadro pouco democrático de distribuição das águas, durante muitas
décadas, a distribuição de água ainda é feita através de carros pipas, um instrumento
de dominação política utilizado nos municípios do Território. Na década de 80,
paróquias, diocese e Ong´s deram início a construção das cisternas familiares para a
captação das águas das chuvas, o que tem causado algumas modificações nesse
cenário de dominação. As iniciativas de construção de cisternas se multiplicaram,
sobretudo nos últimos 10 anos como será demonstrado a seguir.
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disponíveis para a construção desses reservatórios, sendo as principais: a cisterna de
placas no modelo “Pintadas”; a cisternas de tela e arame e; cisterna de Alambrado,
sendo as duas últimas desenvolvidas pelo IRPAA.
Os subsolos da maior parte do Território são cristalinos, ou seja, rocha primária, que
conseguem reter água da percolação das chuvas, apenas nas suas fendas, portanto,
em pequenas quantidades e sujeitas a concentração de sais devido ao contato com as
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rochas. Essa é a causa da grande quantidade de poços abertos que contém água sem
condições de consumo. As águas subterrâneas são pouco exploradas, existindo
aproximadamente 904 poços perfurados, entretanto, não se conhece a quantidade
real, nem os que estão instalados e em funcionamento, Tabela 3 a seguir.
Tabela 3. Cisternas familiares, poços tubulares, bomba popular e cisterna calçadão nos
municípios do Território Sertão do São Francisco.
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Embora o Território esteja às margens do maior Rio do Nordeste e do maior lago artificial
do mundo, observa-se que a quantidade de água disponível ainda é insuficiente, seja
para produção agropecuária ou consumo humano.
No Território não falta água, ela existe em abundância, seja da chuva, superficial ou
subterrânea, o que falta são estratégias de distribuição dessa água, em conjunto com
um processo de capacitação em gestão de recursos hídricos, convivência com o semi-
árido e políticas públicas, a exemplo dos programas desenvolvidos pela ASA.
5.4 - Pecuária
Como já foi dito, em grande parte do Território ocorre o uso coletivo de áreas abertas
para pastoreio do gado caprino, ovino e bovino, são as chamadas áreas de fundo de
pasto, que caracterizam o Território e trazem elementos importantes para este estudo. A
participação econômica da pecuária nesses municípios é muito relevante, lidera a
economia no Território. As participações mais significativas do segmento agropecuário
são encontradas nos municípios de Sento Sé (58,4% do PIB é representado pelo setor
agropecuário), Casa Nova (com 46,0%), Remanso (43,8%) e Pilão Arcado (com
44,2%). (SEI, 2000).
30
Guimarães Filho, 2006).
Uma dessas pesquisas conduzidas pela Embrapa Caprinos (Campanha & Holanda,
2007) prevê que: i) “os Campos de Pesquisa Participativa no semi-árido baiano servirão
como referência de manejo da caatinga, para situação regional. A adoção da tecnologia
de manejo da Caatinga, associada ao manejo conservador da pastagem, direciona
para uma exploração pastoril sustentável, capaz de garantir a geração de renda e a
melhoria da qualidade de vida do produtor rural e ii) espera-se que apropriação do
modelo de produção em sistema agrossilvipastoril, por parte dos produtores do semi-
árido baiano possibilite o fortalecimento da agricultura familiar, e a atenuação das
perturbações sofridas pelos sistemas agropecuários em anos de seca, assegurando
condições financeiras necessárias à reprodução social da família e de seus meios de
produção. E ainda, possibilite a diminuição dos processos de degradação ambiental da
caatinga”.
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grandes cidades, em termos de regularidade, qualidade e preço dos produtos cárneos,
o que provoca um desequilíbrio entre a oferta e demanda e, conseqüentemente,
oscilações de preços (Souza, 2007). Por outro lado essa produção atende bem o
consumidor local das cidades de pequeno e médio porte do Território baiano em estudo.
A Bahia possui o maior rebanho do nordeste como pode ser visto na Tabela 4.
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Os três municípios que detêm os maiores rebanhos: Remanso, Casa Nova e Juazeiro
juntos somam mais de 60% dos caprinos, 54% dos ovinos, do total do Território. Já em
relação às aves, Campo Alegre de Lourdes, Sento Sé, Pilão Arcado e Remanso somam
52% do total do Território, Tabela 5.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2005.
Outro tipo de criatório potencial na região que se consorcia com o formato da agricultura
familiar de sequeiro é a criação de abelhas do gênero Apis, a apicultura. A seguir está
colocada a Tabela 6, que mostra a atividade em todos os municípios, com destaque
para Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado e Remanso.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal, 2005.
33
O consumo de carne caprina no Brasil apesar de ser ainda muito baixo, tem
experimentado um incremento animador, principalmente nas grandes cidades.
Enquanto o consumo per capita é estimado em menos de 1,0 kg no Brasil, o consumo
em países Árabes e da Europa varia de 4,0 a 8,0 kg (Dantas, 2001), não se conhece o
consumo per capita no Território, mas pode ser um valor bem elevado devido ao
consumo ser muito popular. Somente nos últimos anos, as carnes ovinas e caprinas
estão sendo encontradas em supermercados, açougues e restaurantes “finos” das
grandes cidades, quebrando o paradigma do consumo apenas rural e em pequenas
cidades do interior (Couto, 2001).
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Tabela 7. Distribuição, quantidade média de peles beneficiadas anualmente e número
de empregados dos curtumes instalados no nordeste.
Para Medeiros (2003 citado por Sousa 2007), a cadeia produtiva de carne caprina no
Brasil é ainda bastante frágil, havendo deficiência de entrosamento e de conhecimento
dos problemas dos diferentes atores em relação às dificuldades das diversas áreas que
compõem a cadeia. Para o Território essas afirmativas se verificam a partir da ausência
de uma assistência técnica mais constante, ausência de estruturas de abate, projetos
de fornecimento organizados, planejamento coletivo e individual dos criadores.
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não vieram para apoiar a agricultura familiar.
Por outro lado, inexiste uma legislação apropriada para permitir de forma legal o
beneficiamento e o consumo de carne de caprinos e ovinos secas ao sol, como é
culturalmente utilizada em todos os municípios do Território. Esse fator porém, limita o
planejamento de um empreendimento que vise atender esse segmento. Serão
necessárias pesquisas para desenvolver essas tecnologias de modo que venha
possibilitar uma normatização pelos órgãos competentes.
Parte do Território que envolve os municípios que têm fronteira com o Piauí, Pilão
Arcado, Campo Alegre de Lourdes e Casa Nova, são tratados como Zona Tampão, para
garantir que o Estado seja livre da Febre Aftosa, vez que o Piauí e Pernambuco ainda
não estão certificados como livres da Aftosa. Por causa desse sistema de defesa, a
Agência de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, definiu que os criatórios não podem
ser comercializados em Juazeiro ou Sento Sé, limitando que a produção só poderá ser
consumida internamente, ou comercializada para o Piauí ou Pernambuco. Para isso
existem diversas barreiras sanitárias controlando o transporte de carnes e animais nas
fronteiras.
Se registra que aproximadamente 600 caprinos e ovinos vivos saem por semana da
zona tampão para Petrolina. Essa é uma exportação de parte importante da produção e
que mereceria um estudo mais aprofundado para ser quantificado e qualificado. Sabe-
se também de maneira não oficial, que são comercializadas para São Paulo e Rio de
Janeiro, aproximadamente 30 toneladas por mês de carne seca de caprinos e ovinos,
produto que sai dos municípios de Uauá e Canudos. Além disso, aproximadamente 6
toneladas de caprinos e ovinos vivos saem por semana legalmente de Uauá e
Canudos.
Finalmente, não poderia deixar de incluir um grande limitante que é o roubo da criação
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de caprinos e ovinos, que ocorre em todo o Território, em maiores quantidades em
Remanso e Casa Nova. É um problema muito importante que tem a ver com a
fiscalização sanitária e o policiamento. Ambos os serviços são dificultados devido às
extensas áreas dos municípios e às áreas de fronteiras com o Piauí e com o Lago de
Sobradinho, que facilitam a ação de bandidos.
A partir das análises acima, os principais limitantes do sistema produtivo estão na etapa
da produção. Nesse sentido podemos indicar a seguinte relação:
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O Território tem uma dinâmica de perdas constantes de área colhida com as culturas
tradicionais, como acontece na maior parte do Semi-árido, devido às chuvas serem
irregulares tanto em quantidade, quanto no tempo e na distribuição espacial. Quando
mais se precisa a chuva falta. Costuma-se dizer que as boas safras ocorrem somente
de dez em dez anos. Muitas dessas culturas estão em crise crônica, como é o caso do
milho, voltado para auto-consumo, mandioca, mamona, feijão, fumo e algodão. Por
outro lado, apresentam incremento por sua vez, cebola, mamão, manga, banana,
melão e melancia. Muitas dessas culturas são produzidas com a técnica da irrigação
nas áreas mais próximas do rio, e nos açudes existentes nos municípios de Juazeiro,
Sento Sé, Curaçá e Canudos.
1
Por outro lado a incorporação do produtivismo no Vale ainda não foi capaz de alterar a
estrutura da área colhida na região. Permanecem nas primeiras colocações, em termos
de área colhida, o milho, o feijão e a mandioca. Como já demonstrado, apesar de
ocuparem pouca área, são culturas intensivas na produção por hectare e que têm valor
relativo muito maior (Couto Filho, 2004).
1
Modelo Produtivista. Esse modelo, grosso modo, caracteriza-se pela busca do aumento dos rendimentos físicos por hectare com
menores custos, baseando-se na utilização intensiva de insumos químicos, máquinas e equipamentos, na monocultura e na
produção em grande escala de commodities. Foi difundido pelos EUA e por alguns países da Europa, a partir dos anos 60,
especialmente no hemisfério sul, por meio da conhecida Revolução Verde.
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Pode-se dizer que, na Bahia, o modelo produtivista veio a se instalar, de fato, no final
dos anos 1980 e início dos anos 1990. A implantação do modelo produtivista tem
provocado alterações significativas na produção agropecuária. Em busca de ganhos de
produtividade, são utilizadas novas técnicas de produção, intensificam-se a
monocultura em grande escala, o uso de máquinas, equipamentos, sementes
melhoradas geneticamente, agroquímicos, irrigação. Também são características do
2
produtivismo a produção de commodities , a concentração fundiária e a desocupação
da mão-de-obra. (Couto Filho, 2004).
Portanto pode-se supor que, fora dos perímetros irrigados e margens do Rio ou do
Lago, as características da agricultura familiar continuam sendo tradicionais e “em
crise”. As novidades nesse setor estão vindo a partir da “modernização” e valorização
2
Commodities, palavra em inglês que se refere a produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, possuem
cotação de preço unitário e "negociabilidade" global, portanto, as oscilações nas suas cotações têm impacto significativo nos fluxos
financeiros mundiais.
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de atividades que dependem de produtos nativos e adaptados às condições naturais da
região, inspirados pelas experiências incentivadas por uma rede de instituições que
congrega sindicatos, associações, cooperativas, pastorais da Igreja, organizações
não-governamentais e mais recentemente com o apoio do Estado.
A partir de 2003, com o governo Lula políticas sociais como o Programa de Aquisição de
Alimentos, direcionado para a agricultura familiar, vem movimentando valores
expressivos referentes à compra de alimentos para a merenda escolar nos municípios
do Território. Trata-se de produtos beneficiados de umbu, maracujá do mato, goiaba,
carne de caprinos, derivados da mandioca, peixe etc. Na Tabela 8 pode ser observada
a movimentação do programa com 30 produtos diferentes sendo fornecidos para a
merenda escolar, apenas no Território. A soma de R$ 2.249.192,20 em 2007 é
significativa e dá uma amostra bastante representativa do que significa a
potencialidade da agricultura de sequeiro com a valorização de seus produtos
tradicionais, aliando a segurança alimentar à geração de renda, ambos localmente.
40
2007, a economia tenha sido de R$ 800 mil.
A medida adotada pelo Governo do Estado da Bahia foi uma reivindicação conjunta das
organizações dos trabalhadores, do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional da Bahia – CONSEA-BA, da Superintendência Regional da Companhia
Nacional de Abastecimento – CONAB/SUREG-BA, com apoio da Secretaria de
Desenvolvimento Regional e Combate à Pobreza, da Delegacia Regional do Ministério
do Desenvolvimento Agrário – MDA e de deputados estaduais.
A mudança vale para os produtos que passam por algum tipo de beneficiamento, pois
os alimentos não processados, como hortifrutis, não são taxados. O Decreto nº 10.543,
de 30 de outubro/2007, transfere para a CONAB/SUREG-BA a responsabilidade de
pagar o ICMS antes cobrado das associações e cooperativas de agricultores familiares
assistidas pelo PAA. Porém, como as aquisições de alimentos do PAA destinam-se à
doação, a CONAB também fica isenta desse imposto.
41
Tabela 8. Contratos para fornecimento de produtos da agricultura familiar para
merenda escolar através do Programa de Aquisição de Alimentos em 2007, por
municípios do Território Sertão do São Francisco.
Vale destacar que a conquista da isenção desse imposto trará um grande alívio para os
participantes do programa e certamente atrairá mais interessados, que por sua vez
estimulará a organização e estruturação de unidades de beneficiamento do segmento.
Esse fato, embora novo, tem potencial para desencadear uma novidade no setor
agropecuário baiano.
42
Ainda falando do sucesso dessas experiências, é importante destacar, somente para
exemplificar, algumas das associações e cooperativas pioneiras que tomaram a
iniciativa de aceitar o desafio de adequar-se à burocracia padronizada que a CONAB,
como qualquer outro órgão público da esfera federal, exige desses grupos. Tabela 9, a
seguir.
Instituição Município Nº
Produtos
Sócios
43
coletados na caatinga por famílias de catadores que caminham longas distâncias para
fazer a colheita.
Além dessas causas citadas existe ainda a prática histórica, que ainda hoje acontece no
Território e tem dificultado a atividade da coleta das frutas nativas que é a apropriação e
cercamento de áreas devolutas por latifúndios, proibindo e impedindo a atividade das
famílias dos agricultores familiares.
Os autores (Queiroz, Goedert & Ramos, 1999) concluíram que há 17 grupos diferentes
de umbuzeiro, independentemente da região de origem. Esta importante variabilidade
genética encontra-se dispersa por todo o semi-árido brasileiro, porém as ecorregiões
de Porteirinha–MG, Irecê–BA e Livramento–BA, que são indicadas para a prospecção,
as plantas com frutos de maior peso da polpa, boa relação polpa/fruto e com teor de
sólidos solúveis acima de 12,5°Brix.
44
Uma pesquisa conduzida por Araújo & Neto, 2002 da EMBRAPA, mostram que os
métodos de enxertia por garfagem em fenda cheia e à inglesa simples apresentaram
maiores índices médios de pegamento, de 97,1 e 92,4%, respectivamente. O material
vegetativo, (garfos) colhido nas diferentes fases fenológicas da planta-matriz, não
afetou o índice de pegamento do processo da enxertia, o que amplia a oferta de mudas
ao longo do ano devido à oferta de material propagativo.
Outra pesquisa conduzida por Drumond et. al. (2003), sobre o plantio consorciado do
umbuzeiro com a palma forrageira em regime de sequeiro, concluíram que o consórcio
não afetou o desenvolvimento das culturas em relação ao plantio isolado. A vantagem
do plantio consorciado do umbuzeiro com a palma forrageira é evidenciada pela
produção de outra cultura, na mesma área, sem afetar a cultura principal. A
consorciação do umbuzeiro com a palma forrageira proporciona uma melhoria no
45
sistema de produção do pequeno agricultor porque haverá um ganho adicional com a
produção de alimento para os animais.
46
Quanto à comercialização da produção, como as áreas instaladas ainda não estão
produzindo - a produção de uma planta nova começa após o sexto ano -, foram feitos
alguns contatos com mercados de Salvador e disponibilizados frutos gigantes, das
plantas-mãe, para observar o comportamento do consumidor. Segundo Francisco
Cardoso, todos os frutos colocados à venda foram adquiridos em tempo recorde
(menos de quatro horas), com preço acima de R$ 8,00/kg. “Consideramos um
excelente valor para os frutos gigantes, e esperamos que em pouco tempo as plantas
comecem a frutificar para que os agricultores familiares possam colher lucros”, disse (A.
Imprensa EBDA, 2008).
O mercado francês vai receber esta semana 3,33 mil caixas de doce cremoso
de umbu, fruto do trabalho de 200 famílias no norte da Bahia. A Cooperativa de
Produtores de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) com estrutura de fábrica
e mini-fábricas nos municípios que compreendem a cooperativa, está
comercializando atualmente R$ 120 mil em beneficiamento para a França e
tem faturamento anual de R$ 800 mil. Em um contêiner, foram colocadas as
oito toneladas de doces que abastecerão a rede de supermercados francesa
Alter Eco Commerce Équitable. O contêiner com os produtos da cooperativa
saiu esta semana de Uauá, passou por Salvador e seguiu para a Europa pelo
porto da capital.
47
Ampliação. Ele diz que a região de Uauá, por exemplo, tem condição
de abastecer grande parte do mercado e que a capacidade é de 12
plantas de umbu por hectare, com produção de 150 kg a 200 kg.
“Muito se perde por não ter tanto mercado quanto necessário”.
“Saem cerca de seis caminhões por dia de Uauá com frutos para as
fábricas de polpa das regiões de Feira de Santana, Salvador e
Sergipe”, informa o gerente da Coopercuc. Egnaldo Xavier explica
que tudo seria diferente se houvesse ampliação de mercado para o
produto que é genuinamente nordestino, típico do Semi-árido e hoje
agrega valores a diversas famílias que aprendem a conviver com a
região e o que ela oferece. “As mudanças que aconteceram na vida
das famílias têm que ser creditadas ao esforço de se descobrir
formas de convivência com o Semi-árido e de inserir os produtos no
mercado internacional”, assegura Jussara Dantas de Souza, sócia
fundadora que atualmente é gerente comercial da COOPERCUC.
48
A Figura 5 expressa o crescimento do beneficiamento do umbu e o crescimento das
vendas entre os anos de 2001 e 2007, evidenciando os resultados concretos que
podem ser alcançados por outras instituições do Território que poderão no futuro
atingirem com desempenho semelhante.
49
Hoje fazem parte da Rede Sabor Natural do Sertão diversas instituições, o quadro
abaixo mostra alguma delas:
50
Existem várias limitações no âmbito da transformação e comercialização da produção,
a legislação e os órgãos oficiais, que dificultam e restringem a atuação dos produtores e
produtoras familiares na transformação e beneficiamento da produção agroecológica,
pois as políticas estão direcionadas para as grandes indústrias de processamento, falta
de tecnologia de transformação e de assessoria técnica adequadas às unidades
familiares de processamento, capacidade insuficiente de gestão das unidades de
transformação e comercialização, ausência de políticas públicas, particularmente
crédito e incentivos fiscais, voltadas para a produção e transformação agroecológica
familiar.
Outro estudo apontado como promissor para apoiar a implantação de uma fruticultura
comercial nas áreas dependentes de chuva do semi-árido é o aproveitamento do
sistema radicular e dos xilopódios do umbuzeiro como base para fixação (enxertia) de
outra planta da sua mesma família (Spondia), a exemplo do cajá, ciriguela, cajá-manga
ou cajarana e umbu-cajá. Desta forma, oferecendo o seu mecanismo que confere
grande tolerância à seca por parte do umbuzeiro às outras espécies para conseguirem
sobreviver e produzir nas condições de sequeiro.
51
associação das duas plantas dessa maneira não apresenta qualquer
incompatibilidade. Pelo contrário, o cajá-manga, a ciriguela e o umbu-cajá frutificaram
apenas um ano após serem enxertados.
O objetivo deste trabalho foi classificar as áreas quanto à aptidão pedoclimática para a
cultura do cajueiro, empregando nível de manejo C (cultivo com emprego de alta
tecnologia), no Estado da Bahia como um todo, e estimar a porcentagem de áreas aptas
para a cultura do cajueiro por município. Este estudo representa um material básico
para orientar órgãos financiadores e de planejamento, para racionalização do cultivo do
cajueiro no Estado da Bahia. Embora esses estudos tenham sido dirigidos à aplicação
de alta tecnologia, pode servir de referência para a cultura de sequeiro.
52
8. Capacidade insuficiente de gestão das unidades de transformação;
9. Ausência de políticas públicas, particularmente crédito e incentivos fiscais.
53
privados além daqueles que estão dentro dos perímetros chegam a mais de 60.000 ha.
E, segundo Graziano (1989), não há empreendimentos particulares totalmente
independentes dos grandes investimentos públicos ou projetos públicos. Apesar de
esses empreendimentos privados estarem fora dos perímetros irrigados, eles foram
beneficiados pelos investimentos públicos, principalmente em serviços públicos de
infra-estrutura fundamentais para viabilizarem seus empreendimentos, além de
contarem com os incentivos proporcionados pelo Governo, sendo um deles o “acesso a
recursos financeiros em condições privilegiadas” (Dourado et al., 2006)
A área irrigável nos perímetros destinada à agricultura familiar (18.503 ha) somam
44,6% da área total irrigável conforme a Tabela 10. Em média, o lote familiar possui 6,5
ha. A orientação das atividades nesses lotes é de cultivos de mercados globais, as
mesmas culturas praticadas pelas unidades empresariais, em sua maioria variedades
de manga e uva para exportação. Barros (2007), afirma que esse foi um processo de
globalização econômica e os agricultores familiares sofreram um processo de
3
descampesinização , inserindo-se, mesmo de forma marginal, no modelo de produção
capitalista, sendo que tudo isso só foi possível devido à apropriação dos recursos
hídricos.
Tabela 10. Áreas dos perímetros públicos de irrigação, em operação, sob a jurisdição
da Codevasf em Juazeiro e Petrolina.
54
A região do Submédio São Francisco foi beneficiada pelos grandes investimentos do
Governo, nas obras pioneiras da infra-estrutura hidroagrícola (Sampaio & Sampaio
2004). Em 1998 a FADC/UFPE (citado por Barros, 2007) fez uma estimativa do capital
público investido nos perímetros. Esse capital foi algo em torno de R$ 650 milhões, a
preços de 1998, nos seis perímetros implantados (incluindo a infra-estrutura de
irrigação de uso comum e as benfeitorias realizadas nos lotes). A área implantada até
1988 era de 46.729 hectares, o que corresponde a uma média de R$ 14.419 por hectare
implantado.
Não resta dúvida, que o sentido fundamental da política de irrigação no Submédio São
Francisco foi a modernização agrícola com um pólo agroindustrial. Os dados
apresentados nas Tabelas 11 e 12 sobre o volume de produção de uva e manga
exportadas pelo Brasil, demonstram a decisiva participação do agropolo nesse quadro
geral (Barros, 2007).
Participação
55
Atualmente as áreas irrigadas estão localizadas nos perímetros: Curaçá, Maniçoba,
Mandacaru, Tourão, todos dentro do município de Juazeiro, Pedra Branca no município
de Curaçá e o perímetro implantado pelo DNOCs em Canudos com água do açude
Cocorobó. Os perímetros são compostos por grandes e médias empresas e colonos, a
infra-estrutura de fornecimento da água e sua manutenção são controladas pela
CODEVASF em parceria com algumas organizações locais, aos agricultores familiares
é fornecida assistência técnica pelo mesmo órgão. A maioria dos colonos ainda paga
sua dívida referente à titulação do lote e ao chamado K-1 (amortização pela infra-
estrutura pública nos perímetros).
A seguir será feita uma breve análise sobre a situação da agricultura irrigada familiar
implantada nos perímetros irrigados.
56
Curaçá. De acordo com a CODEVASF (1999), numa área aproximadamente de 15 mil
hectares foi implantado o Perímetro de Irrigação Curaçá com áreas empresariais e
áreas de colonização, estas últimas exploradas em 266 lotes de produtores familiares,
caracterizados por uma grande diversidade, sendo direcionado a estes últimos o
serviço de assistência técnica e extensão pela CODEVASF. Atualmente essa
assistência e extensão rural é realizada através de uma empresa contratada PLANTEC
– Planejamento e Engenharia Agrícola Ltda. A partir do relatório de 2006 da referida
empresa, estão baseados as informações mais atuais sobre os perímetros irrigados,
que estão apresentados a seguir.
57
Além das organizações que administram a água no Perímetro, existem duas
organizações criadas para estabelecer e praticar a comercialização dos produtos de
seus associados, no Perímetro: a CAMPIC (Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro
Irrigado Curaçá), fundada em 1987, que atualmente passa por dificuldades na
comercialização da produção dos seus cooperados; a AFRUPEC (Associação dos
Fruticultores do Perímetro Curaçá) foi fundada em 2004, a partir da CAMPIC, que vem
realizando atividades similares na comercialização de manga, coco e mamão com
melhores resultados.
58
Existe também no Perímetro Maniçoba, três associações de pequenos produtores que
têm como objetivo a melhoria do processo de comercialização e de obtenção de
créditos, junto às instituições oficiais: a Associação Manga Brasil, a Associação dos
Produtores Rurais de Lagoa da Pedra e a Associação de Produtores Rurais de Campo.
A Associação Manga Brasil foi fundada em 2004, hoje conta com 58 associados, e vem
desenvolvendo atividades que promovem ganhos na comercialização da produção dos
seus sócios.
59
Tabela 15. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas das
associações de pequenos produtores do perímetro Maniçoba, em 2006.
60
Tabela 16. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas dos pequenos
produtores do perímetro Mandacaru, em 2006.
Além da organização que administra o Perímetro, existe mais uma instituição criada
com o intuito de melhorar o processo de organizativo dos produtores, e principalmente,
de estabelecer a comercialização dos produtos de seus associados, A (Cooperativa
Agrícola Mista dos Produtores Irrigantes do Perímetro Tourão – COAMPIT, que apesar
das dificuldades ainda consegue atuar de forma a subsidiar os seus associados no
campo da comercialização. A CODEVASF, através da contratação dos serviços da
ATER vem dando suporte do ponto de vista técnico para a comercialização, levando
agentes de venda para os mercados interno e externo discutirem com representantes
da cooperativa, objetivando ampliar a atuação da mesma no âmbito da
comercialização.
61
No perímetro de irrigação Tourão existe uma diversidade de cinco cultivos perenes e
cinco temporários, com destaque para as olerícolas cebola, melão e tomate, bem como
grande importância econômica com o cultivo de 277 hectares que proporcionam um
valor de produção de 2,6 milhões de reais, demonstrados na Tabela 17.
62
existiam os proprietários com titulação, sem titulação, posseiros, arrendatários,
meeiros e outros ocupantes sem propriedade legal das terras.
O projeto Pedra Branca situa-se na margem direita do Rio São Francisco, nos
municípios de Abaré e Curaçá no extremo norte do Estado da Bahia, na margem direita
do Rio São Francisco, divisa dos Estados da Bahia e Pernambuco e seu centro
geométrico distancia cerca de 10,3 km do rio (captação) e cerca de 70,0 km das sedes
municipais.
63
No perímetro de irrigação Pedra Branca existe uma diversidade de seis cultivos
perenes e pelo menos cinco temporários, com destaque para a banana, manga, goiaba
e amendoim, demonstrados nas Tabelas 19 e 20 a seguir.
Tabela 20. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas dos pequenos
produtores do perímetro Pedra Branca, em 2004.
O Perímetro Irrigado Vaza Barris, situado no Município de Canudos, foi construído pelo
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS na Bahia, na década de
1950 a 1970. Possui uma área total de 5.031.4679 ha, sendo 1.976 ha implantadas. É
administrado pelo próprio DNOCS através da Associação do Distrito de Irrigação do
Vaza Barris.
64
Na área irrigada vive aproximadamente 500 a 600 famílias que cultiva em maior escala
a cultura de banana (em média 1.000 há), coco e melão. Variedades de hortaliças a
exemplo de coentro, alface, pimentão, tomate e quiabo também são cultivadas pelas
famílias, inclusive para produção de sementes.
No Perímetro possui uma fábrica de doce com capacidade para processamento de 600
kg/dia, que produzia doce de banana, mas por motivos diversos está parada:
equipamentos são insuficientes e falta manutenção; falta de gestão da unidade e de
capacitação das famílias envolvidas no processo de produção e falta de estrutura para
a comercialização. Compete a administração da fábrica à Cooperativa dos Irrigantes do
Vaza Barris.
Possui também no Perímetro a Associação das Artesãs do Vaza Barris, que trabalha
com a fibra da bananeira, inclusive sendo comercializada para outras cidades do
nordeste.
“A primeira etapa do projeto Salitre prevista para ser concluída em julho de 2009,
irrigará 5.084 hectares (ha) de boas terras da margem direita do Rio São Francisco. A
exploração será feita por pequenos produtores, para os quais se destinarão 255 lotes
com área total de 1.710 hectares, e por empresários, que produzirão em 75 lotes com
65
área total de 3.374 hectares. A seleção e o assentamento dos colonos, o processo de
licitação para escolha dos empresários e o início da produção do projeto estão previstos
para até maio do próximo ano” informa o presidente da Codevasf.
Para dar continuidade a implantação do Projeto Salitre, serão investidos algo em torno
de R$ 251,5 milhões, recursos provenientes do PAC até 2010, para viabilizar a irrigação
de toda área, o que está prevista para ser implementado em cinco etapas. Já foram
concluídas as obras civis das estações de bombeamento 1, 2 e 3 e 90% dos canais de
irrigação da primeira etapa, além da aquisição de equipamentos. Em 2007, o total de
recursos do Programa para esse perímetro alcançou a cifra de R$ 71,5 milhões. Fonte:
Agecom.
Atualmente a área encontra-se ocupada com 800 famílias de trabalhadores sem terra
desde o dia 1º de abril de 2007. A direção do Movimento dos Trabalhadores sem Terra
tenta negociar, com o Incra e com a Codevasf, a doação e assentamento das famílias
nesta área, após a dotação de infra-estrutura e implantação de projeto de irrigação.
Como conseqüências, alegam que o setor está reduzindo o número de safras de uva de
duas para uma safra ao ano, sofrendo uma descapitalização do setor, grandes volumes
de demissões e desaquecimento da economia. Como caminho, sugere renegociações
dos financiamentos de custeios junto aos bancos, para dar condições de se
readequarem ao novo ciclo produtivo.
66
Resumindo os principais limitantes apresentados pelos agricultores familiares
irrigantes são:
1. Alto custo de produção, sobretudo devido o preço elevado das tarifas de água e
energia elétrica;
2. Descapitalização dos agricultores;
3. Produtores como meeiros e arrendatários;
4. Concentração de safra em certos períodos do ano;
5. Grande número de atravessadores nos perímetros;
6. Dificuldade de acesso ao crédito;
7. Grande distância dos principais centros consumidores;
8. Sistema de irrigação deficiente e inadequado;
9. Pouco conhecimento sobre os processos de exportação da produção;
10. Faltam estruturas de beneficiamento da produção;
11. Experiência com beneficiamento das frutas é inicial;
12. Não se consideram agricultores familiares;
13. A visão de empresário, dependente do capital e do estado.
67
A Pecuária nas Áreas Irrigadas
Esta atividade desempenha importante papel pela integração das atividades com a
produção de carne, leite e esterco. Esse último produto, o adubo orgânico, constitui um
dos elementos mais importantes em relação ao processo de produção conduzido nas
áreas irrigadas, porém essa produção interna é insuficiente para atender a demanda
existente. Como a agricultura irrigada vem sendo conduzida em reduzida articulação
com explorações pastoris, a demanda de esterco, especialmente no Vale, é suprida de
outras áreas, a custos elevados (CODEVASF, 2006).
Por outro lado, existiu uma afirmação de agricultores familiares das áreas irrigadas de
que eles não são os principais consumidores de esterco caprinos, mas sim as áreas
empresariais, e que os agricultores familiares utilizam mais o adubo químico que o
orgânico, provavelmente por questões financeiras. Mas essa afirmação carece de
confirmação em estudos posteriores.
68
Meio Ambiente
4
Com o objetivo de criar um espaço aberto à sociedade brasileira para discutir as necessidades e propor ações de adequação
fitossanitária para o sistema agrícola nacional, foi instalado em 17 de setembro de 2007 o Fórum Permanente para Adequação
Fitossanitária, por iniciativa da EMBRAPA e do MAPA.
69
A seguir, no Quadro 4 podem ser vistos alguns dados sobre o recolhimento de
embalagens vazias de agrotóxicos no Brasil e por estados, onde a Bahia aparece com
15,2%. Em seguida uma nota do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para
Defesa Vegetal que mostra uma evolução do mercado entre 2006 e 2007,
correlacionando inclusive com a redução do uso de agrotóxicos ilegais vendidos no
país, um segundo problema relacionado.
As vendas de defensivos agrícolas efetuadas no período de janeiro a outubro de 2007,
comparativamente ao mesmo período do ano anterior, registram alta de 26%, ou seja,
saltaram de R$ 6,1 bilhões de reais para R$ 7,7 bilhões. A elevação se verificou em
todas as classes de produtos – herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros. A
explicação para os resultados está principalmente no aumento dos investimentos em
tecnologia por parte dos produtores. Outros fatores diretamente associados ao
desempenho do setor são: o aumento da área plantada nas principais culturas; os
preços favoráveis das commodities agrícolas no mercado internacional; e a redução
dos preços dos defensivos em relação à safra passada – este último fator certamente foi
o que motivou a aplicação de defensivos agrícolas de alta tecnologia. Para a direção do
Sindag, a melhora dos indicadores também tem relação com o rigor das autoridades no
combate aos agrotóxicos ilegais. Os números apontam para recuperação de vendas do
setor entre 2006 e 2007, já que ao final de 2006 as vendas oscilaram negativamente,
em 14,7%, na comparação com o período de 2005. SINDAG 2007, Figura 2.
Fonte: INPEV.
70
Não foram encontrados dados sobre a venda e o recolhimento de embalagens de
agrotóxicos para os municípios do Território, o que poderá ser objeto de um
levantamento posterior mais detalhado. Esse levantamento permitirá medir o grau do
risco de contaminação das águas, dos solos, dos alimentos que são produzidos na
região e conseqüentemente a saúde da população.
Por isso a região do Vale do São Francisco forçadamente vem adotando um sistema de
monitoramento. A Produção Integrada de Frutas – PIF, é um sistema que possibilita a
produção de alimentos mais seguros e de melhor qualidade, contendo quatro pilares
básicos de composição: organização da base produtiva, sustentabilidade do processo,
monitoramento do sistema e informação.
Diante desse novo perfil exigido pelo mercado devido a mudanças de hábitos
alimentares dos consumidores e da necessidade de obtenção de alimentos seguros, a
região vem em alguns setores, sobretudo aqueles que produzem para exportação,
substituindo a produção convencional de frutas para o Sistema de Produção Integrada.
Não quer dizer com isso que o sistema está sendo adotado por todas as empresas e
agricultores do Vale. O que ainda se observa no geral é um modelo de produção
encharcado por toneladas de agroquímicos que são despejados todos os dias nos
solos e nas plantações sem nenhum controle, principalmente na produção que é
destinada ao mercado local, onde as exigências são menores.
71
trabalho com finalidade de elaborar e acompanahr o Projeto de Implantação da Técnica
de Insetos Estéreis para instalação da biofábrica de Ceratistis capitata. Essa técnica é
importante porque consiste na produção em escala do próprio inseto praga, porém
estéreis, que são soltos nos pomares atingidos e quebram o ciclo reprodutivo,
minimizando a necessidade da utilização de inseticidas químicos. A Biofábrica
Moscamed Brasil, uma OSCIP, funciona no distrito industrial de Juazeiro desde março
de 2006.
A região do Vale São Francisco, que se beneficia da irrigação, tem grande parte da sua
produção agrícola destinada à exportação, atrai investidores de várias partes do Brasil
e do mundo que utilizam-se da abundância de mão-de-obra a baixos custos, o que se
deve ao grande fluxo migratório originário das áreas de sequeiro dos próprios
municípios do Território, além de diversos municípios baianos e de outros estados como
Pernambuco, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A maioria desses (as) trabalhadores (as) são pessoas que vivem ou viviam na zona
rural e que por uma ou outra razão não conseguiram implementar um sistema de
produção em sua propriedade, de forma que garantisse a sua permanência, levando a
abandonar temporariamente e migrarem para as regiões da irrigação em busca de um
trabalho remunerado como único meio de sobrevivência. Entre estes, há muitos casos
de famílias que possuem uma parcela reduzida de terra, sendo impossível desenvolver
qualquer atividade produtiva de forma sustentável, outros que tiveram que abandonar
suas propriedades para dar lugar ao empresariado ou ao latifundiário.
72
As mulheres constituem 60% da mão-de-obra utilizada no cultivo de vários produtos
agrícolas e desempenham um importante papel na agricultura irrigada do Vale do São
Francisco. Chegam às empresas da irrigação movidas pelos mesmos motivos que
levam as famílias de modo geral e, com um motivo a mais: a busca da autonomia.
Historicamente a mulher no Semi-árido brasileiro tem sido vítima da submissão, do não
reconhecimento do seu trabalho, da sua capacidade e cidadania. Na família,
normalmente assume os trabalhos domésticos, os quais além de não remunerados não
são reconhecidos como trabalho. A decisão de sair do mundo doméstico em busca de
um trabalho remunerado, mesmo tendo que assumir uma dupla ou tripla jornada de
trabalho, se dá principalmente pela busca da autonomia financeira e da cidadania.
A absorção da mulher pelas empresas agrícolas de Juazeiro e de todo o Vale não se dá,
entretanto, sem discriminação, sendo permeada por uma racionalização baseada nas
diferenças de gênero e idade. Diante deste quadro, as condições de trabalho da mulher
idosa são as mais precárias. No processo de seleção das trabalhadoras, as empresas
dão preferência às mulheres com idade até 35 anos e excluem àquelas com idade
superior, do acesso ao trabalho assalariado com vínculo empregatício, trabalho fichado
na linguagem local, justificando essa exclusão na baixa produtividade das
trabalhadoras idosas. Em conseqüência de tal situação, as trabalhadoras idosas têm
que enfrentar o trabalho de diaristas, trabalho avulso, o qual é caracterizado pela
ausência de vínculo empregatício e pelo desrespeito aos direitos trabalhistas, entre
eles, a sindicalização e a aposentadoria (Branco & Vainsencher, 2001).
Outro agravante é que o contingente feminino é visto, também, como mais submisso e
dócil que o masculino. Nesse sentido, alguns encarregados deixam transparecer como
tiram proveito das históricas desigualdades de gênero, enquanto as trabalhadoras
expressam a vulnerabilidade de tal condição, diante do mercado de trabalho. “As
mulheres exigem menos, a gente paga qualquer coisa e elas aceitam. Parece que elas
têm mais receio de perder o emprego, a preciosa fonte de renda, do que os homens, aí
elas fazem tudo para agradar”. Ainda de acordo com proprietários a preferência se dá
também pelo fato das mulheres possuírem mais habilidade e responsabilidade; “elas
têm mãos pequenas e delicadas – características físicas fundamentais para um bom
desempenho na fruticultura”, segundo os empregadores.
73
microrregião de Juazeiro na década de 90 era mais ocupada pela melancia, uva e
melão segundo pode ser visto na Tabela 21.
Tabela 21. Ocupação da mão-de-obra agrícola (EHA) por hectare (ha), segundo as
culturas pesquisadas, Microrregião de Juazeiro/BA Bahia, 2002
74
dificuldade é conseguir um médico para atestar que um trabalhador foi intoxicado ou
que veio a falecer devido a utilização de um agrotóxico com o qual trabalhou" segundo
ROCHA.
75
Grande parte dos trabalhadores (as) vive nos bairros pobres da cidade (conhecidos
como invasões) em condições precárias e não têm garantia dos direitos básicos: não há
investimento em saneamento básico; não há uma moradia digna ou falta moradia, duas
e até três famílias moram numa mesma casa.
Por outro lado as escolas em que os filhos desses trabalhadores estudam estão em
condições precárias: falta merenda escolar, falta material didático, péssimas condições
de higiene, professores sem qualificação adequada. A situação precária da educação
tem a ver com o trabalho infantil, que tira crianças das escolas e ficam expostos a
situações de riscos a exemplo da prostituição, uso de drogas e violência nos bairros
periféricos.
O grande contingente atraído pelo trabalho nas fazendas, a partir dos investimentos
públicos, não encontrou em Juazeiro, principalmente, investimentos na mesma altura
em relação a urbanização e serviços básicos de educação, saúde, saneamento e
assistência previdenciária.
76
1,9 bilhão).
77
Em 2006 foram 6.666 contratos no Território que representaram R$ 22.555.148,33 de
onde podemos obter uma média geral de R$ 3.383,00 e em 2007 foram 4.682 contratos
que representaram R$ 23.422.766,52 média geral de R$ 5.002,00, demonstrando um
crescimento no valor geral dos contratos e nos valores unitários.
Fonte: MDA
A informação mais detalhada nos dados originais por municípios mostra um quadro
quase inverso em relação ao ranking da produção pecuária, indicando que a produção
de caprinos nos municípios mais produtores utiliza menos crédito que municípios que
exercem mais a agricultura irrigada. É provável que a capacidade de mobilização do
crédito é diferenciada nos municípios e nas diferentes atividades. Será útil conhecer
mais fundo essa realizada através de estudos mais específicos.
FONTE: BACEN (Somente Exigibilidade Bancária), BANCOOB, BANSICREDI, BASA, BB, BN E BNDES. Dados
atualizados até BACEN: Até BASA: Até 12/2007; BB: Até 11/2007; BN: Até 12/2007e BNDES: Até 07/2006 - Últimos 3
meses sujeitos á alterações. Data da Impressão: 29/01/2008 10h22min:29
78
Por outro lado, os investimentos feitos pela Coordenadoria de Ação Rural – CAR, que
geralmente impactam na produção familiar de sequeiro, estão demonstrados na Tabela
25. A base de dados refere-se aos convênios, vigentes a partir de 1º de janeiro de 1996
até 2007, disponível no site www.car.ba.gov.br e permitem ver a distribuição dos
recursos a partir dos tipos de investimentos e a distribuição nos municípios do Território.
Outra situação que indica falta de planejamento para investimentos nas vocações
naturais do Território é que os investimentos em beneficiamento da carne de caprino,
frutas nativas, pescado ou mel de abelhas são irrisórios ou inexistentes. Por outro lado o
maior percentual dos investimentos foram para recursos hídricos e eletrificação rural, o
que indica acertos nos programas.
Vale salientar que os recursos investidos pela CAR, são bastante expressivos para o
segmento da agricultura familiar, e devem ser alvo do planejamento Territorial para os
próximos anos, dedicando-se mais à estruturação produtiva e de beneficiamento nas
prioridades definidas.
79
Tabela 25. Recursos investidos no Território através da CAR entre 1996 e 2007, por
atividade.
Tabela 26. Recursos investidos no Território através da CAR entre 1996 e 2007, por
município.
80
5.9 - Comercialização
O Mercado do Produtor opera todos os dias da semana, com 66 (sessenta e seis) itens
em oferta, sendo 44 produzidos na região do São Francisco e 22 oriundos de outros
estados. Os produtos estão assim distribuídos: 25 variedades de hortaliças; 30
variedades de frutas; 03 tipos de cereais; 05 tipos de especiarias, 03 tipos de gêneros
alimentícios, desde os tradicionais produtos das áreas irrigadas do Vale do São
Francisco as frutas de clima temperado como maçãs, peras, ameixas do extremo sul e
especiarias, alcançando um público alvo de mais de 1 (hum) milhão de pessoas em
vários estados. No seu dia de maior movimentação, circulam em média 8.000 (oito mil)
pessoas, 600 (seiscentos) caminhões – carregam e descarregam, 1.100 (hum mil e
cem) carros menores e aproximadamente 240 (duzentos e quarenta) carroças de
tração animal.
81
economia regional, gerando anualmente um volume de negócios em torno de mais de
40 milhões de reais. Estima-se que os vinte e seis estados da Federação e o Distrito
Federal são clientes ou consumidores dos produtos do Mercado do Produtor de
Juazeiro.
82
6 – Organizações Sociais
Sobradinho
Casa Novo
Remanso
Sento Sé
Canudos
Juazeiro
Curaçá
Uauá
Associações Diversas X X X X X X X X X X
Articulação Sindical X X X X X X
ADAC X
AGRORGAN X
APROAC X
ASA X X X X X X X X X X
ADRA X
Centrais de Fundos
X X X X X X X X X X
de Pastos
COAPICAL X
COAPRE X X X X X X
COOPERVIDA X X
COOPERBRAN X
COOPERCUC X X X
COAPSERE X
CPT X X X X X X X X
CPP X X X X X X X
Colônias de Pescadores X X X X X X X
FETAG X X X X X X X
IRPAA X X X X X X X X X X
Naenda X
Pastorais Sociais X X X X X X X X X X
Rede de Mulheres X X
STRs X X X X X X X X X X
SASOP X X X X
Sintagro X X X X
UARJ X
UASA X
83
7 - ANÁLISE E PROPOSTAS AO SISTEMA PRODUTIVO POTENCIAL
Entretanto, convém se ter claro que esta transformação não se dá apenas com esforços
dos próprios estabelecimentos integrantes da categoria. É preciso investir esforços
conjuntamente onde se articula a própria categoria, as forças sociais e organismos
governamentais existentes no território, forças externas que possuem atuação direta e
indireta e as políticas públicas governamentais.
84
3. Estimular a diversificação das atividades econômicas locais, aliando produção e
processamento à comercialização
4. Aliar produção à recuperação e conservação dos recursos naturais
5. Apoiar o desenvolvimento da agropecuária familiar diversificada de base
agroecológica e orgânica dentro de uma rede de instituições púbicas e privadas
integradas, envolvendo prioritariamente o gerenciamento e articulação,
assistência técnica e capacitação, comercialização da produção, certificação
orgânica participativa e gestão ambiental, tendo em vista que o modelo
convencional aplicado, tem demonstrado não garantir sustentabilidade
econômica, social e ambiental.
6. Investir no desenvolvimento da economia solidária, na capacidade
organizativa e no poder de articulação local.
85
2. Estrutura Hídrica: expansão da oferta de água de superfície e subterrânea para
atender com qualidade e quantidade suficiente o desenvolvimento dos sistemas
produtivos, por meio de construções e instalações de sistemas adequados de
captação, armazenamento e distribuição da água em todos os municípios do território,
seja no sistema produtivo de sequeiro ou irrigado
86
poderão contribuir com a mudança dos indicadores de desenvolvimento.
5
O conceito contemporâneo de Marketing engloba a construção de um satisfatório relacionamento a longo prazo do tipo ganha-
ganha no qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam. O marketing se originou para atender as necessidades de mercado,
mas não está limitado aos bens de consumo. É também amplamente usado para "vender" idéias e programas sociais. Técnicas de
marketing são aplicadas em todos os sistemas políticos e em muitos aspectos da vida (Wikipédia, A Inciclopédia Livre).
87
IRPAA e Articulação Sindical da Borda do Lago de Sobradinho nos dez municípios,
onde contou com a participação de agricultores e agricultoras familiares e suas
organizações, a exemplo de Associações, Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
Colônias de Pescadores, Articulação dos Fundos de Pasto, Rede Sabor Natural do
Sertão, Quilombolas, Indígenas, Assalariados. Além de propostas que foram
apresentadas para a consolidação do Plano Plurianual – PPA do Governo do Estado da
Bahia.
7.1 - Caprino-ovinocultura
a) Produção
88
ii) Além da pastagem nativa, deverá ser incentivada a ampliação de cultivos de
forrageiras a exemplo da mandioca, sorgo, guandu, leucena, palma,
maniçoba, melancia de cavalo, gliricídia entre outras, para a utilização
sobretudo, nos períodos de estiagens.
iv) O manejo dos rebanhos deverá ser orientado para aprimorar os cuidados
básicos no manejo sanitário de crias novas e durante a prenhes, fazer controle
das verminoses orientando para o uso dos produtos fitoterápicos, com o
incentivo à manutenção da limpeza dos apriscos. Esse trabalho deve ser
orientado para envolver grandes áreas para ter efeito de escala satisfatório.
Também deverá adotar reforços das barreiras sanitárias e gestões junto aos
estados vizinhos do Piauí e Pernambuco, em vistas de criar condições para
que a região deixe de ser uma zona tampão, e com isso permitir a saída da
produção para outras regiões.
89
vii) Assessoria técnica que atenda no dia-a-dia a demanda dos/as
criadores/as, auxiliando no monitoramento dos indicadores de produção e
auxiliando os serviços de controle preventivo de doenças. Periodicamente
deverão ser oferecidas capacitações para os criadores/as e aperfeiçoamento
para as equipes técnicas.
b) Transformação
90
miúdos de caprinos e ovinos com logística necessária para realizar o abate,
trabalhar o pré-processamento e o processamento, a conservação, o
transporte e até a comercialização, é de fundamental importância para
agregar valor aos produtos beneficiando diretamente aos criadores, além de
melhorar a qualidade dos produtos para o consumidor local, alcançar
mercados institucionais como a CONAB e EBAL e, permitir o envio de produto
para outros mercados consumidores, como Juazeiro, Petrolina e as capitais
mais próximas.
Neste sentido já existe em Juazeiro uma estrutura de abatedouro/frigorífico
mas, para a região é considerada de grande porte ficando, operando com
capacidade ociosa, o que onera os custos e inviabiliza sua operação. Esta
estrutura foi construída e equipada, mas não funciona. Cabe ao Território junto
ao Estado através da Secretaria de Agricultura discutir e encaminhar o seu
funcionamento, que poderá atender não só o município de Juazeiro, mas
também a outros municípios do território.
91
estão as propriedades com cultivos anuais e os possíveis bancos forrageiros
que irão demandar grandes quantidades desse material, em função da baixa
fertilidade dos solos na região. O excesso pode ser comercializado para a
agricultura irrigada, grande consumidora desse sub-produto. A idéia é agregar
valor ao esterco de modo que seja maior a rentabilidade para os criadores.
7.2 - Fruticultura
a) Produção
92
relacionadas das áreas de sequeiro. As experiências dos perímetros irrigados são mais
recentes, representam um segmento novo, incentivado pelo Governo, e que caminha
numa visão empresarial, moldada pelas ações de órgãos governamentais e
prestadores de serviços de assistência técnica. Porém o formato dessa produção tem
ganhado espaço e serve, sobretudo ao mercado de “frutas in natura”, que é
comercializado nos mais diversos espaços, sendo o principal canal o mercado do
produtor de Juazeiro, e em alguns casos enviado para exportação. Embora o potencial
da agricultura irrigada familiar seja grande, suas relações com a dinâmica do Território
ainda são inconsistentes, sendo que esses agricultores utilizam de outras formas de
articulação entre si e suas organizações.
As pesquisas já apresentadas pelos órgãos da região, mesmo que ainda não ofereçam
um conjunto tecnológico completo para o cultivo das fruteiras nativas, sobretudo do
umbu e maracujá nativo, mas oferecem várias informações técnicas para o cultivo e
material genético potencial, que indica iniciar urgentemente incentivos para o plantio
racional e diversificação das culturas cultivadas em áreas de sequeiro.
93
ii) Diversificação das culturas cultivadas em áreas de sequeiro existe
uma diversidade de fruteiras nativas que podem ser melhor utilizadas, como o
araticum, a goiabinha, o croatá e a cultura do caju, baseado no Zoneamento
Pedoclimático elaborado em 2003 pela Embrapa Semi-árido, que indica
largas extensões de áreas preferenciais nos municípios de Pilão Arcado,
Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Canudos, além de áreas de aptidão regular
nos mesmos municípios, incluindo Juazeiro.
O que vem se destacando como potencial para a diversificação das culturas nativas é o
uso do umbuzeiro como porta-enxerto: o gênero Spondias é composto de cerca de
quinze espécies, das quais o cajá (Spondias lutea L.), ciriguela (Spondias. purpurea L.),
cajá-manga ou cajarana (Spondias cytherea Sonn.), umbu-cajá (Spondias sp.),
umbuguela (Spondias sp.) e umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) ocorrem de forma
espontânea ou subespontânea no Semi-árido (Pires, 1990). Os percentuais de
pegamento, quando algumas dessas Spondias foram enxertados em porta-enxertos de
umbuzeiro, oscilaram de 25 a 100% (Santos et al., 1999 e Vasconcellos, 1949), Essa
pesquisa pode ser verificada no Campo Experimental da Embrapa Semi-árido.
94
iii) Reformular a concepção dos novos projetos públicos de irrigação, visando
integrar áreas irrigadas com áreas de sequeiro
b) Transformação
Para agregar valor a produção desses grupos, faz-se necessário ampliar a estrutura de
processamento da produção, inicialmente nos municípios que já atuam no segmento
(Uauá, Canudos, Sento Sé, Remanso, Curaçá, Juazeiro) e posteriormente uma agenda
de ampliação da atividade para novos grupos, desde que estejam organizados para
assumir uma nova etapa, sobretudo a gestão. As demandas são: i) reestruturação de
unidades já existentes e construção e instalação de novas unidades de beneficiamento
de frutas em todos os municípios; ii) construção e instalação de entrepostos para
armazenamento, conservação e comercialização dos produtos da agricultura familiar;
95
iii) aperfeiçoamento dos sistemas eficientes de uso e reuso de água das
unidades de beneficiamento; iv) capacitação e assessoria técnica em gestão
dos empreendimentos; v) implantar áreas de plantio de essências nativas
para fornecimento de lenha de origem sustentável; vii) investimentos na
qualificação e apresentação do produto; viii) instalação de “packin houses”
nos perímetros irrigados para o tratamento e pré-processamento das frutas
que serão comercializadas in natura.
ii) Para alcance desses mercados, fora dos municípios, será imprescindível a
estruturação de pequenos entrepostos em cada município do território, e de
um entreposto de porte maior na cidade de Juazeiro, pois além de está
localizada no centro do território reúne todas as condições necessárias para
escoamento da produção, inclusive fazendo interligação com o Aeroporto
Internacional em Petrolina, que tem vôos diários, para oferecer condições de
armazenamento em câmaras frias e conservação transitória, permitindo
abertura de canal de comercialização para outros estados e países.
96
v) Implantar áreas de plantio de essências nativas para fornecimento de lenha
de origem sustentável, podendo ser utilizadas áreas coletivas de fundos de
pasto, utilizando sistemas de extração de lenha sustentável recomendado
pelos órgãos ambientais.
7.3 - Comercialização
97
está dividida em dois setores: o primeiro é o da produção, está relacionada às
atividades desenvolvidas para fazer produzir, (plantio, tratos culturais e fitossanitários e
colheita). O segundo setor de serviço é o da comercialização, este geralmente é
operacionalizado em duas etapas interligadas e dependentes:
98
i) Fortalecer a Rede de Comercialização existente (SABOR NATURAL DO
SERTÃO), com corpo técnico próprio (agentes de comercialização), para
atuar na prática da comercialização desde a inter-relação com os agricultores,
a operacionalização da logística de compra e venda até a entrega aos
distribuidores ou consumidor final. Este corpo técnico, com formação voltada
para atender uma estratégia de mercado desejada pelo território, poderá
“substituir” os especuladores e atravessadores desonestos.
99
capacidade produtiva de cada organização, demanda de produtos, períodos
de demanda, volumes e viabilidade técnica de produção.
O organograma apresentado abaixo se refere a uma das estratégias que pode ser
organizada para desenvolver a comercialização dos produtos dos agricultores
familiares no Território:
8 - ANÁLISE EXTERNA
100
faz no mundo inteiro, é, no contexto da globalização, a grande estratégia para alcançar
bem estar e ao mesmo tempo, preservar os recursos da caatinga e do rio, de quem
dependem. Seria a união da preservação do ecossistema com a eqüidade social na
distribuição dos benefícios gerados nas atividades econômicas.
O potencial da caatinga aqui apresentado não é novidade, mas até agora o que mais se
fez foi importar soluções, artificializar condições climáticas, como é a comparação do
pólo Petrolina/Juazeiro à “Califórnia”, e em nome desse modelo importado foram
investidos mais de R$ 650 milhões em 41.457 hectares (0,67% da área do território),
enquanto que nas demais áreas, não há comparações que possam ser feitas, de tão
pequenos os investimentos.
Porém deve ser aproveitado muito das estruturas que se construiu com a fruticultura
irrigada. Para construir a nova realidade das vocações naturais da caatinga, deve ser
inclusive implementada normas para certificação desses produtos (DOC -
Denominação de Origem Controlada e IGP - Indicação Geográfica Protegida), requisito
para o reconhecimento e proteção de produtos de qualidades e características
exclusivas ou essenciais do meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos
(tradição, cultura).
O Estado da Bahia poderá ampliar muito sua contribuição com a agricultura familiar no
Semi-árido baiano, além da isenção do ICMS nos negócios com a CONAB, se definir
uma legislação específica criando o serviço estadual de selos e certificações de
qualidade, como fez Santa Catarina. “Quem duvidaria, após a fixação e certificação de
um padrão de qualidade, do sucesso de um "cabrito de Uauá", de um "suco de umbu do
São Francisco"? (Clovis Guimarães, pesquisador Embrape Semi-árido).
A carne caprina e ovina e os derivados do umbu compõem uma porta de entrada para
101
muitas outras possibilidades do bioma caatinga. Existe um mercado internacional ávido
por esses produtos e por esses valores sociais e ambientais agregados mas, e as
famílias brasileiras? É importante vender para o exterior, e muito mais importante é
fazer chegar o produto ao conhecimento e ao consumo por parte da população local, é
preciso despertar para a valorização do produto nacional, desde o consumo na
merenda dos alunos da escola pública até as mesas da classe média e as mais
abastadas.
9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para melhor planejamento das atividades desse estudo será imprescindível que se faça
102
um amplo diagnóstico das questões fundiárias e de recursos hídricos para subsidiar
ações governamentais estruturantes nesses dois campos, sem os quais poderá haver
muita imprecisão na obtenção de resultados a longo prazo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
103
Botucatu / UNEB. 2007.
104
UNEB. (tese de doutorado). 2007.
105
DRUMOND, M. A.; SANTOS C. A. F.; ALBUQUERQUE S. G. de; N. de B. CAVALCANTI;
MORGADO L. B.. Consórcio umbuzeiro x palma-forrageira no semi-árido Brasileiro:
avaliação aos seis anos de idade EMBRAPA, 2003.
Governo da Bahia isenta produção familiar do ICMS. Ana Paula Tolentino, 2007
http://www.bahiaemfoco.com/noticia/2937/governo-da-bahia-isenta-producao-
familiar-do-icms
INPEV. 2007.
http://www.inpev.org.br/destino_embalagens/estatisticas/br/teEstatisticas.asp
106
Universidade Federal do Pará, Belém, 2005.
QUEIROZ, M. A. de; NASCIMENTO, C. E. de S.; SILVA, C.M.M. de; LIMA, J.L. dos S.
Fruteiras nativas do semi-árido brasileiro: algumas reflexões sobre os recursos
genéticos. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE FRUTEIRAS
NATIVAS, 1992, Cruz das Almas: Embrapa-CNPMF, 1993. p.87-92.
107
2007.
108
ANEXOS
109