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Epístola
do Apóstolo Paulo
aos Romanos
George Howes
OBSERVAÇÃO GERAL 03
PREFÁCIO 04
PARTE 5 — Capítulos 9 a 11 29
2
Observação Geral
3
Estudos
sobre
A EPÍSTOLA AOS ROMANOS
Prefácio
4
PARTE 1
— ROMANOS 1:1 – 17 —
5
PARTE 2
— ROMANOS 1:18 – 3:20 —
Romanos 1:18
Nesse versículo vemos que a atitude de Deus para com o pecado está
plenamente declarada. A ira de Deus é manifestada contra tudo o que se opõe a
Deus, e duas coisas são mencionadas de maneira especial, — primeiro, a
impiedade; segundo, a injustiça praticada por alguns, embora professem
aparentemente a verdade. Deus não pode tolerar o pecado.
Romanos 1:19 – 32
Nesses versículos podemos ver a culpa dos gentios, dos ímpios, e como se
manifesta a sua impiedade.
Três pontos principais nos mostram a completa ruína moral dos seres
humanos:
1 — Deus tem dado aos homens, na obra da criação dos céus e da terra,
um testemunho perpétuo de Si, manifestando-lhes assim o Seu eterno poder e a
Sua divindade. Alguns, porém, não quiseram reconhecê-Lo, e outros, tendo
conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem deram graças, mas
substituíram a glória do Deus incorruptível pela imagem do homem corruptível etc.,
pelo que Deus os entregou às concupiscências dos seus corações, à imundícia,
para desonrarem o seu corpo entre si.
2 — Mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais
a criatura — i.e. a si próprios — do que o Criador. O resultado de assim darem à
criatura a honra e o serviço que se devia prestar somente a Deus foi a ruína das
suas afeições.
3 — Como não lhes pareceu bem guardarem em si o conhecimento de
Deus, por isso Deus os abandonou a um sentimento perverso e depravado, e
deste modo vemos arruinado pelo pecado o entendimento do homem.
Reunindo esses pontos, temos o ser humano arruinado no que diz respeito
… ao seu corpo (v. 24),
… às suas afeições (v.26) e
… ao seu entendimento (v. 28).
6
completamente subjugado pelo pecado, até ao ponto de não só o praticar como
também de se regozijar com o dos outros.
Tendo abandonado a Deus, o homem ficou dominado pelo pecado, porém o
nosso Deus manifestou o Seu desejo de nos salvar e de Se tornar conhecido por
nós, em toda a Sua justiça e amor, e assim atrair para Si os nossos corações:
benditas novas estas, bendito evangelho!
Romanos 2:1 – 16
Aqui o apóstolo trata dos que se imaginam capazes de julgar os atos dos
outros, esquecendo-se eles de que é Deus que há de julgar os segredos de todos.
Deus, todavia, não Se apraz em julgar os seres humanos, mas antes procura pela
Sua bondade levá-los ao arrependimento. Vemos que tanto estes homens, como
também aqueles mencionados no capítulo 1, são, na verdade, indesculpáveis,
porquanto tendo luz, pelo menos a luz da sua própria consciência, ocupam-se em
julgar os seus semelhantes, recusando tomar o lugar que lhes compete, isto é, o
lugar dos condenados, e dos arrependidos perante Deus.
Deus, porém, não isenta nenhuma pessoa de Seu juízo e o Seu julgamento
é segundo a verdade. Vemos aqui os justos princípios do juízo de Deus. Notemos
porém, que o apóstolo não está aqui propondo os termos pelos quais se pode
ganhar a vida eterna, mas está mostrando os justos princípios conforme os quais
Deus há de julgar o mundo.
Romanos 3:9 – 20
7
Sendo assim, é evidente que nenhum homem será justificado perante
Deus, pelas suas próprias obras — pelas obras da Lei — porquanto a Lei só serve
para mostrar a sua culpabilidade, e condená-lo.
8
PARTE 3
— ROMANOS 3:21 – 5:11 —
Romanos 3:21 – 26
9
Romanos 3:27
Visto que tudo recebemos somente pela graça de Deus, sem merecimento
algum da nossa parte, onde está o motivo de nos gloriarmos? Sem dúvida, tal
motivo não existe, visto que não alcançamos a bênção mediante as nossas obras
ou merecimento — o que teria sido conforme à lei das obras —, mas alcançamo-la
pela fé, isto é, segundo a lei ou princípio ou fundamento da fé, e portanto por essa
mesma lei está excluído qualquer motivo para nos vangloriarmos.
Romanos 3:28
Romanos 3:29 e 30
A Lei foi dada por Deus exclusivamente aos judeus, e por isso, se a
justificação fosse alcançada pela Lei, seria esta bênção também limitada a eles.
Mas Deus não é exclusivamente Deus dos judeus, e por conseqüência não
se pode limitar a eles a bênção que provém dEle por fé em Jesus — ela é
oferecida a todos.
Romanos 3:31
Romanos 4:1 – 8
10
Como vemos no fim do capítulo 3, está já consumada a obra sobre a qual
se baseia a justificação do crente, e fica preparado o terreno onde o nosso Deus
nos pode encontrar para nos justificar e abençoar. Mas muitos há que não têm
ocupado este lugar pela fé nem têm até hoje achado a bênção, sendo todo o seu
desejo saber como podem encontrar esta bênção e como podem possuí-la. É a
tais desejos que o capítulo 4 responde.
Romanos 4:9 – 16
1 — a justiça da fé.
2 — o selo — circuncisão — sinal da separação para Deus.
3 — a herança.
11
1 — somos justificados pela fé.
2 — somos selados com o Espírito Santo, o poder da verdadeira separação para
Deus
3 — temos uma herança (veja também Cl 1:12).
Mas haverá quem diga: “Eu ainda não vejo como posso dizer que tenho estas
bênçãos; porventura não haverá assim alguma coisa no caso de Abraão que me possa ajudar
nesse ponto?
Sim, de certo há o que, como a bênção de Deus, nos pode conduzir à perfeita luz.
Romanos 4:17 – 25
12
Romanos 4:18 – 20
Romanos 5:1
“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo.” Sim, temos a paz; uma paz plena, perfeita e divina. Os nossos
corações que outrora tremiam com medo “da ira de Deus”, estão agora tranqüilos,
vendo Jesus, que para nos remir passou debaixo das águas do temporal da ira e
da morte, atualmente colocado por Deus acima de tudo na Sua glória e no Seu
favor, e sabendo que aos Seus olhos, nós, os que em Jesus cremos, estamos tão
livres de todo o julgamento, como o nosso Substituto é glorioso.
O perfeito caráter da nossa justificação está patente na pessoa de Jesus
ressuscitado e glorificado.
Romanos 5:2
13
Se lançarmos um olhar para trás, nada há que nos perturba, e exclamamos:
“Paz!” O momento atual é caracterizado pelo gozo do “favor divino”, e o futuro para
nós não tem senão “glória”.
Paz! Favor! A glória de Deus! Que quinhão para o presente — que
perspectiva para o futuro!
Mas naquele gloriosos futuro, qual será a fonte principal da nossa alegria?
Não será o conhecimento e gozo perfeito do amor de Deus? Sim, sem dúvida
assim será, porém, esta não é uma fonte cujas delícias estão reservadas para os
tempos futuros, mas assim uma da qual podemos beber desde já.
Se tivermos apreciado as verdades já expostas com referência à morte a à
ressurreição de Jesus como base justa para o cumprimento e edificação dos
propósitos de Deus, e se tivermos visto, em Jesus ressuscitado e assentado como
Homem na glória e favor de Deus, a realização destes propósitos, os nossos
corações ficarão sem dúvida muito impressionados com a justiça e o amor de
Deus, e assim será sólida a nossa paz e grande a satisfação dos nossos corações,
porque o próprio Espírito de Deus derrama neles o amor divino.
Romanos 5:3 – 5
Romanos 5:5 – 9
Nestes versículos vemos claramente que nada de bom havia em nós para
que Deus nos amasse. Porém, Deus é amor, e na Sua infinita sabedoria, por meio
da morte nos recomendou o Seu amor, sendo nós ainda “fracos” e “ímpios” (veja
Rm 5:6), “pecadores” (Rm 5:8) e “inimigos” (Rm 5:10).
Na morte de Cristo vemos satisfeitas inteiramente as exigências do trono
de Deus e ao mesmo tempo manifestada toda a grandeza do amor do coração
de Deus.
14
Romanos 5:10 e 11
Bem podemos dar graças a Deus pela morte do Seu Filho, porque é pelo
amor nela manifestado que Ele desfez de uma vez para sempre a nossa inimizade,
e nos introduziu no lugar de favor que pela fé ocupamos. Porém, se pela Sua
morte temos alcançado tanta bênção, qual não será a bênção que nos fará
experimentar a Sua vida atual?
Agora nós que somos amados por Deus, e que O amamos a Ele, temos um
Salvador vivo, Jesus Cristo, o Filho de Deus, para nos conduzir e guiar até ao
momento de entrarmos naquela glória que com tanto gozo esperamos. E não
somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo.
Feliz o coração que se gloria em Deus, gloriando-se, não nas bênçãos, por
mais ricas que sejam, mas sim gloriando-se no Abençoador, gloriando-se em
Deus manifestado em Cristo, manifestado em sabedoria, justiça, poder e amor.
A alma do crente espera tudo de Deus, e tudo acha em Deus: Deus é tudo
para ela. E ainda mais, estamos aptos para nos gloriarmos nEle, sabendo que
estamos perante Ele segundo o Seu agrado, aceitos em Seu Filho, por Quem
temos alcançado a reconciliação. Lemos a esse respeito: “…agora, contudo, vos
reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para, perante ele, vos apresentar
santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1:21-22). Já se vê, seria impossível
gloriarmo-nos em Deus sem apreciarmos, até certo ponto, o que é termos
alcançado a reconciliação por nosso Senhor Jesus Cristo, ou por outra, sem
apreciarmos que por Cristo, e em Cristo, estamos perante Deus conforme o Seu
agrado.
Deus terá, por fim, o Seu povo perante Si em conformidade com tudo o que
Ele é, para o Seu prazer e agrado; já vemos um exemplo disso em Cristo
glorificado como Homem na Sua presença.
Que nós, no gozo desta reconciliação em Cristo, nos gloriemos em Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor!
15
PARTE 4
— ROMANOS 5:12 – 8:39 —
Romanos 5:12 – 21
Romanos 5:12, 18 e 19
16
Todos que estão relacionados com Adão são constituídos ou feitos
pecadores; todos os que estão identificados com Cristo são constituídos justos.
Romanos 5:13 – 17
Romanos 5:20 e 21
Vemos aqui a razão por que Deus deu aos homens a Sua Lei. Ninguém
podia se justificar por ela diante de Deus, mas foi dada afim de manifestar o
terrível caráter do pecado. A Lei não foi a causa do pecado abundar, disto já havia
muito, mas por meio dela o pecado tornou-se em transgressão, e a sua força ficou
aprovada. Graças a Deus, porém, que onde o pecado abundou, superabundou a
graça.
Do nosso lado, só pecado; do lado de Deus, só graça divina — sim, graça
superabundante!
A morte é, em nós, o resultado de sermos filhos de Adão, nascidos em
pecado; a vida eterna é o resultado da livre operação da graça divina que nos
alcançou, de uma maneira absolutamente justa, por Jesus Cristo, nosso Senhor,
porque agora a graça reina pela justiça, por meio dEle.
Se no atual estado das coisas fosse a justiça que reinasse, seria para
condenação de todos; mas agora a graça reina pela justiça, por Jesus Cristo, e o
resultado para aquele que crê, é a vida.
Bem podemos levantar os nossos corações em adoração a Deus ao
contemplarmos Cristo em toda a Sua glória, posto por Deus para Cabeça de todos.
17
Oh!, que alegria apreciarmos que, diante de Deus, estamos identificados
com Cristo; assim exclamamos: Não Adão, mas Cristo!
Mais um passo e exclamamos: Não eu, mas Cristo!
A alma aprende a apreciar Cristo mais do que tudo e mais do que a si
mesma.
Romanos 6:1 – 5
Romanos 6:6 – 8
18
Se temos apreciado o verdadeiro caráter do “nosso homem velho” como
sendo em tudo o contraste daquilo que Deus é, e por isso odioso a Deus, será com
grande alívio que veremos a maneira como Ele o julgou na morte de Cristo.
O que vemos nestes versículos não é que o “nosso homem velho” fica
remendado ou melhorado, mas, sim, que para Deus ele acabou na cruz, para dar
lugar àquilo que é novo em Cristo.
A nota tônica, por assim dizer, desse capítulo é a revelação do privilégio
que pertence ao crente de se identificar na sua fé e nos seus pensamentos com
Cristo. Se temos apreciado a verdade da nossa identificação com Cristo na Sua
morte, podemos regozijar-nos pela nossa identificação atual com Ele — vivemos
nEle diante de Deus, e podemos andar na certeza de que estaremos, mais tarde,
identificados com Ele na glória da ressurreição.
Romanos 6:9 – 13
19
Certamente, e por isso somos vivos para Deus, nEle. Quanto ao pecado —
mortos; quanto a Deus — vivos em Cristo.
Não é que o pecado esteja morto, mas nós temos de considerar que pela
morte de Jesus morremos quanto ao pecado. Por isso recusemos continuar a ser
dominados por ele. Se nos tenta, e se, por assim dizer, quer andar na nossa
companhia, viremos-lhe as costas, considerando-nos mortos para ele.
Por outro lado, reconhecemos que doravante estamos no mundo para
fazermos a vontade de Deus, e, enquanto esperamos o dia em que havemos de
ter corpos gloriosos, reconhecemos que os nossos corpos atuais devem ser
apresentados a Deus a fim de que neles se realize a Sua vontade aqui no mundo.
Lemos: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos
membros a Deus, como instrumentos de justiça”. Bendito privilégio este! Porém, é
só como libertados da condenação e domínio do pecado, como vivos em Cristo,
vivos dentre os mortos, que podemos apresentar-nos a Deus.
Vendo assim o privilégio que nos pertence, não deixemos de o
experimentar para o nosso gozo e para a glória de Deus.
Romanos 6:14 – 23
Romanos 7:1 – 6
20
A lição que tiramos desta comparação é que a Lei tem domínio sobre uma
pessoa enquanto viver, mas, sobrevindo a morte, essa pessoa fica fora do seu
alcance. E de mais, uma pessoa não pode, ao mesmo tempo, estar debaixo do
domínio da Lei e também de Cristo: tem de ser de um ou de outro; dos dois não
pode ser.
Qual é pois a nossa posição atual como cristãos? Estávamos outrora “na
carne”, isto é quanto à vida em que, como responsáveis vivíamos diante de Deus,
estávamos identificados com o pecado e a ruína de Adão; e é sobre pessoas neste
estado ou condição que a lei tem domínio. Sobreveio, porém, a morte — a morte
de Cristo — e por esta morte, com que somos identificados, acabou, aos olhos de
Deus, a nossa condição como identificados com Adão e saímos dela para sermos
identificados em vida com Cristo.
Servindo-nos da comparação acima citada podemos dizer que a nossa
conexão com o primeiro marido — a Lei — acabou. Não que ela morresse, a Lei
fica sempre de pé, mas somos nós, os que temos parte na morte de Cristo, que
temos saído fora daquele estado em que a Lei podia ter domínio sobre nós. Não
estamos mais “na carne”; assim lemos: “Meus irmãos, também vós estais mortos
para a Lei pelo corpo de Cristo”.
Mas se não estamos mais sob o domínio da Lei, estamos sob o domínio
de Cristo. O primeiro marido disse-nos aquilo que devíamos fazer sem contudo
nos habilitar ou dar forças para isso; não produzíamos nesse tempo senão pecado
— “fruto para morte” (Rm 7:5). Mas agora, na nova posição em que estamos
colocados, e no novo parentesco que temos como identificados com um Cristo
ressurreto, e debaixo do Seu domínio, podemos produzir fruto para Deus.
Qual é, pois, o pensamento de Deus a nosso respeito em tudo isso? É que,
gozando nós agora a liberdade em Cristo e estando identificados com Ele e
debaixo do Seu domínio, O serviremos “em novidade de espírito, e não na velhice
da letra” (Rm 7:6); isto é, o nosso serviço prestado a Deus não deve continuar a
ser o resultado de estarmos constrangidos pelas ameaças da Lei, mas, sim, o de
estarmos associados, em santa e alegre liberdade, com Cristo agora ressuscitado.
Romanos 7:7 – 15
21
“E eu, em algum tempo, vivia sem lei” (Rm 7:9); isto é, com respeito a
minha consciência, vivia — imaginava que tinha direito à vida, não sentindo que
tinha uma natureza pecaminosa que estava debaixo da condenação da morte.
Porém, “vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri”.; isto é, o
conhecimento da Lei me fez sentir a força e a existência do pecado em mim, e
fiquei assim condenado na minha consciência, estremeci debaixo da condenação
da Lei, vi que tinha sobre mim a sentença da morte.
Desta maneira, como lemos no versículo 10, a Lei, que em si é boa e justa
e que era para a vida, tornou-se para mim — devido à presença do pecado em
mim — em Lei para morte.
A Lei disse: “O homem que fizer estas coisas viverá por elas” (Rm 10:5).
Ela foi dada para a vida, porém logo percebi que não podia satisfazer as suas
exigências. Cumpri-la, para assim alcançar a vida, me era impossível: tinha
descoberto a presença do pecado em mim, e assim, a Lei apenas me condenava;
no meu caso vi que “era para a morte”.
Claramente a Lei então é santa, justa e boa, visto que condena
absolutamente o pecado, quer no desejo, quer no ato de o praticar. Porém, tendo a
vontade própria da minha natureza sido despertada em oposição ao mandamento,
senti-me colocado debaixo da sua justa condenação; quanto à apreciação da
minha consciência, posso dizer: “o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
me enganou e, por ele, me matou” (Rm 7:11).
Ora, tudo isso levanta outra dificuldade. Porventura será esta Lei tão boa e
santa, a causadora da minha morte? Não, de modo algum. O causador disso não é
a Lei, mas antes o pecado.
Tal é o caráter pecaminoso da minha natureza, que a vinda da Lei, perfeita
como é em si, não podia senão condenar-me. Assim, sei que a Lei é espiritual,
mas, em mim — ah!, em mim — está o mal; “sou carnal, vendido sob o pecado”
(Rm 7:14). Pela Lei tenho descoberto em mim uma natureza que se revolta contra
ela, e que ama o pecado. E o que é ainda pior, quando desejo fazer o bem não o
posso fazer, e aquilo que faço não o aprovo.
Romanos 7:16 – 26
“E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa” (Rm 7:16). Isto
é um ponto importante, porque na minha mente ponho-me do lado da Lei,
condenando as minhas ações, mas não só isso: pois até reconheço que praticando
tais atos condenáveis, estes procedem não de mim próprio, mas do pecado que
habita em mim (veja Rm 7:17).
Que idéia tudo isto me dá da “carne”, daquilo que sou por natureza! Uma
coisa é reconhecer que tenho feito mal, e outra, que não posso fazer o bem —,
chegar a saber que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm
7:18).
É custoso reconhecer esse triste fato, contudo é assim que sou levado a
distinguir entre aquilo que eu próprio sou, como sendo nascido de Deus, e o
pecado que habita em mim. Não posso em tais circunstâncias deixar de dizer que
“eu faço o que não quero”, porém, analisando tudo isso, vejo, com efeito, que “já o
não faço eu, mas o pecado que habita em mim”.
Reconheço que há em mim alguma coisa que é de Deus, que ama e aprova
a Sua Lei, e agora identifico-me com isso, com o homem interior”; contudo
acho-me sem o poder de pôr em prática o bem que desejo, e ainda mais, percebo
presente em mim o pecado que me estorva sempre.
22
O meu grande desejo é viver para Deus — ser alguma coisa para Deus.
Porém, vejo que de um lado estou absolutamente sem poder, e do outro, pela
operação do pecado mim, que estou sob a sentença de morte.
O novo “eu” anela por estar livre para servir a Deus, mas não me posso
livrar do velho “eu”, que está ligado ao pecado e, portanto, debaixo da sentença de
morte. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm 7:24).
Absolutamente incapaz de me libertar a mim mesmo, olho ao meu redor e
clamo: “Quem, quem me livrará?”
E quem pode fazê-lo senão Deus?! Sim, agora vejo que Deus já efetuou a
minha salvação, e aprecio, por fim, a verdade a respeito da morte e ressurreição
de Cristo, e da minha identificação com Ele. “Dou graças a Deus por Jesus Cristo,
nosso Senhor” (Rm 7:25).
Notemos que a experiência descrita no fim desse capítulo 7 não é
propriamente “experiência cristã”, apesar de ser a experiência de muitos cristãos.
É a experiência de quem está nascido de novo, e que por isso tem novos desejos
e sentimentos, mas que não tem pleno conhecimento da verdade do evangelho
nem do dom do Espírito Santo. Enfim, trata-se de uma pessoa que, quanto à sua
consciência, tem ainda diante de Deus a responsabilidade de um homem na carne
e por isso se acha debaixo do domínio da Lei.
De modo algum Paulo está aqui descrevendo a sua experiência como
cristão, isto é, a sua experiência na ocasião de escrever essa epístola; mas como
quem tivesse saído do lodo e estivesse em terra firme, descreve a agonia espiritual
de quem ainda lá se encontrasse.
“Para o mim o viver é Cristo!” É essa a linguagem da verdadeira experiência
cristã (veja Fp 1:21).; assim como também as palavras: “Posso todas as coisas
naquele que me fortalece” (Fp 4:13).
Romanos 8:1 – 4
1
As palavras “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” em alguns manuscritos não constam.
Teologicamente não cabem aqui, como se existisse alguma condição à salvação, porém, sim, no versículo 4,
onde as lemos de igual modo. — N. do T.
23
compreendermos a posição dEle, tanto mais capazes seremos de apreciar a nossa
posição nEle.
Com que alívio descansa agora em Cristo aquele que tiver passado pela
triste experiência contada no capítulo 7, versículos 7 – 24. Naqueles versículos as
palavras que se salientam mais, pelas muitas vezes que se repetem, são os
pronomes “eu”, “me” e “mim”, que indicam que a pessoa que fala se ocupa consigo
própria. Agora, no capítulo 8, já tudo aquilo tem passado, e tanto a inteligência
como o coração dessa pessoa se ocupam com Cristo.
Leiamos então de novo as palavras: “Portanto, agora, nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Talvez alguém pense que isto
parece dizer demais. Lembremo-nos, porém, que é Deus que assim nos fala, e
bem podemos confiar naquilo que Ele diz.
Consideremos por um momento as palavras “em Cristo”. Todo crente há
de confessar que nEle tudo é perfeito, e que Ele nada tem de condenação;
sabemos que Deus acha nEle toda a Sua complacência.
Ora bem, nós crentes podemos dizer pausadamente e, pondo nas palavras
todo o seu sentido, que estamos nEle, que temos vida em Cristo.
A vida que temos de Deus em Cristo é inteiramente diferente da que temos
em Adão. Quanto a essa última, já foi condenada na morte de Jesus, ao passo que
a vida que temos em Cristo, nada tem, nem pode ter, de condenação.
Assim iniciamos por apreciar Cristo e a Sua perfeição, e em seguida,
sabendo que estamos também atualmente libertados do domínio do pecado em
nós, pela introdução deste novo princípio de vida em Cristo; e o poder desta vida
em nós é o Espírito Santo.
Vemos, pela fé, com corações agradecidos, a maneira como na pessoa e
morte de Seu Filho, feito pecado por nós sobre a cruz, Deus de uma vez para
sempre condenou o pecado na carne: a Sua plena sentença contra o pecado foi ali
executada, e podemos afirmar que Deus não tem mais que dizer a esse respeito.
Visto isso, também nós, aceitando o que Deus fez, não devemos ocupar-nos mais
com a carne: mas, recusando satisfazer os seus desejos, considerar que já não
estamos mais identificados com ela. Dominados então, não mais pelo pecado ou
pela carne, mas sim pelo poder da nova vida que temos em Cristo, andemos, não
segundo a carne, mas segundo o Espírito, achando o nosso gozo e prazer em
fazer a vontade de Deus.
Repetimos, que na morte de Cristo, a plena e justa exigência da Lei, a
nosso respeito, ficou satisfeita — foi executada a última pena. Agora libertados no
poder de uma nova vida em Cristo, o nosso privilégio é andarmos segundo o
Espírito e pelo Seu poder, de maneira que a vida de Jesus se manifeste em nós.
Romanos 8:5 – 9
24
inclinações o conduzem à morte. Atualmente sofre morte espiritual, mais tarde
sofrerá a física, e finalmente o que se chama a “segunda morte”, o castigo eterno.
Muito diferente é o caso do crente, pois lhe pertencem a vida e a paz. O
apóstolo não está aqui descrevendo exatamente a nossa experiência, mas
manifestando as respectivas posições ou caracteres de quem está identificado
com a carne, e de quem está no Espírito.
O caráter da carne é o de inimizade contra Deus e tanto assim é, que lemos
que a carne “não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7).
É, como já temos visto, irremediavelmente má. No versículo 8 lemos: “Portanto, os
que estão na carne não podem agradar a Deus”, isto é, enquanto estivermos
identificados, aos olhos de Deus, com o pecado na carne que caiu debaixo da Sua
condenação na cruz, não podemos agradar-Lhe.
Qual é então a posição do cristão? A resposta a esta pergunta encontra-se
no versículo 9: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito”. Assim é que
Deus nos considera; somos salvos, e como tais não estamos na carne.
Porém, é preciso reparar bem a quem se referem estas palavras.
Referem-se só às pessoas convertidas e salvas e não a qualquer pessoa que
apenas se diz cristã. “Não estais na carne, mas sim no Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não
é dele”. Bem-aventurada é a sorte daquele que sabe que o Espírito de Cristo
habita nele. Como é aqui excluído todo o engano e toda a hipocrisia! Cada um tem
de se haver individualmente com Deus; a bênção vem só dEle; e é preciso que
tenhamos o selo divino.
Será bom aqui perguntarmos a nós próprios se porventura podemos
levantar os nossos corações a Deus em grata adoração, sabendo que em verdade
estamos em Cristo diante dEle e não mais em Adão; que Ele nos vê como estando
no Espírito e não na carne? Não é isto uma questão de considerarmos os nossos
sentimentos, nem de pensarmos na nossa experiência, mas sim de aceitarmos o
testemunho de Deus, e de confiarmos nEle.
O importante não é o que nós pensamos, mas aquilo que Ele diz; não o que
nós vemos, mas o que Ele vê.
Romanos 8:10 – 17
Temos visto que Deus nos considera identificados com Cristo, vivos no
poder do Espírito Santo. Porém, então, se Cristo está em nós, não podemos deixar
de reconhecer que o nosso corpo deve cessar de ser o instrumento do pecado;
mas a vida antiga não pode produzir senão pecado. Se porém Cristo estiver em
nós como a fonte e o poder de uma nova vida, o corpo, enquanto a vontade da
carne está, por assim dizer, morto; mas, debaixo do domínio do Espírito Santo, e
por meio dEle, torna-se o instrumento para a manifestação da justiça.
O Espírito Santo que é o novo poder da vida no crente, é a única fonte do
bem em nós e o único poder para a sua manifestação.
Além disto temos, pela presença do Espírito Santo em nós, a prova de que
até os nossos corpos mortais também hão de desfrutar mais tarde os gloriosos
resultados da ressurreição de Cristo, sendo conformados à semelhança do corpo
glorioso do Senhor. Assim todo o nosso ser — espírito, alma e corpo — gozará os
efeitos da plena redenção.
Tendo sido desta maneira libertados por Deus, não somos devedores à
carne para vivermos segundo as suas inclinações, mas antes pelo contrário, por
meio do Espírito Santo mortificamos as obras do corpo.
25
Deus não fala em mortificarmos os nossos corpos, mas as obras do corpo,
e isto só pode ter lugar por meio da nova vida em Cristo. Procedendo assim,
viveremos e desfrutaremos os gozos da vida nova.
Agora, no versículo 14, lemos a maravilhosa verdade de que aqueles que
assim são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
O crente descansa, assim, no gozo do pleno amor de Deus, tendo recebido
o Espírito de adoção, pelo qual clama: “Pai!”.
E notemos que o sermos “filhos de Deus” é uma conseqüência da
redenção, de sermos identificados com Cristo na Sua vida atual e de termos
recebido o Seu Espírito. Somente dos verdadeiros crentes se pode dizer que são
“filhos de Deus”; todos os homens são criaturas de Deus, Ele é o Criador de todos,
mas Deus não é Pai de todos nos sentido das palavras que estamos
considerando. Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e todos que em Cristo
crêem podem dizer: “Ele é o nosso Deus e o nosso Pai também”.
Esta sublime bênção é o resultado da nossa associação no poder da vida
eterna com Cristo, e o Espírito que em nós habita testifica com o nosso espírito
que assim é.
Sendo, pois, filhos, somos também herdeiros de Deus, e co-herdeiros de
Cristo. Cristo, porém, sofreu aqui, como não podia deixar de sofrer, visto que
andava no meio do pecado e da tristeza do mundo, e a nós nos é concedido o
privilégio de termos comunhão com Ele no sofrimento aqui no lugar da Sua
rejeição; mas isto terá como conseqüência, mais tarde, a nossa comunhão com
Ele no lugar da Sua glória.
Romanos 8:18 – 27
26
Romanos 8:28 – 30
27
Romanos 8:31 – 39
28
PARTE 5
— ROMANOS 9 A 11 —
Romanos 9:1 – 5
Nestes versículos o apóstolo revela o intenso amor que sentia pelo povo
terrestre de Deus, os seus irmãos segundo a carne. Recapitula aqui alguns dos
muitos privilégios que lhes pertenciam, concluindo com o fato de ter Cristo nascido
entre eles, acrescentando, porém, a esta referência à Sua humanidade, que Ele é
“sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9:5).
Qual foi a razão desta tristeza que o apóstolo sentia no seu coração?
Foi o fato deles terem rejeitado Cristo, o Único que podia fazê-los entrar no
gozo da bênção prometida.
Romanos 9:6 – 16
29
Ismael e outros filhos de Abraão foram postos de lado e a bênção
prometida foi ligada a Isaque, o filho prometido (veja Rm 9:9); — “Em Isaque será
chamada a tua descendência” (Rm 9:7).
Ismael, de cujo nascimento lemos no livro de Gênesis, capítulo 16, foi o
filho da vontade e da energia natural, ao passo que Isaque foi o filho da promessa;
e a bênção divina depende dessa última, da promessa de Deus. Assim o judeu
devia ter compreendido, e nós podemos aprendê-lo, que a bênção “não depende
do que quer” (veja Rm 9:16). De fato lemos: “Não há ninguém que busque a Deus”
(Rm 3:11). É por isso que não pode haver esperança para os seres humanos, quer
judeus quer gentios, senão em Deus que é soberano.
Quando Deus faz uma promessa absoluta e incondicional, é como se nos
declarasse o Seu próprio propósito, e já temos visto que nada há que possa pôr
empecilho à realização do propósito de Deus. É verdade que a bênção prometida
pode não estar ao alcance do poder dos homens por mais que se esforcem, mas o
poder de Deus fará com que eles a gozem.
Isto é a lição que temos no segundo caso acima citado, o de Esaú e Jacó.
Antes mesmo que nascessem, Deus dissera: “O maior servirá o menor” (Rm 9:12).
Mais tarde, os dois fizeram mal, nem um nem outro merecia receber a bênção
prometida, porém Deus, sempre fiel a Sua promessa, assegurou a bênção de
Jacó. Assim vemos que “não depende do que corre” (Rm 9:16). Também lemos:
“Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3:12) e, por isso, novamente
dizemos, não pode haver esperança para os homens senão em Deus que é
soberano.
O terceiro caso citado, isso é, as palavras de Deus a Moisés (veja Rm
9:15), prova e evidencia que Deus, soberano como é, Se compraz de usar o Seu
poder para abençoar os seres humanos, e que não tem prazer algum em julgá-los.
As ditas palavras foram dirigidas por Deus a Moisés logo depois do povo de
Israel ter pecado horrivelmente contra Ele, fazendo o bezerro de ouro (veja Êx 32 e
33:19). Foi aquele um momento em que, com justiça, Deus podia ter destruído
aquele povo por completo, mas em vez disso, falou, dizendo: “Compadecer-me-ei
de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”.
Vemos, então, que sendo todos pecadores, sem mérito algum diante de
Deus, se alguém receber bênção dEle, será em resultado da Sua soberana
misericórdia.
Assim o judeu tem que reconhecer que, quanto a si, tem perdido todo o
direito de receber a bênção, ao passo que Deus certamente há de cumprir a
promessa dada a Abraão. Conseqüentemente, tanto para ele como para o gentio,
toda a bênção depende da soberana misericórdia de Deus.
Romanos 9:17 – 18
30
Lendo no livro de Êxodo vemos que tanto Israel como Faraó eram culpados
diante de Deus e a justiça teria condenado a ambos, porém Deus é soberano, e
mostra-nos ser Ele não só justo em todos os Seus atos, mas também um Deus
que Se compraz em mostrar misericórdia. Quando Faráo endureceu o seu coração
contra Deus, foi destruído pela justiça, ao mesmo tempo que o povo de Israel foi
salvo pela soberana misericórdia de Deus, que o abrigou sob o sangue do
sacrifício da páscoa.
Todo o mundo é condenável diante de Deus; a justiça havia de julgar e
condenar a todos; porém, Deus Se tem manifestado como um Deus Salvador,
soberano em misericórdia, sendo a morte de Cristo a base sobre a qual Ele assim
pode agir.
Romanos 9:19 – 24
Talvez alguém diga: “Por que se queixa Ele ainda? Quem resiste à Sua
vontade? Ainda mais, se é simplesmente uma questão da Sua vontade e do Seu
poder, que posso eu fazer? Se hei-de ser salvo sê-lo-ei efetivamente, e se não, a
culpa não é minha”.
Ah! Ninguém que tivesse uma verdadeira apreciação da majestade,
sabedoria e amor de Deus, falaria assim. O fato de Deus pelo Seu soberano poder
cumprir a Sua vontade não é razão alguma para o homem fazer o que bem quiser,
satisfazendo assim a própria vontade. Não; o princípio da sabedoria é temor de
Deus, e isto faz com que demos a Deus o lugar e a glória que Lhe pertencem.
Devemos aceitar e obedecer logo ao testemunho que Deus nos dá, reconhecendo,
ao mesmo tempo, que, sendo Ele soberano, tem o direito de fazer tudo quanto Lhe
aprouver.
O apóstolo ousada mente afirma esta verdade. Digam os homens o que
disserem, o oleiro tem poder sobre o barro. A coisa formada não pode dizer ao que
a formou: “Por que me fizeste assim?”
“Tu és bom e fazes bem”, lemos no Salmo 119:68, e o coração de quem
teme a Deus e se humilha diante dEle, regozija-se em pensar na Sua soberana
bondade. Porém, se Deus, querendo dar a conhecer co Seu poder e mostrar a Sua
ira, a deixa cair sobre os que se têm preparado a si próprios para a perdição,
tendo-os Ele primeiro suportado com muita paciência e longanimidade, quem é
que se pode queixar? Ninguém.
Por outro lado, Ele mesmo prepara os vasos para a manifestação da Sua
misericórdia. Todos são maus, porém Deus, em misericórdia soberana está
preparando vasos nos quais dará a conhecer as riquezas da Sua glória.
“Os quais (vasos de misericórdia) somos nós”, diz o apóstolo. Oxalá querido
leitor, que nós nos possamos ver, pela fé, entre esses! Pobres miseráveis
pecadores por natureza, se podermos, sequer, melhorar a nossa situação diante
de Deus, não podemos senão lançar-nos sobre a misericórdia soberana de Deus
por meio de Jesus. Escrevendo aos Coríntios, Paulo tratando do estado glorioso
que espera o crente, disse: “Quem para isso mesmo nos preparou foi Deus” (2 Co
5:5).
31
Romanos 9:24 – 33
O apóstolo agora afirma que “os vasos de misericórdia” são chamados não
só de entre os judeus, mas também de entre os gentios, e em confirmação disso
cita os profetas Oseías e Isaías.
Oséias tinha profetizado que a graça divina havia de alcançar tanto os
gentios, que nunca tinham recebido promessa alguma a esse respeito, como os
judeus, que tinham perdido, pelo seu pecado, todo o direito a receber a promessa
que lhes fora feita.
Além disso, Isaías tinha dito que apenas uma parte do povo de Israel seria
salva, e isto devido à soberana misericórdia de Deus.
Qual era então o resultado de tudo isso? Vemos que os gentios, que não
buscavam a justiça, alcançaram-na pela fé, enquanto que os judeus, tão religiosos
como eram, não alcançaram essa justiça diante de Deus.
E porquê? Porque os judeus enganaram-se no modo de a alcançar;
procuraram justificar-se pelas suas próprias obra em vez de reconhecerem a sua
incapacidade, e confiaram em Cristo. Rejeitaram Cristo em Quem e por Quem
somente se pode alcançar a justiça de Deus.
Isaías tinha falado da pedra de tropeço que Deus havia de pôr em Sião.
Seria como um santuário para os que cressem, porém como uma rocha de
escândalo e pedra de tropeço para os que não cressem. Os judeus tropeçaram
naquela Pedra — um Cristo humilde, meigo e rejeitado pelos homens — e têm
sido confundidos como atualmente se vê.
Romanos 10:1 – 13
O apóstolo aqui fala do intenso desejo que sentia pela salvação do povo de
Israel, e de como orava a Deus por isso. Testifica do muito zelo que aquele povo
mostrava quanto à religião, mas explica-nos que esse mesmo zelo os impediu de
apreciar o testemunho de justiça pela fé em Jesus Cristo, que Deus lhe estava
enviando.
Na sua cegueira procuravam, pelas suas próprias obras, colocar-se diante
de Deus numa justiça que fosse deles próprios. Recusaram humilhar-se perante
Deus e confessar-Lhe a sua absoluta falta de justiça, e assim não se sujeitaram à
justiça de Deus.
É verdade que Moisés tinha dito: “O homem que fizer estas coisas viverá
por elas” (Rm 10:5); mas quem as podia fazer? Ninguém.
A pessoa, porém, que reconheça isso e se volte para Deus
confessando-Lhe a sua necessidade, descobre logo que da Sua parte Deus lhe
está apresentando, para a sua aceitação pela fé, aquilo que nunca podia alcançar
pelas obras da lei.
Cristo tem vindo! A maldição da lei, pronunciada contra quem não
cumprisse com as suas exigências, sofreu-a Cristo na Sua morte! A vida — o fim
proposto pela lei — alcançamo-la em Cristo ressuscitado!
Plena satisfação, perfeita bênção, justiça, vida, tudo temos em Cristo e tudo
alcançamos pela fé. “O fim da lei é Cristo…” (Rm 10:4). Bendito seja Deus, toda
esta bênção, desde o princípio até ao fim, provém dEle.
Não necessitamos, por assim dizer, subir ao céu para trazer do alto a
Cristo, porque Deus já no-Lo enviou, e Ele por amor de nós se entregou à morte
(veja Rm10:6).
32
Tampouco precisamos descer ao abismo para tornar a trazer Cristo de
entre os mortos, porque Deus já O ressuscitou (Rm 10:7).
Que nos resta então fazer? Temos que escutar o testemunho que Deus nos
tem enviado a respeito de Cristo, e sujeitarmo-nos a Ele.
E que diz Ele? Apresenta-nos uma justiça perfeita, uma salvação completa,
dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Estas palavras
indicam claramente que não se trata de uma simples questão do esclarecimento
da nossa inteligência, mas sim do nosso coração se comover profundamente,
porque “com o coração se crê para alcançar a justiça” (Rm 10:10).
Mas há mais. Junta-se à fé do coração, a confissão da boca: o crente
confessa que Cristo é o seu Senhor.
Quer diante de Deus, quer diante dos homens apresenta-se como
identificado pela fé com Cristo, confessando-O como sendo o seu Senhor. Assim
tem aceitação para com Deus e desfruta o poder da salvação neste mundo,
porque: “Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).
Desta maneira, a bênção é por Deus assegurada igualmente aos gentios e
aos judeus e, de acordo com isso, lemos que, referente ao evangelho e a bênção
nele oferecida, “não há diferença entre judeu e grego” (Rm 10:12).
Em Romanos 3:22 e 23 lemos: “Não há diferença. Porque todos pecaram”.
Aqui, no versículo 12 de Romanos 10, lemos: “Não há diferença … porque um
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam”. Bem
podemos confessar humildemente o primeiro desses fatos, enquanto nos
regozijamos diante de Deus pelo segundo.
Vemos então que em Cristo glorificado há bênção sem limites para todos.
Sendo, como homem, exaltado por Deus a ser Senhor de todos, todos se podem
aproveitar das riquezas que nEle há; porém para isso cada um tem de invocá-Lo
individualmente.
Nem zelo nem obras humanas podem alcançar este grande bem, mas “todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10:13).
Romanos 10:14 – 21
33
Logo no princípio, quando Deus chamou o povo de Israel para ser um povo
particular para Si, Moisés predisse a maneira como esse povo havia de deixar de
seguir o Senhor, andando no seu pecado e cegueira e, ainda mais, disse como
Deus havia de dar a bênção a outros, que não pertencessem àquele povo, a fim de
assim despertar nele o desejo de também receber a bênção de Deus que até
agora, na sua coletividade, tem rejeitado.
O apóstolo cita outra vez o profeta Isaías como testemunha desse fato.
Lemos: “Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim
não perguntavam” (Rm 10:20). Deus manifestou-Se àqueles que não O buscavam
nem perguntavam por Ele. Bendito seja o Seu nome, aprouve-Lhe manifestar-Se a
Si mesmo na pessoa do Seu Filho Jesus àqueles que, como nós, não o buscavam.
Que graça divina! Que graça soberana!
Isaías, porém, acrescentou, falando ainda do povo de Israel: “Todo o dia
estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Rm 10:21). E assim
tem acontecido; o testemunho de Deus tem sido aceito entre os gentios ao passo
que a nação de Israel, na sua coletividade, o tem rejeitado; por conseqüência,
tendo recusado a Cristo, tem sido por Deus posta de parte e confundida, porém:
“Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).
Romanos 11:1 – 15
34
Romanos 11:16 – 36
O apóstolo agora explica a posição relativa dos judeus e dos gentios com
respeito ao lugar de privilégio e bênção aqui neste mundo.
Depois do dilúvio com que Deus destruiu o mundo antigo, os homens
procuraram fazer para si uma grande cidade e um grande nome a fim de que não
fossem espalhados por toda a terra, porém Deus os confundiu neste propósito e os
espalhou por toda a parte e os dividiu em diversas nações (Gn 11).
Parece, então, que basicamente todos se entregaram à idolatria e, estando
as coisas assim, Deus, conforme o seu soberano propósito, chamou a Abraão
(veja Js 29), fazendo com que ele fosse o pai — o primeiro — daqueles que
haviam de experimentar o benefício das promessas que Deus estava prestes a
declarar.
Foi Abraão constituído, por assim dizer, raiz da “oliveira de promessa”, e
Israel — não só os judeus, isto é, as duas tribos, mas sim as doze tribos — será
salvo (Rm 11:20). Quando O virem, passará a sua cegueira, e arrependidos
reconhecerão por fim o seu Messias, e Ele, cumprindo, então, as promessas de
Deus, reinará em poder e majestade e o Seu povo antigo será outra vez o principal
entre as nações.
Sim, tudo quanto Deus tem proposto, quer a respeito da Sua Igreja, quer do
Seu povo terrestre, Israel, há de infalivelmente ser realizado. E quando Deus
assim nos fala da bênção que tem determinado para os seres humanos, nos vem à
lembrança que todos, quer judeus quer gentios, têm sido desobedientes, de
maneira que ninguém, nem sequer o judeu, pode falar de qualquer direito à
bênção; todos hão de recebê-la somente pela soberana misericórdia de Deus (Rm
11:32).
O apóstolo, ao concluir esta parte de sua epístola, exclama num espírito de
adoração: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos!” (Rm 11:33).
A sabedoria divina planejou tudo, e o poder divino há de efetuar tudo, para
a glória de Deus.
Com corações adoradores concluímos este capítulo, dizendo: “Dele, e por
ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm
11:36).
35
PARTE 5
— ROMANOS 12:1 A 15:7 —
Na parte desta epístola de que vamos agora tratar, vemos qual é a conduta
e maneira de vida que resulta da apreciação e aceitação da doutrina que já nos
tem sido apresentada.
Temos aqui, não tanto a exposição das verdades fundamentais do
evangelho, como exortações próprias para aqueles que tenham recebido estas
verdades.
Consideremos então estas exortações, pedindo a Deus que, pela Sua
divina graça, nos faça corresponder a elas para glória do Seu nome.
Romanos 12:1
36
A morte não tem mais poder contra nós (Rm 8:38).
Repetimos, pois, com corações adoradores: “Somos livres”.
Romanos 12:2
Romanos 12:3 a 10
37
Esta verdade que apenas é aqui indicada sem ser desenvolvida, serve para
regular a nossa conduta, como crentes, uns para com os outros.
Os diversos membros do corpo humano têm diversas funções, e operam de
diferentes maneiras, porém cada um nos seus movimentos contribui para o bem
de todos, do corpo comum, e é dirigido pela cabeça.
Assim deve ser, diz o apóstolo, com todos nós cristãos. Cada pessoa deve
ocupar o seu lugar, conforme a medida da fé que tiver recebido, e assim contribuir
para o bem de todos, reconhecendo que o lugar que ocupa é seu pela vontade de
Deus.
Alguns, segundo essa vontade podem ter recebido dons especiais, em tais
casos, que haja todo o cuidado e zelo no exercício destes dons com toda a
humildade lembrando-se que estes favores têm sido recebidos de Deus, para
serem usados para o bem de todos.
Finalmente é preciso que haja amor sem fingimento, e que, como os que
têm sido ensinados por Deus, saibamos aborrecer o mal e aderir ao bem.
Assim, amando-nos uns aos outros reciprocamente, saberemos também
honrar-nos devidamente uns aos outros.
Romanos 12:11 a 21
O apóstolo fala agora de outros pontos que dizem respeito à vida cristã e ao
espírito em que devemos andar individualmente.
Em todas as circunstâncias devemos sempre proceder com um espírito leal
e fervoroso como convém àqueles que até nas coisas mais pequeninas têm e
privilégio de servir ao Senhor Jesus.
Na vida do cristão não se devia notar a preguiça, mas antes o zelo (veja Rm
12:11), o gozo, a esperança, paciência, a oração (Rm 11:12), a bondade, a
hospitalidade (Rm 12:13), o amor para com os inimigos (Rm 12:14) e a simpatia
(Rm 12:15).
Esses são alguns dos característicos da vida cristã. Permita Deus que
sejam manifestados em nossas vidas.
Como crentes devemos ser caracterizados pela graça divina e pela
humildade, de maneira que, ao contrário do espírito mundano que ambiciona
coisas grandes e altivas, achemos o nosso gozo em andar com os humildes (Rm
12:16), aprendendo assim do nosso bendito Senhor Jesus que disse: “Eu sou
manso e humilde de coração” (Mt 11:29).
Também é o nosso privilégio manifestar aos outros o mesmo espírito que
Deus nos manifestou a nós, isto é, um espírito de graça divina e de longanimidade.
Portanto, a ninguém tornemos mal por mal (Rm 12:17).
Devemos ter também o maior cuidado em termos todas as nossas coisas
arranjadas de uma maneira honesta diante de todos, a fim de que ninguém nos
possa acusar, nem nós sirvamos de tropeço a ninguém (Rm 12:17).
Paz com todos deve também ser uma das nossas normas, pelo menos
quanto estiver ao nosso alcance.
Devemos sempre andar tranqüila e honestamente, sem darmos ocasião de
queixa a ninguém. E, caso fôssemos mal tratados ou infamados, não nos compete
a nós vingarmo-nos, mas deixar tudo que nos diz respeito nas mãos do nosso
Senhor (Rm 12:18-19).
Por fim lemos: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”
(Rm 12:21). Aqui vemos o triunfo do cristão. Vemos esse princípio perfeitamente
exemplificado no Senhor Jesus; e nunca o foi mais do que na ocasião da cruz,
38
quando triunfou sobre todo o poder do mal. Portanto, no poder da vitória de Cristo
e regozijando-nos no verdadeiro bem que é nosso nEle, podemos fazer bem a
todos, triunfando assim do mal que nos rodeia.
Ó Senhor Jesus, que esta seja a nossa experiência pela Tua graça!
Romanos 13:1 a 7
Estes versículos nos instruem acerca do nosso modo de proceder para com
os poderes civis. Ainda estamos nos “tempos dos gentios” (Lc 21:24) — tempos
em que o poder e o governo estão aqui entregues por Deus nas mãos dos
homens, e como cristãos precisamos reconhecer isso.
“As autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).
Reconheçamos então a autoridade dos que governam e sujeitemo-nos a ela,
porque esta é a vontade de Deus. É possível que os que têm a autoridade nas
suas mãos falhem nos seus deveres, contudo a responsabilidade disso lhes cabe
a eles e não a nós.
Portanto, para o crente, não é uma questão desse ou daquele partido
político, mas havendo governo, autoridade estabelecida — “as autoridades que há”
— tem de se lhe sujeitar. Pode achar-se em circunstâncias em que a autoridade
dos homens se entremeta naquilo que diz respeito às coisas de Deus e à
consciência do verdadeiro crente; em tais casos, é claro que se deve obedecer a
Deus e não aos homens.
Somente o Senhor tem direito de dominar a nossa consciência, porém, não
se tratando de uma questão de consciência, quer seja coisa de que gostamos,
quer não, temos de nos sujeitar a ela. Assim devemo-nos guardar contra o espírito
que hoje tanto se manifesta ao nosso redor, um espírito de insubordinação à
autoridade estabelecida e, sabendo o que é a vontade de Deus, temos que dar a
cada um o que devemos, seja tributo, seja honra. Não é uma questão de
patriotismo, mas de fazermos a vontade de Deus.
Romanos 13:8 a 10
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” (Rm 13:8). Sejamos,
então, irmãos amados, cuidadosos nisso, afim de que não cheguemos a desonrar
o nosso Senhor e a entristecer o Espírito Santo pela nossa desobediência à
vontade expressa do nosso Deus.
O amor é uma dívida que nunca poderemos pagar. É isto o que satisfaz as
exigências da Lei, porque o amor, que é de Deus, não faz mal ao próximo.
Assim, ao mesmo tempo que somos livres do domínio da Lei, a nossa
conduta deve ser tal que cumpramos com os seus preceitos, visto que “o
cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:10).
Romanos 13:11 a 14
39
Cristo tem sido rejeitado pelo mundo e por conseqüência é noite aqui, mas
a noite está passando e o dia vem chegando, e nós devemos lembrar-nos que,
sendo ainda noite com relação a esse mundo, nós cristãos somos do dia.
Andamos na luz que dimana de Cristo na glória celeste; temos a luz do dia.
Brevemente Cristo se levantará como o Sol da Justiça, mas atualmente é como a
Estrela da Alva nos nossos corações, de maneira que devemos andar já como é
digno dos que são do dia. Rejeitemos o que é das trevas, da noite, e vistamo-nos
com as armas da luz.
A salvação é a completa libertação de tudo quanto seja contrário a Deus e,
quando o Senhor voltar, tudo que não for dEle será posto de parte e a nossa
salvação será em todo o sentido completa. Esperamos por aquele dia; está já
agora mais perto do que quando recebemos a fé.
Porém, enquanto esperamos, temos já a luz do dia, e assim, conhecendo
Cristo na glória e tendo os nossos corações dirigidos a Ele em fé, amor e
esperança, não fazemos caso da carne para satisfazermos os seus apetites e
sermos caracterizados por aquilo que é das trevas, mas fugimos das bebedeiras,
desonestidades, dissoluções, contendas, invejas e todas as obras das trevas e
revestimo-nos do Senhor Jesus Cristo. Tomamos o caráter dEle e, andando
honestamente, manifestamos aqui o que é dEle — o Seu caráter.
O capítulo 12 da epístola aos Romanos trata do caráter e privilégio do
crente verdadeiro como pertencendo ao corpo de Cristo; o capítulo 13 considera-o
como vivendo no reino dos homens, sujeito à autoridade dos governadores aqui; e
finalmente, o capítulo 14 trata dele como pertencendo ao reino de Deus e debaixo
da autoridade de Cristo.
Romanos 14:1 a 12
40
Portanto, apesar do seu procedimento resultar da falta do verdadeiro
conhecimento da posição e privilégio do cristão, não devemos julgar que está
fazendo mal, porque a sua consciência não lhe permite proceder de outra maneira.
Nem tampouco devemos desprezar um irmão que seja dominado por certas
regras ou costumes dos quais sabemos que ficaria libertado se tivesse uma
apreciação melhor da verdade. Se o que faz, o faz para o Senhor, não devemos
nem julgá-lo, nem desprezá-lo, mas antes procurar conduzi-lo para mais pleno
conhecimento da verdade revelada em Jesus.
Todo salvo é o servo do Senhor e não o nosso servo (Rm 14:4).
Comparecerá perante o tribunal de Cristo e não perante o nosso tribunal (Rm
14:10). Cada um dará conta a Deus de si mesmo e não do seu irmão (Rm 14:12).
Portanto não devemos julgar o servo alheio, nem condenar em tais casos o nosso
irmão; para o Senhor está em pé ou cai; e, graças a Deus, se conservar uma boa
consciência, estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar (Rm 14:4).
Procuremos guardar sempre uma consciência sossegada diante do Senhor
e permitamos que os outros também façam o mesmo. Andemos sempre como sob
a Sua autoridade, lembrando-nos que O servimos a Ele e que somos responsáveis
para com Ele.
Romanos 14:13 a 23
Não nos julguemos pois uns aos outros, antes cuidemos todos em não
sermos motivo de tropeço para qualquer irmão. Lembremo-nos que pertencemos
ao reino de Deus que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no
Espírito Santo e assim procuremos servir aos nossos irmãos em amor, buscando
em tudo o seu proveito; porque quem nisto serve a Cristo, agrada a Deus e é
aprovado dos homens.
De outro lado se deixarmos de mostrar cuidado e consideração pelo bem
dos nossos irmãos, pondo descuidadamente qualquer tropeço diante deles,
erramos e fazemos, não só com que eles se entristeçam (Rm 14:15), mas
prejudicamos assim um por quem Cristo morreu (Rm 14:15) e impedimos a obra
de Deus (Rm 14:20).
Devemos ter o maior cuidado em não ofender nem escandalizar a
consciência de outrem por aquilo que nós fazemos ou deixamos de fazer.
Também é coisa muito séria levar pelo nosso exemplo qualquer pessoa a
fazer uma coisa para a qual não tenha fé, e a respeito da qual dúvida se é ou não
da vontade de Deus. Cada um precisa estar plenamente convencido no seu
próprio ânimo (Rm 14:5), porque serve ao Senhor e não aos homens; e se em
qualquer caso não sabe como deve proceder, convém que espere até que Deus
lhe mostre a Sua vontade.
“Tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14:23). Se o crente fizer o que faz
sem se importar se é ou não a vontade de Deus, estará apenas fazendo a sua
própria vontade, e isto é pecado. Ter fé a respeito de uma coisa quer dizer ter a luz
da vontade de Deus a esse respeito. Se quisermos fazer a Sua vontade, Deus
no-la fará conhecer e então poderemos ir avante em fé, tendo a luz divina e assim
havemos de conservar uma consciência tranqüila.
Em amor, “sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a
edificação de uns para com os outros ” (Rm 14:19).
Pensemos nos nossos irmãos como sendo aqueles que Deus tem recebido
(Rm 14:3), e os servos do Senhor (Rm 14:4), e não estaremos então dispostos a
julgá-los nem a desprezá-los.
41
Pensemos neles como sendo aqueles por quem Cristo morreu (Rm 14:15),
e como sendo na verdade nossos irmãos (Rm 14:15 e 21), e assim procuraremos,
de um lado evitar tudo que lhes possa servir de tropeço, e de outro, servi-los em
amor.
Andemos, então, em amor e fé, lembrando-nos das palavras:
“Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova”
(Rm 14:22).
Romanos 15:1 a 7
42
Que maneira tão bela com que o apóstolo conclui as suas exortações! Em
tudo que fizermos temos que fitar os olhos em Cristo, nosso Senhor e Exemplo, e
assim andando em obediência à vontade de Deus, tudo resultará em glória para
Ele.
O nosso privilégio, assim como também a nossa responsabilidade, é
fazermos tudo o que fazemos no Espírito de Cristo — como Cristo e para Deus.
43
PARTE 7
— ROMANOS 15:8 – 16:27 —
Romanos 15:8 – 12
Romanos 15:14 – 33
Paulo agora fala do ministério que Deus lhe tinha entregue a ele. Assim,
apesar de apenas conhecer pessoalmente poucos dos irmãos em Roma,
escrevia-lhes com maior ousadia visto que tinha sido chamado por Deus para ser o
ministro de Jesus Cristo aos gentios.
Paulo aqui tem em vista o seu próprio trabalho, a sua obra apostólica, e o
resultado final dela.
Tinha sido chamado, na qualidade de apóstolo, para ministrar Jesus Cristo
aos gentios, e o resultado do seu trabalho seria, por fim, um povo tirado de entre
os gentios, santificado pelo Espírito Santo e apresentado a Deus — uma oferta
agradável a Deus.
Que contraste existe entre esta companhia “agradável a Deus” e a condição
dos gentios como é descrita no primeiro capítulo desta epístola.
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Provas de que tinha recebido esta missão especial de Deus, havia muitas;
porém fala de si moderada e sobriamente, conforme a medida de fé que tinha
recebido de Deus.
Da sua pregação resultou muita bênção; muitos milhares o acompanharam;
grande energia caracterizou os seus atos; tinha percorrido muitas terras nas suas
viagens apostólicas — parcialmente, ele anunciara em lugares onde Cristo não
tinha sido nomeado aquele bendito nome. Porém, agora o seu trabalho naquelas
regiões estava concluído, não tinha ali mais o que fazer. O cristianismo estava já
fundado naquelas terras e a obra do apóstolo estava ali completa.
Mesmo hoje pode acontecer que o trabalho para o qual Deus tenha
chamado, em qualquer lugar, um servo Seu, esteja concluído. Então, se assim for,
e o Senhor estiver chamando o Seu servo para outra parte, é preciso este
reconhecer isso e obedecer às indicações do Senhor neste ponto.
O apóstolo tinha um grande desejo de visitar os irmãos em Roma, mas na
ocasião em que escrevia esta epístola estava de viagem a Jerusalém, a fim de
levar aos irmãos pobres ali o dinheiro que se tinha ajuntado entre os irmãos da
Macedônia e Acaba (Rm 15:25-26).
Aqui devemos notar um princípio importante. Os gentios tinham recebido
muita bênção espiritual, participando assim da bênção dos judeus e, sendo assim,
disse o apóstolo, deviam da sua parte ministrar-lhes as coisas temporais. Os
gentios não podiam ministrar aos judeus as coisas espirituais, portanto deviam
contribuir com coisas materiais.
Em Atos 11 temos um belo exemplo desse princípio. Os irmãos em
Jerusalém ouviram falar da conversão dos gentios em Antioquia, e lhes enviaram
Barnabé. Este, tendo visto a obra de Deus ali, partiu para Tarso a buscar Paulo.
Tendo-o encontrado, levou-o a Antioquia onde passaram ambos um ano inteiro
ensinando e instruindo muita gente. Neste tempo chegou a profecia de uma
grande fome que havia de vir, e logo os gentios convertidos resolveram enviar
socorro aos seus irmãos que habitavam na Judéia. Falando desse ato de amor na
sua segunda epístola aos Coríntios (capítulo 9), Paulo disse que não só supriu as
necessidades dos irmãos, mas também abundou em muitas ações de graças a
Deus.
Lemos que “lhes pareceu bem” proceder assim. E foi bem na verdade,
porque eram “devedores” (Rm 15:27). Lembremo-nos sempre do princípio aqui
exposto, porque é nosso dever e nosso privilégio segui-lo.
Nos versículos que se seguem, o apóstolo, tornando a falar na suja
projetada viagem à Espanha e do seu ardente desejo de ver os irmãos em Roma,
quando passasse de caminho, pede as suas orações a favor de si próprio, para
que a oferta que levava aos irmãos na Judéia fosse aceite e para que ele não
caísse nas mãos dos inimigos ali, a fim de que chegasse aos irmãos em Roma
com alegria, para aí se recrear com eles. Lembremo-nos sempre de orar pelos
servos do Senhor.
É muito interessante ver como Deus neste capítulo se identifica com certos
princípios ou qualidades, como por exemplo, chama-Se:
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Romanos 16:1 – 24
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completo triunfo do bem sobre o mal, de Deus sobre Satanás. Graças a Deus,
conhecendo Jesus triunfante na glória, vemos já pela fé este triunfo, esta vitória.
Temos agora (Rm 16:21-23) as saudações dos companheiros do apóstolo.
Vemos como a comunhão em amor caracteriza o espírito do evangelho.
Podemos também notar a maneira como Paulo escreveu em geral as suas
epístolas. Ele ditou as palavras e outro irmão as escreveu, sendo esse, nessa
epístola, o irmão Tércio. No fim, Paulo com a sua própria mão escreveu a
saudação final, sendo este o sinal que provava a veracidade não só desta como de
todas as suas epístolas (2 Ts 3:17).
Convém aqui lembrarmos o que Paulo nos diz em 1 Coríntios 2:13, que as
coisas dadas por Deus ele falava-as “não com palavras de sabedoria humana,
mas com as que o Espírito Santo ensina”. Recebamos, então, esses ensinos não
como sendo simplesmente os ensinos de Paulo, mas, como na verdade são, a
Palavra do Senhor.
Romanos 16:25 – 27
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Agora, concluindo esses estudos, que diremos? Temos considerado esta
maravilhosa revelação da justiça, da graça e do amor de Deus. Temo-Lo visto
como sendo justo e o Justificador daquele que crê em Jesus; temos visto de
alguma maneira qual é o nosso lugar de bênção e de privilégio em Cristo. Temos
apreciado o propósito final de Deus a nosso respeito, isto é, o sermos
conformados à imagem do Seu Filho. Pelo Espírito recebido, o amor de Deus é
derramado nos nossos corações, e temos liberdade diante dEle. Ainda mais,
gloriamo-nos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo por Quem agora temos
recebido a reconciliação. Também estamos libertados do domínio do pecado, e é
nosso privilégio de servir a Deus em novidade de vida, pelo poder do Espírito
Santo.
Muito mais podíamos acrescentar, porém desistimos, limitando-nos a
recordar que em breve tudo será subjugado a Cristo, o Senhor, e toda a vontade
de Deus se realizará, quer no céu quer na terra.
“Porque todas quantas promessas há de Deus são nele (o Filho de Deus,
Jesus Cristo) sim; e por ele o Amém, para glória de Deus, por nós” (2 Co 1:20).
Com corações adoradores exclamemos então:
“Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o
sempre. Amém!”
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