Sei sulla pagina 1di 48

Estudo sobre a

Epístola
do Apóstolo Paulo
aos Romanos

George Howes

1ª edição em português: 1919


3ª edição em português: 1929
4ª edição em português: 2006

Todos os direitos da tradução reservados:


DLC — Depósito de Literatura Cristã
Rua Arlidno Bétio 117
Jd Marão
09911-470 Diadema / SP
BRASIL
Índice

OBSERVAÇÃO GERAL 03

PREFÁCIO 04

PARTE 1 — Capítulo 1:1 – 17 05

PARTE 2 — Capítulo 1:18 – capítulo 3:20 06

PARTE 3 — Capítulo 3:21 – capítulo 5:11 09

PARTE 4 — Capítulo 5:12 – capítulo 8:39 16

PARTE 5 — Capítulos 9 a 11 29

PARTE 6 — Capítulo 12:1 – capítulo 15:7 36

PARTE 7 — Capítulo 15:8 – capítulo 16:27 44

2
Observação Geral

Para facilitar o estudo dessa epístola, a dividiremos em 7 partes:

PARTE 1 — Capítulo 1:1 – 17


PARTE 2 — Capítulo 1:18 – capítulo 3:20
PARTE 3 — Capítulo 3:21 – capítulo 5:11
PARTE 4 — Capítulo 5:12 – capítulo 8:39
PARTE 5 — Capítulos 9 a 11
PARTE 6 — Capítulo 12:1 – capítulo 15:7
PARTE 7 — Capítulo 15:8 – CAPÍTULO 16:27

Lembramos aos nossos leitores ser conveniente sempre acompanhar a


leitura desses estudos com o trecho correspondente em seus Novos Testamentos.
Recomendamos que estudem sempre num espírito de oração, lembrando-se que
só pelo ensino do Espírito Santo podem alcançar uma compreensão verdadeira
daquilo que ali está escrito.

3
Estudos
sobre
A EPÍSTOLA AOS ROMANOS

Prefácio

A epístola de Paulo aos Romanos é de grande importância, porque nela


temos os alicerces do cristianismo firmados.
É provável que fosse escrita quando o apóstolo esteve em Corinto, pouco
antes da sua última viagem para Jerusalém (veja-se Rm 15:25); isso corresponde
mais ou menos ao ano 60 da era cristã, quando nenhum apóstolo tinha ainda
estado naquela cidade de Roma. Todavia, ali já moravam alguns salvos que
tinham chegado de diversas partes do Império Romano. Desses irmãos, alguns
receberam o evangelho do próprio Paulo em outros lugares e foram até mesmo
seus companheiros e cooperadores (veja Rm 16:3-4). Outros já se haviam
convertido antes do apóstolo (veja Rm 16:7), e todos esses se reuniam então
naquela cidade, a capital do Império Romano, formando a assembléia ou igreja de
Deus ali.
A esses irmãos, pois, se dirigiu Paulo nesta carta, a fim deles se firmarem
sobre os alicerces da sua santíssima fé. Quando estudamos essa epístola,
podemos apreciar alguma coisa da doutrina primitiva dos irmãos que compunham
a igreja de Deus em Roma naquela época, doutrina sobre a qual precisamos
edificar-nos na atualidade.
Que assim seja pela graça de Deus.

4
PARTE 1
— ROMANOS 1:1 – 17 —

Paulo, na sua condição de servo de Jesus Cristo, separado para pregar o


evangelho de Deus, saúda os irmãos, os amados de Deus, em Roma. Depois, em
poucas palavras, assegura quanto se interessava por tudo que lhes dizia respeito,
manifestando ao mesmo tempo o forte desejo que tinha de os visitar, para lhes
comunicar algum dom espiritual e para anunciar o evangelho àqueles que viviam
na cidade, que, naquele tempo, era a grande capital do mundo.
Os versículos 3 e 4 mostram que o evangelho de Deus não diz respeito a
nós, mas sim ao Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Com respeito a Sua
humanidade, Ele era da linhagem do Rei Davi, Filho de Davi, conforme as
profecias antigas; com respeito a Sua divindade, foi, pela ressurreição dos mortos,
demonstrado que Ele é o Filho de Deus.
Paulo recebeu a sua comissão para pregar o evangelho diretamente de
Jesus na glória, e o propósito do Senhor nisto era obter obediência à fé entre
todas as nações.
No final desse trecho que estamos considerando e que constitui um
prefácio a toda a epístola, o apóstolo volta a falar no evangelho, expondo a razão,
por que não se envergonhava de anunciá-lo aos poderosos romanos: A final, o
evangelho é o poder de Deus para a salvação do pecador que crê nele, porque
nessa salvação está manifesta a justiça de Deus, que se alcança pela fé: justiça
de Deus para os homens — não justiça exigida deles, mas sim concedida a eles
por Deus. Assim, logo no princípio desta importantíssima epístola, vemos aparecer
com deslumbrante brilho a primorosa verdade de que “Deus é por nós”.

5
PARTE 2
— ROMANOS 1:18 – 3:20 —

Desde o capítulo 1, versículo 18 até capítulo 3, versículo 20, o apóstolo


ocupa-se em mostrar o triste estado pessoal em que se encontra o homem — um
estado pecaminoso, que deu ocasião, ou antes diremos, que tornou necessária a
manifestação da ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos seres
humanos. E esta manifestação, por sua vez, fez necessária para a nossa salvação
a manifestação da justiça de Deus, i.e., justiça que vem de Deus para o bem do
ser humano.

Romanos 1:18

Nesse versículo vemos que a atitude de Deus para com o pecado está
plenamente declarada. A ira de Deus é manifestada contra tudo o que se opõe a
Deus, e duas coisas são mencionadas de maneira especial, — primeiro, a
impiedade; segundo, a injustiça praticada por alguns, embora professem
aparentemente a verdade. Deus não pode tolerar o pecado.

Romanos 1:19 – 32

Nesses versículos podemos ver a culpa dos gentios, dos ímpios, e como se
manifesta a sua impiedade.
Três pontos principais nos mostram a completa ruína moral dos seres
humanos:

1 — Deus tem dado aos homens, na obra da criação dos céus e da terra,
um testemunho perpétuo de Si, manifestando-lhes assim o Seu eterno poder e a
Sua divindade. Alguns, porém, não quiseram reconhecê-Lo, e outros, tendo
conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem deram graças, mas
substituíram a glória do Deus incorruptível pela imagem do homem corruptível etc.,
pelo que Deus os entregou às concupiscências dos seus corações, à imundícia,
para desonrarem o seu corpo entre si.
2 — Mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais
a criatura — i.e. a si próprios — do que o Criador. O resultado de assim darem à
criatura a honra e o serviço que se devia prestar somente a Deus foi a ruína das
suas afeições.
3 — Como não lhes pareceu bem guardarem em si o conhecimento de
Deus, por isso Deus os abandonou a um sentimento perverso e depravado, e
deste modo vemos arruinado pelo pecado o entendimento do homem.

Reunindo esses pontos, temos o ser humano arruinado no que diz respeito
… ao seu corpo (v. 24),
… às suas afeições (v.26) e
… ao seu entendimento (v. 28).

Assim nos últimos versículos desse primeiro capítulo, achamos o ser


humano sem o conhecimento de Deus, capaz de praticar qualquer mal, e

6
completamente subjugado pelo pecado, até ao ponto de não só o praticar como
também de se regozijar com o dos outros.
Tendo abandonado a Deus, o homem ficou dominado pelo pecado, porém o
nosso Deus manifestou o Seu desejo de nos salvar e de Se tornar conhecido por
nós, em toda a Sua justiça e amor, e assim atrair para Si os nossos corações:
benditas novas estas, bendito evangelho!

Romanos 2:1 – 16

Aqui o apóstolo trata dos que se imaginam capazes de julgar os atos dos
outros, esquecendo-se eles de que é Deus que há de julgar os segredos de todos.
Deus, todavia, não Se apraz em julgar os seres humanos, mas antes procura pela
Sua bondade levá-los ao arrependimento. Vemos que tanto estes homens, como
também aqueles mencionados no capítulo 1, são, na verdade, indesculpáveis,
porquanto tendo luz, pelo menos a luz da sua própria consciência, ocupam-se em
julgar os seus semelhantes, recusando tomar o lugar que lhes compete, isto é, o
lugar dos condenados, e dos arrependidos perante Deus.
Deus, porém, não isenta nenhuma pessoa de Seu juízo e o Seu julgamento
é segundo a verdade. Vemos aqui os justos princípios do juízo de Deus. Notemos
porém, que o apóstolo não está aqui propondo os termos pelos quais se pode
ganhar a vida eterna, mas está mostrando os justos princípios conforme os quais
Deus há de julgar o mundo.

Romanos 2:17 – 3:8

Temos agora perante nós o caso do judeu, o homem mais privilegiado de


todos, porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus. Mas então será
ele melhor do que os outros? De modo algum, porque, sabendo a vontade de
Deus, gloriando-se nos seus privilégios, e tendo a tarefa de instruidor dos outros,
ele mesmo desonrou a Deus pela transgressão da Sua Lei, e até por causa dele o
nome de Deus foi blasfemado entre os gentios. O judeu teve até grandes
vantagens, havendo na aparência muita diferença entre ele e o gentio, porém na
questão de justificação perante Deus, não é o que se vê aparentemente, mas sim
o que existe no coração que faz a diferença. Neste caso o judeu foi tão culpado
como os outros, sendo condenado pela mesma Lei de que se gloriou.

Romanos 3:9 – 20

Chegamos agora à conclusão de todo este testemunho, e lemos que “todos


estão debaixo do pecado”.
Esta conclusão, diz o apóstolo, é confirmada pelas Escrituras Sagradas do
Antigo Testamento, porquanto nelas está escrito: “Não há um justo, nem um
sequer”.
Os versículos 10 a 18 apresentam-nos o homem, de uma maneira triste,
mas verdadeira, debaixo do poder do pecado e longe de Deus, afastado dEle,
tanto no seu entendimento como nas suas afeições e na sua vontade; não existe o
temor de Deus no seu coração. Sim, a solene conclusão é que toda boca fica
fechada e todo o mundo fica condenável e sujeito ao julgamento de Deus.

7
Sendo assim, é evidente que nenhum homem será justificado perante
Deus, pelas suas próprias obras — pelas obras da Lei — porquanto a Lei só serve
para mostrar a sua culpabilidade, e condená-lo.

8
PARTE 3
— ROMANOS 3:21 – 5:11 —

Romanos 3:21 – 26

No capítulo 1, versículos 15 e 16, afirma-se que o evangelho é o poder de


Deus para salvação de todo aquele que crê, porque nele se manifesta a justiça de
Deus. Em seguida, o apóstolo demonstra a necessidade que havia para a
manifestação dessa justiça da parte de Deus, a nosso favor, e agora no trecho que
estamos considerando volta a falar dela.
Em tempos passados, Deus pela Lei exigia a justiça da parte do ser
humano, porém, agora ela está no evangelho. Deus nos fornece o que Ele nunca
poderia achar em nós. Manifestou-se a justiça, provida por Deus e oferecida a
todos, porém somente alcançada por aqueles que nEle crêem.
Mas será que esta justiça é oferecida a todos com a única e simples
condição de terem fé em Jesus Cristo? Sim, é oferecida a todos sob esta única e
simples condição, porque enquanto ao fato de sermos culpados, não há diferença
(Rm 3:22); a culpa de todos está provada, todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus, e portanto Deus justifica, ou tem por justos, todos os que crêem.
Sim, sem merecimento algum da nossa parte, Deus justifica gratuitamente
todo o crente “pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24).
É importante notarmos que Deus nunca Se podia negar a Si próprio nem
sequer em um único dos Seus atributos. Portanto, se Deus nos justifica,
perdoando-nos os pecados, cabe-nos perguntar qual é a base de um tal ato. Como
é que a própria justiça de Deus fica de pé, ao mesmo tempo que Ele justifica o
ímpio?
A resposta às nossas perguntas encontra-se na morte de nosso Senhor
Jesus Cristo, ao Qual Deus propôs para propiciatório, ou lugar de encontro, onde
Ele, o justo Deus, pode vir ao encontro de nós, pecadores, sem nos julgar. É ali
onde nós nos podemos aproximar dEle pela fé no sangue de Seu Filho.
Na morte de Jesus Cristo, da qual o Seu sangue derramado foi testemunha,
recebeu Deus plena satisfação com respeito à questão do pecado, e de tal
maneira foi Ele glorificado por aquela morte, que agora, neste terreno, nos convida
a ir ter com Ele, a fim de experimentarmos a Sua soberana graça em nos justificar.
Ao mesmo tempo, fica patenteado que Ele é justo em assim agir, visto que tudo
está baseado na redenção que há em Cristo Jesus.
Que grande revelação esta que se nos apresenta! Deus revelado como o
Deus da Salvação! O Deus justo ocupa-Se, não em julgar, mas sim em justificar
os condenados que têm fé em Jesus! Que descanso é para nós o apreciarmos a
presente atitude de Deus para com os homens, isto é, a atitude de um Justificador,
de um Salvador, de um Doador.

9
Romanos 3:27

Visto que tudo recebemos somente pela graça de Deus, sem merecimento
algum da nossa parte, onde está o motivo de nos gloriarmos? Sem dúvida, tal
motivo não existe, visto que não alcançamos a bênção mediante as nossas obras
ou merecimento — o que teria sido conforme à lei das obras —, mas alcançamo-la
pela fé, isto é, segundo a lei ou princípio ou fundamento da fé, e portanto por essa
mesma lei está excluído qualquer motivo para nos vangloriarmos.

Romanos 3:28

Neste versículo 28 temos a conclusão do apóstolo a respeito da questão da


justificação do homem perante Deus, isto é, “que o homem é justificado pela fé,
sem as obras da lei”. Que gloriosa conclusão esta! A linguagem da Lei é “faze tu”,
porém a linguagem da fé é “está feito”. Deus apresenta-nos Jesus como objeto de
fé, e o Seu sangue derramado, a Sua morte consumada, como a base de toda a
nossa bênção.

Romanos 3:29 e 30

A Lei foi dada por Deus exclusivamente aos judeus, e por isso, se a
justificação fosse alcançada pela Lei, seria esta bênção também limitada a eles.
Mas Deus não é exclusivamente Deus dos judeus, e por conseqüência não
se pode limitar a eles a bênção que provém dEle por fé em Jesus — ela é
oferecida a todos.

Romanos 3:31

O apóstolo, em vista da conclusão de que somos justificados diante de


Deus pela fé (Rm 3:28), pergunta se assim anulamos a Lei pela fé? A resposta é
clara: “De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei”.
Se porventura um réu fosse justificado na conformidade da lei, seria isso
anular a lei? De certo que não; antes seria respeitar a lei. Se porém o réu, tendo
sofrido a pena de morte, ressuscitasse, a lei já nada teria com ele, porque a sua
sentença já tinha sido cumprida, e ele estaria fora de seu alcance.
Pois, bem, Cristo, tendo-Se identificado sobre a cruz com o pecado,
morreu, satisfazendo as exigências da Lei, até ao último ponto. Em seguida Ele
ressuscitou de entre os mortos e assim ficou fora do alcance da Lei. A maldição da
Lei, que foi suportada por Cristo no Calvário por amor de nós, não pode mais cair
sobre Ele, pois agora está na esfera da ressurreição, fora do seu alcance. O
crente, porém, pode dizer: Sou eu um dos pecadores por quem Cristo morreu, por
quem Ele suportou a maldição, e por isso nada pode a maldição ou a Lei contra
mim; em Cristo estou ressuscitado e Deus já recebeu toda a satisfação que podia
exigir a meu respeito. Assim, ao mesmo tempo que o homem é justificado pela fé,
fica a Lei estabelecida e respeitada.

Romanos 4:1 – 8

10
Como vemos no fim do capítulo 3, está já consumada a obra sobre a qual
se baseia a justificação do crente, e fica preparado o terreno onde o nosso Deus
nos pode encontrar para nos justificar e abençoar. Mas muitos há que não têm
ocupado este lugar pela fé nem têm até hoje achado a bênção, sendo todo o seu
desejo saber como podem encontrar esta bênção e como podem possuí-la. É a
tais desejos que o capítulo 4 responde.

Nos versículos 1 a 8 o apóstolo chama a nossa atenção para dois homens,


dos mais salientes no Antigo Testamento, para exemplificar por meio deles o
assunto da nossa justificação diante de Deus — são esses Abraão e Davi. Abraão
viveu antes de Deus ter dado a Sua Lei a Moisés. Davi, por sua vez, nasceu
depois disso. Todavia, Deus a ambos justificou.
Pensemos um pouco no caso de Abraão, que foi um homem tão notável
pela sua obediência e piedade e que evidentemente achou e possuiu a bênção.
Perguntamos: Foi Abraão justificado pelas suas obras? Tem ele de que se
gloriar?
O que respondem as Escrituras? Quanto à primeira pergunta lemos no
versículo 3: “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça”. Quanto
a segunda pergunta temos uma resposta clara no versículo 2: “não diante de
Deus”.
Nem poderia ser de outra maneira, porque se a justificação fosse resultado
das suas obras, então ela seria um galardão recebido como prêmio merecido e
não “gratuitamente pela graça de Deus”, conforme está escrito (compare Rm 3:24).
Louvado seja Deus, Ele está manifestado no caráter dAquele que justifica o ímpio,
e confiando nEle como tal, Ele, por causa disso, nos considera justos. Assim Davi
exclamou: “Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos
pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o
pecado”.
Continuemos a indagar como se consegue este bem.

Romanos 4:9 – 16

Sabemos pelas Escrituras do Antigo Testamento como Deus escolheu um


povo especial, santificando-o, isto é, separando-o para Si, dando-lhe certos
privilégios e sinais exteriores que mostraram essa separação das outras nações:
Porventura alcançou Abraão a bênção por pertencer a esses, ou ainda por ter
recebido no seu corpo o sinal da circuncisão?
De certo que não! Muito pelo contrário as Escrituras dizem que ele creu na
palavra de Deus, e a sua fé foi-lhe imputada como justiça, e depois é que recebeu
o sinal da circuncisão — sendo esse um rito que Deus ordenou aos judeus —
como selo da justiça da fé. Deve-se notar que o selo segue e não precede a
recepção da justiça. Se seguirmos o caminho da fé de Abraão, não podemos
deixar de alcançar a mesma bênção que ele alcançou.
Vejamos agora 3 pontos de muito interesse mencionados neste trecho de
que estamos tratando:

1 — a justiça da fé.
2 — o selo — circuncisão — sinal da separação para Deus.
3 — a herança.

Nós crentes também podemos apreciar esses prontos, porque:

11
1 — somos justificados pela fé.
2 — somos selados com o Espírito Santo, o poder da verdadeira separação para
Deus
3 — temos uma herança (veja também Cl 1:12).

Mas haverá quem diga: “Eu ainda não vejo como posso dizer que tenho estas
bênçãos; porventura não haverá assim alguma coisa no caso de Abraão que me possa ajudar
nesse ponto?
Sim, de certo há o que, como a bênção de Deus, nos pode conduzir à perfeita luz.

Romanos 4:17 – 25

Examinemos um pouco o versículo 17. O que devemos especialmente notar


aqui é o caráter em que Deus se manifesta. Lemos: “Deus, o qual vivifica os
mortos e chama as coisas que não são como se já fossem”.
Abraão não creu somente em Deus como Criador, mas também nEle
revelado no caráter do Deus da ressurreição.
Abraão bem podia apreciar quanta, e quão grande, era a fraqueza do ser
humano, e como pelo pecado entraram neste mundo a fraqueza, a tristeza e a
morte, demonstrando esta última, mais do que qualquer outra coisa, essa fraqueza
absoluta do ser humano.
Mas Abraão percebeu que nem mesmo a morte podia impedir os propósitos
de Deus; que Ele podia entrar no lugar da maior fraqueza do ser humano, e
demonstrar o Seu poder vivificando os mortos.
E assim, apreciando a grandeza e glória do Deus da ressurreição, ele bem
sabia que nada havia que pudesse impedir a realização e o triunfo dos propósitos
de Deus. Abraão, pondo-se, por assim dizer, ao lado de Deus, podia contar com as
coisas que não são como se já fossem. Está escrito que, crendo na palavra de
Deus, essa crença lhe foi imputada como justiça. E não só para ele isso foi escrito,
mas também para nós a quem será imputada a justiça se crermos “naquele que
dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor” (Rm 4:24).
Sim, também para nós — para nós que cremos. E o Deus em Quem
cremos, é o Deus que ressuscitou a Jesus, Aquele que Se manifestou em amor e
em poder como um Deus Salvador.
Jesus foi crucificado pelos nossos pecados, pelas nossas ofensas; tinha,
como Redentor, entrado no lugar do julgamento e da morte, e toda a força da ira
de Deus contra o pecado caiu sobre Ele; suportou de um modo glorioso e perfeito
todas as exigências da justiça e da santidade divina, liquidando de uma vez para
sempre a questão do pecado, perante Deus; e tendo consumado tudo, e estando
já morto — como testificou o Seu sangue derramado — foi sepultado.
Porém Deus O ressuscitou! Gloriosa prova esta, da Sua absoluta satisfação
na obra consumada, e também do Seu perfeito agrado na Pessoa que a fez.
Assim pelo Seu grande poder Deus ressuscitou a Jesus, e O ressuscitou
para a nossa justificação.
Benditas novas! Poderá o leitor ainda ter algumas dúvidas?
Nesse caso procuremos aprender mais um pouco pelo procedimento de
Abraão.

12
Romanos 4:18 – 20

Como vimos no capítulo 1, e muitas vezes o vemos na prática, o homem


pretende ocupar o lugar que pertence única e verdadeiramente a Deus. Essa
disposição é tão forte em nossos corações, que muitas vezes nos custa desviar os
olhos de nós mesmos para os fitarmos no nosso Deus e Salvador.
O pecado, a ruína, a fraqueza e a morte, acompanham o ser humano,
enquanto que a justiça,a perfeição, o poder e a vida derivam de Deus.
Convém, então, que sigamos os passos de Abraão a esse respeito. Ele não
atentou para si, e não duvidou de Deus.
Portanto, querido leitor, deixemos de nos ocupar de nós mesmos, a não ser
para confessarmos os nossos pecados e a nossa ruína, e voltemos os olhos para
Deus e para Aquele que por Ele foi elevado para a Sua glória, e está assentado
nela. E, então, enquanto a luz da glória do Cristo brilha em nossas almas,
entraremos naquele descanso divino que nunca terá fim, sabendo que somos
justificados não somente perante Deus, mas também por Deus.

Romanos 5:1

“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo.” Sim, temos a paz; uma paz plena, perfeita e divina. Os nossos
corações que outrora tremiam com medo “da ira de Deus”, estão agora tranqüilos,
vendo Jesus, que para nos remir passou debaixo das águas do temporal da ira e
da morte, atualmente colocado por Deus acima de tudo na Sua glória e no Seu
favor, e sabendo que aos Seus olhos, nós, os que em Jesus cremos, estamos tão
livres de todo o julgamento, como o nosso Substituto é glorioso.
O perfeito caráter da nossa justificação está patente na pessoa de Jesus
ressuscitado e glorificado.

Romanos 5:2

Agora, visto que, na pessoa de Jesus, os nossos pecados têm sido


julgados, e que a paz reina em ossos corações, podemos livremente e com gozo
contemplar e experimentar a graça ilimitada do nosso Deus e Salvador. Na
verdade é belo e enorme o quinhão que desfrutamos por meio de Jesus Cristo.
Não somente estamos libertos de culpa, mas também temos aceitação
positiva da parte de Deus. Ele nos coloca perante Si na Sua graça ou favor, no
qual estamos firmes. Sim estamos firmes neste favor; está é a nossa posição
perante Deus, que nada e ninguém pode alterar, porque é ela a posição que a
Deus aprouve conceder-nos.
O favor de que Jesus goza é o mesmo que nós temos também o privilégio
de gozar, e é por Ele que temos entrada neste favor.
Deus permita que não somente saibamos que esta é a nossa posição e
privilégio, mas que também pela fé vamos entrando no gozo desse favor,
aprendendo cada vez mais a respeito do lugar que o Salvador ressuscitado ocupa
atualmente, porque é pela apreciação da Sua posição que nós crentes
aprendemos os pensamentos de Deus a nosso respeito.
Se experimentarmos já tanto gozo, quando estamos apenas principiando a
desfrutar a graça divina, o que será quando todos os propósitos do amor de Deus
a nosso respeito se acharem realizados?

13
Se lançarmos um olhar para trás, nada há que nos perturba, e exclamamos:
“Paz!” O momento atual é caracterizado pelo gozo do “favor divino”, e o futuro para
nós não tem senão “glória”.
Paz! Favor! A glória de Deus! Que quinhão para o presente — que
perspectiva para o futuro!
Mas naquele gloriosos futuro, qual será a fonte principal da nossa alegria?
Não será o conhecimento e gozo perfeito do amor de Deus? Sim, sem dúvida
assim será, porém, esta não é uma fonte cujas delícias estão reservadas para os
tempos futuros, mas assim uma da qual podemos beber desde já.
Se tivermos apreciado as verdades já expostas com referência à morte a à
ressurreição de Jesus como base justa para o cumprimento e edificação dos
propósitos de Deus, e se tivermos visto, em Jesus ressuscitado e assentado como
Homem na glória e favor de Deus, a realização destes propósitos, os nossos
corações ficarão sem dúvida muito impressionados com a justiça e o amor de
Deus, e assim será sólida a nossa paz e grande a satisfação dos nossos corações,
porque o próprio Espírito de Deus derrama neles o amor divino.

Romanos 5:3 – 5

Uma vez que a questão do pecado já está resolvida conforme as exigências


da justiça divina, o santo amor de Deus está livre para se manifestar na bênção
dos Seus escolhidos. E assim acontece, que, tendo conhecido a Deus como o
Deus de todo poder, e estando agora certos também do Seu amor, caminhamos
no mundo como conhecidos e amados de Deus.
O gozo do Seu amor transforma para nós o caráter de tudo, de maneira
que, se Ele nos deixar passar por tribulações, não havemos de desesperar,
porque, ainda que a Sua mão nos pareça pesada, conhecemos o amor que faz
mover a mão, e assim confiados neste amor gloriamos-nos nas tribulações, e por
meio delas possuímos a paciência.
No exercício da paciência achamo-nos conduzidos pelo caminho da
experiência — experiência dAquele, Cujo amor conhecemos, experiência de Deus.
Por sua vez esta experiência produz a esperança — esperança em Deus —
, que não pode acabar em confusão, porque em tudo nos firmamos no amor de
Deus.
Que descanso para o coração! Perfeito poder e perfeito amor! Quantas
vezes se vê entre os homens o desejo de fazer um favor a outro, mas faltar o
poder, ou vice-versa: haver o poder, mas faltar o desejo. Em Deus, porém, existem
ambas as coisas.

Romanos 5:5 – 9

Nestes versículos vemos claramente que nada de bom havia em nós para
que Deus nos amasse. Porém, Deus é amor, e na Sua infinita sabedoria, por meio
da morte nos recomendou o Seu amor, sendo nós ainda “fracos” e “ímpios” (veja
Rm 5:6), “pecadores” (Rm 5:8) e “inimigos” (Rm 5:10).
Na morte de Cristo vemos satisfeitas inteiramente as exigências do trono
de Deus e ao mesmo tempo manifestada toda a grandeza do amor do coração
de Deus.

14
Romanos 5:10 e 11

Bem podemos dar graças a Deus pela morte do Seu Filho, porque é pelo
amor nela manifestado que Ele desfez de uma vez para sempre a nossa inimizade,
e nos introduziu no lugar de favor que pela fé ocupamos. Porém, se pela Sua
morte temos alcançado tanta bênção, qual não será a bênção que nos fará
experimentar a Sua vida atual?
Agora nós que somos amados por Deus, e que O amamos a Ele, temos um
Salvador vivo, Jesus Cristo, o Filho de Deus, para nos conduzir e guiar até ao
momento de entrarmos naquela glória que com tanto gozo esperamos. E não
somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo.
Feliz o coração que se gloria em Deus, gloriando-se, não nas bênçãos, por
mais ricas que sejam, mas sim gloriando-se no Abençoador, gloriando-se em
Deus manifestado em Cristo, manifestado em sabedoria, justiça, poder e amor.
A alma do crente espera tudo de Deus, e tudo acha em Deus: Deus é tudo
para ela. E ainda mais, estamos aptos para nos gloriarmos nEle, sabendo que
estamos perante Ele segundo o Seu agrado, aceitos em Seu Filho, por Quem
temos alcançado a reconciliação. Lemos a esse respeito: “…agora, contudo, vos
reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para, perante ele, vos apresentar
santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1:21-22). Já se vê, seria impossível
gloriarmo-nos em Deus sem apreciarmos, até certo ponto, o que é termos
alcançado a reconciliação por nosso Senhor Jesus Cristo, ou por outra, sem
apreciarmos que por Cristo, e em Cristo, estamos perante Deus conforme o Seu
agrado.
Deus terá, por fim, o Seu povo perante Si em conformidade com tudo o que
Ele é, para o Seu prazer e agrado; já vemos um exemplo disso em Cristo
glorificado como Homem na Sua presença.
Que nós, no gozo desta reconciliação em Cristo, nos gloriemos em Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor!

15
PARTE 4
— ROMANOS 5:12 – 8:39 —

Romanos 5:12 – 21

O apóstolo aqui começa a falar da bênção cristã sob um outro ponto de


vista. Até aqui tem tratado da questão dos pecados cometidos pelos homens e tem
mostrado como aquele que crê em Cristo é justificado deles e colocado no favor
divino com a certeza de ter parte na glória futura.
Agora, todavia, começa a falar sobre a natureza pecaminosa que nós
temos como descendentes de Adão, e desenvolve um pouco a verdade da
reconciliação mencionada no versículo 11.
Um ponto de grande importância neste trecho é que nele os nossos olhos
são dirigidos para Cristo — não só para aquilo que Ele tem feito a nosso favor,
mas também para a Sua pessoa. Assim os nossos corações são atraídos mais
para Ele, e, à medida que O vamos apreciando, o nosso amor por Ele aumenta.

Romanos 5:12, 18 e 19

Nesses versículos o apóstolo apresenta-nos três contrastes:

1 — Duas pessoas: Adão e Cristo.


2 — Dois atos: o de Adão, um ato do pecado; o de Cristo: um ato de justiça.
3 — Dois resultados desses respectivos atos: a morte e a vida.

Vemos que o resultado do ato de Adão alcançou em todo o tempo os que


estão identificados com ele, e da mesma maneira o resultado do ato de Cristo
alcança todos os que com Ele estão identificados.
Adão como cabeça da raça humana caiu pelo pecado, e na sua queda
levou-a toda consigo.
Foi pela desobediência de um homem que todos os outros foram feitos
pecadores, e não pelos seus próprios pecados. Todos têm pecado, cada um tem
os seus próprios pecados, mas aqui não se trata desse fato, mas antes do estado
de pecados de que todos participam igualmente, como disse Davi: “em pecado me
concebeu minha mãe” (Sl 51:5).
Assim fica confirmado o estado verdadeiro do ser humano como parece aos
olhos de Deus. Em conseqüência do pecado de Adão, a sua vida e a vida de todos
que estão identificados com ele, tornou-se uma vida condenada — a morte passou
por todos. Essa vida não pode consistir diante de Deus.
Agora, porém, se manifestou a grandeza da misericórdia e do amor de
Deus. O Filho de Deus, tornando-Se homem, carregou o peso da condenação do
primeiro homem, e pela Sua morte — aquele ato supremo de amor e da justiça —
estabeleceu a justiça divina e abriu o caminho pelo qual Deus, tendo ressuscitado
Jesus, pode nEle, e por meio dEle, abençoar a todos os que nEle crêem,
dando-lhes vida nEle.
Assim, Cristo em ressurreição tornou-Se em fonte de nova vida, e o crente
que a possui fica inteiramente justificado de toda a questão ou imputação do
pecado. Em Cristo alcançamos a justificação de vida.

16
Todos que estão relacionados com Adão são constituídos ou feitos
pecadores; todos os que estão identificados com Cristo são constituídos justos.

Romanos 5:13 – 17

Esses versículos formam um parêntesis em que o apóstolo desenvolve o


assunto. Principia por demonstrar que a morte não é somente o resultado da
desobediência do homem a um mandamento explícito, a uma lei, mas que é
resultado necessário da presença do pecado, ainda que não houvesse a
transgressão de uma lei. Isto é provas do pelo fato da morte ter reinado desde
Adão a Moisés, durante o período em que Deus não deu aos seres humanos lei
alguma (veja Gn 2 a Êx 20).
Concluímos então que todos que pertencem à raça de Adão estão, por
natureza, debaixo da condenação e do poder da morte, independentemente da
questão dos atos praticados por cada indivíduo.
Podemos referir-nos aqui ao caso de Enoque (veja Gn 5:24); ele não
morreu, foi uma exceção à regra; porém, lemos em Hebreus 11:5 que foi pela fé
que Enoque foi arrebatado, e isto confirma o argumento do apóstolo, quer dizer,
que é só pela fé que se pode alcançar a libertação.
No versículo 14 lemos que Adão é “figura daquele que havia de vir” e
assim, graças a Deus, podemos virar-nos de Adão para contemplarmos a Cristo
como a nossa Cabeça. Voltamo-nos do primeiro Adão descobrindo que temos
parte nAquele que é chamado “o último Adão”; voltamo-nos do primeiro homem
em toda a sua ruína para contemplarmos o Segundo Homem, Jesus Cristo, em
toda a Sua perfeição. Tudo ficou perdido em Adão, e agora para os crentes tudo é
assegurado em cristo. Com alegres corações podemos, portanto, contemplar
Aquele que é agora a nossa Cabeça — não Adão, mas Cristo.
Que grande graça é a graça divina que assim nos identifica com Cristo, e
nEle nos dá vida, uma vida nova, à qual o pecado não se pode ligar!

Romanos 5:20 e 21

Vemos aqui a razão por que Deus deu aos homens a Sua Lei. Ninguém
podia se justificar por ela diante de Deus, mas foi dada afim de manifestar o
terrível caráter do pecado. A Lei não foi a causa do pecado abundar, disto já havia
muito, mas por meio dela o pecado tornou-se em transgressão, e a sua força ficou
aprovada. Graças a Deus, porém, que onde o pecado abundou, superabundou a
graça.
Do nosso lado, só pecado; do lado de Deus, só graça divina — sim, graça
superabundante!
A morte é, em nós, o resultado de sermos filhos de Adão, nascidos em
pecado; a vida eterna é o resultado da livre operação da graça divina que nos
alcançou, de uma maneira absolutamente justa, por Jesus Cristo, nosso Senhor,
porque agora a graça reina pela justiça, por meio dEle.
Se no atual estado das coisas fosse a justiça que reinasse, seria para
condenação de todos; mas agora a graça reina pela justiça, por Jesus Cristo, e o
resultado para aquele que crê, é a vida.
Bem podemos levantar os nossos corações em adoração a Deus ao
contemplarmos Cristo em toda a Sua glória, posto por Deus para Cabeça de todos.

17
Oh!, que alegria apreciarmos que, diante de Deus, estamos identificados
com Cristo; assim exclamamos: Não Adão, mas Cristo!
Mais um passo e exclamamos: Não eu, mas Cristo!
A alma aprende a apreciar Cristo mais do que tudo e mais do que a si
mesma.

Romanos 6:1 – 5

O apóstolo agora contradiz a idéia de que o conhecimento e gozo da


soberana graça de Deus possam ser acompanhados pelo desejo de ser
permanecer na prática do pecado. Muitas vezes, ouvindo a bendita verdade
contida nas palavras “pela graça sois salvos, por meio da fé” (Ef 2:8), diz-se que
um tal ensino levará quem o receber a ser pouco cuidadoso na sua vida cristã e
que produzirá maus resultados. Quão diferente, porém, é o pensamento de Deus
manifestado nestes versículos.
Se, tendo crido em Cristo, estamos hoje identificados com Ele, em vida
nova, é um resultado de termos sido identificados com Ele na Sua morte.
Aos olhos de Deus foi posto termo, pela morte de Cristo, a tudo quanto
éramos como filhos de Adão, isto é, à nossa antiga condição como pertencendo à
raça condenada de Adão; e é sobre este terreno que entramos no gozo da nossa
vida em Cristo.
Claro é então, que, se reconhecermos que por meio da morte de Cristo
estamos mortos quanto ao pecado, não podemos pensar em viver mais nele; tal
proceder seria o mesmo que negar o que professamos.
O apóstolo em seguida confirma este pensamento, chamando a nossa
atenção para o significado do nosso batismo. Se temos sido batizados no nome do
Senhor Jesus, temos sido por esse meio identificados, quanto à nossa posição
neste mundo, com a morte de Cristo — batizados na Sua morte.
“Não sabeis isso?” pergunta o apóstolo. Convém perguntarmos a nós
próprios se temos apreciado esta verdade, e correspondido a ela na nossa vida
prática.
É por meio da morte, a morte de Cristo e a nossa morte nEle, que
alcançamos a vida, e não podemos continuar a viver naquela vida que foi
condenada na cruz de Cristo; a fé reconhece que aquela vida antiga acabou
judicialmente na morte de Cristo.
Agora, identificados com o Cristo ressurreto, devemos andar em novidade
de vida.

Romanos 6:6 – 8

Este versículo 6 começa com as palavras “sabendo isto” etc. Porventura,


temos nós apreciado o que se segue a essas palavras? Podemos nós dizer que
sabemos? E qual é a verdade indicada? Leiamos: “o nosso velho homem foi com
ele crucificado”.
A expressão “o nosso velho homem” descreve a nossa condição como
identificados com o primeiro Adão, tendo uma vida condenada por motivo do
pecado. Isto, graças a Deus, foi aos Seus olhos condenado e finado na morte de
Jesus, a fim de que o pecado não mais tivesse domínio sobre os nossos corpos e
que não o servíssemos mais.

18
Se temos apreciado o verdadeiro caráter do “nosso homem velho” como
sendo em tudo o contraste daquilo que Deus é, e por isso odioso a Deus, será com
grande alívio que veremos a maneira como Ele o julgou na morte de Cristo.
O que vemos nestes versículos não é que o “nosso homem velho” fica
remendado ou melhorado, mas, sim, que para Deus ele acabou na cruz, para dar
lugar àquilo que é novo em Cristo.
A nota tônica, por assim dizer, desse capítulo é a revelação do privilégio
que pertence ao crente de se identificar na sua fé e nos seus pensamentos com
Cristo. Se temos apreciado a verdade da nossa identificação com Cristo na Sua
morte, podemos regozijar-nos pela nossa identificação atual com Ele — vivemos
nEle diante de Deus, e podemos andar na certeza de que estaremos, mais tarde,
identificados com Ele na glória da ressurreição.

Romanos 6:9 – 13

Diremos aqui que não podemos aprender as verdades que estamos


considerando, sem que cheguemos a apreciar Cristo na Sua atual condição e
posição, porque como lemos “a verdade está em Jesus” (Ef 4:21); nEle vemos a
verdade exemplificada. O que Deus no Seu amor propõe para nós, vê-se já
realizado em Cristo na sua condição de Homem na glória celeste.
O versículo 9, assim como o versículo 6, começa com a palavra “sabendo”.
É claro que as verdades de que o apóstolo aqui fala devem ser conhecidas por
todos nós, os verdadeiros salvos. Prestemos-lhes, portanto, toda a atenção.
De que falam então esses versículos? Do triunfo de Cristo! A morte não
mais tem domínio sobre Ele! Mas leiamos para diante: “Pois, quanto a ter morrido,
de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus”.
O nosso bendito Senhor Jesus foi feito pecado por nós sobre a cruz do
Calvário (veja 2 Co 5:21), e ali morreu e saiu da condição e da posição em que,
por amor de nós, Se achou identificado com o pecado — de uma vez morreu para
o pecado, para nunca mais tornar a tocar nele. E agora? Agora Ele vive como
homem glorioso no céu, e vive para Deus. Deus acha nEle ali o Seu perfeito
agrado. Vemos, assim, manifestado nEle o propósito de Deus a nosso respeito.
Como os nossos corações se comovem de amor, e de santo e ardente
desejo ao meditarem nestas palavras — “mortos para o pecado” — “vivos para
Deus”.
Conhecendo o amor de Deus, anelamos por corresponder à Sua vontade a
nosso respeito; queremos que Ele ache agrado na nossa vida aqui: desejamos
dar-Lhe aquilo que Lhe apraz. Constrangidos por tais desejos, reconhecendo
quantas vezes falhamos nisto, é um verdadeiro gozo para nós vermos que há ao
menos Um, Jesus Cristo, que vivendo na glória celeste corresponde em tudo à
divina vontade.
Como isto atrai o coração do crente ainda mais para Cristo, e nos ensina a
achar deleite nAquele em Quem Deus Se deleita, fazendo crescer em nós o desejo
de correspondermos aqui àquilo que Ele é ali!
Mas isto será possível?
Leiamos o versículo seguinte, e leiamo-lo com atenção: “Assim também vós
considerai-vos como mortos para o pecado; mas, vivos para Deus, em Cristo
Jesus, nosso Senhor”. Temos o privilégio não só de contemplarmos Cristo na
glória celeste, mas também do saber que estamos identificados com Ele.
Morreu Ele para o pecado?! Sim, e assim temos o privilégio de nos
considerarmos como tendo sido mortos com Ele. Vive Ele para Deus?!

19
Certamente, e por isso somos vivos para Deus, nEle. Quanto ao pecado —
mortos; quanto a Deus — vivos em Cristo.
Não é que o pecado esteja morto, mas nós temos de considerar que pela
morte de Jesus morremos quanto ao pecado. Por isso recusemos continuar a ser
dominados por ele. Se nos tenta, e se, por assim dizer, quer andar na nossa
companhia, viremos-lhe as costas, considerando-nos mortos para ele.
Por outro lado, reconhecemos que doravante estamos no mundo para
fazermos a vontade de Deus, e, enquanto esperamos o dia em que havemos de
ter corpos gloriosos, reconhecemos que os nossos corpos atuais devem ser
apresentados a Deus a fim de que neles se realize a Sua vontade aqui no mundo.
Lemos: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos
membros a Deus, como instrumentos de justiça”. Bendito privilégio este! Porém, é
só como libertados da condenação e domínio do pecado, como vivos em Cristo,
vivos dentre os mortos, que podemos apresentar-nos a Deus.
Vendo assim o privilégio que nos pertence, não deixemos de o
experimentar para o nosso gozo e para a glória de Deus.

Romanos 6:14 – 23

O privilégio de não sermos mais dominados pelo pecado nos é assegurado


pela graça divina; não é a Lei, mas sim o conhecimento da graça de Deus, que nos
liberta e nos mantém na liberdade. Já não estamos debaixo da Lei, porque a graça
de Deus nos tem feito ocupar um novo lugar, como identificados com Cristo em
ressurreição, onde a Lei não domina.
“O pecado não terá mais domínio sobre vós”. Bendita nova! Essa liberdade,
contudo, não dá ocasião a andarmos no pecado, porque, é claro, estando
libertados do domínio do pecado não havemos de continuar a servi-lo. Já somos
servos da justiça; temos, por assim dizer, mudado de senhores.
A liberdade cristã não nos permite andar no pecado, não nos dá licença
para pecar, mas, pelo contrário, é uma liberdade para servirmos a Deus.
O antigo serviço debaixo do domínio do pecado não deu resultado algum
proveitoso, e no fim havia a morte; agora libertados do pecado, o nosso gozo é
servirmos a justiça, e isto resulta em santificação no presente, e no fim haverá a
vida eterna — vida eterna gozada não como resultado das nossas obras, mas
como resultado da operação da graça divina — como dom gratuito de Deus.

Romanos 7:1 – 6

Tendo o apóstolo já considerado e demonstrado a maneira pela qual


estamos justificados diante de Deus, de como temos vida em Cristo ressuscitado e
estamos libertos do domínio do pecado na nossa vida prática, trata agora nestes
versículos de nos mostrar o efeito de tudo isto em relação à questão da autoridade
e domínio da Lei.
Numa palavra, podemos dizer que, por meio da morte de Cristo e da nossa
associação com Ele ressuscitado, estamos fora do alcance do domínio da Lei.
Para tornar a questão mais simples o apóstolo faz uma comparação fácil de
compreendermos. Cita o caso da mulher com o marido. Enquanto o marido viver, a
mulher está ligada e ele pela lei, porém, é claro que morrendo o marido, fica ela
livre da lei do marido. Outrossim reconhecemos que dois não podem ter domínio
sobre ela ao mesmo tempo; mas se o marido morrer está livre para ser de outro.

20
A lição que tiramos desta comparação é que a Lei tem domínio sobre uma
pessoa enquanto viver, mas, sobrevindo a morte, essa pessoa fica fora do seu
alcance. E de mais, uma pessoa não pode, ao mesmo tempo, estar debaixo do
domínio da Lei e também de Cristo: tem de ser de um ou de outro; dos dois não
pode ser.
Qual é pois a nossa posição atual como cristãos? Estávamos outrora “na
carne”, isto é quanto à vida em que, como responsáveis vivíamos diante de Deus,
estávamos identificados com o pecado e a ruína de Adão; e é sobre pessoas neste
estado ou condição que a lei tem domínio. Sobreveio, porém, a morte — a morte
de Cristo — e por esta morte, com que somos identificados, acabou, aos olhos de
Deus, a nossa condição como identificados com Adão e saímos dela para sermos
identificados em vida com Cristo.
Servindo-nos da comparação acima citada podemos dizer que a nossa
conexão com o primeiro marido — a Lei — acabou. Não que ela morresse, a Lei
fica sempre de pé, mas somos nós, os que temos parte na morte de Cristo, que
temos saído fora daquele estado em que a Lei podia ter domínio sobre nós. Não
estamos mais “na carne”; assim lemos: “Meus irmãos, também vós estais mortos
para a Lei pelo corpo de Cristo”.
Mas se não estamos mais sob o domínio da Lei, estamos sob o domínio
de Cristo. O primeiro marido disse-nos aquilo que devíamos fazer sem contudo
nos habilitar ou dar forças para isso; não produzíamos nesse tempo senão pecado
— “fruto para morte” (Rm 7:5). Mas agora, na nova posição em que estamos
colocados, e no novo parentesco que temos como identificados com um Cristo
ressurreto, e debaixo do Seu domínio, podemos produzir fruto para Deus.
Qual é, pois, o pensamento de Deus a nosso respeito em tudo isso? É que,
gozando nós agora a liberdade em Cristo e estando identificados com Ele e
debaixo do Seu domínio, O serviremos “em novidade de espírito, e não na velhice
da letra” (Rm 7:6); isto é, o nosso serviço prestado a Deus não deve continuar a
ser o resultado de estarmos constrangidos pelas ameaças da Lei, mas, sim, o de
estarmos associados, em santa e alegre liberdade, com Cristo agora ressuscitado.

Romanos 7:7 – 15

Tendo exposto claramente a doutrina a respeito da posição cristã com


respeito ao domínio da Lei, o apóstolo considera agora algumas dificuldades que
se podem formar na mente de qualquer pessoa.
Por exemplo, se o crente é pela morte de Cristo libertado do domínio do
pecado, como já sabemos, quer isto porventura dizer que a Lei é pecado, que é
uma coisa má?
De maneira alguma. Foi na verdade, por meio da Lei que cheguei a
perceber o caráter pecaminoso da minha natureza; mostrou-me ela que não
somente os meus atos, mas também os meus desejos eram pecado.
Quando eu não sentia a força da Lei, a existência do pecado na minha
natureza passou desapercebida para mim — “sem a lei, estava morto o pecado”
(Rm 7:8); porém desde que vi como a Lei condena e proíbe até o desejo de
praticar o pecado, descobri que tenho uma natureza que ama o pecado. Foi
mesmo a proibição do desejo que manifestou a existência dessa natureza.
O pecado — que é considerado aqui como um inimigo que ataca o crente
— servindo-se da proibição da Lei, despertou a vontade própria da minha natureza
pecaminosa, que está sempre pronta a resistir a esta e assim me colocou na
minha consciência, debaixo da condenação da Lei, debaixo da morte.

21
“E eu, em algum tempo, vivia sem lei” (Rm 7:9); isto é, com respeito a
minha consciência, vivia — imaginava que tinha direito à vida, não sentindo que
tinha uma natureza pecaminosa que estava debaixo da condenação da morte.
Porém, “vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri”.; isto é, o
conhecimento da Lei me fez sentir a força e a existência do pecado em mim, e
fiquei assim condenado na minha consciência, estremeci debaixo da condenação
da Lei, vi que tinha sobre mim a sentença da morte.
Desta maneira, como lemos no versículo 10, a Lei, que em si é boa e justa
e que era para a vida, tornou-se para mim — devido à presença do pecado em
mim — em Lei para morte.
A Lei disse: “O homem que fizer estas coisas viverá por elas” (Rm 10:5).
Ela foi dada para a vida, porém logo percebi que não podia satisfazer as suas
exigências. Cumpri-la, para assim alcançar a vida, me era impossível: tinha
descoberto a presença do pecado em mim, e assim, a Lei apenas me condenava;
no meu caso vi que “era para a morte”.
Claramente a Lei então é santa, justa e boa, visto que condena
absolutamente o pecado, quer no desejo, quer no ato de o praticar. Porém, tendo a
vontade própria da minha natureza sido despertada em oposição ao mandamento,
senti-me colocado debaixo da sua justa condenação; quanto à apreciação da
minha consciência, posso dizer: “o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
me enganou e, por ele, me matou” (Rm 7:11).
Ora, tudo isso levanta outra dificuldade. Porventura será esta Lei tão boa e
santa, a causadora da minha morte? Não, de modo algum. O causador disso não é
a Lei, mas antes o pecado.
Tal é o caráter pecaminoso da minha natureza, que a vinda da Lei, perfeita
como é em si, não podia senão condenar-me. Assim, sei que a Lei é espiritual,
mas, em mim — ah!, em mim — está o mal; “sou carnal, vendido sob o pecado”
(Rm 7:14). Pela Lei tenho descoberto em mim uma natureza que se revolta contra
ela, e que ama o pecado. E o que é ainda pior, quando desejo fazer o bem não o
posso fazer, e aquilo que faço não o aprovo.

Romanos 7:16 – 26

“E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa” (Rm 7:16). Isto
é um ponto importante, porque na minha mente ponho-me do lado da Lei,
condenando as minhas ações, mas não só isso: pois até reconheço que praticando
tais atos condenáveis, estes procedem não de mim próprio, mas do pecado que
habita em mim (veja Rm 7:17).
Que idéia tudo isto me dá da “carne”, daquilo que sou por natureza! Uma
coisa é reconhecer que tenho feito mal, e outra, que não posso fazer o bem —,
chegar a saber que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm
7:18).
É custoso reconhecer esse triste fato, contudo é assim que sou levado a
distinguir entre aquilo que eu próprio sou, como sendo nascido de Deus, e o
pecado que habita em mim. Não posso em tais circunstâncias deixar de dizer que
“eu faço o que não quero”, porém, analisando tudo isso, vejo, com efeito, que “já o
não faço eu, mas o pecado que habita em mim”.
Reconheço que há em mim alguma coisa que é de Deus, que ama e aprova
a Sua Lei, e agora identifico-me com isso, com o homem interior”; contudo
acho-me sem o poder de pôr em prática o bem que desejo, e ainda mais, percebo
presente em mim o pecado que me estorva sempre.

22
O meu grande desejo é viver para Deus — ser alguma coisa para Deus.
Porém, vejo que de um lado estou absolutamente sem poder, e do outro, pela
operação do pecado mim, que estou sob a sentença de morte.
O novo “eu” anela por estar livre para servir a Deus, mas não me posso
livrar do velho “eu”, que está ligado ao pecado e, portanto, debaixo da sentença de
morte. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm 7:24).
Absolutamente incapaz de me libertar a mim mesmo, olho ao meu redor e
clamo: “Quem, quem me livrará?”
E quem pode fazê-lo senão Deus?! Sim, agora vejo que Deus já efetuou a
minha salvação, e aprecio, por fim, a verdade a respeito da morte e ressurreição
de Cristo, e da minha identificação com Ele. “Dou graças a Deus por Jesus Cristo,
nosso Senhor” (Rm 7:25).
Notemos que a experiência descrita no fim desse capítulo 7 não é
propriamente “experiência cristã”, apesar de ser a experiência de muitos cristãos.
É a experiência de quem está nascido de novo, e que por isso tem novos desejos
e sentimentos, mas que não tem pleno conhecimento da verdade do evangelho
nem do dom do Espírito Santo. Enfim, trata-se de uma pessoa que, quanto à sua
consciência, tem ainda diante de Deus a responsabilidade de um homem na carne
e por isso se acha debaixo do domínio da Lei.
De modo algum Paulo está aqui descrevendo a sua experiência como
cristão, isto é, a sua experiência na ocasião de escrever essa epístola; mas como
quem tivesse saído do lodo e estivesse em terra firme, descreve a agonia espiritual
de quem ainda lá se encontrasse.
“Para o mim o viver é Cristo!” É essa a linguagem da verdadeira experiência
cristã (veja Fp 1:21).; assim como também as palavras: “Posso todas as coisas
naquele que me fortalece” (Fp 4:13).

Romanos 8:1 – 4

Este capítulo abre com uma nota verdadeiramente triunfante: “Portanto,


agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”1. E quem
haverá que, ao ler esses versículos, possa deixar de ficar deveras impressionado
com a diferença entre as palavras do capítulo 7, versículo 24 (“Miserável homem
que eu sou! Quem me livrará?”) e as do versículo 2 deste capítulo: “A Lei do
Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou”.
Louvado seja Deus! Achamo-nos aqui na presença de um triunfo maior do
que qualquer que se possa ler na história humana — o triunfo de Deus; de Deus
que coloca os Seus remidos diante de Si livres de toda a condenação, e livres
também do domínio do pecado e da morte.
Aqui podemos citar algumas palavras da epístola aos Efésios: “Mas vós não
aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados,
como está a verdade em Jesus” (Ef 4:20-21). Notemos bem as últimas palavras
acima citadas, que são — “a verdade está em Jesus”.
Estas palavras encerram um princípio de grande importância para nós na
compreensão do pensamento de Deus a nosso respeito. Toda a verdade a
respeito do propósito de Deus para com os crentes de hoje se manifesta na
pessoa de Jesus — na Sua morte, ressurreição e glória. Portanto, quanto melhor

1
As palavras “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” em alguns manuscritos não constam.
Teologicamente não cabem aqui, como se existisse alguma condição à salvação, porém, sim, no versículo 4,
onde as lemos de igual modo. — N. do T.

23
compreendermos a posição dEle, tanto mais capazes seremos de apreciar a nossa
posição nEle.
Com que alívio descansa agora em Cristo aquele que tiver passado pela
triste experiência contada no capítulo 7, versículos 7 – 24. Naqueles versículos as
palavras que se salientam mais, pelas muitas vezes que se repetem, são os
pronomes “eu”, “me” e “mim”, que indicam que a pessoa que fala se ocupa consigo
própria. Agora, no capítulo 8, já tudo aquilo tem passado, e tanto a inteligência
como o coração dessa pessoa se ocupam com Cristo.
Leiamos então de novo as palavras: “Portanto, agora, nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Talvez alguém pense que isto
parece dizer demais. Lembremo-nos, porém, que é Deus que assim nos fala, e
bem podemos confiar naquilo que Ele diz.
Consideremos por um momento as palavras “em Cristo”. Todo crente há
de confessar que nEle tudo é perfeito, e que Ele nada tem de condenação;
sabemos que Deus acha nEle toda a Sua complacência.
Ora bem, nós crentes podemos dizer pausadamente e, pondo nas palavras
todo o seu sentido, que estamos nEle, que temos vida em Cristo.
A vida que temos de Deus em Cristo é inteiramente diferente da que temos
em Adão. Quanto a essa última, já foi condenada na morte de Jesus, ao passo que
a vida que temos em Cristo, nada tem, nem pode ter, de condenação.
Assim iniciamos por apreciar Cristo e a Sua perfeição, e em seguida,
sabendo que estamos também atualmente libertados do domínio do pecado em
nós, pela introdução deste novo princípio de vida em Cristo; e o poder desta vida
em nós é o Espírito Santo.
Vemos, pela fé, com corações agradecidos, a maneira como na pessoa e
morte de Seu Filho, feito pecado por nós sobre a cruz, Deus de uma vez para
sempre condenou o pecado na carne: a Sua plena sentença contra o pecado foi ali
executada, e podemos afirmar que Deus não tem mais que dizer a esse respeito.
Visto isso, também nós, aceitando o que Deus fez, não devemos ocupar-nos mais
com a carne: mas, recusando satisfazer os seus desejos, considerar que já não
estamos mais identificados com ela. Dominados então, não mais pelo pecado ou
pela carne, mas sim pelo poder da nova vida que temos em Cristo, andemos, não
segundo a carne, mas segundo o Espírito, achando o nosso gozo e prazer em
fazer a vontade de Deus.
Repetimos, que na morte de Cristo, a plena e justa exigência da Lei, a
nosso respeito, ficou satisfeita — foi executada a última pena. Agora libertados no
poder de uma nova vida em Cristo, o nosso privilégio é andarmos segundo o
Espírito e pelo Seu poder, de maneira que a vida de Jesus se manifeste em nós.

Romanos 8:5 – 9

O apóstolo nestes versículos torna a falar do contraste que há entre o que é


da carne e o que é do Espírito. Vem a propósito aludir aqui as palavras do Senhor
Jesus “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito”
(Jo 3:6).
Neste trecho o apóstolo está tratando das duas classes em que se pode
dividir o gênero humano, isto é, os que ainda têm necessidade de se converter,
que são segundo a carne, e os convertidos, que são, nessa sua condição,
segundo o Espírito. Cada qual tem os seus gostos e inclinações, mas como é
solene a posição daquele que ainda precisa se converter, visto que as suas

24
inclinações o conduzem à morte. Atualmente sofre morte espiritual, mais tarde
sofrerá a física, e finalmente o que se chama a “segunda morte”, o castigo eterno.
Muito diferente é o caso do crente, pois lhe pertencem a vida e a paz. O
apóstolo não está aqui descrevendo exatamente a nossa experiência, mas
manifestando as respectivas posições ou caracteres de quem está identificado
com a carne, e de quem está no Espírito.
O caráter da carne é o de inimizade contra Deus e tanto assim é, que lemos
que a carne “não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7).
É, como já temos visto, irremediavelmente má. No versículo 8 lemos: “Portanto, os
que estão na carne não podem agradar a Deus”, isto é, enquanto estivermos
identificados, aos olhos de Deus, com o pecado na carne que caiu debaixo da Sua
condenação na cruz, não podemos agradar-Lhe.
Qual é então a posição do cristão? A resposta a esta pergunta encontra-se
no versículo 9: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito”. Assim é que
Deus nos considera; somos salvos, e como tais não estamos na carne.
Porém, é preciso reparar bem a quem se referem estas palavras.
Referem-se só às pessoas convertidas e salvas e não a qualquer pessoa que
apenas se diz cristã. “Não estais na carne, mas sim no Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não
é dele”. Bem-aventurada é a sorte daquele que sabe que o Espírito de Cristo
habita nele. Como é aqui excluído todo o engano e toda a hipocrisia! Cada um tem
de se haver individualmente com Deus; a bênção vem só dEle; e é preciso que
tenhamos o selo divino.
Será bom aqui perguntarmos a nós próprios se porventura podemos
levantar os nossos corações a Deus em grata adoração, sabendo que em verdade
estamos em Cristo diante dEle e não mais em Adão; que Ele nos vê como estando
no Espírito e não na carne? Não é isto uma questão de considerarmos os nossos
sentimentos, nem de pensarmos na nossa experiência, mas sim de aceitarmos o
testemunho de Deus, e de confiarmos nEle.
O importante não é o que nós pensamos, mas aquilo que Ele diz; não o que
nós vemos, mas o que Ele vê.

Romanos 8:10 – 17

Temos visto que Deus nos considera identificados com Cristo, vivos no
poder do Espírito Santo. Porém, então, se Cristo está em nós, não podemos deixar
de reconhecer que o nosso corpo deve cessar de ser o instrumento do pecado;
mas a vida antiga não pode produzir senão pecado. Se porém Cristo estiver em
nós como a fonte e o poder de uma nova vida, o corpo, enquanto a vontade da
carne está, por assim dizer, morto; mas, debaixo do domínio do Espírito Santo, e
por meio dEle, torna-se o instrumento para a manifestação da justiça.
O Espírito Santo que é o novo poder da vida no crente, é a única fonte do
bem em nós e o único poder para a sua manifestação.
Além disto temos, pela presença do Espírito Santo em nós, a prova de que
até os nossos corpos mortais também hão de desfrutar mais tarde os gloriosos
resultados da ressurreição de Cristo, sendo conformados à semelhança do corpo
glorioso do Senhor. Assim todo o nosso ser — espírito, alma e corpo — gozará os
efeitos da plena redenção.
Tendo sido desta maneira libertados por Deus, não somos devedores à
carne para vivermos segundo as suas inclinações, mas antes pelo contrário, por
meio do Espírito Santo mortificamos as obras do corpo.

25
Deus não fala em mortificarmos os nossos corpos, mas as obras do corpo,
e isto só pode ter lugar por meio da nova vida em Cristo. Procedendo assim,
viveremos e desfrutaremos os gozos da vida nova.
Agora, no versículo 14, lemos a maravilhosa verdade de que aqueles que
assim são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
O crente descansa, assim, no gozo do pleno amor de Deus, tendo recebido
o Espírito de adoção, pelo qual clama: “Pai!”.
E notemos que o sermos “filhos de Deus” é uma conseqüência da
redenção, de sermos identificados com Cristo na Sua vida atual e de termos
recebido o Seu Espírito. Somente dos verdadeiros crentes se pode dizer que são
“filhos de Deus”; todos os homens são criaturas de Deus, Ele é o Criador de todos,
mas Deus não é Pai de todos nos sentido das palavras que estamos
considerando. Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e todos que em Cristo
crêem podem dizer: “Ele é o nosso Deus e o nosso Pai também”.
Esta sublime bênção é o resultado da nossa associação no poder da vida
eterna com Cristo, e o Espírito que em nós habita testifica com o nosso espírito
que assim é.
Sendo, pois, filhos, somos também herdeiros de Deus, e co-herdeiros de
Cristo. Cristo, porém, sofreu aqui, como não podia deixar de sofrer, visto que
andava no meio do pecado e da tristeza do mundo, e a nós nos é concedido o
privilégio de termos comunhão com Ele no sofrimento aqui no lugar da Sua
rejeição; mas isto terá como conseqüência, mais tarde, a nossa comunhão com
Ele no lugar da Sua glória.

Romanos 8:18 – 27

Andamos, então, aqui como filhos de Deus, aguardando o dia da


manifestação da glória e, nesse espírito, Paulo disse: “para mim tenho por certo
que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em
nós há de ser revelada” (Rm 8:18).
E ainda mais quando chegar o dia em que o povo de Deus, agora
desprezado no mundo, se há de manifestar em glória, então a inteira criação que
tem estado sujeita à corrupção pelo pecado de Adão, experimentará a liberdade da
glória dos filhos de Deus. Oh! Que dia glorioso há de ser aquele em que nós
havemos de estar manifestados em glória com Cristo!
Lemos que a criação inteira geme e sofre, e não só ela, mas também nós
gememos em nós mesmos, esperando pelo dia em que Cristo há de manifestar o
Seu poder para a redenção dos nossos corpos.
Nós já gozamos as primícias do Espírito e desfrutamos a liberdade dos
filhos de Deus, porém desejamos muito deixar completamente o que é da velha
criação, e por isso gememos, anelando pelo momento em que isso se há de
realizar. Não desfrutamos ainda o pleno resultado da salvação — tendo recebido o
perdão dos nossos pecados, sendo justificados, tendo recebido o Espírito Santo, e
estando assim livres em nossos espíritos, esperamos pelos corpos gloriosos que
havemos de receber. Assim esperamos com paciência por esse bem que ainda
não vemos.
Nesse meio tempo a oração é necessária, não é? E, bendito seja Deus,
lemos que, não sabendo nós o que havemos de pedir como convém, o Espírito ora
por nós. Ele mesmo, segundo a vontade de Deus, intercede por nós.

26
Romanos 8:28 – 30

Chegamos agora a uma revelação verdadeiramente maravilhosa. O


apóstolo diz: “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm
8:28).
Consideremos um pouco essas palavras, começando pelas últimas:
“chamados segundo o Seu decreto”.
Essas palavras nos falam do decreto ou propósito de Deus e, para aquele
que conhece a Deus, o quanto é agradável pensar que Ele tem um propósito firme
a respeito dos Seus, com respeito à glória de Cristo e à satisfação do Seu próprio
amor, propósito cuja realização nada há que a possa impedir.
Que momento alegre é para qualquer pessoa, quando pela primeira vez
aprecia o que é deixar o terreno da sua própria responsabilidade, para se achar
identificada com o propósito de Deus; sendo esse o terreno em que tudo depende
da graça, amor e poder de Deus.
Notemos agora que está escrito que todas as coisas contribuem para o bem
daqueles que amam a Deus e que são por Ele chamados.
É possível que alguém pergunte: Poderá este ou aquele fato contribuir para
o meu bem? A isso responderemos com outra pergunta. Não será porventura o
dito fato incluído nas palavras “todas as coisas”? Com toda certeza que sim.
Aceitemos então sem reserva aquilo que Deus nos diz.
Porém, talvez alguém sinta que isso não acontece consigo; pelo menos
vemos na vida prática que muitos crentes se queixam daquilo que lhes acontece,
fazem murmurações e mostram-se perturbados. Como se explica isso? Sem
dúvida pela falta de fé e de confiança no amor de Deus.
Qual será, pois, ao segredo que nos leva a dizer triunfantemente: “Sabemos
que todas as coisas contribuem para o nosso bem?” O segredo de tal certeza
encontra-se no conhecimento do amor de Deus.
Quais são aqueles que amam a Deus? Seguramente são os que
descansam no gozo do Seu amor por eles. É claro, portanto, que se somos
mantidos diariamente no gozo do amor divino, e se apreciamos o fato de sermos
chamados por Ele e identificados com o Seu propósito eterno, não podemos deixar
de reconhecer que todas as coisas têm por força de contribuir para o nosso bem,
visto que nEle o amor é ligado ao poder onipotente. Assim aconteça o que
acontecer, confiados no amor de Deus diremos: “Sabemos que tudo há de
contribuir de qualquer maneira para o nosso bem”; e assim poderemos dar graças
a Deus por todas as coisas, como é a vontade do Senhor.
O versículo 29 explica-nos qual é o propósito de Deus a nosso respeito.
Somos chamados para sermos conformes à imagem de Seu Filho, para que seja o
Primogênito entre muitos irmãos. Bendita esperança! Seremos conformes a Ele e
estaremos com Ele. Ele em tudo terá a preeminência, mas nós estaremos com
Ele. E tão certo é este propósito de Deus, que o apóstolo fala como se tudo já se
tivesse realizado, dizendo: “Aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm
8:30).
Sim, bendito seja Deus, a obra iniciada aqui por divina graça, será levada
ao cabo ali em divina glória.

27
Romanos 8:31 – 39

Tendo agora chegado ao fim desta maravilhosa manifestação do


Evangelho, e tendo visto o que é o propósito de Deus a nosso respeito, que podem
os nossos corações responder a tudo isso? Exclamaremos exultantes: “Deus é
por nós!”.
E será porventura possível que Aquele que não deixou de entregar por nós
o Seu próprio Filho, nos não daria seja o que for, desde que contribua para o
nosso bem? Não, isso não; Deus há de dar-nos com Cristo todas as coisas.
Notemos bem as palavras “com Ele”. Não nos dará nada que nos possa afastar
dEle, mas com Ele nos dará todas as coisas.
Outra vez repetimos: “Deus é por nós”. Se for questão de dar — Ele nos
dará com Cristo todas as coisas (veja Rm 8:32). Se for questão de alguém intentar
acusação contra o Seu povo — Ele o justificará (veja Rm 8:33). Se for questão das
dificuldades e perigos que nos cercam — seremos mais do que vencedores por
Aquele que nos amou (veja Rm 8:30). Diremos mais, que o sermos “vencedores”
seria já uma grande coisa, mas Deus nos faz mais do que vencedores.
Podem haver dificuldades, perseguições ou perigos, mas Cristo que
morreu, e está ressuscitado e no lugar de poder à direita de Deus, interessa-Se
por nós constantemente, e intercede por nós. Portanto, forçosamente havemos de
vencer; mas ainda mais, das mesmas dificuldades e perigos havemos de tirar
muito proveito, chegando, assim, a ser mais do que vencedores, porque como
temos já visto, todas as coisas hão de positivamente contribuir para o nosso bem e
apenas nos fornecem ocasiões para experimentarmos mais o amor pessoal de
Cristo.
O apóstolo conclui este capítulo dizendo que está certo de que nada há,
nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem coisas
presentes, nem futuras, que nos possa separar do amor de Deus.
O amor divino é mais forte do que tudo, e é nos manifestado e assegurado
em Cristo Jesus, nosso Senhor, nAquele que venceu todo o poder do mal e da
morte e está atualmente sobre o trono de Deus.
O amor divino fica sendo eternamente o mesmo, e bem-aventurado é quem
pode dizer: “Estou certo de que nada me poderá separar do amor de Deus que
está em Cristo Jesus”.
A pessoa que assim conhece a Deus, sabe verdadeiramente gloriar-se
nEle.
Bem podemos dizer aqui: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co
1:31).

28
PARTE 5
— ROMANOS 9 A 11 —

Com o capítulo 8, o apóstolo concluiu a sua magnífica exposição sobre o


evangelho da graça de Deus, manifestado e enviado por Deus a toda criatura, quer
seja gentio quer judeu, agora ele trata de demonstrar que isso de modo algum
desfaz as promessas de Deus feitas a Abraão a respeito do Seu povo antigo, o
povo de Israel. Ele nos mostrou que nada há que possa impedir que se realize o
propósito de Deus com respeito àqueles que são chamados pela Sua graça por
meio do testemunho do evangelho, agora nos mostra que nada há, tampouco, que
possa estorvar a realização das Suas promessas referentes ao povo de Israel.
Um fato em que apóstolo insiste nesse capítulo, e que é muito importante
reconhecermos, é que Deus é soberano, e que toda a bênção para os seres
humanos é o resultado da Sua soberana misericórdia.

Romanos 9:1 – 5

Nestes versículos o apóstolo revela o intenso amor que sentia pelo povo
terrestre de Deus, os seus irmãos segundo a carne. Recapitula aqui alguns dos
muitos privilégios que lhes pertenciam, concluindo com o fato de ter Cristo nascido
entre eles, acrescentando, porém, a esta referência à Sua humanidade, que Ele é
“sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9:5).
Qual foi a razão desta tristeza que o apóstolo sentia no seu coração?
Foi o fato deles terem rejeitado Cristo, o Único que podia fazê-los entrar no
gozo da bênção prometida.

Romanos 9:6 – 16

Entristeceu-se, porventura, por pensar que Deus tinha faltado à Sua


Palavra? Não, isso não podia ser. A sua dor foi causada por ter visto como o povo
ia perdendo a bênção por rejeitar Cristo. Quanto às promessas de Deus, tinha ele
a certeza que nenhuma delas podia deixar de se cumprir, e agora trata de explicar
isso, citando para esse fim 3 pontos:

1 — A promessa de Deus feita a Abraão (veja Rm 9:9).


2 — A vontade de Deus que determinava que Jacó havia de dominar Esaú
(veja Rm 9:11-12).
3 — A Palavra de Deus a Moisés — “Compadecer-me-ei de quem me
compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Rm 9:15).

O resultado das lições tiradas desses 3 casos se vê no versículo 16:


“Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que
se compadece”.
Consideremos esses 3 pontos. Em primeiro lugar era verdade, como diziam
os judeus, que Deus fizera uma promessa a Abraão; porém, essa promessa não
dizia respeito a todos os filhos de Abraão, como eles bem sabiam, mas somente a
Isaque e à sua descendência.

29
Ismael e outros filhos de Abraão foram postos de lado e a bênção
prometida foi ligada a Isaque, o filho prometido (veja Rm 9:9); — “Em Isaque será
chamada a tua descendência” (Rm 9:7).
Ismael, de cujo nascimento lemos no livro de Gênesis, capítulo 16, foi o
filho da vontade e da energia natural, ao passo que Isaque foi o filho da promessa;
e a bênção divina depende dessa última, da promessa de Deus. Assim o judeu
devia ter compreendido, e nós podemos aprendê-lo, que a bênção “não depende
do que quer” (veja Rm 9:16). De fato lemos: “Não há ninguém que busque a Deus”
(Rm 3:11). É por isso que não pode haver esperança para os seres humanos, quer
judeus quer gentios, senão em Deus que é soberano.
Quando Deus faz uma promessa absoluta e incondicional, é como se nos
declarasse o Seu próprio propósito, e já temos visto que nada há que possa pôr
empecilho à realização do propósito de Deus. É verdade que a bênção prometida
pode não estar ao alcance do poder dos homens por mais que se esforcem, mas o
poder de Deus fará com que eles a gozem.
Isto é a lição que temos no segundo caso acima citado, o de Esaú e Jacó.
Antes mesmo que nascessem, Deus dissera: “O maior servirá o menor” (Rm 9:12).
Mais tarde, os dois fizeram mal, nem um nem outro merecia receber a bênção
prometida, porém Deus, sempre fiel a Sua promessa, assegurou a bênção de
Jacó. Assim vemos que “não depende do que corre” (Rm 9:16). Também lemos:
“Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3:12) e, por isso, novamente
dizemos, não pode haver esperança para os homens senão em Deus que é
soberano.
O terceiro caso citado, isso é, as palavras de Deus a Moisés (veja Rm
9:15), prova e evidencia que Deus, soberano como é, Se compraz de usar o Seu
poder para abençoar os seres humanos, e que não tem prazer algum em julgá-los.
As ditas palavras foram dirigidas por Deus a Moisés logo depois do povo de
Israel ter pecado horrivelmente contra Ele, fazendo o bezerro de ouro (veja Êx 32 e
33:19). Foi aquele um momento em que, com justiça, Deus podia ter destruído
aquele povo por completo, mas em vez disso, falou, dizendo: “Compadecer-me-ei
de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”.
Vemos, então, que sendo todos pecadores, sem mérito algum diante de
Deus, se alguém receber bênção dEle, será em resultado da Sua soberana
misericórdia.
Assim o judeu tem que reconhecer que, quanto a si, tem perdido todo o
direito de receber a bênção, ao passo que Deus certamente há de cumprir a
promessa dada a Abraão. Conseqüentemente, tanto para ele como para o gentio,
toda a bênção depende da soberana misericórdia de Deus.

Romanos 9:17 – 18

O apóstolo considera agora o caso daqueles que não recebem a bênção


divina.
Faraó serve como exemplo desses. Era um homem pecador que se exaltou
contra Deus, desafiando-O com as palavras: “Quem é o SENHOR, cuja voz eu
ouvirei?” (Êx 5:2). Depois disso foi seis vezes avisado solenemente, por meio de
pragas terríveis, contra a loucura de procurar resistir a Deus; mas de todas as
vezes o se coração se endureceu. Lemos que depois de tê-lo suportado com muita
paciência, “o SENHOR endureceu o coração de Faraó” e então ouvimos aquelas
terríveis palavras: “Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e
para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Êx 9:12, 16; Rm 9:17).

30
Lendo no livro de Êxodo vemos que tanto Israel como Faraó eram culpados
diante de Deus e a justiça teria condenado a ambos, porém Deus é soberano, e
mostra-nos ser Ele não só justo em todos os Seus atos, mas também um Deus
que Se compraz em mostrar misericórdia. Quando Faráo endureceu o seu coração
contra Deus, foi destruído pela justiça, ao mesmo tempo que o povo de Israel foi
salvo pela soberana misericórdia de Deus, que o abrigou sob o sangue do
sacrifício da páscoa.
Todo o mundo é condenável diante de Deus; a justiça havia de julgar e
condenar a todos; porém, Deus Se tem manifestado como um Deus Salvador,
soberano em misericórdia, sendo a morte de Cristo a base sobre a qual Ele assim
pode agir.

Romanos 9:19 – 24

Talvez alguém diga: “Por que se queixa Ele ainda? Quem resiste à Sua
vontade? Ainda mais, se é simplesmente uma questão da Sua vontade e do Seu
poder, que posso eu fazer? Se hei-de ser salvo sê-lo-ei efetivamente, e se não, a
culpa não é minha”.
Ah! Ninguém que tivesse uma verdadeira apreciação da majestade,
sabedoria e amor de Deus, falaria assim. O fato de Deus pelo Seu soberano poder
cumprir a Sua vontade não é razão alguma para o homem fazer o que bem quiser,
satisfazendo assim a própria vontade. Não; o princípio da sabedoria é temor de
Deus, e isto faz com que demos a Deus o lugar e a glória que Lhe pertencem.
Devemos aceitar e obedecer logo ao testemunho que Deus nos dá, reconhecendo,
ao mesmo tempo, que, sendo Ele soberano, tem o direito de fazer tudo quanto Lhe
aprouver.
O apóstolo ousada mente afirma esta verdade. Digam os homens o que
disserem, o oleiro tem poder sobre o barro. A coisa formada não pode dizer ao que
a formou: “Por que me fizeste assim?”
“Tu és bom e fazes bem”, lemos no Salmo 119:68, e o coração de quem
teme a Deus e se humilha diante dEle, regozija-se em pensar na Sua soberana
bondade. Porém, se Deus, querendo dar a conhecer co Seu poder e mostrar a Sua
ira, a deixa cair sobre os que se têm preparado a si próprios para a perdição,
tendo-os Ele primeiro suportado com muita paciência e longanimidade, quem é
que se pode queixar? Ninguém.
Por outro lado, Ele mesmo prepara os vasos para a manifestação da Sua
misericórdia. Todos são maus, porém Deus, em misericórdia soberana está
preparando vasos nos quais dará a conhecer as riquezas da Sua glória.
“Os quais (vasos de misericórdia) somos nós”, diz o apóstolo. Oxalá querido
leitor, que nós nos possamos ver, pela fé, entre esses! Pobres miseráveis
pecadores por natureza, se podermos, sequer, melhorar a nossa situação diante
de Deus, não podemos senão lançar-nos sobre a misericórdia soberana de Deus
por meio de Jesus. Escrevendo aos Coríntios, Paulo tratando do estado glorioso
que espera o crente, disse: “Quem para isso mesmo nos preparou foi Deus” (2 Co
5:5).

31
Romanos 9:24 – 33

O apóstolo agora afirma que “os vasos de misericórdia” são chamados não
só de entre os judeus, mas também de entre os gentios, e em confirmação disso
cita os profetas Oseías e Isaías.
Oséias tinha profetizado que a graça divina havia de alcançar tanto os
gentios, que nunca tinham recebido promessa alguma a esse respeito, como os
judeus, que tinham perdido, pelo seu pecado, todo o direito a receber a promessa
que lhes fora feita.
Além disso, Isaías tinha dito que apenas uma parte do povo de Israel seria
salva, e isto devido à soberana misericórdia de Deus.
Qual era então o resultado de tudo isso? Vemos que os gentios, que não
buscavam a justiça, alcançaram-na pela fé, enquanto que os judeus, tão religiosos
como eram, não alcançaram essa justiça diante de Deus.
E porquê? Porque os judeus enganaram-se no modo de a alcançar;
procuraram justificar-se pelas suas próprias obra em vez de reconhecerem a sua
incapacidade, e confiaram em Cristo. Rejeitaram Cristo em Quem e por Quem
somente se pode alcançar a justiça de Deus.
Isaías tinha falado da pedra de tropeço que Deus havia de pôr em Sião.
Seria como um santuário para os que cressem, porém como uma rocha de
escândalo e pedra de tropeço para os que não cressem. Os judeus tropeçaram
naquela Pedra — um Cristo humilde, meigo e rejeitado pelos homens — e têm
sido confundidos como atualmente se vê.

Romanos 10:1 – 13

O apóstolo aqui fala do intenso desejo que sentia pela salvação do povo de
Israel, e de como orava a Deus por isso. Testifica do muito zelo que aquele povo
mostrava quanto à religião, mas explica-nos que esse mesmo zelo os impediu de
apreciar o testemunho de justiça pela fé em Jesus Cristo, que Deus lhe estava
enviando.
Na sua cegueira procuravam, pelas suas próprias obras, colocar-se diante
de Deus numa justiça que fosse deles próprios. Recusaram humilhar-se perante
Deus e confessar-Lhe a sua absoluta falta de justiça, e assim não se sujeitaram à
justiça de Deus.
É verdade que Moisés tinha dito: “O homem que fizer estas coisas viverá
por elas” (Rm 10:5); mas quem as podia fazer? Ninguém.
A pessoa, porém, que reconheça isso e se volte para Deus
confessando-Lhe a sua necessidade, descobre logo que da Sua parte Deus lhe
está apresentando, para a sua aceitação pela fé, aquilo que nunca podia alcançar
pelas obras da lei.
Cristo tem vindo! A maldição da lei, pronunciada contra quem não
cumprisse com as suas exigências, sofreu-a Cristo na Sua morte! A vida — o fim
proposto pela lei — alcançamo-la em Cristo ressuscitado!
Plena satisfação, perfeita bênção, justiça, vida, tudo temos em Cristo e tudo
alcançamos pela fé. “O fim da lei é Cristo…” (Rm 10:4). Bendito seja Deus, toda
esta bênção, desde o princípio até ao fim, provém dEle.
Não necessitamos, por assim dizer, subir ao céu para trazer do alto a
Cristo, porque Deus já no-Lo enviou, e Ele por amor de nós se entregou à morte
(veja Rm10:6).

32
Tampouco precisamos descer ao abismo para tornar a trazer Cristo de
entre os mortos, porque Deus já O ressuscitou (Rm 10:7).
Que nos resta então fazer? Temos que escutar o testemunho que Deus nos
tem enviado a respeito de Cristo, e sujeitarmo-nos a Ele.
E que diz Ele? Apresenta-nos uma justiça perfeita, uma salvação completa,
dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Estas palavras
indicam claramente que não se trata de uma simples questão do esclarecimento
da nossa inteligência, mas sim do nosso coração se comover profundamente,
porque “com o coração se crê para alcançar a justiça” (Rm 10:10).
Mas há mais. Junta-se à fé do coração, a confissão da boca: o crente
confessa que Cristo é o seu Senhor.
Quer diante de Deus, quer diante dos homens apresenta-se como
identificado pela fé com Cristo, confessando-O como sendo o seu Senhor. Assim
tem aceitação para com Deus e desfruta o poder da salvação neste mundo,
porque: “Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).
Desta maneira, a bênção é por Deus assegurada igualmente aos gentios e
aos judeus e, de acordo com isso, lemos que, referente ao evangelho e a bênção
nele oferecida, “não há diferença entre judeu e grego” (Rm 10:12).
Em Romanos 3:22 e 23 lemos: “Não há diferença. Porque todos pecaram”.
Aqui, no versículo 12 de Romanos 10, lemos: “Não há diferença … porque um
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam”. Bem
podemos confessar humildemente o primeiro desses fatos, enquanto nos
regozijamos diante de Deus pelo segundo.
Vemos então que em Cristo glorificado há bênção sem limites para todos.
Sendo, como homem, exaltado por Deus a ser Senhor de todos, todos se podem
aproveitar das riquezas que nEle há; porém para isso cada um tem de invocá-Lo
individualmente.
Nem zelo nem obras humanas podem alcançar este grande bem, mas “todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10:13).

Romanos 10:14 – 21

O ponto principal neste trecho parece ser o fato de que o testemunho de


Deus é para o mundo todo.
Que necessidade há, então, de pregar o evangelho! “Como, pois, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram?” (Rm
10:14).
É preciso, e isso fica óbvio, que os pregadores sejam enviados por Deus,
mas que privilégio também é ser enviado! Porventura não desejamos nós ser-Lhe
úteis para Seu serviço?
Como Ele aprecia este serviço! “Quão formosos são os pés dos que
anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10:15). Sim, quão formosos
aos olhos de Deus! Quão apreciável é para Ele este serviço!
Como isso anima Seus servos, apesar de muita gente recusar aceitar o
testemunho deles!
Isaías deu testemunho, no meio do povo de Israel, referente aos
sofrimentos e à glória de Cristo, mas por fim teve que dizer: “Senhor, quem creu na
nossa pregação?”
O testemunho de Deus tem sido proclamado, e a fé vem pelo ouvir — por
ouvir a Palavra de Deus.

33
Logo no princípio, quando Deus chamou o povo de Israel para ser um povo
particular para Si, Moisés predisse a maneira como esse povo havia de deixar de
seguir o Senhor, andando no seu pecado e cegueira e, ainda mais, disse como
Deus havia de dar a bênção a outros, que não pertencessem àquele povo, a fim de
assim despertar nele o desejo de também receber a bênção de Deus que até
agora, na sua coletividade, tem rejeitado.
O apóstolo cita outra vez o profeta Isaías como testemunha desse fato.
Lemos: “Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim
não perguntavam” (Rm 10:20). Deus manifestou-Se àqueles que não O buscavam
nem perguntavam por Ele. Bendito seja o Seu nome, aprouve-Lhe manifestar-Se a
Si mesmo na pessoa do Seu Filho Jesus àqueles que, como nós, não o buscavam.
Que graça divina! Que graça soberana!
Isaías, porém, acrescentou, falando ainda do povo de Israel: “Todo o dia
estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Rm 10:21). E assim
tem acontecido; o testemunho de Deus tem sido aceito entre os gentios ao passo
que a nação de Israel, na sua coletividade, o tem rejeitado; por conseqüência,
tendo recusado a Cristo, tem sido por Deus posta de parte e confundida, porém:
“Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).

Romanos 11:1 – 15

Coloca-se agora pergunta: “Porventura, Rejeitou Deus o seu povo?” (Rm


11:1). Terá mudado o Seu propósito com respeito a ele? “De modo nenhum!” —
responde o apóstolo, comparando em seguida a posição do povo no tempo dele
com a do povo no tempo de Elias (veja 1 Rs 19).
Nesse tempo, a nação em geral estava caída em pecado, sem o temor de
Deus, nem fé. Contudo, Deus reservou para Si um pequeno número que O
conhecia, e assim é ainda hoje. A nação de Israel tem sido, por assim dizer,
abandonada por agora e anda em cegueira espiritual, porém Deus na Sua graça
soberana ainda trabalha entre ela, escolhendo um pequeno número que, por fé em
Cristo, tem parte na Sua Igreja. Paulo cita o seu próprio caso como prova disso.
É verdade que Deus tinha-lhes dado a Sua promessa, prometendo-lhes
bênção aqui na terra, mas quando Cristo, Aquele em Quem toda a bênção lhes era
assegurada, chegou entre eles, recusaram-se de recebê-Lo e assim perderam
todo o direito às promessas. Agora, se as receberem, será somente em resultado
dos soberanos propósito e misericórdia de Deus.
O estado atual daquela nação não há de continuar sempre assim. Longe
disso; mas tendo aquele povo perdido pela sua desobediência, incredulidade e
orgulho, o lugar de privilégio que tinha gozado, Deus está agora efetuando o Seu
propósito de abençoar os gentios, tirando de entre eles um povo para o Seu nome
(veja At 15:14), e entre este povo encontra-se um remanescente do povo antigo
(Rm 11:15).
E há ainda mais. Esse povo de Israel é ainda o centro dos pensamentos de
Deus com respeito ao Seu governo desse mundo, e se, como temos visto, a sua
queda tem dado ocasião à bênção de Deus ser apresentada pelo evangelho a todo
o mundo, qual será a bênção que há de resultar, cá no mundo, quando Israel for
colocado por Deus na posição e glória prometidas, não é?! Será, na verdade, para
toda a criação, como vida de entre os mortos (veja Rm 15:15).

34
Romanos 11:16 – 36

O apóstolo agora explica a posição relativa dos judeus e dos gentios com
respeito ao lugar de privilégio e bênção aqui neste mundo.
Depois do dilúvio com que Deus destruiu o mundo antigo, os homens
procuraram fazer para si uma grande cidade e um grande nome a fim de que não
fossem espalhados por toda a terra, porém Deus os confundiu neste propósito e os
espalhou por toda a parte e os dividiu em diversas nações (Gn 11).
Parece, então, que basicamente todos se entregaram à idolatria e, estando
as coisas assim, Deus, conforme o seu soberano propósito, chamou a Abraão
(veja Js 29), fazendo com que ele fosse o pai — o primeiro — daqueles que
haviam de experimentar o benefício das promessas que Deus estava prestes a
declarar.
Foi Abraão constituído, por assim dizer, raiz da “oliveira de promessa”, e
Israel — não só os judeus, isto é, as duas tribos, mas sim as doze tribos — será
salvo (Rm 11:20). Quando O virem, passará a sua cegueira, e arrependidos
reconhecerão por fim o seu Messias, e Ele, cumprindo, então, as promessas de
Deus, reinará em poder e majestade e o Seu povo antigo será outra vez o principal
entre as nações.
Sim, tudo quanto Deus tem proposto, quer a respeito da Sua Igreja, quer do
Seu povo terrestre, Israel, há de infalivelmente ser realizado. E quando Deus
assim nos fala da bênção que tem determinado para os seres humanos, nos vem à
lembrança que todos, quer judeus quer gentios, têm sido desobedientes, de
maneira que ninguém, nem sequer o judeu, pode falar de qualquer direito à
bênção; todos hão de recebê-la somente pela soberana misericórdia de Deus (Rm
11:32).
O apóstolo, ao concluir esta parte de sua epístola, exclama num espírito de
adoração: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos!” (Rm 11:33).
A sabedoria divina planejou tudo, e o poder divino há de efetuar tudo, para
a glória de Deus.
Com corações adoradores concluímos este capítulo, dizendo: “Dele, e por
ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm
11:36).

35
PARTE 5
— ROMANOS 12:1 A 15:7 —

Na parte desta epístola de que vamos agora tratar, vemos qual é a conduta
e maneira de vida que resulta da apreciação e aceitação da doutrina que já nos
tem sido apresentada.
Temos aqui, não tanto a exposição das verdades fundamentais do
evangelho, como exortações próprias para aqueles que tenham recebido estas
verdades.
Consideremos então estas exortações, pedindo a Deus que, pela Sua
divina graça, nos faça corresponder a elas para glória do Seu nome.

Romanos 12:1

Se, tendo aceitado o testemunho de Deus no evangelho, pensarmos em


nós próprios, havemos de reconhecer que somos os objetos de misericórdia e
amor divino, e que somos colocados diante de Deus no Seu pleno favor. E, sendo
assim, os nossos corpos devem ser postos à Sua disposição, para que em nós, e
por meio de nós, se realize a Sua divina vontade neste mundo.
Reparemos bem na força de expressão com que o apóstolo começa as
suas exortações: “Rogo-vos!” Que intensidade de desejo vemos nestas palavras!
Que santo fervor! Ele não diz: “Mando-vos!”; é a graça, e não a Lei, que fala aqui.
Notemos o motivo que cita para reforçar o seu pedido. “Rogo-vos, pois,
irmãos, pela compaixão de Deus”. E como é grande, de fato, essa misericórdia de
Deus manifestada nesta epístola que estamos considerando.
E para que será que o apóstolo assim nos roga? “Rogo-vos … que
apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.
Convém notarmos primeiro que o sacrifício apresentado a Deus é um
sacrifício vivo, santo e agradável; somente assim podia Deus achar agrado nele.
Talvez este pensamento vá levantar em alguém uma certa dificuldade,
pensando naquilo que é em si próprio. Devemos, porém, lembrar-nos de que Deus
sempre vê o crente como sendo identificado com Cristo.
Na verdade, o que se nos apresenta neste versículo se baseia no ensino
dos capítulos 5 a 8.
Nunca poderíamos apresentar os nossos corpos a Deus como sacrifícios
vivos, se não tivéssemos primeiro apreciado de alguma maneira, o modo como
Cristo Se Lhe apresentou como um sacrifício na morte.
Deus não pode sentir agrado com o que é “da carne”, isto é, com o que
somos como identificados com Adão. Mas Cristo foi feito pecado por nós, sobre a
cruz, e ali morreu, de maneira que lemos: “Assim também vós considerai-vos como
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm
6:11). E mais: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos” (Rm 6:13).
Assim como os que têm sido identificados com a morte de Cristo e que são
agora vivos nEle diante de Deus, vemos que somos na verdade livres.

O pecado não tem mais domínio sobre nós (Rm 6:14).


A Lei não tem mais domínio sobre nós (Rm 7:4).
Não somos devedores à carne para vivermos mais segundo as suas
concupiscências (Rm 8:12).

36
A morte não tem mais poder contra nós (Rm 8:38).
Repetimos, pois, com corações adoradores: “Somos livres”.

Então, o que havemos de fazer? O nosso privilégio é reconhecer o direito


que Deus tem sobre nós — esse Deus, por Cujos misericórdia e poder temos sido
libertos!
E tendo já verdadeiramente reconhecido este Seu direito sobre nós,
precisamos manter-nos constantemente nesta mesma atitude.
Sendo agora pelo Espírito Santo unidos a Cristo glorificado no céu, não é o
caráter da carne que havemos de patentear, mas sim a graça e beleza da vida de
Jesus, como lemos: “Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor
Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa
carne mortal” (2 Co 4:10). Assim, na verdade, pode Deus ver aqui o que Lhe é
agradável.
É da maior importância apreciarmos o fato de que é só como sendo livres
no poder da vida nova, em Cristo ressuscitado, que podemos apresentar os
nossos corpos a Deus. Porém, permita Deus que nós todos possamos apreciar de
tal maneira a liberdade que agora desfrutamos em Cristo, que, no gozo do amor
divino e no santuário da presença de Deus, Lhe apresentemos os nossos corpos
em sacrifício vivo e santo.
Sem dúvida este ato ou está feito, ou por fazer, da parte de cada crente.
“Rogo-vos que seja feito”, diz o apóstolo. Que assim seja conosco para depois
andarmos sempre mantidos no espírito desse ato, reconhecendo que somos dEle
— espírito, alma e corpo.

Romanos 12:2

Um ponto de muita importância que resulta de termos apresentado os


nossos corpos como sacrifício vivo a Deus, é acharmo-nos à parte de tudo quanto
caracteriza esse mundo. O mundo atual é dominado pela vontade humana, mas o
crente, transformado pela renovação do seu espírito, não se conforma com o
espírito e os costumes desse século, mas, reconhecendo que é de Deus,
experimenta o que é a Sua vontade — a vontade divina.
A vontade de Deus está ligada ao Seu propósito a favor de nós; e já temos
visto que esse propósito é de infinito e divino amor, de modo que,
apresentando-Lhe os nossos corpos como sacrifícios vivos para efetuarem a
realização da Sua vontade aqui, experimentamos que essa vontade é, em
verdade, boa, agradável e perfeita.
Quando assim nos colocamos completamente nas Suas mãos, confiados
absolutamente no Seu amor e sabedoria, então chegamos ao ponto de poder dizer
não somente que a Sua vontade é boa e perfeita, mas que é agradável.

Romanos 12:3 a 10

No versículo 3, o apóstolo exorta-nos a não termos idéias exageradas de


nós mesmos ou dos outros. Precisamos julgar, não conforme as aparências, mas
conforme a medida da fé que Deus tem repartido a cada um.
O apóstolo agora menciona o fato de todos os verdadeiros crentes
formarem um só corpo em Cristo.

37
Esta verdade que apenas é aqui indicada sem ser desenvolvida, serve para
regular a nossa conduta, como crentes, uns para com os outros.
Os diversos membros do corpo humano têm diversas funções, e operam de
diferentes maneiras, porém cada um nos seus movimentos contribui para o bem
de todos, do corpo comum, e é dirigido pela cabeça.
Assim deve ser, diz o apóstolo, com todos nós cristãos. Cada pessoa deve
ocupar o seu lugar, conforme a medida da fé que tiver recebido, e assim contribuir
para o bem de todos, reconhecendo que o lugar que ocupa é seu pela vontade de
Deus.
Alguns, segundo essa vontade podem ter recebido dons especiais, em tais
casos, que haja todo o cuidado e zelo no exercício destes dons com toda a
humildade lembrando-se que estes favores têm sido recebidos de Deus, para
serem usados para o bem de todos.
Finalmente é preciso que haja amor sem fingimento, e que, como os que
têm sido ensinados por Deus, saibamos aborrecer o mal e aderir ao bem.
Assim, amando-nos uns aos outros reciprocamente, saberemos também
honrar-nos devidamente uns aos outros.

Romanos 12:11 a 21

O apóstolo fala agora de outros pontos que dizem respeito à vida cristã e ao
espírito em que devemos andar individualmente.
Em todas as circunstâncias devemos sempre proceder com um espírito leal
e fervoroso como convém àqueles que até nas coisas mais pequeninas têm e
privilégio de servir ao Senhor Jesus.
Na vida do cristão não se devia notar a preguiça, mas antes o zelo (veja Rm
12:11), o gozo, a esperança, paciência, a oração (Rm 11:12), a bondade, a
hospitalidade (Rm 12:13), o amor para com os inimigos (Rm 12:14) e a simpatia
(Rm 12:15).
Esses são alguns dos característicos da vida cristã. Permita Deus que
sejam manifestados em nossas vidas.
Como crentes devemos ser caracterizados pela graça divina e pela
humildade, de maneira que, ao contrário do espírito mundano que ambiciona
coisas grandes e altivas, achemos o nosso gozo em andar com os humildes (Rm
12:16), aprendendo assim do nosso bendito Senhor Jesus que disse: “Eu sou
manso e humilde de coração” (Mt 11:29).
Também é o nosso privilégio manifestar aos outros o mesmo espírito que
Deus nos manifestou a nós, isto é, um espírito de graça divina e de longanimidade.
Portanto, a ninguém tornemos mal por mal (Rm 12:17).
Devemos ter também o maior cuidado em termos todas as nossas coisas
arranjadas de uma maneira honesta diante de todos, a fim de que ninguém nos
possa acusar, nem nós sirvamos de tropeço a ninguém (Rm 12:17).
Paz com todos deve também ser uma das nossas normas, pelo menos
quanto estiver ao nosso alcance.
Devemos sempre andar tranqüila e honestamente, sem darmos ocasião de
queixa a ninguém. E, caso fôssemos mal tratados ou infamados, não nos compete
a nós vingarmo-nos, mas deixar tudo que nos diz respeito nas mãos do nosso
Senhor (Rm 12:18-19).
Por fim lemos: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”
(Rm 12:21). Aqui vemos o triunfo do cristão. Vemos esse princípio perfeitamente
exemplificado no Senhor Jesus; e nunca o foi mais do que na ocasião da cruz,

38
quando triunfou sobre todo o poder do mal. Portanto, no poder da vitória de Cristo
e regozijando-nos no verdadeiro bem que é nosso nEle, podemos fazer bem a
todos, triunfando assim do mal que nos rodeia.
Ó Senhor Jesus, que esta seja a nossa experiência pela Tua graça!

Romanos 13:1 a 7

Estes versículos nos instruem acerca do nosso modo de proceder para com
os poderes civis. Ainda estamos nos “tempos dos gentios” (Lc 21:24) — tempos
em que o poder e o governo estão aqui entregues por Deus nas mãos dos
homens, e como cristãos precisamos reconhecer isso.
“As autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).
Reconheçamos então a autoridade dos que governam e sujeitemo-nos a ela,
porque esta é a vontade de Deus. É possível que os que têm a autoridade nas
suas mãos falhem nos seus deveres, contudo a responsabilidade disso lhes cabe
a eles e não a nós.
Portanto, para o crente, não é uma questão desse ou daquele partido
político, mas havendo governo, autoridade estabelecida — “as autoridades que há”
— tem de se lhe sujeitar. Pode achar-se em circunstâncias em que a autoridade
dos homens se entremeta naquilo que diz respeito às coisas de Deus e à
consciência do verdadeiro crente; em tais casos, é claro que se deve obedecer a
Deus e não aos homens.
Somente o Senhor tem direito de dominar a nossa consciência, porém, não
se tratando de uma questão de consciência, quer seja coisa de que gostamos,
quer não, temos de nos sujeitar a ela. Assim devemo-nos guardar contra o espírito
que hoje tanto se manifesta ao nosso redor, um espírito de insubordinação à
autoridade estabelecida e, sabendo o que é a vontade de Deus, temos que dar a
cada um o que devemos, seja tributo, seja honra. Não é uma questão de
patriotismo, mas de fazermos a vontade de Deus.

Romanos 13:8 a 10

“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” (Rm 13:8). Sejamos,
então, irmãos amados, cuidadosos nisso, afim de que não cheguemos a desonrar
o nosso Senhor e a entristecer o Espírito Santo pela nossa desobediência à
vontade expressa do nosso Deus.
O amor é uma dívida que nunca poderemos pagar. É isto o que satisfaz as
exigências da Lei, porque o amor, que é de Deus, não faz mal ao próximo.
Assim, ao mesmo tempo que somos livres do domínio da Lei, a nossa
conduta deve ser tal que cumpramos com os seus preceitos, visto que “o
cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:10).

Romanos 13:11 a 14

Devemos mostrar o maior zelo em atender a todas essas exortações que


estamos considerando, porque o tempo que havemos de estar neste mundo é
limitado. Aproxima-se o dia da vinda do Senhor em que havemos de alcançar a
plena salvação, até a dos nossos corpos.

39
Cristo tem sido rejeitado pelo mundo e por conseqüência é noite aqui, mas
a noite está passando e o dia vem chegando, e nós devemos lembrar-nos que,
sendo ainda noite com relação a esse mundo, nós cristãos somos do dia.
Andamos na luz que dimana de Cristo na glória celeste; temos a luz do dia.
Brevemente Cristo se levantará como o Sol da Justiça, mas atualmente é como a
Estrela da Alva nos nossos corações, de maneira que devemos andar já como é
digno dos que são do dia. Rejeitemos o que é das trevas, da noite, e vistamo-nos
com as armas da luz.
A salvação é a completa libertação de tudo quanto seja contrário a Deus e,
quando o Senhor voltar, tudo que não for dEle será posto de parte e a nossa
salvação será em todo o sentido completa. Esperamos por aquele dia; está já
agora mais perto do que quando recebemos a fé.
Porém, enquanto esperamos, temos já a luz do dia, e assim, conhecendo
Cristo na glória e tendo os nossos corações dirigidos a Ele em fé, amor e
esperança, não fazemos caso da carne para satisfazermos os seus apetites e
sermos caracterizados por aquilo que é das trevas, mas fugimos das bebedeiras,
desonestidades, dissoluções, contendas, invejas e todas as obras das trevas e
revestimo-nos do Senhor Jesus Cristo. Tomamos o caráter dEle e, andando
honestamente, manifestamos aqui o que é dEle — o Seu caráter.
O capítulo 12 da epístola aos Romanos trata do caráter e privilégio do
crente verdadeiro como pertencendo ao corpo de Cristo; o capítulo 13 considera-o
como vivendo no reino dos homens, sujeito à autoridade dos governadores aqui; e
finalmente, o capítulo 14 trata dele como pertencendo ao reino de Deus e debaixo
da autoridade de Cristo.

Romanos 14:1 a 12

Nestes versículos salienta-se o fato de estarmos, como cristãos, debaixo da


autoridade do SENHOR.
Cada crente é responsável em tudo para com o Senhor, e portanto não
devemos procurar dominar as consciências dos nossos irmãos.
Quando houver diferença de opinião entre irmãos a respeito de coisas
parecidas com aquelas mencionadas aqui pelo apóstolo, é preciso que haja toda a
consideração de parte a parte. Não se vê em todas a mesma medida de
entendimento espiritual. A fé de alguns aprecia mais do que a de outros.
Havia alguns que mostravam não terem apreciado a plenitude da liberdade
com que Cristo liberta os Seus. As suas almas não gozavam o fato de
pertencerem à nova criação e serem, como tais, mortos com Cristo, quanto aos
princípios do mundo. Eram, de fato, “fracos na fé” (Rm 14:1). Porém eram do
Senhor, remidos pelo Seu sangue e amados por Ele, e amavam a Cristo e,
portanto, era preciso recebê-los, mas não para dissentir com eles pontos
duvidosos que podiam servir apenas para levantar dificuldades e fazer-lhes
confusão.
Podia dar-se o caso que alguém por motivo da sua consciência não
quisesse comer ou beber isto ou aquilo, julgando ser contra a vontade divina; ou
que fizesse caso de guardar certos dias como sendo diferentes dos outros,
pensando que assim honrava ao Senhor. Em tais casos temos de nos lembrar que
o crente verdadeiro é o servo do Senhor, e que tem de andar diante dEle,
conforme a luz que tiver recebido, guardando uma boa consciência em tudo. Assim
o que faz, fá-lo para o Senhor.

40
Portanto, apesar do seu procedimento resultar da falta do verdadeiro
conhecimento da posição e privilégio do cristão, não devemos julgar que está
fazendo mal, porque a sua consciência não lhe permite proceder de outra maneira.
Nem tampouco devemos desprezar um irmão que seja dominado por certas
regras ou costumes dos quais sabemos que ficaria libertado se tivesse uma
apreciação melhor da verdade. Se o que faz, o faz para o Senhor, não devemos
nem julgá-lo, nem desprezá-lo, mas antes procurar conduzi-lo para mais pleno
conhecimento da verdade revelada em Jesus.
Todo salvo é o servo do Senhor e não o nosso servo (Rm 14:4).
Comparecerá perante o tribunal de Cristo e não perante o nosso tribunal (Rm
14:10). Cada um dará conta a Deus de si mesmo e não do seu irmão (Rm 14:12).
Portanto não devemos julgar o servo alheio, nem condenar em tais casos o nosso
irmão; para o Senhor está em pé ou cai; e, graças a Deus, se conservar uma boa
consciência, estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar (Rm 14:4).
Procuremos guardar sempre uma consciência sossegada diante do Senhor
e permitamos que os outros também façam o mesmo. Andemos sempre como sob
a Sua autoridade, lembrando-nos que O servimos a Ele e que somos responsáveis
para com Ele.

Romanos 14:13 a 23

Não nos julguemos pois uns aos outros, antes cuidemos todos em não
sermos motivo de tropeço para qualquer irmão. Lembremo-nos que pertencemos
ao reino de Deus que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no
Espírito Santo e assim procuremos servir aos nossos irmãos em amor, buscando
em tudo o seu proveito; porque quem nisto serve a Cristo, agrada a Deus e é
aprovado dos homens.
De outro lado se deixarmos de mostrar cuidado e consideração pelo bem
dos nossos irmãos, pondo descuidadamente qualquer tropeço diante deles,
erramos e fazemos, não só com que eles se entristeçam (Rm 14:15), mas
prejudicamos assim um por quem Cristo morreu (Rm 14:15) e impedimos a obra
de Deus (Rm 14:20).
Devemos ter o maior cuidado em não ofender nem escandalizar a
consciência de outrem por aquilo que nós fazemos ou deixamos de fazer.
Também é coisa muito séria levar pelo nosso exemplo qualquer pessoa a
fazer uma coisa para a qual não tenha fé, e a respeito da qual dúvida se é ou não
da vontade de Deus. Cada um precisa estar plenamente convencido no seu
próprio ânimo (Rm 14:5), porque serve ao Senhor e não aos homens; e se em
qualquer caso não sabe como deve proceder, convém que espere até que Deus
lhe mostre a Sua vontade.
“Tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14:23). Se o crente fizer o que faz
sem se importar se é ou não a vontade de Deus, estará apenas fazendo a sua
própria vontade, e isto é pecado. Ter fé a respeito de uma coisa quer dizer ter a luz
da vontade de Deus a esse respeito. Se quisermos fazer a Sua vontade, Deus
no-la fará conhecer e então poderemos ir avante em fé, tendo a luz divina e assim
havemos de conservar uma consciência tranqüila.
Em amor, “sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a
edificação de uns para com os outros ” (Rm 14:19).
Pensemos nos nossos irmãos como sendo aqueles que Deus tem recebido
(Rm 14:3), e os servos do Senhor (Rm 14:4), e não estaremos então dispostos a
julgá-los nem a desprezá-los.

41
Pensemos neles como sendo aqueles por quem Cristo morreu (Rm 14:15),
e como sendo na verdade nossos irmãos (Rm 14:15 e 21), e assim procuraremos,
de um lado evitar tudo que lhes possa servir de tropeço, e de outro, servi-los em
amor.
Andemos, então, em amor e fé, lembrando-nos das palavras:
“Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova”
(Rm 14:22).

Romanos 15:1 a 7

Estes 7 versículos ligam-se com o capítulo antecedente, concluindo o


ensino ali apresentado. Toda a verdade cristã nos é apresentada por Deus em
relação com a pessoa de Cristo. Temos estado a considerá-Lo como sendo o
nosso Senhor, Aquele que nos governa, e nestes versículos contemplamo-Lo
como o nosso exemplo, Aquele a Quem seguimos.
Lemos: “Cristo não agradou a si mesmo” (Rm 15:3). É claro, pelo que
temos já exposto, que não devemos procurar a nossa própria satisfação, mas
antes o proveito e edificação espiritual do nosso próximo, e nisto temos que seguir
o exemplo do nosso bendito Senhor Jesus. Vemos como Ele sempre andou no
caminho de amor e obediência à vontade de Deus, suportando meigamente as
injúrias que caíam sobre Ele. Duma maneira tão perfeita manifestou Jesus o
caráter de Deus em toda a Sua vida que, quando os homens queriam injuriar a
Deus, as injúrias caíram sobre Ele.
“Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm
15:4). Estudemos, pois, com cuidado e com oração as Sagradas Escrituras a fim
de sabermos o que é a vontade de Deus e de compreendermos os Seus caminhos
e de seguirmos os princípios nelas indicados. Assim, caminhando no trilho de amor
e obediência já marcado pelo Senhor, e perseverando nele com paciência,
experimentaremos as consolações das Escrituras e assim seremos mantidos em
gozo e esperança.
Podemos nós, porventura, dizer que na nossa experiência temos gozado a
consolação das Escrituras Sagradas? Se a resposta for negativa, é porque temos
deixado de estudá-las com espírito humilde e oração.
Lendo nos evangelhos vemos como o Senhor Jesus, como Homem aqui no
mundo, Se servia das Escrituras, e convém lembrar-nos das Suas palavras:
“Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus”
(Lc 4:4).
Reparemos como, no versículo 5, Deus toma o título de “Deus de paciência
e de consolação”. Que nome tão cheio de significação para os nossos corações! E
como revela o Seu caráter! Que infinita paciência Ele mostra constantemente para
conosco, e como Ele Se interessa em tudo, até nas coisas mais pequenas, que
nos dizem respeito! Como, maravilhosamente, Ele também sabe consolar e
confortar os desanimados e tristes, e quanta graça divina ministra aos Seus!
Assim, pois, conhecendo a Deus, e tendo experimentado a Sua paciência,
conforto e amor para conosco, andemos no mesmo espírito uns para com os
outros, aprendendo de Cristo e sendo dominados por Ele. Desta maneira,
gozaremos a comunhão uns com os outros, segundo Jesus Cristo, e poderemos
juntos e unânimes glorificar a Deus, ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
“Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu
para glória de Deus” (Rm 15:7).

42
Que maneira tão bela com que o apóstolo conclui as suas exortações! Em
tudo que fizermos temos que fitar os olhos em Cristo, nosso Senhor e Exemplo, e
assim andando em obediência à vontade de Deus, tudo resultará em glória para
Ele.
O nosso privilégio, assim como também a nossa responsabilidade, é
fazermos tudo o que fazemos no Espírito de Cristo — como Cristo e para Deus.

43
PARTE 7
— ROMANOS 15:8 – 16:27 —

Romanos 15:8 – 12

O apóstolo apresenta agora alguns pontos relativos a Cristo que confirmam


o ensino já exposto.
A vontade de Deus só se podia efetuar pela confirmação das promessas
feitas aos pais. Por exemplo, uma promessa como a que foi feita a Abraão
conforme lemos em Gênesis 22:18 — “E em tua semente serão benditas todas as
nações da terra” — só se podia realizar na pessoa de Cristo. Assim Cristo veio
como ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus.
Também os gentios a quem nenhuma promessa tinha sido feita, recebendo
a bênção divina por meio dEle, haviam de glorificar a Deus pela Sua misericórdia.
O apóstolo depois cita diversos trechos das Escrituras que mostram que ao
mesmo tempo que as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência,
também Deus sempre tencionava mostrar a Sua misericórdia aos gentios. Vemos
nisto a soberania divina, de que temos um exemplo no caso da mulher cananéia
em Mateus 15. O Senhor disse: “Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos
cachorrinhos”, e ela respondeu: “Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos
comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. Então, o Senhor
Jesus respondeu: “Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como
tu desejas.” (Mt 15:26-28). Ela experimentou a misericórdia do Senhor.
As promessas são confirmadas e realizadas em Cristo ressuscitado, e nEle
é que nós gentios somos abençoados, e por Ele glorificamos a Deus.
Logo que Cristo seja apreciado como sendo Aquele em Quem e por meio
de Quem toda a vontade de Deus se efetua, fere-se uma nota de alegria e louvor
exultante. Lemos: “Alegrai-vos, gentios” (Rm 15:10); “Louvai ao Senhor, todos os
gentios,e celebrai-o todos os povos” (Rm 15:11).
Como isto engrandece o Senhor aos nossos olhos e faz com que Lhe
votemos o lugar supremo nas nossas afeições! Que triunfo da graça divina se vê
neste coro de unido louvor que sobe a Deus!

Romanos 15:14 – 33

Paulo agora fala do ministério que Deus lhe tinha entregue a ele. Assim,
apesar de apenas conhecer pessoalmente poucos dos irmãos em Roma,
escrevia-lhes com maior ousadia visto que tinha sido chamado por Deus para ser o
ministro de Jesus Cristo aos gentios.
Paulo aqui tem em vista o seu próprio trabalho, a sua obra apostólica, e o
resultado final dela.
Tinha sido chamado, na qualidade de apóstolo, para ministrar Jesus Cristo
aos gentios, e o resultado do seu trabalho seria, por fim, um povo tirado de entre
os gentios, santificado pelo Espírito Santo e apresentado a Deus — uma oferta
agradável a Deus.
Que contraste existe entre esta companhia “agradável a Deus” e a condição
dos gentios como é descrita no primeiro capítulo desta epístola.

44
Provas de que tinha recebido esta missão especial de Deus, havia muitas;
porém fala de si moderada e sobriamente, conforme a medida de fé que tinha
recebido de Deus.
Da sua pregação resultou muita bênção; muitos milhares o acompanharam;
grande energia caracterizou os seus atos; tinha percorrido muitas terras nas suas
viagens apostólicas — parcialmente, ele anunciara em lugares onde Cristo não
tinha sido nomeado aquele bendito nome. Porém, agora o seu trabalho naquelas
regiões estava concluído, não tinha ali mais o que fazer. O cristianismo estava já
fundado naquelas terras e a obra do apóstolo estava ali completa.
Mesmo hoje pode acontecer que o trabalho para o qual Deus tenha
chamado, em qualquer lugar, um servo Seu, esteja concluído. Então, se assim for,
e o Senhor estiver chamando o Seu servo para outra parte, é preciso este
reconhecer isso e obedecer às indicações do Senhor neste ponto.
O apóstolo tinha um grande desejo de visitar os irmãos em Roma, mas na
ocasião em que escrevia esta epístola estava de viagem a Jerusalém, a fim de
levar aos irmãos pobres ali o dinheiro que se tinha ajuntado entre os irmãos da
Macedônia e Acaba (Rm 15:25-26).
Aqui devemos notar um princípio importante. Os gentios tinham recebido
muita bênção espiritual, participando assim da bênção dos judeus e, sendo assim,
disse o apóstolo, deviam da sua parte ministrar-lhes as coisas temporais. Os
gentios não podiam ministrar aos judeus as coisas espirituais, portanto deviam
contribuir com coisas materiais.
Em Atos 11 temos um belo exemplo desse princípio. Os irmãos em
Jerusalém ouviram falar da conversão dos gentios em Antioquia, e lhes enviaram
Barnabé. Este, tendo visto a obra de Deus ali, partiu para Tarso a buscar Paulo.
Tendo-o encontrado, levou-o a Antioquia onde passaram ambos um ano inteiro
ensinando e instruindo muita gente. Neste tempo chegou a profecia de uma
grande fome que havia de vir, e logo os gentios convertidos resolveram enviar
socorro aos seus irmãos que habitavam na Judéia. Falando desse ato de amor na
sua segunda epístola aos Coríntios (capítulo 9), Paulo disse que não só supriu as
necessidades dos irmãos, mas também abundou em muitas ações de graças a
Deus.
Lemos que “lhes pareceu bem” proceder assim. E foi bem na verdade,
porque eram “devedores” (Rm 15:27). Lembremo-nos sempre do princípio aqui
exposto, porque é nosso dever e nosso privilégio segui-lo.
Nos versículos que se seguem, o apóstolo, tornando a falar na suja
projetada viagem à Espanha e do seu ardente desejo de ver os irmãos em Roma,
quando passasse de caminho, pede as suas orações a favor de si próprio, para
que a oferta que levava aos irmãos na Judéia fosse aceite e para que ele não
caísse nas mãos dos inimigos ali, a fim de que chegasse aos irmãos em Roma
com alegria, para aí se recrear com eles. Lembremo-nos sempre de orar pelos
servos do Senhor.
É muito interessante ver como Deus neste capítulo se identifica com certos
princípios ou qualidades, como por exemplo, chama-Se:

— o Deus de paciência e consolação (Rm 15:5),


— o Deus de esperança (Rm 15:13) e
— o Deus de paz (Rm 15:33).

Necessitamos paciência, esperança e paz, e Deus tem ligado o Seu nome a


essas coisas.

45
Romanos 16:1 – 24

Chegamos agora à conclusão dessa epístola aos Romanos, e é belo ver


como o grande apóstolo saúda com tanta afeição os irmãos que ele conhecia em
Roma. Parece lembrar-se de todos, falando de serviços prestados por uns e a
graça divina manifestada em outros. Amava-os ardentemente e assim temos aqui
a saudação do verdadeiro amor cristão.
É belo ver como Paulo soube apreciar tudo que era de Cristo em cada um
dos Seus. Ele era o grande apóstolo que em trabalhos excedia a todos, porém a
graça divina tinha operado em outros, e esses também trabalhavam cada um
conforme podia. Isso Paulo notou com alegria e assim o seu coração procurava
ligar todos nos laços de amor divino.
Notemos algumas das coisas de que ele se lembrou: “…serve na igreja …
tem hospedado muitos … pela minha vida expuseram a sua cabeça … trabalhou
muito por nós … meus companheiros na prisão … muito trabalhou no Senhor” (Rm
16:1, 2, 4, 6, 7 e 12).
Que zelo santo e fervoroso estas palavras revelam — que trabalhos de
amor!
Reparemos também em outras palavras que o apóstolo escreve a respeito
de alguns: “…me amado, que as primícias da Ásia em Cristo … meu amado no
Senhor … aprovado em Cristo … que estão no Senhor … eleito no Senhor …
todos os santos que com eles estão” (Rm 16:5, 8, 10, 11, 13 e 15).
Com que clareza indicam estas palavras o círculo de amor divino em que
está introduzido aquele que crê no Senhor Jesus Cristo e que está possuído do
valor da verdade revelada no evangelho. É desnecessário dizer que os santos que
Paulo saúda não são nenhuns mortos, mas sim os seus irmãos em Cristo que
viviam naquela cidade naqueles dias.
O apóstolo não só saúda os irmãos, mas recomenda-lhes que se saúdam
uns aos outros com uma saudação santa (Rm 16:16).
Com o coração cheio desses sentimentos de amor, o apóstolo, antes de
concluir a sua epístola, ainda expressa algumas palavras de aviso com respeito
àqueles “que promovem dissensões e escândalos” (Rm 16:17). “Desviai-vos
deles!” — diz ele. Eis como temos que proceder para com tais pessoas; não
devemos andar na sua companhia, nem escutar os seus ensinos. “Não servem a
nosso Senhor Jesus Cristo” — afirma o apóstolo. Portanto, devemo-nos desviar
deles, para que não sejamos enganados por eles, e assim desviados da
simplicidade que há em Cristo.
“Dissensões e escândalos” são contrários ao espírito de Cristo e ao amor.
Não é assim que se presta serviço ao Senhor. Pelo contrário tais coisas resultam
em estarmos ocupados conosco próprios e darmos lugar à atividade da carne em
nós, que sempre procura manifestar-se e engrandecer-se.
Se Cristo ocupa o Seu lugar em nossos corações, o amor há de ali dominar,
e aprenderemos dEle como convém proceder em todas as ocasiões. Andaremos
em obediência a Ele e em amor aos Seus.
“Sejais sábios no bem, mas símplices no mal” (Rm 16:19). O caminho de
Cristo é o caminho do bem e da sabedoria divina. Necessitamos aprender dEle,
conhecer o Seu caminho, e assim estaremos seguros, sem que seja preciso
indagarmos aquilo que é do mal. O coração se sustém com aquilo que é bom.
“Pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor” (Salmo 17:4).
Andemos, pois, irmãos, no caminho do Senhor, alimentando-nos com o bem,
regozijando-nos no Senhor e servindo-O, e em breve se há de manifestar o

46
completo triunfo do bem sobre o mal, de Deus sobre Satanás. Graças a Deus,
conhecendo Jesus triunfante na glória, vemos já pela fé este triunfo, esta vitória.
Temos agora (Rm 16:21-23) as saudações dos companheiros do apóstolo.
Vemos como a comunhão em amor caracteriza o espírito do evangelho.
Podemos também notar a maneira como Paulo escreveu em geral as suas
epístolas. Ele ditou as palavras e outro irmão as escreveu, sendo esse, nessa
epístola, o irmão Tércio. No fim, Paulo com a sua própria mão escreveu a
saudação final, sendo este o sinal que provava a veracidade não só desta como de
todas as suas epístolas (2 Ts 3:17).
Convém aqui lembrarmos o que Paulo nos diz em 1 Coríntios 2:13, que as
coisas dadas por Deus ele falava-as “não com palavras de sabedoria humana,
mas com as que o Espírito Santo ensina”. Recebamos, então, esses ensinos não
como sendo simplesmente os ensinos de Paulo, mas, como na verdade são, a
Palavra do Senhor.

Romanos 16:25 – 27

O apóstolo, pegando na pena para acrescentar as últimas palavras à


epístola, louva a Deus infinito em sabedoria, Aquele que era poderoso para
confirmar, segundo o evangelho que tinha anunciado, todo aquele que crê. Ao
mesmo tempo, o apóstolo faz lembrar o verdadeiro caráter do testemunho contido
no evangelho; é conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos
esteve oculto, mas que se manifestou agora…” (Rm 16:25).
A verdade do mistério de Cristo, isto é, do fato de ser Cristo posto agora por
Cabeça de todas as coisas, e dEle ter unido em um povo judeus e gentios, sendo
estes co-herdeiros e de um mesmo corpo e participantes da promessa de Deus
pelo evangelho, tudo isso não está desenvolvido na epístola aos Romanos. Porém,
tudo que lemos nesta epístola está em conformidade com a plena revelação do
mistério e nos prepara para o apreciarmos, como nos é revelado na epístola aos
Efésios (veja Ef 3).
Esta verdade do mistério tinha estado encoberta desde tempos eternos,
apesar de estar já determinada pelo propósito divino. Contudo, logo que pela
morte de Cristo se tinha preparado a base ou fundamento eterno sobre o qual esse
propósito de Deus podia ser realizado, foi este revelado plenamente.
É preciso chamar aqui a atenção para as palavras “escrituras dos profetas”
(Rm 16:26). O sentido do original seria mais evidente se em português lêssemos
“escrituras proféticas”. É claro que não se referem às escrituras do Velho
Testamento, mas às escrituras do Novo Testamento — como esta epístola aos
Romanos, as epístolas aos Efésios e aos Colossenses — enfim, como todas as
epístolas apostólicas e inspiradas (veja Ef 3:5).
Assim Deus confirma os Seus conforme ao Seu eterno propósito em Cristo;
quer que saibamos e apreciemos o nosso lugar em Cristo, e a bênção que é nossa
nEle. Em Cristo aprendemos o amor, a sabedoria e o poder de Deus.
“Mas o que nos confirma convosco em Cristo … é Deus” (2 Co 1:21).
Quando chegarmos ao fim desta epístola, nos vem de novo à lembrança
que o propósito eterno de Deus em relação a Cristo não se limita à bênção dos
judeus, ou de qualquer outro povo exclusivamente, mas que o evangelho e o
mistério de Cristo agora manifestado pelos escritos proféticos do Novo
Testamento, são enviados, “segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as
nações para obediência da fé” (Rm 16:26).

47
Agora, concluindo esses estudos, que diremos? Temos considerado esta
maravilhosa revelação da justiça, da graça e do amor de Deus. Temo-Lo visto
como sendo justo e o Justificador daquele que crê em Jesus; temos visto de
alguma maneira qual é o nosso lugar de bênção e de privilégio em Cristo. Temos
apreciado o propósito final de Deus a nosso respeito, isto é, o sermos
conformados à imagem do Seu Filho. Pelo Espírito recebido, o amor de Deus é
derramado nos nossos corações, e temos liberdade diante dEle. Ainda mais,
gloriamo-nos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo por Quem agora temos
recebido a reconciliação. Também estamos libertados do domínio do pecado, e é
nosso privilégio de servir a Deus em novidade de vida, pelo poder do Espírito
Santo.
Muito mais podíamos acrescentar, porém desistimos, limitando-nos a
recordar que em breve tudo será subjugado a Cristo, o Senhor, e toda a vontade
de Deus se realizará, quer no céu quer na terra.
“Porque todas quantas promessas há de Deus são nele (o Filho de Deus,
Jesus Cristo) sim; e por ele o Amém, para glória de Deus, por nós” (2 Co 1:20).
Com corações adoradores exclamemos então:

“Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o
sempre. Amém!”

48

Potrebbero piacerti anche