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Camille Goirand é professora titular de ciência política do Instituto de Estudos Políticos de Lille e
pesquisadora do Centro de Pesquisa em Administração, Política e Sociedade (Ceraps), na Universidade Lille
2, França (cgoirand@wanadoo.fr).
Artigo recebido em 26 de junho de 2009 e aprovado para publicação em 27 de agosto de 2009.
Tradução de Clóvis Marques.
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tornos imperfeitos” dos simpatizantes eventuais, muito mais ampla que o núcleo
muito restrito dos ativistas engajados.41 Apoiada em organizações descentraliza
das e flexíveis, a participação nos novos movimentos sociais apresentou um cará
ter cambiante, pouco homogêneo, muitas vezes informal ou descontínuo, sendo
marcada pela rejeição dos sistemas dominantes de representação dos interesses.
Esses movimentos sociais repousaram, assim, numa grande variedade de mi
cro-organizações, associações de vizinhança, “unidades diversificadas e autôno
mas”, de caráter “disperso, compósito, fluido”, ocupando um espaço social “de
limites incertos e densidade variável”.42 Com base nas demandas às vezes extre
mamente localizadas formuladas por cada organização, assim como na circula
ção dos indivíduos e grupos no interior de redes entrecruzadas de mobilização,
foi-se constituindo aos poucos um amplo “espaço de movimento”.43
No interior desses espaços, constituídos de redes informais e fluidas li
gando indivíduos e micro-organizações locais, as aproximações estratégicas ou a
simples solidariedade mantiveram-se às vezes limitadas e mesmo problemáti
cas. De acordo com essa análise, a influência desse tipo de mobilização nos siste
mas sociais e políticos foi exercida de maneira muito indireta, através da difusão
aleatória de modelos de comportamento comuns ou de representações comparti
lhadas. Nessa perspectiva, Alberto Melucci definia os movimentos sociais, na
década de 1980, como “sistemas de ação e de oportunidades, e campos de possibi
lidades e de limites”.44 De maneira geral, por trás da coesão aparente de um mo
vimento social, as motivações, as representações e os comportamentos coletivos
são marcados pelo caráter heterogêneo e mesmo contraditório dos modos de
ação política, em particular nos meios populares.45 Desse modo, a formatação
política dessas ações não raro heteróclitas pode apresentar um caráter aleatório.
No que diz respeito à América Latina da década de 2000, onde, por
exemplo, as mobilizações dos piqueteros argentinos remetem efetivamente a uma
organização em “nebulosa”, a questão da unificação do movimento social e de
seu sentido político mantém-se atual.46 Denis Merklen mostrou que a heteroge
neidade e a territorialização desse movimento se associam à difusão de um con
junto de representações e práticas políticas que delineiam uma nova “politi
cidade” das classes populares.47 O movimento social extrai sua unidade, aqui, do
fato de que indivíduos e grupos gravitam num mesmo sistema de ação, vale di
zer, perseguem objetivos comuns, compartilham símbolos e mesmo a afirmação
de uma identidade, e circulam num espaço militante partilhado. Apesar da frag
mentação das organizações e símbolos, as trocas individuais e as convergências
pontuais fundam, assim, uma unidade instável das representações e, ao mesmo
tempo, das redes sociais de interação.
Se adotarmos essa perspectiva, as associações de bairros pobres do Brasil
das décadas de 1980 e 1990 efetivamente foram constitutivas de um movimento
social. Numa primeira análise, com efeito, chamam a atenção do observador a
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A questão da autonomia
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As questões identitárias
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Com efeito, se, por um lado, a autonomia dos novos movimentos sociais
foi real, por outro, representou sobretudo uma situação temporária, ligada ao
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sidade das mobilizações mas também com os consideráveis limites de suas con
quistas. De fato, a instauração de governos representativos não se apoiou, em ter
mos imediatos, numa democratização profunda das sociedades, cada vez mais
violentas e calcadas na desigualdade.73 Uma vez atendidas suas demandas mate
riais, as micro-organizações locais surgidas na década de 1980 perderam em mu
itos casos sua capacidade de reivindicação e mobilização. Esse processo de des
mobilização pode ser explicado por diferentes fatores, que pudemos, de nossa
parte, observar nas favelas do Rio de Janeiro. Para começar, a satisfação de certas
demandas materiais, expressa por exemplo na ideia de que “agora temos tudo”...
Depois, também, um certo cansaço e desânimo, associado à vontade de se dedi
car mais aos interesses privados.74 A partir de um trabalho de pesquisa quantita
tiva sobre a produção documental das organizações de movimento social no Bra
sil, Ana Maria Doimo mostrou que a década de 1990 fora palco de um número
menor de mobilizações que a década anterior.75 Frente a essa erosão, observado
res, intelectuais e universitários de esquerda manifestaram desencanto e desilu
são proporcionais às expectativas que haviam projetado, anos antes, nas mobili
zações populares. Frisando seus fracassos e suas fragilidades, muitos deles lasti-
maram os limites da mudança social imposta pelo “movimento popular” (no sin
gular), afinal efêmero e marcado pelo “paroquialismo”.76 Apresentada como
uma perda de autonomia e de identidade, e mesmo como um compromisso, a
institucionalização dos novos movimentos sociais foi interpretada, assim, como
um fracasso.
O “refluxo” dos novos movimentos sociais, portanto, fez correr muita
tinta a partir do meado da década de 1990. Apesar de pertinente no que diz res
peito à queda de intensidade de certas mobilizações contestatárias surgidas na
década de 1980, essa análise nem por isso deixa de ser incompleta, por duas ra
zões pelo menos. Primeiro, porque está calcada na ideia de uma oposição radical
entre movimentos sociais e política institucional, que não leva em conta os resulta
dos de trabalhos clássicos sobre a participação política77 nem a “complementari
dade do protesto e da ação política convencional”, tal como mencionada por exem
plo por Jack Goldstone.78 Depois, porque um olhar na direção das trajetórias indi
viduais dos militantes e dos espaços sociais e políticos por elas percorridos permite
nuançar o diagnóstico do “refluxo” ou do fracasso. Ele indica em que medida o ci
clo de protesto surgido na década de 1980, por um lado, possibilitou a formação de
um novo pessoal político e administrativo,79 e, por outro, permitiu o reconheci
mento de certos direitos fundamentais. Além disso, a década de 2000 mostrou que
esse ciclo de protesto certamente não estava encerrado.
Note-se que o sentido adquirido pela institucionalização dos movimen
tos sociais surgidos na década de 1970 não é unívoco. No que diz respeito às asso
ciações de bairro, por exemplo, duas interpretações entram em concorrência. A
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Notas
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com pa ra ti vas de gran de al cance. Por 18. David Snow et al. (1986: 464) mos
exemplo: Sonia Alvarez e Arturo Escobar traram que os membros de um movimento
(1992). Os trabalhos publicados fora da social efetuam um trabalho de definição de
América Latina adotaram abordagens uma situação, que em parte repousa em sua
perfeitamente comparáveis, notadamente in ter pre ta ção como ina cei tá vel, con
David Slater (1985), seguido de dois dos testável, injusta: “conferindo sentindo a
siês da revista Latin American Perspectives acontecimentos, os estados de espírito
(vol. 21, n° 2 e 3, 1994) também dirigidos per mi tem or ga ni zar a ex pe riên cia e
por esse autor. orientar a ação, seja individualmente seja
coletivamente”.
11. No caso da França, essa questão foi
abor da da, por exem plo, por Mar ti ne
19. Renato Boschi (1987). Sobre o conceito
Barthélémy (2000) e Jacques Ion (1997). Em
de “quadro de injustiça”, ver William
terreno bem diferente, foi igualmente o que
Gamson et al. (1982).
pudemos constatar no Rio de Janeiro na
década de 1990. Ver Camille Goirand (2000).
20. As leis do “ponto final” (1986) e da
12. Vale registrar algumas exceções, como “obediência devida” (1987) significaram
por exemplo o trabalho de Paulo da Costa uma anistia, já que puseram fim à per
Neves (1999). seguição dos autores de violações dos di
reitos humanos do período autoritário
13. Willem Assies (1994: 81-105) mostra de (1973-83).
que ma ne i ra as abor da gens das mo
bilizações se estruturaram em torno desse 21. Sobre os feminismos e os direitos re
conceito de “movimento popular”. Na me produtivos, ver Bérengère Marques-Pe
dida em que levam em conta a composição reira e Florence Raes (2002: 17-36). Sobre
social e as demandas das mobilizações, essas o movimento contra a fraude eleitoral no
definições são mais restritivas que as México, ver Hélène Combes (2004, cap. 1).
propostas, por exemplo, por François Chazel Para um amplo panorama das mobi
em 1992. Ele definia um “movimento social” lizações da década de 1980, ver Susan
como um “empreendimento coletivo de Eckstein (2001a).
protesto e contestação visando a impor
mudança – de importância variável – na es
trutura social e/ou política mediante recurso 22. Em nossas próprias pesquisas sobre o
frequente – mas não necessariamente percurso individual dos dirigentes asso
exclusivo – a meios não-institucionalizados” ciativos no Rio de Janeiro e posteriormente
(Chazel, 1975: 502- 516). dos militantes do Partido dos Trabalhadores
no Nordeste do Brasil, constatamos a
14. Sobre esse aspecto das transições frequência da socialização política no interior
democráticas, ver, por exemplo, Juan Rial das organizações católicas, como a Pastoral
(1991: 303-319) e Guillermo O’Donnell, das Favelas e a Pastoral Rural, na década de
Philip Schmitter e Laurence Whitehead 1970. Para uma comparação do papel de
(1986). sempenhado pela Igreja católica nos dife
rentes países, ver Daniel Levine e Scott
15. A este respeito, ver a tese de Julie De Mainwaring (2001: 203-239).
vineau (2008).
16. Ver Salvador Martí y Puig (2004). O 23. “O processo de ressocialização empre
conceito de “transição insurgente” foi endido pelas CEB serviu de base a moti
trabalhado por Elizabeth Wood (2000). vações que promoveram a ação e a cons
ciência democrática entre os dirigentes de
17. Anthony Oberschall (1973: 77). bairro” (Krischke, 1991: 193).
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24. Para uma aná li se com pa ra da da meiro fator de explicação. Por exemplo, no
passagem dos corporativismos de Estado a contexto dos feminismos, é evidente a
sistemas pluralistas, ver Philip Oxhorn oposição entre as posições defendidas
(1998: 195-217) e Steven Levitsky e Scott pelas mulheres de categorias médias e su
Mainwaring (2006: 21-42). Esses autores periores, efetivamente ligadas a esse “pós
consideram que entre 1985 e 1995 as prin materialismo”, e as demandas formuladas
cipais organizações sindicais do continen pelos grupos provenientes das classes po
te perderam entre 25 e 75% dos filiados. pulares, muito mais materiais e imediatas.
Distinguimos, por exemplo, a defesa da
25. Susan Eckstein (2001: cap. 1). paridade em política e a luta contra as
26. David Slater (1994: 11-37). discriminações de gênero, por um lado, e,
por outro, as demandas de melhora dos
27. Para um apanhado geral sobre as cuidados maternos e infantis ou dos
mobilizações na década de 2000, ver Susan sistemas de guarda de filhos. Ver
Eckstein (2001: 351-406). Ver também o Bérengère Marques-Pereira e Florence
dossiê The New Politics of Social Move Raes (2002).
ments in Latin America (2007).
37. Claus Offe (1985: 817-868).
28. Denis Merklen (2002: 143-164).
38. Segundo ele, “o fato de esses movi
29. Acordo de Livre Comércio das Amé mentos terem ocupado o centro da cena na
ricas. po lí ti ca con tem po râ nea re fle te uma
30. Denis Merklen (2006: 173-197). evolução de longo prazo nas prioridades
das populações ocidentais em termos de
31. A este respeito, ver Sophie Daviaud valores” (Inglehart, 1984: 26).
(2006).
39. Ronald Inglehart (1984: 68).
32. Ver Christian Gros (2001: 147-159).
40. Sobre a influência predominante dos
33. Para uma análise comparada desse modelos de análise construídos na Europa,
processo de institucionalização e suas ver Maria da Glória Gohn (1997: 214-218).
con se quên ci as nas mo bi li za ções, ver
Donna Lee Van Cott (2005). 41. Esta expressão é tomada de emprés
timo a Alberto Melucci (1983). O conceito
34. É o caso, por exemplo, de Luis D’Elia, de espaço de movimento foi retomado e
dirigente da FTV, uma das principais aprofundado por Lilian Mathieu (2002:
organizações piqueteras argentinas, que 75-100).
aceitou o cargo de subsecretário de Estado
para a Terra e a Habitação Social no 42. Alberto Melucci (1983).
primeiro governo Kirchner.
43. Segundo essa perspectiva, o espaço de
35. Ronald Inglehart (1984: 25-69). movimento “engloba não só as orga
nizações ‘formais’ mas também a rede de
36. As pesquisas efetuadas por Ronald relações ‘informais’ que interliga os in
Inglehart indicam claramente que os divíduos do centro e os grupos ao espaço
grupos que defendem os valores pós- mais amplo dos participantes e ‘usuários’
materialistas são majoritariamente for de serviços e bens culturais produzidos pe-
mados por indivíduos que sempre des lo movimento” (Melucci, 1983).
frutaram de segurança física e econômica.
À luz dessa constatação, as clivagens 44. Para Alberto Melucci, ainda, “o que se
verificadas em certos movimentos sociais costuma chamar empiricamente de ‘movi
latino-americanos encontram um pri mento social’ é um sistema de ação, que
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45. É o que pudemos constatar nos su 60. Leonardo Avritzer (2002: 5-8).
búrbios do Rio de Janeiro, na década de 61. Jean Leca (1996: 223).
1990 (Goirand, 2000: caps. 9 e 10).
62. “Os movimentos de base podem desapa
46. A propósito desse movimento, ver recer de cena – e é muitas vezes o caso – en
Maristella Svampa e Sebastián Pereyra quanto atores autônomos uma vez que deem
(2003). seu apoio, se aliem formalmente ou, de uma
forma ou de outra, entreguem seu destino nas
47. Denis Merklen (2006). Por “politi mãos dos partidos políticos”, estimava
cidade”, o autor designa formas de ação co- também Judith Hellman (1992: 59).
letiva estabelecidas pelas classes popu
lares, representando ao mesmo tempo es 63. Ver Doug MacAdam, Sidney Tarrow e
tratégias de sobrevivência, contestação das Charles Tilly (2001).
instituições e da classe política e partici
pação política democrática. 64. Para uma perspectiva comparada, ver
os trabalhos reunidos por Olivier Fillieule
48. Camille Goirand (2000). (2005).
49. É o que ressalta de várias publicações 65. Sem chegar a falar de um recurso, ela
recentes sobre as esquerdas na América considera que “a referência à cidadania
Latina: dossiê Gauches de gouvernement, proporcionou um fundamento comum e
gauches de rejet, Problèmes d’Amérique um princípio de articulação a uma imensa
Latine, n. 55, inverno de 2004-2005, e diversidade de movimentos sociais”, para
dossiê Etat des lieux des gauches en os quais ela constituiu “um instrumento
Amérique Latine, Revue internationale de útil” e “um poderoso vínculo” (Dagnino,
politique comparée, 12(3), 2005. 2003: 3-4).
50. Ruth Cardoso (1983: 219). 66. Jean-François Véran (2003) e Jean-
Pierre Lavaud (2005: 105-128).
51. Alain Touraine (1985: 769-787).
67. Doug MacAdam, Sidney Tarrow e
52. A exemplo de Judith Hellman (1992: Charles Tilly (2001) e Charles Tilly e Sid
52-61) e também de Eder Sader (1991). ney Tarrow (2008).
53. Ruth Cardoso (1983: 238). 68. Hélène Combes (2006 : 151).
54. Tillman Evers (1985: 67). 69. Hélène Combes (2004: 237-240 e 340).
55. Evelina Dagnino (1994: 103-115; 70. Sobre a criação desse partido, ver Mar
2003: 3-17). gareth E. Keck (1986-87: 67-95); sobre a
trajetória percorrida por certos dirigentes
56. Eder Sader (1991). Até hoje, as análises da oposição legal ao regime militar, ver as
em termos de sujeito, identidade e cultura entrevistas publicadas por Marieta de
mantêm-se muito presentes, como na aná Moraes Ferreira et al. (2001).
lise proposta por Alicia C. S. Swords (2007:
78-93), ou ainda em Manuel Antonio 71. Para esta pesquisa no Nordeste bra
Garretón (2002: 7-24). sileiro, foram associadas entrevistas semi
diretivas, consulta de arquivos e obser
57. Jürgen Habermas (1993: XXXI). vação.
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72. Companhia Hidroelétrica do São Fran- 80. Sidney Tarrow (1994, cap. 1).
cisco.
73. É o que mostram os trabalhos publi 81. Jack A.Goldstone (2003: 12).
cados em Juan E. Mendel, Guillermo
O’Donnell e Paulo Sérgio Pinheiro (2000). 82. Olivier Dabène (2007); Revue Inter
nationale de Politique Comparée, dossiê Etat
74. É o que mostramos em La politique des des lieux des gauches en Amérique Latine,
favelas (Goirand, 2000: cap. 6). 2005.
75. Ana Maria Doimo (1995: cap. 4).
83. Christian Gros (2003: 11-29).
76. Pedro Jacobi (1990: 34-44).
77. Eles indicam que os indivíduos enga 84. No que diz respeito ao PT na região
jados também são os que apresentam Nordeste, são questões de que tratamos em
maior propensão a participar da política “Pratiques partisanes et loi électorale au
convencional. Eles indicam que os indiví Brésil” (Goirand, 2007: 41-77).
duos engajados também são os que apre
sentam maior propensão a participar da 85. Kathryn Sikkink (2005: 151-173)
política convencional. propõe a respeito um modelo de análise a
78. Jack A. Goldstone (2003: 7). partir da observação das mobilizações em
torno da justiça transicional na Argentina
79. Problèmes d’Amérique Latine publicou e na Espanha. Sua perspetiva é enrique
um dossiê sobre o tema: Le renouvelle cida de maneira interessante, a partir de
ment du personnel politique, n. 59, in um estudo de caso por Julie Stewart (2004:
verno de 2005-2006. 259-278).
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Movimentos sociais na América Latina
Resumo
A análise das mobilizações a partir da categoria “novos movimentos sociais”,
construída na Europa, continua sendo dominante na abordagem dos
movimentos latino-americanos. Este artigo lembra, na sua primeira parte, as
especificidades dos movimentos “de base” nascidos durante os anos 1970 na
América Latina. Em seguida, mostra as diferenças entre os debates e as
abordagens das mobilizações, de um continente para o outro. Quando, sobre a
América Latina, se insistiu muito sobre os valores, as mudanças culturais e as
identidades, nos Estados Unidos o enfoque foi para a análise das organizações,
das estratégias e das práticas. A terceira parte do artigo mostra as
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Camille Goirand
Abstract
The analysis of social mobilizations as “new social movements”, a category
built in Europe, has been dominant in the approach of Latin-American
movements. This article recalls in its first part the specificities of “base
movements” born in Latin America during the 1970’s. Then it shows the
debates and the different approaches of social mobilizations. While, in Latin
America, the emphasis was put on values, cultural changes and identities, in
the United States it was put on the analysis of organizations, strategies and
practices. Finally the third part shows the consequences of this scientific
divergence on the observation of the institutionalization processes of social
movements, as well as on the analysis of opposition in Latin America in the
years 2000.
Key words: social movements, theories of collective action, Latin America
Résumé
L’analyse des mobilisations à partir de la catégorie “nouveaux mouvements
sociaux”, d’abord construite en Europe, continue à être dominante pour
l’approche des mouvements latino-américains. Cet article rappelle, dans sa
première partie, les spécificités des mouvements “de base” nés durant les
années 1970 en Amérique latine. Ensuite, il montre les différences qui
existent dans les débats ainsi que dans les approches des mobilisations, d’un
continent à l’autre. A propos de l’Amérique latine, on a beaucoup insisté sur
la question des valeurs, des changements culturels et des identités, alors
qu’aux Etats-Unis l’accent était mis sur l’analyse des organisations, des
stratégies et des pratiques. La troisième partie de l’article montre les
conséquences de cette divergence scientifique pour l’observation des
processus d’institutionnalisation des mouvements sociaux, ainsi que pour
l’analyse de la contestation en Amérique latine dans les années 2000.
Mots-clés: mouvements sociaux, théories de l’action collective, Amérique
latine
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