Imediatamente a seguir à época de Péricles, Atenas viu- se envolvida em várias guerras e viu a sua sociedade desintegrar-se em grupos rivais. É nesse período que surge um grupo de pensadores – os sofistas – que se preocupava em preparar os jovens para a liderança política, através de disciplinas como a retórica, a arte da persuasão. Assim, a aquisição de habilidades linguísticas vai suplantar o estudo dos poetas antigos. Também o objectivo da “vida boa”, baseado na pólis e no ethos vai começar a perder força, sendo suplantado por princípios de êxito material. Tanto Sócrates como Platão vão preocupar-se com o abandono de uma formação para a cidadania. Platão, nascido em Atenas, numa família aristocrática, no ano de 428 a. C., começou aos vinte anos a frequentar a “escola” de Sócrates e a morte do mestre alterou para sempre a sua vida. Nas suas primeiras obras faz desde logo, a defesa das teses socráticas contra os sofistas. Destacaremos aqui A República, que era uma proposta para reformar a sociedade através da educação dos guardiães da República. Platão desejava um Estado governado apenas pelos mais aptos que, não teriam de ser forçosamente nem aristocratas, nem ricos mas sim, uma elite instruída que demonstrasse a sua capacidade para governar através de uma total integridade, que tomasse o Bem como modelo para o ordenamento correcto do Estado e do indivíduo. (A República, VII:540). Em termos de educação começa por propor a existência de uma espécie de jardim de infância (coisa que nunca existiu na Antiguidade, nem antes, nem depois de Platão), com jogos, cantos e fábulas devidamente escolhidas. Seguir-se-ia progressivamente uma introdução à música com declamação de poetas de cujas obras seriam censuradas as passagens consideradas como não adequadas e, ginástica. Entre os 16 e os 20 anos haveria uma iniciação à vida militar. Dos 20 aos 30, os mais idóneos estudariam certas matérias como a matemática. Só aqueles que confirmassem plenamente as suas capacidades para o estudo podiam continuá-lo depois dos 30 anos e até aos 35, exercitando-se em dialéctica, enquanto os menos idóneos se destinariam à função de guerreiros. Os aspirantes a filósofos, cumpridos os 35 anos deviam passar por uma grande fase de aprendizagem prática, como funcionários de segunda ordem ao serviço do Estado. Só a partir dos 50 seriam livres por algum tempo para se dedicarem à meditação; por fim desempenhariam as funções de “filósofos - regentes”. As mulheres receberiam pouco mais ou menos a mesma educação mas não parece que estivesse prevista a possibilidade de se converterem em filósofas. Platão insiste várias vezes na questão de que é desnecessário dedicar-se ao estudo se, para isso não se tiver dedicação e vivo interesse pois, fazê-lo à força e sob coação é indigno do homem livre, e evidentemente do jovem que se destina a tornar-se num homem livre. Para Platão a arte suprema é a arte de governar, e concebe o estadista simultaneamente como educador e legislador. Assim, o seu interesse pelas artes resulta do facto de considerar que fazem parte da educação adequada dos guardiães da República. Para Platão, a realidade última devia procurar- se nas “formas ideais”, que são eternas e que só podem ser apreendidas da educação do poder da razão. No Livro 10º da República Platão dá o exemplo das 3 camas: - a ideia de cama que é eterna e obra de Deus e, por isso constitui a suprema verdade ; - a do carpinteiro que é algo que vemos no mundo das aparências; - e, por fim, a cama, tal como aparece numa pintura. A cama do carpinteiro é uma imitação do ideal que não podemos ver; as imagens de camas na pintura são “imitações de imitações”, e pelo facto de estarem longe do ideal proporcionam um conhecimento menos fiável. A pintura apresenta a cama tal como parece, não tal como é, e tais aparências são enganosas, já que à imagem faltam muitos dos atributos do arquétipo que imita. Assim, as pinturas, como fonte de conhecimento, são enganadoras pois não dizem toda a verdade, e assim toda a arte está sujeita a erro, inclusive a dos grandes poetas como Homero. Porque parecia importante a Platão a questão de demonstrar se a arte dizia a verdade? A resposta temo-la nas muitas mudanças que, ao longo da sua vida se produziram na cultura grega. Antes do nascimento de Platão, e durante centenas de anos, os grandes poetas como Homero eram considerados as principais fontes de sabedoria e verdade. Através de Homero aprendia-se a viver a “vida boa” e a governar com justiça. O homem instruído era aquele que podia recitar grandes passagens da Ilíada e da Odisseia, habilidades que os sofistas aperfeiçoavam nos seus alunos em troca de algum dinheiro. Sócrates e Platão deram-se conta que um político ambicioso podia usar tais habilidades para simular uma falsa virtude. Platão pretendia reformular o Estado sobre novas bases, garças à arte da investigação racional, e converter os guardiães educados ao uso da razão como fundamento da justiça do seu Governo. Apesar do perigo potencial que representavam, Platão não defendia a eliminação das artes da educação, pois não sendo espartano, considerava que artes de tipo adequado podiam ter um papel importante no desenvolvimento da criança. Aristóteles nasceu em Estagira, em 384 ou 383 a. C. e entrou para a Academia de Platão, na qual permaneceu até à morte do mestre em 348 ou 347 a.C. Contrariamente a Platão, Aristóteles não delineou um modelo de Estado ideal, sem fundamento na realidade histórica. Para Aristóteles a função essencial do Estado era a educação dos cidadãos, igual para todos e tendo em vista a preparação para a guerra mas também para a vida pacífica e, sobre tudo para a virtude. No entanto, os escravos seriam excluídos da educação e da vida política. A sua forma de ver a arte baseava-se numa concepção da realidade diferente da de Platão, e chegou assim a conclusões diferentes acerca da arte e da educação. Considera que a educação dos cidadãos é uma função essencial do Estado, que deverá ser uniforme e preparar, quer para a guerra, quer para a vida pacífica, e acima de tudo para a virtude. Da educação e da vida política serão excluídos os escravos. Para Aristóteles não existia nenhum mundo separado das formas e recusava a ideia de Platão de que a poesia e as outras artes eram inferiores como fontes de conhecimento. Para Platão, o processo artístico implicava copiar algo que tinha tido uma existência prévia e que nunca poderia ser plenamente reproduzido através da cópia. Aristóteles via o artista como uma pessoa hábil na realização de imitações. Por ex., um drama apresentava imitações de pessoas que não existiam na realidade, mas que podiam ter existido ou até vir a existir. Apesar de imitar a natureza, a obra é única. Para ele, a arte não é a imitação da imitação como para Platão. Criar arte, significava conhecer a dinâmica da natureza e a psicologia das acções humanas. Considerava que a música e a poesia eram essencialmente educativas em sentido moral e entendia que deviam ser ensinadas tanto aos jovens como aos cidadãos mais velhos. Na sua Política distinguiu quatro ramos no ensino, ou seja, a leitura e a escrita, a ginástica, a música e o desenho. A leitura, a escrita e o desenho justificam-se pela sua utilidade na vida, a ginástica pela sua capacidade de incutir coragem. A música era uma actividade intelectual com valor próprio, qualquer coisa que se fazia com satisfação intrínseca e na qual se pode encontrar uma enorme felicidade. No entanto, a enorme influência de Aristóteles na educação posterior, deve-se, não tanto aos seus conselhos enquanto tais como ao conjunto da sua doutrina e mais particularmente à sua psicologia e à sua ética.