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16−2009
Margarida Pereira2
e-Geo – Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional,
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
1. ENQUADRAMENTO DA PROBLEMÁTICA
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No âmbito do Projecto Territorial Cohesion in Portugal: new insights for spatial planning.
Financiamento Plurianual FCT.
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ma.pereira@fcsh.unl.pt
entre as performances de empresas, regiões ou nações que disputam (de modo cada vez
mais concorrencial) recursos e fluxos com valor económico (Mateus, coord., 2005:23). A
definição original de sustentabilidade (Relatório Brundtland, 1987) defende que o
desenvolvimento da sociedade actual não pode comprometer o das gerações futuras, por
força do uso descontrolado dos recursos. Neste entendimento há um pressuposto
organizacional que importa relevar. Assim, a sustentabilidade deve ser entendida como
um processo inteligente, auto-organizativo e de aprendizagem permanente. Numa
primeira fase, visa criar uma sensibilidade colectiva para os problemas induzidos pelas
formas de crescimento e de consumo do mundo ocidental; num segundo tempo, visa
contrariar tendências instaladas e encontrar novos caminhos. Ao conceito está, pois,
associada uma auréola transformadora dos modelos territoriais existentes, das práticas
instaladas e dos comportamentos dominantes (Emalianoff, 2002:39).
◆ Quais os contributos que pode assegurar para ser bem acolhida como guião das
transformações territoriais por parte de quem tem responsabilidades decisivas na
sua permanente (re)configuração?
O reconhecimento das alterações climáticas globais tem hoje base científica sólida
(Santos e Miranda, 2006; IPCC, 2007a). Indissociáveis da concentração dos gases com
efeito estufa (GEE) na atmosfera, traduzem-se num aumento da temperatura média
global, da frequência de fenómenos climáticos extremos (ondas de calor e precipitação
intensa) e do nível médio global do mar; em mudanças na distribuição espacial da
precipitação; e na maior frequência das secas em várias regiões das latitudes
subtropicais. Estas alterações têm implicações territoriais óbvias, nomeadamente pelo
acréscimo dos riscos naturais (cheias, inundações, movimentos de vertentes, subida do
nível do mar, incêndios, secas, …), e pela degradação dos recursos hídricos (escassez e
perda de qualidade) e dos solos (salinização, erosão).
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Probabilidade de ocorrência de um fenómeno perigoso – sismos, maremotos, vulcões, movimento
de vertentes, cheias, inundações, etc. – num determinado período de tempo e numa dada área.
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Grau de perda de elemento(s) vulnerável(is) resultante da ocorrência de um fenómeno – natural ou
induzido pelo homem, com determinada magnitude ou intensidade.
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Possibilidade de ocorrência e quantificação das suas consequências em resultado de um fenómeno
natural ou induzido pelas actividades antrópicas.
Esta evolução foi acompanhada por alterações estruturais na forma urbana. A cidade
industrial fordista era marcada pela sua estrutura compacta e contínua, dependente da
matriz das redes de transportes colectivos urbanos (eléctrico, comboio suburbano,
metropolitano), que influenciaram o desenho dos aglomerados emergentes. Este modelo
reconfigurou-se com a terciarização da economia, a banalização da infra-estrutura
rodoviária e o incremento da taxa de motorização, passando a coexistir dois tipos de
ocupação: um apoiado no transporte colectivo, favorecendo uma concentração junto das
paragens e numa envolvente próxima, fomentando densidades elevadas e dominância de
tipologias plurifamiliares; outro apoiado no automóvel, distendido e fragmentado, onde
predomina a habitação unifamiliar. O limite à extensão urbana, de contornos cada vez
mais imprecisos, é apenas condicionado pelo tempo máximo aceitável para as
deslocações pendulares diárias. Embora com dimensões e intensidades diferenciadas, a
dispersão é um problema transversal na Europa (Reckien and Karecha, 2007). Esta
dinâmica na coroa exterior afectou a cidade consolidada, que perdeu população,
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Nações Unidas, Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais/Divisão de População (2008),
World Urbanization Prospects: the 2007 Revision.
Em Portugal, os modelos urbanos extensivos generalizaram-se nos anos 90, das áreas
metropolitanas às cidades médias e até às de pequena dimensão (Portas e all., 2003;
Domingues, 2006), sendo um dos (24) problemas de ordenamento do território listados
pelo PNPOT (MAOTDR, 2007:107). Os factores que induziram estas formas de
crescimento permanecem activos, não se vislumbrando tendências consistentes de
Assim, as orientações para as políticas urbanas devem dar mais atenção aos modelos
urbanos a adoptar, bem como procurar soluções de ocupação do território que garantam
maior eficiência energética. Atendendo à situação existente, as intervenções devem ser
orientadas em três sentidos: a reestruturação e qualificação da cidade fragmentada, a
regeneração/revitalização da cidade consolidada e a contenção da cidade emergente,
perseguindo a sustentabilidade do conjunto urbano.
Uma percentagem mais elevada de idosos forçará o Estado a afectar mais recursos
públicos ao pagamento de pensões e aos cuidados de saúde. E este maior encargo das
finanças públicas provocado pelo envelhecimento traduzir-se-á, inevitavelmente, na
redução do investimento em outros domínios. Por outro lado, a escassez de activos (e de
competências) poderá afectar a economia e, por arrastamento, o modelo europeu de
Estado-providência. A população activa é também confrontada com a crescente
volatilidade das actividades económicas e do emprego. As mudanças tecnológicas, a
intensificação da concorrência e a deslocalização das empresas ocorrem a ritmos cada
vez mais rápidos e sob formas cada vez mais diversas. A prosperidade de um território e
o bem-estar da sua população podem evoluir inesperadamente em sentido inverso e a
capacidade de reacção (ou a falta dela) pode revelar-se determinante para a recuperação
e readaptação a um novo enquadramento económico e social. Daí que a diversificação da
base económica e a flexibilidade dos recursos humanos sejam atributos básicos a
promover pelas políticas de ordenamento do território, tornando os territórios menos
dependentes e conferindo-lhe maior capacidade de adaptação a mudanças inesperadas.
3.1. Instrumentais
O projecto de território é mais definido pela sua utilidade (para que serve) do que pelo
seu conteúdo. De facto, muitas vezes o conteúdo dos projectos é semelhante, ganhando
então relevância o “percurso do projecto” (Wachter, S. e all., 2000:63). Aliás, sendo o
fim do projecto a sua elegibilidade a um financiamento (nacional ou europeu), aqueles
autores consideram-no mais gestionário do que visionário. Por isso Chappoz (1999)
atribui-lhe três funções na perspectiva da utilidade:
Assim, neste contexto colocam-se agora outros desafios, para conferir solidez aos
processos intrínsecos às respectivas operacionalizações: dar seguimento ao(s) diálogo(s)
inter-sectorial(ais) encetados às escalas nacional e regionais, mantendo-os actuais;
garantir o diálogo dos principais actores (públicos e privados) responsáveis pelas
dinâmicas territoriais, assegurando plataformas activas de concertação.
difícil controlo), que pode tornar precocemente obsoletas soluções até há pouco
apontadas como adequadas. A monitorização, efectuada de forma regular e sistemática,
procura perceber a capacidade de resposta do plano às dinâmicas instaladas e
emergentes e detectar eventuais sinais de alerta para agir em tempo útil, corrigindo
trajectórias e evitar/atenuar os efeitos perversos por desajustamento das acções (ou da
inacção).
Assim, a mudança a este nível tem de ocorrer não só na prática regular da avaliação
como na divulgação dos resultados.
3.2. Processuais
Os desafios colocados hoje aos territórios são cada vez mais complexos. As mudanças
têm uma dimensão, um tempo e um ritmo que incutem instabilidade e incerteza
constantes, tornando precocemente obsoletas as políticas públicas com incidência
territorial, o que fragiliza (e até põe em causa) as tomadas de decisão que lhes estão
associadas. O ordenamento do território precisa, então, de rever a sua forma de
actuação para enfrentar com maior sucesso este contexto e evitar ser em permanência
ultrapassado pelos acontecimentos, situação de que só muito poucos (territórios e
comunidades) beneficiam.
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Lei nº 45/2008, de 27 de Agosto.
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