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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


CAMPUS UFC-CARIRI
CURSO DE FILOSOFIA

MARCEL ROOSEVELT GONÇALVES MARINHO DA SILVA

A RELAÇÃO ENTRE ESPÍRITO E NATUREZA NA ENCICLOPÉDIA DAS


CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE G. W. F. HEGEL

JUAZEIRO DO NORTE
2010
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MARCEL ROOSEVELT GONÇALVES MARINHO DA SILVA

A RELAÇÃO ENTRE ESPÍRITO E NATUREZA NA ENCICLOPÉDIA DAS


CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE G. W. F. HEGEL

Monografia apresentada ao Curso de


Filosofia da Universidade Federal do Ceará,
Campus Cariri, como requisito para
obtenção do título de bacharel em Filosofia.

Orientador: Prof. Patrick de Oliveira Almeida

Juazeiro do Norte
2010
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MARCEL ROOSEVELT GONÇALVES MARINHO DA SILVA

A RELAÇÃO ENTRE ESPÍRITO E NATUREZA NA ENCICLOPÉDIA DAS


CIÊNCIAS FILOSÓFICAS DE G. W. F. HEGEL

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do título de
graduado em Filosofia, pela Universidade Federal
do Ceará do Campus do Cariri.

Aprovado pela Banca Examinadora em 23 de Junho de 2010

________________________________________________________
Prof. Patrick de Oliveira Almeida
Universidade Federal do Ceará
Orientador

_______________________________________________________
Prof. Alexandre de Moura Barbosa
Universidade Federal do Ceará

1° Examinador

_____________________________________________________
Prof. Francisco José da Silva
Universidade Federal do Ceará

2° Examinador
4

Dedico este trabalho especialmente à minha


mãe, Maria de Lourdes Gonçalves, e à
minha avó materna Tereza Nicolau
Gonçalves.
5

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer inicialmente pela realização deste trabalho a orientação e a


dedicação do Prof. Patrick de Oliveira Almeida. Por intermédio dele pude iniciar nos
estudos hegelianos e que despertou em mim vasto interesse.
Venho nesta lauda agradecer a importância e influência de todos os professores do
curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri, especialmente aos
que fizeram parte junto conosco, alunos da primeira turma, desde 18 de setembro de 2006,
data histórica de início das aulas do Campus Cariri, agradeço pela dedicação e
companheirismo dos primeiros professores: Ericsson Venâncio Coriolano, Luiz Manoel
Lopes, Regiane Lorenzetti Colares, Joselina da Silva, Ricardo Sousa Silvestre e Régio
Quirino. Dentre estes, quero ressaltar o incentivo do Prof. Ericsson, que foi meu orientador
na monitoria da cadeira de introdução à filosofia e que teve uma árdua dedicação comigo
no início da graduação, também ao Prof. Ricardo Silvestre, sendo meu orientador durante
um ano na iniciação científica financiada pela FUNCAP.
Ao longo de nossa formação tivemos a sorte de agregar em nosso quadro de
professores outros que contribuíram significativamente, dentre os quais: Cícero Barroso,
Marcius Aristóteles, Roberto Cunha, Maria Célia, Francisco José, Ivânio Júnior e
Alexandre de Moura.
Quero fazer um agradecimento mais que especial em referência ao amigo e
professor Christian Westerkamp, mesmo não sendo professor do curso de filosofia, por ser
biólogo e professor do curso de Agronomia, foi uma grande influência em minha
formação. A dedicação e o carinho com que o Prof. Christian abraçou os alunos de
filosofia foi sem comparação, aos nos oferecer a oportunidade de aprender sua língua
nativa, o alemã, em excelentes e divertidas aulas e na consumação de um projeto de
extensão para o ensino da língua alemã no Cariri. Além disso, agradecer o incentivo a
leitura promovido pelo Prof. Christian ao deixar sempre a disposição sua vasta coleção de
livros.
Em meus agradecimentos não poderia deixar passar meus colegas de graduação que
iniciaram comigo nesta jornada e que fazem parte da histórica primeira turma do curso de
Filosofia da UFC-Cariri, dentre eles: o Veve (Cícero Everardo), Thiago Mayumi, Thomas,
Ângela, Elizangela, Samuel, Eugênia, Ivânia, Leda, Leomir, Marcos Damásio, Jotinha
(João Paulo), Elânia, Antelmo, Juciê e Ana Paula.
Não poderia esquecer de fazer um agradecimento pela luta dos companheiros que
militaram comigo dentro do Movimento Estudantil do Campus Cariri, seja durante a gestão
do Centro Acadêmico de Filosofia ou pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes): a
Mikaelly, Laianny, Matheus, Sarah, Emilly, Dudu (Luiz Eduardo), Luiz, Ítalo, Humberto,
Danilo, Naianny, Thiago, Cristiano, Sanne, Rosana, Júnior e Thiago Mayumi.
Quero fazer um agradecimento aos amigos mais próximos que sempre presentes me
incentivaram e contribuíram para a realização deste trabalho: Ednaldo Júnior, Dara,
Wellington, Bruno, Marco Antônio, Linard, Jadon, Pedro Anderson, Antonio Júlio,
Grasiela, Carol, Karlinha, David Barbosa, Erikson e Janin.
Quero agradecer ainda de forma muito especial ao carinho, a preocupação e todo
apoio dado por Danielle Sampaio e pela maneira como ela me ajudou a concluir este
trabalho ao dividir comigo o sucesso da realização deste feito.
6

“Cada objeto novo, bem contemplado,


inaugura em nós um novo órgão”

Goethe
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RESUMO

O objetivo do presente trabalho concentra-se na Enciclopédia das Ciências Filosóficas de


Hegel e visa abordar a relação entre os dois momentos de exposição efetiva do conceito,
primeiramente em sua apresentação como efetivação consumada da Idéia, a Natureza, e
depois como sua manifestação mais sublime, o Espírito. A problemática lançada neste
trabalho mostra como o espírito, que é em essência a própria liberdade, procura romper em
seu processo de efetivação racional a configuração necessária da Idéia na exterioridade.
Esta superação da necessidade que impera na natureza é o objetivo do movimento
espiritual realizado processo gradativo e mediatizado, por isso, viso expor os momentos da
vitória gradual do espírito sobre a exterioridade e como ele age na natureza, desde o
primeiro impulso de superação deste exterior até a forma mais concreta de elevação que ele
assume como consciência-de-si. Esta discussão é mediada pela questão central de
compreender como a liberdade (atributo substancial do espírito) supera a necessidade
imanente à natureza.

Palavras-chaves: Espírito. Natureza. Liberdade. Necessidade.


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ABSTRACT

The purpose this present work centralize in the Hegel’s Encyclopedia of Philosophical
Science and to aim approach the relation between the two effective concept exposition
moments, at first in your presentation like consummated Idea effectuation, the Nature, and
after like your most sublime manifestation, the Spirit. The problematic spears in this work
intend to show how the spirit in essential the freedom is, in they rational effective process
search to break the necessary configuration of Idea in exteriority. This necessity surmount
which reign in the nature is the claim of spiritual movement in a gradate process and
meditated, therefore, I intend to expose the gradual victory spirit moments under the
exteriority and how his operates in the nature, since the first surpass impulse of this
exterior till the most elevation concretely form which him assume like self-consciousness.
This discussion is mediated for the aim question to understand how the freedom
(substantial spirit attribute) surmount the necessity immanent to nature.

Keywords: Spirit. Nature. Freedom. Necessity.


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LISTA DE ABREVIATURAS

Enciclopédia das Ciências Filosófica – ECF

Ciência da Lógica – CL

Filosofia da Natureza – FN

Filosofia do Espírito – FEs

Fenomenologia do Espírito – FE

Filosofia do Direito – FD
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 11

1 A IDÉIA: O PRESSUPOSTO DA LIBERDADE DO ESPÍRITO..................... 16


1.1 O AUTOCONHECIMENTO DO ESPÍRITO....................................................... 16
1.2 A IDÉIA COMO PRIMEIRO MOMENTO DE EXPOSIÇÃO DO ESPÍRITO.. 17
1.2.1 A idéia: o fundamento do real............................................................................. 19
1.3 O ESPÍRITO ENQUANTO O MOMENTO DE LIBERDADE DA IDÉIA......... 21

2 NATUREZA ENQUANTO PROCESSO DE SUPERAÇÃO DA


25
EXTERIORIDADE....................................................................................................
2.1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS A RESPEITO DA NATUREZA.. 25
2.2 A NATUREZA ORGÂNICA................................................................................ 26
2.2.1 A vida.................................................................................................................. 27
2.2.2 A teleologia......................................................................................................... 29
2.3 O ORGANISMO VEGETAL................................................................................ 31
2.4 O ORGANISMO ANIMAL................................................................................... 33
2.4.1 A sensação........................................................................................................... 34
2.4.2 A relação dos sexos............................................................................................. 36
2.5 A CIRCULARIDADE DO MOVIMENTO NATURAL...................................... 37

3 A VITÓRIA DO ESPÍRITO SOBRE A EXTERIORIDADE............................ 39


3.1 O ADVENTO DO EU........................................................................................... 39
3.2 A RECONDUÇÃO PROCESSUAL PARA A INTERIORIDADE DO
ESPÍRITO.................................................................................................................... 42
3.3 O MOVIMENTO DE DISTINÇÃO INTERNA DO ESPÍRITO.......................... 45
3.4 A PASSAGEM DA NATUREZA PARA O ESPÍRITO....................................... 47

CONCLUSÃO............................................................................................................ 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 55
11

INTRODUÇÃO

“As partes da Enciclopédia são pontos de passagem da infinita


transição, da infinita mediação, que é o pensamento em sua
vitalidade criadora.”

Bernard Bourgeois

O sistema de Hegel é considerado um dos grandes pilares do saber especulativo

ocidental, constituindo-se uma das análises filosóficas mais complexas e profundas acerca

da natureza íntima da realidade. No percurso dialético-sistemático de sua obra ele procurou

por meio da linguagem filosófica, expressar a unidade entre a estrutura lógica do

pensamento e a estrutura ontológica do real. Em verdade, Hegel é mais um discípulo do

Pai Parmênides1, ao postular a mesma unidade ideal entre “Ser, Pensar e Dizer”.

Na Enciclopédia das Ciências Filosóficas (na edição de 1830), Hegel atinge o

ápice da sua maturidade intelectual, ao elaborar a exposição mais detalhada do seu

pensamento filosófico. A Enciclopédia consiste no esforço teórico de abarcar em uma

totalidade argumentativa coerente os momentos fundamentais dos objetos que concernem a

filosofia. Começando pela Ciência da Lógica, que trata da Idéia, do momento em que o

espírito assume uma forma ideal, abstrata e de identidade simples, mas que contém cada

diferenciação própria da realidade. Enquanto Idéia abstrata, a sua realidade é uma pura

identidade consigo mesmo, sua concretude é somente em-si, não posta, ela ainda não veio

a ser movimento mediatizado, pois, não pôs o oposto a si como sua diferença que possa ser

negada. Mediação requer negação, e a negação determinada se dá pela oposição à

alteridade. A Idéia vista somente no seu aspecto em-si, encontra-se em repouso, mas ao se

colocar em uma relação para-fora-de-si, exterior a si mesma, ela assume a configuração do

1
Em referência ao Sofista de Platão.
12

ser-Outro oposto a sua identidade, ela produz, portanto, sua própria diferença, o que

possibilita o processo de movimento de mediação racional da alteridade. Este é o segundo

momento que a razão assume, a saber, o momento de alienação, de exteriorização e

finitização. A Filosofia da Natureza é a parte do sistema que trata deste momento em que a

razão veio a ser fora-de-si. A liberdade antes pressuposta na livre idealidade é apenas a

pura abstração que o espírito manifesta junto a Idéia, agora desvanece, pois, como negação

do primeiro momento de exposição da razão (da liberdade, da idealidade e da simples

identidade concreta), a natureza assumiu a exposição necessária que a forma da Idéia

configura. A natureza é produto da negação de si da Idéia, mas não consegue superar esta

negação, é uma essência que contrapõe a si mesma sem resultar daí uma verdadeira

unidade universal e, por isso, é uma essência que se perde na infinita particularização. A

contradição recai sobre a natureza, mas a razão, pois que neste momento abandona a

unidade ideal não suporta esta contradição. A natureza é, para Hegel, a “contradição não

resolvida [unaufgelöste Widerspruch]” (ECF, § 248). Logo, enquanto contradição o

diferente, a negação da Idéia, é em relação ao espírito (como Idéia), seu ser-Outro. Porém,

a ação do espírito que se faz para-si essente, abarca para o seu conteúdo, aquilo que se

manifesta enquanto alteridade ao produzir uma relação de autonegação, negação da própria

negação (negação absoluta), pois, ao suprassumir, ao elevar para sua idealidade este ser-

Outro, ele transfigura esta alteridade conforme sua própria determinidade ideal. Para o

espírito que enquanto Idéia possui a identidade pura consigo mesmo (pois nesta relação à

Idéia se faz como ser-junto-de-si no espírito), e sendo a Idéia a pressuposição primeira do

natural – sua possibilidade – o espírito só faz o processo de mediação racional por

reconhecer que na natureza já se encontra pressuposta nela a Idéia como fundamento

primeiro. A Idéia é imanente à natureza, porém, nesta imediatez ela particularizou-se em

elementos numa relação “fora-um-do-outro” de uma diversidade infinita de pontos.


13

Contudo, no espírito toda esta diversidade de elementos é suprassumida em uma

universalidade concreta, no espírito há efetivamente a superação do particular. Este é o

momento mais sublime do processo racional de efetivação, a Filosofia do Espírito, que

constitui o terceiro e último momento de exposição do conceito. Neste momento, a

compreensão se faz na medida em que o espírito compreende-se a si mesmo como

consciência-de-si, compreende que é dele o fundamento universal que perpassa a todos os

demais momentos de exposição conceitual. A Filosofia do Espírito mostra o estágio em

que o ser torna-se para-si, expõe a racionalidade presente em cada momento que partiu

desde a simples relação de identidade enquanto Idéia, passando por sua diferenciação e os

graus que ela assume na exterioridade, até a recondução dessa exterioridade para a

interioridade para-si essente da Idéia Eterna. Nesta interioridade que suporta já a

contradição, a natureza que foi suprassumida, foi então espiritualizada, aquilo que antes se

mostra como Outro, agora é uma diferença incorporada pela identidade, contaminada pela

idealidade. É por este conjunto de idéias que este trabalho irá se focar, partindo desde o

primeiro momento de exposição do conceito e mostrando que o processo de efetivação

racional é uma lenta vitória sobre a exterioridade, sobre a natureza.

No primeiro capítulo, obedecendo ao próprio processo de exposição dos

momentos do espírito no sistema, viso explorar a simples relação de identidade do espírito

em seu primeiro momento de exposição do ser-junto-de-si, enquanto Idéia. Pretendo, a

partir disto, mostra que o processo de efetivação racional é uma atividade que visa o

reconhecimento da própria essência no mundo. Em última análise, a efetivação racional é a

recondução para uma interioridade essente que compreende a si mesmo como fundamento

do real, em que consiste o autoconhecimento do espírito. Em seguida, pretendo explicar

que este processo é possibilitado pela livre atividade do espírito, quer dizer, a liberdade já é

algo pressuposto nesta efetivação, pois se encontra na própria Idéia. A liberdade é


14

condição ou determinação lógico-ontológica do espírito, em sua atividade racional ele

efetiva, torna real esta determinidade contida no interior da Idéia que se torna mediatizada

neste processo e, portanto, vencendo este imediato configurado no fora-de-si, liberta a

Idéia contida nele.

No segundo capítulo, prossegue com o mote lançado no primeiro capítulo

mostrando como se dá esta vitória sobre a exterioridade. A natureza, em seus próprios

momentos de diferenciação, encontra-se neles uns mais determinados em relação a outros,

pois o espírito não logra sua vitória contra a natureza de forma instantânea, antes é um

longo processo de trabalho na própria natureza ao transfigurá-la conforme sua

determinidade. Quero apontar os momentos que Hegel expõe o início dessa vitória sobre a

exterioridade. Para ele, isto se dá pelo surgimento do princípio de organização que a

individualidade subjetiva vai engendrando. Desde o simples sujeito vegetal que já possui o

impulso de expandir de um centro para as bordas, que em seu processo de autoprodução da

subjetividade já está no início deste processo é a mesma subjetividade ao diferenciar-se de

si, consegue manter esta mesma subjetividade ao replicar-se. Mas no sujeito animal há o

grande avanço sobre a exterioridade, nele o ser não tem somente o impulso de expandir-se

de um cento para as bordas, mas tem a condição de captar impressões e comunicá-las para

um centro sensorial, neste ser que constitui um começo de um ser para-si, há uma unidade

subjetiva mais completa e complexa. No animal além do impulso, tem também o instinto

para a autoconservação pela assimilação do outro posto pela exterioridade, a exemplo do

processo de alimentação. Porém, todos estes momentos de superação da exterioridade

caem na circularidade repetitiva do movimento natural que os impedem de suprassumirem

a contradição da natureza.

No terceiro e último capítulo desde trabalho, viso enquadrá-lo como síntese dos

anteriores expondo que pelo surgimento da verdadeira subjetividade, o Eu, houve a


15

primeira superação efetiva do julgo do natural. Nesta egoidade, há portanto, uma abstração

de toda condição singular imediata em uma unidade simples e concreta, atributo essencial

do espírito e a apropriação da consciência da idealidade própria do conceito. Ao se fazer

consciente-de-si o espírito procura reconduzir para sua interioridade o que antes era oposta

a sua unidade ideal. Porém, nesta unidade não é uma totalidade sem diferenciações, mas as

diferenciações são os próprios momentos assumidos anteriormente que são suprassumidos

em uma unidade universal e concreta, no interior do espírito absoluto. Ao final do capítulo,

pretendo expor como se dá a passagem do momento de natureza para o espírito,

procurando elencar os principais momentos em que a natureza já antecipa o momento do

espírito.
16

1 A IDÉIA: O PRESSUPOSTO DA LIBERDADE DO ESPÍRITO

1.1 O AUTOCONHECIMENTO DO ESPÍRITO

“Conhece-te a ti mesmo”2. É a partir deste mandamento do Apolo délfico que

Hegel nos aponta em que consiste o espírito e o fundamento de sua atividade racional. Este

é o desafio e a dificuldade encontrada pela verdadeira ciência, que tem por tarefa tratar da

mais concreta e desenvolvida forma que a idéia lógica atinge, a saber, o espírito e,

portanto, faz dele o mais alto e difícil grau de efetivação do conceito.

O espírito enquanto substância universal é uma inteligência que perpassa os

diferentes momentos de manifestação de sua racionalidade. Como universal, não é uma

totalidade simples, antes é composto de diferentes graus de determinação interna, porém há

uma unidade interna a esta composição de diferentes momentos que determina a

configuração assumida pelo espírito, desde a mais abstrata até a mais concreta.

Todo o processo do desenvolvimento espiritual tem como pressuposição

teleológica o autoconhecimento. Por este processo o espírito parte para a assimilação do

ser-Outro oposto a ele, mas para este assimilar da alteridade deve ser pressuposto que haja

algo em comum, uma identidade mediada pela diferença. A doutrina dialética hegeliana

admite a diferença na identidade, em uma contradição ainda não resolvida, pois, o que são

idênticos entre si são também opostos. O ser-em-si (Ansichsein) da objetividade e o ser-

para-si (Fürsichsein) da consciência devem pelo limiar processual dialético serem

superados (Aufheben), enquanto diferenças, na idealidade do conceito e ao final, pela

suprassunção na idealidade do espírito a contradictio in terminis é resolvida. O

autoconhecer da atividade espiritual é, na verdade, um assimilar para si a diferença em uma

2
Inscrição do oracular délfica, “gnwçq´/ i sauto,n“.””.
17

unidade ideal, na qual desaparece a oposição. Para Hegel, a determinidade objetiva em si

carece de unidade, ou melhor, de um centro de distinção conceitual, pois, se for tomada

apenas pelas fixas determinações-do-entendimento (Verstandesbestimmungen), o objeto é

reduzido a meros fragmentos determinados. Enquanto isso, o espírito opera mediante a

elevação das particularidades e singularidades para a idealidade do conceito, do universal,

ele, ao ter por determinidade própria a unidade ideal do ser para si essente, assimila o

objeto e o configura conforme sua determinidade.

O processo dialético do autoconhecimento espiritual visa suprassumir em uma

unidade sintética a subjetividade consciente e a objetividade imediatizada. Por esse

percurso o espírito reconhecerá que é produto dele este objeto exteriorizado e, pela

assimilação do mesmo, irá reconduzi-lo à interioridade concreta e universal do conceito,

por essa mediação racional o objeto será mais determinado, pois a atividade posta pelo

conhecimento de si do espírito consiste em transfigurar, assimilar, tomar para si o Outro,

reconhecer que por sua própria potência interna de se tornar consciente deste processo de

assimilação do diferente, da alteridade, é que seu agir encontra o fundamento da efetivação

de si mesmo. Por esse agir, é que se configura a atividade auto-produtora e livre do

espírito, o autoconhecimento.

Por esse motivo, todo o agir do espírito é só um compreender de si


mesmo, e a meta de toda a ciência verdadeira é que o espírito se
conheça de si mesmo em tudo o que há no céu e na terra. Para o
espírito não existe absolutamente nada que seja totalmente outro
(ECF, § 377).

1.2 A IDÉIA COMO PRIMEIRO MOMENTO DE EXPOSIÇÃO DO ESPÍRITO

No primeiro degrau de exposição dos momentos que o espírito assume, ele possui

a simples configuração enquanto pura identidade consigo mesmo, logo como idéia (Idee).
18

Pela idéia, o espírito visa à efetivação deste momento em um realizar-se para fora-de-si a

possibilidade (Möglichkeit) contida no interior do seu conceito como efetivação

consumada. Este realizar de si como efetividade é torna-se algo imediato e desenvolve-se à

medida que o espírito segue configurando na imediatidez suas determinações. O imediato é

a determinidade oposta em relação à idéia, é o ser-Outro e assume como um segundo

momento de exposição do espírito posto em uma relação alienada, pois, este outro é

apartado da pura identidade que o espírito assumiu anteriormente. Porém, não é um ser

totalmente outro, ele é antes de tudo, a autodiferenciação (Selbstunterscheidung) pela qual

o processo de recondução da alteridade a unidade conceitual poderá ser feita. O espírito

neste imediato ainda não tem para si a verdade, ainda não reconheceu neste ser outro que

ele é também seu produto, logo:

em sua imediatez, o espírito ainda não é verdadeiro, ainda não tornou


o seu conceito objetivo para si, ainda não transformou o que nele está
presente de maneira imediata, em algo posto por ele; não remodelou
sua efetividade em uma efetividade conforme o conceito do espírito
(ECF, §379).

A Filosofia do Espírito é a parte do sistema que trata justamente de expor os

momentos do desenvolvimento da idéia, desde sua figura exterior necessária até o grau

mais sublime que ela atinge enquanto conceito. Neste movimento dialético de superação da

alteridade, a idéia assume sua configuração como espírito vivo, que assimila para si o seu

oposto e suprassume esta contradição. A idéia é este primeiro termo da contradição que

põe em perfeita unidade consigo mesma sua própria determinidade e, por sua negação,

produz o ser-aí imediato.


19

1.2.1 A idéia: o fundamento do real

A idéia é o princípio pressuposto da efetividade (Wirklichkeit) em sua

possibilidade, o imediato apenas representa o quê a Idéia veio a ser ao se fazer a necessária

forma consumada da exposição do conceito. Como princípio, a Idéia, é também a condição

da realidade, de modo que enquanto pressuposição da realidade (Realität), a idéia se faz

independente desta forma assumida na exteriorização concreta, pois, sua determinidade é

própria de seu conteúdo interno e não apela para algo fora de si. A realidade, no entanto,

tem sua determinidade condicionada anteriormente pela própria pressuposição racional,

que é a idéia, que é seu princípio autodeterminante.

Deve-se notar que realidade e efetividade têm, para Hegel, sentidos distintos,

enquanto o primeiro é condição – pressuposição racional – do imediato, o segundo é

objetivação que a idéia em sua forma consumada atinge na necessidade (Notwendigkeit)

manifesta pela exterioridade. Tornar-se efetivo é o momento que a própria idéia se

configura, no ser-aí, pois a forma particular como ela veio a ser para a efetividade, apenas

realizou a forma já pressuposta anteriormente (a priori) no âmago da idéia lógica simples.

A filosofia do real de Hegel, em última análise, procura entender o porquê – e não o como

– da manifestação do espírito se apresenta, não desta forma ou daquela forma, mas da

forma consumada que a idéia simples atinge, ao esclarecer que há uma racionalidade

imanente ao processo de configuração que a idéia assume na efetividade, fazendo desta

uma totalidade organizada conforme a mesma racionalidade que perpassa a todo

desenvolvimento da idéia como pressuposição primeira do real. No prefácio da Filosofia

do Direito, Hegel aponta que: “o que é racional é efetivo e o que é efetivo é racional” (Was
20

vernünftig ist, das ist wirklich; und was wirklich ist, das ist vernünftig)3. Com isso, a idéia

– a razão – está intrinsecamente ligada à realidade, aquilo que se apresenta como efetivo,

na verdade, é resultado de uma racionalidade imanente a todo o processo. A idéia,

portanto, não é uma produção meramente subjetiva, no sentido de ser fruto de uma

divagação arbitrária e nem apartada dos objetos, ela é componente do real, é sua condição

primeira e encontra-se em todos os momentos do próprio desenvolvimento que ela vai

assumindo.

O princípio ontológico fundamental da efetividade é, portanto, a Idéia, a qual em

sua determinação interior já antecipa certos momentos que a natureza efetivará. Em sua

determinidade pressuposta no real, a idéia é viva e orgânica, por isso, o movimento do

espírito também se faz vivo e orgânico. Estas duas determinidades não são atributos do

imediato singular que a representação do ser assume em-si, elas estão anteriormente

configuradas na própria diferenciação interna da idéia, são condições para a efetividade.

No desenvolvimento ontológico do ser-vivo, desde sua constituição corpórea imediata até

seus processos de assimilação, nutrição, reprodução e morte, o que há são momentos de

desdobramentos que a idéia vai assumindo. A vida é um o processo que realiza o interior

de si mesmo, tudo aquilo que o ser-vivo efetiva já está pressuposto em sua constituição

ideal, no organismo. Há, também, a mesma pressuposição racional no organismo, pois suas

diferenciações são suprassumidas em uma unidade interna que ordena cada parte em uma

totalidade perfeita. No espírito, que sintetiza em si todos os degraus de exposição da

racionalidade, constitui com estes mesmo atributos que estão no interior do começo desta

exposição – que é a idéia – até a forma final do conceito.

3
HEGEL. Princípios da Filosofia do Direito: Prefácio. Tradução de Orlando Vitorino. Ed. Martins Fontes.
pg. 36. São Paulo, 2003.
21

1.3 O ESPÍRITO ENQUANTO O MOMENTO DE LIBERDADE DA IDÉIA

A idéia é o primeiro dos diferentes momentos que o espírito assume e que será

suprassumido com os demais no interior do conceito. Por ela se dá o começo de todo o

processo pelo qual o espírito irá avançar, partindo de uma idealidade que engendra em seu

interior todas as configurações do externo imediato, porém, sem ainda ter sido efetivada e

mesmo com todas estas determinações falta-lhe a mais determinada de todas, a

consciência. Na idéia o espírito ainda não tem consciência-de-si, que só será lograda ao

final do processo de reconhecimento e efetivação racional.

A idéia em relação ao todo processo de exposição espiritual já manifesta o

princípio de autodiferenciação, pois a contraposição de sua própria identidade simples e

abstrata constitui o ser externo imediato. Esta diferenciação é sua alteridade efetivamente

consumada, é o ser-Outro no momento em que a idéia é apartada de sua idealidade, assume

a representação exteriorizada que é a natureza. Pelo fato da natureza ser oposta a toda

determinidade ideal do espírito (que é a idéia), ela é, em sua exterioridade, o momento em

que falta uma unidade interna do ser, devido à natureza ser externa a esta unidade é,

portanto, externa a si mesma e ocorre “que todo natural está fora-um-do-outro” (ECF,

§381), sem esta unidade, a determinação ideal do espírito se dissolve na diversidade das

determinações de exteriorizações do ser. Na natureza, que é justamente configurada por

esta relação que foge da unidade ideal, portanto, é representada em uma infinita

multiplicidade de elementos, a exemplo da matéria:

esse substrato universal de todas as formações existentes da natureza,


não simplesmente nos opõe resistência, subsiste fora de nosso espírito,
mas também se mantém “fora-um-do-outro” para consigo mesma:
divide-se em pontos concretos, em átomos materiais, dos quais se
compõe (ECF, §381).
22

Com esta composição, os elementos materiais apresentam uma aparente autonomia

uns em relação aos outros, na medida em que não são dispostos para uma determinidade

central. Porém, a mesma matéria visa sua própria aniquilação, pois aniquilar-se é neste

caso partir para uma centralidade que cessa a aparente autonomia dos elementos que a

constitui. Esta contradição só manifesta o grau de carência de uma centralidade, que só

poderá ser dada pela unidade universal do conceito, enquanto isto não ocorre, os elementos

da natureza encontram-se nesta contradição ainda não resolvida, não suprassumida.

O ser fora-de-si que se estabelece enquanto ser-Outro em relação à idéia lógica, a

alteridade manifesta como a contradição não resolvida, é a própria natureza. Nesta

exterioridade, este Outro é o momento do ser como negatividade, é a necessidade

efetivada, por ele é traçado o caminho da suprassunção e retorno à idealidade do conceito.

Este Outro é um necessário desenvolvimento da idéia, o momento mais próximo ao

espírito, porém ainda apartado de sua interioridade e autoconsciência. Neste momento, o

ser está cindido da determinidade mais sublime do espírito, a liberdade. O espírito por “ser-

não-dependente de um Outro [Nichtabhängigsein von einem Anderen]” (ECF, §382),

carrega em si seu próprio fundamento, não carece de nenhuma determinidade fora-de-si.

Enquanto atividade racional é determinada autoteleologicamente, pois não é limitada por

nada, não obstante as suas determinações e potências internas. A idéia põe em sua

atividade a negação de si, enquanto simplicidade abstrata e formal, exteriorizando no ser-

Outro aquilo que é ela mesma. A alteridade é a contradição que deverá ser resolvida, pois a

negação constitui o movimento de suprassunção da diferença, ao não reconhecer nela a

determinidade de sua idealidade, pois enquanto está manifesta somente no momento da

necessidade imanente da natureza, isto é, na exterioridade, não é livre. A absoluta

negatividade é “essa suprassunção da exterioridade – suprassunção que pertence ao


23

conceito do espírito – é o que temos chamado sua idealidade” (ECF, §381), ao suprassumir

este ser-Outro exteriorizado, a idéia se põe como espírito, seu momento de

elevação/negação (Aufheben) da exterioridade. A partir deste momento de suprassunção,

de negação, a exterioridade é assimilada e transfigurada pela idéia, que vem a ser espírito,

pois “a essência do espírito é, por esse motivo, formalmente a liberdade, a absoluta

negatividade do conceito enquanto identidade consigo” (ECF, § 382). A liberdade é para o

espírito sua substância e já está pressuposta no momento anterior (a priori) na idéia, a

liberdade é idêntica ao espírito, efetiva-se progressivamente conforme os momentos de

exposição espirituais que finalizam no conceito. A efetivação do espírito é um “fazer-se

livre” (Sichfreimachen), é um romper para fora-de-si deste ser-Outro sua liberdade, é o

assimilar a diferença na identidade ideal, suprassumindo a alteridade e a transfigurando

conforme a determinação contida no interior da idéia.

A natureza é o momento de necessidade e exterioridade ao qual deve ser superado

pelo livre agir do espírito e também um momento de exposição do conceito. É a partir da

negação deste elemento exterior do ser fora-de-si que a liberdade efetiva-se, ela é uma

potência interna ao espírito, enquanto na natureza só reina o externo, pois, “ela não é

somente exterior ao espírito, mas, porque é exterior a este, porque é exterior à

interioridade, essente em si e para si, que constitui a essência do espírito, ela, justamente

por isso, é exterior também a si mesma” (ECF, §381). A liberdade só se manifesta na

atividade espiritual, pois antes a própria liberdade (ainda abstrata) que já estava contida na

pura identidade da idéia simples, agora assume sua configuração efetiva e concreta.

Contudo, não é correto pensar que a natureza, enquanto exterioridade se constitua

totalmente distinta ao espírito, pois este exterior é somente um momento a fim de ser

superado. Pela suprassunção da atividade espiritual encarrega-se de reconduzir a idéia

eterna imanente na natureza (da necessidade) à universalidade do conceito (a liberdade).


24

É que o pensar filosófico reconhece que a natureza não é


simplesmente idealizada por nós; que o ser “fora-um-do-outro” não é
algo totalmente insuperável para ela mesma, para seu conceito, mas
que a idéia eterna imanente à natureza, ou – o que é o mesmo – o
espírito essente em si, trabalhando no seu interior, efetua ela mesma a
idealização, a suprassunção do “fora-um-do-outro”, porque essa forma
de seu ser-aí está em contradição com a interioridade de sua essência.
Assim a filosofia, de certo modo, tem apenas de assistir como a
natureza mesma suprassume sua exterioridade, retoma no centro da
idéia o exterior-a-si-mesmo, ou faz surgir esse centro no exterior,
liberta o conceito nela escondido, da coberta da exterioridade, e assim
supera a necessidade exterior. Essa passagem da necessidade para a
liberdade não é uma passagem simples, mas uma gradação de muitos
momentos, cuja exposição a filosofia da natureza constitui” (ECF, §
381, itálicos nossos).

A atividade livre do espírito é, portanto, o despertar da autoconsciência ainda

dormente pelo invólucro da exterioridade. O “fazer-se livre” do espírito consiste na vitória

conseguida paulatinamente pela efetivação da liberdade nos diferentes graus do processo

de suprassunção do exterior. É vencendo cada um destes momentos que aprisionam o

espírito que a Verdade se fará efetiva. Os momentos de exposição conceitual da natureza

consistirão, doravante, nestes degraus que deverão ser vencidos para a auto-revelação da

verdade do conceito. Porém, esta vitória não será conseguida na aniquilação da natureza,

mas pela suprassunção da própria natureza, pois “a liberdade do espírito, não é

simplesmente a independência do Outro, conquistada fora do Outro, mas no Outro; não

chega à efetividade pela fuga perante o Outro, mas pela vitória sobre ele” (ECF, §382).
25

2 NATUREZA ENQUANTO PROCESSO DE SUPERAÇÃO DA


EXTERIORIDADE

2.1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS A RESPEITO DA NATUREZA

A filosofia da natureza se constitui como um dos momentos de efetivação da

atividade do espírito, em seu momento de necessidade, não como algo totalmente apartado

dele, pois assim “como o espírito, também a natureza externa é racional, divina, é uma

exposição da idéia” (ECF, § 381). Além disso, Hegel define a natureza dentro do sistema,

como a “contradição não resolvida [unaufgelöste Widerspruch]” (ECF, § 248), pois,

enquanto não for reconduzida ao interior do conceito, ao ser suprassumida, nela o ser fora-

de-si será apenas o momento oposto à idéia, portanto, oposto a toda interioridade para-si

essente.

A natureza é o ser outro em relação à idéia e por mediação dela decorre a

libertação do espírito, em cada grau (Stufe) de determinação, desde a figura (Gestalt) do

organismo geológico, passando pelo surgimento da subjetividade no organismo vegetal, até

o elemento mais concreto que ela assume enquanto subjetividade sensitiva, no organismo

animal. Em cada um destes graus demonstra a vitória galgada pelo espírito sobre a

exterioridade, na medida em que vai vencendo-os, expõe o processo racional da efetividade

do conceito. Nisto, a natureza reflete também as determinações do espírito, pois, sendo a

natureza racional ela é também viva, orgânica e sistemática, porém, ainda presa pelas

amarras da exterioridade, clamando por vencê-las e libertar da imanência a liberdade do

espírito.
26

2.2 A NATUREZA ORGÂNICA

As considerações que Hegel trata na Filosofia da Natureza dizem respeito aos

momentos que o ser em-si imediato se configura enquanto forma consumada da simples

idéia abstrata, até o advento da subjetividade. Os seres naturais, anteriormente abordados,

encontram-se configurados em uma relação fora-um-do-outro e, com isso, apartados de

uma unidade no sentido da relação das partes com um todo coeso ou centro concreto de

determinação. As relações em que estes seres estão subordinados referem-se somente a

impulsos externos, fora de um centro para si essente, com isso, não possuem movimento

próprio, ou seja, a auto-atividade. Este é o estado que a natureza se encontra desvanecida,

não possui um movimento de superação desta condição de passividade. A superação deste

estado sem consciência (bewusstlose) se dá na assimilação em uma unidade universal para-

si essente, que se inicia na sensação e alcança a consciência-de-si no espírito. Na

contradição imanente ao natural, tanto o ser é manifesto fora-de-si enquanto exterioridade,

como inicia o processo de negação, portanto, já é um sujeito, uma unidade internamente

diferenciando-se a si mesma (eine sich selbst unterscheidende) pela negação do Outro, do

externo4.

A natureza orgânica é este movimento que caracteriza os seres que já possuem em

si o princípio de negação da exterioridade e engendram em si, em uma unidade subjetiva, a

dependência das partes em relação ao centro. No organismo, a racionalidade é manifesta

em um grau mais determinado, pois, ao trazer para a unidade do sujeito as determinações

postas na exterioridade, ao negá-las, suprassume estas simples relações externas em um

princípio de determinação, partindo de uma interioridade. O organismo simplesmente

reflete o mesmo processo que há na atividade racional, também em graus de determinação

cada um mais concreto em relação ao outro. Já nos seres inorgânicos, a contradição não é

4
Como será visto mais adiante o exemplo do sujeito vegetal.
27

por eles assimilada, não há um processo de assimilação do outro e, estes enquanto seres

externos imediatos sempre são movidos por algo também exterior. Nos seres inorgânicos

não há vida, pois não há, para esta individualidade em-si, a solução da contradição da

natureza, são apartados de si mesmos e na exterioridade: “a vida imediata é, portanto, a

vida em si alienada, e assim é a natureza inorgânica da vida subjetiva” (ECF, §337).

A organicidade é, portanto, um ordenamento das partes posto por uma unidade

central, é um todo coeso que abarca em si cada auto-diferenciação do ser. Porém, este todo

não é meramente a soma de todas as partes, vai mais além, pois em cada parte é uma

réplica desta totalidade, há, portanto, no organismo vivo uma perfeita subordinação da

diferença (das partes) em uma identidade concreta. A mão, por exemplo, apartada do corpo

é desprovida de importância, de sentido, já o corpo sem esta parte decai sobre a carência de

algo de si e por mais que se mantenha, as demais partes tentarão suprir esta falta.

No todo orgânico, cada parte é um fim (télos), um órgão, que só é compreendido

em relação aos demais, se encontra em mútua dependência com os demais fins que

constituem o organismo como um Todo. Cada órgão encerra em si um propósito, uma

finalidade específica a ser desenvolvida. Assim como em uma orquestra em que as notas,

enquanto partes de um Todo harmônico, devem ter sua duração, tonalidade e afinação,

também é manifesto esta relação no organismo vivo, em que cada órgão em consonância

com os demais desenvolve a harmonia viva dos seres.

2.2.1 vida

A individualidade triunfante (die triumphierende Individualität) do ser orgânico

se dá pela incorporação do outro, ao assimilar este estranho a si, ele suporta a contradição.

No organismo as partes que o compõe possuem uma unidade, uma centralidade, não são
28

meramente dispostas umas em relação às outras de maneira inter-independente. Este ser

não pode ser considerado simplesmente como o conjunto de propriedades: carbono,

amônia, nitrogênio, hidrogênio e o que mais houver, além disto, há uma unidade destas

partes que perfaz um Todo coeso, a determinação própria do organismo, a vida.

O ser vivo é a contradição que suporta o inorgânico (as determinações do externo

imediato) em relação à unidade subjetiva que engendra em si a centralidade, a unidade das

partes. O ser vivo pressupõe tanto a incorporação quanto a aniquilação do outro de si: a) É

incorporar na medida em que as partes que o compõe são ao mesmo tempo seu Outro, os

membros do ser vivo é ele mesmo e seu diferenciar-se; b) É aniquilar enquanto

assimilação das diversas partes em uma unidade subjetiva completa, que toma para si sua

diferenciação e a organiza na totalidade da unidade orgânica do ser. Na estrutura do ser

vivo, sua unidade interna assimila o seu diferente, pois “a vida é onde o interior e o

exterior, causa e efeito, fim e meio, subjetividade e objetividade etc., [tudo isso] é uma a

mesma coisa” (ECF, § 337). O fato de, ao mesmo tempo, ter uma figura exterior imediata e

uma unidade interior cria na criatura viva uma tensão, a vida passa a ser a superação

permanente desta contradição, da incorporação do externo ao interno:

mas a vida é justamente a solução desta contradição, e nisto [na


solução] consiste o especulativo, ao passo que só para o entendimento
a contradição é insolúvel. A vida só pode portanto ser apreendida,
especulativamente, pois na vida exatamente existe o especulativo. O
agir continuado da vida é assim o idealismo absoluto; ele torna-se um
outro, o qual porém é sempre suprassumido. Se a vida fosse realista,
teria respeito diante do externo, mas ela obstrui sempre a realidade do
outro e transforma-a em si mesma. (ECF, § 337).

A vida não pode ser compreendida somente pelo seu aspecto fenomênico, não é

este exterior manifesto, antes ela é movimento de determinação racional, é também espírito

e, como ele, anseia por livrar-se da exterioridade. O problema da má compreensão da vida

consiste em subjugá-la apenas às determinações físicas do ser, assim como fazem as


29

ciências empíricas conforme a luz do entendimento, pois ao tratá-la como invólucro

externo não percebem que a contradição do ser natural a solução é insolúvel. A vida,

enquanto conceito é também idealidade e põe para si seu ser outro “visto que a vida, como

idéia, é o movimento de si mesma, pelo qual somente e enfim se faz sujeito, então a vida

faz de si mesma seu outro, a contrajogada de si própria; ela se dá a forma de ser como

objeto para si voltar e ter voltado a si” (ECF, §337).

1.1 A Teleologia

O movimento vital não é um desordenado vir-a-ser, ele tem para si uma relação

teleológica (Zweckverhältnis) na constituição das diversas partes que engendram o

organismo vivo. Cada parte tem seu propósito, como todo orgânico é também atividade

finalística (zweckmäβige) determinada pela unidade subjetiva do ser.

Longe de uma compreensão mecanicista da vida, Hegel critica a visão cartesiana de

acreditar em uma determinação totalmente externa para o movimento do seres naturais. A

Mecânica cartesiana cria, na verdade, um hiato entre a subjetividade e o objeto, por

postular que nestes há uma dependência para com outro ser externo imediato. Neste caso, o

fim posto no objeto é um impulso fora-de-si, determinado por um agente estranho. Por essa

concepção mecânica, a consideração teleológica é externa ao objeto, seu propósito não se

encontra imanente, assim, a pressuposição dos seus fins de sua atividade encontra-se não

em si, mas de algo externo. Então, ainda que efetivem seu fim, o ser natural será alienado

de sua própria ação.

A teleologia da filosofia de Hegel consiste em considerar a unidade subjetiva do

organismo como contendo sua própria finalidade. Devido à interioridade central do ser

vivo ser a produtora do desenvolvimento de suas partes, como uma potência interna ao
30

sujeito orgânico, sua atividade teleológica possui diversas características diferentes do

externo5.

Hegel elabora uma compreensão mais aprofundada do que as relações externas e

finitas (äußerlichen und endlichen Verhältnissen) do pensamento mecanicista. Para ele, a

potência de por para si seu fim é imanente ao objeto, isso não significa que per se o objeto

possa desenvolver-se sem uma determinidade pressuposta no seu interior, mas esta

determinidade não é estranha ao objeto natural, ela é um pôr para-fora-de-si do sujeito

todas as partes engendradas no cerne do ser, é, propriamente, o fim-em-si-mesmo

(Selbstzweck) que se exterioriza e, enquanto representação imediata, tem sua

originariedade no interior da unidade subjetiva.

O conceito teleológico não é apenas estranho à natureza como quando


digo: ‘A lã dos cordeiros existe somente para que eu me possa vestir’;
brotam daí muitas vezes parvoíces, por exemplo ao admirar-se a
sabedoria de Deus porque ele, como se diz nos Xênios, faz brotar
sobreiros da cortiça para rolhas de garrafas, couves e ervas para
estômagos enfermos, cinabre para cosméticos. O conceito de um fim
como interno às coisas naturais é a simples determinação das mesmas,
por exemplo o germe de uma planta que segundo a possibilidade
contêm tudo que deve vir na árvore e que portanto, como atividade
finalística, está dirigido [o germe] somente para a própria manutenção
(HEGEL, ECF, II § 245).

5
Segundo Michale Inwood estas características da teleologia em Hegel diferem das concepções mecanicistas
que aponta para uma determinação da finalidade como algo externo. Para Inwood, há o que ele chama de
uma “teleologia interna”, ou como ele aponta: “em teleologia interna, pelo contrário. (a) O propósito é
imanente no objeto. (b) O objeto em que o propósito é realizado não é, portanto, pressuposto, e funciona,
primordialmente, do começo ao fim, segundo princípios teleológicos, regidos por seu propósito. (Mas até
mesmo um sistema internamente teleológico pressupõe um ambiente mecânico e quimicamente ordenado
ao seu redor). (c) Não está envolvida nenhuma intervenção ou manipulação externa. (d) O propósito
cumprido pelo objeto é ele mesmo e suas próprias atividades.” (INWOOD, Michael. Dicionário Hegel.
Tradução de Álvaro Cabral. Jorge Zahar Editor. p. 216. Rio de Janeiro. 1999).
31

2.3 O ORGANISMO VEGETAL

O desenvolvimento da subjetividade orgânica assume em um primeiro momento a

configuração de um ser para-si-essente, porém, que ainda não superou em seu organismo o

ser em-si. Este sujeito orgânico, a planta, já manifesta o impulso (Trieb) vital de

desdobramento nas suas partes ao produzir-se a si mesmo em cada uma delas. Não é

meramente um ser posto em uma relação fora-um-do-outro, já há em si um movimento de

diferenciação interna, há um primeiro grau do desenvolvimento da subjetividade.

Este impulso é observado na própria constituição da singularidade que o sujeito

vegetal assume. Nele ocorre no ser o desenvolver-se de-dentro-para-fora (Sich-von-innen-

heraus-Entwickeln) como um rebento partindo da unidade subjetiva do vegetal para

exteriorizar-se. Na planta, todas as suas diferenças, os membros, são, na verdade, produtos

de si mesmo, há uma identidade entre sua unidade interna e cada momento diferenciado

em relação a ela, pois, esta unidade diferenciando-se a si mesma (eine sich selbst

unterscheidende) configura em cada parte sua subjetividade. Não há para a planta uma

relação que ponha uma alteridade completa em suas particularidades, “o que ela põe como

outro não é verdadeiramente nenhum outro, mas o mesmo indivíduo como sujeito” (ECF, §

343), nela “cada parte é a planta inteira, uma repetição dela; os membros, pois, não são

mantidos em uma perfeita submissão à unidade do sujeito” (ECF, § 381). Contudo, nesta

última passagem, Hegel aponta para a imperfeita submissão que as partes (ou os membros)

têm em relação à subjetividade do vegetal, isso ocorre em decorrência da incompleta

unidade que ele produz na sua diferenciação. Nesta unidade não há uma assimilação

completa da alteridade, pois sua diferença é somente um desdobrar-se de si mesmo.

No organismo vegetal o processo de articulação que ele configura é um “ir-fora-de-

si” (Außersichkommen), um “desintegra-se em muitos indivíduos” (ECF, § 343). Nos


32

membros da planta, tanto o caule, o galho, as folhas ou a raiz, são, ao mesmo tempo, um

único e mesmo sujeito, cada parte é a replicação da unidade subjetiva do vegetal. Estes

membros podem aparecer como particulares uns-para-os-outros (Besondere

gegeneinander), mas na verdade é o mesmo indivíduo configurado de forma diferente, o

seu diferente é ele mesmo. Na planta, com isso, sua unidade subjetiva coincide com cada

particularidade, seu negativo, a diferença, volta-se-para-si e, portanto, decorre que a esta

unidade não é somente interior ao sujeito ela é também exterioridade dos membros, assim,

a subjetividade e objetividade são o mesmo no vegetal. Por conta desta contradição:

a planta, portanto, ainda não é verdadeira subjetividade, porque o


sujeito, embora se distinga em si e se constitua como seu objeto, não
pode ainda fiar-se nas diferenças verdadeiramente articuladas, mas só
o regresso desde estas é a verdadeira autoconservação. O ponto de
vista da planta é, portanto, distinguir-se de si mesma, só formalmente
e somente assim poder permanecer ao pé de si. Ela desdobra suas
partes; mas como estes seus membros são essencialmente o sujeito
total, assim não chega ela a quaisquer outras diferenças, mas folhas,
raízes, troncos são somente indivíduos. Como aqui o de real que a
planta produz, para se conservar, é só o completamente igual a ela
própria, assim isto também não chega a membros próprios. Cada
planta é por isso apenas uma multidão infinita de sujeitos, e a conexão
pela qual aparecem eles como um sujeito é somente superficial. A
planta é assim a impotência, o não manter sob seu poder sua
organização [membrificação], pois seus membros lhe escapam como
independentes e a inocência da planta é a mesma impotência do
referir-se-ao-inorgânico, onde seus membros juntamente se tornam
outros indivíduos (ECF, §337).

A subjetividade da planta é incompleta, por não superar esta contradição, apesar

de já possuir, segundo Hegel, o impulso de expandir-se do centro para as bordas, ainda não

se constitui como um retorno à unidade do sujeito. Este ir-fora-de-si do vegetal reproduz

sua subjetividade nos diversos membros que o constitui e dos quais se diferencia sem por

nesse processo um ser outro, pois todo diferente de si é na verdade ele mesmo. Para Hegel,

a planta só se conserva mediante a réplica em outro indivíduo uma multiplicação da

própria individualidade, um manter-se no externo de si.


33

Contundo, no sujeito vegetal já se encontra uma tentativa de romper com a

exterioridade, algo que o impulsiona no movimento próprio do ser e que não se subordine

as relações meramente externas. O vegetal é um dos passos no limiar da vitória do espírito

sobre a exterioridade, dele advém um primeiro momento de unidade subjetiva tentando

superar o externo. Nesta unidade já existe uma racionalidade manifesta em suas

características: a) ao diferenciar-se, b) como centro expandido para a periferia, c) como

uma atividade produtora de si mesma e d) possuindo impulso advindo da unidade do

sujeito da planta. O sujeito vegetal é o momento mais baixo de libertação do espírito como

subjetividade, pois ainda não rompeu completamente com o externo ao não assimilá-lo.

Somente com um processo de aniquilação do outro é que este processo poderá galgar um

degrau de maior efetivação racional. Isso se dará pelo advento da sensação.

2.4 O ORGANISMO ANIMAL

O organismo animal é possuidor de uma unidade subjetiva mais determinada, ele

tem uma alma simples. Nisto o organismo engendra em si um maior grau de determinidade

que o ser vegetal, pois não tem somente a síntese na unidade do sujeito com os membros

que o compõe, mas faz de cada um deles o mesmo de si, é uma unidade subjetiva presente

em cada particular.

A diferença da individualidade orgânica do animal em relação ao vegetal é um

maior grau de desenvolvimento da subjetividade, embora que na subjetividade animal

ainda não se tornou para si. No animal inicia-se um processo de assimilação do outro, que

tem para ele cada uma de suas partes. Como foi visto, a planta em relação às suas partes

não consegue articular em uma perfeita unidade, ela ainda se perde na exteriorização de

seu sujeito, o impulso do vegetal de “ir-fora-de-si” impele-o de aniquilar a alteridade, a


34

planta apenas replica no seu diferente ela mesma, pois, “cada parte é a planta inteira, uma

repetição dela” (ECF, § 381). No entanto, no animal já há um processo de aniquilação da

alteridade em sua subjetividade, o seu outro, as suas partes que se diferenciam do centro

que o compõe, são perpassadas por esta unidade essente. Em cada membro é manifesto a

unidade subjetiva sensorial reconduzida a uma totalidade. No corpo do animal, as

determinidades aparentemente autônomas entre si são penetradas por esta unidade

universal. Nela há um maior reflexo da atividade racional que assimila em seu interior a

alteridade e se faz manifesto em cada uma de suas partes, ou melhor, em cada momento.

2.4.1 A sensação

A natureza do organismo animal possui em seus membros, em cada órgão que

constitui sua figura (Gestalt) exterior efetiva, a mesma unidade subjetiva do Si, ou seja,

este exterior singular da figura do animal reflete a mesma universalidade em-si essente da

universalidade subjetiva do seu interior. No animal, portanto, já há uma interioridade

essente, que capta e percebe as impressões exteriores. O animal tem sensação

(Empfindung).

A sensação “é justamente essa onipresença da unidade do animal em todos os seus

membros, os quais comunicam imediatamente cada impressão ao todo uno, que no animal

começa a vir-a-ser para si” (ECF, § 381). Como no sujeito animal cada membro é

perpassado por esta universalidade subjetiva, ele apresenta uma relação de dentro para

fora, em que há um impulso partindo de sua perfeita interioridade que o determina e não

mais uma relação simplesmente exterior. A natureza animal, neste impulso, revela que

possui uma unidade verdadeiramente subjetiva, uma alma simples (einfache Seele), que

capta as impressões externas a si e as comunica a esta interioridade essente. Como não é


35

dependente somente desse imediato externo que o constranja, o animal tem além do

impulso, também instinto (Instinkt).

Pela sensação o animal eleva-se a um grau mais determinado de efetivação no que

diz respeito ao espírito. Mediante a sensação, o sujeito animal é determinado por si mesmo

e, já denota assim uma oposição mais acentuada ao imediato externo. Porém, a natureza

animal encerra em si uma contradição, pois, ao manter-se enquanto interioridade subjetiva

é ainda apegada à exterioridade. Mesmo nesta contradição, o animal, ao procurar

conservar-se, tenta suprassumir esta contradição, e este é o princípio da autoconservação

(Selbsterhaltung) manifesto pela subjetividade animal. Pelo instinto da autoconservação

que a subjetividade animal possui, tem para o ser sensitivo uma determinidade que tem em

si uma diferenciação ideal, o conteúdo. Autoconservar-se é a capacidade de se manter

mediante a suprassunção do externo. Contudo, nesta oposição em relação à imediatez, o

animal é impelido de um relacionamento com sua própria unidade subjetiva, pois, ainda

encontra-se preso a contradição da natureza. O animal só se mantém pela assimilação do

externo, do outro, em relação a si e somente desta forma se conserva. Este outro, esta

diferenciação oposta ao animal, é algo externo a ele, logo a manutenção de sua

interioridade só pode ser lograda mediante a assimilação da alteridade. Exemplo disso é o

próprio processo de alimentação do animal, que seu outro – o alimento – é por ele

assimilado (ou aniquilado) para sua conservação como indivíduo, sua conservação recai

em uma contradição com aquilo que é oferecido por uma natureza externa à sua unidade

subjetiva. Novamente o animal se vê nessa contradição, de manter-se graças ao externo a

si. “Para a verdadeira solução dessa contradição é necessário que o Outro, a que o animal

se refere, seja igual a ele.” (ECF, § 381).


36

2.4.2 A relação dos sexos

A solução apontada por Hegel para esta contradição revela-se na relação dos sexos

(Geschlechtsverhältnis). Nela o princípio de autoconservação é manifesto, pois o animal

em comunhão com outro do mesmo gênero não sente um estranhamento no outro singular,

não é meramente uma exterioridade totalmente apartada de si. A individualidade singular

do animal tenta conseguir no outro do seu mesmo gênero a sensação de si, nisto o instinto

de manutenção da espécie faz com que a singularidade animal consiga a auto-sensação

(Selbstgefühl), sentir na alteridade imediata a sua própria subjetividade essente.

Por isso, a relação dos sexos é o ponto mais alto da natureza viva: esse
grau ela é retirada, na mais plena medida, da necessidade exterior,
porque as existências diferentes, que se referem uma à outra, não são
mais exteriores uma à outra, mas têm o sentimento de sua unidade.
(ECF, § 381).

No momento da cópula (Begattung), nesta união de duas singularidades em-si

essentes, há uma unidade que sente a si mesmo como um único gênero, uma

universalidade. Todavia, esta universalidade não é para o conceito, que tem em si a

liberdade ideal. Este universal é singular e imediato, a relação dos gêneros no ato sexual

não é totalmente livre, pois, “o gênero só é para o animal na forma da singularidade” (ECF,

§ 381), nunca para o gênero universal que é o conceito. A natureza animal não efetiva a

liberdade inteiramente, ainda que se conserve na contradição com o externo, ela recai

necessariamente na imediatidez. Como o gênero só é em si e para si no espírito, em que

possui nele sua eternidade e universalidade verdadeira – o conceito –, a animalidade se

restringe ao processo inconsciente de perpetuação da espécie. O animal ainda não

suprassume esta condição, com isso, não rompe inteiramente com a exterioridade.
37

2.5 A CIRCULARIDADE DO MOVIMENTO NATURAL

O espírito em sua efetivação tenta romper o invólucro externo que o aprisiona, a

natureza, figurada em cada um desses momentos progressivamente determinados,

representa o processo da vitória do espírito sobre a exterioridade. Desde o simples sujeito

vivo, a planta, até a mais acabada forma que a natureza finita configura, enquanto exterior

vivo imediato, o animal, cada um destes momentos são degraus até o mais elevado, o

surgimento da verdadeira subjetividade em-si e para-si essente. Ainda que a natureza seja a

determinidade mais próxima ao espírito e realize a racionalidade do conceito, ela ainda é

apartada da idealidade e da liberdade da idéia universal.

A natureza é o reino da necessidade, é aprisionada pelos grilhões da exterioridade e

manifesta uma relação em “que todo natural está fora-um-do-outro” (ECF, § 381),

consequentemente fora de sua própria interioridade, que é a essência do espírito. Longe

desta interioridade que engendra em si a síntese de suas particularidades em uma unidade e

consonância com a unidade do todo (em relação às suas partes), a natureza se perde na

exterioridade, não encontra uma determinação que sintetize estes diversos momentos de

sua própria manifestação. Porém, no ser vivo inicia-se a vitória do espírito sobre a

exterioridade finita do ser-aí. A planta representa o impulso do movimento de articulação

interna do espírito ao diferenciar-se e engendrar em si cada membro de sua produção

subjetiva. “Uma vitória ainda mais completa sobre a exterioridade apresenta-se no

organismo animal” (ECF, § 381). Nele há o advento da verdadeira subjetividade que tem

em-si um princípio essente – a sensação – que organiza cada diferenciação de sua unidade

subjetiva em um todo uno universal, os membros comunicam a esta unidade as impressões

externas a si e faz com que o animal sinta e assimile, ou aniquile, o outro em proveito de

sua autoconservação.
38

Todavia, a natureza apresenta um movimento circular (Kreislauf) em sua

determinação, pois não rompe com a exterioridade. Neste movimento, a natureza aparece

como produtora do gênero – que é universal – unicamente para a singularidade imediata,

como na constituição corporal do animal. Neste caso o universal não é universal em-si e

para-si. Por conta disto, a natureza “não produz igualmente a universalidade essente em si

e para si, ou a singularidade em si e para si universal, a subjetividade tendo por objeto a si

própria” (ECF, § 381), isto somente é atributo do espírito em sua atividade racional livre.

Ainda que a natureza produza o gênero (um universal) este gênero recai necessariamente

na singularidade, ela não supera esta contradição. O movimento natural, posto nessa

exterioridade, deve ser suprassumido em uma determinidade universal, em uma idealidade

que rompa este círculo ao reconduzir este exterior à interioridade do espírito, assimilando-

o e, mediante esta idealização do imediato do ser-aí natural, romper em direção a uma

estrutura subjetiva e universal, o Eu.


39

3 A VITÓRIA DO ESPÍRITO SOBRE A EXTERIORIDADE

3.1 O ADVENTO DO EU

A natureza constituiu-se até aqui como a forma mais consumada de efetivação

que a idéia simples atingiu em seu momento de necessidade e exterioridade. A Idéia, ao

diferenciar-se, configurou a si mesmo como o seu ser-Outro exteriorizado, posto em uma

relação fora-de-si, logo, fora de toda interioridade para-si essente, que constitui a

determinação ideal do conceito. No momento da natureza, a idéia absoluta está apartada de

sua essência, perdida, sem um centro de determinação ideal, fragmentada em diversos

elementos e assumiu a configuração de uma multiplicidade infinita de pontos

aparentemente autônomos entre si.

Nesse afastamento para com sua própria interioridade essente, o espírito pôs

como o oposto da idéia, o ser-Outro, a alteridade e, enquanto permanece como natureza,

considera esta alienação consumada. Para vencer a natureza, a idéia compreende sua

marcha a fim de libertar-se do julgo do natural e de reconduzir novamente para sua

interioridade os momentos que a idéia assumiu enquanto exterioridade, pois, enquanto

apartado de Si, vê sua essência pulverizada no mundo natural. Por não reconhecer nesse

externo imediato, faz de todo o seu processo de efetivação racional uma recondução deste

ser-Outro a sua idealidade perdida na exteriorização.

Como primeiro momento de exposição da diferenciação processual do espírito,

ele se constituiu como realidade ideal simplesmente abstrata, portanto, como idéia. Em um

segundo momento, assumiu a configuração consumada que a idéia se torna na

exterioridade, a natureza, a qual é o momento de necessidade e imediatidade. Após estes


40

dois momentos o espírito, visando suprassumir todas estas etapas em sua idealidade, não

mais abstrata, pois abarca em si e configura conforme suas determinações aquilo que é

externo a ele, mediatiza, traz para sua interioridade a alteridade oposta a sua idealidade.

Pela compreensão deste processo, o espírito tornou-se livre e consciente de todo este

movimento de autodeterminação, logo, tornou-se consciente de sua própria essência.

O espírito, ao trazer para a idealidade sua alteridade exteriorizada, configurou-a

conforma uma idealidade mais determinada, concreta. Ele suprassume para o seu interior

aquilo que se manifesta contrário a sua determinação e eleva ao nível do conceito, afinal:

todas as atividades do espírito nada são a não ser maneiras diversas da


recondução do que é exterior, à interioridade que é o espírito mesmo;
é só mediante essa recondução, mediante essa idealização ou
assimilação do exterior vem a ser, e é, o espírito. (ECF, § 381).

A interiorização se confunde com o vir-a-ser processual do espírito e tem como

primeiro momento o surgimento da subjetividade. Em um primeiro degrau a unidade

subjetiva que surgiu no organismo vegetal, apesar de diferenciar-se de si mesmo, não

abarca todas as suas diferenças em uma unidade perfeita, ela apenas configura na planta o

seu impulso de “ir-fora-de-si” na sua singularidade. O desenvolvimento da subjetividade

deu um passo a mais de determinação no organismo animal. Nele, configurou uma

centralidade em-si essente, uma unidade dos membros, pois, todas as partes da

singularidade animal é perpassada por essa unidade, dado que esta unidade se faz presente

em todos os membros do animal, ela comunica todas as impressões para a sua própria

subjetividade essente, se apresentando como sensação e, enquanto subjetividade sensitiva,

é, portanto, mais determinada e mais próxima da subjetividade em-si e para-si do espírito.

Porém, tanto o sujeito vegetal quanto o animal ainda caem na contradição natural, este por

não suprassumir a singularidade na universalidade do gênero, aquele por não abarcar

perfeitamente para seu interior sua própria diferenciação. Ainda que nestes momentos da
41

natureza já possamos encontrar uma tentativa de romper com a exterioridade, por se tratar

de uma liberação inicial das fixas determinações da natureza do ser-fora-de-si, do ser sem

vida, de já desenvolver no organismo uma interioridade, estes momentos recaem

novamente na exterioridade, na contradição natural que ainda não foi suprassumida no

interior do conceito, no universal, assim, a circularidade repetitiva do movimento natural

ainda impera sobre eles. Romper com este círculo é suprassumir a exterioridade e,

mediante esta suprassunção, desenvolver a idealidade do espírito.

O surgimento da sensação confere ao animal o sentimento de si que o torna capaz

de trazer para sua unidade subjetiva as impressões externas da natureza. Porém, a natureza

o animal não ultrapassa o nível sensorial de sua simples subjetividade. A vitória do espírito

tornou-se completa sobre a natureza quando a determinação do Eu constituiu-se como a

abstração de toda singularidade em uma universalidade simples e concerta.

Esta estrutura universal do Eu não é algo imediato em-si, na corporeidade, esta

estrutura se fez atributo do subjetivo que se pôs para-si ao se fazer seu próprio objeto. Este

para-si essente tornou-se o que chamamos de consciência-de-si (Selbsbewuβtsein).

Quando, como nos fala Hegel, – pela palavra – o homem disse “Eu”, ele abstraiu de toda

singularidade de sua unidade diferenciada em um universal abstratamente simples, se

apresentando, com isso, o processo de autoconsciência do espírito. Em sua realidade

natural o homem ainda preserva sua animalidade, seu sentimento de si pela sensação na

unidade viva do sujeito, sendo que esta realidade é a condição necessária para o

surgimento da consciência-de-si, no entanto, não é de todo suficiente. É correto dizer que

não se pode pensar o Eu como algo totalmente apartado de um corpo, é preciso entender

que para haver a subjetividade implica na necessidade de um organismo vivo, de uma

constituição imediata e singular. Por conta disso, a consciência-de-si pressupõe que haja

uma distinção entre uma esfera subjetiva interna e uma imediatidade da qual se diferencie.
42

Diferenciar-se é uma atividade negativa, pois este Eu como consciência-de-si não tem sua

determinidade fora-de-si, ele não precisa de uma determinidade que o limite.

Mesmo sendo este universal simples, o Eu se diferencia internamente ao contrapor

sua própria natureza, se fazendo objeto para si mesmo. Enquanto objeto, o Eu suprassume

sua contraposição e acede à perfeita unidade consigo mesmo. Este retorno de sua auto-

diferenciação é o momento em que o espírito assume a configuração do ser-junto-a-si

(Beisichselbstsein) em sua idealidade. Nesta idealidade, o Eu suprassume em seu interior

aquilo que lhe aparecia como seu lado objetivo. O exemplo que Hegel ilustra, a esse

respeito, trata-se da diferença do Eu em relação à matéria, pois, enquanto o Eu é esta

unidade concreta simples, a matéria, por sua vez, é esta multiformidade dispersa em

diversos pontos autônomos. A suprassunção do oposto imediato se dará “quando o Eu o

abarca, esse material se torna ao mesmo tempo contaminado e transfigurado pela

universalidade do Eu; perde sua subsistência singularizada, autônoma, e recebe um ser-aí

espiritual” (ECF, §381).

3.2 A RECONDUÇÃO PROCESSUAL PARA A INTERIORIDADE DO ESPÍRITO

A atividade de efetivação racional é o processo de espiritualização da exterioridade

imediata e isto significa interiorização, ao trazer para o Si do espírito aquilo que, em outro

momento do desenvolvimento, se manifesta como outro. Isto só é possível porque há um

(re)conhecimento da racionalidade homóloga no imediato, pois, a forma que a idéia

assume ao se efetivar, já é determinada pelo próprio espírito. A forma consumada que a

idéia assume – que é a exterioridade – pressupõe uma determinidade ideal anteriormente

posta pela representação imediata singular ou particular. O espírito só (re)conhece aquilo

que lhe é comum, o mesmo de si, ainda que seja ele o fundamento do externo, não mantém
43

em seu interior a mesma multiformidade dispersa do fora-de-si que há na natureza. Quando

o espírito abarca para si a alteridade, ele a configura dando-lhe unidade, concretude e assim

a universaliza em conformidade com o seu conceito. A efetivação racional do espírito é, ao

mesmo tempo, este conhecimento de que é dele a produção do que é manifesto como seu

outro. Ao assumir a forma efetiva da idéia, o espírito vence sua representação finita, seu

ser-aí limitado, e em sua determinidade ideal eleva novamente para junto de si sua

alteridade e, neste momento, não há mais um outro, mas uma identidade perfeita; nela a

contradição foi resolvida ao ser abarcada no interior do conceito, por suportar a

contradição que é atributo daquilo que é vivo, portanto, o espírito torna-se também vivo,

pois reporta todas as suas diferenciações a uma unidade concreta, quer dizer, é também

organizado. Neste movimento, o espírito reconduz para sua interioridade o que se encontra

como externo a si e, na verdade, este processo é um compreender a si mesmo como

essência do mundo e um tornar-se autoconsciente, momento em que o espírito se faz para-

si essente e atinge a consciência-de-si, à medida que vai realizando a forma mais sublime

que a simples idéia lógica pressupõe.

O espírito em-si e para-si sintetiza o fim dos momentos pelos quais o processo de

espiritualização da exterioridade atravessou. O compreender de si do espírito enquanto

razão revela passo a passo a infinita consumação da idéia eterna, portanto, manifesta todos

os momentos anteriores à revelação do mais sublime de todos estes, o absoluto.

O espírito finito procura romper com a imediatidez, ao visar escapar da

circularidade do movimento natural que o força a se prender na contradição do um-fora-

do-outro. Em um primeiro momento, o espírito finito possui uma unidade imediata com a

natureza, ao negá-la em sua imediatidez, cria a primeira oposição em relação à natureza, ao

imediato. Nisto o espírito finito suporta esta oposição, ele a suprassume ao manter a

unidade com a natureza, pois, nesta unidade “é mediatizada por esta oposição” (ECF,
44

§381). Nesta mediação o espírito finito se compreende enquanto totalidade ideal que se

efetiva ao retornar para si desta oposição com o natural, mas este retornar não é

perfeitamente completo, pois não abarca para si todos os momentos de sua

autodiferenciação. O espírito finito é apenas um momento de manifestação do espírito,

momento este que conserva uma unidade e uma oposição em relação à natureza. Somente

no espírito absoluto o retorno à interioridade é perfeitamente completo, pois nele:

a idéia se compreende, não só na forma unilateral do conceito ou


da subjetividade, nem tampouco só na forma também unilateral
da objetividade ou da efetividade, mas na unidade consumada
desses seus momentos diferentes, isto é, em sua verdade
absoluta (ECF, §381).

Pode-se dizer que no espírito absoluto todos os seus momentos anteriores são

efetivamente abarcados na verdadeira interioridade em-si e para-si essente. Esta

interioridade constitui a autoconsciência, na medida em que aquilo que antes era oposto ao

espírito, era apenas um momento distinto dela em sua forma consumada na efetividade.

Não há um exterior em si mesmo e nem um interior por si mesmo, eles são momentos que

só diferem na relação recíproca, mas, para o espírito absoluto, esta diferença está

suprassumida numa unidade concreta e total.

O espírito absoluto se faz a verdade que abarca para si todos os demais momentos

de distinção no processo de efetivação racional. A se fazer manifesto nesse processo,

também há a revelação da verdade última do ser. Enquanto absoluto, o espírito não se

revela de maneira imediata, como é razão processual, manifesta-se à medida que a idéia se

faz livre e subjuga a exterioridade.


45

3.3 O MOVIMENTO DE DISTINÇÃO INTERNA DO ESPÍRITO

O espírito, pelo processo de efetivação racional, se faz autoconsciente, torna-se

idéia efetiva, a qual se compreende ao suprassumir a contradição do espírito finito,

enquanto natureza, e a idéia simples abstrata imanente ao externo. O momento em que o

espírito se apropria desta diferenciação, destes graus em que se manifesta, também se

apropria desta contradição. O espírito é em sua natureza algo vivo, pois, suporta em seu

interior a contradição de suas diferenciações e as organiza em uma unidade.

A representação das distinções internas ao espírito – que é o conceito – pode ser

encontrada, como cita Hegel, na própria compreensão de Deus. Se pensarmos o absoluto

tal como Deus na doutrina da santíssima trindade, temos então um claro exemplo de como

estas mesmas relações de distinção aparecem no espírito. Em um primeiro momento, como

idéia, há no espírito apenas uma unidade consigo mesmo, ao diferenciar-se de-si-mesmo, o

espírito põe sua alteridade, produz o Outro de si “e só chega a si mesmo mediante esse

Outro, e mediante sua suprassunção que conserva esse Outro, e não mediante o seu

abandono” (ECF, §381). Hegel com isso, tenta deixar mais claro que o espírito apesar de

ser um universal simples não é um todo em repouso, antes é movimento de distinção

interna e de suprassunção na unidade efetiva do conceito. Pela representação religiosa esta

noção fica mais clara, pois:

como é bem sabido, a teologia exprime esse processo no modo da


representação, [dizendo] que Deus-Pai (o Universal simples, o essente-
em-si), renunciando à sua solidão, cria a natureza (o exterior a si
mesmo, o essente-fora-de-si), gera um Filho (seu outro Eu); mas esse
Outro, em virtude de seu amor infinito, contempla-se a si mesmo, aí
reconhece sua imagem, e nele retorna à unidade consigo mesmo.
[Essa] unidade, não mais abstrata, imediata, e sim concreta,
mediatizada pela diferença, é o Espírito Santo, que procede do Pai e do
Filho e na comunidade cristã alcança sua perfeita efetividade e
verdade. É com esse espírito que Deus deve ser conhecido, se deve ser
compreendido em sua verdade absoluta, se [deve ser compreendido]
como Idéia efetiva essente em si e para si, e não – ou somente – na
forma do simples conceito, do ser-dentro-de-si abstrato, ou na forma
46

também não-verdadeira de uma efetividade singular não conforme


com a universalidade do conceito, mas (antes) na plena concordância
de seu conceito e de sua efetividade (ECF, §381).

Para Hegel, esta compreensão do movimento de distinção interna ao espírito é

tarefa da filosofia, pois, ao tratar de cada momento de exposição do conceito, compreende-

se também a manifestação progressiva da verdade. Nesta doutrina, a verdade não se faz

exposta de maneira de todo imediata, não é advinda de uma relação simples de

correspondência como acreditava aqueles que se orientavam pela noção aristotélica da

verdade. A verdade é uma totalidade de momentos distintos entre si, apenas enquanto

exposição, mas em sua unidade há uma relação de acordo entre o conceito e sua

efetividade, há um reconhecimento de todos os momentos de efetivação da verdade do

espírito. Nesta relação, o espírito se fez novamente um todo indistinto de si, reconhece que

ele é razão que se manifesta em um movimento mediatizado pela apropriação daquilo que

se punha como o seu outro.

A revelação da verdade absoluta do espírito e o seu movimento de distinção

interna são as características do processo de mediação racional, os quais se identificam

com os momentos de exposição do conceito. A verdade não se revela de forma acabada em

uma intuição abstrata, ela é revelada somente pela mediação do movimento interno de

distinção conceitual e pela compreensão do espírito de sua essência na alteridade. Mas esta

verdade não é apenas um resultado final do processo, antes ela também já encontra-se

pressuposta em todos os momentos de exposição do conceito, mesmo na idéia lógica

simples, na alteridade configurada como natureza e no seu momento mais sublime, qual

seja, na elevação para à interioridade para-si essente do espírito.


47

3.4 A PASSAGEM DA NATUREZA PARA O ESPÍRITO

O espírito ao se fazer enquanto verdade suprassume o seu ser-Outro e, ao elevar-

se como consciência-de-si em sua idealidade conceitual, compreende a própria substância

universal, a razão. Mas isto só se torna possível pela suprassunção em relação à natureza,

pela vitória sobre a exterioridade: o espírito se faz livre ao liberta-se do julgo do natural e

ao configurá-lo conforme sua determinidade.

No espírito finito que teve de ser negado em sua imediatidade, a fim de produzir

na universalidade a determinidade própria do espírito. Por este processo “o espírito nega a

exterioridade da natureza, assimila a si a natureza, e por isso a idealiza” (ECF, §381). A

natureza é a forma consumada que a idéia atingiu em sua necessidade e por isso as relações

naturais são determinadas em seus elementos “fora-um-do-outro”, fora de toda

interioridade para si essente, e por estar também fora dela encontra-se apartada de um

centro de determinação concreta ideal. Reside nisto a contradição (entre a idealidade livre

do espírito e a necessidade exterior) em que a natureza se mantém. Porém, apesar desta

necessidade que impera na natureza através da atividade espiritual do conhecimento, o

espírito efetiva-se enquanto racionalidade livre configura para si sua alteridade (a

natureza), ao fazê-lo a liberta pela negação da imediatidade, idealizando-a conforme sua

determinidade.

É que o pensar filosófico reconhece que a natureza não é simplesmente


idealizada por nós; que o seu “fora-um-do-outro” não é algo
totalmente insuperável para ela mesmo, para seu conceito, mas que a
idéia eterna imanente à natureza, ou – que é o mesmo – o espírito
essente em si, trabalhando no seu interior, efetua ela mesma a
idealização, a suprassunção do “fora-um-do-outro”, por que essa forma
de seu ser-aí está em contradição com a interioridade de sua essência
(ECF, §381).
48

Como foi visto, a vitória sobre a exterioridade começou desde o surgimento da

simples subjetividade vegetal, até a mais elevada forma de subjetividade que chegou ao

organismo animal. Neste último, um grau de determinidade se fez mais avançado e daí

iniciou-se “uma vitória ainda mais completa sobre a exterioridade” (ECF, §381). No

animal, diferente do vegetal, houve o surgimento da sensação, de uma subjetividade

essente que capta as impressões externas para uma interioridade. A sensação foi um

primeiro momento de libertação do espírito diante da natureza, antes de chegar ao mais

determinado momento de superação do natural singular.

Essa passagem da necessidade para a liberdade não é uma


passagem simples, mas uma gradação de muitos momentos, cuja
exposição a filosofia da natureza constitui. No grau mais alto
dessa suprassunção do “fora-um-do-outro” – na sensação – o
espírito essente em si, aprisionado na natureza, chega ao começo
do ser-para-si e assim, à liberdade. (ECF, §381).

O grande momento do elevar-se do espírito em relação à natureza, não foi

somente a sensação, efetivamente esta superação ocorreu pelo surgimento da egoidade, do

Eu, desta abstração de todo singular e de todo imediato. Na egoidade o espírito se faz livre

do julgo natural, pois, não há nada na natureza que seja correspondente a esta estrutura

universal simples e singular – o Eu – que é substância para si essente.

Até chegar a seu momento mais sublime de efetivação, o espírito teve que passar

pela natureza, afinal ela é o momento mais próximo para chegar ao ser em-si e para-si. Não

se deve pensar a natureza como algo totalmente incontornável, em relação a qual o espírito

surgiria somente enquanto sua pura negação. O espírito é, antes, o princípio absolutamente

primeiro e já põe a natureza, ela é condição necessária para o próprio agir negativo do

espírito ao assimilá-la em seu interior. Assimilar é incorporar o negativo, o outro, aquilo

que se põe contraposto a sua determinidade. O espírito produz sua alteridade, para

diferenciar-se daquilo que se apresenta como necessário e para diferenciar, também, sua
49

própria identidade abstrata enquanto idéia puramente simples. O espírito suprassume em

sua idealidade estes dois momentos e se faz, mediante eles, essência autoprodutora.

O espírito essente em si e para si não é o simples resultado da


natureza, senão, na verdade, seu próprio resultado: a si mesmo produz,
das pressuposições que para si mesmo faz – da idéia lógica e da
natureza externa, e é a verdade tanto de uma como de outra; quer
dizer, a verdadeira figura do espírito essente só em si, e do espírito
essente só fora de si. A aparência de que o espírito seria mediatizado
por um outro é suprassumida pelo espírito mesmo; pois ele tem a
soberana ingratidão – por assim dizer – de suprassumir aquilo pelo
qual parece mediatizado, de mediatizá-lo, de rebaixá-lo para algo que
só subsiste por ele; e de se fazer, dessa maneira, perfeitamente
autônomo (ECF, §381).

Como o espírito é este princípio primeiro e pressuposto de todas as suas

determinações, então a passagem da natureza ao espírito é, antes, o vir-a-ser de si mesmo.

Não há nada em contraposição ao espírito que não seja ele mesmo, que anteriormente já

não esteja contido no seu conceito. A idéia lógica e a natureza, são momentos que

precedem ao surgimento da autoconsciência espiritual, da (re)apropriação para sua

interioridade daquilo que antes foi cindido de si. Porém, ainda que nesta passagem a

natureza preserve sua distinção em relação ao espírito, “porque o espírito não surge da

natureza de uma maneira natural.” (ECF, §381), é necessário que haja esta distinção, para

que possa haver uma delimitação dos momentos de exposição do conceito daquilo que é do

âmbito do natural e do espiritual. A natureza ao ser mediatizada pela atividade do espírito

ascende a universalidade, mas em sua estrutura própria:

a natureza como tal não chega, na sua auto-interiorização, a esse ser-


para-si, à consciência dela mesma: o animal, a forma mais acabada
dessa interiorização, só apresenta a dialética – carente-de-espírito – do
passar de uma sensação singular, que enche toda a sua alma, para outra
sensação singular, que também nele domina exclusivamente. Só o
homem se eleva, por cima da singularização da sensação, à
universalidade do pensamento, ao saber de si mesmo, ao compreender
de sua subjetividade, de seu Eu; em uma palavra, só o homem é o
espírito pensante, e por isso – e, na verdade, só por isso – é
essencialmente diferente da natureza. O que pertence à natureza, como
tal, fica atrás do espírito; ele tem, certamente, em si mesmo o conteúdo
50

total da natureza; porém as determinações naturais são, no espírito, de


uma maneira totalmente outra do que são na natureza externa. (ECF, §
381).

A vitória do espírito sobre a natureza na superação da simples sensação singular

imediata se dá pelo surgimento da racionalidade para si essente que se manifesta na

natureza humana. No homem, tanto o natural quanto o espiritual se fazem presentes, mas

como ser vivo suporta esta contradição, pois ele é a representação mais sublime do espírito

absoluto enquanto efetividade em-si e para-si essente. Na consciência-de-eu do homem

houve a superação de todo singular imediato natural, mesmo que em sua constituição

corpórea haja todas as relações dos elementos da natureza, o homem não se prende a elas e

volta-se para a idealidade do pensamento do espírito. O homem é o próprio agir pensante

do espírito e realiza a racionalidade ao superar o natural. No homem se apresenta a

passagem da natureza para o espírito. O homem é um elemento de mediação entre a

idealidade do espírito e sua representação imanente configurada como natureza. Neste

sentido é que o homem se faz a “imagem e semelhança” do absoluto, que suporta em seu

interior a contradição e faz de si algo vivo, orgânico e sistemático.


51

CONCLUSÃO

Toda a discussão tratada até aqui procurou expor o desenvolvimento efetivo do

espírito é, na verdade, uma vitória galgada sobre a exterioridade. Sendo a natureza a forma

mais consumada que a ideia veio a ser. A natureza se configura como este momento de

necessário desenvolvimento da idéia simples, que manifesta exclusivamente em suas

relações elementares a necessidade imperante na exterioridade. Mas a natureza não é algo

totalmente inerte, dormente e apartada da racionalidade, ela é também movimento, pois

nela há a ação do espírito clamando por romper este invólucro exterior que o aprisiona.

A elevação ao espírito mediante a superação do natural ocorre inicialmente pelo

surgimento da subjetividade, seja ela simples como no vegetal, seja ela mais ricamente

desenvolvida a exemplo da subjetividade animal. Na subjetividade há um princípio de

organização das partes, ou melhor, das suas diferenciações internas e também há a

incorporação da alteridade. No sujeito vivo, no caso da planta ou do animal, há um reflexo

do mesmo movimento que há no desenvolvimento espiritual, pois, a natureza da vida não

se encontra determinada pela exterioridade em que os elementos são condicionados por

relações do fora-um-do-outro da natureza. A vida não é atributo do imediato, do material,

do ser posto fora-de-si, ela é atributo da idealidade do espírito, da sua unidade concreta e

somente por ela pode ser compreendida. Mesmo que o sujeito vegetal ou animal

manifestem as determinações efetivas do espírito, estes momentos ainda não comungam de

uma subjetividade para-si essente, ou seja, não possuem consciência. A vitória completa

sobre a exterioridade ocorre no momento do advento da verdadeira subjetividade, na

egoidade. O Eu é esta estrutura subjetiva que rompe com o imediato singular, eleva-se ao

nível da simples concretude e da idealidade universal. Nesta subjetividade a consciência-

de-si do espírito se manifesta, compreende que não pode se reconhecer mediante esta
52

figura externamente configurada, por esta representação alienada de sua racionalidade, da

finitude das relações naturais. Pelo surgimento do Eu – esta estrutura que superou toda

imediatidade em uma universalidade concreta – compreende agora que é ser-vivo, que

carrega em si todos os demais momentos de exposição efetiva do espírito e realiza a mais

sublime determinação espiritual, a liberdade, pois ao romper com as fixas determinações

da exterioridade, ele se volta para a idealidade.

À medida que o espírito segue em seu processo de efetivação, reconduz a

exterioridade para sua determinidade interna. Este é o momento em que claramente

podemos dizer que há uma interioridade, uma interioridade para-si essente e consciente de

todos os demais momentos assumidos em sua exposição. Esta recondução à idealidade

interna do espírito é, ao mesmo tempo, seu manifestar-se, sua revelação efetiva é a

transfiguração da natureza conforme seu conteúdo:

essa determinação pertence ao espírito enquanto tal: por isso vale dele
não apenas na medida em que ele se relaciona simplesmente consigo,
em que é um Eu tendo a si mesmo por objeto, mas também na medida
em que sai de sua universalidade abstrata essente para si, em que põe
para si mesmo uma diferenciação determinada, um Outro que ele;
porque o espírito não se perde nesse Outro, mas antes nele se conserva
e se efetiva; ali estampa seu interior, faz do Outro um ser-aí que lhe
corresponda: chega assim, portanto, por essa suprassunção do Outro,
da diferença efetiva, determinada, ao ser-para-si concreto, ao
“automanifestar-se” determinado. O espírito, portanto, no Outro só
revela a si mesmo, sua própria natureza; esta porém consiste na
automanifestação. O “automanifestar-se” é, por isso, ele mesmo o
conteúdo do espírito, e não, por assim dizer, somente uma forma
acrescentando-se externamente ao seu conteúdo (ECF, §383).

A natureza, uma vez contaminada pelo espírito, transfigurada conforme sua

determinação, assume um novo momento de perfeita harmonia entre a manifestação

espiritual e ser manifestado. Nisto o conteúdo do espírito tomou para si a sua forma

exteriorizada, pois “forma e conteúdo são assim, no espírito, idênticos entre si” (ECF,

§383). A forma, esta representação carente de conteúdo que é manifestada por esta
53

representação externa, é superada e abarcada pelo conteúdo espiritual que possui em-si e

para-si sua própria determinidade. Esta unidade lógico-ontológica sintetiza no conceito a

verdade como a absoluta unidade do espírito com a natureza. Ainda que não se possa

pensar necessariamente a natureza como esta forma vazia, pois, nela já se encontra

imanente a idéia que veio a ser em seu desenvolvimento a sua forma consumada de

efetivação. Porém, somente no espírito que carrega em seu interior todos os demais

momentos de autodiferenciação, é que pode-se dizer que é o momento da verdadeira

interioridade para-si essente e que tem em seu conteúdo próprio a mais elevada

determinação do conceito.

Esta unidade absoluta de forma e conteúdo assume a mesma relação de unidade

entre a exterioridade e o conceito, logo, entre espírito e natureza. A natureza, enquanto este

momento outro de manifestação do espírito é, em relação ao mesmo é sua condição para a

elevação, pois o lócus que a natureza assume enquanto momento de exposição da razão é,

portanto, a condição necessária, porém, ainda não suficiente, para o reconhecimento e

retorno à absoluta unidade ideal do ser em-si e para-si essente. Por esta razão, Hegel não

compreende a natureza como esta representação fenomênica do ser-aí passivo e imediato,

mas oferece-lhe um status lógico-ontológico dentro do sistema que se propõe a explicar o

porquê da necessária forma consumada que a idéia simples atinge na exterioridade. A

liberdade concreta do espírito, que só será alcançada pela absoluta negatividade de sua

própria exterioridade, abstrai de toda representação do espírito finito e, portanto, é

imprescindível para a liberdade este momento de necessidade imediata, como o oposto a

ser negado, ou melhor, a ser suprassumido por esta negatividade que conserva a unidade

dialética de oposição dos contrários. Por isso, a natureza é o momento anterior e o mais

próximo ao espírito: a) é anterior mediante a exposição do momento de consumação da

forma efetiva que a ideia veio a ser necessária, imediata e exteriorizada; b) é mais próxima
54

por antecipar na efetividade atributos que só no espírito irão aparecer como a vida, a

organicidade e a assimilação da alteridade.

Neste processo de libertação do julgo natural o espírito mediatiza o externo

dando-lhe movimento. Pela ação mediativa do espírito a natureza em seu momento de

passividade, agora se torna processo vivo de superação da relação de alienação do ser-fora-

de-si. A espiritualização da natureza é ao mesmo tempo a sua libertação, para este vir a ser

livre o espírito pode agir na natureza e reconduzi-la enquanto momento de alteridade para a

pura identidade consigo mesmo, pela superação da diferença e da oposição em uma

unidade ideal e universal. Nesta, espírito e natureza não se compreendem mais enquanto

dois momentos distintos de exposição do conceito, pois este sintetiza tais momentos em

sua unidade absoluta ao elevar para-si a forma manifesta da idéia e o conteúdo ideal do

espírito.

É neste sentido que a filosofia do espírito de Hegel também pode ser

compreendida como uma filosofia da liberdade, da efetivação livre que a racionalidade

atinge ao superar a objetividade imediata. A relação entre espírito e natureza, é entendida

como a relação que expõe os momentos para a efetivação da liberdade pela suprassunção

da exterioridade. A filosofia da natureza já mostra, que em seu desdobramento a atividade

espiritual de vencer a forma externa da idéia. É por este processo que compreendemos o

verdadeiro significado de natureza para Hegel, ao entendê-la como o momento que deve

ser superado, isto é, espiritualizado pela revelação da verdade, a qual reside na

suprassunção da manifestação do espírito e do ser manifesto, na adequação e unidade da

forma com o conteúdo e da efetividade com seu conceito. Na revelação da verdade

absoluta o espírito torna-se livre, compreende a si mesmo como a essência da realidade e

supera por final sua forma alienada.


55

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LACROIX, Alain. Hegel la philosophie de la nature. 1ª ed. Paris : Presses Universitaires


de France, 1997.

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