Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
JUAZEIRO DO NORTE
2010
2
Juazeiro do Norte
2010
3
________________________________________________________
Prof. Patrick de Oliveira Almeida
Universidade Federal do Ceará
Orientador
_______________________________________________________
Prof. Alexandre de Moura Barbosa
Universidade Federal do Ceará
1° Examinador
_____________________________________________________
Prof. Francisco José da Silva
Universidade Federal do Ceará
2° Examinador
4
AGRADECIMENTOS
Goethe
7
RESUMO
ABSTRACT
The purpose this present work centralize in the Hegel’s Encyclopedia of Philosophical
Science and to aim approach the relation between the two effective concept exposition
moments, at first in your presentation like consummated Idea effectuation, the Nature, and
after like your most sublime manifestation, the Spirit. The problematic spears in this work
intend to show how the spirit in essential the freedom is, in they rational effective process
search to break the necessary configuration of Idea in exteriority. This necessity surmount
which reign in the nature is the claim of spiritual movement in a gradate process and
meditated, therefore, I intend to expose the gradual victory spirit moments under the
exteriority and how his operates in the nature, since the first surpass impulse of this
exterior till the most elevation concretely form which him assume like self-consciousness.
This discussion is mediated for the aim question to understand how the freedom
(substantial spirit attribute) surmount the necessity immanent to nature.
LISTA DE ABREVIATURAS
Ciência da Lógica – CL
Filosofia da Natureza – FN
Fenomenologia do Espírito – FE
Filosofia do Direito – FD
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 11
CONCLUSÃO............................................................................................................ 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 55
11
INTRODUÇÃO
Bernard Bourgeois
ocidental, constituindo-se uma das análises filosóficas mais complexas e profundas acerca
Pai Parmênides1, ao postular a mesma unidade ideal entre “Ser, Pensar e Dizer”.
filosofia. Começando pela Ciência da Lógica, que trata da Idéia, do momento em que o
espírito assume uma forma ideal, abstrata e de identidade simples, mas que contém cada
diferenciação própria da realidade. Enquanto Idéia abstrata, a sua realidade é uma pura
identidade consigo mesmo, sua concretude é somente em-si, não posta, ela ainda não veio
a ser movimento mediatizado, pois, não pôs o oposto a si como sua diferença que possa ser
alteridade. A Idéia vista somente no seu aspecto em-si, encontra-se em repouso, mas ao se
1
Em referência ao Sofista de Platão.
12
ser-Outro oposto a sua identidade, ela produz, portanto, sua própria diferença, o que
finitização. A Filosofia da Natureza é a parte do sistema que trata deste momento em que a
razão veio a ser fora-de-si. A liberdade antes pressuposta na livre idealidade é apenas a
pura abstração que o espírito manifesta junto a Idéia, agora desvanece, pois, como negação
configura. A natureza é produto da negação de si da Idéia, mas não consegue superar esta
negação, é uma essência que contrapõe a si mesma sem resultar daí uma verdadeira
unidade universal e, por isso, é uma essência que se perde na infinita particularização. A
contradição recai sobre a natureza, mas a razão, pois que neste momento abandona a
unidade ideal não suporta esta contradição. A natureza é, para Hegel, a “contradição não
diferente, a negação da Idéia, é em relação ao espírito (como Idéia), seu ser-Outro. Porém,
a ação do espírito que se faz para-si essente, abarca para o seu conteúdo, aquilo que se
negação (negação absoluta), pois, ao suprassumir, ao elevar para sua idealidade este ser-
Outro, ele transfigura esta alteridade conforme sua própria determinidade ideal. Para o
espírito que enquanto Idéia possui a identidade pura consigo mesmo (pois nesta relação à
que o ser torna-se para-si, expõe a racionalidade presente em cada momento que partiu
desde a simples relação de identidade enquanto Idéia, passando por sua diferenciação e os
graus que ela assume na exterioridade, até a recondução dessa exterioridade para a
contradição, a natureza que foi suprassumida, foi então espiritualizada, aquilo que antes se
mostra como Outro, agora é uma diferença incorporada pela identidade, contaminada pela
idealidade. É por este conjunto de idéias que este trabalho irá se focar, partindo desde o
partir disto, mostra que o processo de efetivação racional é uma atividade que visa o
recondução para uma interioridade essente que compreende a si mesmo como fundamento
que este processo é possibilitado pela livre atividade do espírito, quer dizer, a liberdade já é
efetiva, torna real esta determinidade contida no interior da Idéia que se torna mediatizada
pois o espírito não logra sua vitória contra a natureza de forma instantânea, antes é um
determinidade. Quero apontar os momentos que Hegel expõe o início dessa vitória sobre a
individualidade subjetiva vai engendrando. Desde o simples sujeito vegetal que já possui o
si, consegue manter esta mesma subjetividade ao replicar-se. Mas no sujeito animal há o
grande avanço sobre a exterioridade, nele o ser não tem somente o impulso de expandir-se
de um cento para as bordas, mas tem a condição de captar impressões e comunicá-las para
um centro sensorial, neste ser que constitui um começo de um ser para-si, há uma unidade
subjetiva mais completa e complexa. No animal além do impulso, tem também o instinto
a contradição da natureza.
No terceiro e último capítulo desde trabalho, viso enquadrá-lo como síntese dos
primeira superação efetiva do julgo do natural. Nesta egoidade, há portanto, uma abstração
de toda condição singular imediata em uma unidade simples e concreta, atributo essencial
consciente-de-si o espírito procura reconduzir para sua interioridade o que antes era oposta
a sua unidade ideal. Porém, nesta unidade não é uma totalidade sem diferenciações, mas as
espírito.
16
Hegel nos aponta em que consiste o espírito e o fundamento de sua atividade racional. Este
é o desafio e a dificuldade encontrada pela verdadeira ciência, que tem por tarefa tratar da
mais concreta e desenvolvida forma que a idéia lógica atinge, a saber, o espírito e,
configuração assumida pelo espírito, desde a mais abstrata até a mais concreta.
ser-Outro oposto a ele, mas para este assimilar da alteridade deve ser pressuposto que haja
algo em comum, uma identidade mediada pela diferença. A doutrina dialética hegeliana
admite a diferença na identidade, em uma contradição ainda não resolvida, pois, o que são
2
Inscrição do oracular délfica, “gnwçq´/ i sauto,n“.””.
17
ele, ao ter por determinidade própria a unidade ideal do ser para si essente, assimila o
percurso o espírito reconhecerá que é produto dele este objeto exteriorizado e, pela
por essa mediação racional o objeto será mais determinado, pois a atividade posta pelo
reconhecer que por sua própria potência interna de se tornar consciente deste processo de
espírito, o autoconhecimento.
No primeiro degrau de exposição dos momentos que o espírito assume, ele possui
a simples configuração enquanto pura identidade consigo mesmo, logo como idéia (Idee).
18
Pela idéia, o espírito visa à efetivação deste momento em um realizar-se para fora-de-si a
momento de exposição do espírito posto em uma relação alienada, pois, este outro é
apartado da pura identidade que o espírito assumiu anteriormente. Porém, não é um ser
neste imediato ainda não tem para si a verdade, ainda não reconheceu neste ser outro que
momentos do desenvolvimento da idéia, desde sua figura exterior necessária até o grau
mais sublime que ela atinge enquanto conceito. Neste movimento dialético de superação da
alteridade, a idéia assume sua configuração como espírito vivo, que assimila para si o seu
oposto e suprassume esta contradição. A idéia é este primeiro termo da contradição que
põe em perfeita unidade consigo mesma sua própria determinidade e, por sua negação,
possibilidade, o imediato apenas representa o quê a Idéia veio a ser ao se fazer a necessária
própria de seu conteúdo interno e não apela para algo fora de si. A realidade, no entanto,
Deve-se notar que realidade e efetividade têm, para Hegel, sentidos distintos,
configura, no ser-aí, pois a forma particular como ela veio a ser para a efetividade, apenas
A filosofia do real de Hegel, em última análise, procura entender o porquê – e não o como
forma consumada que a idéia simples atinge, ao esclarecer que há uma racionalidade
do Direito, Hegel aponta que: “o que é racional é efetivo e o que é efetivo é racional” (Was
20
vernünftig ist, das ist wirklich; und was wirklich ist, das ist vernünftig)3. Com isso, a idéia
– a razão – está intrinsecamente ligada à realidade, aquilo que se apresenta como efetivo,
portanto, não é uma produção meramente subjetiva, no sentido de ser fruto de uma
divagação arbitrária e nem apartada dos objetos, ela é componente do real, é sua condição
assumindo.
sua determinação interior já antecipa certos momentos que a natureza efetivará. Em sua
espírito também se faz vivo e orgânico. Estas duas determinidades não são atributos do
imediato singular que a representação do ser assume em-si, elas estão anteriormente
desdobramentos que a idéia vai assumindo. A vida é um o processo que realiza o interior
de si mesmo, tudo aquilo que o ser-vivo efetiva já está pressuposto em sua constituição
ideal, no organismo. Há, também, a mesma pressuposição racional no organismo, pois suas
diferenciações são suprassumidas em uma unidade interna que ordena cada parte em uma
racionalidade, constitui com estes mesmo atributos que estão no interior do começo desta
3
HEGEL. Princípios da Filosofia do Direito: Prefácio. Tradução de Orlando Vitorino. Ed. Martins Fontes.
pg. 36. São Paulo, 2003.
21
A idéia é o primeiro dos diferentes momentos que o espírito assume e que será
processo pelo qual o espírito irá avançar, partindo de uma idealidade que engendra em seu
interior todas as configurações do externo imediato, porém, sem ainda ter sido efetivada e
consciência. Na idéia o espírito ainda não tem consciência-de-si, que só será lograda ao
abstrata constitui o ser externo imediato. Esta diferenciação é sua alteridade efetivamente
a representação exteriorizada que é a natureza. Pelo fato da natureza ser oposta a toda
que falta uma unidade interna do ser, devido à natureza ser externa a esta unidade é,
portanto, externa a si mesma e ocorre “que todo natural está fora-um-do-outro” (ECF,
§381), sem esta unidade, a determinação ideal do espírito se dissolve na diversidade das
esta relação que foge da unidade ideal, portanto, é representada em uma infinita
uns em relação aos outros, na medida em que não são dispostos para uma determinidade
central. Porém, a mesma matéria visa sua própria aniquilação, pois aniquilar-se é neste
caso partir para uma centralidade que cessa a aparente autonomia dos elementos que a
poderá ser dada pela unidade universal do conceito, enquanto isto não ocorre, os elementos
ser está cindido da determinidade mais sublime do espírito, a liberdade. O espírito por “ser-
nada, não obstante as suas determinações e potências internas. A idéia põe em sua
Outro aquilo que é ela mesma. A alteridade é a contradição que deverá ser resolvida, pois a
conceito do espírito – é o que temos chamado sua idealidade” (ECF, §381), ao suprassumir
de negação, a exterioridade é assimilada e transfigurada pela idéia, que vem a ser espírito,
negação deste elemento exterior do ser fora-de-si que a liberdade efetiva-se, ela é uma
potência interna ao espírito, enquanto na natureza só reina o externo, pois, “ela não é
interioridade, essente em si e para si, que constitui a essência do espírito, ela, justamente
atividade espiritual, pois antes a própria liberdade (ainda abstrata) que já estava contida na
pura identidade da idéia simples, agora assume sua configuração efetiva e concreta.
totalmente distinta ao espírito, pois este exterior é somente um momento a fim de ser
consistirão, doravante, nestes degraus que deverão ser vencidos para a auto-revelação da
verdade do conceito. Porém, esta vitória não será conseguida na aniquilação da natureza,
chega à efetividade pela fuga perante o Outro, mas pela vitória sobre ele” (ECF, §382).
25
atividade do espírito, em seu momento de necessidade, não como algo totalmente apartado
dele, pois assim “como o espírito, também a natureza externa é racional, divina, é uma
exposição da idéia” (ECF, § 381). Além disso, Hegel define a natureza dentro do sistema,
enquanto não for reconduzida ao interior do conceito, ao ser suprassumida, nela o ser fora-
de-si será apenas o momento oposto à idéia, portanto, oposto a toda interioridade para-si
essente.
o elemento mais concreto que ela assume enquanto subjetividade sensitiva, no organismo
animal. Em cada um destes graus demonstra a vitória galgada pelo espírito sobre a
natureza racional ela é também viva, orgânica e sistemática, porém, ainda presa pelas
espírito.
26
momentos que o ser em-si imediato se configura enquanto forma consumada da simples
uma unidade no sentido da relação das partes com um todo coeso ou centro concreto de
impulsos externos, fora de um centro para si essente, com isso, não possuem movimento
externo4.
cada um mais concreto em relação ao outro. Já nos seres inorgânicos, a contradição não é
4
Como será visto mais adiante o exemplo do sujeito vegetal.
27
por eles assimilada, não há um processo de assimilação do outro e, estes enquanto seres
externos imediatos sempre são movidos por algo também exterior. Nos seres inorgânicos
não há vida, pois não há, para esta individualidade em-si, a solução da contradição da
central, é um todo coeso que abarca em si cada auto-diferenciação do ser. Porém, este todo
não é meramente a soma de todas as partes, vai mais além, pois em cada parte é uma
réplica desta totalidade, há, portanto, no organismo vivo uma perfeita subordinação da
diferença (das partes) em uma identidade concreta. A mão, por exemplo, apartada do corpo
é desprovida de importância, de sentido, já o corpo sem esta parte decai sobre a carência de
algo de si e por mais que se mantenha, as demais partes tentarão suprir esta falta.
em relação aos demais, se encontra em mútua dependência com os demais fins que
finalidade específica a ser desenvolvida. Assim como em uma orquestra em que as notas,
enquanto partes de um Todo harmônico, devem ter sua duração, tonalidade e afinação,
também é manifesto esta relação no organismo vivo, em que cada órgão em consonância
2.2.1 vida
se dá pela incorporação do outro, ao assimilar este estranho a si, ele suporta a contradição.
No organismo as partes que o compõe possuem uma unidade, uma centralidade, não são
28
amônia, nitrogênio, hidrogênio e o que mais houver, além disto, há uma unidade destas
partes. O ser vivo pressupõe tanto a incorporação quanto a aniquilação do outro de si: a) É
incorporar na medida em que as partes que o compõe são ao mesmo tempo seu Outro, os
assimilação das diversas partes em uma unidade subjetiva completa, que toma para si sua
vivo, sua unidade interna assimila o seu diferente, pois “a vida é onde o interior e o
exterior, causa e efeito, fim e meio, subjetividade e objetividade etc., [tudo isso] é uma a
mesma coisa” (ECF, § 337). O fato de, ao mesmo tempo, ter uma figura exterior imediata e
uma unidade interior cria na criatura viva uma tensão, a vida passa a ser a superação
A vida não pode ser compreendida somente pelo seu aspecto fenomênico, não é
este exterior manifesto, antes ela é movimento de determinação racional, é também espírito
externo não percebem que a contradição do ser natural a solução é insolúvel. A vida,
enquanto conceito é também idealidade e põe para si seu ser outro “visto que a vida, como
idéia, é o movimento de si mesma, pelo qual somente e enfim se faz sujeito, então a vida
faz de si mesma seu outro, a contrajogada de si própria; ela se dá a forma de ser como
1.1 A Teleologia
O movimento vital não é um desordenado vir-a-ser, ele tem para si uma relação
organismo vivo. Cada parte tem seu propósito, como todo orgânico é também atividade
postular que nestes há uma dependência para com outro ser externo imediato. Neste caso, o
fim posto no objeto é um impulso fora-de-si, determinado por um agente estranho. Por essa
encontra imanente, assim, a pressuposição dos seus fins de sua atividade encontra-se não
em si, mas de algo externo. Então, ainda que efetivem seu fim, o ser natural será alienado
organismo como contendo sua própria finalidade. Devido à interioridade central do ser
vivo ser a produtora do desenvolvimento de suas partes, como uma potência interna ao
30
externo5.
potência de por para si seu fim é imanente ao objeto, isso não significa que per se o objeto
possa desenvolver-se sem uma determinidade pressuposta no seu interior, mas esta
5
Segundo Michale Inwood estas características da teleologia em Hegel diferem das concepções mecanicistas
que aponta para uma determinação da finalidade como algo externo. Para Inwood, há o que ele chama de
uma “teleologia interna”, ou como ele aponta: “em teleologia interna, pelo contrário. (a) O propósito é
imanente no objeto. (b) O objeto em que o propósito é realizado não é, portanto, pressuposto, e funciona,
primordialmente, do começo ao fim, segundo princípios teleológicos, regidos por seu propósito. (Mas até
mesmo um sistema internamente teleológico pressupõe um ambiente mecânico e quimicamente ordenado
ao seu redor). (c) Não está envolvida nenhuma intervenção ou manipulação externa. (d) O propósito
cumprido pelo objeto é ele mesmo e suas próprias atividades.” (INWOOD, Michael. Dicionário Hegel.
Tradução de Álvaro Cabral. Jorge Zahar Editor. p. 216. Rio de Janeiro. 1999).
31
configuração de um ser para-si-essente, porém, que ainda não superou em seu organismo o
ser em-si. Este sujeito orgânico, a planta, já manifesta o impulso (Trieb) vital de
desdobramento nas suas partes ao produzir-se a si mesmo em cada uma delas. Não é
de si mesmo, há uma identidade entre sua unidade interna e cada momento diferenciado
em relação a ela, pois, esta unidade diferenciando-se a si mesma (eine sich selbst
unterscheidende) configura em cada parte sua subjetividade. Não há para a planta uma
relação que ponha uma alteridade completa em suas particularidades, “o que ela põe como
outro não é verdadeiramente nenhum outro, mas o mesmo indivíduo como sujeito” (ECF, §
343), nela “cada parte é a planta inteira, uma repetição dela; os membros, pois, não são
mantidos em uma perfeita submissão à unidade do sujeito” (ECF, § 381). Contudo, nesta
última passagem, Hegel aponta para a imperfeita submissão que as partes (ou os membros)
unidade que ele produz na sua diferenciação. Nesta unidade não há uma assimilação
membros da planta, tanto o caule, o galho, as folhas ou a raiz, são, ao mesmo tempo, um
único e mesmo sujeito, cada parte é a replicação da unidade subjetiva do vegetal. Estes
seu diferente é ele mesmo. Na planta, com isso, sua unidade subjetiva coincide com cada
unidade não é somente interior ao sujeito ela é também exterioridade dos membros, assim,
de já possuir, segundo Hegel, o impulso de expandir-se do centro para as bordas, ainda não
sua subjetividade nos diversos membros que o constitui e dos quais se diferencia sem por
nesse processo um ser outro, pois todo diferente de si é na verdade ele mesmo. Para Hegel,
exterioridade, algo que o impulsiona no movimento próprio do ser e que não se subordine
sujeito da planta. O sujeito vegetal é o momento mais baixo de libertação do espírito como
subjetividade, pois ainda não rompeu completamente com o externo ao não assimilá-lo.
Somente com um processo de aniquilação do outro é que este processo poderá galgar um
tem uma alma simples. Nisto o organismo engendra em si um maior grau de determinidade
que o ser vegetal, pois não tem somente a síntese na unidade do sujeito com os membros
que o compõe, mas faz de cada um deles o mesmo de si, é uma unidade subjetiva presente
em cada particular.
ainda não se tornou para si. No animal inicia-se um processo de assimilação do outro, que
tem para ele cada uma de suas partes. Como foi visto, a planta em relação às suas partes
não consegue articular em uma perfeita unidade, ela ainda se perde na exteriorização de
planta apenas replica no seu diferente ela mesma, pois, “cada parte é a planta inteira, uma
alteridade em sua subjetividade, o seu outro, as suas partes que se diferenciam do centro
que o compõe, são perpassadas por esta unidade essente. Em cada membro é manifesto a
universal. Nela há um maior reflexo da atividade racional que assimila em seu interior a
alteridade e se faz manifesto em cada uma de suas partes, ou melhor, em cada momento.
2.4.1 A sensação
constitui sua figura (Gestalt) exterior efetiva, a mesma unidade subjetiva do Si, ou seja,
este exterior singular da figura do animal reflete a mesma universalidade em-si essente da
(Empfindung).
membros, os quais comunicam imediatamente cada impressão ao todo uno, que no animal
começa a vir-a-ser para si” (ECF, § 381). Como no sujeito animal cada membro é
perpassado por esta universalidade subjetiva, ele apresenta uma relação de dentro para
fora, em que há um impulso partindo de sua perfeita interioridade que o determina e não
mais uma relação simplesmente exterior. A natureza animal, neste impulso, revela que
possui uma unidade verdadeiramente subjetiva, uma alma simples (einfache Seele), que
dependente somente desse imediato externo que o constranja, o animal tem além do
diz respeito ao espírito. Mediante a sensação, o sujeito animal é determinado por si mesmo
e, já denota assim uma oposição mais acentuada ao imediato externo. Porém, a natureza
que a subjetividade animal possui, tem para o ser sensitivo uma determinidade que tem em
animal é impelido de um relacionamento com sua própria unidade subjetiva, pois, ainda
externo, do outro, em relação a si e somente desta forma se conserva. Este outro, esta
próprio processo de alimentação do animal, que seu outro – o alimento – é por ele
assimilado (ou aniquilado) para sua conservação como indivíduo, sua conservação recai
em uma contradição com aquilo que é oferecido por uma natureza externa à sua unidade
si. “Para a verdadeira solução dessa contradição é necessário que o Outro, a que o animal
A solução apontada por Hegel para esta contradição revela-se na relação dos sexos
em comunhão com outro do mesmo gênero não sente um estranhamento no outro singular,
do animal tenta conseguir no outro do seu mesmo gênero a sensação de si, nisto o instinto
Por isso, a relação dos sexos é o ponto mais alto da natureza viva: esse
grau ela é retirada, na mais plena medida, da necessidade exterior,
porque as existências diferentes, que se referem uma à outra, não são
mais exteriores uma à outra, mas têm o sentimento de sua unidade.
(ECF, § 381).
essentes, há uma unidade que sente a si mesmo como um único gênero, uma
liberdade ideal. Este universal é singular e imediato, a relação dos gêneros no ato sexual
não é totalmente livre, pois, “o gênero só é para o animal na forma da singularidade” (ECF,
§ 381), nunca para o gênero universal que é o conceito. A natureza animal não efetiva a
liberdade inteiramente, ainda que se conserve na contradição com o externo, ela recai
suprassume esta condição, com isso, não rompe inteiramente com a exterioridade.
37
vivo, a planta, até a mais acabada forma que a natureza finita configura, enquanto exterior
vivo imediato, o animal, cada um destes momentos são degraus até o mais elevado, o
surgimento da verdadeira subjetividade em-si e para-si essente. Ainda que a natureza seja a
manifesta uma relação em “que todo natural está fora-um-do-outro” (ECF, § 381),
consonância com a unidade do todo (em relação às suas partes), a natureza se perde na
exterioridade, não encontra uma determinação que sintetize estes diversos momentos de
sua própria manifestação. Porém, no ser vivo inicia-se a vitória do espírito sobre a
organismo animal” (ECF, § 381). Nele há o advento da verdadeira subjetividade que tem
em-si um princípio essente – a sensação – que organiza cada diferenciação de sua unidade
externas a si e faz com que o animal sinta e assimile, ou aniquile, o outro em proveito de
sua autoconservação.
38
determinação, pois não rompe com a exterioridade. Neste movimento, a natureza aparece
como na constituição corporal do animal. Neste caso o universal não é universal em-si e
para-si. Por conta disto, a natureza “não produz igualmente a universalidade essente em si
própria” (ECF, § 381), isto somente é atributo do espírito em sua atividade racional livre.
Ainda que a natureza produza o gênero (um universal) este gênero recai necessariamente
na singularidade, ela não supera esta contradição. O movimento natural, posto nessa
que rompa este círculo ao reconduzir este exterior à interioridade do espírito, assimilando-
3.1 O ADVENTO DO EU
relação fora-de-si, logo, fora de toda interioridade para-si essente, que constitui a
Nesse afastamento para com sua própria interioridade essente, o espírito pôs
considera esta alienação consumada. Para vencer a natureza, a idéia compreende sua
apartado de Si, vê sua essência pulverizada no mundo natural. Por não reconhecer nesse
externo imediato, faz de todo o seu processo de efetivação racional uma recondução deste
ele se constituiu como realidade ideal simplesmente abstrata, portanto, como idéia. Em um
dois momentos o espírito, visando suprassumir todas estas etapas em sua idealidade, não
mais abstrata, pois abarca em si e configura conforme suas determinações aquilo que é
externo a ele, mediatiza, traz para sua interioridade a alteridade oposta a sua idealidade.
Pela compreensão deste processo, o espírito tornou-se livre e consciente de todo este
conforma uma idealidade mais determinada, concreta. Ele suprassume para o seu interior
aquilo que se manifesta contrário a sua determinação e eleva ao nível do conceito, afinal:
abarca todas as suas diferenças em uma unidade perfeita, ela apenas configura na planta o
centralidade em-si essente, uma unidade dos membros, pois, todas as partes da
singularidade animal é perpassada por essa unidade, dado que esta unidade se faz presente
em todos os membros do animal, ela comunica todas as impressões para a sua própria
Porém, tanto o sujeito vegetal quanto o animal ainda caem na contradição natural, este por
perfeitamente para seu interior sua própria diferenciação. Ainda que nestes momentos da
41
natureza já possamos encontrar uma tentativa de romper com a exterioridade, por se tratar
de uma liberação inicial das fixas determinações da natureza do ser-fora-de-si, do ser sem
ainda impera sobre eles. Romper com este círculo é suprassumir a exterioridade e,
de trazer para sua unidade subjetiva as impressões externas da natureza. Porém, a natureza
o animal não ultrapassa o nível sensorial de sua simples subjetividade. A vitória do espírito
estrutura se fez atributo do subjetivo que se pôs para-si ao se fazer seu próprio objeto. Este
Quando, como nos fala Hegel, – pela palavra – o homem disse “Eu”, ele abstraiu de toda
natural o homem ainda preserva sua animalidade, seu sentimento de si pela sensação na
unidade viva do sujeito, sendo que esta realidade é a condição necessária para o
não se pode pensar o Eu como algo totalmente apartado de um corpo, é preciso entender
constituição imediata e singular. Por conta disso, a consciência-de-si pressupõe que haja
uma distinção entre uma esfera subjetiva interna e uma imediatidade da qual se diferencie.
42
Diferenciar-se é uma atividade negativa, pois este Eu como consciência-de-si não tem sua
sua própria natureza, se fazendo objeto para si mesmo. Enquanto objeto, o Eu suprassume
sua contraposição e acede à perfeita unidade consigo mesmo. Este retorno de sua auto-
aquilo que lhe aparecia como seu lado objetivo. O exemplo que Hegel ilustra, a esse
unidade concreta simples, a matéria, por sua vez, é esta multiformidade dispersa em
imediata e isto significa interiorização, ao trazer para o Si do espírito aquilo que, em outro
que lhe é comum, o mesmo de si, ainda que seja ele o fundamento do externo, não mantém
43
o espírito abarca para si a alteridade, ele a configura dando-lhe unidade, concretude e assim
mesmo tempo, este conhecimento de que é dele a produção do que é manifesto como seu
outro. Ao assumir a forma efetiva da idéia, o espírito vence sua representação finita, seu
ser-aí limitado, e em sua determinidade ideal eleva novamente para junto de si sua
alteridade e, neste momento, não há mais um outro, mas uma identidade perfeita; nela a
contradição que é atributo daquilo que é vivo, portanto, o espírito torna-se também vivo,
pois reporta todas as suas diferenciações a uma unidade concreta, quer dizer, é também
organizado. Neste movimento, o espírito reconduz para sua interioridade o que se encontra
si essente e atinge a consciência-de-si, à medida que vai realizando a forma mais sublime
O espírito em-si e para-si sintetiza o fim dos momentos pelos quais o processo de
razão revela passo a passo a infinita consumação da idéia eterna, portanto, manifesta todos
do-outro. Em um primeiro momento, o espírito finito possui uma unidade imediata com a
imediato. Nisto o espírito finito suporta esta oposição, ele a suprassume ao manter a
unidade com a natureza, pois, nesta unidade “é mediatizada por esta oposição” (ECF,
44
§381). Nesta mediação o espírito finito se compreende enquanto totalidade ideal que se
efetiva ao retornar para si desta oposição com o natural, mas este retornar não é
momento este que conserva uma unidade e uma oposição em relação à natureza. Somente
Pode-se dizer que no espírito absoluto todos os seus momentos anteriores são
interioridade constitui a autoconsciência, na medida em que aquilo que antes era oposto ao
espírito, era apenas um momento distinto dela em sua forma consumada na efetividade.
Não há um exterior em si mesmo e nem um interior por si mesmo, eles são momentos que
só diferem na relação recíproca, mas, para o espírito absoluto, esta diferença está
O espírito absoluto se faz a verdade que abarca para si todos os demais momentos
revela de maneira imediata, como é razão processual, manifesta-se à medida que a idéia se
apropria desta contradição. O espírito é em sua natureza algo vivo, pois, suporta em seu
tal como Deus na doutrina da santíssima trindade, temos então um claro exemplo de como
espírito põe sua alteridade, produz o Outro de si “e só chega a si mesmo mediante esse
Outro, e mediante sua suprassunção que conserva esse Outro, e não mediante o seu
abandono” (ECF, §381). Hegel com isso, tenta deixar mais claro que o espírito apesar de
verdade. A verdade é uma totalidade de momentos distintos entre si, apenas enquanto
exposição, mas em sua unidade há uma relação de acordo entre o conceito e sua
espírito. Nesta relação, o espírito se fez novamente um todo indistinto de si, reconhece que
ele é razão que se manifesta em um movimento mediatizado pela apropriação daquilo que
uma intuição abstrata, ela é revelada somente pela mediação do movimento interno de
distinção conceitual e pela compreensão do espírito de sua essência na alteridade. Mas esta
verdade não é apenas um resultado final do processo, antes ela também já encontra-se
simples, na alteridade configurada como natureza e no seu momento mais sublime, qual
universal, a razão. Mas isto só se torna possível pela suprassunção em relação à natureza,
pela vitória sobre a exterioridade: o espírito se faz livre ao liberta-se do julgo do natural e
No espírito finito que teve de ser negado em sua imediatidade, a fim de produzir
natureza é a forma consumada que a idéia atingiu em sua necessidade e por isso as relações
interioridade para si essente, e por estar também fora dela encontra-se apartada de um
centro de determinação concreta ideal. Reside nisto a contradição (entre a idealidade livre
determinidade.
simples subjetividade vegetal, até a mais elevada forma de subjetividade que chegou ao
organismo animal. Neste último, um grau de determinidade se fez mais avançado e daí
iniciou-se “uma vitória ainda mais completa sobre a exterioridade” (ECF, §381). No
essente que capta as impressões externas para uma interioridade. A sensação foi um
Eu, desta abstração de todo singular e de todo imediato. Na egoidade o espírito se faz livre
do julgo natural, pois, não há nada na natureza que seja correspondente a esta estrutura
Até chegar a seu momento mais sublime de efetivação, o espírito teve que passar
pela natureza, afinal ela é o momento mais próximo para chegar ao ser em-si e para-si. Não
se deve pensar a natureza como algo totalmente incontornável, em relação a qual o espírito
surgiria somente enquanto sua pura negação. O espírito é, antes, o princípio absolutamente
primeiro e já põe a natureza, ela é condição necessária para o próprio agir negativo do
que se põe contraposto a sua determinidade. O espírito produz sua alteridade, para
diferenciar-se daquilo que se apresenta como necessário e para diferenciar, também, sua
49
sua idealidade estes dois momentos e se faz, mediante eles, essência autoprodutora.
Não há nada em contraposição ao espírito que não seja ele mesmo, que anteriormente já
não esteja contido no seu conceito. A idéia lógica e a natureza, são momentos que
interioridade daquilo que antes foi cindido de si. Porém, ainda que nesta passagem a
natureza preserve sua distinção em relação ao espírito, “porque o espírito não surge da
natureza de uma maneira natural.” (ECF, §381), é necessário que haja esta distinção, para
que possa haver uma delimitação dos momentos de exposição do conceito daquilo que é do
natureza humana. No homem, tanto o natural quanto o espiritual se fazem presentes, mas
como ser vivo suporta esta contradição, pois ele é a representação mais sublime do espírito
houve a superação de todo singular imediato natural, mesmo que em sua constituição
corpórea haja todas as relações dos elementos da natureza, o homem não se prende a elas e
sentido é que o homem se faz a “imagem e semelhança” do absoluto, que suporta em seu
CONCLUSÃO
espírito é, na verdade, uma vitória galgada sobre a exterioridade. Sendo a natureza a forma
mais consumada que a ideia veio a ser. A natureza se configura como este momento de
nela há a ação do espírito clamando por romper este invólucro exterior que o aprisiona.
surgimento da subjetividade, seja ela simples como no vegetal, seja ela mais ricamente
do ser posto fora-de-si, ela é atributo da idealidade do espírito, da sua unidade concreta e
somente por ela pode ser compreendida. Mesmo que o sujeito vegetal ou animal
uma subjetividade para-si essente, ou seja, não possuem consciência. A vitória completa
egoidade. O Eu é esta estrutura subjetiva que rompe com o imediato singular, eleva-se ao
de-si do espírito se manifesta, compreende que não pode se reconhecer mediante esta
52
finitude das relações naturais. Pelo surgimento do Eu – esta estrutura que superou toda
podemos dizer que há uma interioridade, uma interioridade para-si essente e consciente de
essa determinação pertence ao espírito enquanto tal: por isso vale dele
não apenas na medida em que ele se relaciona simplesmente consigo,
em que é um Eu tendo a si mesmo por objeto, mas também na medida
em que sai de sua universalidade abstrata essente para si, em que põe
para si mesmo uma diferenciação determinada, um Outro que ele;
porque o espírito não se perde nesse Outro, mas antes nele se conserva
e se efetiva; ali estampa seu interior, faz do Outro um ser-aí que lhe
corresponda: chega assim, portanto, por essa suprassunção do Outro,
da diferença efetiva, determinada, ao ser-para-si concreto, ao
“automanifestar-se” determinado. O espírito, portanto, no Outro só
revela a si mesmo, sua própria natureza; esta porém consiste na
automanifestação. O “automanifestar-se” é, por isso, ele mesmo o
conteúdo do espírito, e não, por assim dizer, somente uma forma
acrescentando-se externamente ao seu conteúdo (ECF, §383).
espiritual e ser manifestado. Nisto o conteúdo do espírito tomou para si a sua forma
exteriorizada, pois “forma e conteúdo são assim, no espírito, idênticos entre si” (ECF,
§383). A forma, esta representação carente de conteúdo que é manifestada por esta
53
representação externa, é superada e abarcada pelo conteúdo espiritual que possui em-si e
verdade como a absoluta unidade do espírito com a natureza. Ainda que não se possa
pensar necessariamente a natureza como esta forma vazia, pois, nela já se encontra
imanente a idéia que veio a ser em seu desenvolvimento a sua forma consumada de
efetivação. Porém, somente no espírito que carrega em seu interior todos os demais
interioridade para-si essente e que tem em seu conteúdo próprio a mais elevada
determinação do conceito.
entre a exterioridade e o conceito, logo, entre espírito e natureza. A natureza, enquanto este
elevação, pois o lócus que a natureza assume enquanto momento de exposição da razão é,
retorno à absoluta unidade ideal do ser em-si e para-si essente. Por esta razão, Hegel não
liberdade concreta do espírito, que só será alcançada pela absoluta negatividade de sua
ser negado, ou melhor, a ser suprassumido por esta negatividade que conserva a unidade
dialética de oposição dos contrários. Por isso, a natureza é o momento anterior e o mais
forma efetiva que a ideia veio a ser necessária, imediata e exteriorizada; b) é mais próxima
54
por antecipar na efetividade atributos que só no espírito irão aparecer como a vida, a
de-si. A espiritualização da natureza é ao mesmo tempo a sua libertação, para este vir a ser
livre o espírito pode agir na natureza e reconduzi-la enquanto momento de alteridade para a
unidade ideal e universal. Nesta, espírito e natureza não se compreendem mais enquanto
dois momentos distintos de exposição do conceito, pois este sintetiza tais momentos em
sua unidade absoluta ao elevar para-si a forma manifesta da idéia e o conteúdo ideal do
espírito.
como a relação que expõe os momentos para a efetivação da liberdade pela suprassunção
espiritual de vencer a forma externa da idéia. É por este processo que compreendemos o
verdadeiro significado de natureza para Hegel, ao entendê-la como o momento que deve
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INWOOD, Michel. Dicionário Hegel. Tradução de Álvaro Cabral. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1997.