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Esta cartilha é fruto do esforço de várias pessoas, algumas merecem destaque. O Carlos
Henrique que, junto com a Heloisa Primavera, apresentaram a primeira versão do texto "Como
Criar um Mercado de Trocas Solidárias"; Sandra Magalhães, do Instituto Banco Palmas
Fortaleza/CE, que apresentou o material sobre Moeda Social Circulante Local; Joyce Andrade,
da Casa da Acolhida Marista do Rio de Janeiro, e Lourdes Marchi, do Cefuria, Paraná que
contribuíram com a suas experiências locais. Robson Patrocínio e Andréa Viana também
contribuíram nesta construção. E todas as pessoas das Trocas Solidárias do Brasil que
contribuíram com a idéia da construção da cartilha, com materiais disponibilizados nos
grupos de discussão on-line e em falas e subsídios dos mais diversos.
Shirlei A. A. Silva
Coordenação Nacional do Programa de Fomento às Feiras de Economia Solidária
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Apresentação
Na Argentina, Bolívia, Colômbia, Canadá, França, Alemanha, Espanha e Austrália há milhares de pessoas
que participam de encontros periódicos para trocar solidariamente de forma direta ou com uso de uma
moeda social. Em alguns casos, as Trocas Solidárias acontecem periodicamente, de três a quatro vezes
por semana, suprindo as necessidades das pessoas que participam destes espaços, seja com alimentos,
roupas ou serviços.
No Brasil, no ano de 2004, em Mendes/RJ, realizou-se o primeiro Encontro Nacional dos Grupos de Trocas
Solidárias. Desde então vários avanços aconteceram como o Mercado das Trocas Solidárias no Fórum
Social Mundial - FMS 2005 e, mais recentemente, o 1º Encontro do Movimento Nacional de Trocas
Solidárias - MNTS - em Curitiba. Atualmente existem Trocas Solidárias organizadas nos Estados de Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Ceará, Goiás e Bahia. No
entanto, acredita-se que outros Estados já adotam essa experiência das trocas solidárias.
O espaço das trocas solidárias tem sido muito mais do que um lugar para fazer intercâmbio
sem dinheiro. É uma confraternização onde as pessoas se conhecem, criam novos projetos,
ampliam as perspectivas, cultivam novas amizades, praticam a solidariedade e exercitam a
auto-estima, tanto a nível pessoal como comunitário.
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Trocas Solidárias
Uma Redescoberta Importante
No passado, a troca direta de produtos e serviços era a principal forma de intercâmbio entre
pessoas, famílias e cidades. Com o passar do tempo, as sociedades criaram a moeda para
facilitar as trocas. Então, a moeda se tornou um instrumento fundamental para intermediar a
aquisição dos bens e serviços necessários para a vida. As trocas sem uso de moeda, contudo,
continuam sendo realizadas, principalmente, dentro dos grupos familiares e entre a vizinhança.
Entretanto, a maioria das transações no mercado é feita com moeda. O mercado é o lugar onde
as trocas são feitas. A moeda parece ganhar vida no mercado, tanto que é possível trocar
moeda por mais moeda, como acontece no caso dos empréstimos a juros. Essa forma de
organizar o mercado aumenta o capital de poucos e não permite que a maioria tenha condições
de produzir e consumir. Nem mesmo o mercado de trabalho tem lugar para todos.
Também está claro que nem todo trabalho necessário para a vida pode ser comprado. Por
exemplo, o trabalho de educação e alimentação das crianças é fundamental para a
humanidade, mas ninguém vê uma mãe cobrar para amamentar o seu filho. Porém, todos
sabem da importância da amamentação para a saúde física e emocional do ser humano.
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Por que alguns trabalhos têm um preço - salário - e outros não? Uma
coisa é certa, nem sempre os trabalhos mais importantes são
remunerados.
Cada vez mais pessoas criam práticas econômicas capazes de gerar recursos para garantir uma
vida digna. A necessidade de ampliação dessas práticas gera um movimento da sociedade
chamado de Economia Solidária. As trocas são uma das atividades que ajudam a promover o
fortalecimento de uma economia a serviço da sociedade.
Para viver em sociedade, o cidadão precisa trabalhar. É o trabalho que garante o recurso para
o consumo necessário para a vida de cada um e de todos. Infelizmente, essa ainda não é a
realidade de muitos/as. Mas, ao invés de esperar mudanças, algumas pessoas experimentam
formas mais justas, tanto de trabalho, quanto de consumo. Nessas práticas, logo fica claro que
não é possível manter trabalhadores/as e consumidores/as separados/as. Todo/a produtor/a
é também consumidor/a, e vice-versa. No mercado, a comercialização é a ligação entre
trabalho e consumo. Porém, com o crescimento do mercado fica quase impossível saber quem
fabricou e como foi feito o que está sendo comprado. O preço também é um problema. Muitas
trocas injustas são praticadas no mercado formal. Essa situação acontece desde que a
sociedade perdeu o controle sobre a comercialização. Por isso, tantos grupos promovem feiras
de trocas. Eles perceberam a necessidade de recriar as formas de comercialização. No
passado, era possível trabalhar e consumir. Mas, a forma de organização do mercado
atualmente não é a única possível. Os grupos de troca são uma das possibilidades de
comercialização mais justa.
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As pessoas têm coisas para trocar
Uma das primeiras coisas importantes dos clubes de troca é descobrir o que cada um tem para
trocar. É interessante constatar quantas habilidades e quais produtos cada um pode oferecer.
Outra questão que contribui nas avaliações dos objetivos das trocas é pensar a quem
interessa o que tenho a oferecer.
Na própria casa, pode-se descobrir algo guardado que é útil para outra pessoa. E, quando
ocorre a troca desse objeto por outro, todos ganham. Até mesmo o meio ambiente e a
economia local. Ao receber algo útil em troca, o participante poupa os recursos financeiros que
deixam de ser desperdiçados numa compra.
Ao mesmo tempo, a troca daquilo que não serve mais, promove uma reflexão sobre o consumo.
Muitas vezes o/a consumidor/a compra produtos que nem chega a consumir e que não
necessita de fato. Porém, alguém pode argumentar que seria melhor doar esse objeto a uma
"pessoa carente", ao invés de trocar. Mas, atenção. Não é sempre que o caminho mais fácil é o
melhor. A troca traz mais dignidade a todos que participam do processo do que a doação. A
doação pressupõe uma hierarquia que qualifica positivamente e envaidece o doador, enquanto
desqualifica e humilha, muitas vezes, a pessoa que recebe a doação. Ao passo que, na troca, a
relação entre os participantes tende a ser mais igualitária.
O trabalho
É o trabalho que produz vida, alimento, habitação, saúde e educação. É o trabalho que
garante a construção e a consolidação das cidades e sociedades, que são o
resultado de um conjunto de trabalhos que são trocados.
É a reciprocidade que gera a vida social.
Todos são donos do seu potencial de trabalho. Essa é a maior riqueza do ser
humano. Com o trabalho, é possível produzir melhorias na condição de vida atual e,
também, das gerações futuras. Porém, é necessário capital para quem quer trabalhar, entre
outras condições.
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A tecnologia, por exemplo, é resultado do trabalho humano.
Entretanto, ela está na mão de poucas empresas. Apesar de ser
resultado do trabalho das gerações passadas, a maior parte da
humanidade tem pouco acesso aos avanços da tecnologia,
impedindo uma concorrência justa no mercado produtivo.
Várias formas estão sendo criadas e experimentadas, entre elas, os grupos de trocas. Eles
estão espalhados pelo mundo, são muitos e diversificados. Cada qual tem sua dinâmica, seu
jeito de fazer e de enfrentar desafios.
A Moeda Social
É o instrumento que substitui a moeda oficial em grupos humanos que atuam como
produtores e consumidores em circuito fechado eliminando, assim, o obstáculo da escassez
do dinheiro. À diferença da moeda oficial, a moeda social não tem juros, nem oferece
vantagem ao ser acumulada, portanto ela serve à produção e não à especulação. Promove a
distribuição da riqueza e não sua concentração, como ocorre na economia dominante.
O Ecobanco
É o mecanismo que permite criar uma moeda alternativa a partir da seguinte operação:
produtores interessados em participar das trocas solidárias depositam uma parte da sua
produção no banco e recebem, no ato, a quantidade correspondente de moeda social,
segundo uma tabela de valores pré-fixados. Trata-se do mecanismo gerador do "efeito
dinheiro", sem ganhos para terceiros. Em vez de "ecobanqueiros", que obtém grandes
benefícios e acumulam dinheiro, intervém aqui, um grupo promotor ou equipe operativa
responsável por uma gestão transparente e eqüitativa.
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Paridade da Moeda
Lastro do Ecobanco
Para compreendermos bem o que é um sistema de Moeda Social Circulante Local temos que,
inicialmente, entender o que são os Bancos Comunitários. Atualmente, funcionam no Brasil oito
bancos comunitários, sendo o Banco Palmas em Fortaleza/CE, o pioneiro desta metodologia.
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lojas solidárias, centrais de comercialização e outros;
5. Atuam em territórios caracterizados por alto grau de exclusão e desigualdade social;
6. Não atua em escala. Cada Banco Comunitário atua em territórios com até 40.000
habitantes;
7. Estão voltados para um público caracterizado pelo alto grau de vulnerabilidade
social;
8. Sua sustentabilidade fundamenta-se em obtenção de subsídios justificados pela
utilidade social de suas práticas.
Moeda Social Circulante Local, também chamada de circulante local, é uma moeda,
complementar ao Real (R$), moeda nacional, criada pelo Banco Comunitário. O circulante local
tem como objetivo fazer com que o "dinheiro" circule na própria comunidade ou município,
ampliando o poder de comercialização local, aumentando a riqueza circulante na comunidade,
gerando trabalho e renda localmente.
a. O circulante local tem lastro na moeda nacional, o Real (R$). Ou seja, para cada
moeda emitida, existe no banco comunitário; um correspondente em Real;
b. As moedas são produzidas com componentes de segurança (papel moeda, marca
d'água, código de barra, números serial) para evitar falsificação;
c. A circulação é livre no comércio local e, geralmente, quem compra com a moeda
social recebe um desconto patrocinado pelos comerciantes para incentivar o uso da
moeda no município ou bairro;
d. Qualquer produtor ou comerciante cadastrado no banco comunitário pode trocar
moeda social por reais, caso necessite fazer uma compra ou pagamento fora do
município ou bairro.
As formas de um produtor ou morador ter acesso à moeda social circulante local são:
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Experiências de Moeda Social Circulante Local No Brasil
No Paraná, as primeiras experiências dos clubes de trocas tveram inicio em bairros periféricos
de Curitiba e Região Metropolitana, a partir de 2001 e 2002. Os Clubes de Trocas ocorrem em
espaços tradicionais de atendimento à pobreza, ONG's, centros comunitários e paróquias. Têm
como participantes as pessoas beneficiárias de cestas básicas fornecidas sob forma de doação.
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Como organizar um clube de trocas
Primeiro passo
A providência inicial é reunir as pessoas para que elas dialoguem sobre suas vidas, suas
dificuldades no trabalho, em casa, nas instituições e na sociedade. Os/as animadores/as
devem falar ao grupo sobre a importância de:
Segundo passo
Em seguida, pode-se propor e ajudar a organizar a troca de tudo o que descobrimos que temos
e sabemos. Assim, este primeiro encontro é um bate-papo entre pessoas diferentes e
desconhecidas, mas que possuem pontos em comum. O/a animador/a questiona se as
pessoas querem ou não organizar um Clube de Troca. Se a resposta for positiva, marca-se o
próximo encontro, já assumindo alguns compromissos:
a. Cada participante deve levar cinco ou mais produtos, onde pelo menos um seja
produzido com as próprias mãos. Os produtos podem ser verduras da horta, sabão
caseiro, bolos, salgados, roupas e calçados em bom estado e limpos, artesanatos,
livros, utensílios que não use;
b. Pode-se ver quem gostaria acolher as pessoas, preparar o local; quem queira fazer
uma mística ou reflexão lendo uma mensagem ou poesia, cantar, etc.
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Dinâmica dos Clubes de Troca
Acolhida - Alguém fica responsável pelo espaço físico e deve chegar mais cedo para receber
as pessoas dando as boas-vindas com um abraço, uma flor, uma mensagem, um canto. É
importante acolher bem os/as participantes. É necessário um caderno para anotar os nomes,
endereço e data de aniversário de todos/as.
Mística, dinâmica ou reflexão - A mística do grupo pode ser religiosa ou não. Para os cristãos,
se chama "mística do Reino de Deus". Por isso, um sinônimo de mística cristã é também
"espiritualidade" - ser conduzido pelo Espírito do Reino de Deus. Neste passo, é muito
importante a criatividade das pessoas responsáveis. É possível usar várias formas para que o
grupo reflita e expresse seus sentimentos: símbolos, músicas, teatro, poesias, minuto de
silencio, integração com a natureza, etc. É o momento em que o grupo expressa sua fé no
mundo novo que queremos construir. Paramos para nos abastecer de esperanças, é um
momento que o motor dos nossos sonhos e utopias gira mais rápido!
É importante ressaltar que neste momento nada pode ser imposto. Devem ser respeitadas as
diferenças de crenças e credos, cultivando o ecumenismo e a convivência harmônica dos
iguais.
Os participantes do grupo decidem o tempo para este segundo passo, sendo aconselhável que
ultrapasse 30 minutos.
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dela participar naquele dia. Muitos, solidariamente, oferecem parte
de seus produtos para que o companheiro não se sinta excluído. Nos
primeiros encontros é comum isto ocorrer.
Para facilitar as trocas, no Paraná também se usa a moeda social que se chama "Pinhão". Este
nome foi escolhido pelo primeiro Cube de Troca em 2001 em uma oficina sobre Moeda Social.
Os "pinhões" são entregues no primeiro encontro de trocas solidárias num total de 20 valores
de moeda social, sempre mediante o compromisso de trazer os produtos no valor
correspondente.
Neste momento, são definidas as pessoas que vão ajudar e preparar os passos do próximo
encontro: acolhida, mística e coordenação. É a eleição da equipe de trabalho. Esta equipe deve
ser rotativa para todos/as tenham a oportunidade de participar e se responsabilizarem por
todo o processo.
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No processo de autogestão, é preciso marcar o próximo encontro
e definir algumas regras ou até mesmo um estatuto ou regimento
interno, com normas bem claras, construídas coletivamente, para
que o grupo funcione bem e cresça sempre mais. Este é o
momento do diálogo e da prática da escuta e respeito mútuo.
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Experiência de Trocas e a Percepção da Nova Economia
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Trocas Solidárias Nas Feiras de Economia
Solidárias
É MUITO IMPORTANTE ESCLARECER QUE, POR UM PRINCÍPIO
PEDAGÓGICO, NAS FEIRAS DE CURTA DURAÇÃO, A MOEDA SOCIAL
NÃO DEVERÁ SER TROCADA POR DINHEIRO OFICIAL (REAIS, R$),
SOMENTE POR PRODUTOS DO LASTRO DO ECOBANCO.
Em um espaço indicado por meio de cartazes bem legíveis, deverá ser instalado o Ecobanco,
que nada mais é que uma instância reguladora que administra a emissão, distribuição e
controle da moeda social, a partir da conformação de um lastro em produtos. Esses produtos
poderão ser oferecidos no momento da feira por participantes que conheçam o sistema, seja
desde antes do evento ou durante o mesmo, a partir das explicações de animadores do MTS.
Para facilitar a troca da moeda social por produtos do lastro, ao final do evento, também é
possível partir de doações de produtos da cesta básica, feitas com antecedência por
instituições interessadas nessa prática ou mesmo por empreendimentos da Economia
Solidária, como forma de contribuição para iniciativas futuras.
Esta é uma prática contra-hegemônica, na medida em que rompe com a lógica da escassez, na
qual os "números devem fechar" e se substitui pela lógica do paradigma da abundância onde
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reconhecemos a riqueza produzida no planeta como propriedade
de todos/as os seus habitantes e não só daqueles que,
historicamente, aprenderam melhor a apropriar-se dela.
Todas essas práticas são necessárias no espaço do MTS para que seja obtida uma amostra do
"efeito dinheiro" da moeda social. Em outras iniciativas das finanças solidárias, como são os
bancos comunitários e as feiras semanais permanentes, podem ser utilizados outros
mecanismos.
Dentro do possível, nos postos e feiras somente serão comercializados produtos da Economia
Solidária. O intercâmbio direto e de serviços será de exclusiva responsabilidade dos
prossumidores, como corresponde esse novo modelo de desenvolvimento: espaço de cultivo
de responsabilidades individuais e coletivas ao mesmo tempo!
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Resgate das moedas sociais ao final do evento
Ao final do período de validade da moeda social, as pessoas que as tenham em suas mãos,
poderão trocá-las por produtos do Ecobanco. Essa informação deve ser bem esclarecida.
Graças a existência de doações e da probabilidade de que muitos participantes queiram levar
algumas moedas sociais como "lembrança" do evento, é possível que haja excedente do
Ecobanco. O excedente poderá ser destinado a alguma das possibilidades decididas pelos
participantes, segundo a deliberação do grupo ou dos resultados depositados em uma urna
indicada para tal efeito:
Independente da forma de colaborar, cada participante poderá entender um pouco mais sobre
esta alternativa de uma nova concepção de riqueza, trocas, moedas sociais e finanças
solidárias. Ao estar em contato com pessoas de todas as regiões do país, com experiência
nesse tipo de iniciativas, o participante poderá trocar opiniões e conhecimentos com outros
participantes.
Os valores dos produtos serão decididos pela equipe gestora do Ecobanco e negocia
dos com o ofertante;
Somente uma parte dos produtos será trocada por moeda social pelo Ecobanco, para
que o participante possa vivenciar as dificuldades e facilidades do mercado solidário;
Cada dia poderão ser fixadas novas regras para os intercâmbios, segundo a
experiência do dia anterior;
A equipe gestora do Ecobanco poderá ser consultada em caso de dúvidas ou diferenças
de critério entre os participantes.
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promove a recriação da Economia, voltada para os setores populares
como protagonistas de sua vida social, incluindo não somente
aspectos econômicos, mas também políticos e culturais.
Porque, embora poucos saibam, as trocas solidárias formam
parte da Economia Solidária e se caracterizam por práticas
transformadoras que já estão se desenvolvendo em todo o
mundo.
Porque o espaço da Feira de Economia Solidária é um lugar
privilegiado para discutir os "mal entendidos" teóricos que
geraram o atual modelo de concentração da riqueza.
Porque existem no país suficientes experiências bem sucedidas
e desconhecidas que podemos aproveitar em outros contextos,
aprofundar, e seguir renovando.
TXAI foi escolhida para denominar a moeda social do FSM 2005 em razão de
seus múltiplos significados que evocam compromisso, reciprocidade e temporalidade nas
relações sociais, como uma homenagem às primeiras nações do continente que souberam
manter vivos esses valores. Existem também outras moedas sociais usadas em eventos
massivos, como o Ecosampa, criado para o Fórum Municipal de Economia Solidária de São
Paulo e a moeda MATE, criada pela RETS/RS (Rede Estadual de Trocas Solidárias do
Rio Grande do Sul).
Um Sistema de Moeda Social Circulante Local durante uma Feira de Economia Solidária ou um
evento semelhante, tem o objetivo pedagógico de levar os participantes a refletir sobre
desenvolvimento local e economia solidária, a partir da circulação de uma moeda própria,
capaz de estimular o consumo de bens e serviços produzidos no bairro ou território.
Busca-se com esta ação oferecer subsídios, embora preliminares, para Organizações e/ ou
pessoas que queiram implantar sistemas de moedas circulantes, em suas comunidades ou
locais de trabalho. Nesse sentido, os experimentos das moedas circulantes durante feiras e
eventos devem acontecer da forma mais próxima possível da realidade, ou seja, do mesmo
jeito que funcionam nas comunidades onde estão implementadas.
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Passos para desenvolver um Sistema de Moeda Social Circulante Local em
Feiras e Eventos de Economia Solidária
1. Criar um Banco que ficará responsável pela operação das moedas na feira e eventos.
Esse Banco deverá ser constituído por três ou quatro pessoas e deverá ter um ponto fixo de
atendimento (sala, stand ou barraca) durante toda a feira.
2. Cadastrar as produtoras e produtores que vão aceitar a moeda em seu empreendimento durante
a feira. As barracas ou stands deverão ser identificados por um cartaz ou adesivo.
3. Fazer uma reunião explicativa com todos/as que estarão envolvidos/as com o
processo durante a feira ou evento (produtores/as, comerciantes, animadores/as e outros).
4. Gerenciar o sistema de moedas sociais circulantes durante a feira e/ou evento,
através de fichas de controle.
5. Prestar contas com a organização da feira e/ou evento.
1. O Banco garante o acesso à moeda social para todos/as os/as participantes da feira;
2. Os/as participantes, de posse da moeda social, compram nas barracas e estandes
que estão expondo na feira ou evento. Normalmente são oferecidos descontos para
quem compra com a moeda social para esta ficar mais atrativa.
3. Os/as produtores/as e comerciantes são estimulados/as a comprarem entre si
utilizando a moeda social.
4. Ao final da feira ou evento os/as produtores/as e comerciantes que ainda têm
moeda social, podem ir até o Banco para fazer um câmbio, ou seja, trocar as moedas
sociais por reais.
É importante atentar para este ponto. As moedas sociais circulantes têm lastro em reais para
que um número massivo de produtores/as e comerciantes tenham interesse em aderir ao
sistema. O objetivo é fazer que todos comprem na feira, fazendo a riqueza circular
localmente. Então para cada valor monetário de moeda social circulando na feira, existe o
correspondente em reais no Banco. Existem várias formas de se conseguir lastro para a moeda
social circulante. As mais comuns são:
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1. Os participantes se dirigem ao Banco e trocam reais pela moeda social circulante da
feira ou evento. A motivação para isso é que são oferecidos descontos para quem
compra com esta moeda solidária.
2. O Banco consegue um patrocínio em reais para poder colocar em circulação na Feira
ou evento certa quantia inicial de moeda social. Geralmente a distribuição dessas
moedas como "prêmio" a pessoas que participam de ações afirmativas do tipo:
participam de uma oficina, proferem uma palestra, organizam um desfile de moda
na feira, desenvolvem atividades recreativas com as crianças e outras modalidades.
3. Outra forma muito comum é o pagamento em moeda social de alguns serviços
realizados durante a feira. Por exemplo, o segurança, a empresa que organizou os
estandes, a equipe de trabalhou remunerada para realização da feira. Em média se
paga de 10% a 20% em moeda social para aumentar o lastro e garantir que essas
pessoas consumam produtos e serviços oferecidos na feira ou evento solidário.
Como definir uma Moeda Social Circulante para uma feira ou evento de
Economia Solidária
Não existe um modelo ou uma moeda única. O ideal é que cada feira ou evento tenha sua
própria moeda. O nome da moeda social, o formato, as cores devem ser discutidos pelo
coletivo que está organizando a atividade. Alguns cuidados devem ser tomados:
1. Nome, cor e formato devem ser representativos das dinâmicas locais: lutas, vitórias,
cultura, identidades e outras especificidades. O mesmo procedimento serve para a
escolha do nome do Banco;
2. Evitar nomes relacionados a moedas oficiais (real, cruzeiro, cruzado, dólar, euro, e
outras). Do mesmo modo, deve ser evitada a utilização de siglas. O nome da moeda
deve ser pequeno e de fácil assimilação.
3. É importante que estejam impressas na moeda social as logomarcas das
organizações responsáveis pela realização da feira ou evento, no sentido de
potencializar os processos sociais locais.
1. As moedas sociais que circularão na feira ou evento devem ter formatos pequenos,
fáceis de manusear e de guardar. Moedas menores têm um custo de produção
menor.
2. É fundamental que a moeda social tenha, pelo menos, dois elementos de segurança
dentre os vários possíveis (papel filigranado, holograma, tinta reagente, dados
variáveis, e outros).
3. Recomenda-se a produção de moedas sociais em valores pequenos como: 0,50, 1, 2,
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5, 10, considerando que as compras realizadas nas feiras e
eventos não são, normalmente, em valores elevados. A
produção de moedas sociais em valores altos (20, 50, 100)
são geralmente desnecessárias e aumentam o custo de
produção.
O sistema das trocas diretas tem sido um exercício importante como parte da experimentação
das Trocas Solidárias no cotidiano das pessoas, instituições e comunidades. As trocas diretas
fazem parte da rica diversidade e das diversas maneiras de realizar as Trocas Solidárias.
O mais importante é buscar formas onde essas maneiras de fazer podem e devem ser
complementares. É preciso criar espaços que estimulem a criação diferenciada de se vivenciar
as trocas, por que não existe e nem deve existir uma única maneira de se fazer Trocas
Solidárias.
Para aquelas pessoas que vêm experimentando as trocas no seu dia-a-dia e nas feiras, as
trocas diretas têm contribuído no sentido do grupo poder apropriar e construir o processo das
trocas de maneira que poderá chegar à necessidade de usar uma moeda comunitária.
É importante dizer que as pessoas estão trocando o tempo todo, sem refletir sobre essa
prática, sem perceber o potencial que possuem nas mãos e, ainda, no valor agregado que essa
prática proporciona. É preciso lembrar que em um determinado momento a troca direta pode
se tornar limitada e o grupo deverá saber como lidar com a questão. Um exemplo: João tem
um livro e Maria um quilo de arroz. João precisa do arroz, em contra partida Maria não tem
interesse pelo livro de João. O que fazer? Nesse caso pode-se tentar uma triangulação, o que
dar um pouco mais de trabalho mais funciona. Ex: João que necessita do arroz pode trocar o
livro com Laura que precisa do livro para o filho, com isso João pode conseguir o que Maria
necessita. Dessa forma cria-se vários arranjos para conseguir a troca.
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Numa feira ou evento como podem ser feitas as trocas diretas?
Antes de tudo começar é importante criar um momento de formação e sensibilização junto aos
participantes da feira ou evento. Essa formação e sensibilização devem levar em consideração
os diversos fatores que envolvem as Trocas Solidárias, tais como: valor dos produtos,
confiança no grupo, valor do trabalho, a (re)descoberta do potencial de cada um/uma e do
grupo, o prejuízo e o lucro. Algumas perguntas podem ajudar:
O importante aqui é dar ênfase aos trabalhos e aos temas ligados a uma outra Cultura
Socioeconômica e Solidária, reconhecendo e valorizando as trocas a partir do que as pessoas
já fazem. Se esse momento puder acontecer antes mesmo da feira ou evento começar, será
melhor ainda. Depois seria bom criar a lista das ofertas e das demandas, com os respectivos
valores dos produtos e serviços em reais. É importante garantir que esse catálogo fique
exposto no local onde a feira de trocas vai acontecer. Ele será a referência da diversidade de
produtos e serviços oferecidos para as trocas, além de funcionar como propaganda para a feira
de trocas.
Exemplo:
Notem que os valores dos produtos e serviços em reais são importantes para que, no final da
feira ou evento, possa ser registrado quanto circulou de trocas quantificado em reais.
Foram realizadas 30 trocas diretas envolvendo quinze grupos e cinco pessoas, que trocaram
o equivalente a R$ 2.000,00. É importante garantir um grupo de pessoas que possa dar conta
do registro da feira de trocas de forma geral e das trocas realizadas.
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É importante lembrar, depois da apresentação que, não necessariamente, todas as trocas
ocorrerão naquele espaço. Pessoas e grupos podem negociar trocas para depois da feira. O que
fica acordado é o compromisso daquelas pessoas e grupos em cumprir o que for acordado no
coletivo da feira entre as partes. É bom não haver negociações antes da feira iniciar, isso vai
evitar desigualdades nas negociações. Ao final faz-se uma avaliação de todo o processo.
Considerações Finais
Espera-se que esta cartilha tenha contribuído para uma melhor compreensão do que vem a ser
as trocas solidárias, as feiras e a própria Economia Solidária em si. Sabemos que as
informações aqui apresentadas não são uma síntese de todas estas temáticas, mas sim uma
contribuição para o fortalecimento desta nova economia que acontece no Brasil.
Este é um chamado para que você, se ainda não participa da economia solidária e mais
especificamente das trocas solidárias, se junte ao grupo. Participe de um grupo de trocas, de
um Ecobanco, utilize a moeda social ou a moeda social circulante, tenha uma vida simples e
consuma de forma consciente, justa e solidária.
Abaixo disponibilizamos alguns contatos. Estas são as pessoas que participaram do último
encontro das Trocas, realizado em julho deste ano em Curitiba - Paraná. Novamente,
lembramos que não são todos os contatos das experiências de trocas no Brasil, e sim algumas
pessoas que podem fornecer mais informações e por onde podemos fazer novos contatos com
outras pessoas e instituições, no sentido de fortalecer a teia da vida e das trocas solidárias.
São Paulo
Carlos Henrique - clubedetrocas@ig.com.br
Sandra Helena Amorim - sandraecosolsp@yahoo.com.br
Santa Catarina
Andrea Viana Faustino - ventolunar_andrea@yahoo.com.br
Erika Sagae - erikasagae@uol.com.br
Paraná
Lourdes Marchi - marchiecosol@yahoo.com.br
Vanda de Assis - vandaassis@yahoo.com.br
Adriana Levinski Hamann - adrianalh@acaosocialparana.org.br
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Sônia M. Nascimento - (41)3565-2856/9118-9873
Sthefani C. de Souza - (41)3565-2856/8838-1174
Antonio Carlos Bez - antoniobez@cefuria.org.br
Rio de Janeiro
Antonia Erian Ozorio - erian@ondazul.org.br
Joyce Andrade - joycebraga.rj@marista.edu.br
Robson Patrocínio - trocasolidaria@pacs.org.br
Goiás
Mauro Soares - maurosoares.p@brturbo.com.br
Bahia
Ivanete de Oliveira - gepba@gep_bahia.org.br
Viviane Salles Oliveira - viviane.sales@ig.com.br
Ceará
Sandra Magalhães - sandramaga@globo.com.br
Otaciana Barros - otacianabarros@yahoo.com.br
Lista de Abreviaturas
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FGV - Fundação Getulio Vargas
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
FES - Feiras de Economia Solidária
MNTS - Movimento Nacional de Trocas Solidárias
GT - Grupo de Trabalho
ECOSUST - Encontro de Sustentabilidade
UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina
ENTROSA - Encontro dos Grupos de Trocas Solidárias no Rio Grande do Sul
ENTS - Encontro Nacional dos Grupos de Trocas Solidárias
www.redlases.org.ar;
www.fbes.org.br;
www.redesolidaria.org.br
http://money.socioeco.org
www.instrodi.org
www.monneta.org
www.accessfoundation.org
www.smallisbeautiful.org
www.appropriate-economics.org
www.reinventingmoney.com
www.favors.org
www.olccjp.net
www.pacs.org.br/informativos/boletim4.pdf
25
Secretaria Executiva
Daniel Tygel - dtygel@fbes.org.br
Fernanda Nagem - fernanda@fbes.org.br
Rosana Kirsch - rosanak@fbes.org.br
Sabrina Fadel - sabrina@fbes.org.br
FUNDAÇÃO L´HERMITAGE
Rua Aimorés, 2480 - 2º andar, Bairro Lourdes - CEP: 30140-072 - Belo Horizonte-MG
Telefone/fax: (31) 21299000
www.lhermitage.com.br
26
Conselho Diretor:
Irmão Afonso Tadeu Murad
Celso Furtado de Azevedo
Lúcia Helena Alvarez Leite
Conselho Fiscal:
Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho
Shirlei Aparecida Almeida Silva
Marcelo Bahia Diniz
Auxiliares Administrativos
Antonio Baptista Ribeiro
Rômulo de Souza Alencar
Estagiária
Daniela Maia Rabelo
27
Técnico Administrativo Financeiro
Jackson Willians S. Santos
Assistente Administrativo
Dora Aparecida Costa
28