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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 652.449 - SP (2004/0099113-4)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


RECORRENTE : CÂNDIDA SARALEQUES DOS SANTOS
ADVOGADO : EDVAR VOLTOLINI
RECORRIDO : CARLOS PAULO MARTINEZ E CÔNJUGE
ADVOGADO : NEWTON VALSESIA DE ROSA JUNIOR E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REIVINDICATÓRIA - IMPROCEDÊNCIA -
PRESCRIÇÃO AQUISITIVA - CONFIGURAÇÃO - POSSE LONGEVA,
PACÍFICA E ININTERRUPTA POR MAIS DE QUINZE ANOS (NO
MÍNIMO), ORIGINÁRIA DE JUSTO TÍTULO - RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.

I - A usucapião, forma de aquisição originária da propriedade,


caracterizada, dentre outros requisitos, pelo exercício inconteste e
ininterrupto da posse, tem o condão, caso configurada, de
prevalecer sobre a propriedade registrada, não obstante seus
atributos de perpetuidade e obrigatoriedade, em razão da inércia
prolongada do proprietário de exercer seus direitos dominiais. Não
por outra razão, a configuração da prescrição aquisitiva enseja a
improcedência da ação reivindicatória do proprietário que a promove
tardiamente;
II - A fundamentação exarada pelo Tribunal de origem no sentido de
que o título que conferira posse à ora recorrente somente se
revelaria justo em relação às partes contratantes, mas injusto
perante àquele que possui o registro, carece de respaldo legal, pois
tal assertiva, caso levada a efeito, encerraria a própria inocuidade do
instituto da usucapião (ordinária);
III - Por justo título, para efeito da usucapião ordinária, deve-se
compreender o ato ou fato jurídico que, em tese, possa transmitir a
propriedade, mas que, por lhe faltar algum requisito formal ou
intrínseco (como a venda a non domino ), não produz tal efeito
jurídico. Tal ato ou fato jurídico, por ser juridicamente aceito pelo
ordenamento jurídico, confere ao possuidor, em seu consciente, a
legitimidade de direito à posse, como se dono do bem transmitido
fosse ("cum animo domini");
IV - O contrato particular de cessão e transferência de direitos e
obrigações de instrumento particular de compra e venda, o qual
originou a longeva posse exercida pela ora recorrente, para efeito de
comprovação da posse, deve ser reputado justo título;
V - Ainda que as posses anteriores não sejam somadas com a
posse exercida pela ora recorrente, o que contraria o disposto no
artigo 552 do Código Civil de 1916 (ut REsp 171.204/GO, Rel. Min.
Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJ 01.03.2004), vê-se que o
lapso de quinze anos fora inequivocamente atingido;

VI - Esclareça-se que o acolhimento da tese de defesa, estribada na


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prescrição aquisitiva, com a conseqüente improcedência da
reivindicatória, de forma alguma, implica a imediata transcrição do
imóvel em nome da prescribente, ora recorrente, que, para tanto,
deverá, por meio de ação própria, obter o reconhecimento judicial
que declare a aquisição da propriedade.
VII - Recurso Especial provido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, a Turma, por
unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina
(Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado
do TJ/BA) e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 15 de dezembro de 2009(data do julgamento)

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 652.449 - SP (2004/0099113-4)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


RECORRENTE : CÂNDIDA SARALEQUES DOS SANTOS
ADVOGADO : EDVAR VOLTOLINI
RECORRIDO : CARLOS PAULO MARTINEZ E CÔNJUGE
ADVOGADO : NEWTON VALSESIA DE ROSA JUNIOR E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):


Cuida-se de recurso especial interposto por CÂNDIDA
SARALEQUES DOS SANTOS, fundamentado no artigo 105, III, "a", da Constituição
Federal em que se alega violação dos artigos 82, 102, 103, 104, 145, 496, 550, 551
e 552 do Código Civil de 1916.

Subjaz ao presente recurso especial ação reivindicatória promovida


por CARLOS PAULO MARTINEZ E CÔNJUGE, ora recorridos, contra a ora
recorrente, CÂNDIDA SARALEQUES DOS SANTOS, na qual, sob o argumento de
que, em 6.5.1996, adquiriram, de Arlindo Gomes de Almeida Filho e sua mulher, o
imóvel situado na Rua Cavalheiro Ernesto Giuliano, n. 257, São Caetano do Sul,
devidamente registrado, sob a matrícula n. 20.293 no 2º Cartório de Registro de
Imóveis de São Caetano do Sul, pretendem a restituição do supracitado imóvel que
se encontra na posse da ré.

CÂNDIDA SARALEQUES DOS SANTOS (ora recorrente), por sua


vez, apresentou contestação aduzindo, no que importa à controvérsia, que os
autores da ação adquiriram o imóvel em conluio com os anteriores proprietários
(Arlindo Gomes de Almeida Filho e sua mulher), pois tinham ciência de que, em
momento em muito anterior à sua alegada aquisição, os então proprietários (Arlindo
Gomes de Almeida Filho e sua mulher), por meio de instrumento particular de
cessão e transferência de direitos e obrigações, já haviam transferido o imóvel sub
judice a João Chiurco e sua mulher (29.7.1976). Afirmou que, após duas novas
transferências do referido imóvel, em 21 de março de 1978, também por meio de
contrato particular de cessão e transferência de direitos e obrigações de instrumento
particular de venda e compra e mútuo, com garantia hipotecária, passou a ter a
posse do imóvel, de forma mansa e pacífica.

Ressaltou, também, que, mesmo após Arlindo Gomes de Almeida


Filho e sua mulher terem sido notificados pela Nossa Caixa - Nosso Banco, órgão
financiador, acerca da integral quitação, estes, ao invés de outorgar-lhe a escritura
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definitiva, propuseram em 1994 e 1995, ação de despejo (contra os seus inquilinos)
e ação de imissão na posse (após a averbação à margem da matrícula e registro do
imóvel em nome de Carlos Paulo Martinez e sua mulher - prova do conhecimento
destes), respectivamente, ambas sem êxito. Sustentou, assim, que, seja pela soma
das posses anteriores, seja apenas por sua posse, a prescrição aquisitiva restou
inequivocamente caracterizada, mormente se considerar que a presente ação fora
ajuizada tão-somente em 15 de abril de 1997, com citação em 16 de setembro de
1997.

O r. Juízo de Direito da 3ª Vara Cível, após reconhecer a


inidoneidade da dupla alienação perpetrada por Arlindo Gomes de Almeida Filho e
sua mulher do mesmo imóvel, possivelmente em conluio com Carlos Paulo Martinez
e sua mulher, bem como a configuração da prescrição aquisitiva em favor de
Cândida Saraleques dos Santos, julgou a demanda improcedente (ut fls. 96/102).

Interposto recurso de apelação por Carlos Paulo Martinez e sua


mulher (ora recorridos), o egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
conferiu-lhe provimento, aos seguintes fundamentos: i) o contrato que conferira
posse a Cândida Saraleques dos Santos, "por não se encontrar inscrito ou averbado
ou registrado" , consubstancia justo título somente entre as partes contratantes,
porém é injusto perante Carlos Paulo Martinez e sua mulher, que possuem o
registro; ii) considerando a data da propositura da ação, em 15 de abril de 1997,
com citação em 16 de setembro de 1997, e o início de sua posse (21 de março de
1978), não restou verificado o lapso indispensável para a usucapião. O acórdão
recorrido restou assim ementado:

"REIVINDICATÓRIA - Apelantes que adquiriram imóvel por meio de


compromisso registrado, documento hábil à transferência do domínio
- Adequadamente demonstrada a fragilidade do contrato não escrito
[sic - inscrito] apresentado pela apelada tornando injusta sua posse"
(fl. 118)
Decisum, que remanesceu inalterado ante o desacolhimento dos
embargos de declaração opostos (ut fls. 127/129).

Busca a recorrente, Cândida Saraleques dos Santos, a reforma do r.


decisum, sustentando, em síntese, restar configurada a prescrição aquisitiva em seu
favor. No ponto, aduz que o artigo 552 do Código Civil de 1916 permite a soma das
posses anteriores (com início em 29.7.1976) com a sua que se iniciou em
21.3.1978, ambas contínuas e pacíficas. Ressalta, outrossim, que, em qualquer
destas situações, preencheu o lapso exigido para usucapir, seja de quinze anos,
seja de vinte anos, mormente considerando que a presenta ação fora ajuizada em
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15.4.1997, com citação em 16.9.1997. Afirma, assim, que, considerando sua posse
longeva, ininterrupta, mansa e pacífica, a configuração da usucapião deve
prevalecer sobre o registro, no caso, efetuado, há muito posterior à sua posse e em
nítido conluio com os anteriores proprietários. Anota, por fim, que a sua posse,
decorrente de justo título, somente tornou-se injusta a partir da citação da
reivindicatória, momento em que já teria adquirido o domínio pela usucapião.

Os recorridos não ofereceram contra-razões (fl. 142).

É o relatório.

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EMENTA
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REIVINDICATÓRIA -
IMPROCEDÊNCIA - PRESCRIÇÃO AQUISITIVA -
CONFIGURAÇÃO - POSSE LONGEVA, PACÍFICA E
ININTERRUPTA POR MAIS DE QUINZE ANOS (NO MÍNIMO),
ORIGINÁRIA DE JUSTO TÍTULO - RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
I - A usucapião, forma de aquisição originária da propriedade,
caracterizada, dentre outros requisitos, pelo exercício inconteste e
ininterrupto da posse, tem o condão, caso configurada, de
prevalecer sobre a propriedade registrada, não obstante seus
atributos de perpetuidade e obrigatoriedade, em razão da inércia
prolongada do proprietário de exercer seus direitos dominiais. Não
por outra razão, a configuração da prescrição aquisitiva enseja a
improcedência da ação reivindicatória do proprietário que a promove
tardiamente;
II - A fundamentação exarada pelo Tribunal de origem no sentido de
que o título que conferira posse à ora recorrente somente se
revelaria justo em relação às partes contratantes, mas injusto
perante àquele que possui o registro, carece de respaldo legal, pois
tal assertiva, caso levada a efeito, encerraria a própria inocuidade do
instituto da usucapião (ordinária);
III - Por justo título, para efeito da usucapião ordinária, deve-se
compreender o ato ou fato jurídico que, em tese, possa transmitir a
propriedade, mas que, por lhe faltar algum requisito formal ou
intrínseco (como a venda a non domino ), não produz tal efeito
jurídico. Tal ato ou fato jurídico, por ser juridicamente aceito pelo
ordenamento jurídico, confere ao possuidor, em seu consciente, a
legitimidade de direito à posse, como se dono do bem transmitido
fosse ("cum animo domini");
IV - O contrato particular de cessão e transferência de direitos e
obrigações de instrumento particular de compra e venda, o qual
originou a longeva posse exercida pela ora recorrente, para efeito de
comprovação da posse, deve ser reputado justo título;
V - Ainda que as posses anteriores não sejam somadas com a
posse exercida pela ora recorrente, o que contraria o disposto no
artigo 552 do Código Civil de 1916 (ut REsp 171.204/GO, Rel. Min.
Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJ 01.03.2004), vê-se que o
lapso de quinze anos fora inequivocamente atingido;

VI - Esclareça-se que o acolhimento da tese de defesa, estribada na


prescrição aquisitiva, com a conseqüente improcedência da
reivindicatória, de forma alguma, implica a imediata transcrição do
imóvel em nome da prescribente, ora recorrente, que, para tanto,
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deverá, por meio de ação própria, obter o reconhecimento judicial
que declare a aquisição da propriedade.
VII - Recurso Especial provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):

A celeuma instaurada no recurso especial centra-se em saber se,


diante da moldura fática delineada pelas Instâncias ordinárias, a posse da
recorrente, Cândida Saraleques dos Santos, advinda do contrato particular de
cessão e transferência de direitos e obrigações de instrumento particular de venda e
compra e mútuo, com garantia hipotecária, a considerar seu lapso e o momento em
que deixou de ser pacífica, tem ou não o condão de prevalecer sobre o título
registrado em nome dos recorridos, Carlos Paulo Martinez e sua mulher. Cinge-se,
em outras palavras, a aferir se restou ou não configurada a prescrição aquisitiva em
favor da recorrente, a considerar os prazos fixados na lei de regência (Código Civil
de 1916) de quinze ou vinte anos. Discute-se, ainda, a própria validade do título
registrado em nome dos recorridos.

Inicialmente, para o deslinde da controvérsia, impende pontuar, nos


termos da moldura fática delineada pelas Instâncias ordinárias, todos os
instrumentos que, no decorrer do tempo, conferiram posse e domínio às partes
envolvidas no presente litígio.

É dos autos que no dia 30 de dezembro de 1974, Arlindo Gomes de


Almeida Filho e sua mulher adquiriram, por meio de contrato particular de venda e
compra e de mútuo com garantia hipotecária perante à Caixa Econômica do Estado
de São Paulo - CEESP, dos então então proprietários, Helena Dalindo e Miguel
Dalindo Filho, o imóvel sub judice, devidamente registrado e transcrito sob n. 463,
no livro 3 do 2º Cartório de Registro de Imóveis de São Caetano do Sul, Estado de
São Paulo, em 8 de janeiro de 1975 (fls. 30 e 57).

Arlindo Gomes de Almeida Filho e sua mulher, por meio de


instrumento particular de cessão e transferência de direitos e obrigações, em
29.7.1976, "cederam todos os direitos e obrigações do imóvel" a João Chiurco e sua
mulher. Posteriormente, existiram duas novas transferências do referido imóvel. A
primeira, em 3 de outubro de 1977, a Cláudio de Castro Amador e sua mulher; a
segunda, em 20 de outubro de 1977, a José Raimundo Pereira dos Santos e sua
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mulher. Em 21 de março de 1978, também por meio de contrato particular de
cessão e transferência de direitos e obrigações de instrumento particular de venda e
compra e mútuo, com garantia hipotecária, a ora recorrente, Cândida Saraleques
dos Santos, passou a ter a posse do imóvel (fls. 57/68).

Conforme bem anotado na sentença, encerraram-se sucessivos


contratos de gaveta, em razão dos quais a nova adquirente (no caso dos autos,
Cândida Saraleques dos Santos) pagou o financiamento do imóvel perante o agente
financiador como se fosse o adquirente originário (in casu, Arlindo Gomes de
Almeida Filho e sua mulher), para, ao final, quando da quitação, passar a ser
formalmente a proprietária do imóvel. Isso, é claro, se aquele que na prática alienou
o bem honrasse com o prometido.

Como é de sabença, o chamado contrato de gaveta, pela


informalidade que nele se encerra, ainda que não abonado pelo ordenamento
jurídico, mas de forma alguma por ele ignorado, pois invariavelmente ocorrente nas
relações cotidianas e deflagrador de efeitos jurídicos, enseja riscos para aquele que
assim procede.

Na espécie, posteriormente, na data de 6.5.1996, Arlindo Gomes de


Almeida Filho e sua mulher, procederam, por meio de escritura pública,
devidamente registrada, a nova alienação do imóvel sub judice aos ora recorridos,
Carlos Paulo Martinez e sua mulher, que passaram a constar, na matrícula do
imóvel, como seus proprietários (fls. 24/30). Nos termos relatados, em 15.4.1997,
Carlos Paulo Martinez e sua mulher ajuizaram a presente ação dominial objetivando
a restituição do supracitado imóvel que se encontra na posse da ré, citada em
16.9.1997.

Assinala-se, de plano, que a usucapião, forma de aquisição


originária da propriedade, caracterizada, dentre outros requisitos, pelo exercício
inconteste e ininterrupto da posse, tem o condão, caso configurada, de prevalecer
sobre a propriedade registrada, não obstante seus atributos de perpetuidade e
obrigatoriedade, em razão da inércia prolongada do proprietário de exercer seus
direitos dominiais.

Não por outra razão, a configuração, em tese, da prescrição


aquisitiva enseja a improcedência da ação reivindicatória do proprietário que a
promove tardiamente.

Nos termos dos Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, a
usucapião extraordinária resta configurada, independente de "de título de boa fé",
se a posse contínua e pacífica deu-se por prazo superior a vinte anos, e a ordinária,
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se a posse, em concomitância com requisitos específicos, deu-se por mais de
quinze anos.

Assim, perscrutar a justeza do título que originou a posse da


prescribente somente se revela necessário na usucapião ordinária, que, nos termos
da lei regente, o Código Civil de 1916, assim o exige em concomitância com a
posse de boa-fé e "cum animo domini" , de forma contínua e pacífica pelo lapso de
quinze anos (entre ausentes, assim entendidos como aqueles que habitem
município diverso). É o que dispõe o artigo 551 do referido diploma legal, in verbis:

"Art. 551. Adquire também o domínio do imóvel aquele que, por 10


(dez) anos entre presentes, ou 15 (quinze) entre ausentes, o possuir
como seu, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé.
(Redação dada pela Lei nº 2.437, de 7.3.1955)
Parágrafo único. Reputam-se presentes os moradores do mesmo
município e ausentes os que habitem município diverso. (Redação
dada pela Lei nº 2.437, de 7.3.1955)"
No caso dos autos, é de se consignar, de plano, que o contrato
particular de cessão e transferência de direitos e obrigações de instrumento
particular de compra e venda, o qual originou a longeva posse exercida pela ora
recorrente, Cândida Saraleques dos Santos, para efeito de comprovação da posse,
deve ser reputado justo título.

Veja-se, no ponto, que a fundamentação exarada pelo Tribunal de


origem no sentido de que o título que conferira posse à ora recorrente somente se
revelaria justo em relação às partes contratantes, mas injusto perante àquele que
possui o registro, carece de respaldo legal, pois tal assertiva encerraria a própria
inocuidade do instituto da usucapião (ordinária).

Por justo título, para efeito da usucapião ordinária, deve-se


compreender o ato ou fato jurídico que, em tese, possa transmitir a propriedade,
mas que, por lhe faltar algum requisito formal ou intrínseco (como a venda a non
domino ) não produz tal efeito jurídico. Tal ato ou fato jurídico, por ser juridicamente
aceito pelo ordenamento jurídico, confere ao possuidor, em seu consciente, a
legitimidade de direito à posse, como se dono do bem transmitido fosse ("cum
animo domini") .

Sobre a definição de justo título, para efeito de usucapião ordinária,


oportuno o escólio de autorizada doutrina que, em expressa referência ao insigne
jurista Caio Mário da Silva Pereira, assim consigna:

"A conceituação de justo título, por não encontrar definição

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normativa, ficou relegada aos estudiosos e à jurisprudência, motivo
de desencontros ou divergências [...]. No entanto, cabe ressaltar
desde logo que os vários julgados encontrados nos repositórios de
jurisprudências, em sua grande parte, fazem referência ao justo
título como proveniente das aquisições 'a non domino'. [...] Daí a
razão de em casos já mencionados ter sido feito referência à
aquisição 'a non domino' como a mais comum no campo da
prescrição aquisitiva. O justo título exigido para embasar usucapião
ordinária precisa qualificar-se como certo, real e válido, não podendo
ser presumido [...]. Por conseguinte, sendo o justo título o
documento, mesmo ilegítimo, que serve de base à aquisição de
direito real, gerando obrigação de transferência, mas que não se
aperfeiçoou, constituindo instrumento hábil à transmissão,
dispensando o registro (ou transcrição, para usar expressão
corriqueira na doutrina e na jurisprudência), cabe, todavia, realçar
que abstratamente precisa ofertar capacidade, pelo menos em tese,
de transferir o domínio. Repetindo lição de Caio Mário da Silva
Pereira, a conceituação do justo título leva, pois, em consideração a
faculdade abstrata de transferir a propriedade, e é nesse sentido que
se diz justo qualquer fato jurídico que tenha o poder, em tese, de
efetuar a transmissão, embora na hipótese lhe faltem os requisitos
para realizá-la. Assim, se a compra e venda, a doação, a
arrematação etc. Transmitem a propriedade (em tese), constituem
justo título para a aquisição 'per usucapionem' no caso de ocorrer
uma falha, um defeito, um vício formal ou intrínseco, que lhe retirem
aquele efeito na hipótese. Inquinado, porém, de falha, não mais
poderá ser atacado, porque o lapso de tempo decorrido expurgou-o
da imperfeição, e consolidou a propriedade do adquirente." (Ribeiro,
Benedito Silvério; Tratado de Usucapião - Vol. 2 - 5ª Edição, p.
812/814, Ed. Saraiva - 2009)
No ponto, portanto, insubsistente o fundamento adotado pelo
Tribunal de origem, revelando-se, como visto, justo o título que concedera a posse à
recorrente.

Ressalte-se, também, na espécie, que a posse exercida pela


recorrente também se afigurou de boa-fé, fato, aliás, que restou incontroverso nos
autos.

Remanesce, assim, a necessidade de se aferir o preenchimento do


requisito temporal, ponto sobre o qual impende tecer algumas considerações.

É de se constatar que o Tribunal de origem, por ocasião do


julgamento dos embargos de declaração, assentou, ante a conclusão de que o título
que originou a posse da recorrente seria injusto em relação àqueles que detinham o
registro, ser despicienda a análise da possibilidade ou não do somatório da posses
anteriores.
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Tal conclusão, contudo, considerando que o Tribunal de origem
apenas cingiu-se a analisar a prescrição aquisitiva extraordinária (de vinte anos),
mostra-se contraditória, na medida em que a soma das posses anteriores (iniciada
em 76) com a posse da recorrente (iniciada em 78), em cotejo com a data que o
próprio Tribunal a quo considerou como o marco interruptivo da posse pacífica
(setembro de 1997, data da citação da ré na presente ação reivindicatória),
configuraria, por si só, a usucapião extraordinária, que, como visto, independe de
qualquer outro requisito.

Ad argumentandum, ainda que as posses anteriores não sejam


somadas com a posse exercida pela ora recorrente, o que contraria o disposto no
artigo 552 do Código Civil de 1916 (ut REsp 171.204/GO, Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior, Quarta Turma, DJ 01.03.2004), vê-se que o lapso de quinze anos fora
inequivocamente atingido.

Aliás, o termo de quinze anos de posse mansa e pacífica, na


hipótese dos autos, resta verificado, ainda que se considere outro marco, que não o
adotado pelo Tribunal de origem (setembro de 1997, data da citação da ora
recorrente na presente ação reivindicatória), como interruptivo daquela.

Nos termos relatados, a posse da recorrente, unicamente


considerada, iniciou-se em março de 1978. Caso se considere que a interrupção da
pacificidade da posse da recorrente deu-se em 1994, com o ajuizamento da ação de
despejo (promovida por Arlindo Gomes contra os então inquilinos da recorrida) - ou
em 1995, com o ajuizamento da ação de imissão na posse (ajuizada por Arlindo
Gomes contra a ora recorrente), fatos, ressalte-se, sequer aventados pelas
Instâncias ordinárias, ter-se-ia a complementação de dezesseis e dezessete anos,
respectivamente, de posse inconteste e ininterrupta. Caso adotado o marco do
Tribunal de origem, qual seja, a citação da presente ação reivindicatória, ter-se-ia a
complementação de dezenove anos de posse. Tempos, para efeito da usucapião
ordinária, mais que suficientes para sua caracterização.

Desta feita, a presença, em tese, dos requisitos ensejadores da


prescrição aquisitiva em favor da recorrente enseja, como visto, a improcedência do
pleito reivindicatório tardio.

Esclareça-se, por oportuno, que o acolhimento da tese de defesa,


estribada na prescrição aquisitiva, com a conseqüente improcedência da ação
reivindicatória, de forma alguma, implica a imediata transcrição do imóvel em nome
da prescribente, ora recorrente, que, para tanto, deverá, por meio de ação própria
(cujo procedimento determina a oitiva do Ministério Público, a citação daquele que
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tem o imóvel em seu nome registrado e dos confinantes, bem como a intimação dos
representantes de entes públicos eventualmente interessados), obter o
reconhecimento judicial que declare a aquisição da propriedade. Nesse sentido,
confira-se o seguinte precedente:

"AÇÃO REIVINDICATÓRIA. DEFESA. USUCAPIÃO. AQUISIÇÃO


DO DOMÍNIO. IMPOSSIBILIDADE.
1 - Uma vez julgada improcedente ação de reivindicação, diante de
defesa cifrada na ocorrência de usucapião (súmula 273 do Supremo
Tribunal Federal) não há que se pretender a transcrição do imóvel
em nome dos beneficiários da prescrição aquisitiva, posto que isto
apenas é possível após o ajuizamento da ação própria.
2. Precedente do Superior Tribunal de Justiça (Resp 139.126/PE).
3 - Recurso especial não conhecido." (REsp 725222/MT, Relator
Ministro Fernando GonçalveS, DJ 15/08/2005)

Por fim, quanto à validade do registro da propriedade em nome dos


recorridos, sob a argumentação de que este reflete uma inaceitável segunda
alienação do mesmo imóvel e evidencia manifesto conluio com o Sr. Arlindo e sua
mulher na prática de ilícito civil e/ou criminal, vê-se que tal aferição, para o fim
colimado na presente ação e para o deslinde da controvérsia, mostra-se
desinfluente, restando irretorquível, no ponto, a sentença que determinou a extração
de cópias da decisão, remetendo-as para o Ministério Público para apuração de
ilícito penal eventualmente praticado por Arlindo Gomes de Almeida Filho e sua
mulher Miryan Castro de Almeida e os ora recorridos.

Assim, dá-se provimento ao presente recurso especial, julgando a


presente ação reivindicatória improcedente. Restaura-se, quanto à fixação dos ônus
sucumbenciais e dos honorários advocatícios e à determinação supracitada, a
sentença.

É o voto.

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2004/0099113-4 REsp 652449 / SP

Números Origem: 200100074022 41697 956334


PAUTA: 15/12/2009 JULGADO: 15/12/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CÂNDIDA SARALEQUES DOS SANTOS
ADVOGADO : EDVAR VOLTOLINI
RECORRIDO : CARLOS PAULO MARTINEZ E CÔNJUGE
ADVOGADO : NEWTON VALSESIA DE ROSA JUNIOR E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Posse

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA) e Nancy Andrighi votaram com o Sr.
Ministro Relator.

Brasília, 15 de dezembro de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

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