BIOQUÍMICA CELULAR
Prof: Hubertt Lima Verde Frente: 03
huberttlima@gmail.com
Os Seres Vivos e Suas Características (Parte I):
Os seres vivos são dotados de um conjunto de características que
não existem na matéria bruta (sem vida). Essas características
particulares dos seres vivos serão apresentadas no decorrer deste
capítulo e aprofundadas em outros. Abaixo, vamos apenas relacioná
- las; assim, comparados à matéria bruta, os seres vivos
apresentam:
¾ composição química mais complexa;
¾ organização celular, que vai muito além da organização dos
átomos e das moléculas constituintes de toda matéria (viva ou
bruta);
¾ capacidade de nutrição, absorvendo matéria e energia do
ambiente para se desenvolver e manter suas funções vitais;
¾ reações a estímulos do ambiente;
¾ capacidade de manter seu meio interno em condições
adequadas, independente dos fatores externos, como calor e frio;
¾ crescimento e reprodução, originando descendentes
semelhantes;
¾ capacidade de modificar-se ao longo do tempo, através do
processo de evolução, desenvolvendo adaptações adequadas à
sobrevivência.
Esse conjunto de características depende da molécula de ácido
nucléico, mais particularmente do ácido desoxirribonucléico ou DNA,
a molécula mestra. É ela que determina os pontos comuns e as
diferenças entre os seres vivos que habitam o nosso planeta.
Composição química:
Toda a matéria existente no universo é feita de átomos. No centro.
No centro do átomo há partículas com carga elétrica positiva, os
prótons, e partículas sem carga elétrica, os nêutrons. Girando com
incrível rapidez ao redor dessa região central, encontramos os
elétrons, com carga elétrica negativa. Com o número de prótons é
igual ao número de elétrons, o átomo é eletricamente neutro (figura
1).
A diferença principal entre dois átomos está no número de
prótons. Esse número é chamado número atômico e identifica cada
tipo de átomo. Assim, todos os átomos de hidrogênio têm um próton
em seu núcleo (número atômico 1); todos os átomos de carbono
têm seis prótons (número atômico 6) e assim por diante. O número
atômico explica as diferentes propriedades físicas e químicas de
cada átomo.
Figura 1: Visão simplificada de três átomos: o átomo de hidrogênio,
o átomo de carbono e o átomo de oxigênio. O átomo de hidrogênio
é o mais simples: possui apenas um próton e um elétron. Lembrete:
esquemas de átomos são sempre modelos, já que, devido ao seu
minúsculo tamanho, não se pode ver o interior do átomo (para ter
uma idéia, em um grama de grafite há mais de 1022 átomos de
carbono, ou seja, o número 1 com 22 zeros depois!).
Os átomos podem se ligar uns aos outros, formando moléculas. A
molécula de água, por exemplo, é formada por dois átomos de
hidrogênio ligados a um átomo de oxigênio. Já o gás oxigênio, que
respiramos, é formado por dois átomos de oxigênio presos entre si.
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Aula: 04
AL150207
A força que mantém os átomos unidos é chamada ligação química
(figura 2).
Na matéria bruta, os átomos estão agrupados em compostos
relativamente simples, formando as substâncias inorgânicas
(também chamadas substâncias minerais), como a água, vários sais
e gases e os cristais de rocha. Nos seres vivos, além de substâncias
inorgânicas encontramos substâncias orgânicas, como pode ser
visto na figura 2. As substâncias orgânicas são formadas por
átomos de carbono que se unem, podendo formar longas cadeias
contendo outros átomos, como os de oxigênio, nitrogênio e,
obrigatoriamente, de hidrogênio.
Dessa forma, fica comprovado que a matéria viva apresenta uma
composição química mais complexa do que a matéria bruta:
enquanto um grão de areia é formado apenas por um tipo de
substância — a sílica —, uma bactéria, apesar de bem menor que o
grão de areia, possui água, sais minerais e diversas substâncias
orgânicas, como proteínas, açúcares, gorduras, ácidos nucléicos,
entre outras.
Figura 2: Modelos e formulas de moléculas de substâncias
inorgânicas (água e gás carbônico) e orgânicas (glicose). Nos
modelos, o átomo de carbono está representado por esferas azuis;
o de oxigênio, por esferas vermelhas e o hidrogênio, por esferas
verdes. Na formula estrutural, os traços indicam as ligações
químicas entre os átomos. A formula molecular indica apenas o
número de cada átomo por molécula. Observe ainda que na fórmula
estrutural da glicose pode - se omitir os átomos de carbono
localizados nos vértices da figura
2. A vida e sua organização: da célula à biosfera:
Além de toda sua complexidade química, os seres vivos são muito
mais organizados do que a matéria bruta. Esta é constituída por
átomos que se reúnem formando moléculas e, às vezes, cristais.
Nos seres vivos, a organização vai muito além do nível molecular:
uma enorme quantidade de moléculas inorgânicas e orgânicas se
reúne, formando a célula. O que é célula? É-a unidade fundamental
dos seres vivos, sendo capaz, por exemplo, de se nutrir, crescer e
se reproduzir. Muito pequena — possui aproximadamente a
centésima parte de um milímetro —, só pode ser vista com ajuda do
microscópio, um aparelho capaz de formar uma imagem ampliada
dos objetos.
As bactérias, os protozoários e alguns outros tipos de seres vivos
são formados por uma única célula; mas a maioria é composta por
muitas células. O corpo humano, por exemplo, contém mais ou
menos 60 trilhões de células.
As células dos organismos pluricelulares se reúnem em grupos de
células semelhantes, com o mesmo tipo de função, formando um
tecido.
Por exemplo, o conjunto de células nervosas forma o tecido
nervoso. Tecidos semelhantes formam um órgão. Órgãos com
funções semelhantes se organizam em sistemas (figura 3). Assim, o
encéfalo, a medula e os nervos formam o sistema nervoso. Este é
responsável pela coordenação entre diferentes partes do corpo e
pela integração do organismo com o ambiente. Do mesmo modo, o
sistema digestivo é formado por um conjunto de órgãos que estão
ligados à nutrição.
O conjunto de sistemas forma um organismo. O corpo humano,
por exemplo, é formado, entre outros, pelos sistemas nervoso,
digestivo, respiratório, circulatório, urinário, reprodutor, muscular e
esquelético.
Mas a organização dos seres vivos não termina com a formação
de um organismo. Se considerarmos todo o sistema de vida no
planeta, podemos perceber graus ainda mais complexos de
organização. Sabemos que os seres vivos interagem com o
ambiente, inclusive com outros seres vivos. Assim, organismos da
mesma espécie agrupam - se numa determinada região, formando
uma população. A população, por sua vez, mantém relações com
populações de outras espécies que habitam o mesmo local,
formando uma comunidade, conforme pode ser visto na figura 3.
Uma comunidade pode ser representada pelo conjunto de todas as
espécies vivas que habitam determinado ambiente, como uma
floresta ou uma lagoa, por exemplo. A comunidade influi nos fatores
físicos e químicos do ambiente — como a chuva, o solo e a
temperatura — e esses fatores também influem na comunidade.
Figura 3: Os diferentes níveis de organização da matéria. De um
nível para outro, a complexidade e a organização aumentam.
Deste modo, forma - se um conjunto — constituído por seres
vivos, fatores físicos e fatores químicos — chamado ecossistema.
Este nível de organização pode ser exemplificado pela floresta
inteira, incluindo os seres vivos, o tipo de solo, de clima, a
quantidade de água, etc.
Finalmente, a soma de todos os ecossistemas do planeta forma a
biosfera, ou seja, o conjunto de todas as regiões da Terra habitadas
por seres vivos.
Nutrição, crescimento, respiração e metabolismo:
Mesmo que nosso corpo não esteja crescendo ou engordando, é
necessário que uma parte do nosso tempo seja gasta com a
alimentação.
Mas, para que serve o alimento?
Um organismo vivo é instável e frágil. Podemos compará - lo a
uma construção sem fim. Isso acontece porque as proteínas e
outras moléculas orgânicas presentes no ser vivo se desgastam
com o tempo. Portanto, a estrutura do ser vivo só pode ser mantida
à custa de uma substituição permanente de suas moléculas e de
muitas de suas células. Essa substituição é feita a partir de
substâncias retiradas do ambiente através da alimentação e
reorganizadas de modo a reconstituir o organismo.
Estamos falando da nutrição, que garante ao ser vivo não só a
reconstrução das partes desgastadas, mas também a formação de
novas células, durante o período de crescimento. Esse crescimento,
que se faz pela multiplicação de células no interior do corpo, é
chamado de crescimento por intuscepção. Existem, porém, outras
formas de crescimento. Por exemplo, um cristal (substância
inorgânica, matéria bruta) também pode crescer, mas de maneira
diferente: pela adição de novas moléculas à sua superfície. Este
processo é chamado de crescimento por deposição ou aposição.
Nem todo alimento é usado na reconstrução ou no crescimento do
corpo. Uma boa parte serve como fonte de energia para o
organismo. Neste caso, várias moléculas orgânicas de alimento
podem ser utilizadas como combustível, mas é mais vantajoso para
o ser vivo usar um açúcar, a glicose.
Poderíamos dizer que a glicose é, para o ser vivo, o que a
gasolina é para o automóvel que depende desse combustível. A
glicose (C6H12O6) é uma molécula orgânica que reage com o
oxigênio do ar (O2), transformando - se em gás carbônico (CO2) e
água (H2O). Nessa transformação, a molécula de glicose é
quebrada, liberando energia (figura 4). Esta, por sua vez, é utilizada
nas atividades do organismo, como o movimento, a produção de
calor, a transmissão de impulso nervoso ou a construção de
grandes moléculas orgânicas durante o processo de reconstrução
ou crescimento do corpo. Esse processo de quebra da glicose
chama - se respiração celular.
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Equação química que representa a
respiração:
C6H12O6+6O2→6CO2+6H2O+energia
Figura 4: A respiração retira energia do alimento. Assim como, um
carro queima gasolina, o ser vivo usa o alimento como combustível.
A energia do alimento é utilizada para as atividades do corpo.
Portanto, o organismo pode:
¾ construir grandes moléculas formadoras de partes das
células — esse processo é chamado de anabolismo (ana = erguer),
que são transformações de síntese ou construção;
¾ quebrar moléculas de alimento, obtendo energia —
processo denominado catabolismo (cata = para baixo), que são
transformações de análise ou decomposição.
O conjunto dos dois processos — ou seja, o conjunto de todas as
transformações químicas do organismo — é chamado metabolismo
(metabole = transformar). Analise a figura 5.
Figura 5: Uma parte do alimento é usada pelo anabolismo, ou seja,
na produção de novas moléculas, no crescimento e na renovação
das células do corpo. Outra parte é utilizada pelo catabolismo, ou
seja, é destruída, tanto podendo produzir energia como ser
eliminada. Ao conjunto de todas essas transformações químicas
chamamos de metabolismo.
Mesmo uma microscópica bactéria é capaz de realizar centenas
de transformações químicas diferentes em seu interior, a cada
momento. Portanto, o metabolismo é um processo tão complexo e
perfeito que supera qualquer produção realizada nos mais
aperfeiçoados laboratórios químicos.
Nutrição autotrófica e heterotrófica:
Na natureza, podemos encontrar duas formas básicas de nutrição:
autotrófica e heterotrófica.
Na nutrição autotrófica (auto = próprio; trofo = alimento) —
realizada apenas pelas plantas, algas e por certas bactérias — o
organismo é capaz de produzir todas as moléculas orgânicas do seu
corpo a partir de substâncias inorgânicas que retira do ambiente,
como gás carbônico, água e sais minerais. Nesse processo, o
organismo vegetal usa a energia luminosa do Sol, que é absorvida
por uma substância chamada clorofila. Esse fenômeno, chamado
fotossíntese, produz substâncias orgânicas para o organismo e
libera oxigênio (O2) na atmosfera (figura 6).
Os animais, os protozoários, os fungos e a maioria das bactérias
não são capazes de realizar fotossíntese. Estes seres precisam
ingerir moléculas orgânicas prontas: é a nutrição heterotrófica
(hetero = diferente).
Figura 6: Os vegetais produzem pela fotossíntese substâncias
orgânicas. Para isso, usam substâncias inorgânicas e a luz do Sol: é
a nutrição autotrófica. Já os animais conseguem alimento ingerindo
substâncias orgânicas prontas das plantas ou de outros animais: é a
nutrição heterotrófica.