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I. FUNCIONAIS LINEARES
Consideremos uma função φ(x) e uma classe de funções L que designaremos por funções
de teste. Suponhamos φ(x) é tal que o integral
Z +∞
Φ[g] ≡ dxg(x)φ(x) (1)
−∞
é convergente para qualquer função g(x) ∈ L. Este integral define uma aplicação do conjunto
L no conjunto de números reais (ou complexos) daqui em diante designados simplesmente
por escalares.
g 7→ Φ[g] (2)
Este funcional está claramente associado a uma função φ(x). A todas as funções para as
quais os integrais como o da eq.(1) são convergentes para qualquer função de L associamos
por este meio um funcional linear. O inverso não é verdadeiro. Não é possı́vel associar a
qualquer funcional linear uma função por meio de uma definição como a da eq.(1).
Tomemos por exemplo o seguinte funcional obviamente linear e designado por Delta de
Dirac
δ[g] ≡ g(0) (4)
Para qualquer classe de funções suficientemente vasta para ter interesse não existe de facto
nenhuma função δ(x) tal que
Z +∞
dxg(x)δ(x) = g(0) (5)
−∞
para qualquer função g(x). Por outras palavras a função delta de Dirac é um funcional
(ou distribuição) e não uma função. No entanto é possı́vel representá-lo como limite de uma
sequência de expressões do tipo da eq.(1). Punhamos, por exemplo,
1 2 2
φη (x) ≡ √ e−x /2η (6)
2πη
2
e consideremos o seguinte limite
Z +∞
lim Φη [g] ≡ lim dxg(x)φη (x) (7)
η→0 η→0 −∞
de largura η. À medida que η se torna nulo o seu peso fica totalmente concentrado numa
vizinhança η de x = 0. Se a função de teste for contı́nua nesse ponto é plausı́vel que
Z +∞ Z +∞
lim dxg(x)φη (x) = g(0) dxφη (x) = g(0) (9)
η→0 −∞ −∞
O primeiro termo é simplesmente g(0). Para mostrar que o segundo se anula façamos a
mudança de variável x → u = x/η
1 Z +∞ 2
√ du(g(uη) − g(0))e−u /2 (11)
2π −∞
Se trocarmos a operação de limite com a de integração e a função g(x) for contı́nua na origem
Nenhuma destas funções tem um limite definido quando η → 0. Com efeito em todos os
casos
lim φη (x) = 0 x 6= 0
η→0
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Mas, por outro lado, o funcional Φη [g] tem um limite definido que é
A expressão do lado esquerdo não é pois um integral no sentido usual do termo. A questão
que se pode por é então qual a razão de ser da popularidade desta notação aparentemente
tão ambı́gua.
Dado o funcional Φ[g] associado pela eq.(1) à função φ(x) podemos definir outros a partir
de transformações desta função. Por exemplo
Z +∞
dxg(x)φ(x − x0 )
−∞
Z +∞
dxg(x)φ′ (x)
−∞
Z +∞
dxg(x)φ(x2 − x20 ) (19)
−∞
supondo é claro que estes integrais convergem. O mesmo tipo de transformações podem ser
feitas em funcionais como δ[g] que podem ser definidos como limites de funcionais associados
a funções. Assim surgem naturalmente as seguintes definições
Z +∞ Z +∞
dxg(x)δ(x − x0 ) ≡ lim dxg(x)φη (x − x0 )
−∞ η→0 −∞
Z +∞ Z +∞
dxg(x)δ(ax) ≡ lim dxg(x)φη (ax)
−∞ η→0 −∞
Z +∞ Z +∞
dxg(x)δ ′ (x) ≡ lim dxg(x)φ′η (x) (20)
−∞ η→0 −∞
para funções φη que satisfaçam a condição da eq.(9). Embora as expressões do lado esquerdo
desta definições não sejam integrais no sentido usual da palavra as expressões da direita
são. Como tal podem ser manipuladas pelos processos habituais (mudanças de variável,
integração por partes etc.).
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Vejamos um exemplo
Z +∞ Z +∞
dxg(x)δ(x − x0 ) ≡ lim dxg(x)φη (x − x0 ) (21)
−∞ η→0 −∞
Z +∞
= lim dyg(y + x0 )φη (y) (22)
η→0 −∞
Z +∞
= dxg(y + x0 )δ(y) = g(x0 ) (23)
−∞
i) (
Z b 1 se a < x0 < b
dxδ(x − x0) = (a < b) (24)
a 0 se x0 < a ou x0 > b
1
iii) δ(ax) = |a|
δ(x)
1
iv) δ(x2 − x20 ) = 2|x0 |
(δ(x − x0 ) + δ(x − x0 )
1
v) δ(f (x)) = an |f ′ (an )| δ(x − an ) se f (an ) = 0, f ′ (an ) 6= 0
P
R +∞ ′ ∂g(x)
vi) −∞ dxg(x)δ (x) = − ∂x = −g ′ (0)
x=x0
R +∞
vii) −∞ dyδ(x − y)δ(y − x′ ) = δ(x − x′ )
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Usando as substituições x → y com y 2 = x2 − x20 e
q
x = x− (y) = − y + x20 no primeiro integral (26)
q
x = x+ (y) = + y + x20 no segundo (27)
obtemos
Z −x20 dy Z −x2
0 dy
g(x− (y))δ(y) + g(x+ (y))δ(y) (28)
∞ 2x− (y) ∞ 2x+ (y)
ou seja
Z +∞ 1
dxg(x)δ(x2 − x20 ) = (g(−|x0|) + g(|x0|)) (29)
−∞ 2|x0|
o que em termos de função delta significa
1
δ(x2 − x20 ) = (δ(x − x0) + δ(x − x0)) (30)
2|x0|
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Por este processo a eq(33) fica reduzida a
Z +∞
lim dxg(x)φη (x) (37)
η→0 −∞
em que a função φη é uma das referidas atrás como dando origem a funcionais que convergem
para a função delta de Dirac.