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ISSN 1982-3541

Belo Horizonte-MG
2008, Vol. X, nº 1, 67-79

Discutindo o uso do laboratório de análise do


comportamento no ensino de psicologia

Discussing the use of behavior analysis


laboratories in teaching of psychology

Manuela Gomes Lopes


Rodrigo Lopes Miranda
Silvania Sousa do Nascimento
Sérgio Dias Cirino
Faculdade de Educação - Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

Neste artigo, é feita uma discussão sobre o uso do laboratório experimental como recurso didático no ensino de
Psicologia a partir de aproximações entre a utilização do laboratório no ensino de Ciências e no ensino da Análise do
Comportamento. Questiona-se sobre qual é o papel desempenhado pelo laboratório e quais são suas contribuições
efetivas como recurso didático na aprendizagem dos alunos. As funções tradicionalmente associadas ao Laboratório
Animal Operante são abordadas, assim como suas principais características e críticas recebidas. Ressalta-se, sobretudo,
que as práticas de laboratório devem-se constituir como espaço para criação de condições em que os estudantes possam
desenvolver habilidades que lhe serão imprescindíveis na futura profissão. É destacada, por fim, a pertinência de se
conceber o Laboratório de Análise do Comportamento não necessariamente como Laboratório Animal Operante, mas
como um espaço propício à realização de outras práticas.

Palavras-chave: Ensino de análise do comportamento, Ensino de psicologia, Laboratório experimental, Laboratório


animal operante, Laboratório de análise do comportamento.

Abstract

This article is an argument about using experimental laboratory as a resource in teaching psychology by the approachs
between the use of the laboratory in Teaching Sciences and Behavior Analysis. It is questioned outwhat is the role
played by the laboratory and what are its effective contributions as a teaching resource in students’ learning. The
functions traditionally associated with the Animal Operant Laboratory are addressed, as well as its main features
and his critics. It is emphasized, above all, that the laboratory practices must be as a space for creating conditions in
which students can develop skills that will be indispensable in their future profession. It is emphasized, at last, the
relevance of conceiving the Behavior Analysis Laboratory not necessarily as Animal Operant Laboratory but as a space
conducive to other activities.

Key-words: Teaching behavior analysis, teaching psychology, experimental laboratory, animal operant laboratory,
laboratory of behavior analysis.

 Os autores agradecem aos pareceristas pelas críticas e sugestões feitas a este artigo.
 Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG. Coordenadora Psicoeducacional da Educação Infantil do Colégio Ima-
culada Conceição / BH. E-mail: manuglopes@gmail.com
 Aluno do Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da UFMG. Profes-
sor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. E-mail: dingoh@gmail.com
 Doutora em Didática das Ciências Físicas e Tecnologia pela Université de Paris VI. Professora do Departamento de Métodos e Téc-
nicas de Ensino da Faculdade de Educação da UFMG. E-mail: silvania.nascimento@cnpq.br
 Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Professor do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino
da Faculdade de Educação da UFMG. E-mail: sergiocirino99@yahoo.com

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Manuela Gomes Lopes - Rodrigo L. Miranda - Silvania Sousa do Nascimento - Sérgio D. Cirino

Desde a grande expansão industrial Aproximações com uma discussão similar já


ocorrida com o final da Segunda Guerra estabelecida no Ensino de Ciências a partir
Mundial, o desenvolvimento científico e tec- do espaço do laboratório experimental serão
nológico tem provocado grandes reformas apresentadas para atender aos objetivos do
nos sistemas educativos. A pesquisadora Ana presente artigo.
Freire (1993) destaca, ao fazer uma revisão
das reformas curriculares nas disciplinas de As relações entre o laboratório experimental
Física e Química, que os projetos de reforma no Ensino de Ciências e no ensino de Análi-
dos anos 1960 estavam pautados na vivência se do Comportamento
do “método científico” e que as posteriores re-
formas do currículo de ciências, inicialmente, Entre as décadas de 1960-70, existiam
apresentavam uma abordagem tradicional do nos cursos de graduação em Psicologia, no
laboratório. Tal abordagem estava centrada Brasil, diversas modalidades de laboratórios
na transmissão de conteúdo, em que a expe- de psicologia experimental, dentre eles o la-
riência aparecia isolada da teoria ou servia de boratório vinculado ao ensino de Análise do
elemento de verificação dos conhecimentos Comportamento (Teixeira e Cirino, 2002). A
teóricos. Ainda hoje, as discussões acerca do partir da década de 1980, porém, o uso do
uso do laboratório experimental como recur- Laboratório Animal Operante tornou-se mais
so didático fazem parte da pauta de pesqui- prevalente, acabando por vincular o nome
sas no campo do Ensino de Ciências. Grande Psicologia Experimental ao da Análise do
parte desse debate lida com duas questões: 1) Comportamento (Miraldo, 1985; Teixeira e
Qual é o papel do laboratório experimental Cirino, 2002). Ao longo dessa trajetória histó-
no currículo de ciências? 2) Quais são as con- rica, é possível afirmar que o uso do laborató-
tribuições que esse recurso disponibiliza para rio experimental tornou-se uma tradição no
a aprendizagem dos alunos? Em ambos os ca- ensino de Psicologia e, particularmente, no
sos, os resultados das pesquisas conduzidas ensino de Análise do Comportamento.
na área são pouco conclusivos (Sá e Borges, Talvez em decorrência disso, os ter-
2002). mos e os espaços do Laboratório Animal
Há, de fato, uma indagação intensa Operante e do Laboratório de Análise do
sobre quais são as funções do laboratório no Comportamento tornaram-se intercambiá-
processo de ensino-aprendizagem. Apesar veis. Tradicionalmente, o ensino de Análise
de se constituir um recurso de ensino ampla- do Comportamento em laboratório experi-
mente difundido e reconhecidamente impor- mental caracteriza-se pelo uso do Laboratório
tante, o laboratório experimental tem sido Animal Operante para o trabalho com princí-
bastante criticado e polemizado quanto à sua pios comportamentais básicos em cursos de
utilização e seus fins. O modelo do ensino graduação em Psicologia; outras formas sen-
experimental tem sido firmemente apoiado do exceção.
numa longa tradição que, conseqüentemente, Tratando sobre as potencialidades
dificulta a identificação de suas próprias limi- do Laboratório Animal Operante, Tomana-
tações e deficiências. ri (2000) indica que esse espaço possui três
As mesmas questões levantadas no principais “qualidades”: (1) ensinar conceitos
campo de Ensino de Ciências podem ser de- básicos de Análise do Comportamento; (2)
batidas no que se refere ao uso do Laborató- promover a iniciação dos estudantes à forma
rio Animal Operante no ensino de graduação de pensar científica e experimentalmente e;
em Psicologia. Assim, o objetivo do presente (3) estando em contato com condições de pro-
artigo é discutir e entender um pouco melhor dutor de conhecimento, o laboratório permite
o uso vigente dessa modalidade de labora- “(...) treinar atitudes de pesquisador” (p.81).
tório experimental como recurso didático. Em concordância com esses objetivos, mas

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abordando a utilização do laboratório no En- cognitivo – supondo que as atividades expe-


sino de Ciências, Villani (2002) aponta duas rimentais podem “facilitar a compreensão do
tendências principais que justificam o uso do conteúdo”; e (3) as de cunho motivacional –
mesmo como recurso didático. A primeira é que acreditam nas aulas práticas como recur-
que as atividades realizadas nesse ambiente sos que auxiliam em “despertar” o interesse
facilitam a compreensão e a apropriação de do aluno.
leis e conceitos. A segunda justificativa apon- Em meio a esse conjunto de catego-
ta para o caráter experimental da atividade rias, a concepção mais freqüentemente en-
científica, salientando que aprender ciência contrada está associada à imagem do conhe-
implica em aprender não apenas os seus as- cimento científico atrelado às descobertas de
pectos teóricos, mas também seus aspectos laboratório por meio de experimentos que
experimentais. Pode-se sintetizar o que esses lhes validam e garantem confiança. A expe-
autores apontam em características relaciona- rimentação seria a forma pela qual surgem e
das ao ensino de conceitos, terminologias es- são julgadas as teorias construídas pelos cien-
pecíficas e habilidades de cientistas. No caso tistas. A ciência, por sua vez, estaria ligada ao
do Laboratório Animal Operante, acrescenta- seu método, concebido como um conjunto de
se a aprendizagem de processos e definições etapas a serem seguidas. Com isso, mantém-
da Análise do Comportamento. se uma visão aproblemática e a-histórica da
Sá e Borges (2002), embora estejam de ciência, segundo a qual os conhecimentos já
acordo com as potencialidades do laboratório desenvolvidos são transmitidos sem que haja
experimental como ferramenta no Ensino de o contato com as questões que lhes origina-
Ciências, salientam que não necessariamente ram, não se mostrando a evolução do proces-
ela implique em resultados proveitosos para a so e as dificuldades encontradas (Pérez, Mon-
aprendizagem dos alunos. Neste sentido, Ar- toro, Alís, Cachapuz e Praia, 2001).
ruda e Laburú (1998) propõem uma reflexão Em concordância com essas observa-
sobre a função e a importância do experimen- ções, Barberá e Valdés (1996) destacam que o
to no Ensino de Ciências. A partir de resulta- trabalho prático realizado no laboratório ex-
dos que encontraram em pesquisas realizadas perimental como recurso didático no Ensino
com professores de Magistério e de Ciências de Ciências constitui-se, em grande medida,
da região de Londrina, tentaram verificar a como a realização de experiência cujos resul-
presença de uma visão de ciência tradicional tados já se conhecem. Isso ocorre porque as
ou popular, fundamentando e justificando as práticas funcionam basicamente pela replica-
atividades de laboratório. Tais autores indi- ção de experimentos “clássicos” ao invés de
cam que um dos elementos que subsidia as focar investigações mais amplas que pode-
atividades de laboratório propostas pelos riam produzir conhecimentos novos. Mesmo
professores e os objetivos dessas práticas é a levando-se em consideração a dificuldade do
visão de ciência em que esses se baseiam. professor em trabalhar sem um roteiro prévio
Além disso, Arruda e Laburú (1998) para a atividade prática, verifica-se que, dian-
averiguaram que a visão de ciência de grande te dele, o aluno tem mínimas possibilidades
parte dos professores não apenas norteia as de formular um problema a ser estudado em
atividades de laboratório, mas também impli- laboratório. Este pode passar a não instigar o
ca na valorização de sua função e importância. aluno a buscar respostas e, conseqüentemen-
Nesse sentido, ressaltam que as respostas so- te, pouco contribuir para sua aprendizagem.
bre qual é a importância do laboratório como A partir desse conjunto de investigações,
recurso didático podem ser categorizadas em observa-se a predominância da valorização
três tipos básicos: (1) as de cunho epistemo- epistemológica das atividades práticas em
lógico – que assumem que a experimentação laboratório, o que pode acarretar em compro-
objetiva “comprovar teorias”; (2) as de cunho metimento nas demais potencialidades desse

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recurso para o processo ensino-aprendiza- Caracterizando o Laboratório Animal


gem. Operante
Barberá e Valdés (1996) citam, ainda,
estudos realizados na Inglaterra cujo propó- Diante do conjunto de potenciais ob-
sito era elencar e comparar os objetivos de- jetivos de ensino vinculados ao uso do labo-
lineados pelos professores relacionados às ratório e dos embates freqüentes encontrados
práticas de laboratório, com as opiniões e na sua utilização, algumas questões se desta-
objetivos referentes a elas por parte dos alu- cam ao se tratar do Laboratório Animal Ope-
nos. Observou-se que, para os professores, os rante.
objetivos mais importantes citados foram: o No que se relaciona ao ensino-apren-
desenvolvimento de habilidades manipulati- dizagem de processos, terminologias e defini-
vas; o auxílio fornecido pelo laboratório para ções comportamentais, focar especificamente
melhor compreensão por parte dos alunos elementos constitutivos da abordagem com-
dos princípios teóricos das disciplinas; e a portamental é um ponto importante. Durante
recompilação de dados e ações que, a poste- a graduação em Psicologia, na qual a legis-
riori, permitiriam o descobrimento de princí- lação pertinente aponta para a necessidade
pios. Porém, quando observadas as respostas de formação multifacetada, é realmente dese-
apresentadas pelos alunos em relação às ati- jável que os estudantes tenham contato com
vidades experimentais, é possível constatar várias abordagens psicológicas, dentre elas a
que a maioria delas estava ligada à promoção Análise do Comportamento. Todavia, o obje-
do interesse e do contato com a realidade dos tivo do ensino de uma abordagem específica,
fenômenos naturais. Destacando-se o fato de tal como a Análise do Comportamento ou a
que os professores não haviam exposto seus Psicanálise, transcende ao papel de formar
objetivos aos estudantes, um distanciamento analistas do comportamento ou psicanalistas.
entre os objetivos apresentados entre esses É necessário, sobretudo, desenvolver habili-
dois grupos pode ser observado. dades importantes para a formação geral dos
Séré (2002), por sua vez, ao trabalhar estudantes, independente das contingências
com professores espanhóis, encontrou re- relacionadas à escola de pensamento às quais
sultados similares tanto no que concerne às eles responderão futuramente.
respostas específicas de alunos e professores Na mesma direção, o foco das ati-
quanto ao distanciamento entre as concepções vidades de laboratório não deveria ser o de
desses dois grupos. Particularmente, esse au- formar analistas do comportamento, mas sim
tor identificou uma preferência dos alunos o de criar condições para que os estudantes
em fazer suas próprias perguntas ao invés desenvolvam habilidades que lhes serão im-
de responder a questões previamente deter- prescindíveis na futura profissão. Teixeira e
minadas, além de sentirem falta da possibili- Cirino (2002, p.141) elencam algumas dessas:
dade de construírem experimentos de acordo “(....): 1) a observação do comportamento do
com suas próprias idéias e expectativas. sujeito; 2) o relato da sua intervenção, da sua
É possível perceber, portanto, que observação, etc”. Essas habilidades, embora
muito se discute sobre quais são efetivamen- possam ser descritas diferentemente, perpas-
te os principais objetivos, funções e visões de sam a profissão do psicólogo, independente
ciência que norteiam a utilização do laborató- do contexto de atuação em que ele estiver in-
rio experimental, concebido como recurso di- serido. Ainda em se tratando da ênfase, por
dático no Ensino de Ciências. Aproximações vezes excessiva, na formação de analistas do
com o uso do laboratório no ensino da Aná- comportamento nesse espaço, situa-se o enfo-
lise do Comportamento podem ser constata- cf. Resolução nº 23001.000321/2001-99 do Conselho Nacional
de Educação que institui as diretrizes curriculares nacionais
das, o que se mostrará mais nítido nos itens para os cursos de graduação em Psicologia. http://www.pol.
subseqüentes. org.br/legislacao/leg_normatizacao.cfm. Acessado em 28 de
março de 2008.

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que na terminologia comportamentalista. Ma- te da formação de psicólogos, a ciência pres-


chado e Silva (1998) salientam que a aprendi- supõe a crítica e o diálogo como fundamentais
zagem de termos e definições é importante; para o desenvolvimento do conhecimento e
todavia, ela não deve preterir do ensino dos das próprias habilidades envolvidas no fazer
processos comportamentais envolvidos nas científico. Esse “espírito crítico” permite ao
práticas. Ou seja, embora os termos devam estudante aprender a refletir sobre suas prá-
ser ensinados, torna-se mais relevante criar ticas e crenças, observando aquilo que é mais
condições para que os estudantes aprendam a efetivo em determinadas situações e para
ler os fenômenos comportamentais por meio clientes particulares, bem como para sua for-
de respostas envolvidas na aprendizagem ma de conceber o trabalho como psicólogo.
dos processos implicados na tríplice contin- Para atender a esse conjunto de con-
gência. tribuições que o laboratório propicia para a
Paralelamente, pode-se situar o outro formação do aluno envolvendo, principal-
conjunto de objetivos do uso do laboratório mente, a concepção de habilidades ligadas a
como recurso didático em Análise do Com- uma ciência experimental, também se tornou
portamento: o ensino de habilidades de cien- usual a participação de sujeitos não-huma-
tistas. Certamente, esse espaço é um dos que nos nas práticas experimentais. Os mais co-
permite ao estudante entrar em contato com muns são pombos e ratos albinos. No ensino
um contexto mais controlado que o do coti- de Análise do Comportamento, o rato albino
diano e, diante disso, a possibilidade de que (rattus norvegicus) caracteriza-se como o sujei-
ele aprenda a controlar variáveis é salientada. to tradicionalmente utilizado. Lattal, McFar-
Além da questão do controle, o laboratório land e Joice (1990), por exemplo, fizeram um
propicia o desenvolvimento de habilidades levantamento nos Estados Unidos para verifi-
de criação de questões a serem estudadas. car a porcentagem de laboratórios de Análise
Esses comportamentos serão úteis no futuro de Comportamento que estavam vinculados
exercício da profissão, como, por exemplo, na a este modelo e observaram que, do total pes-
prática clínica, na qual o terapeuta levanta- quisado, 52% encontravam-se relacionados
rá hipóteses sobre os elementos contextuais ao modelo animal e, deste conjunto, 47% uti-
com os quais as queixas do cliente se relacio- lizavam-se de ratos para o desenvolvimento
nam. Será a partir do levantamento, teste e das práticas. Historicamente, observa-se o
refutação das hipóteses concebidas ao longo destaque dado ao rato albino, como no trecho
do processo terapêutico que o terapeuta po- extraído de Guidi e Bauermeister (1974, p.9):
derá transformar a sessão em um espaço para “(...) o rato vem sido preferido como sujeito
o aparecimento das queixas e de intervenção experimental por várias razões (...) [e eles]
sobre elas. Observa-se, com isso, que o labo- vêm sendo usados extensivamente na pesqui-
ratório permite a extensão do ensino de prá- sa psicológica”.
ticas psicológicas para além das práticas ver- Existe uma gama de concepções justi-
bais (Karp, 1995), tornando-se um elemento ficando essa prática, sendo que muitas delas
extremamente importante, sobretudo para a fogem ao escopo do presente artigo. Contu-
prática clínica, uma vez que não necessaria- do, em alguns dos manuais de laboratório de
mente há correspondência entre as respostas Análise do Comportamento publicados em
verbais e não-verbais. português brasileiro (cf. Gomide e Weber,
Ainda no que se refere à formação de 1985; Banaco, 1990; Matos e Tomanari, 2002),
habilidades de cientistas como fator pertinen- existem justificativas para o uso do rato albi-
 Optou-se por exemplificar as contribuições do Laboratório no no Laboratório Animal Operante.
de Análise do Comportamento para o desenvolvimento de Banaco (1990) pontua que o uso do
respostas voltadas para a prática clínica; contudo, tem-se em
vista que essas contribuições se aplicam aos diversos contextos rato albino torna prático o trabalho no labora-
profissionais do psicólogo, como por exemplo a área escolar tório experimental, pois é possível conhecer
ou hospitalar.

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a história prévia do sujeito e, em alguma me- aquilo que os alunos esperavam estudar em
dida, exercer controle sobre certas variáveis Psicologia e as práticas efetivas realizadas no
desta história. O trabalho com humanos, por laboratório, uma vez que a concepção colo-
sua vez, tem um importante complicador que quial sobre essa disciplina é que ela lida com
é o de se ter uma grande dificuldade no con- sentimentos, emoções e a mente e não com
trole da história do sujeito. ratos.
Matos e Tomanari (2002) utilizam Alguns professores, em decorrência
argumentos muito similares aos apresenta- disso, procuram apontar similaridades entre
dos por Banaco (1990). Entretanto, ao invés características das contingências às quais o
de tratarem sobre a dificuldade de controle rato albino e o ser humano respondem, prin-
das variáveis históricas, indicam que a pre- cipalmente no que se refere aos “esquemas de
ferência pelo uso de ratos albinos se deve reforçamento” (Machado e Silva, 1998). Toda-
principalmente ao fato de que os humanos via, em concordância com Machado e Silva
apresentam respostas altamente refinadas. O (1998), essa forma de exemplificação didática
responder do rato albino, ao contrário, é sim- pode comprometer mais do que auxiliar na
ples, facilitando o controle das variáveis das aprendizagem dos estudantes. Isso ocorre
quais seu comportamento é função. Gomide justamente porque o responder humano, por
e Weber (1985), por sua vez, citam duas justi- mais prosaico que seja, envolve contingências
ficativas para o uso de animais não-humanos extremamente sofisticadas, diferentes da usu-
no laboratório: (1) é uma característica histó- al pressão à barra do rato albino. Essa busca
rica; e (2) esse uso permite o desenvolvimento de similaridades, então, simplifica o respon-
de determinados procedimentos experimen- der humano e desfoca a busca de quais vari-
tais que não seriam possíveis com humanos áveis o comportamento do rato é função no
em decorrência dos procedimentos éticos a ambiente experimental.
serem adotados. Uma segunda crítica é o fato de que o
rato é um animal que pode ocasionar aversão
Laboratório de Análise do Comportamento por parte dos estudantes e, com isso, influen-
ou Laboratório Animal Operante? ciar a motivação dos mesmos em se engajar
nas atividades. Cientes disso, Matos e Toma-
Embora se esteja de acordo com o res- nari (2000) ponderam que um possível uso do
peito à legislação de ética em pesquisa, seja laboratório seria introduzir, além de explica-
com humanos ou animais não-humanos, o ções das dificuldades do trabalho com huma-
fato de que o comportamento humano é cla- nos, práticas iniciais com humanos, uma vez
ramente mais sofisticado que o dos demais que isso reduziria a resistência dos alunos em
animais e que o controle da história extra-ex- trabalhar com os ratos albinos.
perimental é realmente um complicador nos Miraldo (1985), por exemplo, em um
experimentos com humanos não são motivos estudo que objetivava averiguar quais eram
que justificam o trabalho quase exclusivo com as atitudes e sentimentos de alunos de gra-
ratos albinos. duação em Psicologia de uma universidade
Uma primeira crítica que pode ser de São Paulo, em relação ao Laboratório Ani-
feita a esse uso do laboratório de Análise do mal Operante, indica que os estudantes res-
Comportamento relaciona-se ao momento pondem que a Análise do Comportamento (e
em que ele é inserido no curso de Psicologia. conseqüentemente o laboratório) se destina à
No Brasil, esta inserção se dá no início do aplicação apenas com animais, uma espécie
curso, geralmente entre o segundo e o quarto de “ratologia”. Além disso, esses estudantes
períodos, e como uma disciplina de currículo apontaram que as habilidades desenvolvidas
mínimo para a formação do estudante. Nesse nesse contexto não seriam tão efetivas na prá-
contexto, há possivelmente um choque entre tica clínica, pois trabalhariam com sintomas e

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não com as causas das dificuldades dos clien- ressantes sobre os quais os alunos poderiam
tes. trabalhar, endossando a visão aproblemática
Diante dessas reflexões, pode-se ques- da ciência, como apontado por Pérez, Monto-
tionar se as atividades práticas de laborató- ro, Alís, Cachapuz e Praia (2001). Práticas pla-
rio, da maneira como vêm sendo conduzidas, nejadas e realizadas pelos estudantes, após o
são de fato importantes para a formação do estudo do objeto e dos esquemas experimen-
psicólogo, tal como apontado por Teixeira e tais a serem desenvolvidos, permitiriam a
Cirino (2002). Afinal, se os alunos, após a re- ocorrência daquilo que o Ensino de Ciências
alização destas atividades, abordam sua res- vem denominando de “dado empírico”, que
trita adequabilidade à prática, pode-se inferir pode ser definido como um elemento da prá-
que pouco será incorporado ao fazer dos es- tica experimental que aumenta a probabili-
tudantes no futuro. Assim, é possível indagar dade dos estudantes estabelecerem relações
até que ponto a forma como as atividades de entre os conceitos científicos e os fenômenos
laboratório vêm sendo conduzidas tem con- observados durante o trabalho experimental
tribuído para a formação em Psicologia. (Villani, 2007). Ou seja, contingenciar práticas
Barros (1989) investigou como as ati- das quais não se sabe o resultado a priori per-
vidades práticas circunscritas pelo uso do La- mite o aparecimento de “erros de medida”
boratório Animal Operante se configuravam. que, por sua vez, criam condições para que os
Para tanto, entrou em contato com alguns ma- alunos ponham em prática a análise compor-
nuais que são utilizados como roteiros para tamental do caso, utilizando-se dos processos
as práticas de laboratório e entrevistou vários analítico-comportamentais aprendidos.
professores brasileiros que se utilizavam des- Esses fatores também permitem a dis-
se espaço como recurso didático. Seus resul- cussão sobre o modelo de ciência envolvido
tados apontam que o laboratório tem sido nas atividades de laboratório. A utilização do
usado, basicamente, como um local no qual Laboratório de Análise do Comportamento
se demonstram conceitos a partir de experi- como Laboratório Animal Operante parece
mentos que “sempre dão certo”. Concomitan- contradizer os resultados encontrados por
temente, essa pesquisadora atenta para o fato Arruda e Laburú (1998) acerca da prevalên-
de que tanto a literatura pesquisada quanto cia da concepção epistemológica no uso desse
os professores entrevistados caracterizam o espaço. Isso porque, ao contrário dos resul-
Laboratório Animal Operante como um meio tados encontrados por esses pesquisadores,
motivador para os alunos. as práticas no Laboratório Animal Operante,
Se os experimentos “sempre dão cer- da forma como vêm sendo conduzidas, situ-
to”, como pontuado por Barros (1989), talvez am-se em desacordo com o modelo de ciência
as observações feitas por Arruda e Laburú preconizado pela Análise do Comportamen-
(1996) e Séré (2002) sobre os estudantes no to. Enquanto se propõe um modelo induti-
ensino laboratorial de Ciências também se- vista de ciência, em que a discussão teórica
jam pertinentes para aqueles envolvidos com é feita após os resultados terem sido obtidos,
o Laboratório Animal Operante. Assim, os põe-se em prática uma forma hipotético-de-
estudantes estão predispostos a responder a dutiva, segundo a qual as hipóteses são ela-
contingências que envolvam o contato com boradas antes do trabalho experimental, que
a realidade dos fenômenos comportamen- tem o papel de refutabilidade daquilo que era
tais por meio da confecção de suas próprias esperado. Ou seja, o atual uso do laboratório
perguntas e de experimentos a partir de suas experimental em Análise do Comportamento
próprias idéias e expectativas. Para uma discussão mais detalhada sobre esses dois modelos
A manutenção desses experimentos de ciência e a predileção da Análise do Comportamento pelo
viés indutivista, sugere-se a leitura de: Skinner, B. F. (1950)
clássicos dos quais já se conhecem os resulta- Are Theories of Learning Necessary? Psychological Review, 57,
dos dificulta a ocorrência de elementos inte- p. 193-216 e Skinner, B.F. E(1956) A Case History in Scientific
Method. American Psychologist, n.11 (5), p. 221-233.

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com finalidades didáticas traz consigo impas- virtual.


ses epistemológicos importantes. No Brasil, tem-se disponível o software
O caráter motivacional também pode “Sniffy: o rato virtual” (2006), no qual os mo-
ser questionado quanto à sua efetividade em vimentos espontâneos de um rato albino real
contribuir para a adesão dos alunos às ativi- foram gravados em videoteipe que posterior-
dades. Afinal, como apontado por Miraldo mente foram digitalizados. As justificativas
(1985), os estudantes indicam que o labora- dos criadores desse programa, diferentemen-
tório tem pouco a auxiliar na sua formação te das de Graf (1995), são: 1) o custo elevado
como psicólogo, da maneira como vem sendo da criação e manutenção de um laboratório
utilizado. Desta forma, pode-se conceber que com ratos albinos reais; e 2) o fato de que vá-
sua motivação em se envolver com as ativida- rios comitês de ética em pesquisa vêm proi-
des é limitada. De acordo com essa perspec- bindo a experimentação com animais quando
tiva, Teixeira e Cirino (2002) apontam que o já se conhecem na literatura os resultados dos
laboratório, no que tange ao aspecto motiva- experimentos (Alloway, Wilson e Graham,
cional, tem se transformado em um elemento 2006), como é o caso usual do Laboratório
de aversão por parte dos alunos e, em con- Animal Operante.
seqüência disso, provavelmente pouco das Embora o objetivo relacionado ao de-
habilidades contingenciadas por esse espaço senvolvimento do software seja pertinente, ele
será incorporado ao fazer futuro desses estu- possui problemas. O primeiro é o fato de que
dantes. “Sniffy” foi desenvolvido apenas para con-
Aparentemente, os resultados en- dição de ensino e não de pesquisa. Assim, se
contrados a partir da configuração histórica será demandado um custo para implemen-
das atividades de laboratório constituíram tação de um laboratório com computadores,
um elemento preocupante também fora do mas em paralelo, será necessária a manuten-
Brasil. Diversos pesquisadores estaduniden- ção do antigo espaço destinado a ratos albi-
ses desenvolveram maneiras alternativas de nos reais para o desenvolvimento de pesqui-
construir e realizar as práticas de laboratório sa, quais as vantagens na criação do ambiente
no ensino de Psicologia. destinado ao rato virtual?
Karp (1995) propõe que as atividades “Sniffy” “(...) [trata-se de] um tipo de
experimentais sejam transformadas em situ- metáfora para ajudar [o estudante] a compre-
ações de diversão e, para tanto, apresenta a ender a psicologia da aprendizagem” (Allo-
proposta de uma “olimpíada de ratos”. Com way, Wilson e Graham, 2006. p.6). É tangen-
isso, os alunos, embora estejam em contato ciando este aspecto que outros problemas são
com os mesmos princípios, realizam ativida- situados. Se, como indicado por Tomanari e
des teoricamente menos antipáticas. Nesse Eckerman (2003), um dos aspectos prepon-
sentido, o caráter de aversão pode ser reduzi- derantes no Laboratório Animal Operante é
do, mas, em contrapartida, o laboratório teria a heterogeneidade dos padrões de compor-
a possibilidade de se tornar uma espécie de tamento do sujeito experimental, exigindo
“circo”, marcado então pela jocosidade. o tratamento dos dados gerados de maneira
Graf (1995), por sua vez, preocupado individualizada e demandando que os es-
com a possibilidade da extinção do uso do tudantes se deparem com diferenças entre o
laboratório e com a aversão propiciada pelo ocorrido e o esperado, o software em questão
mesmo, sugere a configuração das práticas no também não cumpre tal critério. Não cumpre
formato de programas de computador. As- porque, após ter sido feita a entrada do es-
sim, as mesmas atividades e o mesmo sujeito quema de reforçamento e de que forma ele
experimental seriam mantidos, mas desta vez ocorrerá, os dados gerados por todos os su-
no computador, transformando-se as práticas jeitos experimentais serão similares ao que
em uma espécie de videogame, com um animal seria esperado para tal programação. Assim,

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Discutindo sobre o uso do laboratório de análise do comportamento no ensino de psicologia

ainda continuam pouco presentes a discussão na possibilidade de sua extinção. Essa possi-
sobre o método empregado, o controle de va- bilidade não está tão distante se verificarmos
riáveis e os processos envolvidos, implicando que existem projetos de lei tramitando e ou-
em uma redução (ou mesmo anulação) de um tros já aprovados em alguns estados brasi-
dos aspectos positivos do laboratório: o de- leiros, por exemplo, Santa Catarina e Rio de
senvolvimento de habilidades de cientista e Janeiro, respectivamente, que proíbem o uso
de outras competências que serão necessárias de animais no ensino e na pesquisa.
na futura profissão. Pode-se avaliar que a melhor saída
O segundo ponto negativo é o fato do não é abandonar o laboratório, mas sim, ve-
rato virtual não apresentar saciação e apren- rificar seu uso e as práticas de ensino ali cir-
der mais rapidamente do que o rato real. A cunscritas antes de optar por sua extinção.
não-apresentação de saciação dificulta dis- Essa opção se justifica pelo fato do laborató-
cussões sobre motivação, já que o sujeito con- rio, como recurso didático, não diferir da sala
tinuará a responder à contingência progra- de aula quanto à sua natureza (Tardif, 2005),
mada, uma vez que o aspecto fisiológico não pois também foca na relação ensino-apren-
criará condições para outros comportamen- dizagem. Dessa forma, a observação de Tei-
tos associados à saciação. Por aprender mais xeira e Cirino (2002) sobre a importância das
rápido, além de dificultar a generalização atividades experimentais se sobressai, uma
do responder dos estudantes ao contexto de vez que as habilidades que podem ser nele
experimentação com ratos reais (Tomanari e desenvolvidas são importantes para a forma-
Eckerman, 2003), implica em condições pou- ção dos alunos.
co efetivas para a prática futura do psicólogo. O que se observa nos estudos ante-
Se esperar que o sujeito se comporte a partir riormente mencionados (Graf, 1995; Karp,
da modificação das contingências em vigor 1995) é que se tenta mudar as atividades ex-
na sessão terapêutica é uma das atribuições perimentais sem se atentar que os elementos
do terapeuta, ter de esperar o rato real res- circunscritos no âmbito dos métodos e técni-
ponder à contingência auxilia nesse processo, cas de ensino encontram-se subsidiados pela
o que não ocorre com “Sniffy”. definição dos objetivos pedagógicos (Mar-
O terceiro aspecto negativo apresen- tins, 1991). Modificar a prática sem averiguar
tado por “Sniffy: o rato virtual”, e pelos de- quais os elementos que lhe subsidiam pode
mais simuladores de ratos albinos, constitui- implicar na manutenção dos problemas e das
se pelo fato de se tratar de uma metáfora. Os deficiências presentes. Dessa forma, o que se
próprios desenvolvedores do software apon- sustenta não são apenas modificações topo-
tam que o trabalho com o rato virtual não gráficas no atual laboratório experimental no
substitui as atividades com o rato real, por ensino de Análise do Comportamento mas,
ele ser apenas uma metáfora. Portanto, se não principalmente, alteração de funções que
substitui o trabalho com o rato real, por que permitam uma nova configuração das contin-
alterar o atual Laboratório Animal Operante gências de ensino ali presentes.
pelo do rato virtual? E por que metaforizar Lattal (1978), por exemplo, preocupa-
com um rato? Diante de alternativas como do com a possível má utilização do Laborató-
essas, observa-se que os problemas encontra- rio de Análise do Comportamento em cursos
dos poderiam ser perpetuados, além de ou- introdutórios de Psicologia e com a percepção
tros serem criados. Com a manutenção desse dos estudantes em relação à disciplina, pro-
aspecto, a caracterização poderia continuar põe um programa preparatório para profes-
sendo a de “ratologia”. sores responsáveis pelo ensino da abordagem
Analisando esses problemas encon- comportamental. Essa preparação prévia per-
trados no uso contemporâneo do Laboratório mitiria que os docentes discutissem questões
Animal Operante, pode-se pensar inclusive freqüentemente levantadas pelos estudantes

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Manuela Gomes Lopes - Rodrigo L. Miranda - Silvania Sousa do Nascimento - Sérgio D. Cirino

no início do curso, tais como: semelhanças e Além disso, esse novo instrumental
diferenças entre o comportamento de huma- deve refratar e refletir mudanças que ocorre-
nos e animais não-humanos, abrangência de ram com o método de pesquisa experimental,
estudos com não-humanos para a compreen- já que ele terá que se moldar ao sujeito ser hu-
são de assuntos humanos, etc (Cirino, 2000). mano, no qual a complexidade do responder
Assim, observa-se que repensar o ensino de e o controle de história dificultam, mas não
Análise do Comportamento perpassa neces- inviabilizam o trabalho. O método também
sariamente pelo trabalho de formação de fu- deverá ser refinado, pois novas exigências de-
turos professores. verão ser atingidas em decorrência do rigor
Mais especificamente ao Laboratório necessário à pesquisa com seres humanos,
de Análise do Comportamento, pode-se pen- como preconizado pelos comitês de ética dis-
sar no desenvolvimento de condições para o tribuídos por todo o Brasil.
ensino e pesquisa em Análise do Comporta- A criação e o desenvolvimento de
mento com a participação de sujeitos huma- formas de trabalho com seres humanos nos
nos. Essa modalidade de uso do laboratório Laboratórios de Análise do Comportamento,
implica não apenas na mudança dos partici- sobretudo por meio de softwares, exigirão a
pantes, mas na alteração das práticas de ensi- reestruturação das condições físicas das insti-
no, uma vez que conduz a modificações nas tuições de ensino, como por exemplo, na com-
várias etapas da produção de conhecimento. pra ou realocação de computadores. Todavia,
As contingências para a formação de pesqui- embora a curto prazo isso requeira custos, já
sador tornam-se mais claras, exigindo dos de início a criação dos laboratórios com hu-
estudantes repertórios que vão desde revisão manos é menos onerosa do que atualmente
da literatura, seleção de participantes, até o é a de fundação de laboratórios de animais
relato dos resultados das manipulações expe- não-humanos para a Psicologia. Esses custos
rimentais. podem, inclusive, ser minimizados pela ado-
Iniciativas como essa já podem ser en- ção de sistemas operacionais baseados em
contradas no Brasil, como é o caso do Labo- “software livre”, geralmente de distribuição
ratório de Análise Experimental do Compor- gratuita. A médio e a longo prazo, os custos
tamento Humano (LAECH) da Universidade de manutenção são efetivamente menores,
Estadual de Londrina (UEL). Além dessa pois dispensa a contratação de bioteristas e
iniciativa, podem ser citados Costa e Banaco a compra de alimentos, medicamentos e ou-
(2002; 2003), que desenvolveram um software tros itens indispensáveis para a manutenção
para trabalho com sujeitos humanos, tanto na de ratos albinos. Esses recursos, por sua vez,
esfera de ensino quanto de pesquisa. Pode-se podem ser alocados no aprimoramento de es-
indicar, ainda, dissertações recentes que, para tudantes que estejam envolvidos diretamente
o estudo com o conceito de história compor- com os laboratórios, tais como os bolsistas e
tamental, contaram com a participação de hu- monitores aprendendo a trabalhar mais sofis-
manos (cf. p.ex. Salgado, 2007). ticadamente com computadores e com softwa-
Ao se propor o uso do laboratório com res de programação e design.
sujeitos humanos, novos desafios aparecem. O trabalho com humanos permite
Em princípio, mais estudos devem ser reali- a manutenção do ensino de características
zados caso se opte pelo desenvolvimento de próprias do fazer científico, de conceitos e
softwares para o trabalho com seres humanos, habilidades inerentes ao psicólogo e ao futu-
uma vez que, sofisticando-se o responder dos ro analista do comportamento. Na verdade,
sujeitos experimentais, obrigatoriamente os justamente pelas particularidades do sujeito
instrumentos de trabalho também devem ser e do trabalho com humanos, permite-se uma
refinados. sofisticação maior das habilidades dos futu-
 Informações sobre o ProgRef podem ser encontradas em ros psicólogos, pois aprenderão o controle de
http://www2.uel.br/pessoal/caecosta/.

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Discutindo sobre o uso do laboratório de análise do comportamento no ensino de psicologia

variáveis e o pensar científico com elementos didático, o que colabora para o delineamento
bastante próximos ao do futuro ambiente pro- dos seus usos contemporâneos.
fissional. Além disso, em função de estarem A partir de reflexões nesse sentido,
trabalhando com seres humanos e não mais os objetivos de ensino que acompanham o
com ratos albinos, o caráter motivacional pre- uso do laboratório animal operante podem
sente nas atividades de laboratório pode ser ser identificados, ou seja, as regras às quais
potencializado. os professores respondem enquanto utilizam
Repensando o uso do Laboratório de desse espaço para criar condições de apren-
Análise do Comportamento, indicam-se mu- dizagem para os alunos podem ser mais bem
danças também no momento em que ele é descritas. Diante das seções precedentes,
inserido no curso. Se ele fosse um espaço de pontua-se que talvez esse objetivos possam
ensino-aprendizagem destinado a períodos ser agrupados em dois grupos: ensinar habi-
mais avançados, talvez os estudantes pudes- lidades de cientista e ensinar respostas que
sem aproveitar mais das potencialidades des- compõem classes comportamentais típicas de
se local, além de apresentarem menos produ- analistas do comportamento. Ambas são vá-
tos colaterais como os apontados por Miraldo lidas; porém, o laboratório animal operante
(1985): apresentam repugnância quanto aos não é o único espaço para o desenvolvimen-
textos e não querem lê-los; preferem fazer to de habilidades de cientista. Argumenta-se,
créditos a menos em um determinado semes- sobretudo, que novas configurações para o
tre a terem que fazer disciplinas com “beha- Laboratório de Análise do Comportamento
vioristas”, etc. devem ser concebidas e concretizadas, para
além do Laboratório Animal Operante.
Considerações Finais Esta discussão aponta para a necessi-
dade de se repensar o ensino de Análise do
Pode-se observar que a discussão em Comportamento de uma forma geral, uma
torno do uso do laboratório experimental vez que, contemporaneamente, o laboratório
como recurso didático é freqüente no campo e esta abordagem possuem uma relação qua-
da educação, em geral, e no Ensino de Ciên- se inexorável.
cias, em particular. Em acréscimo, os aspectos Nessa direção, novos estudos e pesqui-
situados nessa discussão, embora não inclu- sas precisam ser realizados. Esses trabalhos
am o debate sobre o laboratório experimental devem se debruçar sobre educação e condi-
de Psicologia, apontam questões que se fa- ções de ensino-aprendizagem, implicando em
zem pertinentes para esse contexto, tal como um movimento de aproximação com a área
foi indicado ao longo do presente artigo. da educação, como por exemplo: questionar
O uso do laboratório como recurso sobre o papel do laboratório na formação do
didático em Psicologia, de fato, vem apre- profissional de saúde assim como na do cien-
sentando diversos problemas. Em decorrên- tista das áreas de ciências naturais; investigar
cia disso, torna-se premente uma discussão a questão da pertinência do laboratório como
sobre sua utilização, os objetivos de ensino local especializado para a formação e aquisi-
que lhe subsidiam e os instrumentos que lhe ção de habilidades investigativas; identificar
compõem. Indagar sobre a utilização do la- as representações sociais do laboratório tanto
boratório possibilita uma visão histórica de de alunos como de professores; dentre ou-
como ele foi se desenvolvendo como recurso tros.

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Recebido em: 10/12/2007


Primeira decisão editorial em: 26/01/2008
Versão final em: 23/06/2008
Aceito para publicação em: 16/05/2008

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