Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
O NÚCLEO ATÔMICO
(V.S. Bagnato)
No modelo atômico tratado até então, o núcleo atômico foi considerado como uma massa
pontual de carga positiva. Na realidade o núcleo é muito mais complexo. Ele é tão complexo
que mesmo nos dias atuais ainda existem propriedades a serem entendidas.
Nesta parte do curso, vamos considerar algumas propriedades fundamentais do núcleo e
apresentar os principais modelos para explicá-las. Vamos iniciar o tema apresentando
algumas grandezas típicas que nos permitem ter um quadro representativo do núcleo
atômico.
Ao redor de 1932, a composição nuclear foi determinada por Bothe e Becker. Eles
observaram que ao bombardear matéria com partículas alfa uma radiação misteriosa era
emitida do núcleo. Experimentos realizados por James Chadwick mostraram que esta
misteriosa radiação era constituída por partículas neutras cuja massa era igual à do próton.
Por ser uma partícula eletricamente neutra, esta recebeu o nome de nêutron. O nêutron é
um elemento fundamental na composição nuclear, porém é uma partícula que só é estável
no interior do núcleo. Ao ser colocado livremente, o nêutron torna-se instável e decai
espontaneamente segundo a sequência de reações abaixo:
1
Nêutron → próton + elétron + antineutrino
Este processo de decaimento demora tempo da ordem de 1000 sec.
Logo após a descoberta do nêutron, observou-se que ele é um ingrediente necessário na
estrutura nuclear. Junto com o próton, outro constituinte fundamental do núcleo atômico,
determina em linhas gerais a massa total do átomo. As partículas que compõem o núcleo
são chamadas de núcleons. Dessa forma, tanto os prótons como os nêutrons são
denominados núcleons. Utiliza-se a seguinte notação para designar os núcleons:
Para descrever uma determinada espécie química X, usamos normalmente a notação, ZXA.
Como exemplo, a representação do arsênico de número de massa 75 e número atômico 33 é
75
33As .
1 10 23
1
nuclear 6 0,023 1016 g (5.3)
4 3
3
R0
4
3
1,2 10 13
3 cm 3
3
individualmente, é necessário fornecer ao sistema esta quantidade de energia. Tal energia,
contida na ligação entre os vários núcleons, é denominada de Energia de Ligação. Quanto
mais fortemente ligados estiverem os núcleons, mais estável será o núcleo. Dessa forma, a
energia de ligação mede a estabilidade dos núcleos.
A energia de ligação tem sua origem nas forças que mantêm os núcleons unidos, as quais
são um pouco diferentes dos tipos de força que estamos acostumados até o momento. Se
dividir a energia de ligação de cada núcleo pelo número de núcleons, obtém a energia por
núcleons. A energia / núcleon mostrada como função do número de massa do núcleo está
apresentada na figura 5.1.
Figura 5.1: Energia por núcleon em núcleos como função do número de massa.
4
5.2 – MODELO NUCLEAR
Vamos estudar alguns modelos para forças nucleares. As forças que mantém os núcleons
juntos no interior do núcleo constituem, sem dúvida, as forças mais fortes que conhecemos
e, por isto, são comumente denominadas de interações fortes. Essa interação não pertence
a nenhuma das classes de forças com as quais estamos acostumados a lidar no nosso dia-a-
dia.
Existem vários modelos para explicar a natureza desta interação e, mesmo atualmente,
muito é feito para estudar-las. Vamos, brevemente, descrever os melhores modelos
propostos. Começaremos estudando a teoria dos mésons para forcas nucleares. Formulada
pelo físico japonês H. Yukawa, em 1935, esta teoria explica que as forças nucleares são o
resultado de um constante intercâmbio, de partículas entre os núcleons próximos. As
partículas que participam da troca são denominadas mésons. O processo seria, em alguns
aspectos, semelhante àquele no qual dois núcleos atômicos são mantidos juntos, formando
moléculas através do intercambio de “quanta” (unidade de energia) eletromagnéticos,
através da circulação eletrônica ao redor de ambos os núcleos.
De acordo com a teoria do méson para forças nucleares, todos os núcleons consistem de
centros idênticos, circundados por uma nuvem de um ou mais mésons. Estes mésons podem
ser neutros ou possuírem cargas. Neste contexto, a grande diferença entre nêutrons e
prótons reside na composição de suas nuvens mesônicas.
As forças existentes entre nêutrons ou entre prótons é o resultado de mésons neutros,
designados por π0. Por outro lado, as forças fortes existentes entre nêutrons e prótons
resultam do intercâmbio de mésons carregados designados por π+ ou π-, cujas cargas são
exatamente a carga eletrônica. Assim, um nêutron emitindo um méson π- converte-se num
próton,
n p (5.6)
enquanto que a absorção de um méson π- por um próton leva a formação de um nêutron.
p n (5.7)
No processo inverso,
p n (5.8)
5
Embora o conceito seja intuitivo, infelizmente não há uma forma simples de demonstrar
matematicamente como intercâmbio de mésons leva a forças atrativas ou repulsivas. Vamos
utilizar um exemplo bastante simples para ilustrar o fato. Imagine dois garotos, cada um com
uma bola de basquete. A idéia é que eles deverão trocar as bolas. Quando o jogador A
arremessa sua bola para o jogador B e vice-versa, no ato da emissão eles sofrem recuo de
momentum em direções opostas. O mesmo ocorre quando eles recebem as bolas jogadas
um contra o outro. Dessa forma, este método de trocar as bolas leva a repulsão entre os
dois meninos A e B como mostra a figura 5.2;
7
2
4R 2 4R0 A
3
(5.10)
2
Assim, o número de núcleons superficial é proporcional à A 3 e a energia de ligação de tais
núcleons é Es,
2
Es a2 A 3
(5.11)
A energia Es é chamada de energia superficial do núcleo. Ela leva o sinal negativo, pois
corresponde à diminuição em Ev. Para os núcleos, levar esta forma energética é importante,
já que neste caso a fração de núcleons superficiais é elevada. O núcleo tentará uma
formação que permita maximizar a energia de ligação, o que significa que ele estará mais
estável. Desta forma, o a forma do núcleo é a mais próxima possível de uma esfera,
maximizando a energia de ligação, pois esta é a forma com menor área de superfície para
um determinado volume, semelhante à gota de um líquido.
Além da energia entre núcleons, a repulsão eletrostática entre prótons no núcleo também é
importante pois contribui para diminuir a energia de ligação, desestabilizando o equilíbrio do
núcleo. A energia Coulombiana Ec do núcleo é equivalente ao trabalho necessário para trazer
do infinito os Z prótons e mantê-los juntos, numa distribuição volumétrica que é a do
núcleo. Dado Z núcleons, o número de pares que temos é Z(Z-1). Isto é, cada próton interage
1
com Z-1 prótons, sendo a separação média entre eles da ordem de R0 A 3 , de modo que a
energia de repulsão elétrica entre os prótons do núcleo pode ser expressa como:
Z Z 1
Ec a3 1
(5.12)
3
A
O sinal negativo em Ec na energia Coulombiana significa apenas que essa interação
desestabiliza o núcleo e contrabalanceia a energia de ligação entre os núcleons.
Desta forma, a energia total de ligação do núcleo é,
Eb Ev Es Ec (5.13)
Ou seja,
2 Z Z 1
Eb a1 A a2 A 3 a3 1
(5.14)
3
A
e, assim, a energia de ligação por núcleon é
Eb a a z z 1
a1 12 3 4 (5.15)
A A3 A3
8
A figura 5.5 ilustra o gráfico deste resultado.
É importante notar que Eb obtida com o que foi discutida anteriormente concorda com os
resultados experimentais. Dessa forma, este modelo pode ser útil para uma série de
estudos, principalmente em reações nucleares, como veremos adiante. O modelo da gota
líquida para o núcleo atômico tem sua base no fato que cada núcleo interage primeiramente
com seus vizinhos mais próximos, como num líquido. Existem, no entanto evidências
experimentais de que isto não é completamente verdade, o que sugere uma interação mais
generalizada ao invés de apenas interações entre pares. Porém no espírito introdutório
desta discussão essa aproximações é bastante conveniente para nós introduzirmos a
questão da estabilidade nuclear e motivar os mecanismos de decaimento discutidos a seguir.
9
Imagine uma amostra de elementos radiativos que, num determinado instante, apresenta N
núcleos. Definimos a atividade R como a quantidade de núcleos que decaem por unidade de
tempo. Em linguagem de derivadas:
dN
R (5.16)
dt
O sinal (-) é colocado para fazer R positivo. R é expresso em desintegrações por segundo.
Algumas vezes expressamos R em termos da unidade Curie.
1 curie = 3.7 x 1010 desintegração / segundo (5.17)
Todas as determinações experimentais de R mostram que a atividade apresenta um
decaimento exponencial com o tempo. Define-se a meia vida do elemento, T1/2, como o
tempo para sua atividade cair a metade (50%) do valor no início da medida.
É importante salientar que, após cada período T1/2, a atividade da amostra é reduzida à
metade, ou seja:
T1 T1 T1
2 1 2 1 2 1
R0 R0 R0 R0 ... (5.18)
2 4 8
dN
R N R R0 e t (5.19)
dt
R R0et (5.20)
T 1
1 R0 R0e 2
(5.21)
2
0.693
T1 n2 T1 (5.22)
2 2
10
certo instante de tempo. Se a amostra é grande o suficiente, a fração que decai num
determinado instante corresponde razoavelmente bem à probabilidade de decaimento de
um único núcleo. Assim a probabilidade de um núcleo decair num período de tempo T1/2 é
0,5. Vamos supor que a probabilidade por unidade de tempo para um núcleo decair é
constante e igual a . Logo, a probabilidade de decaimento num intervalo dt é dt. Se
tivermos a amostra com N núcleos que ainda não decaíram, a quantidade dN que decairá
num intervalo dt é
dN
dt (5.23)
N
Por meio da integração da equação (5.23), obtemos
N N 0 e t (5.24)
Esta última equação mostra a evolução temporal do número de núcleos que ainda não
decaíram, com N 0 o número de núcleos em t = 0. A partir desta lei obtém-se a atividade
radiativa como,
dN
R N 0 e t R0 e t (5.25)
dt
com
R0 N 0 (5.26)
R N (5.27)
T T1/ 2 (5.29)
A maioria dos elementos radiativos encontrados na natureza são membros de quatro grupos
denominados de séries radiativas. Estas séries são elementos que se originam basicamente
do mesmo elemento, através de emissões radiativas ( e ). Existem exatamente quatro
séries de elementos radioativos uma vez que o decaimento a reduz a massa atômica em 4
11
unidades. Cada decaimento α ou β proporciona um passo na série. Assim, todos os
elementos radiativos cujas massas são:
A 4n (5.30)
onde n é um inteiro, podem decair uns nos outros em ordem descendente do número de
massa. Os núcleos radiativos cujo número massa é da forma (5.30) são denominados de
membros da série 4n. Temos ainda três outras séries,
A 4n 1
A 4n 2 (5.31)
A 4n 3
Em cada série radiativa, os membros transformam-se uns nos outros através do decaimento.
Cada série tem um elemento denominado “pai” da série, e um elemento estável final que
interrompe o processo de decaimento.
237
4n + 1 Neptúnio 93Np 2,25 x 106 83Bi
209
238
4n + 2 Urânio 92U 4,51 x 109 82Pb
206
235
4n + 3 Actínio 92U 7,07 x 108 82Pb
207
A série do Neptúnio tem um tempo de meia-vida bastante curto comparado com a idade do
universo (~1010 anos), de modo que os membros desta série quase não são encontrados nos
dias atuais. No entanto, estes elementos podem ser obtidos através do bombardeamento de
núcleos mais pesados feitos em laboratório. Estas séries podem ser representadas
graficamente como ilustra a figura 5.6.
12
Figura 5.6: Séries de decaimento radioativo.
z (5.32)
e a do número atômico:
Z 2 x y Z ´ Z 2 x y (5.34)
13
A emissão de partículas α altera o número massa em 4 unidades e o número atômico em 2
unidades. A emissão de partículas β não altera o número de massa e o numero atômico
aumenta em uma unidade. Desta forma, podemos acompanhar as séries anteriores. A
seguir, vamos apresentar brevemente os produtos de cada um dos decaimentos.
np+e
14
A partir medida do momentum do elétron é possível calcular sua energia cinética:
K m02 c 4 p 2 c 4 m0 c 2 (5.35)
nem sempre é verdade e causa a impressão de que a energia está sendo criada, violando um
dos importantes conceitos da Física. Além disso, ao medir com relativa precisão o recuo
sofrido pelo núcleo após o decaimento beta e, comparando seu valor com o momentum de
recuo sofrido pelo elétron, também há uma aparente violação da conservação de
momentum. A explicação deste fenômeno deu origem à suposição da existência do
neutrino, uma partícula importante no entendimento do mundo subatômico, cuja existência
explicaria estas aparentes violações.
15