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SOCIOLOGIA GERAL E JURÍDICA – PROFA. DRA. REGINA CÉLIA PEDROSO

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E REVOLUÇÃO FRANCESA

A Revolução Industrial (1780-1860) e a Revolução Francesa (1789-1799)


foram os dois grandes marcos das transformações e das mudanças que
caracterizaram o surgimento do período moderno e redimensionaram a
conjuntura social.

O surgimento da Sociedade Moderna

A Revolução Industrial (1780-1860) e a Revolução Francesa (1789-1799) foram os


dois grandes marcos das transformações e das mudanças que caracterizaram o
surgimento do período moderno e redimensionaram a conjuntura social. A Revolução
Industrial incidiu no aspecto econômico e social e a Revolução Francesa no aspecto
político. Ambas deram à sociedade moderna a configuração existente até hoje.

1. A Revolução Industrial

A Revolução Industrial propiciou com suas transformações o surgimento de uma nova


área do conhecimento: o mundo social. Até então, a sociedade jamais fora vista como
objeto de análise. Os pensadores até então se debruçavam no estudo da natureza e
das causas filosóficas relacionadas à existência humana. A partir das transformações
de ordem tecnológicas, humanas e sociais, houve a necessidade de se entender a
nova dinâmica daquela sociedade - assim surge o pensamento sociológico -
responsável por tais análises.

Dentre as transformações mais notáveis daquela época destacamos o crescimento das


cidades, a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o trabalho de
mulheres e crianças, o aparecimento do proletariado e, principalmente o trabalho no
universo da fábrica.

O Capitalismo surge paralelamente com a Revolução Industrial, pois a medida que a


produção de manufaturas toma impulso na Inglaterra do século XVIII, houve a
necessidade de implementação de um novo modelo econômico, baseado em relações
mais abertas de trabalho e, principalmente, introduzindo o salário como forma de
pagamento ao operário, abolindo a servidão, que era a forma anterior de subjugar o
trabalhador. Mas o capitalismo também trás o surgimento de uma classe operária
forte que se organiza para reivindicar melhores salários e melhores condições de
trabalho – surgindo assim as primeiras corporações de trabalhadores, que
futuramente se transformam nos sindicatos de classes.

Atividade Complementar
Faça uma pesquisa rápida nos sites de busca da Internet, buscando uma definição
objetiva para o Capitalismo.

2. A Revolução Francesa

Paralelamente à Revolução Industrial, na França outro acontecimento de suma


importância acontecia – a Revolução Francesa (ver Saiba Mais). Ela foi responsável
pela reordenação política, já que instituiu o novo modelo de governo – o modelo
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republicano –, cujos pensadores Rousseau, Montesquieu e Voltaire são
reconhecidos até os dias atuais

Esta revolução, extremamente violenta, marcada pelo uso da guilhotina e pelos


massacres em massa à população camponesa, lançou luzes à questões até então
dogmas daqueles tempos. O confisco dos bens da Igreja e a proibição do ensino
religioso vieram a abalar os alicerces do poder eclesiástico. A queda da monarquia e a
ascensão da burguesia fortaleceram a classe industrial e propiciou também à França
um princípio de industrialização. Mas, o legado mais importante sem dúvida foi a
discussão e a implementação dos direitos. Até então, a sociedade era dividida entre
nobreza e plebe, os nobres tendo direitos e os plebeus nenhum acesso à benefícios.
Com a Declaração dos Direitos dos Cidadãos todos passam a ser vistos como
possuidores de direitos. Foi a partir da Revolução Francesa que o ser humano passa a
ter dignidade civil e jurídica.

Outras questões também devem ser pensadas quando estudamos essas duas
revoluções. Foi a partir delas que pode ser questionada a ordem social, a autoridade,
a família e a hierarquia. Pois tanto na Revolução Industrial como na Francesa houve a
quebra da ordem e a implantação de novo modelo social, no qual as estruturas sociais
foram alteradas e houve uma nova reconfiguração de poder nessas sociedades. A
mulher passou a ter um papel ativo na sociedade e a criança passou a ser vista como
mão-de-obra. A produção passa a ser a finalidade da nova sociedade industrial. Assim
sendo, cabe na atualidade encararmos essas duas grandes revoluções sob a ótica das
mudanças e das inovações, bem como do aprimoramento tecnológico e da
conscientização política atuais.

Em síntese, a Revolução Industrial impactou aquela sociedade européia 200 anos


atrás, trazendo novos conceitos, um novo modo de vida e um novo olhar o homem
frente à natureza, decorrendo daí o desenvolvimento tecnológico. Hoje somos
herdeiros dessas modificações, cuja influência pode ser verificada na sociedade
capitalista.

TEXTOS

Primeira fábrica inglesa: 1732

"O edifício admirava por suas dimensões: de quinhentos pés de extensão, conco ou
seis andares de altura, com quatrocentas e sessenta janelas, parecia uma imensa
caserna. Entrava-se e o espanto redobrava: as máquinas, muito grandes, eram de
formato cilíndrico e giravam em eixos verticais; várias fileiras de bobinas, instaladas
num circuito, recebiam os fios e, mediante um rápido movimento de rotação,
imprimiam-lhes a torção desejada; no alto, o organismo enrolava-se automaticamente
em carretéis, pronto para ser disposto em meadas para a venda. A imensa quantidade
de peças de que se compunham essas máquinas - acionadas por uma única roda,
movida pela água de Derwent -, a precisão e a rapidez de seu funcionamento, a
delicadeza da tarefa que executavam, tudo isso era de impressionar profundamente
aqueles que nunca haviam visto nada semelhante. Os operários tinham como tarefa
principal reatar os fios quando se rompiam. Cada um deles vigiava sessenta fios ao
mesmo tempo. Esta já era uma fábrica moderna, com ferramenta automática,
produção contínua e ilimitada, funções estritamente especializadas de seu pessoal
operário".
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MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo: Unesp/Hucitec,


s.d., p.183-184.

4. Revolução Francesa

"A deflagração da Revolução Francesa em 1789, estimulou a imaginação dos


europeus. Tanto os participantes do movimento como os seus observadores sentiram
que estavam vivendo numa era crucial. Sobre as ruínas da Velha Ordem, baseada no
privilégio e no despotismo, formava-se uma nova era que prometia realizar os ideais
do Iluminismo. Essas idéias incluíam a emancipação da personalidade humana, da
superstição e da tradição, a vitória da liberdade sobre a tirania, a remodelação das
instituições de acordo com a razão e a justiça e a derrubada das barreiras à
igualdade. Parecia que os direitos naturais dos indivíduos, até então um ideal remoto,
passariam a reinar sobre a terra, acabando com séculos de opressão e miséria.
Nunca, antes, as pessoas haviam demonstrado tal confiança no poder da inteligência
humana para criar as condições de existência. Nunca, antes, o futuro parecera tão
cheio de esperanças.

Essa visão grandiosa acendeu emoções semelhantes ao entusiasmo religioso e atraiu


conversos em todo o mundo ocidental. 'Se tivermos êxito', escreveu o poeta francês
André de Chénier, 'o destino da Europa será mudado'. Os homens reconquistarão seus
direitos e o povo, a sua soberania'. O diretor da publicação vienense Wiener Zeitung
escreveu a um amigo: 'Na França, começa a brilhar uma luz que beneficiará toda a
humanidade'. O reformador inglês John Cartwright expressou as esperanças dos
reformadores de todo o mundo: 'Degenerado deve ser o coração que não se enche de
um sentimento de satisfação pelo que agora está acontecendo na França. Os
franceses (...) não estão afirmando apenas os seus direitos, mas afirmando e fazendo
avançar as liberdades gerais da humanidade'.

APUD PERRY, Marvin et alli. Civilização Ocidental - Uma história concisa. São Paulo:
Martins Fontes, 1985, p. 422.

5. O LEGADO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

As mudanças que ocorreram, com a industrialização, na agricultura, nos negócios, no


trabalho, na tecnologia e na energia foram revolucionárias. Algumas dessas mudanças
aconteceram no decurso de séculos, outras em algumas décadas. Mas o fim da
industrialização não está à vista, nem estará provavelmente em um futuro previsível.

Com o passar do tempo, a Revolução Industrial tornou-se uma grande força para a
democratização da vida humana. Num mundo industrial, o poder social não está
restrito aos senhores de terras, como ocorreu em séculos passados. Mesmo os
operários têm conquistado direitos políticos e sociais, adquirido educação, e muitos
países industrializados, se tornado consumidores de bens anteriormente reservados
unicamente para os muito prósperos. Na última metade do século XIX, os
trabalhadores ganharam o direito do voto – na França, como resultado da Revolução
de 1848; na Inglaterra, mediante os decretos de reforma de 1867 e 1884, e na
Prússia durante a unificação da Alemanha. Mas a conquista de direito de voto não
trouxe a igualdade ou mesmo o poder político genuíno para as massas. Embora os
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trabalhadores se convertessem em uma força a ser levada em conta em todos os
Estados industriais, quando se filiaram a partidos democráticos ou socialistas e se
reuniram em sindicatos, as vezes eram também manobrados ou manipulados por
líderes políticos que tinham pouca preocupação pelas suas condições de vida e seus
interesses.

A industrialização também contribuiu em grande parte para a secularização da


sociedade, isto é, o afastamento com relação ao pertencimento à uma comunidade de
famílias unidas por crença religiosa e cerimônias habituais. O papel do sacerdote, do
povoado e da família, mudou drasticamente. Daí emergiu um vazio espiritual e
comunitário que, para alguns, tinha que ser preenchido com substitutos: a nação, o
governo, o partido político, a associação profissional ou ocupacional, o clube ou
grêmio colegial, fraternal e ético.

Devido à industrialização, grande número de homens e mulheres deslocou-se da área


rural para a urbana, o que alterou drasticamente suas vidas. A industrialização tem
modificado as relações entre países, entre classes, entre sexos, entre pais e filhos. A
industrialização concedeu às nações ocidentais, enquanto outros eram arrastados para
a economia de mercado mundial, dominada pelos Estados ocidentais. O surgimento da
indústria tornou as nações mais interdependentes mediante o comércio, mas também
incentivou o conflito entre Estados, ao acrescentar a competição econômica a
antagonismos nacionais já existentes.

BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah. Da Revolução. São Paulo, Brasília: Ática/UNB, 1990.

THOMPSON, E. p. A Formação da Classe Operária Inglesa.Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1987. 3 volumes.

HOBSBAUM, Eric. A crise geral européia do século XVII, IN: SANTIAGO, Theo (org.)
Capitalismo-Transição. Rio de Janeiro: Eldorado tijuca, 1974, p. 81-125.

MICELI, Sérgio. História das Ciências Sociais. São Paulo: Editora Sumaré, 1995.

BENEDICTO MARTINS, Carlos. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1998.


Coleção Primeiros Passos.
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O LIBERALISMO

O objetivo desta aula é o estudo aprofundado das transformações sociais e


políticas a partir do século XVIII, tomando como ponto central o surgimento
do liberalismo político como modelo político para os Estados europeus
daquele período. Vamos então ao início de tudo.

1. As Origens do Liberalismo

Vimos no módulo anterior o surgimento das ciências sociais a partir das


transformações ocorridas durante a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. E
que essas duas revoluções foram importantes porque trouxeram inovações no campo
social e político. Neste módulo que se inicia nossa preocupação recairá na análise do
pensamento político que surgiu após esses acontecimentos. Pois foi a partir da
consciência crítica e da contestação ao antigo regime que foi possível que teorias
sobre a política surgissem.

O Objetivo desta aula é o estudo aprofundado das transformações sociais e políticas a


partir do século XVIII, tomando como ponto central o surgimento do liberalismo
político como modelo político para os Estados europeus daquele período. Vamos então
ao início de tudo.

Um novo pensamento havia dominado a elite letrada européia no século XVIII.


Adeptos das transformações que ocorriam, os filósofos, pensadores incumbidos de
refletirem sobre a reforma do sistema daquele período, eram especialmente críticos
da Igreja e das camadas nobres, a qual culpavam pelo atraso que existia na
sociedade.

Esses filósofos eram encontrados nas principais cidades européias e, em 1770 Paris
torna-se o centro desse pensamento iluminista. Esses reformadores desenvolveram
um novo estilo de escrita, tornando compreensível a um maior número de pessoas,
além de propagandear suas idéias pelos folhetins da época.

E, foi do pensamento iluminista que posteriormente viria a nascer o Liberalismo,


como doutrina política.

2. Principais conceitos do Liberalismo

Hoje em dia, embora alguns partidos da Europa, Grã-Bretanha e outras partes


denominem-se liberais, o uso contemporâneo do termo liberalismo se refere a um
sistema de pensamento, tendo como base direitos constituídos ao cidadão, dentre eles
a saúde e a educação, gratuitos. Além disso, disso o Liberalismo também incide nos
temas econômicos, tendo no livre comércio um de seus pressupostos essenciais.

O liberalismo contemporâneo – também chamado neoliberalismo – é o produto de


séculos de desenvolvimento e de atitudes e respostas amplamente compartilhadas por
muita gente. Dentre os ideais buscados nas sociedades modernas, temos:
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• Valorização da livre expressão da personalidade individual.


• Crença na capacidade do homem para fazer com que esta expressão seja
valiosa para ele e para a sociedade.
• Manutenção das instituições e práticas que protegem e nutrem a livre
expressão e a confiança nesta liberdade.
• Igualdade como meta a ser atingida dentro do Estado Liberal.

O pensamento e a prática liberais têm insistido em dois temas:

 O primeiro é o desagrado ante a autoridade arbitrária, aliado ao desejo de


substituir tal autoridade por outras formas de prática social. Isto é, os liberais
lutam contra qualquer tipo de poder que não foi consentido pelo povo.

 O segundo é a livre expressão da personalidade individual, no qual o homem é


valorizado pela sua identidade e liberdade – conceitos centrais do liberalismo.

Em sua origem, o liberalismo tinha como meta a liberdade frente a autoridade


arbitrária. Uma forma de atacá-la consistia em afirmar a liberdade de consciência e
pedir a tolerância religiosa.

Um exemplo dessa postura eram as idéias de Jean Jacques Rousseau, filósofo


francês e um dos pais do liberalismo – Rousseau afirmava a necessidade do homem
se tornar livre e poder participar democraticamente da sociedade. Rousseau foi o
defensor da participação do povo na política, além de ser um dos primeiros liberais a
citar a democracia como forma de organização do Estado.

O liberalismo insistiu também na conveniência de que os controles sociais e políticos


fossem impessoais, tendo para isso instituições políticas sólidas para controlar o
cidadão no espaço público. Os liberais foram freqüentemente individualistas e
pluralistas e apoiaram as liberdades locais e de grupo, assim como os métodos de
consentimento e persuasão.

Também foi de vital importância para o liberalismo a liberdade ativa, o ideal de que o
indivíduo tenha a oportunidade e a capacidade de expressar-se livremente. Com este
objetivo, os liberais apoiaram uma distribuição mais eqüitativa da liberdade, a
abolição dos monopólios, a destruição dos privilégios da aristocracia e um direito geral
fundado em princípios racionais.

Deriva daí a liberdade de opinião e o fim da censura, marca dos regimes autoritários e
monárquicos, os quais eram combatidos pelos liberais. A liberdade de expressão é
muito importante, pois sem ela não saberíamos o que realmente ocorre na sociedade
e também não poderíamos confrontar opiniões opostas, o que é fundamental numa
sociedade pluralista.

Os liberais também se proclamaram em favor da igualdade de oportunidades, tendo


incluído a intervenção estatal para equilibrar e incrementar as oportunidades
oferecidas aos indivíduos. Por todas estas razões o liberalismo em geral foi
"progressista", isto é, preocupou-se com o progresso econômico e social e foi
favorável à ciência, à tecnologia, e ao experimentalismo pragmático.

Este ponto é muito importante para pensarmos as atribuições do Estado no papel de


gerenciar da sociedade, pois cabe a ele garantir ao cidadão a igualdade de direitos e o
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livre acesso às necessidades básicas. Pois, sem elas, dificilmente uma pessoa de
classe mais baixa poderia vir a melhorar de vida.

3. Principais teóricos do Liberalismo Clássico

O liberalismo se difundiu rapidamente em finais do século XVII e no século XVIII, a


partir da difusão ampla e relativamente rápida das atitudes iluministas e cosmopolitas
entre as elites política e social, assim como entre os burgueses, os profissionais, os
comerciantes e a baixa nobreza rural.

Durante o século XVIII as artes e as ciências, a vida política e uma cultura


relativamente refinada se fizeram acessíveis a um círculo mais amplo. Muito mais
gente lia e discutia.

Assim, as aspirações individuais e a consciência de poder se combinaram para


produzir uma fé liberal amplamente compartilhada e politicamente poderosa, tendo
como pilar os seguintes ideais:

• o direito de oposição,
• a liberdade de imprensa,
• o Estado de Direito e
• a separação dos poderes.

O "Segundo tratado do Governo", de John Locke e a Declaração de Independência


Americana são as grandes obras dessa fase do liberalismo.

A reorganização do Estado e a paz civil deram grande ímpeto ao segundo tema do


liberalismo clássico: a teoria e a prática da liberdade econômica.

Os economistas liberais ingleses, dirigidos por Adam Smith, não foram os primeiros
nem os únicos a formular uma teoria sobre o postulado do Laissez-faire; mas sem
dúvida foram os mais influentes. Seus ideais eram:

• na esfera jurídica: o livre emprego e o estado de direito;


• na esfera econômica: auto regulamentação do mercado, não restrito pelos
monopólios nem pela intervenção política; e
• na esfera social: o voluntarismo e a colaboração para o mútuo benefício.

A doutrina do laissez-faire (livre iniciativa) e a organização prática da economia,


pedida insistentemente pelos economistas clássicos, fortaleceram o liberalismo. Isto
se deu, em primeiro lugar, mediante a expansão e democratização dos valores
liberais, estendendo-se às classes mercantil, comerciante e trabalhadora. Em segundo
lugar estes economistas incentivaram formas de atividade social e econômica que
pudessem substituir às técnicas de controle mais compulsivas e burocráticas.

Os utilitaristas ingleses e seus aliados políticos completaram o edifício do liberalismo


clássico.

Jeremy Bentham e James Mill aceitaram a economia de mercado e especialmente os


ideais que esta sustentava.

Adotaram por lema "O maior bem para o maior número" baseando-se no princípio de
igualdade.
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Insistiram em que o direito e a política deveriam basear-se em regras gerais que


garantiriam um máximo de eleições livres e liberdade prática para todos.

Também afirmaram que somente a educação e a liberdade de expressão, a


representatividade, um sufrágio amplo e a periódica prestação de contas dos
governantes aos governados - estando a política organizada segundo o modelo da
economia livre - poderiam proporcionar segurança constitucional e um bom governo.

O utilitarismo inglês, tal como propunham Bentham e James Mill, impunha uma base
filosófica ao liberalismo político e unificava o liberalismo econômico com uma teoria de
ação política positiva.

Esta doutrina utilitarista merece, indubitavelmente, o título de primeira filosofia liberal


compreensiva.

No final do século XIX e começo do século XX o liberalismo clássico e as tradições do


pensamento e da política relacionadas com ele se modificaram progressivamente.

O liberalismo posterior - especialmente na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, e até


certo ponto em todo o mundo moderno - acentuou mais o aspecto positivo da
liberdade que o negativo: a oportunidade de formular e alcançar os próprios fins mais
que conseguir a liberdade em relação ao Estado. Junto com a troca de objetivos do
liberalismo se adaptaram novos métodos.

O valor central do indivíduo agora livre, do homem senhor de si, na medida do


possível, não se modificou; o que alterou foi a compreensão desse valor e os meios de
alcançá-lo.

Uma causa importante desta revisão foi o êxito do liberalismo em si: a obtenção de
um nível considerável de liberdade política e econômica. O êxito levou a formular as
seguintes perguntas:

4. E agora? Liberdade para quem?

A reorientação liberal veio em parte de uma necessidade de satisfazer a crítica e


políticas filosóficas. O liberalismo foi uma doutrina filosófica e racional e que,
portanto, respondia às novas teorias do homem e da sociedade pregadas pelos
cientistas do século XIX e popularizadas pelas interpelações parlamentares, as
comissões governamentais e a imprensa. A política também influiu.

O crescimento das cidades, da indústria e do comércio nacional e internacional


também forçou a revisão da posição liberal.

A teoria liberal primitiva com suas premissas individualistas havia construído um


modelo de homem, de suas instituições e de sociedade que minimizava a realidade do
poder organizativo, dos custos e benefícios comunitários, da história nacional e do
destino comum. O tempo, progressivamente, falseou este modelo, especialmente a
partir do crescimento das sociedades mercantis modernas e da tecnologia industrial.

As grandes desigualdades no mercado de trabalho acabaram por fazer com que a


liberdade econômica de um homem se baseasse na opressão de outro. Os liberais se
dividiram:
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 Um grupo exigia um remédio contra os abusos que não foram os praticados


pelo Estado.
 Outro grupo se apegou aos dogmas de não intervenção e do livre comércio.
Estes converteram os meios do liberalismo em fins por si mesmos e ao
liberalismo como tal em uma ideologia conservadora. Assim, pois, entre os
herdeiros de Bentham e de Adam Smith se encontram John Stuart Mill e
Herbert Spencer.

A revisão teve outra fundamentação importante. Uma sociedade que mantém uma
forte inter-relação entre o econômico e o social opera através dos grupos naturais e
artificiais no acesso à cultura, a capacidade de participação, a filiação e o status; estes
grupos são cada vez mais importantes para a realização da liberdade e sua defesa.

Rousseau, Hegel, e mais tarde T. H. Green e John Dewey apontaram este tema. O
homem é na sociedade o ponto de intersecção de muitos grupos, instituições e
influências culturais; raramente pode isolar-se, só pode realizar e defender sua
liberdade através da participação. Porém a opção de participar não surge
espontaneamente: é um produto social, dependente da educação, dos incentivos, da
oportunidade e de um sistema que sirva de suporte aos valores políticos e sociais.

Hoje em dia os liberais consideram o homem não só como um indivíduo em


sociedade, como também como uma pessoa com uma necessidade constante de auto-
expansão e realização. Por esta razão o liberalismo moderno põe menos ênfase nos
impedimentos externos da liberdade física e atende mais ao conceito subjetivo de
liberdade que tem cada pessoa e aquelas circunstâncias que dão a este conceito uma
realidade objetiva na experiência do indivíduo. Se um homem não se sente livre é
porque não é livre.

Como vimos nesta aula o Liberalismo como modelo político criado após a Revolução
Inglesa e Revolução Francesa foi o marco de nascimento das chamadas ideologias
políticas, servindo de modelo de organização dos Estados Nacionais.

Preste bem atenção: percebemos que esse modelo, calcado na liberdade e igualdade
foi muito importante para situar os direitos e deveres dos homens nas sociedades
recém edificadas. No Brasil, o modelo também foi seguido, contendo características
próprias, associando os princípios gerais ao modelo econômico escravocrata do século
XIX, características estas que observaremos na aula 4.

Os princípios gerais do liberalismo podem assim ser destacados:

• Pensamento contrário ao antigo regime e ao Clero


• Liberdade individual. Os homens são responsáveis pelo seu futuro
• Estado racional
• Mérito pelas realizações, não pelo nascimento
• Direitos de propriedade
• Economia livre
• Ordem interna da nação
• Igualdade jurídica, política e civil
• Democracia
• Participação política
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TEXTO PARA ANÁLISE

5. LIBERDADE E IGUALDADE

“Os dois valores da liberdade e da igualdade remetem um ao outro no pensamento


político e na história. Ambos se enraízam na consideração do homem como pessoa.
Ambos pertencem à determinação do conceito de pessoa humana, como ser que se
distingue ou pretende se distinguir de todos os outros seres vivos. Liberdade indica
um estado; igualdade, uma relação. O homem como pessoa - ou para ser considerado
como pessoa - deve ser, enquanto indivíduo em sua singularidade, livre; enquanto ser
social, deve estar com os demais indivíduos numa relação de igualdade. Liberté et
égalité. A Fratemité pertence a uma outra linguagem, mais religiosa que política.
Igualdade é freqüentemente substituída por Justiça no binômio Justiça e Liberdade.
Mas, nesse binômio, Justiça precede Liberdade. Somente porque soa melhor? A
precedência de uma ou de outra palavra depende também do contexto histórico. As
vítimas de um poder opressivo pedem, antes de mais nada, liberdade. Diante de um
poder arbitrário, pedem justiça. Diante de um poder despótico, que seja ao mesmo
tempo opressivo e arbitrário, a exigência de liberdade não pode se separar da
exigência de justiça. Afirmar a liberdade e a igualdade como valores significa que elas
são, respectivamente, um estado do indivíduo e uma relação entre indivíduos
desejáveis de modo geral. Os homens preferem ser livres a ser escravos.

Preferem ser tratados de modo justo e não injusto. Tanto mais que, nas sociedades
que existiram historicamente, nunca todos os indivíduos foram livres ou iguais entre
si. A sociedade de livres e iguais é um estado hipotético, apenas imaginado.
Imaginado como se situando ora no início, ora no fim da história, conforme se tenha
do curso histórico da humanidade uma visão regressiva ou progressiva. Trata-se de
uma sociedade na qual todo homem é livre na medida em que obedece apenas a si
mesmo e, pelo fato de que essa liberdade é desfrutada por todos, todos são iguais
pelo menos enquanto são livres. Ao contrário, uma sociedade histórica pode ser
constituída de homens livres mas não iguais nas respectivas esferas de liberdade,
assim como de iguais enquanto não são livres, ou, mais sucintamente, pode ser
constituída de desiguais na liberdade e de iguais na escravidão. Liberdade e igualdade
são os valores que servem de fundamento à democracia. Entre as muitas definições
possíveis de democracia, uma delas - a que leva em conta não só as regras do jogo,
mas também os princípios inspiradores - é a definição segundo a qual a democracia é
não tanto uma sociedade de livres e iguais (porque, como disse, tal sociedade é
apenas um ideal -limite), mas uma sociedade regulada de tal modo que os indivíduos
que a compõem são mais livres e iguais do que em qualquer outra forma de
convivência. A maior ou menor democraticidade de um regime se mede precisamente
pela maior ou menor liberdade de que desfrutam os cidadãos e pela maior ou menor
igualdade que existe entre eles. Característica da forma democrática de governo é o
sufrágio universal, ou seja, a extensão a todos os cidadãos, ou, pelo menos, à
esmagadora maioria (o universo jurídico é o universo do quase ou do na maioria das
vezes), do direito de voto. O sufrágio universal é uma aplicação do princípio da
igualdade, na medida em que torna iguais com relação aos direitos políticos - que são
os direitos eminentes num Estado democrático - os homens e as mulheres, os ricos e
os pobres, os cultos e os incultos. Ao mesmo tempo, é também uma aplicação do
princípio de liberdade, entendida a liberdade, em sentido forte, como o direito de
participar no poder político, ou seja, como autonomia.

Os cidadãos de um Estado democrático se tornam, através do sufrágio universal mais


livres e mais iguais. Onde o direito de voto é restrito, os excluídos são ao mesmo
tempo menos iguais e menos livres. O fato de que liberdade e igualdade sejam metas
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desejáveis em geral e simultaneamente não significa que os indivíduos não desejem
também metas diametralmente opostas. Os homens desejam mais ser livres do que
escravos, mas também preferem mandar a obedecer. O homem ama a igualdade,
mas ama também a hierarquia quando está situado em seus graus mais elevados.
Contudo, existe uma diferença entre os valores da liberdade e da igualdade e aqueles
do poder e da hierarquia. Os primeiros, embora sejam mais irrealistas do que os
segundos, não são contraditórios. Não é contraditório imaginar uma sociedade de
livres e iguais, ainda que de fato - ou seja, na realização prática -jamais possa ocorrer
que todos sejam igualmente livres e livremente iguais. Ao contrário, é contraditório
imaginar uma sociedade na qual todos sejam poderosos ou hierarquicamente
superiores. Uma sociedade que se inspira no ideal da autoridade é necessariamente
dividida em poderosos e não-poderosos. Uma sociedade inspirada no princípio da
hierarquia é necessariamente dividida em superiores e inferiores. Numa situação
originária em que todos ignorem qual será sua posição na sociedade futura - e,
portanto, não saibam se estarão entre os que mandam ou entre os que são obrigados
a obedecer, e se estarão no topo ou na base da escala social -, o único ideal que lhes
pode atrair é o de desfrutarem da maior liberdade possível diante de quem exerce o
poder e de terem a maior igualdade possível entre si. Podem desejar uma sociedade
fundada na autoridade e na hierarquia somente na condição não previsível de que
estejam entre os poderosos e não entre os impotentes, entre os superiores e não
entre os inferiores.

Apesar de sua desejabilidade geral, liberdade e igualdade não são valores absolutos.
Não há princípio abstrato que não admita exceções em sua aplicação. A diferença
entre regra e exceção está no fato de que a exceção deve ser justificada. Onde a
liberdade é a regra, sua limitação deve ser justificada. Onde a regra é a igualdade,
deve ser justificado o tratamento desigual. Mas o ponto de partida pode também ser
oposto, como na escola ou num quartel, onde a regra é a disciplina e a liberdade é
exceção. Decidir o que é mais normal, se a liberdade ou a disciplina, a igualdade ou a
hierarquia, não é algo que se possa fazer de uma vez por todas. Liberdade e
igualdade são mais normais do que disciplina e hierarquia somente em sentido
norrnativo, no universo do dever ser. Não me resulta que, entre as várias
elucubrações sobre sociedades ideais, exista uma só na qual os cidadãos não sejam
nem livres nem iguais, embora uma sociedade de livres e iguais não conheça nem
tempo nem lugar.

1. Igualdade e liberdade

A igualdade, como valor supremo de uma convivência ordenada, feliz e civilizada - e,


portanto, por um lado, como aspiração perene dos homens vivendo em sociedade, e,
por outro, como tema constante das ideologias e das teorias políticas -, é
freqüentemente acoplada com a liberdade. Assim como liberdade, igualdade tem na
linguagem política um significado emotivo predominantemente positivo, ou seja,
designa algo que se deseja, embora não faltem ideologias e doutrinas autoritárias que
valorizam mais a autoridade do que a liberdade, assim como ideologias e doutrinas
não igualitárias que valorizam mais a desigualdade do que a igualdade. No que se
refere ao significado descritivo do termo liberdade, a dificuldade de estabelecê-lo
reside sobretudo em sua ambigüidade, já que esse termo tem, na linguagem política,
pelo menos dois significados diversos. Já no caso de igualdade, a dificuldade de
estabelecer esse significado descritivo reside sobretudo em sua indeterminação, pelo
que dizer que dois entes são iguais sem nenhuma outra determinação nada significa
na linguagem política: é preciso que se especifique com que entes estamos tratando e
com relação a que são iguais, ou seja, é preciso responder a duas perguntas: a)
igualdade entre quem?; e b) igualdade em quê? Mais precisamente: enquanto a
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liberdade é uma qualidade ou propriedade da pessoa (não importa se física ou moral)
e, portanto, seus diversos significados dependem do fato de que esta qualidade ou
propriedade pode ser referida a diversos aspectos da pessoa, sobre tudo à vontade ou
sobretudo à ação, a igualdade é pura e simplesmente um tipo de relação formal, que
pode ser preenchida pelos mais diversos conteúdos.

Tanto isso é verdade que, enquanto X é livre é uma proposição dotada de sentido, X é
igual é uma proposição sem sentido, que, aliás, para adquirir sentido, remete à
resposta à seguinte questão: igual a quem? Disso decorre o efeito irresistivelmente
cômico (e, na intenção do autor, satírico) da célebre frase de Orwell: todos são iguais,
porém alguns são mais iguais do que outros. Ao contrário, seria perfeitamente
legítimo dizer que, em determinada sociedade, todos são livres, mas alguns são mais
livres, já que isso simplesmente significaria que todos gozam de certas liberdades,
enquanto um grupo mais restrito de privilegiados goza, além disso, de algumas
liberdades particulares. Por outro lado, enquanto é sem sentido a proposição X é
igual, é sensata - e, aliás, muito usada, embora extremamente genérica - a
proposição todos os homens são iguais, precisamente porque, nesse contexto, o
atributo da igualdade se refere não a uma qualidade do homem enquanto tal, como é
ou pode ser a liberdade em certos contextos, mas a um determinado tipo de relação
entre os entes que fazem parte da categoria abstrata humanidade. O que pode
também explicar por que a liberdade enquanto valor, ou seja, enquanto bem ou fim a
perseguir, é habitualmente considerada como um bem ou um fim para um indivíduo
ou para um ente coletivo (grupo, classe, nação, Estado) concebido como um
superindivíduo, ao passo que a igualdade é considerada como um bem ou um fim
para os componentes singulares de uma totalidade na medida em que esses entes se
encontrem num determinado tipo de relação entre si. Prova disso é que, enquanto a
liberdade é em geral um valor para o homem como indivíduo (razão pela qual as
teorias políticas defensoras da liberdade, ou seja, liberais ou libertárias, são doutrinas
individualistas, tendentes a ver na sociedade mais um agregado de indivíduos do que
uma totalidade), a igualdade é um valor para o homem como ser genérico, ou seja,
como um ente pertencente a uma determinada classe, que é precisamente a
humanidade (razão pela qual as teorias políticas que propugnam a igualdade, ou
igualitárias, tendem a ver na sociedade uma totalidade, sendo necessário considerar o
tipo de relações que existe ou deve ser instituído entre as diversas partes do todo).

Diferentemente do conceito e do valor da liberdade, o conceito e o valor da igualdade


pressupõem, para sua aplicação, a presença de uma pluralidade de entes, cabendo
estabelecer que tipo de relação existe entre eles: enquanto se pode dizer, no limite,
que é possível existir uma sociedade na qual só um é livre (o déspota), não teria
sentido afirmar que existe uma sociedade na qual só um é igual. O único nexo social e
politicamente relevante entre liberdade e igualdade se dá nos casos em que a
liberdade é considerada como aquilo em que os homens - ou melhor, os membros de
um determinado grupo social - são ou devem ser iguais, do que resulta a
característica dos membros desse grupo de serem igualmente livres ou iguais na
liberdade: essa é melhor prova de que a liberdade é a qualidade de um ente,
enquanto a igualdade é um modo de estabelecer um determinado tipo de relação
entre os entes de uma totalidade, mesmo quando a única característica comum
desses entes seja o fato de serem livres.”

Norberto Bobbio

Bobbio, Norberto. "Igualdade e Liberdade". São Paulo: Ediouro, 1997, prefácio.


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BIBLIOGRAFIA

MONTESQUIEU, B. O Espírito das Leis. Brasília: Editora da UNB, 1995

ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. Discurso sobre a economia política. São


Paulo:Hemus, s.d.

LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o governo civil. Petrópolis, Vozes, 1994.

EAGLETON, T. Ideologia. São Paulo: Editora da UNESP, 1997

BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Política. Brasília: Editora da UNB, 1993.


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O LIBERALISMO E SUA ATUAÇÃO JUNTO AO ESTADO

Nesta aula tomaremos como base um texto produzido por Norberto Bobbio,
um dos principais autores contemporâneos do liberalismo modernos e das
teorias sobre a administração do Estado. Num primeiro momento você
precisará de um pouco mais de atenção, pois são utilizados termos da ciência
política – seja insistente, pois ao final desta aula você terá absorvido um rico
vocabulário.

1. Limites do Poder do Estado

A doutrina liberal surgida na Europa no início do século XVIII teve como pressupostos
a discussão em torno da liberdade e da igualdade. Já o Liberalismo do século XX
preocupou-se mais em teorizar a organização do Estado, tendo como ponto principal a
discussão sobre o Estado Mínimo e do Estado de Direito, temas fundamentais para
entendermos conceitos como cidadania e participação política.

Nesta aula tomaremos como base um texto produzido por Norberto Bobbio, um dos
principais autores contemporâneos do liberalismo modernos e das teorias sobre a
administração do Estado. Num primeiro momento você precisará de um pouco mais
de atenção, pois são utilizados termos da ciência política – seja insistente, pois ao
final desta aula você terá absorvido um rico vocabulário.

Sendo assim, o nosso objetivo nesta aula será entender as teorias sobre a
organização dos Estados modernos e conceituar na prática esse modo de
gerenciamento. Para podermos ao final, discutirmos os aspectos teóricos da
organização, associadas à prática:

Será que o liberalismo realmente é aplicado?

A doutrina liberal atual tem como parâmetro a discussão em torno de uma expressão:
"Estado limitado ou de limites do Estado", que podem ser observados a partir de sua
aplicação na prática dos seguintes limites:

Limite dos Poderes


Estado de direito
Até que ponto o Estado pode legislar ou arbitrar

Limites das funções do Estado


Estado mínimo
Até que ponto o Estado pode intervir na sociedade.

A doutrina liberal compreende a ambos, embora possam eles ser tratados


separadamente, um excluindo o outro, o que nos leva, então a definir o liberalismo
como uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às
suas funções.

Embora o liberalismo conceba o Estado tanto como Estado de direito quanto como
Estado mínimo, pode ocorrer um Estado de direito que não seja mínimo – por
exemplo, o Estado social contemporâneo – e pode-se também conceber um Estado
mínimo que não seja um Estado de direito, tempo absoluto no mais pleno sentido da
palavra e liberal em economia.
15
Enquanto o Estado de direito se contrapõe ao Estado absoluto, aquele que exerce
um poder arbitrário, o Estado mínimo se contrapõe ao Estado máximo, aquele que
intervém na sociedade.

Estado de direito x Estado absoluto


Estado mínimo x Estado máximo

Deve-se, então, dizer que o Estado liberal se afirma na luta contra o Estado
absoluto em defesa do Estado de direito e contra o Estado máximo em defesa do
Estado mínimo, ainda que nem sempre os dois movimentos de emancipação
coincidam histórica e praticamente.

Estado liberal + Estado de direito x Estado absoluto


Estado liberal + Estado mínimo x Estado máximo

Assim, o Liberalismo tem um modelo para o gerenciamento do poder público, que


quer ser limitar a atuação do Estado.

Por Estado de direito entende-se geralmente um Estado em que os poderes públicos


são regulados por normas gerais, as leis fundamentais ou constitucionais, e devem
ser exercidos no âmbito das leis que os regulam, salvo o direito do cidadão de
recorrer a um juiz independente para fazer com que seja reconhecido e refutado o
abuso ou excesso de poder.

2. Por outro lado, quando se fala de Estado de direito no âmbito da doutrina liberal do
Estado, devemos falar também a respeito da constitucionalização dos direitos
naturais, ou seja, a transformação desses direitos em direitos juridicamente
protegidos, isto é, em verdadeiros direitos positivos.

Na doutrina liberal, Estado de direito significa não só subordinação dos poderes


públicos de qualquer grau às leis gerais do país, limite que é puramente formal, mas
também subordinação das leis ao limite material do reconhecimento de alguns direitos
fundamentais considerados constitucionalmente, e, portanto em linha princípio
"invioláveis".

Desse ponto de vista pode-se falar de Estado de direito em sentido forte para
distingui-lo do Estado de direito em sentido fraco, que é o Estado não despótico, isto
é, dirigido não pelos homens, mas pelas leis, e do Estado de direito em sentido
fraquíssimo, segundo o qual, uma vez resolvido o Estado no seu ordenamento
jurídico, todo Estado é Estado de direito; e a própria noção de Estado de direito perde
toda força qualificadora.

Aqui podemos pensar o exemplo do nosso país:

Será que no Brasil o Estado de Direito realmente é garantido?

Assim, há os países que realmente respeitam o Estado de Direito e aqueles que


respeitam parcialmente.

Do Estado de direito em sentido forte, que é aquele próprio da doutrina liberal, são
parte integrante todos os mecanismos constitucionais que impedem ou obstaculizam o
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exercício arbitrário e ilegítimo do poder e impedem ou desencorajam o abuso ou o
exercício ilegal do poder. Desses mecanismos os mais importantes são:

 o controle do Poder Executivo por parte do Poder Legislativo; ou, mais


exatamente, do governo, a quem cabe o Poder Executivo, por parte do
parlamento, a quem cabe em última instância o Poder Legislativo e a orientação
política;
 o eventual controle do parlamento no exercício do Poder Legislativo ordinário
por parte de uma corte jurisdicional a quem se pede a averiguação da
constitucionalidade das leis;
 uma relativa autonomia do governo local em todas as suas formas e em seus
graus com respeito ao governo central; uma magistratura independente do
poder político.

Do ponto de vista do indivíduo, o Estado é concebido como um mal necessário; e


enquanto mal, embora necessário, o Estado deve se intrometer o menos possível na
esfera de ação dos indivíduos.

3. Às vésperas da revolução americana, Thomas Paine (1737-1809 / Commom Sense


(1776), trad. it.,in Thomas Paine, Il Diritti dell'Uomo, T. Magri (org.), Editori Riunití,
1978, p. 65), autor de um ensaio em defesa dos direitos do homem, expressou com
grande clareza tal pensamento:

"A sociedade é produzida por nossas carências e o governo por nossa


perversidade; a primeira promove a nossa felicidade positivamente
mantendo juntos os nossos afetos, o segundo negativamente mantendo sob
freio os nossos vícios. Uma encoraja as relações, o outro cria as distinções.
A primeira protege, o segundo pune. A sociedade é sob qualquer condição
uma bênção; o governo, inclusive na sua melhor forma, nada mais é do que
um mal necessário, e na sua pior forma é insuportável."

Uma vez definida a liberdade no sentido predominante da doutrina liberal como


liberdade em relação ao Estado, o processo de formação do Estado liberal pode ser
identificado com o progressivo alargamento da esfera de liberdade do indivíduo,
diante dos poderes públicos (para usar os termos de Paine), com a progressiva
emancipação da sociedade ou da sociedade civil em relação ao Estado.

Um dos fins a que se propõe Locke com os seus "Dois Ensaios sobre o Governo" é o
de demonstrar que o poder civil, nascido para garantir a liberdade e a propriedade dos
indivíduos que se associam com o propósito de se autogovernar é distinto do governo
paterno e mais ainda do patronal.

O paternalismo também é um dos alvos melhor definidos e golpeado por Kant (1724-
1804), para quem um governo fundado sobre o princípio da benevolência para com o
povo, como o governo de unir pai sobre os filhos, isto é, um governo paternalista
(imperium paternale) é o pior despotismo que se possa imaginar. Kant preocupa-se,
sobretudo, com a liberdade moral dos indivíduos.

Sob o aspecto da liberdade econômica ou da melhor maneira de prover aos próprios


interesses materiais, não menos clara e conhecida é a preocupação de Adam Smith,
para quem, "segundo o sistema da liberdade natural", o soberano tem apenas três
deveres de grande importância.
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Embora possam ser distantes os pontos de partida de cada um deles, tanto em Kant
quanto em Smith a doutrina dos limites das tarefas do Estado funde-se sobre o
primado da liberdade do indivíduo com respeito ao poder soberano e, em
conseqüência, sobre a subordinação dos deveres do soberano aos direitos ou
interesses do individuo.

Ao final do século das Declarações dos Direitos, de Kant e de Smith, Wilheim Von
Humboldt (1767-1835) escreve a síntese mais perfeita do ideal liberal do Estado, com
as idéias para um "Ensaio sobre os Limites da Atividade de Estado" (1792).

Como se não bastasse o título, para compreender a intenção do autor podemos


recorrer à máxima inserida no primeiro capítulo, extraída de Mirabeau pai. O difícil é
promulgar apenas as leis necessárias e permanecer sempre fiel ao princípio
verdadeiramente constitucional da sociedade, o de se proteger do furor de governar, a
mais funesta doença dos governos modernos. Sobre o ponto de partida do indivíduo
em sua inefável singularidade e variedade, o pensamento de Humboldt é seco e
conciso. O verdadeiro objetivo do homem, afirma, é o máximo desenvolvimento de
suas faculdades. Em vista do alcance desse fim, a máxima fundamental que deve
guiar o Estado ideal é a seguinte:

"O homem verdadeiramente razoável não pode desejar outro Estado que
não aquele no qual cada indivíduo possa gozar da mais ilimitada liberdade
de desenvolver a si mesmo, em sua singularidade inconfundível, e a
natureza física não receba das mãos do homem outra forma que não a que
cada indivíduo, na medida de suas carências e inclinações, a ela pode dar
por seu livre-arbítrio, com as únicas restrições que derivam dos limites de
suas forças e de seu direito".

A conseqüência que Humboldt extrai dessa premissa é que o Estado não deve se
imiscuir "na esfera dos negócios privados dos cidadãos, salvo se esses negócios se
traduzirem imediatamente numa ofensa ao direito de um por parte de outro".

Ao lado da subversão das relações tradicionais entre indivíduos e Estado, próprio da


concepção orgânica, ocorre também, com respeito a essas próprias relações, a
subversão dos nexos entre meio e fim: segundo Humboldt, o Estado não é um fim em
si mesmo, mas apenas um meio "para a formação do homem".

Ao final desta aula, podemos concluir que o liberalismo descrito por Norberto Bobbio tem grande
aceitação como modelo político e econômico. E, para percebermos a realidade política do liberalismo
hoje, podemos tomar como modelo ideal Bobbio, pois sua aplicabilidade ainda é insuficiente.

BIBLIOGRAFIA

BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 1998

BOBBIO, Norberto. Igualdade e Liberdade. São Paulo: Brasiliense, 1998.

ROMERO, José Luis. El pensamiento conservador em el siglo XIX. IN Situaciones e ideologias em


latinoamérica. México: UNAM, 1981.

TERÁN, Oscar. América Latina: positivismo e nación. México: Editora Katún, 1983.

CRESPIGNY, Antony de et al. Ideologias Políticas. Brasília: Editora da UNB, 1998.

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