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Introdução
Este trabalho tem como objetivo "fazer uma viagem" através de três
aspectos fundamentais no pensamento de qualquer grande cientista, a
saber, o método, as influencias de outros pensadores no pensamento
deste cientista e o conceito de ciência.
Tenho, também, o intuito de, a partir das análises que aqui serão
feitas, produzir questionamentos que me levem a pensar cada vez
mais, construtivamente, acerca da Abordagem Centrada na Pessoa e
da Psicologia como um todo.
Segundo Rogers(1970a,p.221)
Para Rogers, o indivíduo cria uma imagem de si, chamada de self, que
pode ou não reagir a uma experiência de maneira realista; ou seja, se
o indivíduo se percebe como alguém "bonzinho" e que as exigências
do meio social onde convive definem que ter atitudes agressivas é
algo ruim, quando uma reação de raiva for desencadeada pelo
organismo, esta poderá até nem ser experimentada, ou, na melhor
das hipóteses, negada, pois, segundo a imagem que o indivíduo tem
de si mesmo, ele não é alguém que experimente este tipo de
sentimento. Para Rogers (1978b, p.197), as religiões e a família vêm a
ser as grandes causadoras de distúrbios psicológicos, com noções
como pecado ou o filho ideal. Segundo Rogers (1992, p.566)
Por que se dar uma liberdade tão grande de expressão para o cliente?
Será que esta pessoa não poderia, por exemplo, ter reações
agressivas, ou coisa parecida, para com o terapeuta? A resposta para
esta pergunta encontra-se no que Rogers (1978b, p.194) considerava
o único postulado básico da ACP: a Tendência Atualizante. Mas que
tendência é essa?
É lógico que não podemos nos livrar de valores sociais e jogá -los na
lata do lixo, "sendo nós mesmos" o tempo todo; portanto, a pessoa
plena de Rogers é hipotética. Esse ser você mesmo implica uma
situação ética, pois, a partir da aceitação de sentimentos de si mesmo,
por parte do individuo, ele considera a diferença do outro, porque ele
quer ser o diferente.
Rogers (1978, p. 13) relata que seu trabalho com grupos era algo
paralelo à aplicação práticas das idéias de Kurt Lewin, em 1947. Não
podemos, contudo, esquecer-nos de que um pensador não pode fugir
das influências que culturais presentes em seu meio. No caso de
Rogers, como americano que era, e conhecedor do trabalho de Lewin,
parece bastante coerente se falar em uma ressonância do trabalho de
Kurt Lewin no do criador da ACP, pois, segundo Rogers (1978,
p.14) "os alicerces conceptuais de todo este movimento [dos grupos]
foram, por um lado, inicialmente, o pensamento leiniano e a
psicologia gestaltista e, por outro, a terapia centrada no cliente".
Rogers (1978, p.14) estabelece uma diferença inicial entre seu estilo
de trabalho com grupos e o dos grupos de Bethel (como eram
conhecidos os grupos de Kurt Lewin e seus colaboradores), afirmando
que os grupos de encontro que desenvolveu "tinham [...] uma
orientação experiencial e terapêutica maior do que a dos grupos
originados em Bethel".Contudo, segundo o mesmo Rogers (1978,
p.14) "esta orientação para o crescimento pessoal e terapêutico
fundiu-se com o processo do treino de capacidades em relações
humanas e ambas em conjunto formam o núcleo do movimento que
se espalha hoje rapidamente [...]".
"o modelo de trabalho com grupos[...] está longe de esgotar suas possibilidades, demandando
uma compreensão de seus fundamentos fenomenomelogico-existenciais-organismicos, e a
ousadia pragmática da experimentação e do intercambio de nossa aprendizagem, para que
possa ser utilizado em suas potencialidades próprias, e desenvolvido em sua proposta e
aplicações".V
Leitão (1986, p.77-8) afirma que "[...] Rogers tem raízes camponesas
e seu interesse inicial foi para a biologia e a agronomia, havendo na
sua teoria uma forte tendência para explicar o processo da vida e seus
conceitos teóricos[...]". Rogers relatava ter vivido em uma fazenda boa
parte de sua infância e juventude *, sendo estas as raízes camponesas
a que Leitão se refere.
"[...]Rogers gostaria de pensar que um dos exemplos mais eminentes da relação Eu-TU é o da
relação terapêutica, coisa que Buber nega, exatamente pela restrição da mutualidade que aí se
verifica, pela própria definição da natureza da relação, definição que não depende nem de
Rogers nem de Buber, mas está assim socialmente definida ou institucionalizada, faz parte da
expectativa de papéis com as quais as pessoas chegam à situação. A relação terapêutica é
também uma relação específica e não uma relação totalmente aberta, como seria o contexto
para o melhor exemplo de concretização da relação Eu-TuV
Além do que, Otto Rank, segundo Fonseca (no prelo, p.10), "[...] foi
profundamente influenciado pelas perspectivas de F. Nietzsche e
buscou integrar estas perspectivas como fundamento de seu sistema
de psicoterapia[...]" e, como sabemos, Rogers teve, na relação
terapêutica de Otto Rank uma grande influência no inicio de seu
trabalho. Portanto, mesmo que "por tabela", Rogers possivelmente
recebeu a influência do pensamento nietzscheano em seu trabalho,
através de Otto Rank.
Kurt Goldstein, médico que estudou psicologia, foi uma outra grande
influência ao trabalho de Rogers. Segundo Fonseca (no pre lo,
p.8) "[...] de um eminente neuropsiquiatra e pesquisador, Goldstein
morreu estudando fenomenologia e existencialismo [...]". Goldstein é
um grande alicerce para a psicologia organísmica, e teve seu trabalho
baseado na Psicologia da Gestalt, pois segund o Fonseca (no prelo,
p.9)
"[...] O empirismo permanecerá como parte de nossa ciência, mas para vastas áreas do
conhecimento psicológico, precisamos de uma ciência muito mais humana. Não sei que forma
poderá tomar, mas sei que não estará longe da fenomenológica[...] Acho que a Psicologia se
preocupou tanto em tornar-se ciência para se comparar com a física, que, sob muitos aspectos,
virou cientismo. Não creio que estejamos enfrentando os problemas mais fundamentais da
condição humana [...]" (Evans, 1979, p.79)
Como Rogers via ciência? Será que ele a concebia como um sistema
aberto, ou imaginava produzir uma verdade e que todas as outras
abordagens de Psicologia não tinham nada a contribuir? Tentemos
responder estas questões.
Fica claro, então, que, para Rogers, a ciência nada mais é do que um
grande número de hipóteses testáveis, e não uma produção de
dogmas, de verdades absolutas, onde um grande guru carrega
consigo a verdade. Aliás, Rogers se esquivava de uma posição de
Guru. Em Evans (1979, p. 118) Rogers diz que "[...] quando se
encontra a pessoa que é a chave de tudo, a µresposta¶, µesse é meu
guru¶, etc., essa é a hora de afastá-lo desta posição [...]".
Trabalhos como os que são realizados no Brasil acerca de uma maior
teorização para a Abordagem Centrada na Pessoa e o percurso por
caminhos por onde Rogers não passou, através da Filosofia (tentativa
feita principalmente por Fonseca) são vistas como benéficas pelo
cientista americano. Rogers dizia sentir "[...] pena das pessoas que
trabalharam comigo e se sentiram inclinadas a me destacar como a
principal influência em seu trabalho [...]" (Evans, 1979, p.118).
Continua, afirmando que "[...] os estudantes que mais me alegraria ter
influenciado são os que se dispuseram a ir além, que não hesitam em
discordar de mim, que são pessoas independentes [...]" (Evans, 1979,
p.118).
Além disso, a questão não parece ser apenas filosó fica, mas de
método. Acerca do condicionamento operante, Rogers afirmava que
foi "[...] uma verdadeira contribuição, mas acho que o tempo mostrará
que foi uma contribuição acanhada, no sentido de que precisamos de
algo que inclua muito mais da totalidade d a pessoa na ciência da
Psicologia [...]" (Evans, 1979, p.122).
"[...] De boa vontade, eu eliminaria todas as palavras deste original, se pudesse, de alguma
forma, apontar com eficácia a experiência que é a terapia. A terapia é um processo, uma coisa
em si, uma experiência, uma relação, uma dinâmica. Não é o que este livro diz a seu respeito,
não mais do que uma flor é a descrição de um botânico ou o êxtase do poeta diante dela. Se
este livro servir como um grande indicador apontando para uma experiência que está aberta
aos nossos sentidos da audição e da visão e a nossa capacidade de experiência emocional, e
se despertar o interesse de alguns e estimulá-los a explorar a coisa-em-si, ele terá cumprido
seu propósito. Se, por outro lado, este livro for se juntar à massa já avassaladora de palavras
escritas sobre palavras, se incutir nos leitores a idéia de que a pagina impressa é tudo, então
terá fracassado lamentavelmente. E, se sofrer a degradação definitiva de tornar-se
conhecimento de sala de aula- no qual as palavras mortas de um autor são dissecadas e
despejadas na mente de estudantes passivos, de tal maneira que indivíduos vivos carreguem
consigo as partes mortas e dissecadas do que já foram pensamentos e experiências vivas,
sem ao menos a consciência de que algum dia já foram vivas- melhor seria que este livro
jamais houvesse sido escrito [...]".
Não raro, podem ser encontrados chefes de recursos humanos de empresas com uma
orientação "rogeriana". Segundo Gobbi et al (1998, p.23) a aplicação da ACP em uma
organização seria no sentido de "[...] µliderança e administração centradas no grupo¶, seja no
treinamento de pessoal, ou mesmo no acompanhamento de atividades desenvolvidas em
organizações [...]".
*
A pedagogia é uma outra área onde as teorias de Rogers podem ser aplicadas, pois Rogers
dedicou duas obras suas à pedagogia, propondo o que chamou de "Ensino Centrado no
Aluno", que, segundo Gobbi et al (1998, p.23), "[...] consiste numa grande discussão de Rogers
a respeito de educação e escolas, que se desenvolve em uma nova perspectiva pedagógica,
bem como numa formulação própria do sentido de aprendizagem [...]".
Rogers tentou explicar fenômenos sociais a partir de sua abordagem, mas pecou pela
ingenuidade presente em sua proposta, pois acreditava que, a partir de uma revolução pessoal,
poderia haver uma revolução social. Este tipo de visão por parte do citado psicólogo americano
deu margem a uma série de produções na década de 80 criticando sua visão não-dialética dos
*
processos sociais .
Mesmo assim, é possível uma aplicação da ACP para a Psicologia social a partir de "[...]
especificações para a psicoterapia de grupo, condução de grupos de trabalho, aplicações
pedagógicas, aplicações à pesquisa não social (prática da entrevista µnão-diretiva¶), aplicações
ao aconselhamento e á intervenção psicossocial [...]".
Conclusão
Espero com este trabalho ter conseguido mostrar um pouco do que pode ser estudado na obra
de Carl Rogers no que diz respeito ao método, influências, sua visão de ciência e aplicações
de sua teoria.
Tenho a expectativa, também, de ter mostrado que, além das técnicas desenvolvidas por
Rogers, há, também, a sua teoria de personalidade e sua preocupação epistemológica, além
de uma visão muito clara, por parte deste cientista, de que ciência é um sistema aberto e
composto hipóteses, jamais por certezas.
Sei que este tipo de estudo exige anos a fio de leitura (tenho paciência e posso esperar, lendo),
mas espero que tenha servido (pelo menos para mim) como o início de uma série de estudos a
serem feitos acerca da abordagem no que tange tanto às questões aqui abordadas quanto a
outras que (espero) venham a surgir durante todo o decorrer do curso de Psicologia.
Bibliografia
AMATù I, M. M. O Resgate da Fala Autêntica. Campinas, Papirus, 1994.
EVANS, Richard I. Carl Rogers: O Homem e suas idéias. São Paulo, Martins Fontes, 1979.
GOBBI, Sérgio L. & MISSEL, Sinara T. Abordagem Centrada na Pessoa: Vocabulário e Noções
Básicas. Tubarão, Editora ùniversitária ùNISùL, 1998.
LEITÃO, Virgínia Moreira. Da Teoria não diretiva à Abordagem Centrada na Pessoa: Breve
Histórico In: Revista de Psicologia, Volume 4, Número 1, Fortaleza, 1986.
ROGERS, Carl Ramson. Terapia Centrada no Cliente. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
ROGERS, C.R. & ROSENBERG, R. A Pessoa como centro. São Paulo, EPù, 1977c.
ROGERS, C.R. & KINGET, M.G. Psicoterapia e Relações Humanas: Volume 1. Belo Horizonte,
Interlivros, 1977a.
ROGERS, C.R. & WOOD, John. Terapia Centrada no Cliente: Carl Rogers. In: Burton,
Arthur. Teorias Operacionais da Personalidade. Rio de Janeiro, Imago, 1978b.
ROGERS, C.R., WOOD, John, O¶HARA, Maureen & FONSECA, Afonso H.L. Em Busca de
vida. São Paulo, Summus, 1983b.
[1]
Mestre em Psicologia pela ùniversidade Federal do Ceará (Brasil) e Professor da Faculdade
de Psicologia da ùniversidade Federal do Pará (Brasil)
V