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O INSTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL – reflexões teóricas

Por ocasião dos 20 anos da Constituição de 1988, a comunidade jurídica será contemplada com várias
análises de velhos e novos institutos decorrentes da Carta Magna. O presente artigo busca refletir, de
forma teórica e não processual, sobre o instituto da repercussão geral, instituído pela Emenda
Constitucional nº 45 de 2004, regulamentado pela Lei nº 11.418/06, e finalmente detalhado no âmbito do
Supremo pela Emenda Regimental nº 21/07.
A discussão acerca do desenho institucional do Supremo por ocasião da Assembléia Nacional
Constituinte se configurou na tensão entre duas percepções sobre o papel da Corte no sistema brasileiro:
o posicionamento do Supremo como cúpula do Poder Judiciário, portanto, última instância recursal
(função jurídica); e a intenção de alguns constituintes de “proteger” o texto constitucional, no âmbito do
controle de constitucionalidade (função política).
Percebe-se, da análise dos debates constituintes, que, apesar de alguns grupos apontarem a
necessidade de transformação do STF em Corte Constitucional, defendendo que, para que os princípios
programáticos não ficassem adstritos ao discurso e à retórica, era preciso efetivar a Constituição, o que
só poderia ser feito com a criação de um Tribunal Constitucional, isto não ocorreu. Entretanto, apesar de
não ter sido elevado ao status de Corte Constitucional, com exclusiva competência constitucional e assim,
fora do Poder Judiciário, como gostariam os constituintes da “ala” comunitarista1, o STF teve sua
competência reduzida à matéria constitucional: compete ao STF “precipuamente, a guarda da
Constituição”.
Neste sentido podemos inferir que o controle de constitucionalidade concentrado adquiriu maior
relevância, no modelo “misto”2 adotado pelo Brasil a partir de 88.
A diferença entre os dois modelos que nos interessa para os fins da presente reflexão se baseia na
análise do objeto da ação. No modelo difuso, o interessado obtém uma declaração de
inconstitucionalidade somente para o efeito de isentá-lo, no caso concreto, do cumprimento da lei ou ato
normativo, produzidos em desacordo com a Constituição.
O controle concentrado, por outro lado, aborda uma questão que aparece desvinculada de qualquer
situação subjetiva: o único interesse é a supremacia da norma constitucional em face de uma norma que
lhe seja inferior e com a qual esteja em conflito. Entretanto, a competência para decidir definitivamente
sobre a constitucionalidade de um ato normativo está concentrada em um órgão especial, onde a ação,
para ser acolhida, não necessita versar sobre caso concreto, mas antes pode ser sobre a própria lei e
cuja decisão tem efeito erga omnes (contra todos), afastando a vigência da lei que considerar
inconstitucional.
Contudo, apesar da valorização do papel do Supremo no controle de constitucionalidade concentrado, a
crise de “quantidade” que assoberba o Supremo com um acúmulo de serviço se manteve. O Supremo
despende muito mais tempo com processos de natureza recursal ao invés da ADI que representa
justamente maior afinidade com a sua função máxima de guardião da Constituição. 3 A CF/88 incorporou
inúmeras matérias anteriormente tratadas em textos infraconstitucionais, o que ampliou
consideravelmente o leque de questões permissíveis de interpelação junto ao STF via Recurso
Extraordinário. Portanto, o novo desenho institucional do STF permite que o mesmo assuma feições de
Corte Constitucional, como guardião da Carta Magna, solução que vários autores apontam como
primordial para o desafogamento da Corte Suprema, e o instituto da repercussão geral pode ser
interpretado como uma tentativa neste sentido.
Os Tribunais Constitucionais representam o mecanismo que a sociedade civil possui para garantir que os
valores e princípios apregoados no texto constitucional sejam “protegidos”. Assim, o controle concentrado
passa a ser um mecanismo importante na efetivação do texto constitucional, o que, conseqüentemente,

1
Cittadino (2000) aponta a influência do “movimento comunitarista” durante os trabalhos constituintes a
partir de três premissas: a ênfase dada ao texto constitucional (o próprio surgimento do controle de
constitucionalidade concentrado implica em uma “valorização” das constituições, a ponto de se exigir a
criação de um órgão específico para sua proteção, o Tribunal Constitucional), a idéia de “comunidade de
intérpretes” (Haberle rejeita uma interpretação constitucional como um “evento exclusivamente estatal”,
inserindo todos, mesmo aqueles que não são diretamente afetados por ela), e o conceito de Constituição
Dirigente (norma de caráter “político”, extrapolando a idéia normativa de estruturação do Estado, incluindo
valores, percebendo-a como um plano global que determina tarefas, estabelece programas e define fins
para o Estado e para a sociedade)
2
O controle misto de constitucionalidade congrega os dois sistemas de controle, o de perfil difuso e o de
perfil concentrado. Gilmar Mendes (1996) defende que com a Constituição de 1988 o modelo concentrado
passa a ser predominante no sistema brasileiro, tendo em vista que as questões constitucionais passam a
ser veiculadas mediante a ADI perante o Supremo. Esta visão não é unânime dentre os
constitucionalistas, porque alguns defendem que a defesa dos direitos fundamentais legitima o controle
difuso de constitucionalidade, enquanto o processo objetivo que caracteriza o controle concentrado visa
promover a defesa da ordem constitucional, ou seja, o Estado. Discordamos desta visão na medida em
que o controle concentrado busca defender a Constituição como um todo, englobando inclusive os
direitos fundamentais, que poderão ser objeto de legislação específica contrária aos ditames
constitucionais.
3
Em 2007, a relação RE/ processos distribuídos foi de 44%.
permite destacar a importância da influência comunitarista no desenho institucional provocado pela
Constituição de 1988.
Portanto, o instituto da repercussão geral pode ser interpretado como uma retomada da abordagem
comunitarista na discussão sobre o papel do Supremo, firmando seu posicionamento como Corte
Constitucional e não como instância recursal.4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERCOVICI, Gilberto. Constituição e Política: uma relação difícil. Lua Nova, nr. 61, 2004, p. 5-24.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 1993.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição Dirigente e vinculação do legislador. Coimbra:
Coimbra, 2001.
CITTADINO, Gisele. Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva – Elementos da Filosofia Constitucional
Contemporânea. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000.
HÄBERLE, Peter. Retos actuales de Estado Constitucional. Oñati: [s.n.], 1996.
______________ Hermenêutica Constitucional - A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição:
contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Porto Alegre: Sérgio
Antonio Fabris, 2002.
MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de Constitucionalidade: aspectos jurídicos e políticos. São
Paulo: Saraiva, 1990.
______________________ Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na
Alemanha. São Paulo: Saraiva, 1996.
TAYLOR, Charles. Argumentos Filosóficos. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
VIANNA, L. W. A democracia e os três poderes no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
WALZER, Michael. The communitarian critique of liberalism. Political Theory, v. 18, n. 1, feb., 1990.
________________ Esferas da Justiça: uma defesa do pluralismo e da igualdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

4
Em estudo disponibilizado na página do STF, as finalidades do instituto são apresentadas como: firmar o
papel do STF como Corte Constitucional e não como instância recursal; ensejar que o STF só analise
questões relevantes para a ordem constitucional, cuja solução extrapole o interesse subjetivo das partes;
fazer com que o STF decida uma única vez cada questão constitucional, não se pronunciando em outros
processos com idêntica matéria.

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