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Cadernos de Educação de Infância

Jul./Set. 2002
Pensar no Assunto

PENSAR NO ASSUNTO

PREVENIR A DEFICIÊNCIA
Mário Cordeiro
Professor de Pediatria

O modo como uma sociedade encara a deficiência e os cidadãos com deficiência


traduz o grau de civismo e de humanismo dessa mesma sociedade.
Professor Torrado da Silva

Ter uma criança com deficiência não é fácil para as famílias. E se não é fácil em
nenhum país, muito mais difícil se torna em Portugal, já que infelizmente a atitude do
nosso Estado e da nossa sociedade perante os cidadãos portadores de uma
deficiência deixa ainda muito a desejar, pese embora todo o esforço que tem sido
feito e os grandes avanços que apesar de tudo foram conseguidos. E é por isso que,
se não aumentarmos substancialmente o nosso esforço colectivo, se não
melhorarmos as nossa atitudes (às vezes, mesmo, se não as mudarmos
radicalmente) e se não forem previstos recursos humanos, técnicos e orçamentais,
as deficiências desaguarão, inevitalvelmente, em handicaps, ou seja, as “falhas”
físicas ou psicológicas acabarão por resultar em “insucessos” e obstáculos sociais.
O que é de uma injustiça gritante e inaceitável.
Portugal foi, durante décadas, um País onde a diferença era mal tolerada. Os
cidadãos com deficiência eram diferentes. São diferentes. Como todos somos,
felizmente, diferentes uns dos outros. E como, aliás, todos temos algum tipo de
deficiência, seja relacional, seja orgânica ou de outra área qualquer. Ponham a Rosa
Mota a tocar Chopin ou a Maria João Pires a correr a maratona e poder-se-á ver
como cada um é bom numas coisas e fraco noutras.
Talvez por este pouco uso da tolerância, os hábitos culturais e a tradição,
associadas a sucessivos governos muito pouco motivados para as questões sociais,
levaram a que os cidadãos com deficiência fossem durante muito tempo
considerados como "cidadãos de segunda" e que os seus direitos só muito tarde
viessem a ser reconhecidos e implementados.
Se em outros países - como os países nórdicos, a Holanda ou a Inglaterra, só para
citar alguns -, as coisas andaram depressa, graças aos movimentos de cidadãos
mas também à sociedade em geral e à disponibilidade dos governos para debater
soluções e investir verbas elevadas, em Portugal estamos ainda a começar a dar os
primeiros passos, pese embora o esforço de algumas pessoas e de algumas
instituições. E desejamos que estes passos sejam firmes e que, de uma vez por
todas, levem ao reconhecimento de que o cidadão com deficiência é um cidadão
como os outros, apenas que tem algumas necessidades especiais a que cabe à
sociedade dar resposta. Sem favores, mas como uma obrigação e um dever.
Mas voltando ao assunto de hoje, prevenir a deficiência nas crianças, poderemos ver
como é em muitos dos casos possível. E os educadores, contactando com as
próprias crianças, com os pais (e também, de alguma forma, com os futuros
irmãos!), estão num lugar privilegiado para aconselhamento, promoção de estilos de
vida saudáveis e, igualmente, para chamar a atenção para os riscos e perigos que
urge evitar.
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Jul./Set. 2002
Pensar no Assunto

Antes a Gravidez
Nesta fase, antes mesmo da concepção, é possível fazer algo pela prevenção da
deficiência, designadamente optar por estilos de vida saudáveis, com prática
desportiva, sem consumos em excesso de produtos nocivos (tabaco, álcool e
drogas), zelando por uma nutrição equilibrada - em suma, levando uma vida de
qualidade (e "qualidade" não implica obrigatoriamente gastar mais dinheiro).

Prevenção Genética
O aconselhamento genético, uma forma de prevenção genética, permite aos futuros
pais (de preferência antes da concepção) saber os riscos que correm relativamente
a esta ou àquela doença quando, por exemplo, há alguém na família com uma
deficiência ou uma doença hereditária grave, se algum dos membros do casal sofre
de deficiência, se já houve outro filho afectado, enfim, se existe algo que preocupa
as pessoas. Refira-se, no entanto, que todos nós - a chamada "população em geral"
-, aparentemente saudável, carregamos connosco alguns genes doentes que, no
entanto, não se traduzem por doenças. Podemos é, se o nosso cõnjuge tiver ele
também esses mesmos genes doentes, ter um filho com uma deficiência mesmo
sem haver outro caso anterior.
Se ter um filho deve ser um projecto, portanto "pensado e arquitectado", seria
desejável que os todos os casais se informassem e debatessem estes aspectos com
o médico assistente antes da gravidez.
A prevenção genética passa também pelas medidas de promoção da saúde como
por exemplo as que foram mencionadas acima, relativamente à escolha de estilos de
vida saudáveis.

A Gestação
A gestação é um período fundamental, já que é nele (sobretudo nos primeiros
meses) que as células e os órgãos se formam e que um agente agressivo pode
provocar problemas nessas mesmas células e órgãos.
Começa pelas medidas gerais, como uma alimentação equilibrada, a prevenção das
doenças infecciosas (um bom exemplo é a vacina da rubéola, incluída no Programa
Nacional de Vacinação) e, mais uma vez, os estilos de vida saudáveis. Chamo a
atenção para a importância de não se beber álcool durante a gravidez, seja em que
quantidade for, dado que mesmo pequeníssimas porções podem provocar
problemas, nomeadamente uma diminuição do número de células do cérebro que
depois se vem a traduzir em problemas na idade escolar. O mesmo se diz para o
tabaco, que deve ser completamente banido durante a gravidez, a menos que a
grávida de facto fique completamente em stress por não fumar... mas se ela souber
que é para bem do bebé, poderá sentir-se mais motivada para reduzir ao mínimo
(zero, de preferência...) a quantidade de cigarros que fuma. E o pai não pode alhear-
se disso, continuando ele próprio a fumar, o que dificulta à mulher o suspender o
tabaco. Às drogas ilegais aplica-se o mesmo, muito particularmente às chamadas
“drogas duras”.
Outro aspecto determinante é a vigilância da gravidez desde logo que se sabe dela -
para isso existem centros de saúde, médicos, enfermeiros, consultórios e hospitais.
As consultas e os exames, para além do aconselhamento que é feito, permitem
realizar exames que podem servir para detectar anomalias ou evitar problemas.

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O Nascimento
Neste momento, em Portugal, é essencial que os partos tenham lugar no hospital
(público ou privado), como acontece, aliás. E a melhoria dos cuidados prestados à
grávida e ao recém-nascido permitiram diminuir extraordinariamente o número de
deficiências.

Depois e Nascer
Claro está que algumas crianças já nascem com algum tipo de deficiência -
intelectual, física, da visão, cardíaca, da audição, renal, etc. A própria paralisia
cerebral, que antigamente se atribuía a erros obstétricos, veio a verificar-se ser de
causa congénita na grande maioria dos casos, ou seja, ter a sua origem antes
mesmo do parto. Porquê? Não se sabe ainda a razão, mas lá se chegará.
Mas a maioria das crianças nasce saudável. Como poderão então surgir deficiências
depois do nascimento? Às vezes esqueçemo-nos de que isso pode acontecer e que
é preciso continuar a prevenir a deficiência, seja em que idade for. Como? Através
de uma alimentação adequada em quantidade e qualidade, evitando as doenças
infecciosas (com as vacinas, por exemplo, designadamente as novas vacinas para
os micróbios causadores de meningite) ou tratando-as precocemente (como no caso
de meningites e encefalites), evitando os traumatismos e lesões causados pelos
acidentes (área em que Portugal é a desgraça que se sabe) ou os ferimentos por
outras violências (como os maus tratos), identificando e tratando precocemente as
doenças e dando todo o apoio necessário às crianças com doença crónica, enfim,
promovendo a saúde e estando atentos aos problemas que vão surgindo, sem
ansiedade mas de "olhos abertos".

Ter Esperança no Futuro


A prevenção da doença é possível em muitas circunstâncias. É ética, científica,
lógica e humanamente correcta, mas também economicamente desejável. Os
passos dados nas últimas décadas permitem olhar para o futuro com alguma
esperança. Provavelmente não faltarão, no futuro e até no presente, meios
tecnológicos. Eventualmente poderão escassear financiamentos, se os governos
não estiverem suficientemente motivados - daí a necessidade de grande vontade
política.
O modo como uma sociedade encara a deficiência e os cidadãos com deficiência
traduz o grau de civismo e de humanismo dessa mesma sociedade. Os próximos
anos dirão por que tipo de sociedade afinal lutámos e se fomos suficientemente
eficazes para o conseguir.

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