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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

OS
Nº 70022092456
2007/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.


SUCESSIVAS PANES EM VEÍCULO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA POR FATO DO
PRODUTO OU SERVIÇO. INTERESSE DE AGIR.
DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS
CARACTERIZADOS.
1. A autora fez a reserva mental de não querer o
que manifestou no instrumento, do que tinha
conhecimento o destinatário, ora apelante. Assim,
consoante dispõe o art. 110 do CC/2002, a
manifestação da sua vontade nestes termos não
subsiste, conduzindo, destarte, à presença do seu
interesse de agir no ajuizamento a presente
demanda. Não incide, no caso, o art. 849 do
CC/2002, segundo o qual a transação só pode ser
anulada por dolo, coação ou erro essencial quanto
à pessoa ou coisa controversa, mediante ação
anulatória específica. Ora, as circunstâncias do
caso deixam assente que não se tratou de coação,
porquanto não demonstrado a presença de dano
iminente e considerável à pessoa da autora, à sua
família ou aos seus bens (art. 151 do CC/2002). A
impossibilidade de retirar o automóvel da
concessionária caracteriza uma ameaça ao
exercício normal de um direito, o que, consoante
dispõe o art. 153 do CC/2002, não se considera
coação.
2. Impende desprover o agravo retido contra a
decisão que indeferiu a oitiva de testemunha
arrolada pela autora, porquanto considerado
despiciendo o testemunho para a comprovação
dos prejuízos morais sofridos pela demandante.
3. Trata-se de responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço, prevista no art. 12, do
CDC, e, portanto, responsabilidade objetiva
mitigada, cabendo ao consumidor mostrar a
verossimilhança do alegado, o prejuízo e o nexo de
causalidade entre eles e, ao fornecedor,
desconstituir o risco e o nexo causal. Então, à luz
do disposto nos artigos 14 e 18 do CDC, visto que
a responsabilidade pelo fato do produto e do
serviço é objetiva, devem responder as requeridas,
como fornecedoras de produtos de consumo
(duráveis) pelos vícios de qualidade e quantidade,
sob o amparo do art. 18, do CDC – Lei Nº 8.078/90.
4. DANOS MATERIAIS. Existindo prova concreta
das despesas com conserto do veículo e com
locomoção, viável a condenação dos demandados
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ao ressarcimento das quantias demonstradas nos


autos.
5. DANOS MORAIS. É certo que a autora
experimentou toda a sorte de frustrações, capazes
de provocar considerável abalo aos atributos de
sua personalidade. Ora, a quebra constante do
carro acaba com o bom humor e a paciência de
qualquer um. Quem compra um veículo de
fabricação em 2002 com um ano de defasagem (em
2003) tem a justa expectativa de que, pelo menos
durante um ou dois anos, somente irá visitar a
oficina a cada dez mil quilômetros, apenas para
fazer as revisões periódicas. E tudo isso se traduz
em dano moral, que há de ser composto,
compensando-se os dissabores do consumidor
espoliado, de um lado, e, de outro, punindo o
fabricante do produto que não atendeu às
expectativas do adquirente. Fica condenado o réu
ao pagamento de R$4.000,00 ao autor, devendo
incidir a correção monetária e os juros de 12% ao
ano, a partir deste julgamento.
"REJEITARAM A PRELIMINAR E DESPROVERAM
A 1ª APELAÇÃO. DESPROVERAM O AGRAVO
RETIDO E PROVERAM A 2ª APELAÇÃO.
DESPROVERAM A 3ª APELAÇÃO. UNÂNIME."
APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70022092456 COMARCA DE PASSO FUNDO

PEGASUS VEICULOS APELANTE/RECORRIDO


ADESIVO/APELADO
MAGELA DUARTE JUST APELANTE/RECORRIDO
ADESIVO/APELADO
PEUGEOT DO BRASIL VEICULOS RECORRENTE ADESIVO/APELADO
LTDA

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Magistrados integrantes da Nona Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em (a) rejeitar a preliminar e
desprover a 1ª apelação; (b) desprover o agravo retido e prover a 2ª
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apelação para julgar procedente o pedido de indenização por danos morais,


condenando o réu ao pagamento de R$4.000,00 à autora, devendo incidir a
correção monetária e os juros de 12% ao ano, a partir deste julgamento; (b)
desprover a 3ª apelação; (c) condenar as demandadas a suportar as
despesas processuais e os honorários advocatícios do patrono da parte
autora, arbitrados em 15% sobre o valor da condenação.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE) E
DR. LÉO ROMI PILAU JÚNIOR.
Porto Alegre, 05 de março de 2008.

DES. ODONE SANGUINÉ,


Relator.

RELATÓRIO
DES. ODONE SANGUINÉ (RELATOR)
1. Trata-se de duas apelações cíveis e um recurso adesivo
interpostos, respectivamente, por PEGASUS VEICULOS (1ª apelante), por
MAGELA DUARTE JUST (2ª apelante) e por PEUGEOT DO BRASIL
VEICULOS LTDA (recorrente adesivo), pois insatisfeitos com a sentença de
fls. 421/429, que julgou parcialmente procedente os pedidos deduzido na
ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada pela 2ª apelante
em face do 1º apelante e do recorrente adesivo, para: (a) condenar as
requeridas ao pagamento, a título de danos materiais, da importância de
R$239,36, referente à locação do veículo discriminado às fls. 71/73 e de
R$14,80, da passagem de ônibus da fl. 81, ambos acrescidos de correção
monetária pelo IGPm a partir do desembolso (19/06/2003 – fl. 71 e
14/06/2003 – fl. 81), consoante Súmula 43 do STJ e de juros moratórios de
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1% ao mês a partir da última citação (19/05/2004); (b) condenar cada parte


ao pagamento de 50% das despesas processuais e honorários advocatícios
ao patrono da parte contrária arbitrados em 15% sobre o valor da
condenação.

2. Em suas razões recursais (fls. 434/446), a apelante


PEGASUS VEICULOS assevera a carência de ação tendo em vista a
entabulação de termo de acordo entre as partes, âmbito em que a recorrida
renunciou ao direito de cobrar valores extras que entendesse devidos. No
ponto, assevera que a autora não foi coagida a assinar o termo de acordo, o
qual faz coisa julgada entre as partes. Sustenta, ainda, que a transação só
pode ser anulada por dolo, coação ou erro essencial quanto à pessoa ou
coisa controversa (art. 849 do NCC), mediante ação anulatória específica,
hipóteses inocorrentes no caso em tela. No mérito, pugna pelo
redimensionamento da sucumbência, com a condenação da recorrente ao
pagamento das custas processuais na proporção do valor da condenação e
da recorrida ao pagamento das custas processuais na proporção da parcela
sucumbente e honorários advocatícios de 15% também sobre a parcela
sucumbente. Requer o provimento do recurso.

3. Em suas razões recursais (fls. 461/473), o apelante


MAGELA DUARTE JUST pede, preliminarmente, a apreciação do agravo
retido contra a decisão que indeferiu a oitiva de testemunha arrolada pela
autora. No mérito, sustenta a ocorrência de danos morais advindos do longo
período de quarenta dias em que permaneceu sem automóvel e à espera de
uma solução para os problemas no veículo. Afirma a relação de
hipossuficiência da parte apelante e a aplicabilidade do CDC. Assevera a
má-fé das apeladas na venda do veículo e na tentativa de esquivar-se das
responsabilidades pelos prejuízos. Destaca o depoimento da anterior
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proprietária do veículo que também enfrentou inúmeros problemas com o


carro. Por fim, requer o provimento do recurso, com a apreciação do agravo
retido e a reforma da sentença.

4. Por sua vez, em suas razões recursais (fls. 510/516), a


recorrente PEUGEOT DO BRASIL VEICULOS LTDA sustenta,
preliminarmente, a desnecessidade do recolhimento das custas de preparo.
Assevera que os danos materiais foram objeto de termo de acordo, o qual
englobava a os gastos anteriores arcados pela recorrida. Afirma que os
prejuízos materiais foram devidamente quitados no acordo. Requer, neste
termos, o provimento do recurso, com o julgamento de improcedência do
pleito inicial.

5. O Juízo a quo não recebeu o recurso adesivo (fl. 518), ao


que se sucedeu a interposição de agravo de instrumento (fls. 525/536), que
restou provido (fls. 542/43v.)

6. As partes apresentaram contra-razões (fls. 476/480,


481/491, 492/509, 510/516, 550/553).
7. Subiram os autos para julgamento. Distribuídos, vieram
conclusos.

É o relatório.

VOTOS
DES. ODONE SANGUINÉ (RELATOR)
Eminentes colegas.

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8. A autora ajuizou demanda indenizatória contra as empresas


requeridas, alegando a aquisição de um veículo, modelo 307 Passion, ano
2002, placas IKR5950, da Concessionária Peugeot Champs Elysées, na
cidade de Lajeado, pelo valor de R$38.000,00. Alegou que o automóvel
sofreu uma pane, em 27/05/2003, enquanto trafegava, o que motivou a
solicitação de um carro-guincho para condução do automóvel até a
concessionária onde foi consertado. Todavia, outros problemas ocorreram
na parte elétrica do carro, motivando a sua permanência na concessionária
por mais de trinta dias. Neste contexto, a concessionária propôs à autora a
troca do seu veículo por outro da mesma marca e modelo, zero km, o que foi
aceito por ela, mediante o pagamento de R$7.000,00 de diferença e a
assinatura de um termo de acordo. Em vista disso, a autora requereu a
condenação da demandada ao pagamento de indenização relativa aos
danos materiais e morais.

9. No referido termo de acordo de fls. 66/68, a parte autora “dá


a Peugeot, já qualificada, a mais ampla, geral e irrevogável quitação quanto
ao pleito da reclamação apresentada pela primeira, nada mais podendo
reclamar quanto aos fatos ali narrados, incluindo qualquer evento, dano
material, moral, ou despesa desse decorrente, nada mais podendo
reclamar,seja a que título for”. Em razão desta cláusula, a apelante
PEGASUS VEICULOS assevera a carência de ação, pela ausência de
interesse de agir.

10. Contudo, não lhe assiste razão, já que a própria autora


declarou, abaixo da sua assinatura no termo, verbis: “somente assinei esse
documento por estar sendo impedida de retirar o veículo da concessionária
a seguir viagem” (fl. 68). Portanto, tem-se que a autora fez a reserva mental
de não querer o que manifestou no instrumento, do que tinha conhecimento

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o destinatário, ora apelante. Assim, consoante dispõe o art. 110 do CC/2002,


a manifestação da sua vontade nestes termos não subsiste, conduzindo,
destarte, à presença do seu interesse de agir no ajuizamento a presente
demanda.

11. Não incide, no caso, o art. 849 do CC/2002, segundo o qual


a transação só pode ser anulada por dolo, coação ou erro essencial quanto
à pessoa ou coisa controversa, mediante ação anulatória específica. Ora, as
circunstâncias do caso deixam assente que não se tratou de coação,
porquanto não demonstrado a presença de dano iminente e considerável à
pessoa da autora, à sua família ou aos seus bens (art. 151 do CC/2002). A
impossibilidade de retirar o automóvel da concessionária caracteriza uma
ameaça ao exercício normal de um direito, o que, consoante dispõe o art.
153 do CC/2002, não se considera coação.

12. Afasto, pois, a preliminar de carência de ação deduzida


pela apelante PEGASUS VEICULOS.

13. De outra banda, também desprovejo o agravo retido contra


a decisão que indeferiu a oitiva de testemunha arrolada pela autora,
porquanto considero despiciendo o testemunho para a comprovação dos
prejuízos morais sofridos pela demandante, os quais, a meu sentir, já
restaram suficientemente caracterizados, conforme exposição na parte
pertinente deste voto.

14. Desprovejo, então, o agravo retido cuja apreciação foi


requerida pela apelante MAGELA DUARTE JUST.

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15. No mérito, restou devidamente comprovado, nos autos, que


a autora adquiriu um automóvel, fabricado pela PEUGEOT S/A que restou,
após sucessivas panes no motor e visitas à concessionária para conserto,
substituído, com o pagamento de uma diferença pela autora no valor de
R$7.000,00 à concessionária

16. Trata-se, ainda, de responsabilidade pelo fato do produto e


do serviço, prevista no art. 12, do CDC, e, portanto, responsabilidade
objetiva mitigada, cabendo ao consumidor mostrar a verossimilhança do
alegado, o prejuízo e o nexo de causalidade entre eles e, ao fornecedor,
desconstituir o risco e o nexo causal. Então, à luz do disposto nos artigos 14
e 18 do CDC, visto que a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço
é objetiva, devem responder as requeridas, como fornecedoras de produtos
de consumo (duráveis) pelos vícios de qualidade e quantidade, sob o
amparo do art. 18, do CDC – Lei Nº 8.078/90.

17. Pois bem, no contexto das alegações recursais das partes,


verifica-se que a presença dos pressupostos da responsabilidade civil restou
incontroversa. No ponto, a análise dos danos materiais foi bem posta na
sentença recorrida, motivo pelo qual adoto os seus fundamentos como
razões de decidir o recurso no ponto, evitando tautologia, verbis:

“Os defeitos no veículo ficaram comprovados, em especial,


com a ficha do cliente (fls. 27/31), as ordens de serviço (fls.
32/34) e solicitação do carro reserva (fls. 27/31). Aliás,
consoante a primeira proprietária do veículo ANGELA
ANDRIOLI (fl. 3740 desde a saída da fábrica o veículo já
apresentava os problemas que levaram à insatisfação da
autora, bem como a sua, já que repassou o automóvel (...).
Diante de tais defeitos no veículo, percebe-se que a autora
sequer pôde utilizar de modo oportuno, conveniente e
adequado o veículo após a sua aquisição no período de
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aproximadamente três meses em que ficou sob sua


propriedade, teve que ficar na concessionária para reparos
no período de 27 a 30 de maio de 2003 (fls. 29/31) e, do dia
14/06 (fl. 32) até quase o momento da assinatura do termo
de acordo (08/08/2003 – fls. 66/68), o que é presumido pelo
período que ficou com o carro reserva, até 17/07/2003 (fl.
41). Aliás, o próprio funcionário da concessionária MICKEL
ROCKEMBACH (fl. 363), afirmou que o automóvel
permaneceu na concessionária para revisão por até 40
dias:
“Na primeira revisão, o veículo precisou ficar na
concessionária 02 dias, e na segunda, ficou concessionária
por 40 dias”.
Para surgir o direito à reparação, inclusive do dano moral,
deve haver responsabilidade, que se consubstancia num
comportamento humano comissivo ou omissivo, contrário à
ordem jurídica, que cause dano a outrem, ou seja,
indispensável uma relação de causalidade entre a conduta
do agente e o dano comprovado. Passa-se a analisá-los
por tópicos. Em relação aos danos materiais, pretende a
autora a condenação das rés ao pagamento de R$1.388,29
referente aos gastos que teve com consertos e reparos no
veículo, viagens até a cidade de ré, aluguel de outro
automóvel para levar sue filho a Porto Alegre, diárias em
hotéis, dentre outros, que não foram especificados.
Do exame das provas carreadas aos autos, é possível
constatar que a autora locou, particularmente, em
17/06/2003, o veículo Clio RL 1.0, placas IKK-5135 (fls. 71
e 73), tendo pago o valor de R$239,36. Não tendo ficado
comprovado pelas rés, que nesse momento já havia sido
fornecido o carro reserva para a autora, ônus que lhes
incumbia , forte no artigo 333, inciso II, do CPC.
Não há de ser ressarcida a gasolina, utilizada nesse carro
locado e comprovada à fl. 85, já que seria consumida da
mesma forma se a autora estivesse com o seu automóvel ,
lembrando que, consoante a autora a locação nesse
momento foi levar seu filho à Porto Alegre para fazer
tratamentos médicos.
O mesmo ocorre com os demais comprovantes de gasolina
juntados, pois não há como saber se foram utilizados para
viagens para levar o carro até a concessionária ou outras
particulares. Logo, não há como deferir o pleito no
particular.
Em relação aos pedágio, os de fl. 74, são datados de 12 e
14/05/2003, antes da aquisição do veículo sub judice,
somente servindo para demonstrar que a autora
comumente viajava para Porto Alegre. Os de fl. 77 e 78,
referem-se ao Peugeot adquirido (placas IKR-5950) e
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datam de 07/06 e 14/06, porém, assim como os das fls.


75/76 feitos com o veículo placas ILC 0671, não é possível
saber, com certeza, se a autora não estava viajando por
motivos particulares, não sendo possível repassar esses
custas para as rés.
Da mesma forma no tocante às passagens de ônibus para
Porto Alegre (fl. 79) de 04/08/2003, pois como não se sabe
se foram utilizadas realmente pela autora, até porque não
há outras provas nos autos de que nessa data esteve em
Porto Alegre, além de não haver prova que nesta data não
estava com o veículo à sua disposição. Ainda, friso que a
própria mencionou na sua exordial (fl. 03) que somente
locou o automóvel porque o filho não poderia viajar em
transportes coletivos. O que causa uma certa estranheza
em relação as presentes passagens de ônibus
colacionados aos autos. A passagem para lajeado da fl. 79,
de 08/08/2003, data em que foi celebrado o Termo de
Acordo, também não há que ser ressarcida, pois estava a
autor indo celebrar o negócio. Somente a passagem de fl.
81, de Lajeado à Passo Fundo, é que encontra suporte
probatório, pois como o veículo entrou na concessionária
de Lajeado em 14/06/2003, no final da manhã, para ser
avaliado pela autora para retornar pa sua cidade. Logo,
somente essa passagem deve ser ressarcida.
Por fim, em relação às hospedagens em hotéis (fls. 87/89),
são todos de Porto Alegre, onde a autora estava
corriqueiramente para fazer o tratamento de seu filho.
Portanto, são despesas que não tem nexo causal com os
defeitos no veículo, não sendo passíveis de indenização.
Outras despesas não ficaram comprovadas nos autos,
razão pela qual a indenização pelos danos materiais cingir-
se-á a locação do carro (fls. 71 e 73) e da passagem de
ônibus da fl. 81, os quais deverão ser acrescidos de
correção monetária pelo IGMP a partir do desembolso
(19/06/2003 – fl. 41 e 14/06/2003 – fl. 81), consoante
Súmula 43 do STJ e de juros moratórios de 1% ao mês
(artigo 406 do CC/02 c/c artigo 161, §1º do CTN) a partir da
última citação juntada aos autos (19/05/2004 – fl. 174).”

16. Neste passo, impende reconhecer a existência dos danos


materiais retrocitados, desconsiderada que restou a cláusula de ampla e
irrestrita quitação constante no termo de acordo.

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17. Assim, nos termos do disposto no art. 12, do Código de


Defesa do Consumidor, deverão fabricante e concessionária responder,
independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados ao
consumidor, em razão dos defeitos apresentados por seu produto.

18. Sobre a questão da culpa nas relações de consumo, é


oportuníssima a lição da professora da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Cláudia Lima Marques, in verbis:
"Hoje, mais do que nunca, a culpa é noção
insuficiente como geradora da responsabilidade
civil. As barreiras entre as responsabilidades de
origem contratual e extracontratual estão cada
vez mais fluidas...Com a entrada em vigor do
Código de Defesa do Consumidor, estamos
assistindo a mais um passo na evolução do
direito civil à procura da efetiva reparação dos
danos sofridos pelas vítimas. Como a noção de
culpa não mais satisfaz, procura o direito outros
elementos que possam fundamentar a obrigação
de reparação do dano, seja através da
imposição de deveres anexos ao contrato (dever
de qualidade do produto), de deveres anexos à
própria atividade produtiva (dever geral de
qualidade do produto), seja através da
imposição de novas garantias implícitas (não só
contra a evicção e contra o vício redibitório, mas
garantia de adequação de todo produto
introduzido no mercado, podendo pensar- se
mesmo em uma garantia da segurança do
produto). ...(omissis)... A doutrina brasileira
mais moderna está denominando Teoria da
Qualidade o fundamento único que o sistema do
CDC instituiria para responsabilidade (contratual
e extracontratual ) dos fornecedores. Isto
significa que ao fornecedor, no mercado de
consumo, a lei impõe um dever de qualidade dos
produtos e serviços que presta. Descumprido
este dever surgirão efeitos contratuais
(inadimplemento contratual ou ônus de suportar
os efeitos da garantia por vício) e
extracontratuais (obrigação de substituir o bem
viciado, mesmo que não haja vínculo contratual
de reparar os danos causados pelo produto ou
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serviço defeituoso). A Teoria da Qualidade se


bifurcaria, no sistema do CDC, na exigência de
qualidade-adequação e de qualidade-segurança,
segundo o que razoavelmente se pode esperar
dos produtos e dos serviços. ... Trata-se, como
afirmamos anteriormente, de uma
responsabilidade legal. O dever anexo de
qualidade, qualidade-adequação, e seu reflexo,
o vício por inadequação do produto ou do
serviço, substituem, no sistema do CDC, com
largas melhoras, a noção de vício redibitório".1

19. Analisando o apelo sob a ótica desses modernos


princípios, consagrados no Código de Defesa do Consumidor, evidencia-se
a responsabilidade da apelada, restando apenas quantificar a extensão dos
danos morais.

20. Quanto ao dano moral, é bem de ver, ainda, que a


indenização decorrente da responsabilidade civil pressupõe a existência
efetiva de um dano. Se o dano não ocorreu, não há que se falar em
suposições, pois se assim fosse feito, deixaríamos de examinar os fatos à
luz da realidade e adentraríamos o campo metafísico.

21. Como bem asseverou o Exm° Sr. Ministro Carlos Alberto


Menezes Direito, no voto proferido nos autos do AGA 276671/SP, do Eg.
STJ, “ao analisar o pedido de indenização por danos morais, deve o
julgador apreciar cuidadosamente o caso concreto, a fim de vedar o
enriquecimento ilícito e o oportunismo com fatos que, embora
comprovados, não são capazes de causar sofrimentos morais, de ordem
física ou psicológicos, aos cidadãos.”

22. Pois bem, no caso concreto, os danos morais sem dúvida


ocorreram. É certo que a autora experimentou toda a sorte de frustrações,

1
"Contratos no Código de Defesa do Consumidor", RT, 1999, págs. 577/580.
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capazes de provocar considerável abalo aos atributos de sua personalidade.


Ora, a quebra constante do carro acaba com o bom humor e a paciência de
qualquer um. Quem compra um veículo de fabricação em 2002 com um ano
de defasagem (em 2003) tem a justa expectativa de que, pelo menos
durante um ou dois anos, somente irá visitar a oficina a cada dez mil
quilômetros, apenas para fazer as revisões periódicas.

23. E tudo isso se traduz em dano moral, que há de ser


composto, compensando-se os dissabores do consumidor espoliado, de um
lado, e, de outro, punindo o fabricante do produto que não atendeu às
expectativas do adquirente. Só assim estar-se-á desestimulando
procedimentos semelhantes por parte dos donos do capital, inimagináveis
nos países do primeiro mundo, mas que, lamentavelmente, tornaram-se
rotineiros entre nós.

24. A indenização por dano moral deve representar para a


vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento
impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para
proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um
enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no
causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado.

25. Assim se expressou Humberto Theodoro Júnior, conforme


o qual “o mal causado à honra, à intimidade, ao nome, em princípio, é
irreversível. A reparação, destarte, assume o feito apenas de sanção à
conduta ilícita do causador da lesão moral. Atribui-se um valor à reparação,
com o duplo objetivo de atenuar o sofrimento injusto do lesado e de coibir a

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reincidência do agente na prática de tal ofensa, mas não como eliminação


mesma do dano moral.”2.

26. Nesta linha, entendo que a condição econômica das partes,


a repercussão do fato, a conduta do agente - análise de culpa ou dolo -
devem ser perquiridos para a justa dosimetria do valor indenizatório.

27. Ponderados tais critérios objetivos, tenho como suficiente o


valor de R$ 4.000,00, a título indenizatório, para minimizar a dor sofrida e, de
outro lado, servindo como medida pedagógica. O “quantum” fixado atende, a
meu sentir, aos critérios exigidos, observada a extensão e a gravidade do
dano, as partes, a função preventiva-punitiva-compensatória da indenização,
sob o pálio dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, respeitado
ainda que é princípio geral de direito que não se pode privilegiar o
enriquecimento indevido.

28. Ao valor ora fixado devem ser acrescidos os consectários


legais nos termos seguintes:

29. Em primeiro lugar, a correção monetária não constitui plus,


e sim mera atualização da moeda, devendo incidir a partir da fixação do
quantum devido, é dizer, a partir do julgamento. Perfilhando tal
entendimento, manifestou-se o E. STJ nos arestos a seguir: (1) “Correção
monetária que flui a partir da data do acórdão estadual, quando
estabelecido, em definitivo, o montante da indenização.” (REsp 566714 / RS;
Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior; Quarta Turma; DJ 09.08.2004 p. 275);
(2) “Caso, ademais, em que fixado o quantum do ressarcimento em moeda

2
A liquidação do dano moral, Ensaios Jurídicos – O Direito em revista, IBAJ – Instituto Brasileiro de
Atualização Jurídica, RJ, 1996, vol. 2, p.509.
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corrente, a atualização monetária há de ser computada a partir de tal data,


eis que naquele momento é que o montante representa a indenização
devida, sendo descabida a pretensão do autor de retroagir a correção a
época anterior, posto que a defasagem somente poderia ocorrer de então,
jamais antes.” (REsp 316332 / RJ; Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior;
Quarta Turma; DJ 18.11.2002 p. 220).

30. Em segundo lugar, quanto aos juros moratórios, na


hipótese de reparação por dano moral, entendo cabível o início da contagem
a partir da fixação do quantum indenizatório, ou seja, a contar do julgamento
no qual foi arbitrado o valor da condenação. Considerando que o magistrado
se vale de critérios de eqüidade no arbitramento da reparação, a data do
evento danoso e o tempo decorrido até o julgamento são utilizados como
parâmetros objetivos na fixação da condenação, de modo que o valor
correspondente aos juros integra o montante da indenização.

31. Destaco que tal posicionamento não afronta o verbete da


Súmula nº 54 do STJ. Ao revés, harmoniza-se com o entendimento do E.
Superior Tribunal de Justiça. A ultima ratio do enunciado sumular é destacar
que a reparação civil por dano moral deve possuir tratamento diferenciado
na sua quantificação em relação ao dano material, dado o objetivo
pedagógico, punitivo e reparatório da condenação.

32. No tocante ao arbitramento do dano moral, o termo inicial


da contagem deve ser a data do julgamento. O julgador fixa o dies a quo que
melhor se ajusta ao caso em concreto, em consonância com os critérios
utilizados para a fixação do valor indenizatório. Dessa forma, além de se ter
o quantum indenizatório justo e atualizado, evita-se que a morosidade
processual ou a demora do ofendido em ingressar com a correspondente
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ação indenizatória gere prejuízos ao réu, sobretudo, em razão do caráter


pecuniário da condenação.

33. Com essa orientação já decidiu o STJ: REsp 618940 / MA;


Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro; Terceira Turma; julgado em
24/05/2005; DJ 08.08.2005 p. 302.

34. Impende, destarte, o redimensionamento da sucumbência,


para condenar as partes demandadas ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios ao patrono da parte adversa,
arbitrados em 15% sobre o valor da condenação, conforme art. 20, §3º, do
CPC.

35. Posto isso, voto no sentido de (a) rejeitar a preliminar e


desprover a 1ª apelação; (b) desprover o agravo retido e prover a 2ª
apelação para julgar procedente o pedido de indenização por danos morais,
condenando o réu ao pagamento de R$4.000,00 à autora, devendo incidir a
correção monetária e os juros de 12% ao ano, a partir deste julgamento; (b)
desprover a 3ª apelação; (c) condenar as demandadas a suportar as
despesas processuais e os honorários advocatícios do patrono da parte
autora, arbitrados em 15% sobre o valor da condenação.

DR. LÉO ROMI PILAU JÚNIOR (REVISOR) - De acordo.


DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE)

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Acompanho, na íntegra, o voto do Relator Desembargador


Odone Sanguiné. Apenas destaco que, em regra, não admito a ocorrência
de dano moral quando a interferência do ilícito se restringe à relação da
pessoa com a coisa. Uma pessoa que ficou sem o carro furtado, por
exemplo, não sofre abalo moral pela simples separação do bem.
No presente caso, no entanto, houve evidentes sentimentos de
frustração, quebra de legítima expectativa e ansiedade decorrente da
situação pessoal da demandante, que tem um filho menor portador de
leucemia, que constantemente necessita ser transportado da cidade de
Passo Fundo a Porto Alegre para tratamento.
Configurou-se, pois, in casu, o dano moral indenizável.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA - Presidente - Apelação Cível


nº 70022092456, Comarca de Passo Fundo: "REJEITARAM A PRELIMINAR
E DESPROVERAM A 1ª APELAÇÃO. DESPROVERAM O AGRAVO
RETIDO E PROVERAM A 2ª APELAÇÃO. DESPROVERAM A 3ª
APELAÇÃO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LUIS GUSTAVO ZANELLA PICCININ

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