Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Brasil que transparece é antes a de um país europeu que acontecia ter recorrido
às conveniências da mão-de-obra escrava africana – e agora a via transformada
num problema. Não admira, por exemplo, na perspectiva que aí se tem, que
cerca de 50 anos mais tarde, em meados do século 20 (para tomar um ponto de
referência usado em comparações realizadas na imprensa brasileira a propósito
de dados educacionais negativos divulgados há pouco pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), o país ainda não tivesse despertado para a
necessidade de investimentos maciços em educação – educar “essa gente”?
Pondere-se que na Argentina o analfabetismo deixou de existir já no século 19,
enquanto no Brasil continuamos às voltas com ele ainda no século 21.
Posto em outros termos, o que o Brasil do século 20 herdou é
inequivocamente uma sociedade de castas.2 Por certo, as grandes
transformações econômicas e estruturais experimentadas pelo país ao longo do
século, com a industralização, a intensa urbanização e seus correlatos,
resultaram em mudanças importantes também no plano da psicologia coletiva, e
é mesmo provavelmente legítimo reconhecer (ainda que com reservas quanto a
visões mais benignas e exageradas)3 certa “inclusividade” do Brasil da
atualidade: tomem-se, por exemplo, a música popular e os esportes,
especialmente o futebol, onde as chances de êxito sem dúvida não dependem de
características raciais ou de um background social mais favorável. Além disso,
as mudanças estruturais se fizeram também acompanhar de extensa
incorporação no plano eleitoral, com consequências políticas de monta.4 Mas a
desigualdade econômica e social continua enorme, e não há dúvida de que o
famoso “fosso social” brasileiro segue existindo.5 De sorte que, na dialética
entre desigualdade, incorporação e exclusão, o problema constitucional
brasileiro acaba por assumir a feição do contraste (e da tensão) entre duas
categorias que o jornalista Marcos Sá Corrêa foi o primeiro a contrapor: os
eleitores e os contribuintes. Se tomamos os contribuintes como aqueles que têm
rendimentos suficientes para deverem pagar imposto de renda, o Brasil dos
4