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Fabiana Fidelis2
Escrever um artigo não é muito diferente de escrever qualquer outro tipo de texto;
entretanto, por ser um texto formal, é necessário considerar alguns aspectos importantes.
Entre eles, a organização visual e a forma de fazer citações e referências se destacam.
Citar autores é dar autoridade ao texto – e um texto precisa tanto de autoria como de
autoridade. Quando mencionamos alguém em um trabalho científico, ou mesmo em um texto
jornalístico, é porque esse alguém sabe a respeito do assunto – o nosso texto, citando-o, obtém
crédito e valor.
É importante informar que quem disse tal coisa foi fulano de tal e que concordamos
com ele, afinal não inventamos a roda nem chegamos ao conhecimento sozinhos. Não somos
nós que estamos dizendo, mas o fulano... Sendo assim, munimo-nos da leitura dos melhores
autores e os comentamos. Citar alguém é uma forma de mostrar o que lemos, ou seja, de dar
visibilidade à leitura que fizemos.
Devemos sempre refletir se estamos citando certo, ou melhor, se o que atribuímos ao
autor é realmente o que ele disse, embora saibamos que a leitura nunca é fechada e exata.
Quando citamos um autor da seguinte forma: "Ducrot desenvolve um estudo dos operadores
argumentativos sobre...", devemos nos perguntar se o autor desenvolve mesmo. Caso
desenvolva, são esses os termos com que devemos nos referir ao que ele fez? Estes
questionamentos devem ser constantes enquanto o texto é escrito.
O aspecto mais importante da citação está em não apenas citar as "autoridades" no
assunto e nomeá-las – é preciso interpretar e redizer o que falaram/escreveram. Dizemos de
outra forma, mas que tenha sentido no nosso texto e, além disso, as nossas idéias devem ser
pertinentes e apresentar algo novo. Se é para apenas repetir o que o fulano já disse, é melhor
para o leitor ler o referido autor – a contribuição do nosso texto a respeito do que estamos
discutindo e quanto ao que estudamos precisa estar clara.
Citar bons autores dá crédito pela carga de leitura que o produtor do texto demonstra.
Só não vale, como era muito comum há alguns séculos atrás, forrar o texto de citações de
livros ocos, ou melhor, de leituras ocas, apenas para constar. Encontramos uma crítica a esse
tipo de citações no prólogo de "Dom Quixote":
[...] leitores tão bons e tão ingênuos que acreditem na verdade do vosso catálogo, e
se persuadam de que a vossa história, tão simples e tão singela, todavia precisava
muito daquelas imensas citações: e quando não sirva isto de outra coisa, servirá
contudo por certo de dar ao vosso livro uma grande autoridade; além de que
ninguém quererá dar-se ao trabalho de averiguar se todos aqueles autores foram
consultados e seguidos por vós ou não o foram, porque daí não tira proveito algum
[...] ( CERVANTES, 1984, p. 15).
E a seguinte sugestão:
[...] o de que precisais é de procurar que a vossa história se apresente em público
escrita em estilo significativo, com palavras honestas e bem colocadas, sonoras e
festivas em grande abastança, pintando em tudo quanto for possível a vossa
intenção, fazendo entender os vossos conceitos sem os tornar intrincados, nem
obscuros. Procurai também que, quando ler o vosso livro, o melancólico se alegre e
solte uma risada, que o risonho quase endoideça de prazer, o simples se não enfade,
o discreto se admire da vossa invenção, o grave a não despreze, nem o prudente
deixe de gabá-la. (CERVANTES, 1984, p. 16).
Como as citações têm autoria, as obras de seus autores devem ser facilmente
localizadas. É importante citar autores que tenham legitimidade acadêmica, pois isso dará
autoridade e confiabilidade ao material, em vez de citar livros didáticos, de divulgação ou
resumos de obras.
Todo cuidado é pouco ao citar páginas da internet. Antes de tudo elas devem ter um
autor (alguém que escreveu o texto que está na página) que seja “autoridade” na área. Todo
cuidado é pouco para que não se corra o risco de plágio voluntário ou involuntário.
Mesmo que o trecho não seja copiado, e sim apenas resumido, devem ser citados os
donos das déias lidas e consultadas, com a indicação do nome do autor no início ou no final
do parágrafo, como no exemplo a seguir:
Exemplo:
A professora Maria Helena de Moura Neves (2002) apresenta-nos uma pesquisa sobre
o ensino de gramática nas escolas da rede oficial de ensino de São Paulo. Ela constata que,
apesar de todos os avanços da lingüística e das novas abordagens de ensino de língua materna
nos cursos de Letras, ainda o que é mais ensinado na aula de língua portuguesa são
classificações de palavras e análise sintática.
O exemplo acima é de uma citação indireta, também chamada de paráfrase do texto
original.
Citações diretas (aquelas em que se copia um trecho, uma frase ou mais frases) devem
ser colocadas entre aspas, como no exemplo a seguir:
Exemplo:
O que podemos perceber é que os professores não sabem por que ensinam esse
conteúdo e também não têm segurança sobre o mesmo. Mais de 50% dos professores
entrevistados na pesquisa de Moura Neves (2002, p. 10) dizem que ensinam gramática para
que o aluno tenha um "[...] bom desempenho: melhor expressão, melhor comunicação, melhor
compreensão."
As citações diretas longas (com mais de três linhas) devem aparecer em parágrafo
distinto, recuadas a 4cm da margem esquerda, alinhada à margem direita, sem aspas, com
espaço simples entre as linhas e sugere-se fonte tamanho 10.
Exemplo:
Um criminoso pode vir a ser um grande homem no futuro; um homem pacato hoje,
de uma hora para outra, pode se tornar um criminoso. Não há como prever os
comportamentos humanos; portanto, não devemos condenar irremediavelmente
ninguém.
LIMA, Ercílio Amaral. A vida intempestiva de um bárbaro. Chapecó: Livro de Cabeceira, 1997.
Exemplo:
Por fim, é muito importante que o autor do texto seja o primeiro leitor. Você deve ler o
seu texto, entendê-lo e apreciá-lo. Deve também pensar que os demais leitores não poderão
pedir informações extras para compreender passagens obscuras. O texto deve ser
compreensível por si mesmo, sem necessidade de que o produtor o explique. O importante
não é o que você “quis dizer”, mas o que de fato está escrito e o sentido que o leitor
conseguirá atribuir ao texto quando o ler.
A escrita levará à leitura, pois quem não lê não terá conhecimento de como se
estruturam os textos escritos. Além disso, produzir um trabalho ou artigo acadêmico é uma
forma de aprender verdadeiramente, pois não é possível escrever sobre um assunto que não
conhecemos.
Na verdade, não se pensa para escrever, que isso seria copiar, repetir apenas o que já
se sabia. Mas se escreve para pensar descortinando novos horizontes, novos campos
para o exercício da imaginação criadora. E não se lê para depois escrever, o que
seria de novo apenas um ato de copiar. Mas, deve-se escrever para em cada tópico
da pesquisa saber o que procurar na literatura concernente. (MARQUES, 2002, p.
230).
Apenas escrevendo é que é possível aprender a escrever. Não espere que um dia o
texto apareça no papel ou no computador sob inspiração. Para produzir um bom texto, é
necessário trabalho e estudo.
Você já deve ter ouvido falar, entretanto, de pessoas que passaram a faculdade inteira
copiando trabalhos (de livros, revistas e da internet) ou mandando-os fazer. Essas pessoas não
passam nem um pouco pelo trabalho e esforço necessário para aprender a escrever e para o
próprio ato escrever. Embora elas pareçam “se dar bem”, na medida em que são aprovadas
nas disciplinas, estão sendo imorais e mentirosas e perdendo a oportunidade do melhor que o
seu curso de graduação pode oferecer, que é o aprender de fato. No item a seguir, há algumas
reflexões sobre plágio acadêmico e sobre por que não fazê-lo.
Uma pergunta comum que professores e coordenadores de curso se fazem é: “Por que
os alunos fazem plágio?”
Um grupo de alunos da oitava série se reúne para fazer um trabalho sobre os povos
pré-colombianos. Pegam alguns livros de história e começa a redigir o trabalho. A todo
momento, uma das meninas interrompe quem está ditando e quem está escrevendo para
perguntar: “Mas qual o sentido de Astecas? Não é preciso explicar onde eles viviam e
descrever que eram?” Outros termos específicos surgem, e a menina quer que sejam
explicados. Pedem para ela parar, pois assim seria impossível terminar o trabalho, se tivessem
que explicar tudo. E seguiram copiando, mesmo aquilo que não era compreensível.
Além dessa tradição escolar da cópia, o plágio também não era algo tão visado na
universidade algumas décadas atrás. Não se exigia rigor nas citações e bastava informar de
qualquer jeito os dados, ou nem mesmo era necessário informá-los. Não eram citados, por
exemplo, os autores de fotografias e imagens, a menos que fossem obras artísticas
reconhecidas. Com a facilidade tecnológica de circulação de informações e com o aumento
intenso delas, fez-se necessário organizar melhor as formas de remissão e citação para que
sejam encontradas as fontes de forma mais fácil.
Alguns setores da sociedade defendem a livre circulação de informações, idéias e
obras artísticas. Dessa forma, muitos apóiam a pirataria como forma de democratizar o acesso
ao conhecimento e à cultura. São contra os direitos autorais remunerados e às patentes
científicas, alegando que para o bem coletivo tais idéias devem ser distribuídas gratuitamente.
A lei brasileira de direitos autorais3 permite isso na medida em que “para fins de estudo”
podem ser reproduzidas passagens de obras. Entretanto, há o direito inalienável de autoria
moral: “Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.” Isso significa
3
A lei está disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/l9610.htm>.
dizer que, por mais que o autor venda os seus direitos autorais, ele deve ser sempre
mencionado como autor em sua própria obra e quando for citado por outros.
Além de tudo que foi dito a respeito do plágio e dos direitos autorais, da mesma forma
que ninguém gosta de ter seus bens (adquiridos com esforço e aos poucos) roubados, também
não gostaria de ter suas idéias utilizadas sem o devido crédito. Citar devidamente os autores é
tanto uma boa forma de dar credibilidade ao seu texto como a única forma de ser idôneo na
realização de trabalhos acadêmicos.
REFERÊNCIAS
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. São Paulo: Editora Círculo do Livro,
1984.