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Gianfranco Muncinelli
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET-PR/CPGEI - Brasil Telecom
Abstract
The great advantage of ADSL (asymmetric digital subscriber line) deployment is the using of existing
network (POTS – plain old telephone service). It reduces cost of investment and deployment time. By the
other hand, the challenge is the twisted pair integrity: it is decisive to provide the service. This way, to assure
the quality of service the operators must perform ADSL testing.
1. Introdução
A utilização do ADSL como tecnologia de transmissão de dados em alta velocidade permite um rápido
fornecimento do serviço, principalmente devido ao fato de existir uma rede externa e um cabeamento com
par trançado de cobre, cuja cobertura é ampla em praticamente todas as áreas e nichos de mercado.
Porém, a qualidade do serviço fornecido é fortemente dependente da rede física que o transporta. O fato da
idade desta rede não ser homogênea, as características dinâmicas, estando a rede sujeita a degradações
múltiplas e a presença de impedimentos diversos (linha pupinizada e outros itens que podem diminuir o
desempenho do serviço, como distância do assinante à central telefônica e existência de extensões na
linha), faz-se necessária a realização de testes de qualificação. Dessa forma, a rede existente, que, por um
lado é uma vantagem competitiva extraordinária, por outro lado pode se configurar em um problema.
A habilidade da prestadora do serviço em qualificar adequadamente a linha pode evitar transtornos com
clientes, no que diz respeito ao fornecimento de um serviço ineficiente. Como efeito colateral positivo, os
custos de manutenção serão reduzidos, pois uma linha problemática será identificada antes da ativação.
Assim, a qualificação de linha é uma ferramenta importante para garantir o fornecimento do serviço dentro
dos padrões de qualidade e de velocidade contratada.
O serviço ADSL não pode ser disponibilizado (ou tem seu desempenho comprometido) na presença de
alguns impedimentos. Estes impedimentos são determinados pelos testes físicos, que obtém informações
do estado do meio de transmissão (par metálico). No mercado existem alguns equipamentos de medição
que acumulam diversas funções, sendo possível encontrar inclusive equipamentos que realizam testes
físicos e testes lógicos (testes lógicos não são do escopo deste trabalho). Para melhor entendimento de
algumas nuances do funcionamento da tecnologia ADSL, relacionadas aos testes, o autor recomenda a
leitura das referências [5, 7, 9, 10, 13].
Existem dois métodos de teste de linha: teste em uma ponta (single-ended) e teste nas duas pontas
(double-ended). O teste em uma ponta requer apenas um equipamento na central telefônica ou na ponta do
cliente. O teste em duas pontas requer dois equipamentos, um na central telefônica e outro na ponta do
cliente [1, 2, 3, 4, 15].
O teste single-ended é realizado sem o deslocamento de um técnico até o local da instalação do modem
ADSL do assinante. É feita a ligação no splitter (divisor) na central telefônica, como se o assinante cuja linha
será testada fosse ser instalado. O teste será feito da central telefônica até o cliente, com os equipamentos
de teste existentes na central. Alguns DSLAM (digital subscriber line access multiplexer) possuem esta
capacidade de realizar testes metálicos embutida, sendo necessária, na maioria das vezes, apenas a
instalação de placas específicas para estes testes (no lugar das placas/modems normais).
O teste single-ended proporciona 90 a 95% de certeza [7] que uma determinada linha irá suportar o serviço
ADSL. Apesar disto, quando os primeiros serviços ISDN (RDSI) foram oferecidos nos EUA, este método
mostrou-se ineficiente devido aos problemas de cadastro nas redes.
O procedimento automático de testes para linhas de voz (envolvendo geração de sinais de teste na banda
de até 4 kHz) foi desenvolvido pela Bell Systems, onde a linha a ser testada é retirada de serviço e
conectada fisicamente a um gerador de sinais centralizado, quando são realizadas medições à partir de
uma das pontas da linha. O módulo gerador de sinal realiza uma bateria de testes que objetivam a
manutenção e diagnóstico do serviço de voz do cliente. Existem experiências da Telcordia, substituindo o
gerador de sinais de banda estreita por um de banda larga, que seria conectado ao par trançado do
assinante específico por meio de um comutador automático, realizaria as medições e registraria a sua
resposta. Este conjunto estaria conectado à um banco de dados que seria responsável pela análise da
estrutura completa da linha. Este sistema de provisionamento de novas ativações e de manutenção
forneceria dados sobre os assinantes futuros e sobre os assinantes atuais, mantendo um registro periódico
e comparativo de desempenho.
A vantagem deste método é o fato de não se enviar um técnico para o local de instalação, economizando o
custo associado a este deslocamento e automatizando o processo. Além disso, o teste em massa pode
viabilizar com rapidez a instalação em uma área completa (por prefixo). Assim que o futuro assinante
demonstre interesse no produto, a medição da linha dele já foi realizada e é possível afirmar neste instante
se o serviço poderá ou não ser fornecido [11].
O teste double-ended prevê a necessidade de envio de um técnico até o local da instalação do modem
ADSL do assinante. Idealmente, são colocados dois equipamentos de teste, um em cada ponta.
Normalmente estes equipamentos de medida são vendidos aos pares, para que este tipo de teste possa ser
realizado. Um dispositivo simula o modem do cliente e o outro simula o DSLAM. A comunicação destes dois
equipamentos propiciará a execução das medidas de qualificação. Este método é mais caro
operacionalmente, pois necessita de dois técnicos executando a medida, um em cada ponta da linha.
Existe uma variação deste teste, onde apenas um técnico é encaminhado ao local da instalação do modem
do provável assinante, porém é necessário que o DSLAM já esteja instalado e funcionando. Previamente,
quando o assinante manifestar o seu desejo de instalar o serviço, é feita a conexão do par trançado do
futuro cliente com a rede telefônica, com o splitter e o DSLAM na central telefônica. Dessa forma, a
instalação para o fornecimento do serviço está praticamente pronta. Nessa configuração são executadas as
medições para a qualificação de linha, sendo necessário um equipamento apenas para simular o modem do
assinante, pois o DSLAM se encarregará da transmissão dos sinais na outra ponta. No caso de algum
impedimento para o funcionamento do serviço, o próprio técnico que executa o serviço poderá executar a
correção, como uma manobra de par, assegurando rapidez no atendimento. No caso do par trançado não
apresentar condições para fornecimento do serviço, o futuro assinante será comunicado. Este método é o
mais utilizado, devido ao custo e dos bons resultados obtidos.
Estes testes são realizados normalmente sob demanda, ou seja, são executados após o futuro assinante ter
demonstrado interesse pelo serviço e antes que a operadora concorde em oferecê-lo. É importante notar
que se um par não puder ser utilizado efetivamente, deve ser restaurado ou condenado.
A qualificação de linha deve incluir teste de falha metálica, como tip-to-ring, ring-to-ground e tip-to-ground,
resistência elétrica de enlace e de desequilíbrio, impedância característica, resistência de isolação, perda de
retorno, perda de inserção, atenuação, capacitância, tensão DC, etc. Para um estudo mais profundo,
recomenda-se a leitura da referência [2].
Na medição de capacitância é possível estimar o comprimento do loop, desde que a outra extremidade
esteja aberta e não existam paralelos na linha. Em caso de existência de paralelos, o comprimento obtido
incluirá o comprimento dos paralelos. O fator de conversão é de 83 nanoFarad/milha (conforme ANSI
T1.601 Anexo E).
Um circuito balanceado é um circuito de dois condutores onde ambos possuem mesma impedância em
relação à terra. Sendo balanceado, os níveis de ruído, em geral, são iguais nos dois condutores e
praticamente se anulam. Um circuito não balanceado pode causar crosstalk, resultando em erros de
transmissão de bits, tornando a transmissão lenta.
3. Impedimentos e Interferências
O teste de qualificação deve ter a capacidade de identificar se as bobinas de pupinização de linha estão
presentes no circuito. Estas bobinas bloqueiam a transmissão ADSL. A qualificação de linha deve identificar
e eliminar estas bobinas.
As bobinas foram inseridas nas linhas telefônicas com comprimento maior que 18.000ft para melhorar a
qualidade da transmissão de voz, reduzindo a atenuação em baixas freqüências, mas aumentando em altas
freqüências, aumentando em até 540% o alcance de um par trançado para utilização em serviço telefônico
convencional. Sendo que o serviço ADSL utiliza as freqüências acima da banda reservada para voz
analógica (20kHz a 1,1MHz), a existência das bobinas inviabiliza transmissão nesta faixa.
Figura 1. Curva de atenuação de linha pupinizada X linha não pupinizada. Fonte: TEKTRONIX.
Se encontradas, as bobinas de pupinização devem ser retiradas ou deve haver uma manobra de pares
(para um par sem bobinas) para que o serviço ADSL possa ser fornecido.
Figura 2. Exemplo de leitura em equipamento com linha pupinizada detectada. Fonte: TEKTRONIX.
A transmissão do serviço ADSL é sensível ao comprimento da linha entre o assinante e a central telefônica
onde estão os DSLAMs, sendo seu desempenho proporcional ao comprimento do loop [1, 7, 12]. Quando se
oferece um serviço a uma taxa fixa, é fundamental garantir ao cliente que ele obterá a taxa de transmissão
contratada.
A qualificação de linha deve ser capaz de medir com precisão o comprimento do loop, pois a taxa de
transmissão de dados do sistema ADSL depende diretamente deste comprimento. Tipicamente a distância
suportada por fio 26AWG é dois terços da distância com fio 24 AWG.
Taxa de Transmissão Wire Gauge Distância Wire Size Distância
1.5 or 2 Mbps 24 AWG 18,000 ft 0.5 mm 5.5 km
1.5 or 2 Mbps 26 AWG 15,000 ft 0.4 mm 4.6 km
6.1 Mbps 24 AWG 12,000 ft 0.5 mm 3.7 km
6.1 Mbps 26 AWG 9,000 ft 0.4 mm 2.7 km
Tabela 3. Taxa de Transmissão x distância
Normalmente as especificações são dadas para cabeamento 24 ou 26 AWG, mas o que ocorre na prática,
mas desconhece-se exatamente quais trechos são compostos com cada tipo de cabo, o que torna
necessária a medição.
Uma extensão (bridge tap) é qualquer comprimento de cabo que não esteja dentro do caminho direto
central telefônica/modem do assinante, mas esteja conectado a este caminho. Por exemplo, um par
utilizado anteriormente para um outro aparelho telefônico, que continua conectado em uma posição
intermediária. A existência de uma extensão não é fator determinante para o impedimento de um serviço
ADSL, mas sim o seu comprimento.
O comprimento das extensões na linha tem impacto direto na performance da transmissão ADSL. Quando o
sinal atinge uma extensão, que nada mais é do que uma descontinuidade no circuito, haverá reflexão e uma
pequena quantidade do sinal retornará para a fonte. Em sistemas de dois fios, o sinal refletido pode ser
indistinguível do sinal que se está recebendo e causa interferência. A qualificação de linha deve ser capaz
de medir com precisão o comprimento de cada extensão existente na linha.
Figura 4. Exemplo de leitura em equipamento com extensão detectada. Fonte: TEKTRONIX.
O crosstalk (diafonia) ocorre quando sinais são transmitidos simultaneamente em diferentes pares de um
mesmo cabo. Sabendo-se que em um mesmo cabo haverá outras transmissões, estas podem afetar o
serviço ADSL. Sabendo-se que o ADSL opera na faixa de 20/30kHz até 1,1MHz, ruídos na faixa até 1,1
MHz afetam ADSL. A presença de E1 também, pois opera na faixa de 772 kHz [6, 12].
Sistemas adjacentes que recebam/transmitam dados no mesmo range de freqüências podem criar
problemas de crosstalk ou ruído. Crosstalk pode ser causado por blindagem ineficiente, disparidade
excessivamente grande entre níveis de sinal em circuitos adjacentes, linhas não balanceadas, e ocorre de
duas formas: near-end crosstalk (NEXT) e far-end crosstalk (FEXT). NEXT ocorre quando o sinal transmitido
afeta o sinal recebido na mesma ponta do cabo. FEXT ocorre quando o sinal transmitido em uma ponta
afeta o sinal recebido na outra ponta. FEXT é tipicamente menos danoso, pois o sinal é atenuado durante o
percurso no loop. Ou seja, não é aconselhável misturar densidades altas de circuitos ADSL e T1/E1 no
mesmo cabo, porém os xDSL podem ser misturados livremente.
O serviço ADSL também não pode ser instalado em presença de PABX, linha pupinizada, existência de
DLU (derivação óptica) e PCM.
4. Exemplos práticos
Há um menor desempenho do sistema quando o meio físico sofre algum tipo de dano. No caso de grandes
distâncias isto também se aplica, pois haverá atenuação em alguns canais, causando degradação da
transmissão e, por conseqüência, o descarte da transmissão em alguns canais (esta é uma feature da
codificação DMT – Discrete Multi Tone, usada no ADSL) [7, 10, 14], baixando a taxa de transmissão de todo
o sistema. A figura 5 exemplifica.
> L IN K U P 1 2 :3 0 :5 5 <
> <
D M T B IT S P E R T O N E
To n e 2 2 1 : 5 B IT S
15
0
256
>> <<
Figura 5. Exemplo de tela teste mostrando canais danificados sem transmissão. Fonte: TEKTRONIX.
O que segue é um exemplo real, mostrando uma comparação da capacidade da linha onde a primeira
medição foi executada na caixa interna do prédio do cliente em comparação com a medida feita no ponto do
modem. Conclui-se que existe um problema entre a caixa interna do prédio e o ponto do modem [8].
Ponto de Medida Caixa Modem
Capacidade Down (kbps) 7072 2688
Capacidade Up (kbps) 896 896
SNR margin 31 18
Attenuation (dB) 35 36,5
Tabela 5. Medidas comparativas.
Da tabela 5, ainda nota-se que a capacidade de download diminui devido ao dano à linha física, porém a
capacidade de upload não se alterou. Isto sugere que o dano está afetando uma determinada faixa de
freqüência, fazendo com que a técnica DMT descarte canais [7, 10, 14] que estão sendo utilizados para
download e não para upload. Note-se também que a relação sinal ruído (SNR) também é afetada no trecho
do circuito entre a caixa interna e o ponto do modem, o que sugere que há interferência por ruído neste
trecho [15].
5. Estatísticas
A tabela 6 mostra dados reais coletados em um mês de implantação de novos circuitos ADSL. Os números
retratam a realidade das linhas de uma capital com Centrais Telefônicas de grande porte e próximas ao
centro da cidade.
Motivo %
DLU 4,0%
Distância da Central 36,0%
PABX 20,0%
Estação em corte 16,0%
Linha pupinizada 24,0%
Tabela 6. Impedimentos.
Por impedimentos de instalação, entenda-se motivos pelos quais não é possível realizar a instalação. Na
tabela 6, estão os dados brutos, o que significa que, por exemplo, dos 24% de impedimentos devido à linha
pupinizada, depois de remanejamento de pares, estes clientes serão atendidos. A apresentação dos dados
brutos é proposital, para que o leitor possua uma visão do que é encontrado durante as atividades de
qualificação de linha [8].
6. Conclusões
A grande vantagem estratégica da instalação do serviço ADSL, em relação aos outros serviços banda larga,
é a utilização da rede telefônica existente, diminuindo o tempo de implantação e os recursos necessários.
Porém, para que a rede existente possa ser utilizada, é necessário que as condições de transmissão sejam
atendidas.
7. Referências Bibliográficas
[1] ANSI T1.413-1998. “Network and Customer Installation Interfaces – Asymmetric Digital Subscriber
Line (ADSL) Metallic Interface”. Norma do American National Standards Institute, 1998.
[2] Baker, Todd; Puckett, Rick. “Telephone Access Network Measurements” Tektronix, 1998.
[3] CopperCom. “Complete DSL: Requirements for Public Multi-line Telephone Service Delivery Over
the DSL Access Network”. CopperCom White Paper.Http://www.coppercom.com.
[4] Cornet Technology Inc. “Digital Subscriber Line (DSL) Testing”. Página da WEB, IEC - International
Engineering Consortium, Web ProForum Tutorials, http://www.iec.org.
[5] GINSBURG, DAVID. Implementing ADSL. Massachusetts : Addison Wesley Longman Inc., 1999.
[6] GlobeSpan. “Spectral Compatibility of Digital Subscriber Line (DSL) Systems”. Página da WEB, IEC
- International Engineering Consortium, Web ProForum Tutorials, http://www.iec.org.
[7] Lane, Jim. “Personal Broadband Services: DSL and ATM”. 1998, Virata - USA.
[8] MUNCINELLI, GIANFRANCO. Qualificação de Linha para Serviço ADSL. Anais do CININTEL 2001 –
IV Congresso Internacional de Infraestrutura para Telecomunicações, 2001.
[9] MUNCINELLI, GIANFRANCO. Qualificação de Linha para Serviço ADSL. Monografia apresentada
para obtenção do Título de Especialista em Telecomunicações. Pontifícia Universidade Católica do PR,
2002.
[11] Nokia. “Digital Subscriber Line Acess Multiplexer (DSLAM)”. Página da WEB, IEC - International
Engineering Consortium, Web ProForum Tutorials, http://www.iec.org.
[12] RAUSCHMAYER, DENNIS J.. ADSL/VDSL Principles: A practical and precise study of asymmetric
digital subscriber line and very high speed digital subscriber lines. Indianapolis : MacMillan Technical
Publishing, 1999.
[13] Sunrise Telecom. “Sunset xDSL. User´s Manual SS160. Revision B.” Manual do Fabricante.
[15] Ziemann, Peter. “ADSL Line Qualification Tests”. Application Note 52. Wandel & Goltermann
Communications Test Solutions. Http://www.acterna.com.