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Cena Lusófona

n.º 12 Dezembro 2010 ISSN 1645-9873

Rua António José de Almeida n.º 2, 3000 - 040 COIMBRA Portugal telef. (+351) 239 836 679 | teatro@cenalusofona.pt | www.cenalusofona.pt distribuição gratuita

FESTLUSO e
Encontro Internacional
sobre Políticas de Intercâmbio
2012 entrevista rostos da cena
ano Portugal-Brasil Márcio Meirelles Elias Macovela
ano Brasil-Portugal
Colecção Cena Lusófona
As Virgens Loucas
de ANTÓNIO AURÉLIO GONÇALVES
Cabo Verde
editorial
Teatro do Imaginário Angolar
de FERNANDO DE MACEDO
São Tomé e Príncipe “Em matéria de promoção da língua portuguesa, existe um fosso aprofunda-
Supernova do entre o discurso público, onde estas questões são tipicamente apresen-
de ABEL NEVES
Portugal

tadas em tons emotivos e assumidas como de vital importância, e a prática
As Mortes de Lucas Mateus quotidiana e o conhecimento da realidade”. A frase é de Rui Machete e
de LEITE DE VASCONCELOS António Luís Vicente, no livro “Língua e cultura na política externa portu-
Moçambique
Teatro I e II guesa: o caso dos Estados Unidos da América” (ver apresentação da obra,
obra dramatúrgica pág. 15).
de JOSÉ MENA ABRANTES
(dois volumes)
O texto do protocolo assinado em Novembro entre o Ministério da Cul-
Angola tura e o Ministério dos Negócios Estrangeiros frustrou as expectativas dos
Mar me quer agentes culturais, que continuam sem reconhecer no Estado um parceiro
de MIA COUTO e NATÁLIA LUIZA
Portugal / Moçambique empenhado em potenciar os esforços que fazem para internacionalizar o
Teatro seu trabalho.
obra completa
de NAUM ALVES DE SOUZA
Na melhor das hipóteses, as estratégias e os objectivos da política cultural
Brasil externa portuguesa continuam a não ser compreendidos pelos artistas
que deles deviam ser agentes principais. As respostas (e as não-respostas)
Revista setepalcos que obtivemos às questões que levantámos sobre os preparativos do “Ano
(esgotados números 0, 1 e 2)
N.º 3 – Setepalcos especial sobre TEATRO BRASILEIRO de Portugal no Brasil” e do “Ano do Brasil em Portugal” (duas iniciativas
N.º 4 – Setepalcos especial sobre TEATRO GALEGO da maior importância no aprofundamento dos laços de intercâmbio) são
N.º 5 – Setepalcos especial sobre RUY DUARTE DE CARVALHO
N.º 6 – Setepalcos especial sobre TEATRO EM CABO VERDE mais um exemplo da forma de trabalhar, fechada sobre elas próprias, que
as instituições públicas portuguesas continuam a adoptar neste domínio.
Floripes Negra A um ano de distância, não há modelo de funcionamento, nem orçamento
Floripes na Ilha do Príncipe, em Portugal e no mundo
de AUGUSTO BAPTISTA definido, nem responsáveis nomeados, nem diálogo com a sociedade civil
Álbum Fotográfico / Reportagem / Ensaio
que opera no terreno.
Soia A continuar assim, dois cenários é possível antever para a iniciativa 2012 -
dois documentários sobre contadores de histórias nas ilhas Ano do Brasil em Portugal e Ano de Portugal no Brasil: um novo adiamento
de Príncipe e S. Tomé
de IVO M. FERREIRA anunciando que afinal não estavam reunidas as condições (estes projectos
DVD estiveram agendados para 2010 e 2011, respectivamente); ou a definição
AVEIRO LISBOA BRASILIA
apressada de um programa, feito no interior dos gabinetes, para cumprir
Livraria da Universidade Livraria do Teatro Nacional Livraria Cultura calendário. Em qualquer dos casos, é legítimo temer que esta seja (mais)
de Aveiro D. Maria II Casapark Shopping Center
Campus Universitário Praça D. Pedro V SGCV Sul, Lote 22 4 – A uma oportunidade perdida.
3810-193 Aveiro 1100-201 Lisboa Zona Industrial, Guará O desenlace não tem de ser este. Como bem sublinham Rui Machete e
(+351) 234 370 200 (+351) 213 250 860 CEP 71215 100
Livraria Barata Brasília, DF António Luís Vicente, há na sociedade civil instituições interessadas em
BRAGA Av. de Roma, 11 A Tel.: (55) 61 3410 4033
Theatro Circo 1000-047 Lisboa
contribuir para o sucesso das acções desenvolvidas pelo Estado. Instituições
Avenida da Liberdade, 697 (+351) 218 428 350 PORTO ALEGRE que querem ser parceiras e que podem ajudar a dar substância, sustentabili-
4710-251 Braga Livraria Ler Devagar Livraria Cultura
(+351) 253 203 800 Rua Rodrigues Faria, 103, Bourbon Shopping Country dade e sentido às políticas públicas na área da internacionalização cultural.
100ª Página Edifício G03, LX Factory Avenida Túlio de Rose, 80, Loja No campo específico do intercâmbio cultural entre os países de língua
AV. Central, 118-120 1300-501 Lisboa 302
4710-229 Braga (+351) 213 259 992 CEP 91340 110 Porto Alegre, RS portuguesa, a Cena Lusófona assume-se como um desses parceiros. Quan-
(+351) 253 267 647 Livraria Escolar Editora Tel.: (+55) 51 3028 4033
Edifício Caleidoscópio do, em Dezembro de 2009, organizámos o I Encontro Internacional sobre
COIMBRA Jardim do Campo Grande RECIFE Políticas de Intercâmbio (EIPI), pretendemos precisamente discutir, com
Teatro Académico de Gil 1700-089 Lisboa Livraria Cultura
Vicente (+351) 217 575 055 Paço Alfândega outros agentes culturais e com instituições públicas dos diversos países, as
Praça da República Livraria Portugal Rua Madre de Deus, s/n
3000-343 Coimbra Rua do Carmo, 70-74 CEP 50030 110 Recife, PE
formas concretas de que tal parceria poderia revestir-se. A segunda edição
(+351) 239 855 630 1200-094 Lisboa Tel.: (+55) 81 2102 4033 do EIPI, acolhida pelo FESTLUSO (Piauí, Brasil) no passado mês de Novem-
Teatro da Cerca de (+351)213 474 982
S. Bernardo SÃO PAULO bro, reiterou essa disponibilidade por parte de mais de vinte estruturas de
3000-097 Coimbra PORTO Livraria Cultura criação e programação de Portugal, do Brasil, de Angola, de Cabo Verde,
(+351) 239 718 238 Teatro Nacional São João Conjunto Nacional
Praça Batalha Avenida Paulista, 2073 da Galiza. As conclusões, publicadas nesta edição, são claras quanto ao inte-
ÉVORA 4000-102 Porto CEP 01311 940 São Paulo, SP
Teatro Garcia de Resende (+351)223 401 900 Tel.: (+55) 11 3170 4033 resse manifestado em participar da discussão e da definição de políticas e,
Praça Joaquim António de Aguiar Livraria Cultura neste momento específico, em aproveitar a oportunidade do “Ano Bra-
7000-510 Évora VISEU Shopping Villa Lobos
(+351) 266 703 112 Teatro Viriato Avenida das Nações Unidas, 4777 sil/Portugal” para o desenvolvimento das relações de intercâmbio cultural,
Livraria Nazareth & Filho Largo Mouzinho de Albuquerque CEP 05477 000 São Paulo, SP
Praça do Giraldo, 64 Apartado 1057 Tel.: (+55) 11 3024 3599
quer ao nível bilateral, quer – como parece fazer sentido – no contexto da
7001-901 Évora 3511-901 Viseu Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
(+351) 266 702 221 (+351) 232 480 110 ESPANHA
VIGO O protocolo assinado com a Secretaria de Estado da Cultura da Bahia e os
GUARDA BRASIL Libreria Andel projectos que pretende levar a cabo com a Cooperativa Cultural Brasi-
Casa Véritas Editora, Lda BELO HORIZONTE Rua Pintor Lugris, 10
Rua Marquês de Pombal, 55 Livraria da Travessa 36211 Vigo, Galiza leira são outros dois exemplos da forma como a Cena Lusófona continua
6300-728 Guarda Rua Paraíba 1419 (+34) 986 239 000
(+351) 271 222 105 Savassi a encarar as relações e as iniciativas de intercâmbio: com instituições e
CEP 30130-141 Belo Horizonte, agentes concretos e conhecedores do terreno, de uma forma sustentada e
MG
(+55) 31 3223 8092 estruturada a médio e a longo prazo. Esta atitude tem produzido resultados
visíveis e continuará seguramente a dar frutos, mas será muito mais eficaz
se – como é desejável – for acompanhada por uma regular interlocução

edições.cena
com as instituições oficiais e enquadrada por políticas claras e estáveis, que
não se fiquem pelo efeito mediático e pelo cíclico anúncio dos “grandes
eventos”.

A Cena Lusófona é uma estrutura financiada por:


cenaberta ficha técnica
Director António Augusto Barros | Coordenação e Fotografia Augusto Baptista | Redacção Augusto Bap-
tista, Patrícia Almeida, Pedro Rodrigues, Sandra Nogueira | Concepção gráfica Ana Rosa Assunção |
ISSN 1645-9873 | N.º 12 distribuição gratuita | Tiragem 2500 exemplares | Impressão Tipografia Ediliber |
Propriedade Cena Lusófona, Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral, Rua António José
de Almeida, n.º 2, 3000 - 040 COIMBRA, PORTUGAL | Telef. (+351) 239 836 679 | teatro@
cenalusofona.pt | www.cenalusofona.pt

IMAGEM DA CAPA: "Hotel Komarca", Grupo Teatral HenriqueArtes (Angola) © Margareth Leite

cenaberta 2
cenaberta Dezembro 2010

A Cena no Café
A Cena Lusófona organizou no bar do Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, mais duas sessões de A Cena
no Café: a apresentação pública de “Soia”, DVD com os documentários de Ivo M. Ferreira (13 de Dezembro); a apre-
sentação do livro “Escritos sobre teatro”, de Kwame Kondé (15 de Dezembro).

Narração oral: Teatro


uma longa viagem em Cabo
Verde

DR
Francisco Fragoso, médico, dramaturgo, encena-
dor, esteve no bar do Teatro da Cerca de São
Bernardo, a 15 de Dezembro, para apresentar
“Escritos sobre Teatro”, obra que reúne textos
por si produzidos sob o pseudónimo de Kwame
Kondé.
O autor realçou dois momentos na história do
teatro em Cabo Verde: o aparecimento do Kor-
da Kaoberdi (primeiro grupo a internacionalizar-
-se, com a presença no FITEI, em 1982) e a edi-
ção da peça “Vai-te Treinando Desde Já”, de João
Cleofas Martins (Nhô Djunga), que fez questão
de homenagear nesta sessão. A peça foi escrita
nos anos 40 do século XX mas só seria publi-
cada em 2004, graças ao investigador Mesquitela
Lima. Para Fragoso, trata-se de “uma peça de
importância universal, ao nível de 'A Balada do
Fantoche Lusitano', de Peter Weiss".
A participação do Korda Kaoberdi no FITEI
– momento alto na história do grupo – acabou,
paradoxalmente, por acelerar o seu fim: “Quan-
do regressámos, fiquei com a noção de já ter
feito o máximo. Podíamos fazer mais, mas só
com condições diferentes. Teríamos de ter um
espaço, por exemplo. Foram tantas as dificul-
dades que acabei por fazer outras escolhas”.
Não guarda ressentimentos nem desencantos
com o país: “Uma coisa é o povo, outra coisa é
a sociedade – são dois conceitos diferentes. O
Ivo M. Ferreira, na apresentação do filme, e António Augusto Barros povo é algo transcendente e a sociedade é uma
O DVD sobre os narradores orais em São Tomé e imaterial registado nos filmes, que o projecto permi- criação dos homens”. Aprofunda a análise, refe-
Príncipe, “Soia”, do realizador Ivo M. Ferreira, foi tiu recuperar “quase arqueologicamente”, e conside- rencia dois projectos de sociedade, o seu lugar
apresentado dia 13 de Dezembro em Coimbra, e assi- rou a edição do DVD “prova de que as tradições da no Mundo. “Há dois projectos de sociedade: a
nala, no dizer de António Augusto Barros, presidente narração oral estão vivas”. que é edificada no ter e a que é edificada no
da Cena Lusófona, “o início de uma longa viagem” pela Presente na sessão a convite da Cena Lusófona, o ser. A que é edificada no ter não pode atingir
lusofonia. cônsul honorário de São Tomé e Príncipe em Coim- culturas privilegiadas. Não estou de acordo com
Na apresentação dos filmes, Ivo Ferreira sublinhou o bra, José Joaquim Diogo, realçou a “cultura riquís- este modelo de sociedade”. Questionado sobre
entusiasmo com que abraçou o desafio lançado pela sima” deste país e deu os parabéns ao realizador pela a realidade contemporânea do teatro, em Cabo
Cena Lusófona de realizar os dois documentários forma como soube captar a realidade são-tomense: Verde e em Portugal, Fragoso socorre-se dos
agora editados no DVD – “Soia di Príncipe” e “À pro- “consegui aqui, no espaço de uma hora, reviver os 15 ensinamentos da Medicina: “Aprendemos o que
cura de Sabino” – , partilhou histórias, episódios e anos que estive em São Tomé”. é o diagnóstico diferencial. Os políticos são os
peripécias do trabalho empreendido. Rodados em Já no período do debate, António Augusto Barros médicos dos sintomas, não das causas”.
2002 e em 2003, os filmes inserem-se no projecto lembrou as dezenas de horas de gravação feitas para Pedro Rodrigues, produtor da Cena Lusófona,
de recolha e registo da tradição da narração oral nos este trabalho, “que naturalmente não puderam ser in- classificou “Escritos sobre Teatro” um "docu-
países africanos de expressão portuguesa que a Cena cluídas nos filmes”. Esse longo registo está disponível mento importantíssimo para a história do teatro
Lusófona vem desenvolvendo. no Centro de Documentação e Informação da Cena no pais”, assinalando a “feliz coincidência” de ter
“Demorou muito este parto, desde que o Ivo foi para Lusófona, “para quem queira ter um olhar mais apro- sido publicado no mesmo ano em que a Cena
o Príncipe pela primeira vez e, mais tarde, para São fundado”. Lusófona dedicou um número especial da sete-
Tomé. Foi uma epopeia exaltante”, referiu António palcos ao teatro cabo-verdiano.
Augusto Barros. “Este trabalho inaugura o projecto Patrícia Almeida O livro foi publicado pela Artiletra, editora
sobre os narradores orais em África”, continente em cabo-verdiana com 20 anos de existência, que
que a cultura muito se baseia na oralidade: “quando O DVD “Soia”, que inclui os documentários “Soia di não dispõe em Portugal de um circuito regular
um velho morre é como se ardesse uma biblioteca”, Príncipe” e “À Procura de Sabino”, de Ivo M. Ferreira, de distribuição. No quadro deste lançamento, o
disse, citando Amadou Hampâté Bá. Olhos no futuro, pode ser encomendado à Cena Lusófona (teatro@ Teatro da Cerca de São Bernardo fez um acordo
António Augusto Barros considerou os documentá- cenalusofona.pt) para envio à cobrança (PVP: 15,00 com a editora, passando a ter disponível na sua
rios o “início de uma longa viagem, que já tem desen- euros). Pode ainda ser adquirido directamente nas livraria alguns dos 20 títulos publicados até ao
volvimentos na Guiné-Bissau, terá em Timor e, com instalações da Cena Lusófona ou na Livraria do momento, incluindo “Escritos sobre Teatro”.
certeza, em toda a África lusófona”. Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. Patrícia Almeida
Ivo M. Ferreira destacou a importância do património

cenaberta 3
cenaberta

Acção cultural externa e internacionalização


O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações
Internacionais do Ministério da Cultura (GPEARI) e o Instituto
O GPEARI - projectos
Camões (IC) – organismo do Ministério dos Negócios Estrangei-
ros – são as estruturas do governo português vocacionadas para
culturais com
a acção cultural externa e a internacionalização cultural do país. a CPLP
Visando melhorar as condições em que se processa a “prestação
e divulgação de informação sobre as actividades e iniciativas cul- cenaberta auscultou Joana Gomes Car-
turais” que desenvolvem, as duas estruturas assinaram um pro- doso, directora do Gabinete de Planea-
tocolo no dia 16 de Novembro de 2010. A apresentação pública mento, Estratégia, Avaliação e Relações
do documento frustrou as expectativas dos agentes culturais e Internacionais do Ministério da Cultura,
deixou dúvidas quanto à sua real eficácia. GPEARI, sobre as actividades realiza-
das ou planeadas pelo seu Gabinete, no
Protocolo interministerial quadro do intercâmbio cultural com a
CPLP. A directora do GPEARI destacou as
Cultura-Negócios Estrangeiros seguintes iniciativas:

Face à “necessidade de definir uma linha contacto directo entre as pessoas. Mani- . Operacionalização do projecto “Residência Artística Itinerante
de actuação estratégica clara e coerente” festando-se “desiludido” com as respostas CPLP” (aprovado na VII Reunião de Ministros da Cultura da CPLP,
entre o Gabinete de Planeamento, Estra- dos dois organismos aos problemas sen- em Junho de 2010), em conjunto com a Direcção-Geral das Artes, a
tégia, Avaliação e Relações Internacionais tidos pelos criadores portugueses, Tiago rede de Conselheiros Culturais Portugueses e responsáveis do Bra-
(GPEARI/Ministério da Cultura) e o Insti- Guedes sustentou: “Os pequenos apoios sil e de Cabo Verde, países onde poderá arrancar o projecto-piloto;
tuto Camões (IC/Ministério dos Negócios são multiplicadores. Se um país como a
Estrangeiros), as duas instituições, repre- Índia nos convida para fazer um espec- . Assinatura do Protocolo de Cooperação com o Instituto
sentadas pelas suas responsáveis – Joana táculo, se calhar sem o apoio do IC não Camões, com vista a reforçar a articulação e a troca de infor-
Gomes Cardoso e Ana Paula Laborinho, podemos ir. Mas, se formos, há várias pes- mações relativas a actividades internacionais, para potenciar o
respectivamente – assinaram um acordo soas que nos vêem e que nos organizam trabalho dos conselheiros culturais, designadamente os que se
(disponível em www.gpeari.pt) que define uma tournée pela Índia. Falta visão para encontram em países membros da CPLP. É também objectivo
o GPEARI como “ponto focal” do IC na perceber isto”. deste protocolo tornar os conselheiros culturais mais acessíveis
interlocução com o Ministério da Cultura a projectos da sociedade civil (portuguesa ou dos países locais) e
e em que se comprometem a “fomentar O papel dos conselheiros cultu- fomentar a reciprocidade das actividades culturais;
a prática de troca de informação regular,
recíproca” sobre as actividades que de-
rais das embaixadas
Na falta da linha de apoio específica para . Organização de um seminário dedicado à mobilidade e à interna-
senvolvem. estas viagens de trabalho, o jornal assinala cionalização dos agentes culturais (23/11/2010) que, entre outros
No concreto e conforme o texto do docu- que o Instituto Camões sugere, “para já”, assuntos, deu destaque às dificuldades de circulação dos agentes
mento, IC e GPEARI acordaram em “pro- culturais oriundos de países da CPLP. Kalaf Ângelo, dos Buraka Som
que os artistas interessados contactem
mover encontros regulares”,“criar um gru- Sistema, por exemplo, partilhou as suas dificuldades de circulação
directamente as embaixadas portuguesas
po de trabalho para definição das regiões como cidadão angolano. O GPEARI está a estudar a possibilidade
nos países de destino. Segundo Alexandra
e domínios de actuação prioritários” e em de se criar um “balcão de atendimento” que, entre outras áreas,
Pinho, directora dos Serviços de Pro-
“realizar acções de formação, seminários ofereça aos agentes culturais ajuda e informação relativa aos
moção e Divulgação Cultural Externa do
problemas de circulação identificados no grupo de trabalho sobre
e/ou workshops que promovam a forma- IC, é nos centros culturais do Instituto, mobilidade da União Europeia (emissão de vistos, dupla tributação
ção específica dos conselheiros culturais existentes nas embaixadas, que cabe gerir de impostos, acesso à segurança social, etc.);
e dos agentes culturais portugueses”. a verba destinada a estes apoios (191
Em relação ao “grupo de trabalho” a cons-
tituir, GPEARI e IC admitem convidar
mil euros em 2009). De igual modo, con-
sidera, o protocolo IC-GPEARI agora assi-
. Coordenação e facilitação de várias actividades desenvolvidas por
outros organismos do Ministério da Cultura com países da CPLP,
“outras entidades e organismos com in- nado possibilitará que a decisão sobre os tais como programas de intercâmbio na área da formação. Nesse
tervenção na acção cultural portuguesa apoios a atribuir passe a ser tomada “em âmbito estão em curso projectos de formação com o Instituto dos
no estrangeiro”, não especificados no coordenação com a Cultura”. Ainda em Museus e da Conservação (IMC), o Instituto de Gestão do Patri-
acordo. relação a esta problemática, Joana Gomes mónio Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e a Direcção-
Cardoso, do GPEARI, diz estarem a ser -Geral de Arquivos (DGARQ).
Expectativas frustradas desenvolvidos “canais para que os agentes
Poucos dias após a assinatura do acordo, possam apresentar as suas propostas aos Recorde-se que o GPEARI foi criado em Março de 2007 no âmbito
no quadro de um seminário organizado conselheiros culturais”. do Programa de Reestruturação da Administração Central do Es-
pelo GPEARI sobre a mobilidade e a in- Entretanto, traduzindo a necessidade de tado, passando a concentrar as funções anteriormente atribuídas ao
ternacionalização dos artistas portugue- ajustamentos interministeriais e de tem- Gabinete do Direito de Autor e ao Gabinete das Relações Culturais
ses, em declarações citadas pelo jornal po, para alcançar “articulação” executiva Internacionais. Tem como missão “garantir o apoio à formulação
Público (edição de 26 de Novembro de e funcionalidade, Gabriela Canavilhas, Mi- de políticas e ao planeamento estratégico e operacional; assegurar,
2010), Joana Gomes Cardoso admitiu nistra da Cultura de Portugal, afirmou ao directamente ou sob sua coordenação, as relações internacionais;
dificuldades em explicar aos agentes cul- mesmo jornal que o seu ministério está acompanhar e avaliar a execução de políticas, em articulação com
turais a importância do documento alcan- a fazer “um levantamento exaustivo de os demais serviços do Ministério”.
çado, perante as expectativas e as neces- todos os instrumentos e mecanismos Entre as suas atribuições, prevê-se explicitamente: “apoiar a
sidades existentes no terreno. que até aqui não estavam articulados en- definição e assegurar as relações internacionais nos sectores de
Nesse encontro, conforme a referida edi- tre si”, em conjunto com os Ministérios actuação do Ministério, coordenando as acções desenvolvidas no
ção do jornal, vários criadores nacionais dos Negócios Estrangeiros, do Trabalho, âmbito das relações externas no respectivo sector” e “coordenar
lamentaram a suspensão dos apoios que da Economia e ainda com a Agência para os projectos dos serviços e organismos do MC relativos à interna-
anualmente eram atribuídos pelo IC, que o Investimento e Comércio Externo de cionalização da cultura portuguesa e acompanhar as iniciativas de
normalmente se materializavam no finan- Portugal (AICEP), para que as “feiras de entidades públicas e privadas nesta matéria”.
ciamento – total ou parcial – das viagens. produtos portugueses no estrangeiro
tenham uma componente de divulgação Pedro Rodrigues
O encenador Tiago Guedes e a coreó-
grafa Vera Mantero salientaram a neces- cultural”.
sidade de facilitar a deslocação de artistas
e programadores, de forma a estimular o Pedro Rodrigues

cenaberta 4
Dezembro 2010

2012
Ano do Brasil em Portugal, Ano de Portugal no Brasil
Inspirados pelos “Ano do Brasil em França” (2005) e “Ano da França no Brasil” (2009), os governos de Portugal
e do Brasil decidiram em 2008, na cimeira de Salvador da Bahia, organizar o “Ano do Brasil em Portugal” em
2010 e o “Ano de Portugal no Brasil” em 2011. As iniciativas não foram tratadas nas datas previstas e, em Maio
deste ano, foi definido um novo calendário e uma nova "estratégia": os dois “anos” ocorrerão simultaneamente
em 2012. A este respeito, ouvimos Joana Gomes Cardoso, directora do Gabinete de Planeamento, Estratégia,
Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Cultura (GPEARI).
Entretanto, na sequência do trabalho continuado de intercâmbio que vem desenvolvendo no Brasil, a Cena
Lusófona assinou um protocolo com a Secretaria da Cultura da Bahia e estuda projectos em parceria com insti-
tuições paulistas, entre as quais a Cooperativa Cultural Brasileira (CCB).

Paula Nunes
Cinco perguntas à
directora do GPEARI
Porquê adiar os Quais os principais
projectos “Brasil em objectivos desta
Portugal” e “Portugal iniciativa? Que áreas
no Brasil”, realizando- artísticas se prevê que
-os em simultâneo em venham a integrar
2012? o programa e, entre
Joana Gomes Cardoso estas, quais as que são
(JGC): Entendeu-se que se- consideradas priori-
ria mais produtivo juntar no tárias?
São Paulo: debate sobre intercâmbio teatral mesmo saco as celebrações, JGC: A iniciativa visa apro-

Cena Lusófona reforça


para aproveitar sinergias e fundar as relações bilaterais
gerir de forma mais eficaz em várias áreas: cultural,
os recursos disponíveis. académica, económica.

parcerias no Brasil A quem cabe, do lado


No que respeita à cultura,
pretende-se dar a conhecer
português, a condução as manifestações artísticas
A assinatura do protocolo com a Secretaria de conjunto, de forma a viabilizar a realização das
dos trabalhos pre- dos dois países de forma
Cultura da Bahia, dirigida por Márcio Meirelles, acções previstas no acordo.
ocorreu em Salvador, na sequência da visita de paratórios da inicia- a fortalecer o intercâm-
Cooperativa Cultural Brasileira tiva e a futura elabo- bio cultural entre Brasil e
uma delegação da Cena Lusófona à capital baiana, Em São Paulo, a Cena Lusófona participou, a 18
após a realização do II Encontro Internacional so- ração do programa? Portugal.
de Novembro, num debate sobre a articulação
bre Políticas de Intercâmbio (Teresina, Piauí, 15 a JGC: Está em curso uma
e a dinamização de projectos de intercâmbio
17 de Novembro). O protocolo tem em conta "o reflexão entre o Ministé- Qual o orçamento
teatral entre os países da CPLP, Espanha e países
Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta en- latino-americanos, organizado pela Cooperativa
rio da Cultura (GPEARI, previsto para a con-
tre a República Federativa do Brasil e a República Cultural Brasileira (CCB). Direcção-Geral das Artes) e cretização do pro-
Portuguesa, celebrado em Porto Seguro em 22 Abrindo o colóquio, a presidente da CCB, Marília o Ministério dos Negócios grama destas duas
de Abril de 2000" e formaliza a "intenção dos de Lima, divulgou o “interesse estratégico-cul- Estrangeiros (através do Ins- iniciativas?
seus signatários de viabilizar a realização de tural-artístico” em efectivar uma parceria entre tituto Camões) justamente JGC: Ainda não está
acções, visando intercâmbio, difusão e coopera- a Cena Lusófona e a Cooperativa, através da or- para definir essa questão. É definido o orçamento nem
ção cultural". ganização de debates sobre a cena teatral ibero- provável que seja nomeado as suas fontes de financia-
Márcio Meirelles, pela Secretaria de Cultura, e -lusófona, nas cinco regiões brasileiras, ao longo um/uma Comissário/a que mento.
António Augusto Barros, pela Cena Lusófona, do ano de 2011. irá desenvolver a programa-
definem cinco conjuntos de acções concretas a Rui Madeira, vice-presidente da Cena Lusófona, ção cultural em articulação De que forma se pensa
realizar nos próximos anos: promover Estágios expôs algumas áreas de actividade em que se com o homólogo brasileiro envolver a sociedade
Internacionais de Actores Lusófonos com o ob- poderá desenvolver projectos e acções conjuntas, que de momento também civil e, designada-
jectivo de aprofundar a formação de jovens ac- propostas que visam unir a rede de alcance das ainda não foi designado. mente, os agentes
tores da CPLP em áreas específicas; favorecer duas instituições e das suas estruturas, aumentar Do lado português, está culturais e artísticos
o intercâmbio de artistas e de grupos artísticos a visibilidade pública das iniciativas e articular a
também a ser ponderada não-governamentais
para a realização de residências nos territórios comunicação com as instituições públicas.
dos países da CPLP; articular a participação de
a criação de um grupo de nesta programação?
Foram igualmente discutidos projectos concre-
artistas e profissionais da cultura dos seus países trabalho, que desejavel- JGC: O envolvimento da
tos de acção, tendo em conta, nomeadamente,
e dos demais países membros da CPLP em fes- mente integraria entidades sociedade civil é muito
as actividades do “Ano de Portugal no Brasil”,
tivais, espectáculos, oficinas e outros eventos a em 2012. A Cena Lusófona e a CCB pretendem como o Turismo de Portugal importante, todas as
serem realizados no território da outra parte; apresentar propostas para integrar o respectivo e a Agência para o Investi- propostas recebidas serão
promover seminários, cursos, debates e encon- programa, destacando a temática da lusofonia, na mento e Comércio Externo devidamente analisadas
tros para a produção cultural dos dois países; e sua riqueza e complexidade. de Portugal (AICEP), para quando estiver em funções
propôr projectos conjuntos para o “Ano do Bra- O encontro contou com a presença de Creusa delinear uma estratégia o/a Comissário/a.
sil em Portugal” e o “Ano de Portugal no Brasil”, Borges, directora e produtora do Circuito de conjunta que seja eficaz e
a serem realizados em 2012. Teatro Português de São Paulo, e de represen- sustentável do ponto de Pedro Rodrigues
O protocolo é válido por três anos e prevê a tantes do poder público, entre os quais Frederico vista financeiro.
imediata celebração de um plano de trabalho Roth, do Ministério da Cultura do Brasil.
cenaberta 5
cenaberta

Brasil

FESTLUSO e Encontro Internacional


sobre Políticas de Intercâmbio
Teresina (Piauí) foi palco, entre 15 e 21 de Novembro, da terceira edição do Festival de Teatro
Lusófono (FESTLUSO) e do segundo Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio. Re-
portamos os dois eventos, publicamos as conclusões do Encontro e revelamos que apesar dos cor-
tes orçamentais anunciados pelo Governo Estadual a menos de uma semana do início do festi-
val, obrigando a cancelar parte da programação, o público aderiu em força: mais de cinco mil
espectadores para 20 espectáculos de teatro, três concertos musicais e três acções de formação.

Margareth Leite
III FESTLUSO: espectáculo ao ar livre

No balanço positivo que faz desta edição, Francisco sina, vieram e fizeram uma apresentação fantástica”. nhia instalada em Teresina e participante regular em ini-
Pellé, coordenador geral do Festival, não deixa de referir No que diz respeito à programação internacional, o III ciativas de intercâmbio com Portugal e Cabo Verde. Em
os efeitos do corte financeiro decidido pelo Governo FESTLUSO contou com a participação de grupos de An- Dezembro de 2009, o Harém Teatro e o FESTLUSO es-
Estadual do Piauí: “quatro dias antes do Festival começar, gola (Grupo Teatral HenriqueArtes), Cabo Verde (Gru- tiveram representados, por Francisco Pellé, no Encontro
recebemos a notícia da recusa do governo em nos pa- po de Teatro do Centro Cultural Português do Min- Internacional sobre Políticas de Intercâmbio, realizado
trocinar. Dias depois ele voltou atrás e conseguimos delo), Galiza (Abrapalabra / Cándido Pazó), Moçambique em Coimbra.
cerca de 30% do valor originalmente proposto, mas ain- (Grupo de Teatro Lareira) e Portugal (Teatro Extremo). Comprovando o empenho em aprofundar o compro-
da assim o corte foi inevitável. Sessenta por cento das Pellé destaca os apoios que a viabilizaram – “tivemos pa- misso do seu Festival com o universo do teatro lusó-
atracções tiveram de ser canceladas, incluindo a maioria trocínio da Oi e apoio cultural Oi Futuro, Ministério da fono, Pellé comprometeu-se então a organizar a segunda
das locais e algumas nacionais. Mantivemos as interna- Cultura, Funarte e SIEC (Sistema Estadual de Incentivo edição deste Encontro, no que foi apoiado pelo Ministé-
cionais que já estavam garantidas pelo patrocínio da à Cultura do Piauí)” – mas lamenta o relativo insucesso rio da Cultura do Brasil, representado nessa ocasião por
empresa de telecomunicações Oi. Isso teve uma reper- dos apoios internacionais: apesar das tentativas,“recebe- Zulu Araújo, Presidente da Fundação Cultural Palmares.
cussão assustadora na imprensa e o público ficou bem mos respostas positivas apenas de Angola, pela TAAG Assim aconteceu: nos três primeiros dias do Festival,
revoltado com a defasagem”. (Linhas Aéreas Angolanas) e LS Produções”. O orçamen- mais de duas dezenas de estruturas de criação e pro-
“O lado positivo”, reconhece Pellé, foi a reacção do pú- to geral era de 350 mil reais, “mas conseguimos realizar gramação dos países de língua portuguesa reuniram em
blico: “os espectadores sentiram-se mais estimulados com 230 mil, ainda com algumas dívidas a pagar”. Teresina, produzindo as conclusões que cenaberta publi-
a ir aos teatros para mostrarem que valorizam aqui- Em preparação está já a IV edição do FESTLUSO, pro- ca (pág.7). E também em jeito conclusivo sobre o II En-
lo que o governo parecia desconsiderar. Mesmo com gramada para 22 a 28 de Agosto de 2011, regressando contro e o Festival, Francisco Pellé assinala: “A vinda do
o corte, a programação foi de altíssima qualidade e a assim ao seu calendário normal: “o quarto FESTLUSO II Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio
dificuldade quantitativa foi superada desta forma”. Por começou antes mesmo do terceiro acabar, com a orga- para Teresina foi o maior reconhecimento de que o FES-
outro lado, o responsável pelo Festival não deixa de des- nização do projecto e a inscrição em editais. Estamos já TLUSO está fazendo esse eixo de circulação produtiva
tacar o papel de alguns dos artistas que mantiveram a buscando patrocinadores para que Teresina volte a ser, se mover. Temos aqui uma cidade de médio porte para
sua participação, independentemente das condições exitosamente, a capital da lusofonia”. os padrões brasileiros e desconhecida por grande parte
financeiras: “um apoio de extrema importância e que do país. Porém, vem mostrando-se extremamente fértil
deu visibilidade ao festival foi o do cantor Jorge Maut- II Encontro Internacional sobre Políticas de e acolhedora em relação a esse tipo de evento”.
ner e do músico Nelson Jacobina, que, mesmo na in- Intercâmbio
certeza orçamentária, confirmaram o show em Tere- O FESTLUSO é organizado pelo Harém Teatro, compa- António Augusto Barros / Pedro Rodrigues

cenaberta 6
Dezembro 2010

Entre as conclusões do II Encontro Internacional sobre Políticas


de Intercâmbio, aqui publicadas na íntegra, destaca-se a importân-
cia dada a "2012 - Ano de Portugal no Brasil, Ano do Brasil em
Portugal", bem como a preocupação dos participantes face às in-
definições que sobre o assunto subsistem e a vontade destes, em
diálogo com os responsáveis políticos dos dois países, contribuírem
para dar corpo à iniciativa.

Conclusões
Na sequência do primeiro Encontro de Coimbra lógico, para anos separados (2010 e 2011,
(Dezembro de 2009), mais de duas dezenas de insti- respectivamente) e recentemente corrigidas
tuições culturais e teatrais do Brasil, Portugal, Moçam- e “fundidas” para o ano de 2012.
bique, Angola, Cabo Verde e Galiza reuniram-se nos Tomando como definitiva esta última decisão,
passados dias 15, 16 e 17 de Novembro, no âmbito do os participantes mostraram-se preocupa-
FESTLUSO – Festival de Teatro Lusófono, em Teresina dos com o atraso existente: a um ano da
(Piauí, Brasil), com o objectivo de debaterem o estado iniciativa, os governos não anunciaram ain-
do intercâmbio teatral na lusofonia e aprofundarem as da qualquer definição de áreas prioritárias,
possibilidades de relacionamento e colaboração mútua distribuição de responsabilidades artísticas,
no futuro próximo. metodologias organizativas, fórmulas de
Neste II Encontro Internacional sobre Políticas de In- articulação bilateral, orçamentos, etc.
tercâmbio na CPLP realizaram-se mesas dedicadas às Um evento desta envergadura, considerado
iniciativas de co-produção já realizadas e em processo da máxima importância e simbologia pelos
de concretização, à colaboração entre os festivais e ao presentes, necessita de um tempo e reflexão
diálogo necessário e urgente entre os artistas, os agen- que já são escassos. A maior preocupação é
tes culturais e as instâncias representativas do poder que, à última hora, sejam definidos eventos
político-cultural nos diversos países. que não necessariamente representem a cul-
tura dos dois países e não façam o efectivo intercâmbio
Sublinha-se, entre as diversas decisões e conclusões proposto. Por isso e quanto antes deve-se conversar
do Encontro: com os representantes dos vários sectores da cultura
para, em conjunto, propor as actividades. Que isso
1. A necessidade e o interesse em manter viva a rede aconteça tanto em Portugal quanto no Brasil.
informal e colaborativa de festivais existente neste
domínio específico – FESTLUSO, Mindelact, Circuito 4. Os presentes atribuíram à Cena Lusófona um papel Os participantes:
de Teatro Português de São Paulo, Festival de Teatro e articulador de vontades e assinalaram o esforço que
A Escola da Noite (Coimbra, Portugal)
Artes de Luanda, Festival de Teatro de São Carlos (SP), esta organização vem desempenhando na centralização
e difusão de informações, nomeadamente através do seu Abrapalabra Creacións Escénicas (Galiza, Espanha)
Festival Internacional de Teatro de Ourense, Festival
Centro de Documentação e Informação e das versões Bando de Teatro Olodum (Salvador, BA, Brasil)
Sementes – assegurando assim a troca de informações,
uma atempada planificação, a coordenação de datas e do cenaberta (em papel e on-line). Cena Lusófona (Portugal)
a partilha de programações, com redução de custos, Foi sugerido ainda à Cena Lusófona a organização de um Circuito de Teatro Português de São Paulo (São
Paulo, Brasil)
maior rentabilidade e visibilidade das companhias dossiê sobre projectos e programas de financiamento
Companhia de Teatro de Braga (Braga, Portugal)
deslocadas. existentes nas instâncias internacionais e nacionais
Companhia Leões de Circo (Rio de Janeiro, Brasil)
vocacionadas para o fortalecimento das relações mul-
2. À semelhança do que ocorreu no I Encontro, os tilaterais. Cooperativa Cultural Brasileira (São Paulo, Brasil)
participantes debruçaram-se sobre o conjunto de Dragão7 (São Paulo, Brasil)
decisões tomadas no decurso das últimas cimeiras dos 5. O Encontro incumbiu a directora do Festival das Artes Elinga Teatro (Luanda, Angola)
Ministros da Cultura da CPLP, registando a incapaci- de Luanda da missão de estabelecer os contactos ne- FEBRACCULT – Federação Brasileira das Cooperativas de Cultura
dade de estas serem executadas ou desenvolvidas nos cessários no seu país para que a edição do III Encontro (Brasil)
prazos previstos. Internacional sobre Políticas de Intercâmbio na CPLP se Festival Internacional de Teatro e Artes de Luanda
Entre estas, regista-se, a título de exemplo, a questão (Luanda, Angola)
realize na cidade de Luanda no decurso do próximo ano.
do “selo cultural”, decisão tomada há uma década, su- Foi ainda formulado o propósito de que os encontros Festival de Teatro de São Carlos (São Carlos, SP, Brasil)
cessivamente confirmada e reiterada nas actas saídas seguintes, em Portugal e no Brasil, se realizem integrados Festival Sementes (Almada, Portugal)
de cada cimeira, sem qualquer consequência ou desen- no âmbito das iniciativas “Ano de Portugal no Brasil” e Festluso (Teresina, Piauí, Brasil)
volvimento conhecidos. “Ano do Brasil em Portugal”, no ano de 2012. FITO – Festival Internacional de Teatro de Ourense (Ourense,
Galiza, Espanha)
Neste âmbito, a facilitação de vistos diplomáticos, em
especial para as companhias africanas convidadas para 6. Os participantes saúdam, por fim, os organizadores Grupo de Teatro do Centro Cultural Português
do FESTLUSO e deste II Encontro pelo acolhimento do Mindelo (Mindelo, Cabo Verde)
iniciativas de relevo cultural em Portugal e no Brasil,
excepcional na cidade de Teresina, no Estado do Piauí, Grupo de Teatro Lareira (Maputo, Moçambique)
continua a constituir mera retórica institucional, crian-
confirmando, assim, que o movimento de intercâmbio Grupo Harém de Teatro (Teresina, Piauí, Brasil)
do entraves e prejuízos multilaterais que em nada
lusófono é diverso e vasto, não se conformando às Grupo Tá na Rua (Rio de Janeiro, Brasil)
contribuem para a intensificação do intercâmbio.
realizações dos grandes centros, antes dependendo das Grupo Teatral HenriqueArtes (Luanda, Angola)
3. No âmbito bilateral entre Portugal e o Brasil, os par- vontades plurais e do desejo de um grande reencontro Mindelact (Mindelo, Cabo Verde)
ticipantes denunciaram a confusão e a incerteza relativas à volta da língua, da arte, da cultura. Sarabela Teatro (Ourense, Galiza, Espanha)
às iniciativas “Ano do Brasil em Portugal” e “Ano de Teatro Extremo (Almada, Portugal)
Portugal no Brasil”, inicialmente previstas, como seria Teresina, Piauí, 17 de Novembro de 2010. Teatro Vila Velha (Salvador, Bahía, Brasil)

cenaberta 7
"Os Amantes", Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo (Cabo Verde) "Hotel Komarca", Grupo Teatral HenriqueArtes (Angola)

III FESTLU
Internaci
de Interc
Teresina (Piauí, Brasil)
15 a 17 de Novembro de 2010
fotografia de Margareth Leite

II EIPI: mesa-redonda moderada por João Branco (Mindelact, Cabo Verde)

"A Descoberta das Américas", Júlio Adrião, Produções Artísticas (Brasil) II EIPI: António Augusto Barros e Rui Madeira (Cena Lusófona)

cenaberta 8
III FESTLUSO: espectáculo ao ar livre no espaço do Harém de Teatro Flávio Ferrão (Grupo Teatral HenriqueArtes, Angola), Arimatan Martins (Grupo Harém de Teatro,
Brasil), Cándido Pazó (Galiza, Espanha), Airton Martins (Grupo Harém de Teatro, Brasil), Fernando
Jorge Lopes (Teatro Extremo, Portugal), Alex Elliot (Grupo de Teatro Lareira, Moçambique)

SO e II Encontro
onal sobre Políticas
âmbio

"Quando as máquinas param", Grupo Harém de Teatro (Brasil)

cenaberta 9
cenaberta

Márcio Meirelles

Entre o palco e a
política
Márcio Meirelles, criador artístico, homem de teatro, tem nos últimos anos desempenha-
do o cargo de Secretário da Cultura do Estado da Bahia. Encenou "Bença", o mais recente
espectáculo do Bando de Teatro Olodum. O palco, a política, condições conflituantes? A
esta e outras questões, suscitadas por cenaberta, respondeu Márcio Meirelles, via e-mail.
Durante o seu mandato enquanto Secre- dos em 26 territórios de identidade. Entendemos geração de economia sustentável local. Este projeto
tário da Cultura da Bahia, quais foram as que não seria possível trabalhar para o Estado de lei foi construído a partir de várias consultas
prioridades e os principais problemas que inteiro se não trabalhássemos em rede, se não tra- públicas, inclusive em duas Conferências Estaduais
enfrentou? balhássemos com as prefeituras. Então, desde o início – em cada uma mobilizamos em torno de 40 mil
Primeiro, reconhecer que a Cultura é um direito de to- do mandato, temos promovido encontros, oficinas pessoas para discutir prioridades e diretrizes que
dos e que cada cidadão é um produtor de cultura e tem de qualificação dos gestores municipais de cultura. resultaram na Lei e são base para o Plano Estadual
que ter acesso aos meios de produção e aos bens cul- Eles criaram um fórum, que se transformou em as- de Cultura.
turais produzidos, ao seu patrimônio e à sua memória. sociação. Estão sempre se mobilizando e articulando
E, se é um direito básico do cidadão, é um dever do informações e ações. Que resultados conseguiu realmente?
Estado cuidar para que todos gozem desse direito. Temos também uma rede de 26 representantes Os resultados mesmo virão em médio prazo, porque
trabalhamos nas bases, nos conceitos, na criação de
João Milet Meirelles

infraestrutura.
De imediato posso dizer que resultou num aumento
qualitativo e quantitativo de propostas, vindas de
todos os territórios e, agora, fazendo o balanço de
quatro anos, fizemos mapas onde pode-se ver bem
distribuídos os novos 150 pontos de cultura, pode-
mos reconhecer, em sistema, as mais de 200 uni-
dades museais; podemos constatar que, com as 150
bibliotecas municipais que implantamos, zeramos o
número de municípios sem bibliotecas; podemos ver
que contemplamos projetos propostos por todos os
territórios e apoiamos a circulação de projetos em
todos também.
Podemos dizer que, este ano, tivemos em Salvador
mais de 60 estreias de novas peças de teatro, o que
é um recorde. Que a música baiana agora é reconhe-
cida em sua pluralidade e o setor tem-se organizado
mais, participando de feiras internacionais e pro-
movendo encontros e fóruns que levam em conta a
nossa inserção no mercado nacional e internacional.
Temos agora quatro festivais internacionais de artes
cênicas por ano, dois de dança e dois de teatro. E em
torno de mais de dez festivais, encontros e mostras
anuais em vários municípios. O que promove uma
Depois e por isso, descentralizar, democratizar e territoriais da Secretaria. São nossos braços. São troca fantástica entre os produtores do interior e da
institucionalizar as políticas culturais. responsáveis por acompanhar as nossas políticas e capital.
Descentralizar setorialmente. Estendendo os pro- ações em todos os territórios. Triplicamos o número de visitantes nos museus,
gramas da Secretaria a um espectro mais amplo de Por fim, institucionalizar essas políticas. Elaboramos aumentando suas área expositivas e horários de
ações da sociedade. Expandindo para outras áreas, um projeto de Lei Orgânica da Cultura que vai con- funcionamento, além de um programa intenso de
além das linguagens artísticas, como por exemplo solidar boa parte delas definindo o que é Cultura, exposições contemporâneas e de acervos, acompa-
a moda, o design, a gastronomia, a cultura digital, as que atividades sociais se enquadram no escopo nhadas de programas de visitação e educativos.
culturas identitárias dos povos indígenas, quilom- das atividades da Secretaria, e como o Estado deve Temos uma coleção de 63 peças de Rodin, cedidas
bolas, ciganos, para as culturas populares e sua atuar nesse setor. Esta lei cria o Sistema Estadual de em comodato pela França durante três anos.
produção, para as festas. Cultura e outros marcos importantes para tirar as
Também descentralizar territorialmente. A Bahia é atividades culturais da informalidade. Ela reconhece Quanto ao intercâmbio internacional e,
maior que a França, temos 417 municípios, agrupa- também a cultura como eixo de desenvolvimento e em particular, ao intercâmbio na lusofo-

cenaberta 10
Dezembro 2010

João Milet Meirelles

João Milet Meirelles


"Bença" "Bença"

nia, que sempre defendeu, o que é que fi- Velha. Quando você é gestor de um grupo e de um público, esses novos meios.
cou por fazer e, eventualmente, guardaria teatro, você desenvolve políticas públicas de atuação, Na Bahia não é diferente. Ficamos muito tempo
para um segundo mandato? portanto questiona as políticas do Estado, interage isolados do mundo, trocando muito pouco. Não
Criamos mecanismos de apoio a residências e inter- com elas e deve interferir em suas formulações e tínhamos um festival de teatro internacional nem
câmbios através de editais. Isso foi uma coisa genéri- execuções. Portanto do lugar de artista, produtor e nacional, por exemplo. Circulamos muito pouco
ca, para artistas locais viajarem ou virem artistas de gestor cultural sempre fiz e discuti políticas públicas e só poucos de nós. Por outro lado vivemos uma
qualquer país. Quanto a programa específico para a para a cultura. política perversa que tornou a produção cultural
CPLP, estivemos na coordenação de um concurso de Quando o governador Jaques Wagner me convidou dependente do Estado ou de patrocinadores. Nos
documentários para as TVs públicas, o Doc TV CPLP, para assumir o cargo, não tinha como não aceitar. Se importamos pouco com o público. E não no sentido
um programa nacional. esse foi o meu discurso o tempo inteiro e alguém, de atender o que se quer ver, mas no de propor
Agora assinamos esse termo de cooperação com em quem confio, me chama para participar de um coisas que precisam ser vistas. Se, por um lado, 90%
a Cena Lusófona e uma próxima gestão poderá programa político, no qual concordo, para efetivar das peças montadas aqui são de autores locais, nosso
trabalhar melhor para a promoção de atividades da e tornar ação esse discurso e com isso promover isolamento do mundo só há pouco tempo começou
lusofonia nas artes cênicas e poderemos avançar o desenvolvimento da Bahia, tinha que aceitar e a ser quebrado, trazendo oxigênio para a cena local.
para outras áreas. dar o máximo de mim para tornar esse programa Nosso universo provinciano é muito forte. O lado
vitorioso. Não estou satisfeito, porque o passivo era bom é que temos muito material simbólico para
Toda a sua vida foi a de um criador muito grande e a mudança proposta muito radical trabalhar, o ruim é que achamos que nos bastamos,
artístico, um fazedor teatral, envolvido e ainda há muito por fazer. Mas tenho a sensação alimentando “estrelas” e “gênios” locais que não re-
nos problemas relativos à afirmação da de dever cumprido. Demos alguns passos, outros sistem a um sopro maior de novidade. E que ignora
arte e do teatro nos diversos contextos são necessários, mas os que demos foram firmes e o tempo atual que passa célere transformando tudo.
sociais e políticos do Brasil. definiram caminhos que a sociedade está se apro- O teatro é um testemunho de nosso tempo pre-
Durante os últimos anos usou um outro priando e vai poder trilhar, cobrando do Estado que sente. E o tempo agora é real, se o teatro não se
boné, o da política, o que é, aparente- faça sua parte, apropriar disso e fizer seu discurso para o público
mente, contraditório. Como resolveu essa Quanto a Bença, mesmo com todas as tarefas, eu do século XXI, vamos morrer sonhando com
contradição? Essa dupla condição foi con- não podia deixar de dirigir o espetáculo comemo- Moscou, em nosso jardim de cerejeiras, não enten-
flituante? Acha que terminou a sua missão rativo dos 20 anos do Bando de Teatro Olodum. Fui dendo porque as plateias estão vazias, culpando o
desse lado e tem vontade de regressar? O um dos fundadores do grupo e com ele vivi muitas Estado por isso ou o próprio público por não ter
facto de ter assinado o último espectáculo coisas. Era preciso participar desse novo ciclo. Foi o formação suficiente para ficar mais de duas horas
do Bando, "Bença" (aliás, belíssimo), é que fizemos, inauguramos um novo ciclo do grupo vendo Tchékhov. Em outras palavras, o teatro baiano
uma espécie de resposta? com esse espetáculo. Agora, virão mais 20 ou sei lá tem que sair de sua redoma e buscar e formar seu
É mais uma espécie de questão. Creio que os espe- quantos… público. É preciso investir em educação, sim. Mas isso
táculos sempre são perguntas sem respostas. E fazer é uma tarefa de todos. Não só do Estado.
essas questões, instigar, é o meu ofício. O que falta ao teatro baiano, na sua opinião,
Não há contradição alguma entre o cargo que ocupo para se afirmar e desenvolver fora de portas? entrevista de António Augusto Barros
agora e ser artista, no caso encenador. O que faço O teatro, no século XXI, está passando por um
João Milet Meirelles

no teatro? Transformo um discurso em ação, através momento complicado. É o século da família das fer-
de uma equipe de colaboradores, para que esta ação, ramentas digitais e virtuais. Século das comunidades.
de alguma forma, transforme a sociedade. É o que Do tempo real e espaço virtual. É um século que
faço como secretário de Cultura. redefiniu muitas coisas a partir dessa tecnologia.
Como fazedor teatral, tive que virar gestor, porque E dentre essas, questões básicas para o teatro: a
entendi que a melhor maneira de atuar politica- presença virtual, a reprodutibilidade e difusão dos
mente com meu discurso cênico seria através de discursos, as formas narrativas. Ao contrário do sur-
um grupo, razoavelmente fixo, de artistas colabora- gimento do cinema e da televisão, que criaram novos
dores. Sempre fiz teatro de grupo, mesmo quando suportes para a linguagem teatral e só a partir daí foi
dirigi elencos. Depois um grupo pede uma casa, e desenvolvendo linguagens próprias, as novas tecnolo-
coordenei a gestão de o centro cultural A Fábrica, gias vieram já com sua própria sintaxe. É preciso que
nos anos 80, e, a partir de 94 até 2006, o Teatro Vila o teatro dialogue com esse novo tempo, esse novo

cenaberta 11
cenaberta

cenas
breves em 2006) é o terceiro espectáculo que en-
cena para O Teatrão, depois de “O Círculo
Literário do Brasil, o compositor e escri-
tor brasileiro Chico Buarque viu o seu ro-
investigadores, estudantes, escritores e cu-
riosos das letras, África por pano de fundo,
de Giz Caucasiano”, de Brecht (2008), e de mance "Leite Derramado" ser distinguido, contribuindo para a afirmação e para o inter-
“Repúblicas” (2010). no início de Novembro, com o 8.º Prémio câmbio entre os países de expressão oficial
Portugal Telecom de Literatura em Língua portuguesa, as suas literaturas e culturas.
PORTUGAL – BRASIL Portuguesa. Entre os presentes estiveram os escritores
Novo espectáculo de Luandino Vieira, Pepetela, João Melo, João
Peter Brook em digressão Falando sobre o livro agora premiado, Chico Maimona, Manuel Rui, Akiz Neto, Jacques
pela Europa e América Buarque, que sente que muitas pessoas ainda dos Santos (Angola); Mia Couto (Moçam-
PORTUGAL – BRASIL Latina se surpreendem quando se apresenta como bique); Odete Semedo (Guiné-Bissau); Filin-
Marco António Rodrigues escritor, assume algumas influências dos es- to Elísio (Cabo Verde). O Encontro contou
dirige espectáculo em Quando se prepara para abandonar a critos do pai, Sérgio Buarque, mas afirma que ainda com a participação de professores e
Coimbra Companhia "Bouffes du Nord", que dirigiu já tem uma "linguagem própria". Da lista de ensaístas brasileiros (Laura Padilha, Cármen
durante 35 anos, o encenador britânico obras sujeitas a avaliação pelo júri do prémio Tindo Secco, Benjamin Abdala Júnior, Simone
O encenador brasileiro Marco António Ro- Peter Brook prepara para 2011 uma di- constavam mais oito trabalhos, entre os quais Caputo Gomes, Íris Amâncio, Robson Dutra,
drigues, fundador do Grupo Folias d'Arte gressão pela Península Ibérica e pela Améri- o livro "Caim", de José Saramago, entretanto Teresa Salgado e Moema Parente Augel, en-
(São Paulo) dirigiu a montagem de “Noite ca do Sul com o espectáculo "Uma Flauta retirado da competição, por solicitação da tre outros) e portugueses (Ana Mafalda Leite
de Reis”, para a companhia O Teatrão, na Mágica", adaptação livre da obra de Mozart. Fundação com o nome do escritor português. e Margarida Calafate Ribeiro).
cidade de Coimbra. O espectáculo estreou Itália, Inglaterra, Portugal, Brasil, Espanha e O segundo prémio foi atribuído a Rodrigo DR
a 9 de Dezembro e mantém-se em cena Argentina serão os países contemplados. Lacerda, pelo romance "Outra vida".
até 29 de Janeiro, na Oficina Municipal do
DR
Teatro. “Uma Flauta Mágica” é "um espectáculo com
que sonhava há anos", afirma Brook, em de-
O Teatrão assume o desafio de montar clarações citadas pelo jornal "La Jornada" e
Shakespeare e aposta em aligeirar “o peso” em que destaca a forma como "um só in-
associado aos textos de autores clássicos, divíduo, muito jovem, morrendo" - Mozart
brincando com o espectador: “Como fazer - conseguiu escrever uma música como a da
para que um enredo escrito para ser repre- "Flauta Mágica", capaz de dar ao espectador
sentado na noite de reis de mil quinhentos algo totalmente diferente da brutalidade ou
e troca-o-passo faça sentido feito em por- frustração da vida quotidiana. "Esse é o papel
tuguês, hoje, aqui e agora?”. A peça trata de do teatro", resume o encenador.
“pessoas que querem ser outras pessoas, O espectáculo será apresentado em Itália
mudar de vida, mudar de papel. Estes actores (22 de Fevereiro a 19 de Março), Londres
experimentam todos os papéis, todas as per- Chico Buarque Luandino Vieira
(23 a 27 de Março), Portugal (5 a 14 de
sonagens, tudo ao mesmo tempo. Imagine um Maio), Bilbao (13 e 14 de Maio), Madrid (18
bando que em vez de brincar ao Rei-Manda, a 22 de Maio), Barcelona (18 a 20 de Junho), BRASIL BRASIL
brinca aos Reis-Mandam”. Brasília (5 a 7 de Setembro, no âmbito do AFROLIC: nova associação Sebastião Milaré apresen-
No mesmo registo, Marco António Ro- Festival Cena Contemporânea), São Paulo de estudos culturais tou novo livro sobre
drigues resume desta forma a comédia do (12 a 16 de Setembro), Porto Alegre (21 a 23 africanos Antunes Filho
dramaturgo inglês: “A cena é comum ao de Setembro) e, finalmente, em Buenos Aires
nosso imaginário: uma ilha paradisíaca, uma (28 de Setembro a 1 de Outubro). O IV Encontro de Professores de Litera- O crítico e investigador brasileiro Sebas-
pequena corte, um romance assimétrico turas Africanas de Língua Portuguesa, reali- tião Milaré apresentou a 8 de Dezembro
DR
entre nobres, um naufrágio, irmãos gémeos, zado entre os dias 8 e 11 de Novembro o seu novo livro "Hierofania: o teatro se-
tios bêbados, empregados espertos, adminis- de 2010 na cidade de Ouro Preto, Minas gundo Antunes Filho" no CPT – Centro de
tradores duvidosos. Uma náufraga de origem Gerais, terminou com a criação da Associa- Pesquisa Teatral do SESC Consolação.
nobre que se transveste como homem para ção Internacional de Estudos Literários e
metamorfosear-se em serva do duque que Culturais Africanos, denominada AFROLIC. Sebastião Milaré pesquisou o método criado
governa a ilha. Pronto.” por Antunes Filho ao longo de dez anos,
DR
O Encontro de Professores de Literaturas analisando as referências estéticas e os
Africanas de Língua Portuguesa, trienal, or- próprios espectáculos e recolhendo docu-
ganizado pela Universidade Federal e Pontifí- mentos (publicados e inéditos), depoimentos
cia de Minas, sob a orientação de Nazareth do encenador e de actores que trabalharam
Soares Fonseca, vem dar continuidade à ini- com ele, agora compilados nesta obra. A par-
ciativa da Universidade Federal Fluminense tir de uma perspectiva histórica, “Hierofania”
que, em 1991, organizou o primeiro evento, destaca o contributo do sistema elaborado
seguido pelos Encontros na Universidade por Antunes Filho para o desenvolvimento
Peter Brook de São Paulo em 2003, e na Universidade do potencial expressivo do artista, funda-
Federal do Rio de Janeiro em 2007. Neste mentado na ideia de que é preciso formar
"Noite de Reis" BRASIL quarto Encontro foi oficialmente criada a As- e transformar o ser humano para que se
Marco António Rodrigues (Santos, SP, 1955) Chico Buarque vence sociação Internacional de Estudos Literários forme o actor.
fundou o grupo Folias d'Arte, em São Paulo, prémio PT de literatura e Culturais Africanos - AFROLIC. Milaré, que já publicara em 1994 o livro "An-
em 1998, com a intenção de fazer um “teatro Para além dos professores brasileiros e de tunes Filho e a dimensão utópica", é jorna-
popular de matriz brechtiana”. “Noite de Poucos dias depois de ter recebido o toda a lusofonia, os Encontros têm sido mo- lista, crítico e investigador de teatro. Desde
Reis” (que já havia dirigido em São Paulo, Prémio Jabuti, o mais importante prémio mentos para a reflexão e para o debate de 1994, é curador de teatro do Centro Cul-
cenaberta 12
Dezembro 2010

tural de São Paulo. Durante 20 anos foi críti- DR DR que a guerra ocupa um lugar considerável.
co teatral na revista "Artes" e tem ensaios "As obras de António Ole são densas mas
publicados em jornais do Brasil e de outros totalmente abertas, uma vez que elas trans-
países. Criou e edita, desde 2000, a revista cendem os seus propósitos originais e fazem
electrónica www.antaprofana.com.br e tam- surgir uma multiplicidade de sentidos que
bém escreveu o livro "Batalha da quimera" encontram eco noutras situações do mundo,
(Ed. Funarte, 2009), além de trabalhar como colectivas ou pessoais", afirma a organização
dramaturgo e roteirista. Colaborou com da exposição.
a Cena Lusófona na edição especial da re-
vista setepalcos dedicada ao teatro brasileiro MOÇAMBIQUE - ANGOLA
(1995) e no projecto "Quem come Quem" DR "Moderno Tropical" vence
(1999-2000). prémio internacional

"Moderno Tropical: Arquitectura em An-


gola e Moçambique 1948 - 1975", livro de
Ana Magalhães e Inês Gonçalves, venceu o
prémio DAM Architectural Book Award.
BRASIL
O prémio é uma iniciativa conjunta do
Newton Moreno premiado A mostra “Angola, figuras do poder” reúne Deutsches Architekturmuseum (Museu
por "Memória da Cana" cento e quarenta obras: máscaras de dife- Alemão de Arquitectura) e da Feira do
rentes materiais, representações do herói- Livro de Frankfurt. O trabalho, editado pe-
O dramaturgo e encenador brasileiro -caçador Chokwe Chibinda Ilunga e outros la Tinta-da-China com o apoio da Direcção
Newton Moreno recebeu em Novembro o objectos mágico-religiosos e baixos-relevos Geral das Artes, do Instituto Camões e da
Prémio “Contigo!” para melhor autor pelo policromados. Fundação Luso-Brasileira, recupera o acer-
espectáculo "Memória da Cana", baseado Integrando uma grande diversidade de povos, vo arquitectónico moderno edificado em
na peça "Album de Família", de Nelson Ro- Angola assistiu ao desenvolvimento de artes Angola e Moçambique entre 1948 e 1975.
drigues. que exaltam o poder político e espiritual dos DR

chefes. Da mesma forma, os cultos prestados


“Memória da Cana” estreou em 2009 pelo aos antepassados, heróis, divindades e espíri-
grupo "Os fofos encenam", dirigido por tos, tal como os rituais iniciáticos, asseguram
PORTUGAL Newton Moreno. Trata-se da adaptação de a formação dos indivíduos, fizeram nascer
“O segredo de Conceição”, uma das mais conhecidas obras do drama- práticas artísticas elaboradas.
de Cândido Ferreira turgo Nelson Rodrigues, transposta para "o "Máscaras, estatuetas, símbolos e outros ti-
cenário dos engenhos e canaviais nordesti- pos de obras dos Chokwe, Kongo, Lwena,
Foi publicado em Outubro “O Segredo de nos", num "estudo sobre a família patriarcal Lwimbi, Mwila, Ovimbundu ocupam um lugar
Conceição”, primeiro livro de teatro do ac- brasileira". central nas artes de Angola", lê-se no texto
tor, encenador e professor de teatro Cân- Não podendo estar presente na cerimónia de apresentação. "Esta exposição oferece
dido Ferreira. de entrega do prémio, realizada no Teatro um admirável reportório de formas onde se
Poeira (Rio de Janeiro) a 16 de Novembro, afirmam estilos específicos e onde se desco-
O livro, publicado pela Editora Dinossauro, Newton Moreno enviou uma mensagem brem influências recíprocas. As máscaras es-
reúne três peças – “O segredo de Con- em que assinala: “Mesmo 30 anos após sua culpidas ou feitas em matérias vegetais, tais
ceição”, “Paris de Fora” e “S. Tomás da Er- morte, o Nelson nos inspira". como as figuras de culto em madeira, a par
mida” – e tem prefácio do encenador Jorge DR da sua origem e do seu papel, sugerem fre-
Silva Melo. quentemente ligações entre os povos. As re-
No seu todo, a obra retrata as vivências das presentações mais ricas misturam frequente
camadas populares portuguesas. "O Segredo e intimamente numerosos registos. Os da- “Moderno tropical” é um álbum de foto-
de Conceição" é um olhar sobre a vida nos dos da história, do político e do religioso in- grafias com 238 páginas em grande formato.
bairros populares de Lisboa nos anos 60; corporam, de forma mais ou menos explícita, As fotografias são de Inês Gonçalves e a ar-
"Paris de fora" refere-se às dificuldades dos os modos de figuração e os sistemas sim- quitecta Ana Magalhães assina os textos, a
jovens portugueses emigrados que fugiam bólicos. Os objectos constituem portanto os cronologia (1948-75), os verbetes das obras
à tropa durante a ditadura; e "S. Tomás da indicadores de um universo onde estão em fotografadas, bem como as notas biográficas
Ermida" decorre nos anos 80, no contexto jogo múltiplos poderes. Esta selecção revela dos seus autores.
do regresso às aldeias dos portugueses que a vontade de apresentar, com a maior ampli- O livro incide sobre quatro cidades, duas de
antes haviam migrado para os centros urba- tude possível, a forma como as produções Angola (Luanda e Lobito) e duas de Moçam-
Newton Moreno
nos. dos povos contribuíram para edificar um bique (Lourenço Marques e Beira), com um
Cândido Ferreira é membro da Cena Lusófo- FRANÇA - ANGOLA património artístico excepcional." capítulo dedicado a doze obras icónicas.
na, no âmbito da qual dirigiu diversas acções Arte angolana em Paris Em paralelo, o Museu Dapper apresenta a ex- Oito arquitectos merecem destaque, en-
de formação e encenou os espectáculos "As posição "Memórias", de António Ole, artista tre eles o moçambicano Amâncio ‘Pancho’
Virgens Loucas", de António Aurélio Gon- O Museu Dapper de Paris acolhe até 10 de plástico angolano com trabalhos nas áreas Guedes, representado com quinze trabalhos,
çalves (co-produção com o Grupo de Teatro Julho de 2011 a exposição “Angola, figuras da pintura, escultura, instalação, fotografia e todos em Lourenço Marques (hoje Maputo):
do Centro Cultural Português do Mindelo, do poder”, que destaca a importância da cinema. Os sete trabalhos escolhidos para Edifício Abreu, Hotel Tamariz, Padaria Saipal,
Cabo Verde, 1996), e "Quem me dera ser arte angolana. Em paralelo, o artista plásti- esta mostra — essencialmente esculturas e Restaurante Zambi, Edifício Man George,
onda", de Manuel Rui (co-produção com o co António Ole mostra na capital francesa instalações de grandes dimensões — trans- Edifício Octávio, Edifício Mocargo, Edifício
Elinga Teatro, Angola, 2001). alguns dos seus trabalhos. portam os traços da memória colectiva, em Dragão, Edifício Prometheus, Edifício Tonelli,
cenaberta 13
cenaberta

cenas
breves a documentação produzida e a que foi en-
viada pelas companhias que participaram, ao
xas compostas por si. No teatro, participou
como actriz em vários espectáculos no início
“Tinha tempo para fotografar, desenhar, fazer
tudo o que fazia e, sobretudo, para conviver,
longo destes anos, no mais antigo festival de da década de 90 e escreveu, com Consuelo faceta a que ele dava imenso valor. Era um
teatro português (a primeira edição data de de Castro, a peça “Paixões Provisórias”.Co- conversador extraordinário, de uma grande
1978). mentando a sua nomeação, Ana de Hollanda solidez cultural”.
escreveu no seu site pessoal (www.anade-
BRASIL hollanda.com.br): “O desafio é enorme, mas ESPANHA – PORTUGAL
Brasil tem nova Ministra nada que seja impossível para quem respira Joaquim Benite premiado
Edifício Parque, Edifício Leão Que Ri, Edifício
da Cultura cultura. Conto com ajuda essencial de todos em Cádis
Simões Ferreira, as Casas Gémeas da família
que criam e produzem arte”.
Matos Ribeiro e as Casas Gonzaga Gomes.
A compositora e cantora Ana de Hol- O encenador português Joaquim Benite,
No prefácio do livro, a arquitecta Ana
landa é a nova Ministra da Cultura do PORTUGAL director do Festival de Almada e da Com-
Tostões assinala algumas das razões que
Brasil. A escolha foi anunciada no pas- Cinema lusófono em panhia de Teatro de Almada, foi distinguido
levaram dezenas de arquitectos portugue-
sado dia 20 de Dezembro e a própria Coimbra no Festival Ibero-Americano de Teatro
ses (sobretudo os da Escola do Porto) a
diz-se “honradíssima com o convite da (FIT) de Cádis (Espanha), pelo seu con-
emigrar para Angola e Moçambique: "É jus-
Presidente Dilma”. O Grupo de Investigação “Correntes tributo para a divulgação do teatro latino-
tamente essa geração de arquitectos, politi-
DR Artísticas e Movimentos Intelectuais” do -americano.
camente amadurecida como nunca o fora a
Centro de Estudos Interdisciplinares do
geração dos anos 30 modernistas, que vai
Século XX da Universidade de Coimbra A distinção foi atribuída pelo CELCIT
fazer a diferença e mergulhar na contempo-
– CEIS20 – organizou em Novembro, no – Centro Latino-Americano de Criação e
raneidade. Cheios de força e com a audácia
Teatro Académico de Gil Vicente, a IV Investigação Teatral. Segundo o seu direc-
da juventude, vão fazer a ‘utopia moderna
Mostra de Cinema "Novos Cinemas nos tor, Luís Molina, o Festival de Almada é “um
em África’".
Países Lusófonos (Anos 60-70)". Ruy Duar- espaço aberto ao teatro latino-americano e
te de Carvalho (Angola), Glauber Rocha do Mundo” e constitui “uma das realizações
PORTUGAL
(Brasil), Margarida Cardoso (Moçambique) teatrais mais extraordinárias da Europa”.
FITEI 2011 com recorde
e Sílvia Vieira e Bruno Silva (Portugal) O FIT de Cádis, no âmbito do qual ocor-
de candidaturas
foram alguns dos realizadores com filmes reu a entrega do prémio, realizou-se entre
no programa. 19 e 30 de Outubro de 2010, celebrando a
A 34.ª edição do Festival Internacional de
sua 25.ª edição. Reuniu dezenas de grupos e
Expresão Ibérica (FITEI), que terá lugar na
Com uma forte predominância do docu- artistas (teatro, teatro de rua, dança, música
cidade do Porto, em 2011, recebeu cerca
mentário, a mostra "Novos Cinemas nos e novo circo) de Espanha, Portugal e da
de 850 candidaturas, mais de 60% das quais
Países Lusófonos (Anos 60-70)" centrou-se América do Sul.
oriundas de Espanha e do Brasil. DR
Ana de Hollanda na produção cinematográfica do Brasil, de
DR
Angola e de Moçambique nas décadas de 60
Aos 62 anos de idade, Ana de Hollanda
e 70. Começou com os filmes "Catembe",
atinge um novo patamar numa carreira em
de Faria de Almeida (Moçambique, 1965) e
que tem conciliado o trabalho artístico com
"Arraial do Cabo", de Paulo César Saraceni
a administração pública no sector cultural:
e Mário Carneiro (Brasil, 1960) e incluiu
foi responsável pelo sector de música no
mais 13 filmes.
Centro Cultural de São Paulo, Secretária de
A 30 de Novembro, foram exibidos dois
Cultura da Prefeitura de Osasco (SP) e di-
filmes de Ruy Duarte de Carvalho, recente-
rectora do Centro de Música da Fundação
mente falecido - "O Kimbanda Kambia" e
Nacional de Artes (FUNARTE), entre 2003
"Ondyelwa, festa do boi sagrado", ambos de
e 2007.
1979. Os documentários foram apresenta-
Em declarações ao jornal “Estado de São
dos por António Augusto Barros, presidente
Paulo” (22 de Dezembro), Ana de Hollanda
da Cena Lusófona, que qualificou o trabalho
elogiou o trabalho feito pelos seus anteces-
do antropólogo, escritor e realizador ango-
sores no cargo – Gilberto Gil e Juca Ferreira
lano como uma “obra polifónica e multifa-
– e assumiu a dificuldade da tarefa: “É pre-
cetada”, chamando especial atenção para os
ciso atender às demandas da área cultural e
“cuidados necessários à sua contextualiza-
da sociedade como um todo. O ministério
ção”. Estes filmes "não são o Ruy Duarte
A organização do FITEI 2011 afirma que se está atuando no Brasil inteiro. Isso eu achei
de Carvalho, mas sim um momento na vida
trata do maior número de candidaturas de que foi um grande passo que já foi dado. O
de Ruy Duarte de Carvalho. Na vida de um
sempre e especifica a origem das propostas: desafio é dar prosseguimento, dar um passo
angolano que ele decidiu ser”. Ruy Duarte
279 de Espanha, 264 do Brasil, 146 de Por- à frente”. Sem querer adiantar pormenores
de Carvalho era uma “figura multifacetada
tugal e 110 dos restantes países da América concretos sobre a forma como vai exercer
que estava a construir uma obra colossal, a
Latina, para além das inscrições de África e o seu mandato, a nova ministra admitiu no
qual conjugava ainda com a poesia. Era um
de outros países. O programa completo do entanto ao mesmo jornal: “a Funarte, que
homem que escrevia poesia, fazia cinema,
Festival será apresentado em Abril de 2011. trabalha directamente com as artes, será
dedicou-se à ficção aproximando-se do ro-
Entretanto, sob a coordenação das so- uma prioridade”.
mance, da crónica, do documentário político,
ciólogas Helena Santos e Sara Carvalho, Com formação académica na área da inter-
da descrição das experiências que viveu…”.
da Universidade do Porto, o FITEI prepara pretação musical e teatral, Ana de Hollanda
Tendo convivido pessoalmente com Ruy
a organização e a abertura ao público do editou quatro discos, o último dos quais
Duarte de Carvalho, António Augusto Bar-
seu Centro de Documentação, que reúne – “Só na canção” – em 2009, com 14 fai-
ros salientou ainda a sua veia mais humana:
cenaberta 14
Dezembro 2010

Política cultural externa portuguesa:


Do discurso à prática
Rui Machete e António Luís Vicente re- grande parte dos recursos, já de si
|\||||\ O Homem Elefante
Bernard Pomerance. Lisboa: Teatro Nacional
D. Maria II, 2010.

O que é a dramaturgia?
Joseph Danan. Évora: Ed. Licorne, 2010.

na estante
flectem, no livro "Língua e Cultura na diminutos” e restringe o seu campo de
O Segredo de Conceição
Política Externa Portuguesa" recente- acção às comunidades académicas. Pelo Cândido Gonzalez Ferreira. Lisboa: Dinossauro,
mente publicado pela Fundação Luso- contrário, instituições “congéneres” 2010.
-Americana para o Desenvolvimento como o Instituto Cervantes, a Alliance Os negros
(FLAD), sobre o que (não) tem sido Française ou o British Council apostam Últimas aquisições Jean Genet. Lisboa: Artistas Unidos / Cotovia,
feito pelo há muito na criação de fortes centros 2010.
do Centro de Documentação e
Estado no de língua e cultura, com instalações Informação da Cena Lusófona Retórica e Teatro: a palavra em acção
domínio próprias nos centros das principais Org. Belmiro Fernandes Pereira e Marta
Várzeas. Porto: Universidade do Porto, 2010.
da pro- cidades do mundo, relativa autonomia 100 Marés: Comemoração do cen-
moção de gestão, capacidade de organizar tenário de Augusto Gomes Retratos de escritores da Comunidade
Org. Câmara Municipal de Matosinhos. Matosi- de leitores
da língua iniciativas próprias e de gerar receitas. nhos: Câmara Municipal, 2010. Pintura de Emerenciano e texto de António
portu- A criação destes centros, defendida Oliveira. Santo Tirso: Câmara Municipal, 2010.
guesa. no livro, pode ser feita gradualmente 3.ª Pessoa, Singular
Jorge Lobato Monteiro. Lisboa: Escola Superior Sagrada família
A língua e e deve ter em conta uma definição de Teatro e Cinema, 2010. Jacinto Lucas Pires. Lisboa: Cotovia, 2010.
a cultura política de prioridades de que tam-
20.ªs Jornadas Culturais de Vila das Snapshots
portugue- bém se sente a falta em Portugal. Será Aves: Encontro de Cultura Carlos J. Pessoa. Lisboa: Teatro Nacional D. Ma-
sa são um necessário, afirmam, “proteger a língua Coord. Centro Cultural de Vila das Aves. Santo ria II / Bicho do Mato, 2010.
Tirso: Câmara Municipal, D.L. 2008.
dos mais portuguesa de uma tentação comum: Tão só o fim do mundo / As regras da
impor- a de apoiar, mesmo que de forma A fanfarra e outros textos arte de bem viver na sociedade mo-
Karl Valentin. Lisboa: Artistas Unidos / Cotovia, derna / Estava em casa e esperava que
tan- superficial, iniciativas em dezenas de 2010. a chuva viesse
tes países porque tal fornece a sensação Jean-Luc Lagarce. Lisboa: Artistas Unidos,
recursos estratégicos de Portugal e de que o português está a crescer e A obra de arte na época da sua re- 2004.
produção mecanizada
a sua promoção no mundo pode tra- a alastrar para os locais mais díspares Walter Benjamin. Lisboa: Escola Superior de Teatro Circo: Tres textos
duzir-se em relevantes vantagens políticas, e inesperados”. Nesse sentido, os Teatro, 2010. Cilha Lourenço Módia. A Coruña: Deputación
da Coruña, 2010.
diplomáticas e económicas, mas o país autores sugerem a aposta nas grandes A orelha de Deus
tarda em assumi-la como eixo central capitais mundiais, tendo naturalmente Jenny Schwartz. Lisboa: Artistas Unidos / Cul- Teatro do mundo: linguagens barrocas
turgest / Cotovia, 2009. do teatro europeu
da sua política externa. Rui Machete em conta a sua dimensão própria mas Centro de Estudos Teatrais da Universidade do
e António Luís Vicente denunciam o também o potencial efeito de irradia- A varanda Porto. Porto: CETUP, 2007.
“escasso investimento público” feito ção do investimento realizado: Berlim, Jean Genet. Lisboa: Artistas Unidos / Cotovia,
2010. Teatro do mundo: o teatro na Univer-
nesta área e salientam a existência Londres, Madrid e Paris na União Euro- sidade: Ensaio e projecto
de "um fosso aprofundado entre o peia; Nova Iorque, Boston, Washington, As quatro gémeas / A noite da Dona Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Luciana / Uma visita inoportuna [ed. lit.]. Porto: FLUP, 2007.
discurso público, onde estas questões Chicago e São Francisco nos EUA; São Copi. Lisboa: Artistas Unidos / Cotovia, 2010.
são apresentadas em tons emotivos e Paulo, Rio de Janeiro, Luanda e Maputo Teatro do mundo: teatro e justiça:
Abrigos: condições das cidades e ener- afinidades electivas
assumidas como de vital importância, e no espaço lusófono; Pequim, Hong- gia da cultura Centro de Estudos Teatrais da Universidade do
a prática quotidiana". -Kong, Xangai, Macau, Bombaim, Goa e António Pinto Ribeiro. Lisboa: Cotovia, 2004. Porto. Porto: CETUP, 2009.
Os autores salientam o “considerável Nova Deli nos países emergentes do Aquilino Ribeiro Teatro do mundo: What’s our life? A
desconhecimento das autoridades continente asiático. Coord. António Manuel Ferreira e Paulo Neto. play of passion: lugares do Palco, espa-
públicas sobre os indicadores relativos Tendo em vista o necessário “upgrade Aveiro: Universidade de Aveiro, 2009. ços da cidade
Centro de Estudos Teatrais da Universidade do
ao ensino do português nas escolas e da política cultural externa portu- Barcelona, mapa de sombras / Après Porto. Porto: CETUP, 2008.
universidades estrangeiras" e a falta de guesa” recomendam às instituições moi, le déluge
Lluïsa Cunillé. Lisboa: Artistas Unidos / Cotovia, Um precipício no mar / Punk Rock
avaliação das actividades desenvolvidas públicas nacionais: uma cuidada recolha 2010. Simon Stephens. Lisboa: Artistas Unidos / Co-
e/ou financiadas pelo próprio Estado, estatística, a análise comparativa com o tovia, 2010.
Cão morto em tinturaria: os fortes
que conduzem a uma “considerável dis- que os outros países fazem, a avaliação Angélica Liddell. Lisboa: Artistas Unidos / Co- Vontade
cricionaridade na acção”. “Muitas vezes, das políticas executadas, uma maior tovia, 2010. Maria Neves Lopes. Lisboa: Escola Superior de
o que fica para a memória histórica das disciplina na escolha de prioridades Teatro e Cinema, 2010.
Cultura e multiculturalidade
acções dos vários institutos, embaixa- geográficas, a utilização de recursos João Maria Mendes. Lisboa: Escola Superior de Publicações periódicas:
das e consulados é o mero elenco locais, uma maior articulação entre Teatro e Cinema, 2010.
Anais do Município de Faro
das acções empreendidas, o que em política da língua e política de comu- Facialidades Ed. Câmara Municipal de Faro, vol. XXXVI
si mesmo é pouco mais do que um nidades e a convergência com outros João Maria Mendes. Lisboa: Escola Superior de (2009-2010).
Teatro e Cinema, 2010.
número”, assinalam. países numa atitude “mais comercial” Artistas Unidos
Na sequência do trabalho que a FLAD de promoção da língua (da qual a cria- Hedda Dir. Jorge Silva Melo, n.º 24 (Dez. 2009).
José Maria Vieira Mendes. Lisboa: Artistas Uni-
tem desenvolvido nos Estados Unidos ção gradual de uma rede de “institutos dos / Cotovia, 2010. Forma Breve: revista de literatura
da América (EUA) sobre o ensino de língua portuguesa, financeiramente Coord. António Manuel Ferreira, n.º 7 (2009).
do português no estrangeiro, o livro sustentáveis” poderá ser um bom My Old Place
Fotografia de João Leal e texto de António Al- TDR - The Drama Review: the journal
elenca três razões fundamentais para instrumento). berto de Castro Fernandes. Santo Tirso: Câ- of performance studies
a intervenção do Estado: garantir a Paralelamente, e falando em nome mara Municipal, 2008. Ed. Richard Schechner, Vol. 54, n.º 3 (Fall 2010).
presença de Portugal no ensino do da FLAD (a cujo Conselho Executivo
português no mundo não lusófono Rui Machete preside desde 1998), os
(em articulação com o Brasil, sem autores reiteram a disponibilidade
subserviência nem complexos de da Fundação para se assumir como
superioridade); garantir uma oferta de parceiro do Estado nesta missão. Não
qualidade às comunidades portuguesas obstante o facto de caber ao Estado
na diáspora e aos seus descendentes; “liderar o processo” e “reflectir sobre
para que o português possa competir os pressupostos estratégicos da sua
com outras línguas (o castelhano, o acção”, instituições da sociedade civil,
inglês, o francês), cuja promoção é “como a Fundação Luso-Americana
fortemente apoiada pelos respectivos e tantas outras interessadas nestes
Estados; para certificar a qualidade do temas, podem, na medida das suas
ensino da língua. capacidades e competências específicas,
Machete e Vicente criticam a excessiva contribuir por forma construtiva para
ênfase colocada pelo Instituto Camões o sucesso destas acções”.
na criação e manutenção de leitorados
em universidades estrangeiras: “esgota Pedro Rodrigues

cenaberta 15
cenaberta Dezembro 2010

ROSTOS DA CENA

Elias Macovela
Para quem o ouve, parece que a vida de Elias Macovela é um corpo pré-programado, construído
de passos inevitáveis. Como um destino. E no entanto, ouvindo bem, descobre-se que tudo en-
fim não passará de um encadeado de acções com final feliz, acasos abertos pelo culto do risco, na
vertigem do fio da navalha. Com luz e teatro pelo meio.
Augusto Baptista Aquando da preparação da 1.ª Estação da Cena Lusófona e  terminámos com 20 formandos, pessoas que vinham de
no Maputo, em 1995, as duas pessoas responsáveis pela área longe, a pé, para participarem na formação. Foi uma lição de
de iluminação na Casa Velha, o Hélio Neves e o António vida. Na oficina dei ênfase ao plano estético, transmiti que,
Miguel, estavam na fase final das licenciaturas, não tinham antes de existir electricidade, os teatros eram iluminados
tempo, acabei eu por ficar mais ligado ao João Carlos por tochas, velas. Procurei  passar a noção de que a ilumina-
Marques, "Tarzan", e ao António Rebocho, técnicos de luz ção não tem de ser feita com projectores supermodernos,
do CENDREV, ajudando-os na montagem da peça “De Volta mesas de luz topo de gama. Há alternativas. Essa noção
da Guerra”, encenada pelo Fernando Mora Ramos. Além do ficou expressa no manual técnico que lhes facultei e nas
espectáculo, ajudei na recuperação de todo o equipamento aulas, nos exercícios práticos.
técnico da Casa Velha, sem deixar de ir à escola. A condição Em Coimbra trabalhei como lightdesigner em "O Horácio",
era essa. Tanto dos meus pais como do João. fiz o desenho de luzes com Pierre Voltz, um grande pro-
Depois da 1.ª Estação, o João regressou a Portugal, eu, miú- fessor, e o António Jorge. Desde então passei a integrar a
do de 17 anos, operador do espectáculo, um dia recebo um Cena Lusófona, como associado, membro efectivo.
telefonema dele a propor-me um estágio de iluminação. Fui Em 2004 volto a Lisboa, regresso ao Teatro S. Carlos e, em
para Évora, fiz o estágio com o espectáculo “Os Homens”, 2005, sou seleccionado para director técnico do Teatro
com encenação de Luís Varela. Virgínia de Torres Novas. Monto a equipa técnica toda,
Regressei com muitos sonhos, as coisas tinham corrido faço a coordenação do arranque da companhia, ponho-a a
muito bem em Évora. No Maputo assumi a montagem de funcionar na área de iluminação e, no Verão de 2006, decido
vários espectáculos teatrais, integrei um curso de ilumi- correr novo risco.Após algum tempo no desemprego, volto
nação e fotografia para cinema e dei o meu contributo, ao Teatro Nacional de São Carlos.
nestas áreas técnicas, nos filmes “Tempestade da Terra” e Paralelamente, em 2005, criei em Lisboa o Festival de
“Comédia Infantil”. Entretanto, numa vinda minha a Lisboa, Cinema Africano, que já vai na 3.ª edição, muito com base
conheci o Orlando Worm e, quando ele foi em 96 ao Ma- no apoio documental que encontrei no Centro de Docu-
puto dar formação no âmbito da Cena Lusófona, apoiei-o mentação e Informação da Cena Lusófona.
nessa acção. Logo aí se ventilou a hipótese de eu poder Entre 2006 e 2007 trabalhei no Teatro Nacional de São
vir a trabalhar na EXPO. Carlos, de onde decidi sair por força da preparação da 3.ª
Em 98, eu a entrar para a universidade, recebo um tele- edição do Festival de Cinema Africano e para lançar, em
fonema do Paulo Ramos, assistente do Orlando, a man- 2008, o meu primeiro projecto empresarial: a Pantheon
dar-me avançar. Auscultei a família, ponderei, decidi-me Entertainments, SA, uma empresa de distribuição de
pela vinda para Lisboa. No âmbito da EXPO, trabalhei no cinema.
Eu sempre fui de desafios, de me colocar na linha de risco CCB-Centro Cultural de Belém, no Teatro Trindade e, mais Depois da Pantheon, decidi constituir sozinho a Malayka
para perceber até que ponto me consigo aguentar, não sou tarde, fiquei a trabalhar no Teatro Camões, até finais de Cinemas, empresa de gestão de salas, que explora comer-
dado a situações de segurança. No teatro – seja no palco Dezembro de 1998. cialmente o cinema Nun’Álvares, no Porto. Paralelamente,
seja nas áreas técnicas – trabalhamos no limite. Actores e Em 99 resolvi voltar a Moçambique, fiz as luzes de “A fiz uma pós-graduação em Gestão de Empresas, por achar
técnicos, em cada peça, sentimos um desafio novo. Temos Sapateira Prodigiosa”, co-produção Cena Lusófona e Casa que um empreendedor só pode competir pelo conheci-
de nos superar em cada ensaio, atingir o máximo em cada Velha, encenação de José Mora Ramos. Este espectáculo mento, pela competência.
espectáculo. Nada do que fazemos é igual ao que fizemos. teve uma digressão por Évora, Coimbra e por aí fora. E E se de hoje para amanhã fosse obrigado a encerrar a
No teatro aprendi a viver neste risco. isso trouxe-me de novo a Portugal, ainda em 99. Aqui minha actividade empresarial – e tal não espero – teria
Nasci no Maputo em 9 de Julho de 1977, sou o quinto de trabalhei no Coliseu dos Recreios até finais de Outubro, sempre qualquer coisa para fazer, um projecto. Regressar
uma família de seis irmãos. Até aos 12 anos vivi na Polana, depois como freelancer e, no início do ano 2000, entrei à luz, ao teatro.
bairro chique, numa vivenda grande. E tinha um cão. Os como efectivo para o Teatro Nacional de São Carlos, depois  
meus pais, funcionários públicos, sempre trabalharam, mas para a Cornucópia. entrevista de Augusto Baptista
o pico da guerra civil foram tempos difíceis. Tivemos de A passagem pela Cornucópia foi tão intensa que a dada
vender a casa, fomos para um apartamento no Alto Maé, altura senti que devia parar, reflectir, alargar os meus ho- ELIAS MACOVELA (Maputo, 1977) deu os primeiros
na fronteira entre a cidade e o subúrbio, um apartamento rizontes. Matriculei-me no curso de Estudos Africanos da passos da vida teatral na Associação Cultural da Casa
gradeado, como todos os apartamentos no Maputo. Universidade de Lisboa e, em 2002, decidi romper. Tinha Velha (Maputo). No âmbito da preparação da 1.ª Estação
O meu cão teve de ir para casa de um amigo, morreu-me aprendido tanto em tão pouco tempo que senti necessi- da Cena Lusófona em Moçambique (1995), inicia-se na
passados três meses, o Fusca. Deprimido. Eu não conseguia área técnica da iluminação. Em Lisboa, sob orientação
dade de assimilar tudo aquilo, decidir o que queria fazer
de Orlando Worm (EXPO’98), abraça profissionalmente
fazer amigos no novo bairro, ia para a varanda, metia a mão da minha vida.
a técnica de iluminação e o lightdesign, apoia projectos
fora das grades para poder tocar o ramo de uma acácia. E Sem trabalho, passei a dedicar-me mais aos estudos e
de teatro independente, colabora ou vem a integrar o
isso fez com que me agarrasse ao meu irmão mais velho, também à coordenação de espectáculos em pequenos
quadro de várias companhias e teatros. No âmbito da
que já tinha 20 anos e fazia parte da Associação Cultural espaços de teatro experimental, não tanto como técnico, Cena Lusófona: assina o desenho de luz em “A Sapateira
da Casa Velha. mais como “designer” de luz. É então que em 2003 sou Prodigiosa”, encenação de José Mora Ramos (1999) e as-
Como eu gostava muito de ler, o meu irmão trazia-me convidado para fazer a coordenação técnica da IV Estação sume a coordenação técnica da iluminação na IV Estação
livros da Casa Velha e, em breve, passei a frequentar a as- da Cena Lusófona, no quadro da Coimbra Capital Nacional e coordena uma Oficina de Iluminação em Bissau (2003).
sociação e a ver peças de teatro.Teria eu 14 anos, na peça da Cultura, e também para dar uma acção de formação na Participa na realização de vários filmes, área de iluminação
“O Osso” uma vez faltou um dos figurantes que segurava área da iluminação, em Bissau. e fotografia, e, entre 2005 e 2007, organiza em Lisboa três
o caixão em que ia o Mário Mabjaia, “morto”. Como eu Do ponto de vista humano, a ida à Guiné-Bissau foi um edições do Festival de Cinema Africano. Funda a Panthe-
conhecia a peça, as falas, substituí o faltoso. E comecei a momento marcante na minha vida. Impressionou-me a on Entertainments (2008) e a Malayka Cinemas (2009).
participar nos espectáculos. Entrei em “Três pretendentes garra dos guineenses. Em Bissau não havia electricidade, A nível académico, concluiu o 12.º ano em Moçambique
um marido”, em “O Jarro” de Pirandello, aí com 15, 16 anos. as pessoas não tinham a possibilidade de ler à noite, não (1997); ingressou no Curso de Estudos Africanos, Univ.
Também entrei em “sketches”. Mas não tinha talento no tinham água canalizada. Havia uma greve dos professores Lisboa (2001); concretizou pós-graduação em Gestão de
palco e passei a interessar-me pela iluminação. que durava há mais de um ano. E entretanto começámos Empresas, ISLA, Lisboa (2010).

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