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Estado, instituições e
interesses:
as duas lógicas do corporativismo no Brasil
Porto Alegre - RS
3 a 5 de outubro de 2001
Resumo
O objetivo desta comunicação é discutir as modalidades de inserção dos interesses privados no aparelho do
Estado brasileiro em dois períodos autoritários: o “Estado Novo” (1937-1945) e o regime ditatorial-militar
(1964-1985). Na primeira experiência, analiso a instituição que substituiu as câmaras de representantes
políticos, extintas por força da Constituição de 1937: os Conselhos Administrativos dos estados; no segundo
momento, discuto a dominância de um sem-número de conselhos interministeriais na área de política
econômica e seu papel predominante no sistema decisório. Esses dois casos, particularmente ilustrativos das
formas de relação Estado-sociedade no Brasil, pretendem ilustrar as lógicas complementares do
“corporativismo econômico” e do “corporativismo político” em contextos não-democráticos.
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Introdução
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Cf., sobre o tema, o balanço realizado por Araújo e Tapia, 1991.
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A forma institucional assumida pelo aparelho do Estado tem um peso decisivo sobre
as articulações em torno do processo de formulação de políticas públicas e planejamento da
atividade econômica. Num sentido muito preciso, ela condiciona os graus (maior ou menor)
e o tipo (formal ou informal) de participação das frações da burguesia no processo decisório.
Contudo, o sistema estatal não é uma variável independente: sua configuração interna
obedece não só a fatores estruturais, mas também a uma outra ordem de razões mais
específicas — à natureza do regime político.
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O regime político, tal como entendido aqui, compreende: (a) o modo de configuração e o funcionamento
particular do sistema de representação de interesses (partidos, associações, sindicatos etc.); e (b) o padrão
vigente de liberdades políticas que regula a luta eleitoral e a competição pelo poder por parte desses últimos.
Esse "padrão" é sempre variável segundo as "fases" sucessivas no desenvolvimento de um regime específico e
obedece, no geral, ao ritmo das lutas de classe. A forma de Estado diz respeito, simplificadamente, à relação de
forças entre os diferentes ramos do sistema estatal (principalmente à relação Executivo-Legislativo), de acordo
com a participação de cada um deles no conjunto do processo decisório.
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Grosso modo, o "corporativismo", tal como utilizado neste trabalho, é um mecanismo institucionalizado de
participação formal de determinados setores sociais junto a certos órgãos do aparelho de Estado. Se ele, em
alguma medida, implica um controle relativo do próprio Estado sobre esses setores e grupos "profissionais", é
também um poderoso esquema que afirma a influência destes últimos sobre as decisões do primeiro através
da incorporação das grandes organizações que reúnem e representam interesses na própria estrutura
administrativa do governo. O "corporativismo", portanto, é um conjunto de estruturas que vincula o Estado à
sociedade, distinto de outros modos de vinculação (como os partidos políticos num regime "pluralista", por
exemplo). Isso significa que o conceito de corporativismo limita-se a esse aspecto e não deve ser ampliado no
sentido de caracterizar de forma suficiente: a) um ou outro pólo da relação ("sociedade corporativista";
"Estado corporativo"); ou b) no sentido de constituir um atributo imutável e geral, que pertence ao domínio da
"cultura política" latino-americana com raízes ideológicas profundas na região; ou, enfim, c) ser postulado
como um paradigma alternativo para a caracterização dos novos regimes políticos ("regime corporativo",
"regime fascista" etc.). Cf. O’Donnell, 1976: 2.
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acumulação capitalista; a partir da década de 50, ele tornou-se, ao mesmo tempo, promotor
e ator econômico.
"planejou, regulou e interveio nos mercados, e tornou-se ele próprio produtor e empresário;
através de seus gastos e investimentos, coordenou o ritmo e os rumos da economia e, através de seus
aparelhos e instrumentos, controlou e se imiscuiu até o âmago da acumulação capitalista. Do ponto de
vista social e político, regulou as relações sociais, absorveu no interior de suas estruturas os interesses
sociais e se transformou numa arena de conflitos, todos eles 'politizados', mediados e arbitrados pelos
seus agentes. Debilitou as instituições representativas e solapou as formas autônomas de aglutinação
e expressão de interesses e conflitos. Manifestou-se como Executivo forte, como aparelho
burocrático-administrativo moderno e complexo e passou a operar através de um corpo cada vez
maior e mais sofisticado de funcionários, os novos burocratas, metamorfoseados, nestas
circunstâncias, em aparente 'tecnocracia'" (Draibe, 1985: 20; grifos meus).
O Estado, que em virtude de sua enorme função histórica assumiu um alto grau de
autonomia em relação à sociedade, tornou-se assim o locus privilegiado de processamento
dos conflitos sociais. Na ausência de uma cena política autenticamente democrática e
"competitiva" e de forças sociais autônomas, foi no âmbito do seu aparelho, transformado
em arena política, que os diversos interesses dominantes puderam expressar-se, competir e
se resolver.
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A criação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em 1909, é um exemplo paradigmático que em
ampla medida antecipa esse fenômeno. "Peça menos 'desprezível' do que se imagina, tanto na manutenção do
equilíbrio do jogo oligárquico, quanto na configuração da ossatura do aparelho do Estado brasileiro, o
Ministério prefiguraria, em muitos aspectos, práticas institucionais que dariam origem àquelas ratificadas no
pós-30". Resultado da intensa campanha política movida pelos setores não-hegemônicos da economia
exportadora, reunidos em torno do Sociedade Nacional da Agricultura, o MAIC surge, a um só tempo, como o
"espaço político-institucional da articulação de frações dominadas da classe dominante" e o estabilizador, a
nível institucional, dos diferentes interesses presentes no seio do sistema político oligárquico. Cf. Mendonça,
1990: 422 e 424, respectivamente.
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Para uma visão ampla da atividade regulatória do Estado brasileiro entre 1956 e 1985, cf. a relação elaborada
por Santos, 1987: 135-36.
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Sobre este aspecto v., entre outros, Leopoldi, 1991: 71-99.
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Sobre o CFCE, cf. Diniz, 1978.
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São exemplos desse tipo de esforço os trabalhos de: Wiarda, 1974, O’Donnell, 1976 e Stepan, 1980. Cf.
também o trabalho pioneiro de Schmitter, 1971. A bibliografia sobre o "corporativismo" é extensa e variada.
Para uma visão geral a respeito da "questão do corporativismo" na América Latina, cf. Malloy, 1977. V. também
para uma discussão mais localizada: Baretta e Douglass, 1977: 513-524.
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sociedade civil". Ele é, por outro lado, segmentário, pois seu funcionamento real difere
segundo clivagens objetivas determinadas pela classe social (existe, por assim dizer, um
corporativismo das classes dominantes e um corporativismo das classes dominadas)
(O’Donnell, 1976: 3). Logo, nos Estados "mais consolidados" parece haver-se produzido a
subordinação de certas organizações empresariais ao Estado (principalmente da burguesia
nacional), quer do ponto de vista formal, quer do ponto de vista estritamente financeiro.
Ocorre, contudo, que mesmo mediante a "corporativização estatizante", setores específicos
da classe dominante conservam poderosos recursos organizacionais e numerosos canais
informais de acesso ao aparelho do Estado. Ademais, "setores economicamente dominantes
encontram nestas áreas um mecanismo importante de controle sobre o Estado" (O’Donnell,
1976: 35). Como isso se deu no Brasil pós-64?
"sob outro nome (o de 'ação administrativa'), [foi] intensa a atividade política no interior do
aparelho do Estado e nas interseções dele com aquelas áreas da sociedade que a ele têm acesso.
Nesse sentido, e justamente porque articula[vam] e agrega[vam] interesses variados, transformando-
os em políticas públicas, [certas] agências [burocráticas] como que se 'substitu[íam]' aos partidos
políticos" e demais instituições representativas (Martins, 1985: 194; grifos meus).
brasileira, dezesseis agências corporativas que contavam, na sua formação oficial, com a
presença de representantes do "setor privado". Depois de março de 1964, surgiram mais
vinte e quatro órgãos desse tipo, seja revogando os anteriores, seja sobrepondo-se ou
somando-se a elas, modificando ou criando novas agências de representação de interesses
(cf. Guimarães et al., 1979: 112-113). Ainda que não se possa afirmar que esses conselhos
econômicos tenham funcionado efetivamente dentro dos formatos representativos
previstos legalmente, "isso não invalida [...] a constatação empírica de que
institucionalmente apareceram — e de forma crescente — estruturas de vinculação de
interesses sociais no aparelho estatal" segundo um modelo estritamente corporativo
(Guimarães et al., 1979: 114).
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A constituição do Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE), em meados de 1974, expressou, de forma
destacada, a tentativa de pôr fim a um tipo de organização disfuncional de representação de classe — o
"corporativismo", em primeiro lugar, e a articulação de interesses via "anéis burocráticos", em seguida. A
reforma administrativa implementada no primeiro ano da administração Geisel deve ser vista, portanto,
essencialmente, como uma reação burocrática à "colonização" das agências do Estado ditatorial por interesses
de todo tipo e à fragmentação e divisão do aparelho do Estado em múltiplos conselhos agindo sem qualquer
coordenação, o que acabava pondo em risco a "racionalidade" global do processo decisório. Segundo o projeto
dos principais decision-makers, tratava-se então de criar uma agência burocrática (mas com funções
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imediatamente políticas) que fosse capaz de utilizar os recursos do Estado com "relativa autonomia" em face
dos interesses burgueses. Esse acréscimo de autonomia foi o resultado necessário quer da centralização-
concentração da formulação da política econômica numa instância hierarquicamente superior no
organograma, quer da exclusão das frações dominantes do seio do aparelho do Estado através da eliminação
tout court, num caso, ou da atenuação, em vários outros, da representação corporativa. Cf. Codato, 1997.
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Para o caso do CIP, cf. Diniz e Boschi, 1987: 57-101. Para os casos do Conselho de Política Aduaneira e da
Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil, v. Martins, 1985: 155-191. A título de ilustração, vale a pena
citar o caso dos Comitês de Estudo e Programação do Comércio Exterior dos setores de "papel e celulose" e
"eletro-eletrônicos", criados pela CACEX em meados dos anos setenta e integrados por representantes de
sindicatos e associações de "produtores". Eles funcionaram, ao lado de uma série de Comitês de Exportação
(de Sucos Cítricos, de Couro e Derivados, de Produtos Manufaturados Têxteis etc.), como "mecanismos de
pressão governamental e de contrapressão empresarial, estabelecendo composições de interesses e se
constituindo em verdadeiras arenas políticas nas quais o setor privado [representava] seus interesses e nas
quais a CACEX, por sua vez, [assumia] o papel de interlocutor privilegiado do governo junto a esses interesses"
(Martins, 1985: 165).
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Do ponto de vista que nos interessa aqui, pode-se dizer que as necessidades
complexas da fase econômica que se abriu a partir do domínio da grande empresa
capitalista fizeram do aparelho do Estado, mais do que nunca, a arena privilegiada de
conciliação e mediação dos múltiplos interesses das frações integrantes do bloco no poder.
Os novos papéis e funções políticas da administração pública, nesse contexto, foram
detectadas, num ensaio pioneiro, por Fernando Henrique Cardoso:
“Classicamente se pensa nos partidos como o instrumento pelo qual os grupos sociais
agem com vistas ao poder. A título de palpite [sic], eu diria que no caso brasileiro, [no
contexto do regime pós-64], as próprias organizações do Estado (inclusive as empresas
públicas) [foram] utilizadas pelos grupos como aparato político [...]. Assim, à hipótese da
existência, do fortalecimento e da expansão de um poder burocrático e tecnocrático em
oposição à sociedade civil e a seus mecanismos clássicos de luta pelo poder [...], eu
apresentaria a alternativa de pensar os vários setores do Estado [ministérios,
departamentos, divisões] como facções em luta política, [onde] cada um deles [estaria]
ligado a interesses sociais distintos" (Cardoso, 1975: 181-182).
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Esse ato, juntamente com as demais medidas de exceção contidas nas “Disposições
transitórias e finais” da Carta redigida por Francisco Campos, inflacionou ainda mais a
influência de Vargas, concretizando o processo de centralização política e esvaziamento do
poder das oligarquias regionais através de um controle bastante severo da autonomia
política, econômica, tributária, administrativa e militar dos diversos estados da federação.
Mas se essa fórmula autoritária pretendia resolver certos problemas colocados pelos
círculos dirigentes do regime — tais como: a “caótica rivalidade partidária”, o “caudilhismo
regional”, “a extremação de conflitos ideológicos”, a “infiltração comunista”, o “clientelismo
parlamentar”, vigentes mesmo após as pretensões da Revolução de 30 —, acabava criando
outros, mais delicados.
O caso específico de São Paulo ilustra bem o delicado terreno em que se moviam
grupos ascendentes e declinantes. A indicação de Adhemar de Barros para a Interventoria
Federal no início de 1938, substituindo o democrata Cardoso de Mello Neto, representou um
golpe duro de Vargas no perrepismo dominante no estado. De acordo com Edgard Carone,
“Adhemar de Barros *era+ do PRP, mas da ala jovem. Em vez de Getúlio Vargas escolher
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Nesse mesmo período, provavelmente em função das dificuldades de todo o tipo que
surgiam nas outras interventorias, Vargas, por sugestão de Francisco Campos, resolve dotar
os estados, “até a outorga das respectivas Constituições” (Art. 1º), de um código
administrativo, o decreto-lei no 1 202, que regulasse a política regional. Assim, divide as
funções governativas entre duas entidades: a Interventoria Federal e o Departamento
Administrativo. Os interventores teriam, por sua vez, o poder de nomear os prefeitos
municipais e o membros do Departamento Administrativo seriam escolhidos diretamente
pelo Presidente da República.
Seria ingênuo imaginar que a nomeação de dois tradicionais políticos do PRP, antigos
adversários de Getúlio Vargas, Goffredo Teixeira da Silva Telles e Alexandre Marcondes
Filho, para a presidência e vice-presidência do DAESP, respectivamente, fosse simples
coincidência. A formação inicial do Departamento refletia o desejo explícito de acomodar as
forças políticas autenticamente “paulistas”, de relações estremecidas com o “ditador” desde
1932, e garantir algum grau de “pluralismo”, ainda que limitado, ao regime político12.
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“A escolha e a posse de Adhemar de Barros não são vistas com bons olhos pela liderança do PRP e pelo
próprio Ministro paulista da Agricultura, Fernando Costa” (Carone, 1976: 149).
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Uma curta biografia desses dois líderes políticos serve para instigar a curiosidade sobre as pretensões (e o
cálculo político) de Getúlio. Goffredo Teixeira da Silva Telles (1888-1980) nasceu no Rio de Janeiro em
17/04/1888 e faleceu em São Paulo em 30/06/1980. Era descendente de tradicional família de proprietários de
terras e cafeicultores do interior paulista. Em 1910 ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, pela qual
bacharelou-se em 1915. Foi verador municipal em São Paulo. Líder do PRP, foi nomeado prefeito de São Paulo
em maio de 1932. Participou da Revolução Constitucionalista e, com a derrota do movimento, em outubro, foi
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Dos sete membros iniciais, Goffredo Telles, Marcondes Filho, Arthur Whitaker,
Antonio Gontijo, Cyrillo Júnior, Plinio Morais e Mario Lins, sabe-se com segurança que pelo
menos três deles eram políticos destacados do Partido Republicano Paulista.
“‘Getúlio: — Preciso de sangue novo em São Paulo, com pessoa que traga idéias novas ao
regime. Conto com sua colaboração’. Não vacilei um instante sequer, pois em meu ser sempre
atuaram duas valências, uma jurídica, outra política, ambas em busca de sincronia. Aceitando o
convite, indaguei se o Interventor Fernando Costa ou o presidente do Departamento [Goffredo Telles]
estavam a par de meu ingresso em órgão tão relevante na vida administrativa de meu estado. Foi
então que notei a veia humorística de Getúlio Vargas, o qual, após uma baforada de charuto que o não
largava, indagou: — ‘Para quê? Na minha terra costuma-se dizer que se deve encostar o relho ora no
burro, ora na cangalha, para o burro saber que tem dono...’” (Reale, 1986: 164).
o
preso por Getúlio alguns meses, tendo posteriormente se exilado na França. Cf. FGV-CPDOC, 1983, 4 vol.: p.
3337. Alexandre Marcondes Machado Filho (1892-1974) nasceu em São Paulo em 31/08/1892 e faleceu em
São Paulo em 16/10/1974. Advogado de prestígio (atuando na área de direito comercial) e jornalista, formou-
se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1914. Fez sua carreira política no PRP. Foi vereador na Câmara
Municipal de São Paulo e líder da bancada situacionista (PRP) (1926) e deputado federal pela mesma legenda
do PRP (SP) de 1927 a 1930. “Apoiou a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República e opôs-se à
Revolução de 30. Fez oposição ao Governo Provisório revolucionário, tendo sido um dos signatários do
“Manifesto” divulgado pelo PRP contra o mesmo (1932). Após a derrota do movimento constitucionalista
paulista, do qual tomou parte, afastou-se das atividades políticas (1932). Durante o Estado Novo foi Vice-
Presidente do DAESP (1939-1941); Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio (1941-1945); Ministro Interino
da Justiça e Negócios Interiores (1942-1943); Ministro da Justiça e Negócios Interiores (1943-1945). No
contexto da redemocratização foi um dos principais dirigentes e organizadores do PTB. [...] Durante o Estado
Novo foi um dos principais organizadores da Conferência dos Conselhos Administrativos dos Estados realizada
no Rio de Janeiro - DF (1943) e um dos idealizadores e Presidente do CNPIC durante o Estado Novo (1944-
1945). [Foi também] um dos mais destacados dirigentes ideológicos do Estado Novo. Durante sua gestão no
Ministério do Trabalho coordenou os trabalhos que resultaram na implantação da CLT *...+” (Braga, 1998: 106).
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Conclusão
Considerando o que foi exposto acima, é possível afirmar que o Estado brasileiro,
pelas suas funções e características, possui três atributos: como todo Estado capitalista, ele é
um aparelho de dominação (de classe); mas, mais especificamente, é, também, um "campo
privativo das elites" e o "árbitro" do conflito entre elas. "Dito de outra forma, é no seio do
Estado que se realiza tanto a articulação de interesses quanto sua agregação. Além disso, é o
Estado que exerce o poder moderador, isto é, é ele que se encarrega de arbitrar os conflitos
entre as elites e regulamentar a cooptação" (Martins, 1976: 28).
Ocorre que, num regime caracterizado por um "pluralismo limitado" (Linz, 1979: 320)
— isto é, que suprimiu, através de uma série de regulamentações estritas sobre o sistema
político, os representantes tradicionais das próprias frações do bloco no poder (seja por
meio da extinção do sistema partidário populista e sua substituição controlada por um
outro, artificialmente bipolar, seja por meio da série de cassações, destituições e depurações
que se seguiram ao golpe político-militar), reduziu as funções do sufrágio, rebaixou as do
Legislativo (notadamente em matéria orçamentária) e impôs um controle severo sobre as
"liberdades políticas" em geral —, essa função de "organização" torna-se particularmente
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