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e

ASSUNTO: Ocupação de Animal abandonado na via pública pelos


Municípios

DATA: 22/02/2010

PARECER

É colocada à nossa apreciação a questão de determinar o destino a


dar aos animais abandonados na via pública (em particular os
equídeos) e recolhidos pelo Município, nomeadamente, saber se
este pode apropriar-se dos mesmos, quando não sejam
reclamados pelo respectivo proprietário/detentor1, ou, sendo
reclamados por alguém, não seja feita prova da respectiva
titularidade, e, em caso afirmativo, qual o procedimento a
adoptar para o efeito.

Tendo presente a legislação aplicável, a respostas às questões


suscitadas, implica a resolução das seguintes questões:

I. Quando é que se deve considerar um animal (equídeo),


abandonado na via pública (ou mesmo estando em
propriedade privada, no caso do abandono se manifestar na
violação pelos seus proprietários/detentores da legislação
que regula o bem-estar, a posse e detenção de animais
domésticos), para efeito da sua recolha pelo GMV.

1
O detentor é qualquer pessoa, singular ou colectiva, à excepção dos
transportadores, responsável a qualquer título, por um animal.

1
II. Qual o efeito jurídico produzido pelo abandono.

III. Considerando-se que o destino dos animais considerados


abandonados, deverá ser a sua apropriação pelo Município,
qual a tramitação a seguir para a concretização dessa
apropriação.

IV. Quid Juris caso o animal esteja perdido.

A legislação que serve de enquadramento à análise das questões sub


iudice é o Código Civil Português, o Regulamento de Animais do
Município de Sintra, o Decreto-Lei n.º 276/2001, de 17 de Dezembro,
com a redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 315/2003
de 17 de Dezembro, o Decreto-Lei n.º214/2008, de 10 de Novembro,
que estabeleceu as condições gerais para o exercício de actividades
pecuárias, tendo em consideração as normas relativas à salvaguarda
do bem estar animal, à protecção da saúde pública, à segurança de
pessoas e bens, à qualidade do ambiente e ao ordenamento do
território, a Portaria n.º 634/2009, de 9 de Junho, que estabelece as
normas regulamentares específicas aplicáveis à criação e detenção
de equídeos em harmonização com o Regulamento (CE) n.º 504/2008,
da Comissão, de 6 de Junho, e, de acordo com a alínea d) do n.º 2 do
artigo 4º do citado Decreto-Lei n.º214/2008, e o Decreto-Lei n.º
142/2006, de 27 de Julho, que estabelece as regras para a
identificação, registo e circulação dos Animais de espécie bovina,
ovina, caprina, suína, bem como dos equídeos (anexo IV).

2
O legislador classifica os equídeos em selvagens, semi-selvagens2 e
domésticos3, considerando-os «animais de espécie pecuária» nos
termos da al. c) do artigo 3º do Decreto-Lei n.º 214/2008, de 10 de
Novembro:

«Animal de espécie pecuária» é qualquer espécimen vivo bovino,


suíno, ovino, caprino, equídeo, ave, leporídeo (coelhos e lebres) ou
outra espécie que seja explorada com destino à sua reprodução ou
produção de carne, leite, ovos, lã, seda, pêlo, pele ou repovoamento
cinegético, bem como a produção com destino à sua reprodução ou
produção de carne, leite, ovos, lã, seda, pêlo, pele ou repovoamento
cinegético, bem como a produção pecuária de animais destinados a
animais de companhia, de trabalho ou a actividades culturais ou
desportivas.

Pese embora a produção nacional de equídeos, por regra, se integre


no âmbito da actividade agrícola, posteriormente aqueles animais são
utilizados para diversos fins, nomeadamente zootécnicos,
desportivos, lúdicos, culturais, pedagógicos, turísticos ou
terapêuticos.

2
Na alínea m) do artigo 2º da Portaria n.º 634/2009, de 9 de Junho o legislador
define como «Equídeos em estado selvagem ou semi-selvagem» aqueles que fazem
parte de populações não domesticadas, que habitam determinadas áreas
protegidas.
3
O legislador, na alínea l) do artigo 2º da Portaria n.º 634/2009, de 9 de Junho
define «Equídeo» como um mamífero solípede selvagem ou domesticado, de todas
as famílias compreendidas no género Equus da família dos equídeos e respectivos
cruzamentos.

3
Note-se, que a lei4 distingue a produção de equídeos propriamente
dita, da respectiva «detenção caseira»5, exigindo a verificação
de determinados requisitos legais, nomeadamente em sede de
identificação dos animais, apenas quando se trate do exercício
da actividade pecuária, sendo que considera detenção caseira a
detenção de apenas um equídeo.

As normas aplicáveis à sua criação e detenção, bem como as


condições específicas a que devem obedecer as instalações para
alojamento dos equídeos e as suas condições de funcionamento,
vêm previstas na Portaria n.º 634/2009, de 9 de Junho, em
conformidade com o Regulamento (CE) n.º 504/2008, da
Comissão, de 6 de Junho, e, em regulamentação do Decreto-Lei
n.º 214/2008, de 10 de Novembro, nos termos do n.º 2 do seu
artigo 4º, sendo a sua identificação determinada, nos termos do
Decreto-Lei n.º 142/2006, de 27 de Julho.

I. ANIMAL ABANDONADO

A legislação que regulamenta especificamente a posse e detenção


dos equídeos é omissa no que concerne à conceptualização de
equídeo abandonado, assim como também o é o Regulamento

4
Decreto-Lei n.º 214/2008, de 10 de Novembro, nº 2 e n.º3 do artigo 6º e Anexo II.

5
A alínea j) do artigo 3º do Decreto-Lei n.º 214/2008, de 10 de Novembro define
como «Detenção caseira» a detenção de um número reduzido de espécies
pecuárias por pessoa singular ou colectiva, não sendo consideradas como
explorações pecuárias e consequentemente não sujeito a controlo prévio ou a
registo da sua detenção, considerando -se que a posse desses animais tem o
objectivo de lazer ou de auto - bastecimento do seu detentor, com os limites
estabelecidos no anexo II do presente decreto -lei, do qual faz parte integrante;

4
Municipal supra citado, que apenas define cão e gato abandonado6 no
seu artigo 11º. Contudo, o Decreto – Lei n.º 315/2003, de 17 de
Dezembro que veio alterar e republicar o Decreto-Lei n.º 276/2001,
de 17 de Outubro7 (e que estabelece o regime da posse e detenção
dos animais de companhia), embora não defina animal abandonado,
específica no artigo 6º-A quando é que existe a conduta de abandono;
Considera que existe abandono do animal pelo seu
proprietário/detentor quando não há prestação de cuidados no
alojamento, bem como, quando aquele procede à remoção do animal
para fora do domicílio ou dos locais onde costuma ser mantido, com o
objectivo (animus abandonandi) de pôr termo à sua detenção sem
proceder à sua transmissão para a guarda e responsabilidade de
outras pessoas, das autarquias locais ou das sociedades zoófilas.

O próprio Código Civil, embora considere no seu artigo 1318º, que os


animais abandonados são susceptíveis de apropriação por ocupação,
não define o que para este efeito deve ser entendido como animal
abandonado, ou, abandono de animal, termos em que nos teremos
6
Nos termos da alínea h) do artigo 11º do Regulamento dos Animais do Município
de Sintra, considera-se “Cão ou gato abandonado: qualquer cão ou gato
relativamente ao qual existam fortes indícios de que não tem detentor, de que este
não esteja identificado ou que foi removido, pelos respectivos donos ou detentores,
para fora do seu domicílio ou dos locais onde costumava estar confinado, com vista
a pôr termo à propriedade, posse ou detenção que sobre aquele se exercia, sem
transmissão do mesmo para a guarda e responsabilidade de outras pessoas, da
Autarquia Local ou das Associações Zoófilas legalmente constituídas, ou ainda a
não prestação de cuidados pelo seu detentor, independentemente do local onde
devam ser prestados.”;

7
Delimita o seu âmbito de aplicação aos animais de companhia definindo na alínea
a) do artigo 2º como «Animal de companhia», qualquer animal detido ou destinado
a ser detido pelo homem, designadamente no seu lar, para seu entretenimento e
companhia.

5
que socorrer da doutrina, nomeadamente a definição que é dada por
Antunes Varela e Pires de Lima: considera-se que existe abandono de
um animal quando ocorre um afastamento, por parte do dono da
coisa da sua disponibilidade natural, com intenção de demitir de si o
direito que tem sobre ela8, ou por Meneses Cordeiro9 e Oliveira
Ascensão10, que consideram que o abandono duma coisa é uma forma
de extinção de direitos reais pela vontade dos seus titulares quando
estejam em causa coisas móveis, correspondendo pois a uma
conduta voluntária do proprietário do animal - «animus
abandonandi».

Nestes termos, entendemos que se deve considerar que um animal


(equídeo) foi abandonado pelo seu proprietário ou legítimo possuidor,
sempre que este adopte uma conduta voluntária com vista a pôr
termo à sua detenção, manifestada em qualquer um dos seguintes
comportamentos:
- Não prestação de cuidados ao animal no seu alojamento,
nomeadamente médico-veterinários e higiénico - sanitários;
- Remoção do animal para fora do domicílio ou dos locais onde
costuma estar mantido, sem que proceder à sua transmissão
expressa para a guarda e responsabilidade de outras pessoas, das
autarquias locais ou das sociedades zoófilas.

São estes os dois critérios objectivos que definem com elevado grau
de rigor quando é que se verifica o abandono de uma coisa móvel
pelo seu proprietário ou detentor, acompanhados por um critério

8
Cfr. Pires de Lima e Antunes Varela, in CC anotado, anotação ao art.º 1318º.

9
Menezes Cordeiro, in Direito das Obrigações, Edição 1980, Tomo II, pág. 233.

10
Oliveira Ascensão, in Direitos Reais, Almedina, Coimbra,

6
subjectivo assente na vontade de abandono ou «animus
abandonandi».

São também estes os critérios vertidos pelo legislador no artigo 6º-A


do Decreto-Lei n.º 276/2001, de 17 de Outubro e que integram a
«ratio legis» do artigo 1318º do Código Civil Português, sob a epígrafe
“Coisas susceptíveis de ocupação”:

“Podem ser adquiridos por ocupação os animais e outras


coisas móveis que nunca tiveram dono, ou foram
abandonados, perdidos ou escondidos pelos seus
proprietários, salvas as restrições dos artigos seguintes.”

Traduzindo-se o abandono na renúncia pelo proprietário ou pelo


detentor, do direito de que é titular, poder-se-á levantar a questão da
legitimidade dessa renúncia pelo proprietário. Parece-nos no entanto
pacífica a resposta a esta questão, porquanto, sendo o direito de
propriedade um direito subjectivo, é um direito renunciável, e e tal
como resulta categoricamente do artigo 1305º do C.C.: “o
proprietário é o juiz da conveniência ou inconveniência da
manutenção da sua situação”.
Essa renúncia é pois, no presente caso, manifestada através do
abandono da coisa móvel/animal11, a qual apenas poderá suscitar
problemas de forma e publicidade, resolúveis nos termos mais
adiante explicitados.

Podemos assim concluir que o abandono duma coisa, como vimos,


resulta da renúncia do direito de propriedade, (ou no caso do
detentor, dos poderes que lhe hajam sido conferidos pelo
Os animais não obstante a dignidade que lhes deve ser conferida enquanto seres
11

sencientes continuam a ser tratados no nosso ordenamento jurídico como meras


coisas móveis, abrangidos pelo disposto no artigo 205º do C.C..

7
proprietário) pelo titular dessa mesma coisa, podendo tal renúncia
pode ser manifestada de duas formas:

- Modo expresso, quando resulte de declaração verbal ou escrita do


titular do direito; ou,
- Forma tácita quando ocorram os indícios supra mencionados de não
prestação dos cuidados legalmente exigidos ao animal no seu
alojamento ou a sua remoção para fora do domicílio ou dos locais
onde costuma estar mantido;

Mas, independentemente da forma que essa renúncia assuma,


extingue-se o animus possedendi, isto é, o proprietário renuncia aos
poderes que integram o conteúdo do direito de propriedade (os
poderes de uso, fruição e disposição da coisa) de que é titular.

II. EFEITOS JURÍDICOS DO ABANDONO

O principal efeito jurídico do abandono do animal resultante da


renúncia expressa ou tácita do direito de propriedade por parte do
seu titular, é a transformação da coisa móvel numa “nullius”12, não
requerendo a renúncia, para produção dos respectivos efeitos,
aceitação do proprietário em virtude da actuação automática da
elasticidade dos direitos reais.
Consideram-se «res nullius» as coisas móveis13/animais, que já
tiveram dono, mas foram abandonadas, e, também, as coisas
móveis/animais que nunca tiveram dono, como é o caso dos animais
bravios.

12
Vd. Oliveira Ascensão, in Direitos Reais, Almedina, Coimbra, pág. 362.
13
Quando se trate de coisas imóveis, estas não ficam “nullius” porque se dá a
aquisição automática pelo estado, nos termos do artigo 1345º do C.C..

8
Deve-se salientar que, não obstante a lei no artigo 1318º do C.C.
assimilar às coisas abandonadas, as coisas perdidas, é doutrina
comum que só as coisas sem dono, ou «nullius», são susceptíveis de
ocupação, sendo muito diferente do regime da ocupação, o regime
jurídico dos “achados” aplicável aquele outro caso.

Como referimos anteriormente, a concretização do abandono do


animal, sempre que não exista nesse sentido uma declaração de
renúncia expressa do seu titular, implica um problema de forma:
como se formaliza e publicita o abandono?

Formalmente parece-nos necessário e bastante:

1. O estabelecimento de um procedimento destinado à


determinação ou descoberta do proprietário/possuidor do
animal;
2. Determinação do destino a dar ao animal, no caso de não
aparecer o proprietário/detentor que documentalmente faça
prova da sua condição, nos termos legais;

A entidade competente (veterinário municipal ou em quem este


delegar competência, coadjuvado por órgão de polícia) deve apurar,
em face das circunstâncias e com base nos critérios objectivos supra
mencionados se o animal não se encontra no seu habitat normal
(encontrando-se na via pública ou em local propriedade privada de
outrem) ou, se o seu bem estar14 está a ser posto em causa por quem
esta legalmente obrigado a salvaguarda-lo, sendo que, em caso
afirmativo, deverá proceder à remoção do animal para as instalações
camarárias, onde o respectivo proprietário, devidamente notificado, o
poderá resgatar no prazo de 8 dias, mediante a apresentação dos
14
Designadamente através duma malnutrição, maus-tratos, falta de cuidados médico-veterinários, etc.

9
documentos que legalmente15 comprovem o direito que invoca;
Sempre que o proprietário ou detentor do animal seja conhecido,
deverá o mesmo ser notificado presencialmente, pela Polícia
Municipal de Sintra, constando da notificação a identificação das
infracções cometidas e, a advertência de que se deverá deslocar ao
GMV para levantar o animal no prazo de 8 dias mediante a
apresentação toda a documentação que comprove a sua qualidade
de proprietário ou detentor, sob pena de o animal ser declarado
abandonado, e nessa medida reverter a favor do Município.
O objectivo é permitir ao proprietário/possuidor do animal
reconsiderar o abandono, sem prejuízo da assunção de despesas e da
responsabilidade contra-ordenacional que ao caso respeite.
É este o regime que resulta do disposto no artigo 57º do Regulamento
dos Animais de Sintra:

Artigo 57º - Proibições

1 - Sem prejuízo do disposto no capítulo anterior do presente


Regulamento, é proibida a deambulação e divagação na via

15
O regime de identificação e registo de equídeos inclui os seguintes elementos: a)
marcação, sendo o tipo de marcação dos equídeos o definido por cada livro
genealógico ou registo zootécnico, e a identificação efectuada pelo certificado de
origem quando no respectivo livro genealógico não esteja prevista a marcação por
qualquer meio físico. A marcação é da responsabilidade do detentor, sendo que as
marcas e os números podem ser efectuados: a fogo, a frio, com azoto líquido, por
tatuagem, marca auricular ou identificação electrónica. b) O documento de
identificação de equídeos, que é obrigatório para todos os equídeos com
mais de 6 meses de idade, emitido pela autoridade competente, que pode
delegar a sua emissão em outra entidade, consiste no documento que inclui um
resenho gráfico e descritivo, onde constam como indicações mínimas a pelagem, o
sexo, a raça, a data de nascimento, as marcas e sinais particulares do animal e
ainda as marcas do criador e eventual número de identificação por si atribuído.

10
pública, demais lugares públicos e em terrenos que não sejam
particulares, de quaisquer animais, em estado não natural, que
não estejam directamente guardados ou conduzidos por
pessoas e sejam nocivos.

2 - Quando a entidade competente autuante não souber a


quem pertencem os animais encontrados, deve capturá-los.

3 - Os animais capturados nos termos do número


anterior serão guardados em local determinado pela
Câmara Municipal, podendo ser procurados durante 8
dias, excepcionalmente prorrogáveis até 20 dias a
contar da data da captura, sendo entregues a quem
provar pertencerem-lhe, depois de pagas as despesas
inerentes à captura e manutenção, acrescidas de 50%, sem
prejuízo da coima que, face às circunstâncias do caso concreto,
possa vir a ser aplicada;

Assim, caso o animal não seja reclamado pelo seu proprietário no


prazo de 8 dias, prorrogáveis excepcionalmente até 20 dias, ou
sendo, aquele que o reclama arrogando-se a qualidade de titular de
direito sobre o animal16 não fizer prova dos factos constitutivos desse
direito17, deverá o Município, por intermédio do médico veterinário

16
Os proprietários/detentores de equídeos terão de proceder, antes do início de
actividade, ao seu registo no SNIRA; Comunicar qualquer alteração de algum dos
elementos constantes do registo à autoridade competente da área de jurisdição da
exploração e conservar, por um período mínimo de três anos, os registos,
informações, cópias das declarações de deslocação ou guias de circulação e demais
declarações realizadas pelos detentores ao SNIRA, bem como apresentá-los à
autoridade competente quando por esta solicitados.

17
O proprietário ou detentor de animal doméstico em geral, prova a titularidade do
direito que se arroga mediante a apresentação de documento de identificação do

11
municipal lavrar um Auto de Abandono, onde declare
fundamentadamente que o proprietário ou possuidor do animal o
abandonou, e que, regularmente notificado para o resgatar, não o
reclamou no prazo legal, constituindo tal conduta prova cabal da sua
vontade de o abandonar – animus abandonandi - elemento subjectivo
constitutivo da causa de extinção do direito de propriedade que é o
abandono. Significa o exposto, que, em caso de não levantamento
dos animais o Município obtém, por via da notificação presencial e
pelo decurso do prazo, uma prova documental do abandono dos
mesmos por parte daquele indivíduo determinado
Nestes termos concretiza-se a extinção do direito do
proprietário/possuidor por abandono, em virtude de estarem
verificados todos os elementos, objectivos e subjectivos, constitutivos
daquela causa de extinção dos direitos reais.

Uma segunda hipótese, é não ter sido possível identificar o


proprietário/possuidor do animal, e, portanto, não ter sido possível
notifica-lo presencialmente, ou mesmo, poder existir um erro quanto
à identidade do proprietário dos animais; Neste caso, deverá ser feita
notificação edital, isto é, o médico veterinário municipal
determinará a publicação de Edital a afixar publicamente com base
no n.º 3 do artigo 57º do Regulamento de Animais do Município de
Sintra18 (norma que se aplica a todos os animais que não cães e
gatos) publicitando os animais por referência às suas características,
onde seja estabelecido um prazo de 30 dias (a contar da data da
captura) dentro do qual o animal pode ser reclamado pelo seu
proprietário/detentor, que dessa qualidade faça prova19, informando
animal e respectivo registo.

18
Aprovado pela Assembleia Municipal em 23 de Abril de 2009.
19
A prova da condição de proprietário/detentor do reclamante deve sempre ter
suporte documental, designadamente nºs de auriculares, registos, boletim sanitário

12
os ainda os munícipes em geral, que caso o animal não seja
reclamado, considerar-se-á perdido a favor do Município (que dele se
apropriará por ocupação, nos termos do disposto no artigo 1318º do
C.C.).

Artigo 57º n.º 4

4 - Se os animais não forem procurados dentro dos prazos


estabelecidos no número anterior, consideram-se perdidos a
favor da Câmara Municipal, depois de esgotados os trâmites
legalmente aplicáveis.

III. APROPRIAÇÃO PELO MUNICÍPIO DOS ANIMAIS


ABANDONADOS - OCUPAÇÃO

Esgotados os prazo referidos no nº3 do artigo 57º e não se


apresentando qualquer proprietário/detentor, que dessa qualidade
faça prova, deverá ser elaborada proposta ao executivo camarário
para que aprove que, por via de ocupação, nos termos do disposto no
artigo 1318º do C.C. que o Município assuma a propriedade dos
animais, e ainda, se for caso disso, fixe o destino que lhes deverá ser
dado, de acordo com o estipulado nos números 5 e 6 do citado artigo
57º do Regulamento de Animais do Município de Sintra:

5 - Uma vez revertidos a favor do Município os animais que,


pelo seu valor ou por outras circunstâncias especiais, não
emitido por veterinário com data prévia à captura dos animais, de modo a evitar
situações fraudulentas e que o animal seja entregue a quem não é seu dono,
correndo o Município o risco de mais tarde vir a aparecer o verdadeiro proprietário,
que dessa condição faça a prova legalmente exigida.

13
sejam objecto de occisão podem ser alienados gratuitamente a
uniões zoófilas ou entidades de reconhecida competência
quanto à matéria, designadamente jardins zoológicos ou
quintas pedagógicas devidamente licenciadas, ou vendidos a
particulares.

6 - As entidades e os particulares referidos no número anterior


devem subscrever termo de responsabilidade no qual se
comprometem a cuidar diligentemente dos animais, a
proporcionarem aos mesmos, na medida do possível, um
ambiente são e ecologicamente equilibrado e apropriado à sua
espécie e à devida prestação de cuidados médico-veterinários.

O regime que, em termos da lei, dá base ao nº 4 do art.º 57 do


Regulamento, radica no artigo 1318º do Código Civil20, uma vez que a
ordem jurídica considera os animais como coisas.

O legislador determina nos artigos 1318º e seguintes, que podem ser


adquiridos por ocupação:

1. Animais ou outras coisas móveis que nunca tiveram dono;


2. Animais ou outras coisas móveis que foram abandonadas;
3. Animais ou outras coisas móveis perdidas;
4. Coisas móveis escondidas (tesouros);

Os artigos 1319º, 1320º, 1321 e 1322º do C.C. estabelecem o regime


especial da ocupação de determinadas espécies de animais: animais
bravios, selvagens com guarida própria, animais ferozes e enxames
Artigo 1318.º (Coisas susceptíveis de ocupação):
20

Podem ser adquiridos por ocupação os animais e outras coisas móveis que nunca
tiveram dono, ou foram abandonados, perdidos ou escondidos pelos seus
proprietários, salvas as restrições dos artigos seguintes.

14
de abelhas, nada de específico estabelecendo a propósito da
ocupação dos animais domésticos, que nessa medida caem no
regime geral consagrado no artigo 1318º.

A ocupação é uma forma de aquisição do direito de propriedade, que


tem a sua origem renúncia do direito de propriedade (que extingue
esse direito na esfera jurídica do titular) pelo seu titular originário
resultante do abandono do animal. Não é contudo de actuação
automática, uma vez que exige um acto material – a ocupação
material da coisa pelo Município mediante a apreensão do animal – e
a manifestação da correspondente vontade de apropriação – animus.

Verificada a renúncia, nos termos expostos no ponto anterior, é pois


necessário que o Município:

1. Pratique o acto material de apropriação consubstanciado na


apreensão do animal: o chamado acto de ocupação (corpus); e,
2. Manifeste a sua vontade de adquirir o direito de propriedade
sobre o animal, mediante deliberação da CMS (animus).

IV. ANIMAL PERDIDO

Por último convém distinguir da situação de abandono, a situação em


que o animal se encontra perdido, em virtude de a lei estabelecer
diferentes regimes.

Considera-se perdido um animal que haja sido removido para fora do


domicílio ou dos locais onde costuma estar mantido, devido a conduta
negligente do seu detentor, ou, independentemente dela, sem que o
seu detentor tenha procedido à sua transmissão expressa para a

15
guarda e responsabilidade de outras pessoas, das autarquias locais
ou das sociedades zoófilas, e sem que exista da sua parte vontade de
fazer cessar o vínculo de que é titular.

O regime aplicável aos animais abandonados, resulta como vimos do


disposto no artigo 1318º do C.C. e do artigo 57º do Regulamento dos
Animais do Município de Sintra. O regime aplicável aos animais
perdidos encontra-se expressamente previsto no artigo 1323º do C.C.
que dispõe o seguinte:

Artigo1323º (Animais e coisas móveis perdidas)

1. Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e


souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa a
seu dono, ou avisar este do achado; se não souber a quem
pertence, deve anunciar o achado pelo modo mais
conveniente, atendendo ao valor da coisa e às possibilidades
locais, ou avisar as autoridades, observando os usos da terra,
sempre que os haja.

2. Anunciado o achado, o achador faz sua a coisa perdida, se


não for reclamada pelo dono dentro do prazo de um ano, a
contar do anúncio ou aviso.

3 -Restituída a coisa, o achador tem direito à indemnização do


prejuízo havido e das despesas realizadas, bem como a um
prémio dependente do valor do achado, no momento da
entrega, calculado pela forma seguinte: até ao valor de (euro)
4,99, 10%; sobre o excedente desse valor até (euro) 24,94, 5%;
sobre o restante, 2,5%.

16
4. O achador goza do direito de retenção e não responde, no
caso de perda ou deterioração da coisa, senão havendo da sua
parte dolo ou culpa grave.

O abandono implica, como vimos, uma conduta voluntária destinada


a fazer cessar a detenção do proprietário/detentor do animal,
enquanto que na perda não se verifica esse “animus abandonandi”,
daí a diferença existente entre ambos os regimes, sendo o regime da
perda mais exigente do que o do abandono, já que exige que aquele
que encontrar animal perdido e souber a quem pertence o deva
restituir o animal ao seu dono, ou avisar este do achado; se não
souber a quem pertence, deve anunciar o achado pelo modo mais
conveniente, sendo que, só pode ocorrer a respectiva apropriação por
ocupação pelo Município, decorrido um ano sobre o anúncio ou aviso,
e caso o animal não tenha sido reclamado pelo seu dono.

Conclusão:

No caso de um animal efectivamente abandonado dever-se-á seguir


o seguinte procedimento:

1. Apreensão do animal que se presume abandonado, nos termos


do n.º 2 do artigo 57º do Regulamento;

2. Notificação presencial do proprietário/detentor do animal


quando seja conhecido para este o reclamar no prazo de 8 dias
a contar da data da respectiva apreensão, nos termos do n.º 3
do artigo 57º do Regulamento;

17
3. Caso não seja conhecido o proprietário/detentor, elaboração de
Edital a afixar publicamente com base no n.º 3 do artigo 57º do
Regulamento, onde se publicite o animal e se determine que
caso não seja reclamado, considerar-se-á perdido a favor do
Município;

4. Esgotados os prazos referidos no nº3 do artigo 57º e não se


apresentando qualquer dono, é efectuada proposta ao
executivo para que, por via de ocupação, o Município assuma a
propriedade dos animais, de acordo com o previsto no n.º 4 e
n.º 5 do mesmo artigo.

No caso de um animal efectivamente perdido dever-se-á seguir o


seguinte procedimento:

1. Apreensão do animal, nos termos do n.º 1 e do n.º 2 do artigo


57º do Regulamento;

2. Elaboração de Edital a afixar publicamente onde se publicite o


animal e se determine que caso não seja reclamado,
considerar-se-á perdido a favor do Município;

3. A reclamação dos animais deve ter por base prova documental


(designadamente nºs de auriculares, registos, boletim sanitário
emitido por veterinário com data prévia à captura dos animais);

4. Esgotados os prazos referidos no nº3 do artigo 57º e no nº 2 do


artº1323 CC e não se apresentando qualquer dono, é efectuada
proposta ao executivo para que, por via de ocupação, o
Município assuma a propriedade dos animais.

Contudo, em nenhuma das situações, o Regulamento dos Animais do


Município de Sintra estipula o procedimento e respectiva tramitação a

18
adoptar, termos em que se torna necessário integrar tal lacuna, nos
termos do disposto no artigo 86º do Regulamento de Animais do
Município de Sintra, que sob a epígrafe “Integração de lacunas”
dispõe o seguinte:

“Sem prejuízo da legislação aplicável, os casos omissos ao


presente Regulamento são resolvidos mediante despacho do
Presidente da Câmara Municipal.”

Face ao exposto coloca-se o presente parecer à consideração


superior.

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